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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA AULA 1 A 10

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
AULA 1 – FILOSOFIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Diferenciar o conhecimento filosófico dos demais tipos de conhecimento. 
2. Compreender o papel da Filosofia da Educação na formação do pedagogo. 
3. Analisar criticamente a relação entre Filosofia e Educação. 
 
Filosofia e filosofia da educação 
Para compreendermos os diferentes tipos de conhecimento produzidos 
historicamente pela humanidade, será necessário partirmos de uma 
compreensão da relação do homem com a natureza, ou seja, entendermos como 
a natureza humana é produzida. Segundo o materialismo histórico e materialismo 
dialético de Karl Marx, a relação homem-natureza é mediada pelo trabalho, como 
ato intencional do homem em produzir as condições materiais e não-materiais (a 
cultura, o saber, o conhecimento) da sua existência. 
 
Em outras palavras.. 
A natureza não oferece gratuitamente as condições necessárias para o homem 
sobreviver, por isso ele necessita retornar à natureza e retirar da mesma as 
condições necessárias que garantam a sua existência. 
Para tanto, o homem antecipa em seu pensamento a sua ação. Assim, retorna à 
natureza transformando-a segundo seus interesses e necessidades. Tal 
transformação provoca o fenômeno da humanização da natureza, ou seja, o 
espaço natural é transformado em espaço artificial, criando o mundo da cultura. 
Ao transformar intencionalmente a natureza o homem se transforma, ou seja, 
ocorre o fenômeno da naturalização do homem. Em outras palavras, a natureza, 
que era algo desconhecido, passa a ser conhecida de diferentes formas. Na 
próxima tela, vamos ver os diferentes tipos de conhecimento decorrentes dessa 
relação e produzidos historicamente pela humanidade. 
1) O conhecimento mítico :É um conhecimento intuitivo da realidade que 
dispensa argumento e fundamentações.Decorre da tradição cultural de um 
povo, não é datado , não tem autoria, não se justifica, não se fundamenta e 
não se coloca ao questionamento .Portanto, pressupõe a adesão e a aceitação 
por parte do individuo. 
2) O senso comum:è considerado como a primeira forma de compreensão do 
mundo resultante da herança cultural de um povo ou de uma 
civilização.Descreve as crenças e proposições de forma natural sem que haja 
uma investigação rigorosa para as mesmas. Em outras palavras, é um 
conhecimento espontâneo do cotidiano sem o crivo da analise critica. 
3) O Conhecimento Cientifico: è um conhecimento sistemático, lógico, 
rigoroso e metódico.Para tanto, obedece a um conjunto de princípios , 
determinados pela razão , na sua forma e no seu conteúdo , a fim de orientar 
a pesquisa cientifica acerca de um determinado fenômeno.Em outras 
palavras, a ciência se esforça para descobrir como a realidade funciona.Assim, 
pretende oferecer as condições necessárias para o controle racional de um 
determinado fenômeno, seja ele, natural ou histórico.As verdades gerais ou 
operações de leis gerias , produzidas pelo conhecimento científico , são 
obtidas e verificadas pelo método cientifico utilizado. 
4) O Conhecimento Artístico: è um conhecimento intuitivo da realidade ou do 
mundo tendo a imaginação como mediadora entre o percebido e o pensado, 
ou seja, possibilita outras formas de compreensão da realidade. 
5) O Conhecimento Filosófico:É um conhecimento sistemático organizado por 
um conjunto de ideias internamente articuladas e relacionadas num todo 
coerente.Segundo Marilena Chauí:”O conhecimento filosófico é um trabalho 
intelectual .É sistemático porque não se contenta em saber respostas para as 
questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam validas e, em 
segundo lugar , que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas 
entre si, esclareçam uma ás outras, formem conjuntos coerentes de ideias e 
significações , sejam provadas e demonstradas racionalmente”. 
 
Características do conhecimento filosófico 
Atitude Critica: Caracteriza-se, num primeiro momento, como negativa e num 
momento como positiva.Negativa por dizer não aos pré- conceitos 
estabelecidos como naturais , ou seja , é duvida das crenças estabelecidas 
como verdade e que orientam a nossa forma de pensar , falar e agir. 
Reflexão Filosófica: Segundo Marilena Chauí, a reflexão filosófica “ é radical 
porque vai á raiz do pensamento, pois é um movimento de volta do 
pensamento sobre si mesmo para pensar –se a si mesmo e, para conhecer 
como é possível o próprio pensamento ou o próprio conhecimento”. 
 
Origens da filosofia 
 
O pensamento filosófico-científico surgiu na Grécia Antiga por volta do século VI 
a.C. Os primeiros filósofos tinham por finalidade explicar racionalmente a 
natureza a partir dos fenômenos naturais. Ou seja, a explicação da natureza se 
encontra na própria natureza e não no sobrenatural, como é característico do 
pensamento mítico-religioso. O período do humanismo clássico na Filosofia é 
inaugurado por Sócrates por ter introduzido na filosofia questões referentes à 
natureza humana, tais como: a ética, a política e a problemática do 
conhecimento. Neste período destacam-se também os filósofos Platão e 
Aristóteles (séc. IV a.C.), como também, os sofistas. 
 
Áreas de investigação filosófica 
Nesta tela, vamos destacar algumas áreas importantes de investigação da 
filosofia. Vamos lá? 
 
Lógica Investiga as condições da validade dos argumentos e elabora as regras do 
pensamento correto. 
Metafísica (ou 
ontologia) 
Estuda o ‘ser enquanto ser’, isto é, o ser independentemente de suas 
determinações particulares; estudo do ser absoluto e dos principais 
princípios. 
Teoria do 
Conhecimento 
Estuda as relações entre sujeito do conhecimento e objeto do 
conhecimento no ato de conhecer. 
 Epistemologia Analisa criticamente a forma e o conteúdo do conhecimento científico. 
Axiologia Desenvolve uma reflexão rigorosa sobre a natureza e as características dos 
valores éticos, estéticos, políticos, religiosos, pragmáticos e etc. 
Ética Analisa de forma sistemática e rigorosa as noções, os princípios e os fins 
que fundamentam a vida moral. 
Estética Reflete sobre os princípios, os meios, a produção e a recepção estética da 
obra da arte. 
 Filosofia Política Se propõe a compreender criticamente sobre o poder entre os cidadãos, a 
sociedade e o estado, como também, avalia as formas dos regimes políticos 
e as finalidades da política. 
Filosofia da 
Linguagem 
Reflete sobre a natureza da linguagem, os sentidos dos signos e 
proposições lingüísticas. Busca compreender a linguagem como elemento 
estruturador que explica a relação do homem com a natureza. 
 
Filosofia da Educação 
 
Partindo do princípio da Filosofia da Educação como sendo a fundamentação 
teórica e crítica do conhecimento e da prática educativa, podemos afirmar que 
sua preocupação está em compreender, de forma crítica, a natureza e a 
especificidade de educação. Assim, teremos como estabelecer o que é, como é e 
para que é: ensinar, aprender, alfabetizar, avaliar e etc., ou seja, teremos como 
determinar pelo pensamento quais os princípios que alicerçam determinadas 
práticas educativas. Tal preocupação visa superar o espontaneísmo pedagógico e 
assim determinar pelo pensamento um conjunto organizado e coerente com fins 
a serem alcançados. Portanto, seu trabalho está em avaliar os currículos, as 
técnicas e os métodos de ensino-aprendizagem, para que seja possível julgar se 
são ou não adequados aos fins a que se propõem. 
A filosofia da Educação se preocupa em compreender, de forma crítica, a 
natureza e a especificidade da educação. Desta forma, é possível determinar pelo 
pensamento quais princípios alicerçam determinadas práticas educativas. 
 
