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UN I A LINGUAGEM AFETIVA


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Língua Portuguesa: 
Estilística e Estudos 
Semânticos
A linguagem afetiva
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Celso Antônio Bacheschi 
Revisão Textual:
Profa. Ms. Silvia Augusta Albert 
5
Trataremos, nesta unidade, da diferença entre a linguagem afetiva e a linguagem intelectiva. 
Também estudaremos a origem da Estilística e trataremos do conceito de estilo.
Para obter um bom desempenho, você deve percorrer todos os espaços, materiais e atividades 
disponibilizadas na unidade.
Comece seus estudos pela leitura do Conteúdo Teórico. Nele, você encontrará o material 
principal de estudos na forma de texto escrito. Depois, assista à Apresentação Narrada e à 
Videoaula, que sintetizam e ampliam conceitos importantes sobre o tema da unidade.
Nesta Unidade conheceremos a diferença entre linguagem afetiva e 
linguagem intelectiva. Estudaremos também a origem da Estilística e 
trataremos do conceito de estilo. 
Para um bom aproveitamento na disciplina, é muito importante a 
interação e o compartilhamento de ideias para a construção de novos 
conhecimentos. Para interagir com os demais colegas e com seu tutor, 
utilize as ferramentas de comunicação disponíveis no Ambiente de 
Aprendizagem (AVA) Blackboard (Bb) como Fórum Dúvidas e Mensagens.
A linguagem afetiva
 · Introdução
 · Estilística
 · O que é estilo?
6
Unidade: A linguagem afetiva
Contextualização
Antes de iniciarmos nossos estudos da disciplina Língua Portuguesa – Estilística e Estudos 
Semânticos, convidamos você a ler o trecho a seguir, de Paulo Mendes Campos:
Os diferentes estilos
Estilo interjetivo
Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de 
Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! 
Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!
Estilo colorido
Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de 
Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, 
cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato 
marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.
[...]
Estilo então
Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então 
para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. 
Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então 
as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isso.
[...]
Estilo preciosista
No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia solitária e longínqua da 
Estrela-d´Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone 
pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra 
e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o 
hausto que vivifica.
(Disponível em http://sites.levelupgames.uol.com.br/forum/ragnarok/showthread.
php?15299-Os-diferentes-estilos. Acesso em 27 dez. 2014.)
Nesse texto, o autor explora, de forma divertida, vários modos diferentes de tratar de um 
mesmo tema. A leitura permite-nos compreender que os diferentes estilos decorrem das diversas 
possibilidades de escolhas que existem no momento de produção de um texto. Nesta unidade, 
vamos aprofundar-nos nas questões relativas ao estilo.
7
Introdução
Caro aluno, antes de iniciarmos o conteúdo desta unidade, convidamos você a ler os 
trechos a seguir:
Trecho 1
boca
substantivo feminino
1. abertura inicial do tubo digestivo dos animais
2. Rubrica: anatomia geral.
nos vertebrados, cavidade situada na cabeça, delimitada externamente pelos lábios e 
internamente pela faringe
3. Rubrica: anatomia geral.
conjunto formado por essa cavidade e as estruturas que a delimitam
(HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de 
Janeiro: Objetiva, 2001.)
Trecho 2
Você tem boca de luar, disse o rapaz para a namorada, e a namorada riu, perguntou 
ao rapaz que espécie de boca é essa, o rapaz respondeu que é uma boca toda 
enluarada, de dentes muito alvos e leitosos, entende? Ela não entendeu bem e 
tornou a perguntar, desta vez que lua correspondia à sua boca, se era crescente, 
minguante, cheia ou nova. Ao que o rapaz disse que minguante não podia ser, nem 
crescente, nem nova, só podia ser lua cheia, uai.
Aí a moça disse que mineiro tem cada uma, onde é que viu boca de lua cheia, até 
parece boca cheia de lua, uma bobice.
