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AULA 4 – ANATOMOFISIOLOGIA DA ATM A ATM é formada por: • Côndilo mandibular; • Fossa mandibular ou cavidade glenoide do temporal; • Disco articular (separa os dois ossos de contacto direto). A articulação é considerada uma articulação Bi gínglimo artródia composta ou Bi côndilo meniscartrose conjugada: • Bi porque são duas articulações; • Gínglimo / condilo pois proporciona um movimento de dobradiça num plano; • Menisco, pois possui um menisco; • Artródia / artrose pois proporciona movimentos de deslize; • Composta / conjugada. Uma articulação composta é feita com 3 ossos, no entanto a ATM só possui 2 ossos, sendo que o disco articular funciona como um terceiro osso não calcificado, ao permitir os movimentos mandibulares. O que torna a ATM uma articulação especial? • Disco articular; • Compartimentação articular; • Estrutura; • Biomecânica. Disco articular Constituído por tecido conjuntivo fibroso denso, destituído de vasos sanguíneos e fibras nervosas excepto na periferia onde é ligeiramente inervado. Num plano parassagital, divide-se em três regiões de acordo com a sua espessura: • Zona intermedia (IZ) – região central, mais fina; • Borda anterior (AB)– mais espessa que a zona intermedia; • Borda posterior (PB) – mais espessa que a borda anterior. Numa visão frontal, o disco é mais espesso medialmente do que lateralmente. Devido ao aumento de espaço entre o côndilo e a fossa mandibular para da articulação Numa articulação normal, o côndilo posiciona-se na zona intermédia. Durante o movimento, o disco é flexível, adaptando-se às demandas funcionais da superfície articular. No entanto, a flexibilidade e adaptabilidade do disco não implicam que a morfologia do disco se altere reversivelmente no movimento. Por sua vez, ao ser aplicada uma força destrutiva na articulação, o disco pode sofrer alterações irreversíveis, provocando mudanças mecânicas durante o movimento. Compartimentação articular Inserção posterior do disco: • O disco articular insere-se posteriormente numa região de tecido conjuntivo altamente vascularizado e inervado conhecida como tecido retrodiscal. A sua porção remanescente insere-se posteriormente a um plexo venoso que se enche de sangue quando o côndilo se move para a frente (importância ao nível das alterações hemodinâmicas durante os movimentos). • Superiormente é limitado pela lâmina retrodiscal superior, uma lâmina de tecido conjuntivo elástico ligeiramente dobrado sobre si próprio que prende o disco articular posteriormente à placa timpânica; • Inferiormente é limitado pela lâmina retrodiscal inferior, uma lamina de tecido conjuntivo colagénico que prende a porção inferior da face posterior do disco articular à margem posterior da superfície articular do côndilo. Inserção anterior do disco • São feitas no ligamento capsular que circunscrevem a articulação. A inserção superior é feita na margem anterior da superfície articular do temporal e a inferior é feita na margem anterior da superfície articular do côndilo. O disco também possui inserções mediais e assim, a presença do disco articular e das suas inserções divide a ATM em duas cavidades distintas: • Superior – delimitada pela fossa mandibular e pela superfície superior do disco; • Inferior – delimitada pelo côndilo mandibular e pela superfície inferior do disco. Estas cavidades encontram-se preenchidas por líquido sinovial, razão pela qual a ATM é referida como articulação sinovial. Este líquido cumpre duas funções essenciais ao lubrificar e nutrir a articulação. A lubrificação complementa a lubrificação cedida pelas superfícies articulares, minimizando ainda mais a fricção durante o movimento enquanto que a nutrição compensa a falta de vascularização da articulação, satisfazendo as necessidades metabólicas da articulação. • Secreção do líquido: As superfícies internas das cavidades são revestidas por células endoteliais especializadas que formam a membrana sinovial. Esta, juntamente com uma outra sinovial especializada, localizada na margem anterior dos tecidos retrodiscais produz o líquido sinovial Nutrição Durante a função da articulação geram-se forças entre as superfícies articulares que levam a que uma pequena quantidade de liquido sinovial saia nos tecidos (mecanismo pela qual ocorrem trocas metabólicas. A pressão externa resultante da carga articular está em equilíbrio com a pressão interna da cartilagem articular: • Quando a carga articular é aumenta, provoca a saída de líquido; • Quando a carga articular é diminuída provoca a reabsorção do líquido e o tecido recupera o seu volume original. A difusão do líquido sinovial é a principal fonte de alimentação da ATM. Lubrificação A lubrificação reduz o atrito e protege as superfícies articulares do desgaste e de aderências. Dá-se por dois métodos: • Lubrificação periférica – é o mecanismo primário de lubrificação e evita a fricção da articulação em movimento. Ocorre quando a articulação se move, forçando a saída do líquido sinovial dos recessos das cavidades (periferias) para a superfície articular. • Lubrificação saturada – Relaciona-se com a capacidade das superfícies articulares conseguirem absorver parte do liquido sinovial (relacionando- se com as características hidrofílicas dos proteoglicanos presentes nas cartilagens articulares). Durante a função da articulação são criadas forças entre as superfícies articulares que forçam a saída do líquido para os tecidos articulares. Este líquido vai funcionar como lubrificante impedindo que as superfícies articulares colem entre si. Estrutura – Histologia das superfícies articulares As superfícies articulares do côndilo e da fossa