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Info 654 STF Maria da Penha

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www.dizerodireito.com.br 
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INFORMATIVO esquematizado 
 
Informativo 654 – STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
Obs: não foram incluídos neste informativo esquematizado os julgados com menor relevância para 
concursos públicos, bem como aqueles que tratam sobre direito penal militar e direito processual militar. 
 
 
DIREITO PENAL 
 
Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) 
 
Lei Maria da Penha – 1 
Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de 
a Lei n. 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres. 
Comentários A Presidência da República ingressou com uma ação declaratória de constitucionalidade 
(ADC n. 19) com o objetivo de declarar que o art. 1º da Lei seria constitucional. 
 
O art. 1º da Lei estabelece: 
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar 
contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção 
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção 
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros 
tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a 
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece 
medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e 
familiar. 
 
A ADC foi necessária porque havia alguns juízes estaduais que declaravam inconstitucional a 
Lei Maria da Penha porque ela faria discriminação entre homem e mulher ao proteger 
apenas as mulheres em detrimento dos homens. 
 
A ADC foi julgada procedente por unanimidade, ou seja, o STF declarou constitucional o art. 
1º da Lei, afirmando que não há violação ao princípio da igualdade. 
 
Dessa feita, conclui-se que a Lei Maria da Penha somente protege a mulher. 
O homem até pode ser vítima de violência doméstica e familiar (ex: homem que apanha de 
sua esposa). No entanto, somente a mulher recebe uma proteção diferenciada. O homem 
recebe a proteção comum prevista no Código Penal. 
 
A mulher, conforme o Relator, Min. Marco Aurélio, é vulnerável quando se trata de 
constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. “Não há dúvida 
sobre o histórico de discriminação por ela enfrentado na esfera afetiva. As agressões 
sofridas são significativamente maiores do que as que acontecem – se é que acontecem – 
contra homens em situação similar”, avaliou. 
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INFORMATIVO esquematizado 
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O Relator afirmou que a Lei Maria da Penha promove a igualdade em seu sentido material, 
sem restringir de maneira desarrazoada o direito das pessoas pertencentes ao gênero 
masculino. O legislador utilizou meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado 
pelo referido preceito constitucional. 
 
Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo o uso do sexo como critério de 
diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a 
constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. 
 
Frisou-se que, na seara internacional, a Lei Maria da Penha seria harmônica com o disposto no 
art. 7º, item “c”, da Convenção de Belém do Pará e com outros tratados ratificados pelo país. 
 
Assim, trata-se de uma ação afirmativa (discriminação positiva) em favor da mulher. 
 
Sob o enfoque constitucional, consignou-se que a norma seria corolário da incidência do 
princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais. 
 
O Min. Ayres Britto disse que a Lei está em consonância plena com o que denominou de 
“constitucionalismo fraterno”, que seria a filosofia de remoção de preconceitos contida na 
Constituição Federal de 1988. 
 
O Min. Gilmar Mendes lembrou que não há inconstitucionalidade em legislação que dá 
proteção ao menor, ao adolescente, ao idoso e à mulher. 
 
Igualdade formal e material 
A igualdade formal (também chamada de igualdade perante a lei, civil ou jurídica) está 
prevista no art. 5º, caput da CF/88 e consagra que todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza. 
A igualdade material (igualdade perante os bens da vida, substancial, real ou fática) 
preconiza que as desigualdades fáticas existentes entre as pessoas devem ser reduzidas por 
meio da promoção de políticas públicas e privadas. A igualdade material também encontra 
previsão na CF/88 (art. 3º, III). 
 
A igualdade material e a formal acabam sendo conflitantes entre si. 
Com efeito, a igualdade formal pressupõe um tratamento igual. Quando se trata todos da 
mesma forma, está se promovendo a igualdade formal, mas relegando a igualdade material. 
Quando se trata desigualmente os desiguais, promove-se a igualdade material em 
detrimento da igualdade formal. 
 
As ações afirmativas são medidas especiais que têm por objetivo assegurar progresso 
adequado de certos grupos raciais, sociais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem de 
proteção e que possam ser necessárias e úteis para proporcionar a tais grupos ou indivíduos 
igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais (REsp 1264649/RS, 
Rel. Min. Humberto Martins, 2ª Turma, julgado em 01/09/2011). 
 