O rapaz não gostou de ser chamada de bobice a sua invenção, exclamou 
meio espinhado que boca de luar, mesmo sendo boca de luar de lua cheia, é 
completamente diferente – insistiu: com-ple-ta-men-te – de boca cheia de lua; é 
uma imagem poética e daí isso não tem nada que ver com mineiro, ele até nem 
era propriamente mineiro, nasceu em Minas por acaso, seu pai era juiz de direito 
numa comarca de lá, mas viera do Rio Grande do Norte, depois o pai deixou a 
magistratura e se mudou para São Paulo, onde ele passou a infância, mudando-se 
finalmente para o Rio com a família.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Boca de Luar. Rio de Janeiro: Record, 1984.)
Você pode observar que, no trecho 1, que foi extraído de um dicionário, faz-se uso da 
linguagem científica para chegar-se a uma definição objetiva de “boca”. Nesse trecho, não se 
percebe um envolvimento pessoal do autor, uma vez que o interesse recai sobre o referente e 
não sobre quem o escreveu.
 Já no texto 2, ocorre o contrário. A personagem de Drummond não procura definir 
objetivamente a boca da namorada, mas o faz de forma subjetiva, ou seja, ele busca uma forma 
pessoal de expressar-se, afastando-se da linguagem do dia a dia. Como a namorada não o 
compreendeu bem, ele explicou-lhe o que é uma imagem poética.
8
Unidade: A linguagem afetiva
Estamos diante, aqui, de dois aspectos diferentes da linguagem verbal (falada ou escrita). 
O primeiro aspecto é o intelectivo. Por meio dele, expressa-se o lado racional de quem fala. A 
linguagem é dirigida ao conteúdo, busca-se apenas uma forma de ser compreendido, e “apaga-
se” qualquer envolvimento pessoal do autor. O segundo aspecto é o afetivo. Por meio dele, 
fala-se ao coração e à alma. A linguagem tem um componente emocional. Nesse aspecto, não 
importa apenas comunicar um conteúdo; mas, principalmente, o modo de fazê-lo. Não se busca 
a precisão da linguagem; e, muitas vezes, há diferentes possibilidades de interpretação. O que 
abordamos até aqui, pode ser resumido no quadro abaixo:
Língua
Intelectiva (Objetiva) Afetiva (Subjetiva
Para compreendermos melhor esses dois aspectos da linguagem, alguns esclarecimentos 
são necessários. 
Em primeiro lugar, notemos que os dicionários registram, em primeiro lugar, o sentido 
primário das palavras (como no trecho 1); mas não ignoram a linguagem afetiva, de modo 
que, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, também se registram, no mesmo verbete, 
expressões como “boca de fumo”, “boca de siri”, “arrebentar a boca do balão” etc. 
Em segundo lugar, não é só no dicionário que isso acontece, ou seja, não podemos dividir 
os textos (escritos e falados) de acordo com a presença da linguagem afetiva ou intelectiva, pois 
são muito raros os textos em que não há coexistência dos dois aspectos. Em geral, podemos 
dizer apenas que, em determinado texto, predomina um ou outro aspecto. 
Finalmente, faz-se necessária mais uma advertência: quando se fala em linguagem afetiva, 
não se faz referência apenas à expressão do carinho, como ocorre na fala da personagem do 
trecho 2, mas a qualquer manifestação de emotividade, incluindo as que revelam menosprezo, 
ironia e até mesmo ódio.
O estudo da expressão da emotividade por meio da linguagem verbal é o objeto da Estilística, 
da qual trataremos a seguir.
 
Estilística
A Estilística surgiu no início do século XX, fundada pelo francês Charles Bally, mas suas 
raízes são bem mais antigas. As questões de que trata já eram do interesse de estudiosos da 
Antiguidade.Para compreendermos melhor o tema, temos de recuar aos tempos dos antigos e 
ao estudo da Retórica.