Educação e Pedagogia 
 
Compreendemos a educação como um fenômeno humano. Tal fenômeno decorreda relação que o homem estabelece com a natureza mediada pelo trabalho. O Ser 
humano ao produzir as condições materiais e não-materiais de sua existência, 
sente a necessidade de transmitir para as futuras gerações suas experiências e 
conhecimentos e, o fará, através da educação. 
Segundo o educador brasileiro, José Carlos Libâneo, “educar (em latim, educare) é 
conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível 
de educação. O ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade 
sistemática de interação entre seres sociais, tanto no nível intrapessoal como no 
nível da influência do meio, interação essa que se configura numa ação exercida 
sobre sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar mudanças tão eficazes que 
os tornem elementos ativos desta própria ação exercida” 
 
Filosofia da 
Educação 
Analisa criticamente a natureza e a especificidade da educação, os 
procedimentos utilizados no processo de ensino-aprendizagem, a estrutura 
e o funcionamento de ensino de um determinado contexto histórico-social. 
Sendo assim, não podemos compreender a educação como mera transmissão dos 
conhecimentos historicamente produzidos e acumulados pela humanidade, mas 
como um instrumento crítico da produção humana, ou seja, deve possibilitar a 
reflexão crítica da cultura. Do exposto acima, podemos inferir que a Pedagogia é a 
ciência que tem por finalidade a reflexão, a ordenação, a sistematização e a crítica 
do processo educativo na sua forma e no seu conteúdo. Na cultura ocidental 
podemos afirmar que foram quatro as perspectivas que se construíram desde a 
antiguidade até a atualidade. Veja quais são na próxima tela: 
a) Pedagogia essencialista - baseia-se em modelos universais do ser humano, 
como por exemplo: “os homens são essencialmente iguais”; 
b) Pedagogia existencialista - baseia-se no princípio universal de que “os homens 
são essencialmente diferentes”, fazendo uma defesa em torno das diferenças 
individuais; 
c) Pedagogias cientificistas - visam garantir a cientificidade do pensamento e da 
prática pedagógica com a finalidade de aumentar a produtividade no campo 
educacional; 
d) Pedagogias dialéticas - refletem criticamente sobre as contradições do 
processo ensino-aprendizagem a partir dos contextos históricos e sociais em que 
são produzidos a fim de possibilitar a superação das relações de poder e 
dominação, como também, promover a emancipação do homem em seu 
conjunto. 
 
A formação do educador 
A sociedade moderna, através de sua estrutura política- do estado Moderno_ 
deferiu a educação como “direto de todos e dever do estado”. Tal defesa 
apresenta dois elementos revolucionários na historia da educação no mundo 
ocidental.São eles: 
A) ao compreender a educação como “direito de todos” , alcançou-a ao plano 
jurídico de caráter universalizante e; 
B) Ao compreender a educação como “dever do estado “, institui a mesma como 
política social, com finalidades especificas, dentre elas, a formação do cidadão do 
novo modelo de sociedade, e que este atenda ás questões de ordem política, 
econômica e social da estrutura vigente. 
Os dois elementos , descritos anteriormente, exigem alguma consideração, tais 
como: 
A) O modelo do Estado Moderno-Estado-Nação ou Estado Liberal Burguês, 
fundamentado no contrato social estabelece um conjunto de direitos e deveres 
entre o Estado e a Sociedade Civil; 
B) A formação do Estado Moderno( século XIX) não decorre de um processo 
natural, mas de uma construção histórica, datada, a partir de determinadas 
relações de poder entre grupos ou classes; 
C) O pensamento liberal burguês em educação, por compreender a dimensão 
política da educação na sociedade capitalista , apresenta um duplo caráter: de um 
lado é revolucionário e, de outro, reacionário, evidenciando assim uma das 
contradições desta estrutura de pensamento. 
As contradições de estrutura de pensamento 
1- O caráter revolucionário esta em romper com a compreensão de que a 
educação é restrita e privilegio da nobreza e do clero; alem disso , a defesa de 
uma educação laica, publica e para todos, com também , uma formação de 
caráter cientifico; 
2- O caráter reacionário foi defendido pelo maior teórico do pensamento liberal , 
Adam Amith, que afirmava: “ educação sim, desde que em doses 
homeopáticas”.Tal defesa é simples de ser verificada na realidade educacional 
brasileira, pois o que se solidificou foram modelos de adequação diferenciados 
em uma sociedade dividida em classes sociais.Tal situação se aplica também a 
outros países, mesmo aqueles que são considerados desenvolvidos. 
D) O novo modelo de Estado, por decorrer da ascensão do sistema capitalista de 
produção e, pó este , ter incorporado a ciência como força produtiva, 
desenvolverá políticas de conhecimento e de pesquisa que atendam as demandas 
de investimento em capital morto e, por consequinte, garantam o aumento da 
produtividade e do consumo em massa na aplicação de seus resultados.Alem 
disso, desenvolverá políticas educacionais para formar os quadros necessários 
para o desempenho de funções simples, intermediarias e complexas da estrutura 
econômica vigente. 
As considerações da tela anterior nos permitem apontar para a necessidade de 
uma formação específica para o educador em nossa sociedade, pois o professor 
assume um papel político e pedagógico. Primeiro por ter a função de formar o 
cidadão da sociedade e segundo que seu trabalho deve ser sistematizado e não 
desenvolvido de forma casual e espontânea. 
Para tanto, devemos considerar para o exercício da docência três aspectos: 
a) a necessidade de adquirir conhecimento científico e saberes pedagógicos para 
o ensino de um conteúdo específico; 
b) a superação do senso comum compreendendo a atividade educativa como 
uma atividade sistemática visando à transformação de uma realidade social 
concreta; 
c) a formação ética como um dos pilares centrais da formação e da prática 
educativa. 
Para finalizar apontamos que um dos papeis do professor na sociedade em que 
vivemos é a de um intelectual transformador. Segundo Aranha: 
“Se um educador intelectual transformador é compreender que as escolas não 
são espaços neutros de mera instrução, mas carregados de pressupostos que 
representam as relações de poder vigentes e convicções pessoais nem sempre 
explicitadas. Imaginar que a escola seja um lugar apolítico, em que são 
transmitidos conhecimentos objetivos e apartados do mundo das injustiças 
sociais, é manter uma manutenção dos status quo”.( 2006: 47). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 2 – NATUREZA HUMANA, CULTURA E EDUCAÇÃO 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Entender o processo de formação da natureza humana; 
 
2. Relacionar cultura e educação; 
 
3. Compreender criticamente os diferentes conceitos e tipos de cultura; 
 
4. Refletir sobre as implicações do multiculturalismo na formação do professor. 
 
Natureza humana, cultura e educação 
Nesta aula, teremos a preocupação de compreender o processo de formação da 
natureza humana e evidenciar algumas contradições existentes em nosso 
cotidiano acerca desta questão. Além disso, estabeleceremos a relação entre 
cultura e educação, como também, buscaremos compreender as diferenças 
conceituais e os tipos de cultura. Para tanto, algumas questões são fundamentais 
para o nosso estudo, tais como: 
A natureza humana é algo dado naturalmente ou é produzido historicamente 
pelo ser humano? 
O que entendemos por cultura e educação? 
Qual a relação entre educação e cultura? 
Natureza Humana: uma temática central para a prática educativa 
Se pararmos para pensar e observar o comportamento humano em nosso 
cotidiano, não teremos dificuldades para identificar um conjuntode idéias, 
normas, valores, princípios e etc., que expressam compreensões contraditórias 
em nosso cotidiano no que se refere à natureza humana e que orientam a nossa 
forma de pensar, falar e agir. Vejamos, abaixo, dois exemplos: 
 
 
a) É comum afirmarmos que “Rosa é uma mulher desnaturada, por não 
dedicar o seu tempo e carinho aos seus filhos”, ou então, que “As mulheres 
são naturalmente frágeis por serem capazes de gerar outro ser”; 
 
 
 
 
 
b) é frequente a afirmativa que determinadas funções no mundo do 
trabalho e da produção são específicas para os homens por serem fortes e 
guerreiros, enquanto outras tarefas, são específicas para as mulheres por 
serem frágeis, dóceis, amáveis e sensíveis. 
 
 
 
 
Tais exemplos expressam a ideia de que a natureza humana é algo dado 
naturalmente ao ser humano, ou seja, que ela é necessária e universal. 
Vejamos agora algumas contradições expressas nos exemplos citados 
anteriormente: 
 a) no primeiro exemplo, a afirmativa que é da natureza da mulher cuidar 
de sua cria não se sustenta. Pois em algumas culturas tal responsabilidade é 
entregue à irmã do pai ou à irmã da mãe que tem como responsabilidade a 
vida e a educação da criança. 
b) no segundo exemplo, encontraremos culturas que compreendem a 
mulher como um ser impuro e não deve ocupar-se com a lavoura e os 
afazeres domésticos (tarefas reservadas ao homem), cabendo-lhes a tarefa 
de guerrear e comandar a comunidade a que pertence. 
Sendo assim, o caráter universal não pode ser aplicado, ou seja, a natureza 
humana não é algo naturalmente dado ao ser humano, mas decorre de 
como uma determinada cultura ou povo estabelece princípios para as 
relações humanas e sociais. Segundo a filósofa Marilena Chauí: 
“(...) a natureza teria feito o gênero humano universal e as espécies 
humanas particulares, de modo que certos sentimentos, comportamentos, 
idéias e valores seriam os mesmos para todo o gênero humano (seriam 
naturais para todos os seres humanos) enquanto outros variariam para 
cada espécie (ou sexo, ou raça, ou tipo, ou grupo, ou classe social)”. 
 