Desse modo, ao contrário do que muitas pessoas pensam, as ações afirmativas não se 
restringem à proteção de negros, mas também de mulheres e outros grupos. 
Processo Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. 
 
 
 
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Lei Maria da Penha – 2 
Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para 
as causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. 
Esta determinação, que consta no art. 33 da Lei, não ofende a competência dos Estados 
para disciplinarem a organização judiciária local. 
Comentários A ADC também tinha como objetivo declarar constitucional o art. 33 da Lei, que prevê: 
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a 
Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar 
as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas 
as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. 
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o 
processo e o julgamento das causas referidas no caput. 
 
Havia uma corrente de juízes e Desembargadores que defendia que este art. 33 da Lei 
violava os arts. 96, I, a e 125, § 1º da CF: 
 Art. 96. I, a: afirma que compete privativamente aos tribunais elaborar seus regimentos 
internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das 
partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos 
jurisdicionais e administrativos. 
 Art. 125, § 1º: prevê que a competência dos tribunais será definida na Constituição do 
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. 
 
Segundo o Relator, a Lei Maria da Penha não implicou obrigação, mas a faculdade de 
criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher. 
 
O art. 33 não cria varas judiciais, não define limites de comarcas e não estabelece um 
número de magistrados a serem alocados aos Juizados de Violência Doméstica e Familiar. 
Estes temas seriam concernentes às peculiaridades e circunstâncias locais. 
 
O mencionado artigo apenas faculta a criação desses juizados e atribui ao juiz da vara 
criminal a competência cumulativa das ações cíveis e criminais envolvendo violência 
doméstica contra mulher ante a necessidade de conferir tratamento uniforme especializado 
e célere em todo o território nacionalsobre a matéria. 
 
Não há qualquer problema no fato de a lei federal sugerir aos Tribunais estaduais a criação 
de órgãos jurisdicionais especializados, tendo isso já ocorrido, por exemplo, com o Estatuto 
da Criança e do Adolescente e com a Lei de Falência, cujas respectivas leis recomendaram a 
criação de varas especializadas no julgamento de tais matérias. 
Processo Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. 
 
 
Lei Maria da Penha – 3 
Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica a Lei 
dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/95), mesmo que a pena seja menor que 2 anos. 
Comentários O art. 41 da Lei Maria da Penha tem a seguinte redação: 
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995. 
 
O STF decidiu que este art. 41 é constitucional e que, para a efetiva proteção das mulheres 
vítimas de violência doméstica, foi legítima a opção do legislador de excluir tais crimes do 
âmbito de incidência da Lei n. 9.099/95. 
 
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Vale ressaltar que a Lei n. 9.099/95 não se aplica nunca e para nada que se refira à Lei 
Maria da Penha. 
 
Obs: o STJ interpretava este art. 41 afirmando que a inaplicabilidade da Lei n. 9.099/95 
significava apenas que os institutos despenalizadores da Lei dos Juizados é que não 
poderiam ser utilizados na Lei Maria da Penha, ou seja, transação penal e suspensão 
condicional do processo. 
 
O STF foi além e disse que, além dos institutos despenalizadores, nenhum dispositivo da Lei 
n. 9.099/95 pode ser aplicado aos crimes protegidos pela Lei Maria da Penha. 
 
Desse modo, a Lei n. 11.340/06 exclui de forma absoluta a aplicação da Lei n. 9.099/95 
aos delitos praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas e familiares. 
 
Aqui o julgamento foi 10 x 1, vencido o Min. Cezar Peluso. 
Processo Plenário. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. 
 
 
Lei Maria da Penha – 4 
Ponto mais importante e polêmico da decisão: 
Toda lesão corporal, ainda que de natureza leve ou culposa, praticada contra a mulher no 
âmbito das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA. 
Comentários O crime de lesões corporais está previsto no art. 129 do CP. 
 
O Código Penal não diz que o crime de lesões corporais é de ação pública condicionada. 
 
Logo, quando a lei não diz que determinado crime é de ação pública condicionada, a regra é 
de que este delito é de ação pública incondicionada (art. 100, § 1º do CP). 
 