Entre os gregos, encontram-se, na Antiguidade, figuras de destaque como Platão e Aristóteles; 
o primeiro foi um dos precursores a dedicar-se ao estudo da linguagem; o último, autor da 
Retórica e da Poética, demonstrou maior preocupação com o valor estético das palavras. 
Na verdade, o próprio sistema de governo da Grécia antiga, a democracia, favorecia o 
9
interesse pelo domínio da linguagem verbal. É que, nesse sistema, qualquer cidadão livre tinha 
direito a opinar e votar a respeito de assuntos do interesse coletivo. Sendo assim, o poder de 
convencimento era uma verdadeira arma. Entre os oradores gregos, destaca-se Demóstenes 
(século IV a. C.). 
E os gregos influenciaram os romanos. Durante grande parte da história da civilização 
romana, o sistema de governo era chamado república. Nesse sistema, uma das instituições de 
grande importância política era o senado (constituído por patrícios – nobres de famílias 
tradicionais, supostamente descendentes dos fundadores da cidade), onde se tomavam decisões 
capitais para a administração pública, além de se elegerem os cônsules (maiores autoridades da 
república). 
Na república romana havia, também, figuras que representavam a participação popular, 
como os tribunos da plebe. Novamente, notamos que a palavra era importante meio para 
obtenção do poder político nesse sistema. Entre os romanos, destaca-se, entre outros, Cícero 
(século I a. C.), autor de Orator (O Orador) e De Oratore (Sobre o Orador), cujos discursos no 
senado romano são célebres ainda hoje; e Quintiliano (século I d. C.), autor de De Institutione 
Oratoria (algo como “sobre o ensino da oratória”), o qual concebeu a existência de três estilos 
básicos: o sublime (ou grave), o médio (ou temperado) e o simples. Posteriormente, esses três 
estilos básicos serão representados pelos pensadores da Idade Média na roda de Virgílio , 
associados, respectivamente, à Eneida, às Geórgicas e às Bucólicas, grandes obras da literatura 
latina (cf. Guiraud, 1970). Observe a figura a seguir:
Roda de Virgílio
Humilis stylus (estilo simples): pastor 
otiosus (o pastor despreocupado), Tityrus e 
Meliboeus (personagens das Bucólicas), ovis 
(a ovelha), baculus (o cajado), pascua (os 
prados), fagus (a faia – arbusto). O vocabulário 
remete à vida pastoril.
Mediocrus stylus (estilo médio): agricola 
(agricultor), Triptolemus e Coelius 
(personagens da Geórgicas), bos (boi), aratum 
(arado), ager (campo), pomus (fruto). Os termos 
remetem ao cotidiano do agricultor.
Gravis stylus (estilo sublime): miles 
dominans (o soldado triunfante), Hector e Ajax (personagens da Eneida), equus (o cavalo), 
gladius (a espada), urbs (a cidade), castrum (o acampamento), laurus (o louro – símbolo da 
vitória), cedrus (o cedro). O vocabulário remete à guerra, valor supremo na Antiguidade.
No princípio é a Retórica, a arte da persuasão, que se concentra no estudo e na fixação 
dos gêneros do discurso e das regras de composição próprias de cada gênero. No século XIX, 
período em que os escritores se tornam avessos a regras de composição, a Retórica entra em 
decadência (Guiraud, 1970).
10
Unidade: A linguagem afetiva
Somente no início do século XX, uma nova disciplina vem ocupar o espaço deixado pela 
Retórica . É a Estilística que surge para enfocar um terreno renegado pela Linguística do período, 
como explicaremos a seguir.
Saussure (s/d), ao lançar as bases da Linguística moderna, cria a dicotomia língua/fala e propõe 
que a Linguística centre suas atenções na língua. A língua, nesse contexto, é entendida como coletiva 
e homogênea; a fala, individual e heterogênea. Voltando ao início da unidade, estamos dizendo que 
Saussure postula que a Linguística deve focar-se no aspecto intelectivo da linguagem.