 Convite à Filosofia, 2003:42 
 
Entendemos que a natureza humana não é algo dado, mas é um produto 
histórico, social e cultural da humanidade. Portanto, a nossa condição de ser, 
existir, pensar, falar, agir, valorar e etc., é obra de homens e mulheres produzindo 
o que denominamos de cultura num sentido amplo. Feitos alguns apontamentos 
sobre a natureza humana, podemos colocar algumas questões para refletirmos 
sobre o exercício da nossa profissão na área da educação, tais como: 
 
 
a) Como profissionais da área da educação, nós 
compreenderemos o aluno como um indivíduo “em-si” ou 
o veremos como um ser histórico-social e cultural? 
b) Se optarmos pela dimensão histórico-social, pergunta-
se: que saberes ou conhecimentos serão necessários para 
dialogarmos com os nossos alunos diante da sua e da 
nossa capacidade de se expressar e agir diante do mundo em que vivemos? 
c) Em que sentido a Filosofia e, mais especificamente falando, a Filosofia da 
Educação, poderá nos ajudar nessa relação de diálogo com o outro? 
d) A questão da natureza humana deve ser considerada para pensarmos e 
definirmos os conteúdos, as estratégias e a organização dos sistemas de ensino? 
Justifique sua resposta. 
Em busca de uma definição de cultura 
 
Iniciemos a nossa compreensão pela etimologia da 
palavra. Cultura vem do verbo “cólere” e exprime a idéia 
de amanhar, cuidar e revolver a terra, com a finalidade de 
fertilizá-la e semear a boa semente para que se produza 
mais e melhor. Em sua origem refere-se à atividade 
agrícola e compreende o cultivo ao solo e os vegetais no solo. Contudo, ao longo 
da história da humanidade a palavra cultura foi ganhando outros significados. 
 
Do ponto de vista sociológico, o conceito de cultura simboliza a totalidade do que 
é aprendido e partilha entre os sujeitos de um determinado grupo oferecendo 
uma identidade própria entre os mesmos. Do ponto de vista filosófico, cultura é o 
conjunto de manifestações humanas que contrastam a natureza e o 
comportamento natural, ou seja, é um conjunto de respostas para melhor 
satisfazer as necessidades e os desejos humanos.Portanto, é uma série de 
conhecimentos teóricos e práticos que se aprende e transmite aos demais 
membros de um determinado grupo ao longo de sua historicidade. Do ponto de 
vista antropológico, o complexo que inclui conhecimento, crenças , arte, moras, 
leis, costumes e outras aptidões hábitos adquiridos pelo homem como membro 
da sociedade. 
Portanto, podemos inferir que o homem se torna homem porque vive no meio de 
um grupo cultural. Em outras palavras, significa afirmar que aquilo que somos , 
pensamos, desejamos, valoramos e etc. decorre da herança cultural que 
recebemos, como também da nossa capacidade de pensar criticamente tal 
herança e modificá-la. Através da cultura a qual per tecemos nos constituímos 
como seres políticos, econômicos, sociais, éticos, religiosos, morais, filosóficos, 
científicos, lúdicos e etc. Por fim, cabe-nos salientar que na sociedade moderna, 
por tornar a vida mais complexa em todas as suas dimensões, foram definidos 
tipos de cultura. 
 
Cultura Erudita Também conhecida como alta cultura ou cultura de elite 
por resultar da atividade intelectual de pesquisadores nas 
mais diferentes áreas do conhecimento em nossa 
sociedade. Sua produção resulta em mudanças ou rupturas 
significativas na forma de pensar e agir de uma 
determinada época se constituindo como obras clássicas. 
Cultura Popular Consiste na produção anônima de um conjunto de 
princípios, normas, valores e expressões de um 
determinado grupo ou classe em um determinado tempo e 
espaço. 
Cultura de Massa Resultante dos meios de comunicação na sociedade 
moderna, tais como: o cinema, o rádio, a televisão, o vídeo, 
a imprensa, que alcançam um número expressivo de 
pessoas pertencentes a classes sociais distintas e com 
formação diferenciada. 
Cultura popular 
individualizada 
Se opõe aos três tipos de cultura acima e expressa a 
produção de escritores, compositores, artistas plásticos e 
etc. que não habitam e produzem nos centros de pesquisa 
ou nas universidades. 
 
Etnocentrismo e Multiculturalismo 
Para compreendermos o embate entre etnocentrismo e multiculturalismo é 
importante enfatizarmos que o processo de desenvolvimento do capitalismo 
comercial, com o desenvolvimento das grandes navegações a partir do século XV, 
promoveu a dominação política, econômica e cultural do europeu sobre os 
nativos na América e África, com a implantação dos sistemas coloniais 
submetidos à metrópole. A dominação e expansão européia e, mais 
especificamente, do capitalismo como sistema de dominação e exploração, que 
resultaram em um enriquecimento significativo por parte dos dominantes sobre 
os dominados, marca profundamente o neocolonialismo dos séculos XIX e XX na 
Ásia, África e Austrália. 
 Esses processos históricos de dominação, acabam revelando a imposição 
arbitrária de uma cultura sobre a outra, como sendo uma superior e a outra 
inferior. Estamos nos referindo a doutrina do etnocentrismo, que expressou e 
expressa a visão de mundo do branco dominante sobre os demais grupos étnicos 
dominados. 
 
Etnocentrismo e Multiculturalismo 
Em oposição a essa visão etnocêntrica, vai se desenvolver no século XX a 
doutrina do multiculturalismo ou pluralismo cultura. Multiculturalismo é um 
termo que procura descrever a existência de muitas culturais em uma 
determinada localidade, cidade ou país, sem que haja a dominação de uma sobre 
a outra. A doutrina multiculturalista defende que as culturas minoritárias (negros, 
índios, mulheres, homossexuais, entre outras) foram historicamentediscriminadas e vistas como movimentos particulares. Sendo assim, o 
multiculturalismo reivindica que tais culturas tenham reconhecimento tanto na 
sociedade civil quanto no aparelho do Estado com a proteção legal e a adoção de 
políticas multiculturais de reconhecimento da diversidade existente. 
Multiculturalismo é um termo que procura descrever a existência de muitas 
culturais em uma determinada localidade, cidade ou país, sem que haja a 
dominação de uma sobre a outra. 
 
A educação é um fenômeno humano decorrente da relação do homem com a 
natureza mediada pelo trabalho, portanto, ela é uma exigência do e para o 
processo do trabalho, como ela própria é um processo de trabalho. 
Dessa mediação resulta tanto a produção material quanto a não-material da 
existência humana, portanto, a educação se situa no plano não-material por ter 
como finalidade garantir a transmissão/assimilação do acervo cultural produzido 
historicamente pela humanidade. 
De acordo com Dermeval Saviani, a educação enquanto trabalho não-material, 
tem uma peculiaridade: o ato da produção educativa não se separa do ato do 
consumo, ou seja, ao mesmo tempo em que a aula é produzida pelo professor ela 
é consumida pelo aluno. 
Além disso, é importante entendermos que o ato educativo tem por finalidade 
produzir um habitus, ou seja, uma segunda natureza como sendo algo 
irreversível. Um bom exemplo disto é, que depois sermos alfabetizados, não 
seremos mais capazes de nos imaginarmos vivendo sem ler e escrever. 
Sendo a educação parte da cultura, ela é um dos mecanismos utilizados para a 
transmissão/assimilação e manutenção/transformação da mesma. Portanto, não 
é possível falarmos de uma, sem considerarmos a outra. 
Dos conceitos de cultura e tipos de cultura trabalhados nessa aula, reflita sobre as 
seguintes questões: 
a) a cultura do aluno é inferior à cultura do professor? 
b) qual concepção de cultura está implícita nos livros didáticos que escolhemos 
para trabalharmos com nossos alunos? 
c) qual a concepção de cultura que perpassa as políticas educacionais e os 
projetos político-pedagógicos das instituições de ensino? 
 
