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Resenha Marshall Sahlins

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Resenha – Disciplina de Teoria Antropológica III 
Fernando Araujo Neto
SAHLINS, Marshall David. Introdução; Estrutura e História. In: _____. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 
 
	Na introdução, Sahlins usa da relação entre a História e a Antropologia nas relações culturais e suas correlações. Entre a Antropologia e a História, o autor defende que cada cultura possui sua própria historicidade e que cada momento histórico se desenrola em contextos diferentes. Sobre a estrutura, ele define como relações simbólicas de ordem cultural, ou seja, são objetos históricos e que o “cultural” é a soma da estrutura e ação. Ainda sobre estruturas, Sahlins relata dois tipos de estruturas, as performativas e as prescritivas. As performativas “tendem a tendem a assimilar-se às circunstâncias contingentes” (pág. 14), enquanto as prescritivas “tendem a assimilar as circunstâncias por elas mesmas” (pág. 14) tudo isso negando seu caráter contingente e eventual.
	Sobre os eventos, o autor traça como de relação entre um acontecimento e as estruturas, como o exemplo dado do capitão Cook e sua chegada como Deus ao Havaí. Depois um terceiro movimento entre a estrutura e o evento, a “estrutura da conjuntura” (pág. 16), que é “a realização prática das categorias culturais em um contexto histórico específico” (pág. 16), ou seja, entender o processo simbólico cultural além da oposição Indivíduo Vs. Sociedade. A estrutura, portanto, “é ela em si mesma no sistema de relações entre categorias, sem um sujeito dado [...]. Além disso, esse conceito tem importância histórica, pois, se nos colocarmos naquele local intelectual divino do sujeito transcendental, isto é, externos ao sistema enquanto comentaristas, poderemos ver o funcionamento da história através da seleção motivada entre as inúmeras possibilidades lógicas dos agentes sociais – que, é claro, incluem as possibilidades contraditórias apresentadas na ordem cultural” (pág. 20), diz Sahlins.
	Sobre a ação, Sahlins diz que não promove um desenvolvimento social restrito às circunstâncias de contato intercultural (pág. 17), mas que a “estrutura de conjuntura, enquanto conceito, possui um valor estratégico para determinação dos riscos simbólicos” (pág. 17), como na conjuntura havaiana.
	Por todas as estruturas e ações serem objetos históricos, seriam uma síntese de mudança e estabilidade, passado e presente. Nesse sentido, o autor explica que “os signos são passíveis de serem retomados pelos poderes originais de sua criação, ou seja, pela consciência simbólica humana”. (pág. 11). Fica claro, portanto, que sociedades cujas relações são construídas através de escolhas não possuem menos estrutura do que outras cujas relações são predeterminadas e imutáveis. Até porque a estrutura pode-se conceber da maneira como ela se apresenta nos esquemas cosmológicos abstratos (pág. 19).
	“A antropologia tem algo a contribuir para a disciplina histórica. E o inverso é igualmente válido” (pág. 21). Podemos perceber, portanto, que a visão da história a partir de um antropólogo pode situar-se dentro do contexto cultural, e mesmo que a relação se construa de uma maneira geral, é única e acontece em momentos e contextos culturais igualmente ímpares.
	Mas o autor vai além de uma possível teoria da História, pois há também uma crítica às distinções ocidentais através das quais se pensa a cultura, como as supostas oposições ente História e Estrutura, ou entre estabilidade e mudança – o que para Sahlins são “dicotomias reificadas na divisão do objeto antropológico” (p.179). O autor procura demonstrar que a história havaiana está, toda ela, baseada na estrutura, na ordenação sistemática de circunstâncias contingentes, ao passo que a estrutura havaiana provou ser histórica, portanto, não havendo base em termos de fenômeno em considerar a história e a estrutura como alternativas mutuamente exclusivas.
O título do livro é bastante sugestivo para pensarmos a forma com que Sahlins articula os conceitos de História, Estrutura e Evento. “Ilhas de História” pode ser entendido de múltiplas formas: a História, composta de várias Ilhas, isto é, várias maneiras distintas de ser organizada; as Ilhas, representando os contextos onde as Histórias se realizam pragmaticamente, sugerindo o termo estrutura da conjuntura; as Ilhas com História, revelando a necessidade de uma atenção especial às formas de consciência histórica produzidas nas Ilhas Polinésias; a estrutura, reproduzida e resignificada (ou no plural) em suas transformações, simbolizada pelas Ilhas, nas quais a História é um encontro do passado no presente. “Ilhas de História” é um título tão polissêmico quanto a cosmologia dos signos, nos quais a estrutura está em movimento e a História caminha no dinamismo da estrutura da prática e da prática da estrutura.

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