É exatamente na fala que Bally vai buscar as bases da nova abordagem. Ele propõe motivações 
afetivas como origem do fenômeno da expressividade, cabendo à Estilística investigar “a 
expressão dos fatos da sensibilidade pela linguagem e a ação dos fatos da linguagem sobre a 
sensibilidade” (1952: 16). O trabalho de Bally, portanto, não se opõe ao de Saussure; mas o 
complementa. Outras abordagens da Estilística, posteriores a Bally, como as de Vossler, Spitzer 
e Jakobson, vão privilegiar o texto literário e não a fala; mas, como não queremos estender-nos 
em considerações teóricas, vamos centrar nosso foco na questão da afetividade. Por enquanto, 
vamos ficar com as palavras de Mattoso Câmara (1970: 27), o qual observa que,
quando utilizamos os elementos da língua num dado discurso, raramente o 
fazemos para uma comunicação intelectiva pura. Há aí também, subsidiária, 
concomitante ou predominantemente, a carga emotiva, que carreia uma 
MANIFESTAÇÃO PSÍQUlCA ou um APELO.
Nestas condições, a linguística propriamente dita, ou estudo da LÍNGUA na 
acepção saussuriana, não abrange o fenômeno linguístico em sua totalidade. 
Ficam de lado as intenções de manifestação psíquica e apelo, que os discursos 
individuais, em regra, carreiam em si (destaques do autor).
 
O que é estilo?
Estilo é uma daquelas palavras que todos conhecem, mas a maioria sente dificuldade de 
definir. A palavra “estilo”, como muitas outras, tem um sentido primário concreto, do qual 
se derivam outros abstratos. Ela vem do latim stilus ou stylus e dá nome a um instrumento 
pontiagudo com o qual se escrevia sobre tábuas cobertas de cera. Desse sentido, deriva-se o 
abstrato: “modo de escrever”. Daí, originam-se vários outros. Por exemplo, um comentarista 
esportivo diz que uma equipe tem certo “estilo de jogo”, ou que um piloto de automobilismo 
tem certo “estilo de pilotagem”. Sobre quem se veste bem, diz-se que se veste “com estilo”. Em 
arte, diferentes períodos são classificados como “estilo barroco”, “estilo romântico” etc. E o que 
é estilo para a Estilística?
Essa não é uma pergunta a que se responde facilmente, pois as respostas dividem os próprios 
estudiosos da questão, mas vamos tentar. 
Em primeiro lugar, podemos dividir as repostas, de acordo com seus autores, em pelo menos 
dois grupos. Para autores como Karl Vossler e Dámaso Alonso, o estilo é um conjunto de traços 
particulares, ou seja, o estilo é individual. No Brasil, seguem essa linha Fiorin (2004: 118-119) e 
Discini (2004: 30) entre outros. Bally, assim como Lapa (1975) e Mattoso Câmara (1970), não 
veem o estilo como manifestação individual. Nas palavras deste último, o estilo caracteriza-se 
11
por um “desvio da norma linguística assente” (1975: 140). Vamos seguir por este caminho; mas, 
antes, temos de entender o que é norma linguística, correto?
Vamos pensar no funcionamento da língua. Podemos conceituar a norma linguística 
a partir da análise dos sons da fala (Fonética), de enunciados (Sintaxe), do significado das 
palavras (Semântica) ou, simplesmente, de palavras (Morfologia). Vamos escolher esta última 
opção. Tomemos a palavra “descobrimento”. Essa palavra significa “ato ou efeito de descobrir”. 
Trata-se de um substantivo formado a partir de um verbo, com acréscimo de um sufixo 
(-mento), portanto podemos descrever seu processo de formação da forma a seguir:
Verbo Sufixo Substantivo
Descobri(r) -mento Descobrimento
Esse, no entanto, não é o único sufixo de que a língua dispõe para formar substantivos a partir 
de verbos. Outro sufixo é o que ocorre, por exemplo, na palavra “utilização”. Veja o quadro:
Verbo Sufixo Substantivo
Utiliza(r) -ção Utilização
Nesse caso, o substantivo é formado por meio do acréscimo de outro sufixo (-ção).