 
Multiculturalismo/Pluriculturalidade e os Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN´s) 
Tradicionalmente a história da educação brasileira demonstra que 
prevaleceu na política educacional, curricular e nos livros didáticos uma 
perspectiva eurocêntrica e etnocêntrica. Contudo, o desenvolvimento da cultura 
urbano-industrial em nosso país, a partir da década de 60/70, materializou 
relações mais complexas de organização social e política, abrindo espaço para 
uma série de debates que apontam para a necessidade da adoção de políticas 
multiculturais ou pluriculturais. 
A professora e pesquisadora Maria Elena Vieira Souza nos chama a atenção 
que um dos temas transversais presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, 
editado pelo governo brasileiro, diz respeito ao pluralismo cultural e enfatiza que 
tal temática não pode ser desenvolvida sem que se considere a concepção 
de alteridade. 
Existe a necessidade de incorporar tal discussão nos cursos de formação dos 
professores que possibilite uma formação voltada para os aspectos pluriculturais, 
visto que o Brasil é um país que apresenta uma grade diversidade étnica, 
portanto, multi/pluricultural. 
Segundo Maria Helena Vieira Souza, os movimentos negros no Rio de Janeiro 
concordam que "a educação escolar tem um significativo papel na luta contra a 
discriminação w o preconceito racial, em relação à população negra e mestiça e 
apontam as deficiências no currículo escolar e no curso de formação de 
professores como as principais causas as dificuldades no entendimento das 
equações raciais dentro do espaço escolar. 
Os movimentos negros apontam para a necessidade de que a cultura afro e a 
historia da civilização africana devem ser abordadas nos currículos oficiais do 
ensino em nosso pais mediante a nossa diversidade étnica. Para a formação de 
um multicultural deve-se levar em conta as "diferentes memórias sociais, onde os 
estudantes negros e mestiços, entre outros, possam ser representados, 
expressados a si próprio na busca da aprendizagem e conhecimento. 
Isso vai exigir dos educadores uma nova postura, uma nova aprendizagem, 
um novo conceito de educação. Para Souza o grande desafio pode se expresso 
através de duas questões tas como: 
a) Como provocar no professor a vontade, a curiosidade por novos 
saberes? 
b) O que fazer para que o professor entenda que colocar a colocar a 
culpa do fracasso escolar e na sua família é adotar uma 
postura individualista e liberal de que ele mesmo é vitima? 
 
 
 
AULA 3 -Educação – Trabalho, Alienação e Ideologia 
 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
 
1. Estabelecer a relação entre educação e trabalho. 
 
2. Compreender o processo histórico da relação entre trabalho e educação. 
 
3. Analisar a relação entre educação, alienação e ideologia e suas 
implicações para a prática pedagógica. 
 
Na aula anterior conceituamos o trabalho como sendo ato intencional 
do homem com a finalidade de produzir os bens materiais e não-materiais 
da existência humana. Portanto, estamos entendendo o trabalho num 
sentido amplo, ou seja, como atividade prática e teórica. Para entendermos 
a problemática do trabalho, iremos apresentar brevemente a relação 
histórica entre trabalho e educação. 
 
Trabalho e Educação: um breve histórico 
 
 
Visite o site da Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação: 
http://www.anped.org.br e veja os artigos de pesquisadores (as) brasileiros 
(as) sobre a temática no Grupo de Trabalho (GT): Trabalho e Educação. 
 
No modo de produção comunal, homens e mulheres produziam sua 
existência em comum e se educavam neste processo. Ao se relacionarem 
com a terra, com a natureza, estabeleciam relações entre si e se educavam. 
A partir do momento em que o homem se fixa na terra, estabelece 
novas relações de poder e de produção, ou seja, define a terra como 
propriedade privada e acaba promovendo a divisão social de classes: a dos 
proprietários e dos não-proprietários de terra. 
 
Esta divisão abriu a possibilidade de se estabelecer uma educação 
diferenciada, ou seja, uma educação formal para os que viviam do ócio – os 
proprietários de terra – e uma educação que se dava no próprio processo 
de trabalho manual, com o manuseio físico da matéria, dos objetos, da 
realidade e da natureza. Este tipo de educação é característico da Grécia e 
Roma na antiguidade. 
 
Na Idade Média, os homens viviam no campo e do campo e o trabalho 
característico desta época é o trabalho servil. Tendo uma sociedade 
estratificada em classes sociais composta pelos senhores feudais (clero e 
nobreza) e pelos trabalhadores (servos ou vassalos), estrutura um modelo 
de educação diferenciada. 
 
A classe dominante preocupava-se em ocupar o ócio com dignidade 
através de atividades consideradas nobres e não com atividades 
consideradas indignas (como é o caso do trabalho manual). 
 
A classe dominante ao se preocupar com as atividades de guerra 
centrava a educação na formação da cavalaria, envolvendo dois pontos 
fundamentais: o da arte militar e o da vida aristocrática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
O trabalho como categoria fundante do ser social para 
compreendermos esta temática, evidenciaremos duas questões 
fundamentais: 
 
a) o que diferencia o ser social da natureza? 
b) qual o conteúdo que constitui a origem do mundo dos homens para 
além da natureza? 
 
Segundo Sergio Leher "os homens se distinguem da natureza por 
consubstanciarem uma terceira esfera ontológica cuja essência (...) é uma 
causalidade não mais apenas dada, como no mundo natural, mas posta por 
atos humanos - pode e deve serdada pela ontologia." 
 
 
 
Citemos alguns exemplos característicos em nossa sociedade que 
expressão princípios determinados pela lógica do modo de produção 
capitalista. 
A educação é tratada como produto, ou seja, como uma mercadoria 
de consumo. Tanto que a ideologia vigente reduz a educação ao mercado 
de trabalho, ou seja, sua finalidade é apenas econômica e deve atender as 
demandas da produção capitalista. 
 
 
 
Além disso, vale ressaltar que estamos vivendo um processo de 
mercantilização das relações humanas em geral, como por exemplo: a 
mercantilização da fé, da política, do lazer (como é o caso da indústria de 
entretenimento), do corpo, da vida privada (veja o caso dos realit shows e 
da exposição de cada um através da internet) e etc. 
 
Atrelado a isto, vivenciamos uma lógica baseada na produtividade do 
ser humano como um ser produtivo, eficiente, flexível e condena-se todo e 
qualquer tipo de ociosidade. Se o ócio era motivo de status na Antigüidade 
e na Idade Média ele é condenado na sociedade moderna. Tanto que, 
aquele que não trabalha ou produz é visto como malandro, vagabundo, 
indolente, preguiçoso, marginal. 
ATENÇÃO! 
Aproveite para refletir sobre as seguintes frases: 
a) “O trabalho enobrece o homem”. 
b) “Desde que o mundo é mundo sempre houve ricos e pobres”. 
Para aprofundarmos nosso entendimento sobre estas questões e suas 
implicações no campo educacional, trataremos, agora, da problemática da 
alienação e da Ideologia na sociedade moderna. 
 
 
 
Alienação e Ideologia Conceitos importantes sobre alienação e 
ideologia... 
 
Alienação: É vista por Marx como o fato econômico principal de sua 
época, da seguinte forma: “O trabalhador torna-se tanto mais pobre 
quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em 
poder e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais 
barata, quanto maior número de bens produz. Com a valorização do mundo 
das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos 
homens. O trabalho não produz apenas mercadoria; produz-se também a si 
mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e justamente na mesma 
proporção com que produz bens” (Manuscritos Econômico-Filosóficos, 
p.111). 
Ideologia: Pesquise sobre a obra de Marx: A Ideologia Alemã – teses 
sobre Feuerbach. O texto aqui apresentado é inspirado no capítulo: Marx e 
a crítica da Ideologia do livro História da Filosofia – dos pré-socráticos à 
Wittgenstein de Danilo Marcondes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 
1998: págs. 230-31 
 
Alienação vem do latim alienus, que veio dar na palavra “alheio”, 
significando “o que pertence a um outro”. Tanto que no campo do direito é 
compreendido como ato de transferência de posse ou do direito de 
propriedade de alguma coisa para outrem, seja por doação ou por venda. 
 
Já na psiquiatria é sinônimo de doença mental grave, ou seja, a perda 
da noção quer da identidade pessoal quer da realidade a qual o indivíduo 
esteja inserido. 
 
Na filosofia o termo Alienação foi introduzido por Hegel e retomado 
posteriormente por Feuerbach e por Marx no século XIX. Tal temática no 
século XX foi abordada por pensadores como: Luckács, Marcuse e Sartre. 
 
No sentido que lhe é dado por Marx, a alienação é a ação pela qual um 
indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam ou 
permanecem alheios aos resultados ou produtos de sua própria atividade e 
da natureza na qual vivem os seres humanos. 
 
Na sociedade urbano-industrial em que prevalecem as relações de 
dominação e exploração da força de trabalho, que introduziu o fenômeno 
da divisão social do trabalho, criando a especialização, o trabalhador se 
encontra alienado por perder o controle e o domínio daquilo que produz, 
ou seja, o produto do trabalho encontra-se separado, alienado de quem 
produziu. 
 
Passemos agora para a compreensão da ideologia. Este termo tem sua 
origem na obra “Lês élement de l´idéologie”, do francês Antoine Destutt de 
Tracy, que tinha como proposta formular uma ciência das idéias com a 
finalidade de examinar a origem e o processo de formação das idéias no 
homem. 
Marx é o primeiro pensador a tratar a problemática da ideologia do 
ponto de vista filosófico. 
 De acordo com ele, a ideologia tem um sentido negativo, ou seja, de 
mascaramento ou falseamento da realidade, de uma realidade opressora, 
que faz com que seu caráter negativo seja ocultado -, tornando-se assim 
mais aceitável a ter uma justificativa aparente. Portanto, se constitui como 
mais uma forma de dominação e decorre de uma estrutura social desigual. 
 