Ocorre que a Lei n. 9.099/95 afirmou, em seu art. 88, que os crimes de lesões corporais 
leves e culposas seriam de ação penal pública condicionada: 
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de 
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. 
 
Assim, por exemplo, quando, em uma briga de bar, João desfere um soco em Ricardo, 
causando-lhe lesões corporais leves, este crime é de ação penal pública condicionada, ou 
seja, qualquer providência para apurar este delito e para dar início ao procedimento 
criminal só se inicia se o ofendido (no caso, Ricardo) tiver interesse e provocar os órgãos 
públicos (procurar a polícia ou o Ministério Público). 
 
Repita-se que, se não houvesse este art. 88 da Lei n. 9.099/95, a ação penal nos crimes de 
lesões corporais leves e culposas seria pública incondicionada, considerando que o Código 
Penal não exige representação para este crime (art. 129 c/c art. 100, § 1º do CP). 
 
Antes do julgamento do STF, a dúvida era então a seguinte: 
As lesões corporais leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência 
doméstica eram de ação pública incondicionada ou condicionada? 
Em outras palavras, este art. 88 da Lei n. 9.099/95 também valeria para as lesões corporais 
leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência doméstica? 
 
 
 
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Havia duas correntes sobre o tema: 
1ª corrente: ação pública INCONDICIONADA 
(art. 88 não vale para a Lei Maria da Penha) 
2ª corrente: ação pública CONDICIONADA 
(art. 88 vale para a Lei Maria da Penha) 
Argumentos principais: 
a) A ineficiência do Estado na proteção da 
mulher vítima de violência doméstica 
representa grave violação de direitos 
humanos; 
b) O projeto de lei previa representação e 
foi alterado. 
c) A Lei 11.340/06 é expressa ao 
determinar que não se aplica a Lei 
9.099/95. 
Argumentos principais: 
a) O art. 41 da Lei só veda medidas 
despenalizadoras que não integrem a 
vontade da mulher (veda transação penal e 
suspensão do processo). 
b) Por razões de política criminal e de 
proteção da família reconstituída, é 
importante que a mulher tenha poder de 
decidir se deseja instaurar ou não a 
persecução penal. 
 
Antes do STF proferir o julgamento que estamos analisando, quem primeiro teve que 
enfrentar a discussão foi o STJ. 
 
De início, o STJ entendeu que se tratava de ação pública incondicionada: 
HC 96.992-DF, Rel. Min. Jane Silva (Des. convocada do TJ-MG), julgado em 12/8/2008. 
 
Ocorre que esse entendimento mudou e o STJ passou a adotar, de maneira pacífica, a 2ª 
corrente, ou seja, de que se tratava de ação pública CONDICIONADA. 
Sustentava-se, dentre outros argumentos que “não há como prosseguir uma ação penal 
depois de o juiz ter obtido a reconciliação do casal ou ter homologado a separação com a 
definição de alimentos, partilha de bens, guarda e visitas. Assim, a possibilidade de 
trancamento de inquérito policial em muito facilitaria a composição dos conflitos 
envolvendo as questões de Direito de Família, mais relevantes do que a imposição de pena 
criminal ao agressor” (REsp 1.097.042-DF, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 
Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 24/2/2010). 
 
O Plenário do STF julgou a questão e modificou novamente o panorama da jurisprudência pátria. 
 
O que decidiu o STF? 
Qualquer lesão corporal, mesmo que leve ou culposa, praticada contra mulher no âmbito 
das relações domésticas é crime de ação penal INCONDICIONADA, ou seja, o Ministério 
Público pode dar início à ação penal sem necessidade de representação da vítima. 
 
O Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta, proposta pelo Procurador Geral da 
República, para atribuir interpretação conforme a Constituição aos arts. 12, I; 16 e 41, todos 
da Lei 11.340/2006, e assentar a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime 
de lesão corporal, praticado mediante violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Em suma, o STF adotou a 1ª corrente acima exposta. 
 
O resultado do julgamento foi 10 votos a favor da tese, vencido apenas o Min. Cezar Peluzo. 
 
Para a maioria dos ministros do STF, se a ação penal fosse considerada condicionada esta 
circunstância acabaria por esvaziar a proteção constitucional assegurada às mulheres. 
 