Existe outro processo além do que vimos, mas vamos analisar esse. Uma vez que podemos 
formar substantivos a partir de verbos por meio de acréscimo de -mento ou -ção, isso significa 
que, a par de “descobrimento” poderíamos ter “*descobrição” e, a par de “utilização”,“*utilizamento”. Por que isso não ocorre? A resposta é simples: não há necessidade de se formar 
mais de um substantivo a partir de um verbo, a não ser, em casos raros, quando os substantivos 
não têm exatamente o mesmo significado. Isso nos mostra que a existência de algumas palavras 
é o fato que impede a formação de outras. Assim, dizemos que as formas “descobrimento” e 
“utilização” fazem parte da norma linguística e que as outras possibilidades são desvios em 
relação a ela.
Agora, tomemos outro exemplo para compreendermos melhor a questão. Em português, 
existe o sufixo -eza, que forma substantivos a partir de adjetivos. Por exemplo, de “magro”, 
forma-se “magreza”. Observe:
Verbo Sufixo Substantivo
Magr(o) -eza Magreza
O poeta Carlos Drummond de Andrade, no entanto, substitui -eza pelo sufixo -dão (que 
ocorre em “imensidão”, por exemplo) no trecho que segue:
Era uma vez um artista
pelo berço mui dotado.
Ficou a noite mais triste
na tristidão do calado.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p. 895.)
12
Unidade: A linguagem afetiva
Observe como a forma “tristidão”, que é um desvio da norma (tristeza), parece ampliar a 
ideia de melancolia, além de permitir a associação de tristeza e solidão. Ao efeito de sentido que 
se obtém por meio do desvio da norma, dá-se o nome de expressividade1 .
Naturalmente, há vários outros tipos de desvios. Por exemplo, pode-se passar uma palavra 
de uma classe para outra, como quando se diz
 » “ela usava uma roupa cheguei” (verbo empregado como adjetivo),
 » “só gosto de filmes cabeça” (substantivo empregado como adjetivo).
Pode-se, também, transformar em substantivo uma oração inteira, como ocorre em
 » “quando os policiais chegaram, foi um deus nos acuda”.
Nesses últimos exemplos, podemos notar que os desvios não revelam um modo de expressão 
próprio de um autor literário; mas, ao contrário, fazem parte da linguagem do dia a dia. Isso é 
um reforço a quem defende a ideia de que o estilo não está no “traço pessoal” (que se opõe ao 
coletivo), mas no traço emocional (em oposição ao intelectivo).
Isso nos leva a outra questão. Se aceitarmos o conceito de que o estilo se manifesta pelo desvio 
da norma linguística, estaremos afirmando que qualquer desvio é estilístico? A resposta é não. 
O desvio só é estilístico quando revela uma intenção expressiva, ou seja, quando se procura 
atingir algum efeito de sentido especial.
Vamos tratar do assunto em termos práticos. Para isso, vamos colher exemplos da linguagem 
do dia a dia. Quando uma pessoa emprega a forma “estrupo” ou “largato” (por “estupro” e 
“lagarto”), isso revela apenas o desconhecimento da norma, logo não se trata de um desvio 
estilístico. Se tomarmos, no entanto, o termo “apertamento” (por apartamento), a alteração da 
sonoridade da palavra serve a um propósito: combinar os significados de “apartamento” e de 
“aperto”. É uma forma criativa de expressar um julgamento negativo, logo, deve ser entendido 
como um desvio estilístico.
Os desvios estilísticos incluem o que, em linguagem mais simples, as pessoas costumam 
chamar de “liberdade poética”. É importante que isso seja bem compreendido no nosso curso. 
Então, vamos a mais um exemplo prático?