Sendo assim, a ideologia é uma falsa consciência ou uma consciência 
ilusória cujo papel é o de criar uma visão aparente da realidade, 
objetificando as representações da classe dominante como 
correspondentes à realidade, ou seja, tornar os princípios dominantes 
como algo natural e impedir a compreensão histórica de tais princípios no 
plano da consciência. 
 
Em uma de suas teses Marx afirma: “As idéias da classe dominante 
são, em cada época, as idéias dominantes, isto é, a classe que é a força 
dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual 
dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção 
material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o 
que faz com que a ela sejam submetidas (...) as idéias daqueles aos quais 
faltam os meios de produção espiritual. As idéias dominantes nada mais 
são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas 
como idéias; portanto, a expressão das relações que tornam uma classe a 
classe dominante; portanto, as idéias de sua dominação”. 
 
Mediante a problemática da ideologia, Marx propõe uma filosofia 
crítica que tem por finalidade revelar o processo pelo qual a ideologia se 
produz, ou seja, serviria como desmascaramento da mesma. 
Por fim, podemos considerar que: em uma sociedade em que 
prevalece a divisão social de classes, a divisão do trabalho, as relações de 
dominação e exploração da força de trabalho, a alienação e a ideologia são 
fatores que também se fazem presentes em modelos educativos que visam 
reproduzir tais relações. 
 
É comum em nosso cotidiano afirmações tais como: 
 * o espaço escolar é neutro e a educação é apolítica; 
* ser professor ou um profissional da área da educação é um dom, uma 
dádiva, uma vocação, ou seja, o professor é alguém provido de uma 
natureza pré-determinada por um Ser Superior; 
* o professor deve ser neutro e objetivo diante do processo de ensino-
aprendizagem 
 
Essas compreensões não se sustentam tanto do ponto de vista 
histórico quando do ponto de vista filosófico. 
 
Do ponto de vista histórico, sinalizamos que a história da educação na 
cultura ocidental revelou que, os modelos de educação desenvolvidos da 
antiguidade até a modernidade se constituíram como privilégio de poucos, 
ou seja, das classes dominantes de sua época. 
 
Do ponto de vista filosófico, entendemos que o princípio da 
neutralidade e objetividade é uma crença estabelecida para camuflar as 
razões do trabalho científico e das práticas sociais modernas a partir de 
uma visão dominante e naturalizante. 
 
No que diz respeito ao professor, podemos salientar que tanto a sua 
formação acadêmica quanto a sua prática pedagógica está alicerçada em 
princípios que expressam determinadas compreensões do mundo, da 
natureza, do homem, do conhecimento e etc. 
 
Além disso, o pensar e o fazer pedagógico não é uma obra de um 
indivíduo isolado, mas sim resultado de um processo histórico, social e 
cultural em que somos formados, ou seja, o professor, comoser social, ao 
ser educado incorporou determinadas verdades construídas pelos seus 
antepassados ou por pessoas de sua própria época. 
 
Em outras palavras o pensar e o fazer pedagógico é algo intencional e 
decorre da conformação, manutenção, modificação ou transformação de 
uma realidade social concreta. 
 
Maria Lúcia Arruda Aranha aponta três aspectos sobre a prática 
educativa e a questão da ideologia: a primeira no que se refere à 
organização escolar; a segunda, no que diz respeito ao livro didático e; a 
terceira, a problemática do currículo. Veja a seguir cada uma delas: 
 
a) A organização escolar pode exercer um papel ideológico em que a 
hierarquia exige o exercício do autoritarismo e da disciplina estéril, que 
educam para a passividade e a obediência. A excessiva burocratização 
desenvolve o “ritual de domesticação”, que vai desde o controle da 
presença em sala de aula, as provas, até a obtenção do diploma. 
 
b) Entre os recursos utilizados na prática educativa, o livro didático 
não pode ser considerado um veículo neutro, objetivo, mero transmissor 
de informações. O risco de sua utilização ideológica ocorre, sobretudo, 
quando os textos mostram à criança uma realidade estereotipada, 
idealizada e deformadora. 
 
c) A abordagem das disciplinas do currículo adquire, muitas vezes, um 
caráter ideológico. O ensino de história, por exemplo, torna-se ideológico 
quando se restringe à seqüência cronológica dos fatos, sem a análise da 
ação das forças contraditórias que agem na sociedade. 
 
Por fim, reflita sobre as seguintes questões: 
 
1 – Qual a concepção de mundo, homem e natureza que perpassam os 
conteúdos trabalhados nas disciplinas e nas mais diferenciadas práticas 
pedagógicas? 
 
2 – Qual a finalidade da educação? Educar para autonomia ou para a 
subserviência? 
 
3 – Como compreendemos o trabalho educativo diante de uma 
realidade social concreta em que prevalecem as relações de poder e 
dominação? 
 
 
 
 
 
AULA 4 – EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DEMOCRACIA 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Estabelecer a relação entre educação, cidadania e democracia. 
 
2. Entender a formação do Estado Moderno, seu projeto e seus limites enquanto 
estado de direitos e deveres. 
 
3. Analisar as bases do socialismo utópico e do socialismo científico e suas críticas 
ao pensamento liberal burguês no campo político e econômico. 
 
 
Tratar da relação entre Educação, Cidadania e Democracia é, ao mesmo tempo, 
um desafio teórico e político. 
 Teórico, por termos várias definições para cada uma delas, como também, 
da relação entre ambas. Portanto, nossa opção será a de oferecer uma 
compreensão crítica desta relação em sua materialidade e historicidade. 
 Político, por compreendermos que estamos diante de um mundo em que 
cada vez mais se ampliam controles racionais sobre a vida social – em suas 
dimensões públicas e privadas - como um todo, regida pelo discurso da 
democracia restrita, que é a perspectiva teórico-ideológica expressa pelo 
pensamento liberal burguês. 
 
Nas aulas anteriores, tivemos o cuidado de conceituar a educação 
como sendo um fenômeno eminentemente humano e decorrente da 
relação que o homem estabelece, de forma intencional, através do trabalho 
com a natureza para produzir as condições materiais e não-materiais de 
nossa existência. 
 
Sendo assim, estaremos, nesta aula, nos dedicando mais a temática da 
Democracia e da Cidadania e, ao final, faremos considerações da relação 
dessas com a educação. 
 
Para cumprirmos tal trajetória estaremos recorrendo às Ciências 
Políticas buscando as conceituações necessárias para compreendermos 
melhor a dimensão política e social da educação. 
 
Conceitos Fundamentais 
 
a) Estado 
Em geral, a organização jurídica coercitiva de determinada 
comunidade. O uso da palavra Estado deve-se a Maquiavel em sua obra ‘O 
Príncipe’. Podem ser distinguidas três concepções fundamentais: 
 Concepção organicista - segundo a qual o Estado é independente dos 
indivíduos e anterior a eles. Tal concepção funda-se na analogia entre 
Estado e um organismo vivo. O Estado é um homem em grandes 
dimensões, suas partes ou membros não ser separados da totalidade. A 
totalidade precede, portanto, as partes (os indivíduos, ou grupos de 
indivíduos) de que resulta; a unidade, a dignidade e o caráter que possui 
não podem derivar de nenhuma de suas partes nem do seu conjunto. Esta 
concepção foi elaborada pelos gregos. 
 
 Concepção atomista ou contratualista - segundo a qual o Estado é uma 
criação dos indivíduos, ou seja, é obra humana: não tem dignidade e nem 
caracteres que não lhe tenham sido conferidos pelos indivíduos que o 
produziram. Foi essa a concepção dos estóicos, que consideravam o Estado 
como res populi. 
 
 Concepção formalista: segundo a qual o Estado é uma criação jurídica. O 
Estado é considerado em primeiro lugar, como comunidade, como um 
grupo social residente em determinado território e tem três elementos ou 
propriedades características: soberania ou poder preponderante ou 
supremo, povo e território. 
 
b) Formação do Estado Moderno ou Estado-Nação 
 
 A formação do Estado Moderno, Estado-Nação ou Estado Liberal Burguês 
aparece no vocabulário político em meados do século XIX (1830). De 
acordo com a periodização proposta pelo historiado inglês Eric Hobsbawm 
passou por três etapas, são elas: 
 
 Princípio de nacionalidade (1830-1880): vincula nação e território e o 
discurso da nacionalidade provém da economia política liberal burguesa. 
 
 Idéia Nacional (1880-1918): articulada à língua, à religião e à raça e seu 
discurso provém dos intelectuais pequeno-burgueses. 
 