Entendeu-se, contudo, que permanece a necessidade de representação para crimes 
dispostos em leis diversas da Lei 9.099/95, como o de ameaça e os cometidos contra a 
dignidade sexual. 
 
 
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Algumas consequências que vislumbramos ser decorrentes deste entendimento do STF: 
 Se uma mulher sofrer lesões corporais no âmbito das relações domésticas, ainda que 
leves, e procurar a delegacia relatando o ocorrido, o delegado não deve fazer com que 
ela assine uma representação, uma vez que não existe mais representação para tais 
casos. Bastará que o delegado colha o depoimento da mulher e, com base nisso, 
havendo elementos indiciários, instaure o inquérito policial; 
 
 Como já exposto acima, em caso de lesões corporais leves ou culposas que amulher for 
vítima, em violência doméstica, o procedimento de apuração na fase pré-processual é o 
inquérito policial e não o termo circunstanciado; 
 
 Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada 
com o cônjuge, procura o delegado, o promotor ou o juiz dizendo que gostaria que o 
inquérito ou o processo não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá 
nenhum efeito jurídico, devendo a tramitação continuar normalmente; 
 
 Se um vizinho, por exemplo, presencia a mulher apanhando do seu marido e comunica 
ao delegado de polícia, este é obrigado a instaurar um inquérito policial para apurar o 
fato, ainda que contra a vontade da mulher. A vontade da mulher ofendida passa a ser 
absolutamente irrelevante; 
 
 É errado dizer que, com a decisão do STF, todos os crimes praticados contra a mulher, 
em sede de violência doméstica, serão de ação penal incondicionada. Continuam 
existindo crimes praticados contra a mulher (em violência doméstica) que são de ação 
penal condicionada, desde que a exigência de representação esteja prevista no Código 
Penal ou em outras leis, que não a Lei n. 9.099/95. Assim, por exemplo, a ameaça 
praticada pelo marido contra a mulher continua sendo de ação pública condicionada 
porque tal exigência consta do parágrafo único do art. 147 do CP. O que o STF decidiu 
foi que o delito de lesão corporal, ainda que leve, praticado com violência doméstica 
contra a mulher, é sempre de ação penal incondicionada porque o art. 88 da Lei n. 
9.099/95 não pode ser aplicado aos casos da Lei Maria da Penha. 
 
 Os arts. 12, I e 16, da Lei Maria da Penha não foram declarados inconstitucionais. O que 
o STF fez foi tão-somente dar interpretação conforme a Constituição a estes 
dispositivos, confirmando que deveriam ser interpretados de acordo com o art. 41 da 
Lei. Em suma, deve-se entender que a representação mencionada pelos arts. 12, I e 16 
da Lei Maria da Penha refere-se a outros delitos praticados contra a mulher e que sejam 
de ação penal condicionada, como é o caso da ameaça (art. 147 do CP), não valendo 
para lesões corporais. 
Processo Plenário. ADI 4424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9.2.2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
Procedimento e nulidade 
 
No procedimento penal comum, após o réu apresentar resposta escrita à acusação, não há 
previsão legal para que o MP se manifeste sobre esta peça defensiva. 
No entanto, caso o juiz abra vista ao MP mesmo assim, não haverá qualquer nulidade. 
Comentários Conceito de procedimento: é sucessão coordenada de atos processuais. 
 
Conceito de procedimento penal: é a sucessão coordenada de atos que ocorrem no 
processo destinado à apuração de crimes. 
Espécies de procedimentos penais: 
Existem várias espécies de procedimentos penais, que variam de acordo com o crime que 
está sendo apurado. 
 
O procedimento penal divide-se em: 
I – COMUM: 
Rito para apuração de crimes para os quais não haja procedimento especial previsto em lei. 
Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, salvo disposição em contrário do 
CPP ou de lei especial. 
 
II – ESPECIAL: 
São os ritos previstos no CPP ou em leis especiais para determinados crimes específicos. 
Ex1: procedimento dos crimes contra a honra (arts. 519 a 523 do CPP). 
Ex2: procedimento para os processos de competência do Júri (arts. 406 a 497). 
Ex3: procedimento para os crimes da Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006). 
 