mandibular são compostas por 4 camadas ou zonas distintas Zona articular É a camada mais superficial, adjacente à cavidade articular, formando a superfície funcional mais externa. É constituída por tecido conjuntivo fibroso denso (em vez de cartilagem hialina, como acontece nas restantes articulações sinoviais). As suas fibras são firmemente arranjadas e capazes de suportar as forças do movimento (resistentes a forças compressivas, portanto) e são geralmente menos suscetíveis aos efeitos do envelhecimento, tendo maior capacidade de regeneração do que a cartilagem hialina. Apresenta fibras colagénicas dispostas em feixes e orientadas quase paralelamente à superfície articular. Zona proliferativa Camada essencialmente celular. Esta é uma área de tecido mesenquimal indiferenciado responsável pela proliferação da cartilagem articular em resposta às exigências funcionais das superfícies articulares durante a carga funcional. Zona fibrocartilaginosa As fibras colagénicas dispõem-se num padrão de feixes cruzados e por vezes radial. A fibrocartilagem aparece aleatoriamente disposto, criando uma rede tridimensional que confere resistência contra forças compressivas e laterais. Zona de cartilagem calcificada É a camada mais profunda, constituída por condrócitos e condroblastos, distribuídos através da cartilagem articular. Nesta camada os condrócitos tornam-se hipertróficos, morrem e cujos citoplasmas são expelidos, formando células ósseas dentro da cavidade medular – ossificação endocondral. Tem um lado ativo para uma atividade remodeladora, proporcionado pela superfície da estrutura da matriz extracelular, na medida em que o crescimento ósseo endoesteal continua. A cartilagem articular é composta por condrócitos (que produzem colagénio, proteoglicanos, glicoproteínas e enzimas que formam amatriz) e por matriz intercelular. Proteoglicanos: • Moléculas complexas compostas por um núcleo proteico e uma cadeia de Glicosaminoglicanos (GAGs). • Formam agregados que constituem uma grande proteína da matriz, conectando-se a uma cadeia de ácido hialurónico; • Entrelaçam-se através de cadeias de colagénio; • São hidrofílicos e, assim, tendem a ligar-se à água, ocorrendo uma expansão da matriz que, por sua vez, aumenta a tensão nas fibrilhas de colagénio e a pressão dos agregados proteoglicanos, fazendo absorção de impacto e de carga articular. Inervação da ATM A ATM é inervada pelo mesmo nervo que confere inervação motora e sensitiva aos músculos que a controlam – nervo trigémeo. Alguns ramos do ramo mandibular fornecem a inervação aferente, sendo a maioria da inervação feita pelo nervo aurículo-temporal que envolve a região posterior da articulação. Os nervos massetérico e temporal profundo fornecem inervação adicional. Vascularização da ATM A ATM é irrigada por uma variedade de vasos, sendo os mais importantes: • A. Temporal superficial – posterior; • A. Meníngea média – anterior; • A. Maxilar interna – inferior; • A. Auricular profunda, timpânica anterior e faríngea ascendente. Biomecânica Complexidade do sistema articular da ATM: O facto de duas ATMs estarem articuladas a um mesmo osso complica toda a função do SE. Cada articulação pode agir, ao mesmo tempo, de forma diferente e separadamente, mas não completamente sem influencia da outra (duas articulações que atuam em sinergia). A ATM é uma articulação composta, podendo ser funcional e estruturalmente divididas em dois sistemas separados: • Um que envolve a cavidade sinovial inferior, ou seja, o côndilo e o disco articular. Porque o disco está intimamente ligado ao côndilo pelos ligamentos discais, entre estas duas superfícies só é permitida a rotação do disco na superfície articular – Complexo côndilo-discal. • Outro feito pelo complexo côndilo-discal com a superfície da fossa mandibular. Como o disco não está intimamente ligado à fossa, é possibilitado o movimento de translação entre o complexo côndilo-discal (mais especificamente a face superior do disco articular) e a fossa. Este movimento ocorre quando a mandíbula é movimentada para a frente – Complexo côndilo-discal com a fossa mandibular. As superfícies articulares não possuem ligações estruturais, sendo mantidas em posição pela ação dos músculos da mastigação (principalmente os que cruzam a articulação). Mesmo num estado de relaxamento, os músculos estão num estado de leve contração chamado de tónus muscular. Com o aumento da contração muscular, o côndilo é forçosamente pressionado contra o disco e o disco contra a fossa mandibular, resultando numa pressão interarticular aumentada destas estruturas articulares. Na ausência desta pressão, as superfícies separam-se causando deslocamento da articulação. A lâmina retrodiscal superior é composta por tecido conjuntivo elástico. Pelas suas propriedades elásticas e por estar ligeiramente dobrado sobre si quando a boca se encontra fechada, o côndilo pode sair da fossa sem danificar a lamina retrodiscal superior. Pelas suas propriedades elásticas, esta lamina exerce forças de tração praticamente nulas, no entanto, na abertura mandibular, o côndilo afasta-se até esticar a lâmina, criando forças que retraem o disco articular (retração essa limitada pela espessura do disco e pela pressão interarticular), limitando o movimento anterior da mandibula. O musculo pterigoide lateral superior insere-se na margem anterior do disco articular e no colo do côndilo. Assim, quando este musculo contrais, as fibras inseridas no disco puxam este ântero-medialmente. No entanto, a inserção no colo do côndilo não permite que o disco seja puxado para fora do espaço discal pela contração do dito musculo.
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