 Questão Nacional (1918-1950-60): enfatiza a consciência nacional, 
defendida por um conjunto de lealdades políticas e seu discurso provém 
dos partidos políticos e do Estado. 
 
Marilena Chauí diz que o estado moderno ou estado-nação precisa 
enfrentar dois problemas fundamentais: "de um lado, incluir todos os 
habitante do território na esfera da administração estatal; de outro, obter a 
lealdade dos habitantes ao sistema dirigente, uma vez que a luta de classes, 
a luta no interior de cada classe social, as tendências políticas antagônicas e 
as crenças religiosas disputavam essa lealdade. Em suma, como dar à 
divisão econômica, social e política a forma da unidade indivisa? Pouco a 
pouco, a idéia de nação surgirá como solução dos problemas". 
 
Decorre desses problemas a ideologia do nacionalismo, ou seja, a 
estratégia ideológica da burguesia foi desenvolver no cidadão do novo 
modelo de sociedade o sentimento de pertencimento à nação, ou seja, de 
uma religião cívica do patriotismo. Essa foi a tentativa de se criar uma 
unidade em uma sociedade dividida em classes sociais. 
 
Contudo, como observa o historiador Hbsbawm, "o liberalismo tem 
dificuldade para operar com a ideia de nação e de estado nacional porque 
para a ideologia liberal, a realidade se reduz a duas referencias econômicas: 
uma unidade mínimo, o individuo , é uma unidade máxima, a empresa, de 
sorte que não parece haver necessidade de construir uma unidade superior 
estas. No entanto, os economistas liberais não podiam operar sem o 
conceito de economia nacional, pois era fato inegável que havia o estado 
com o monopólio da moeda, com finanças públicas e atividades fiscais, 
além da função de garantir a segurança da propriedade privada e dos 
contratos econômicos, e do controle do aparato militar de repressão as 
classes populares. Os economistas liberais afirmavam por isso que a riqueza 
das nações dependia de estarem elas sobgovernos regulares e que a 
fragmentação nacional, ou os estados nacionais, era favorável à 
competitividade econômica e ao progresso. 
Feitas essas considerações sobre o estado moderno, passemos agora, 
a uma compreensão dos princípios do liberalismo. 
 
c) Teses do Liberalismo Político e Liberalismo Econômico. 
 
Tomemos por base a definição presente no Dicionário de Filosofia de 
Nicolas Abbagnano: 
 
“Liberalismo. Doutrina que tomou para si a defesa e a realização da 
liberdade no campo político. Nasceu e afirmou-se na Idade Moderna e pode 
ser dividida em duas fases: 1ª do século XVIII, caracterizada pelo 
individualismo; 2ª do séc. XIX, caracterizada pelo estatismo”. 
 
O pressuposto filosófico do liberalismo político centra-se na defesa de 
que os seres humanos têm, por natureza, direitos fundamentais e que 
cabe ao Estado respeitá-los. Em outras palavras, o liberalismo limita as 
funções do Estado e este teria os poderes públicos regulados por normas 
gerais subordinadas às leis. 
 
 
 
 
 
D) Democracia 
 
Vem do grego demo = povo e cracia = governo, ou seja, governo do 
povo. Portanto é um sistema em que os cidadãos de um país podem 
participar da vida política. Tal participação pode ocorrer através de 
eleições, plebiscitos e referendos. Além disso, é dado o direito a cada 
cidadão de ser expressarem livremente. 
 
Contudo, vale ressaltar que na Grécia Antiga a democracia era restrita 
por se constituir como privilégio de poucos, ou seja, era reservada apenas 
os que eram considerados cidadãos (os proprietários de terra que 
correspondiam a apenas 10% da população). 
 
Na sociedade moderna prevalece o modelo de democracia 
representativa em que os cidadãos elegem representantes, em intervalos 
regulares através das eleições, que votam os assuntos em seu favor. 
 
E) Cidadania 
 
O conceito de cidadania tem origem na Grécia Antiga, da noção de 
polis ou cidade-estado, sendo usado para designar os direitos relativos ao 
cidadão. Portanto, o indivíduo que vivia na cidade e ali participava 
ativamente das decisões políticas. 
 
Por este conceito estar vinculado à noção de direitos, principalmente 
de direitos políticos, permitem aos cidadãos participarem direta ou 
indiretamente na formação do governo e na sua administração através do 
voto ou do concurso público. Contudo, o cidadão além de terem direitos 
tem deveres, uma vez que em uma coletividade seus direitos são 
garantidos mediante deveres dos demais componentes de uma estrutura 
social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os ideais socialistas 
 
Os processos revolucionários burgueses nos séculos XVII, XVIII e XIX 
tiveram participação efetiva dos trabalhadores (servos, vassalos e 
camponeses) nos frontes de guerra, principalmente na Revolução Francesa 
que tinha como lema: liberdade, igualdade e fraternidade. 
 
Embora os ideais burgueses criticam severamente os privilégios do 
clero e da nobreza e pregavam que os benefícios da sociedade capitalista 
deveriam ser estender a todos, eles acabaram restringindo tais privilégios 
somente à burguesia capitalista. Diante de tal fato, o proletariado começa a 
se organizar e a reivindicar seus direitos. 
 
É nesse contexto que vão se desenvolver na Europa do século 18 e 19 
o pensamento socialista. Os primeiros teóricos desta vertente foram 
Proudhon, Fourier, Saint-Simon. 
O socialismo utópico fez criticas ao liberalismo econômico, 
principalmente a livre iniciativa e a livre concorrência e defendeu a 
formação de comunidades auto-suficientes, onde os homens, através da 
livre cooperação - cooperativas de trabalhadores - , teriam suas 
necessidades satisfeitas. 
 
 
De acordo com o marxismo, os dois níveis de realidades existentes, 
que decorrem da relação do homem com a natureza e com os demais seres 
humanas se explicam através dos conceitos de infra-estrutura econômica e 
superestrutura econômica. 
 
 Infra-estrutura ou estrutura material da sociedade é a base econômica, isto 
é, as formas pelas quais são produzidas os bens materiais que atendam as 
necessidades do humanas. 
 
 Superestrutura corresponde a estrutura jurídico-política (Estado, direito 
etc.) e à estrutura ideológica (formas de consciência social). 
 
 De acordo com esta vertente, a educação se situa no campo da 
superestrutura econômica com a finalidade de garantir a objetificação das 
representações da burguesa no plano da consciência como 
correspondentes à realidade concreta. 
 
A perspectiva do materialismo histórico e do materialismo dialético de 
Karl Marx e Friederich Engels é a base para o desenvolvimento das teorias 
críticas e progressistas no campo da educação. 
 
 
 
 
AULA 5 – AS TEORIAS LIBERAIS EM EDUCAÇÃO 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Situar as Pedagogias Tradicional, Nova e Tecnicista como pertencentes ao 
pensamento liberal em educação. 
 
2. Entender a aplicação de tais teorias na prática educativa. 
 
3. Diferenciar os pressupostos teóricos, o papel da escola, o sistema de avaliação, 
os conteúdos e técnicas de ensino, a relação professor/aluno e os métodos das 
teorias liberais no campo educacional 
 
Nesta aula, teremos a preocupação de compreender as bases teórico-
metodológicas, o papel da escola e o problema da marginalidade contida 
nas teorias liberais em educação: Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e 
Pedagogia Tecnicista. 
 
Dermeval Saviani, em seu livro Escola e Democracia, considera as 
teorias liberais em educação como teorias não-críticas por entenderem “ser 
a educação um instrumento de equalização social, portanto, de superação 
da marginalidade”. 
 
De acordo com o autor, estas teorias "explicam a questão da 
marginalidade a partir de determinada maneira de entender as relações 
entre educação e sociedade", pois , a "sociedade é concebida como 
essencialmente harmoniosa, tendendo a integração de seus membros. A 
marginalidade é vista como um fenômeno acidental que afeta 
individualmente um numero maior ou menor de seus membros o que, no 
entanto, constitui um desvio, uma distorção que não só pode como deve 
ser corrigida. 
 
Partindo destas bases teóricas, as teorias liberais compreendem que 
"a educação emerge ai como instrumento de correção dessas distorções. 
Constitui, pois, uma força homogeneizadora que tem por função reforçar 
os laços sociais, promover a coesão e garantir a integração de todos os 
indivíduos no corpo social. 
Essas teorias são não criticas por não fazerem uma analise critica da 
sociedade da qual decorrem. Sendo assim, determinam que o papel da 
educação é a manutenção ou conservação das relações sociais vigentes, ou 
seja, das relações de dominação e exploração de uma estrutura social 
dividida em classe sociais. 
Iniciemos nossa compreensão pela Pedagogia Tradicional. Em seguida 
abordaremos a Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista. Por fim, 
abordaremos a problemática do neo-tecnicismo e faremos considerações 
acerca da ideologia das competências no campo da educação. 
 