Vamos ler o trecho a seguir, do escritor brasileiro Moacyr Scliar:
Nós, o pistoleiro, não devemos ter piedade
Nós somos um terrível pistoleiro. Estamos num bar de uma pequena cidade do Texas. O 
ano é 1880. Tomamos uísque a pequenos goles. Nós temos um olhar soturno. Em nosso 
passado há muitas mortes. Temos remorsos. Por isto bebemos.
A porta se abre. Entra um mexicano chamado Alonso. Dirige-se a nós com desrespeito. 
Chama-nos de gringo, ri alto, faz tilintar a espora. Nós fingimos ignorá-lo. Continuamos 
bebendo nosso uísque a pequenos goles. O mexicano aproxima-se de nós. Insulta-nos. 
Esbofeteia-nos. Nosso coração se confrange. Não queríamos matar mais ninguém. Mas 
teremos de abrir uma exceção para Alonso, cão mexicano.
1 Segundo Mattoso Câmara (2004: 114), a expressividade é “a capacidade de fixar e atrair a atenção alheia em referência ao que se 
fala ou escreve, constituindo objetivo essencial do esforço estilístico”.
13
Combinamos o duelo para o dia seguinte, ao nascer do sol. Alonso dá-nos mais uma 
pequena bofetada e vai-se. Ficamos pensativo, bebendo o uísque a pequenos goles. 
Finalmente atiramos uma moeda de ouro sobre o balcão e saímos. Caminhamos 
lentamente em direção ao nosso hotel. A população nos olha. Sabe que somos um terrível 
pistoleiro. Pobre mexicano, pobre Alonso.
Entramos no hotel, subimos ao quarto, deitamo-nos vestido, de botas. Ficamos olhando o 
teto, fumando. Suspiramos. Temos remorsos.
Já é manhã. Levantamo-nos. Colocamos o cinturão. Fazemos a inspeção de rotina em 
nossos revólveres. Descemos.
A rua está deserta, mas por trás das cortinas corridas adivinhamos os olhos da população 
fitos em nós. O vento sopra, levantando pequenos redemoinhos de poeira. Ah, este vento! 
Este vento! Quantas vezes nos viu caminhar lentamente, de costas para o sol nascente?
No fim da Rua Alonso nos espera. Quer mesmo morrer, este mexicano. Colocamo-nos 
frente a ele. Vê um pistoleiro de olhar soturno, o mexicano. Seu riso se apaga. Vê muitas 
mortes em nossos olhos. É o que ele vê.
Nós vemos um mexicano. Pobre diabo. Comia o pão de milho, já não comerá. A viúva 
e os cinco filhos o enterrarão ao pé da colina. Fecharão a palhoça e seguirão para Vera 
Cruz. A filha mais velha se tornará prostituta. O filho menor ladrão.
Temos os olhos turvos. Pobre Alonso. Não devia nos ter dado duas bofetadas. Agora está 
aterrorizado. Seus dentes estragados chocalharam. Que coisa triste.
Uma lágrima cai sobre o chão poeirento. É nossa. Levamos a mão ao coldre. Mas não 
sacamos. É o mexicano que saca. Vemos a arma na sua mão, ouvimos o disparo, a bala 
voa para o nosso peito, aninha-se em nosso coração. Sentimos muita dor e tombamos.
Morremos, diante do riso de Alonso, o mexicano.
Nós, o pistoleiro, não devíamos ter piedade.
(SCLIAR, Moacyr. Folha de São Paulo, 1 jul. 1973.)