Pedagogia Tradicional – Escola Tradicional 
 
As revoluções burguesas dos séculos 17, 18 e 19 levaram a formação 
do estado moderno baseado nos princípios do contrato social entre o 
estado e a sociedade civil. Tal modelo de estado institui um conjunto de 
direito e deveres e determina a educação como direito de todos e dever do 
estado. 
Decorrente deste caráter jurídico, o estado vai constituir os sistemas 
nacionais de ensino para cumprir o seu papel: o de garantir a todos o 
acesso à educação. Tal defesa decorre do novo modelo de sociedade, ou 
seja, da sociedade capitalista,agora em sua fase industrial. 
 
Segundo Savani, "para superar a situação de opressão, própria do 
antigo Regime, e ascender a um tipo de sociedade fundada no contrato 
social celebrado livremente entre os indivíduos, era necessário vencer a 
barreira da ignorância. Só assim será possível transformar os súditos em 
cidadão do novo modelo de sociedade, isto é, em indivíduos livres porque 
esclarecidos, ilustrados. 
 
Portanto, "a causa da marginalidade é identificada com a ignorancia. è 
marginalizado da nova sociedade quem não é esclarecido. A escola surge 
como um antidoto a ignorancia, logo, um instrumento para equacionar o 
problema da marginalidade. Seu papel é difundir a instrução, transmitir os 
conhecimento acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. 
 
Na analise de Savani, o marginal é o ignorante, o não esclarecido, o 
não ilustrado, ou seja, o que não detém o domínio do conhecimento 
sistematizado historicamente pela humanidade. 
Tendo por base a analise de José Carlos Libâneo sobre as tendências 
pedagógicas na pratica escolar, iremos agora destacar os principais 
elementos que caracterizam a "Tendência Liberal Tradicional" em 
educação. 
 
Tendência Liberal Tradicional – Perspectiva Tradicional ou Conservadora 
PRESSUPOSTOS 
TEÓRICOS 
 Ensino humanístico de cultura geral, tradicional, 
verbalista, autoritário inibindo a participação do 
aluno. 
 Do ponto de vista filosófico, parte de uma 
concepção essencialista baseada no princípio de 
que “os homens são essencialmente iguais”, ou 
seja, de um natureza essencialmente boa, como 
afirmara Rousseau. 
 Os conteúdos trabalhados são enciclopédicos e 
descontextualizados. 
 Valorização do conteúdo, da disciplina, do 
diretivismo. 
 Perspectiva magistrocêntrica – centrada no 
professor. 
 Ensinar é repassar os conteúdos cabendo à 
criança a assimilação dos mesmos. 
 Os programas de ensino são organizados numa 
progressão lógica. 
PAPEL DA 
ESCOLA 
 Formar o cidadão que domine a arte e a retórica. 
 Transmitir os conhecimentos acumulados e 
sistematizados historicamente pela humanidade. 
 Preparar intelectualmente e moralmente o 
indivíduo para assumir seu papel na sociedade. 
CONTEÚDOS 
DE ENSINO 
 Conteúdos compreendidos como verdades 
absolutas e separados da experiência dos alunos e 
da realidade social concreta. 
 Valorização do conteúdo científico, cumulativo e 
quantitativo. 
PROPOSTA DE  Ênfase na memorização. 
 Verificação dos resultados através de provas orais 
AVALIAÇÃO e escritas, como também, de exercícios e 
trabalhos em casa. 
 O aluno deve reproduzir o que foi ensinado pelo 
professor. 
 Avaliação classificatória. 
RELAÇÃO 
PROFESSOR 
ALUNO 
 O professor é o centro do processo ensino-
aprendizagem. 
 Professor autoritário que transmite o 
conhecimento. 
 O aluno se encontra numa condição passiva de 
mero receptor do conhecimento e sujeito à 
castigos quanto não cumprir suas tarefas. 
MÉTODO DE 
ENSINO 
 Formulado por Herbart que se baseou no método 
indutivo de Francis Bacon. 
 Método expositivo organizado em cinco passos 
que constituem a ordem psicológica mais 
adequada para a assimilação de novas idéias e 
experiências. 
 Exige raciocínio indutivo (observação dos fatos) 
TÉCNICAS DE 
ENSINO 
 Aulas expositivas. 
 Ênfase em exercícios, cópias, leituras, repetição e 
memorização de conceitos e fórmulas. 
 Envolvem três etapas: introdução, 
desenvolvimento e conclusão. 
 Estímulo ao individualismo e à competição. 
PRINCIPAIS 
TEÓRICO 
 Johann Friederich Herbart (1776-1841) 
 
Pedagogia Nova 
Como os privilégios do novo modelo de sociedade(capitalista) não 
atingiram ao conjunto da população, mas se restringiram à burguesia 
capitalista levando ao proletariado e se organizar e reivindicar seus direitos. 
 
A burguesia assume uma postura reacionária e vê na educação um 
campo fértil para a recomposição da hegemonia na segunda metade do 
século 19. Para tanto, advoga um novo modelo de escola tecendo criticas a 
escola tradicional. 
 
Os teóricos da escola nova defendem as seguintes teses: 
 A) a escola tradicional e portadora de todos os vícios e a escola nova e 
portadora de todas as virtudes; a escola tradicional é reacionária e a nova 
é revolucionária; o método de escola tradicional é anti-cientifico e o 
método da nova é cientifico; a escola tradicional é anti-democrática e a 
nova é democrática. 
 
Influenciada por estudos desenvolvido na biologia e na psicologia 
advoga que a anormalidade e um acidente natural que pode e deve ser 
corrigido, levando a concepção de biopsicologização do individuo, da 
sociedade e da educação. Com isso, cria-se o conceito de anormalidade 
psíquica. Uma das idéias centrais é a defesa das diferenças individuais 
fundada numa filosofia de caráter existencialista: " os homens são 
essencialmente diferentes". 
 
O papel da escola está na adaptação, integração u inclusão dos 
indivíduos à estrutura social desenvolvendo o sentimento de 
pertencimento ao grupo social. De acordo com essa concepção marginam é 
o desadaptado, desajustado, ou seja, o anormal. De acordo com José Carlos 
Libâneo, a Pedagogia Nova se materializou em duas tendências que 
veremos a seguir. 
 
 
 
 
Tendência Liberal DIRETIVA – ESCOLA NOVA 
 
PRESSUPOSTOS 
TEÓRICOS 
 Crítica à Pedagogia Tradicional. 
 Visão pedocêntrica. 
 Aprender a aprender (auto-aprendizagem). 
 Valorização do aspecto psicológico (testes de 
inteligência), do sentimento e da 
subjetividade. 
 Biopsicologização da educação e do indivíduo. 
 “Os homens são essencialmente diferentes”. 
Defesa em torno das diferenças individuais. 
 Os problemas sociais pertencem à sociedade. 
PAPEL DA 
ESCOLA 
 Escola Democrática, proclamada para todos. 
 Valorizar o conhecimento do aluno. 
 Estimular alunos que são diferentes e 
necessitam de estímulos diferentes. 
 Adequar as necessidades individuais ao meio 
social. 
 Ajustamento social por meio de experiências, 
em que a escola deve retratar a vida. 
CONTEÚDOS 
DE ENSINO 
 Os conteúdos são selecionados a partir dos 
interesses e experiências vividas pelos alunos. 
 A aquisição do saber é mais importante do que 
o próprio saber. 
 Ênfase nos processos de desenvolvimento das 
relações sociais, da convivência em grupo e do 
saber fazer. 
PROPOSTA 
DE 
AVALIAÇÃO 
 Valorização da atividade do aluno pela 
descoberta pessoal que passa a compor a 
estrutura cognitiva. 
 Preocupação com a participação, interesse, 
socialização e conduta. 
 Avaliação para o desenvolvimento pessoal do 
aluno. 
 Ênfase na auto-avaliação, a partir de critérios 
internos do organismo. 
 Valorização dos aspectos afetivos (atitudes). 
RELAÇÃO 
PROFESSOR 
ALUNO 
 O professor é o facilitador do processo ensino-
aprendizagem, que auxilia o desenvolvimento 
livre e espontâneo do aluno. 
 O professor não deve ensinar, mas criar as 
devidas condições para que os alunos 
aprendam. 
 O aluno é um ser ativo. 
MÉTODO 
DE ENSINO 
 O ensino é uma espécie de projeto de 
pesquisa. Se estrutura em cinco passos: a) a 
pesquisa seria uma atividade; b) que suscita 
um problema; c) provocando o levantamento 
dos dados; d) levantamento de hipóteses; e) 
experimentação. 
TÉCNICAS 
DE ENSINO 
 Centros de interesses; estudo dirigido. 
 Fichas didáticas. 
 As técnicas e os métodos são orientados por 
três princípios: individualização, liberdade e 
espontaneidade. 
 Utilização de diversos recursos didáticos 
PRINCIPAISTEÓRICOS 
 John Dewey (1859-1952) 
 Montessory (1870-1940) 
 Claparéde (1873-1940 
 Piaget (1896-1980) 
 Brasil: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, 
Fernando Azevedo. 
 