A leitura do trecho permite-nos identificar alguns desvios da norma linguística em relação 
à concordância verbal e nominal pois,frequentemente, há concordância de termos no plural 
com outros no singular. Se fôssemos raciocinar pela lógica do “certo e errado”, encontraríamos 
“erros”, por exemplo, nos trechos que seguem:
“Errado” “Certo”
Nós, o pistoleiro Nós, os pistoleiros
Somos um terrível pistoleiro Somos terríveis pistoleiros
Chama-nos de gringo Chama-nos de Gringos
Ficamos pensativo Ficamos pensativos
Agora, vamos imaginar uma situação bastante comum, pela qual você mesmo pode ter 
passado em algum momento de sua vida escolar. Digamos que um professor (ou professora) 
proponha a leitura desse texto aos alunos de uma classe de escola regular; e, ao final da 
leitura, um(a) aluno(a) diga ao (à) professor(a) que o texto contém erros. A essa afirmação, 
o(a) professor(a) responderia que não há erros, pois o autor tem “liberdade poética”. O aluno, 
provavelmente, pensaria o seguinte: “o autor pode errar só porque é um escritor conhecido. Eu, 
como sou um joão-ninguém, quando erro, recebo um “X” em tinta vermelha no meu texto”.
14
Unidade: A linguagem afetiva
Essa situação é bastante comum. O(a) aluno(a) chegou a uma conclusão equivocada porque 
não lhe explicaram adequadamente o que é essa tal de “liberdade poética”. Isso não teria 
ocorrido se tivesse ficado claro ao (à) aluno(a) que o autor transgrediu as normas gramaticais 
com um objetivo (um desvio estilístico). Vamos, então, interpretar esse desvio .
No conto, predomina a análise psicológica do narrador. Ele é um pistoleiro que se arrepende 
por ter matado muitas pessoas, por isso não queria matar mais ninguém. Ele sente pena do 
mexicano que o desafia e pensa no que aconteceria à famíliadeste, caso ele morresse. Nesse 
contexto, o autor, ao usar o plural (“nós, o pistoleiro”), está convidando o leitor a compartilhar 
os sentimentos do pistoleiro com ele. Sua intenção é de que o leitor se sinta parte ativa da 
narrativa, não simplesmente um espectador2 . Note que isso não ocorreria se a narrativa fosse 
em primeira pessoa (“eu, o pistoleiro”) ou em terceira pessoa (“ele, o pistoleiro”).
Ter um objetivo, uma intenção de produzir diferentes sentidos ao fazer um desvio é o que 
diferencia erro de “liberdade poética”. Assim fica mais fácil compreender e analisar os efeitos de 
sentidos dos muitos textos que lemos e muito do que ouvimos, não é mesmo?
Nessa unidade, vimos o que é linguagem afetiva, tivemos um primeiro contato com a Estilística 
e conceituamos o que é estilo.
Nas unidades a seguir, veremos os campos em que se divide a Estilística de acordo com os 
recursos expressivos. Não se esqueça de consultar o material complementar para aprofundar 
seus conhecimentos. 
Glossário
Adjetivo: palavra que se liga a um substantivo para expressar uma característica: “dia quente”.
Substantivo: palavra que nomeia seres, ações, características, sentimentos etc.
Sufixo: morfema que se pospõe ao radical, como -eza em “clareza”.
Verbo: palavra variável em tempo, modo, número e pessoa. Semanticamente, expressa um fato 
(ação, estado).
2 Recurso semelhante é utilizado por Machado de Assis no conto O cônego ou metafísica do estilo. Disponível em http://machado.mec.
gov.br/images/stories/pdf/contos/macn005.pdf
15
Material Complementar
Para aprender mais a respeito das questões apresentadas nesta unidade, faça as seguintes leituras:
 GUIRAUD, Pierre. A Estilística. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
MARTINS, Nilce Sant’anna. Introdução à Estilística: a expressividade na Língua 
Portuguesa. São Paulo: Edusp, 2008.
Obras disponíveis on-line
ASSIS, Eleone Ferraz de. O estilo concebido como desvio. Ícone. Disponível em http://
www.slmb.ueg.br/iconeletras/artigos/volume8/OEstiloConcebidoComoDesvio.pdf. - Acesso 
em 27 dez. 2014. 
BARBOSA, Maria Aparecida. Estudo do estilo como desvio de uma norma. Acta Semiótica 
et Lingvistica, v. 18, n. 1, 2013. Disponível em http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/
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Unidade: A linguagem afetiva
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Anotações