Tendência Liberal NÃO-DIRETIVA – ESCOLA NOVA 
 
PRESSUPOSTOS 
TEÓRICOS 
 Biopsicologização da educação, da sociedade e do 
indivíduo. 
 Educação centrada no estudante. 
 Prática pedagógica anti-autoritária. 
 Favorece o amadurecimento emocional, a 
autonomia e as possibilidades de auto-realização do 
aluno pelo desenvolvimento do seu “eu”. 
 Aprender significa modificar as próprias percepções. 
 As atividades decorrem de acordo com as 
experiências individuais. 
 A motivação da aprendizagem é o desejo de 
adequação pessoal na busca de auto-realização. 
 Prioriza os problemas psicológicos. 
 Enfoque na formação individual. 
 Aprender a fazer. 
PAPEL DA 
ESCOLA 
 Preparar os indivíduos para desempenhar papéis 
sociais. 
 Promover o auto-desenvolvimento e a realização 
pessoal. 
 Privilegiar situações problemáticas que 
correspondam aos interesses dos alunos. 
CONTEÚDOS 
DE ENSINO 
 São selecionados a partir das experiências dos 
alunos. 
 Os conhecimentos são dispensáveis, são apenas 
meios para o auto-desenvolvimento. 
 Consistem em experiências que o aluno reconstrói. 
PROPOSTA 
DE AVALIAÇÃO 
 Auto-avaliação. 
 Atividades avaliativas: debates, seminários com 
exposição individual ou em grupo. 
 Relatórios de pesquisas experimentais e estudos do 
meio. 
 Trabalho em grupos. 
RELAÇÃO 
PROFESSOR 
ALUNO 
 Professor é um especialista em relações humanas. 
 O relacionamento entre professor e aluno deve ser 
autêntico e pessoal. 
 O professor tem que ter a capacidade de ser 
confiável, receptivo e intervir o mínimo possível na 
aprendizagem do aluno. 
MÉTODO 
DE ENSINO 
 Não-diretivo – concepção terapêutica e 
aconselhamento com a finalidade de eliminação da 
inconsciência entre auto-conceito e experiência 
pessoal. 
TÉCNICAS 
DE ENSINO 
 Trabalho em grupo. 
 Entrevistas, pesquisas, jogos/criatividade, 
experiências dinâmicas de grupos. 
Principal 
Teórico 
 Carl Rogers (1902-1987) 
 
Pedagogia Tecnicista – Escola Tecnicista 
 
Tendo em vista que a escola nova demonstrou-se ineficiente quanto ao 
problema da marginalidade social, vai se construir, a partir da década de 50 
do século passado, um novo modelo de escola.De acordo com Demeval 
Savani, a pedagogia tecnicista estrutura-se teoricamente da seguinte 
forma: 
 
"A partir do pressuposto de neutralidade científica inspirada nos 
princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, essa pedagogia 
advoga a reordenação do processo educativo de maneira a torná-lo 
objetivo e operacional. De modo semelhante que ocorreu no trabalho 
fabril, pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico ... Buscou-se 
planejar a educação de modo a dotá-lo de uma organização racional capaz 
de minimizar as interferências subjetivas que pudessem por em risco sua 
eficiência. Para tanto, era mister operacionalizar os objetivos e, pelo menos 
em certos aspectos, mecanizar o processo. 
 
Decorrem dessa perspectiva o microensino, o telensino, a instrução 
programada, as máquinas de ensinar. Define que o papel da escola é 
formar indivíduos capazes de dar sua parcela de contribuição ao sistema de 
produção na sociedade capitalista. 
 
De acordo com esta teoria, marginal é o incompetente, o ineficiente, o 
improdutivo. A seguir, veremos como esta pedagogia se materializou na 
prática escolar. 
 
 
Tendência Liberal TECNICISTA – ESCOLA TECNICISTA 
 
PRESSUPOSTOS 
TEÓRICOS 
 Decorre da teoria do capital humano a partir da 
década de 50. 
 É introduzida efetivamente no Brasil na década de 60 
(leis 5.540/68 e 5.692/71). 
 Aprendizagem é modificação de desempenho. 
 Processos de controles racionais do comportamento, 
com a finalidade de levar o indivíduo atingir objetivos 
previamente estabelecidos. 
 Processo de condicionamento/reforço da resposta 
que se quer obter e acontece através da: 
operacionalização dos objetivos e mecanização do 
processo. 
 Busca-se a eficiência, a qualidade, a racionalidade, a 
produtividade e a neutralidade na escola que deve 
funcionar como uma empresa. 
 Behaviorismo, comportamentalismo, 
instrumentalismo, ambientalismo. 
PAPEL DA 
ESCOLA 
 Aperfeiçoamento do sistema capitalista. 
 Preparar para o mercado de trabalho. 
 Modelar o comportamento humano 
CONTEÚDOS 
DE ENSINO 
 Baseados nos princípios científicos, manuais e 
módulos de auto-instrução que visam objetivos e 
habilidades que levam à competência técnica. 
 Informações, princípios e leis, organizados em uma 
seqüência lógica e psicológica, estabelecida e 
ordenada por especialistas. 
 Material instrucional sistematizado nos manuais, 
livros didáticos, apostilas, etc. 
PROPOSTA 
DE AVALIAÇÃO 
 Ênfase na produtividade do aluno com uso de testes 
objetivos. 
 Realização de exercícios programados. 
 Ocorre no final do processo com a finalidade de 
constatar se os alunos adquirem os comportamentos 
desejados. 
RELAÇÃO 
PROFESSOR 
 Professor é um técnico responsável pela eficiência do 
ensino. 
ALUNO  Aluno é um ser fragmentado, espectador que está 
sendo preparado para o mercado de trabalho, para 
aprender a fazer, ou seja, executar tarefas com 
eficiência. 
MÉTODO 
DE ENSINO 
 Procedimentos e técnicas para a transmissão e 
recepção de informações. 
TÉCNICAS 
DE ENSINO 
 Instrução programada. 
 Pacotes de Ensino. 
 Módulos instrucionais. 
 Técnicas de microensino. 
PRINCIPAIS 
TEÓRICOS 
 Skinner, Gagné, Bloom. 
 No Brasil: Cossete Ramos. 
 
 
 
 AULA 6 – CRITICA A ESCOLA MODERNA 
Ao final desta aula, você será capaz de: 
1. Saberá diferenciar as teorias crítico-reprodutivistas no campo da educação. 
 
2. Explicar a proposta de desescolarização da sociedade. 
 
3. Compreender as bases das teorias anarquistas e seus principais representantes 
no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 PLANO POLITICO IDEOLOGICO : No plano 
político-ideológico, estes debates concentravam 
forças na tentativa de oferecer respostas efetivas às 
necessidades que começavam a se gestar a partir da 
nova composição de força e poder político, que se 
desenhou com o aprofundamento do binômio 
industrialismo e democracia, em nosso processo 
histórico. 
 De um lado, verificou-se a rearticulação dos 
grupos conservadores e modernos do cenáriopolítico-econômico-social brasileiro na tentativa de 
consolidar um novo projeto educacional que viesse 
de encontro com as diretrizes do ideário neoliberal, 
principalmente as advindas do Banco Mundial. De 
outro, era crescente a organização e articulação de 
grupos progressistas que buscavam pautar suas 
propostas numa ótica da classe-que-vive-do-
trabalho, como um dos fatores essenciais para se 
consolidar as vias de democratização das relações 
de poder em nosso país. 
PLANO ECONOMICO : No plano econômico, embora 
o Brasil enfrentasse uma séria crise econômica, 
trouxe à tona uma rearticulação dos setores 
modernos da economia na tentativa de redefinir o 
projeto de modernização da economia em tempos 
de globalização das finanças e do mercado. Em 
outras palavras, a elite brasileira buscava 
modernizar o seu parque produtivo e garantir a sua 
fatia no mercado, decorrente das novas relações de 
poder no atual estágio de desenvolvimento do 
capitalismo de corte monopolista. Um dos desafios 
cruciais para este setor era o de redefinir uma nova 
política de formação profissional e de requalificação 
da classe trabalhadora, visto que o novo paradigma 
da produção, em vias de ser implantado nos setores 
produtivos da economia brasileira, colocava a 
necessidade de uma adaptação psicofísica do 
operariado, para lidar com os novos códigos do 
conhecimento científico presentes no mundo do 
trabalho e da produção.

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