O procedimento COMUM, por sua vez, subdivide-se em: 
a) Procedimento comum ordinário: rito para processamento de crimes cuja pena máxima 
prevista seja igual ou superior a 4 anos. É previsto no CPP. 
b) Procedimento comum sumário: rito para processamento de crimes cuja pena máxima 
prevista seja inferior a 4 anos, excluídos os casos do sumaríssimo. É previsto no CPP. 
c) Procedimento comum sumaríssimo: rito para processamento de contravenções penais 
e crimes de menor potencial ofensivo (pena máxima prevista não superior a 2 anos). 
Aqui, aplica-se a Lei n. 9.099/95. 
 
Vejamos algumas etapas do procedimento comum (ordinário e sumário): 
 
 
Denúncia 
Recebimento 
Citação 
Réu citado p/ 
responder à acusação 
em 10 dias. 
Resposta 
preliminar 
(art. 396-A) 
Absolvição 
sumária 
(art. 397) 
Rejeição da absolvição 
sumária e designação 
de audiência 
Rejeição 
(art. 395, CPP) 
 
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Desse modo, conforme se observa, após a resposta preliminar*, não há previsão de o 
Ministério Público se manifestar sobre o que o acusado alegou. Pela letra da lei, o juiz, após 
receber a resposta escrita do réu, deve simplesmente absolvê-lo sumariamente (se houver 
qualquer das hipóteses do art. 397 do CPP) ou rejeitar a absolvição sumária e designar 
audiência, podendo, ainda, eventualmente, deferir a produção de outras provas requeridas 
pelo réu na resposta, como perícias, por exemplo. 
 
* Uma observação terminológica antes de prosseguirmos: 
A resposta apresentada pelo art. 396-A do CPP não tem uma nomenclatura pacífica. O CPP 
chama de “resposta escrita”. Boa parte da doutrina e da jurisprudência denomina “resposta 
preliminar”. O Min. Marco Aurélio, em julgado que veremos abaixo, utilizou a expressão 
“defesa prévia” (que era uma nomenclatura que existia na redação anterior do CPP e que, 
em nossa modesta opinião, é a menos adequada por ter um potencial de gerar confusão 
com o antigo instituto). 
Não deve ser utilizada, para esta peça do art. 396-A a expressão “defesa preliminar”, tendo 
sido ela rechaçada expressamente pelo Min. Marco Aurélio quando de seu voto. 
 
Pois bem, retomando, pelo texto legal, após a resposta preliminar (resposta escrita/defesa 
prévia), não há previsão de o Ministério Público se manifestar sobre o que o acusado alegou 
nesta peça defensiva. 
 
E se o juiz, mesmo não havendo previsão legal, após o réu apresentar sua resposta 
preliminar, abrir vista ao Ministério Público para que ele se manifeste a respeito do que o 
acusado alegou, haverá nulidade? 
NÃO. Não há nulidade no fato de o juiz ouvir o MP depois da resposta preliminar 
apresentada pelo acusado. Foi o que entendeu a 1ª Turma do STF. 
 
O Min. Marco Aurélio, relator do processo, afirmou, em síntese, que a oitiva do MP, no caso 
concreto, decorreu da observância do contraditório e que não havia qualquer nulidade na 
conduta adotada pelo magistrado. 
 
Sublinhou que, após o réu apresentar defesa prévia na qual são articuladas preliminares ou 
juntados novos documentos seria cabível a audição do parquet para se definir sobre o 
prosseguimento da ação penal. 
 
Ressaltou que somente haveria nulidade se o MP tivesse falado depois da defesa nas 
alegações finais, isto é, se, após as alegações finais da defesa, o MP voltasse aos autos e se 
manifestasse sobre isso. Como não era essa a hipótese, não havia qualquer vício a macular 
o processo. 
 
Obs: no caso julgado pelo STF, tratava-se de um crime de calúnia (art. 138 do CP), delito 
para o qual o CPP prevê um procedimento especial. As únicas especificidades deste 
procedimento estão no fato de que é possível a tentativa de conciliação entre querelante e 
querelado (art. 520 do CPP), bem como o oferecimento de exceções de verdade ou de 
notoriedade (art. 523 do CPP). Tirando estas peculiaridades, a instrução é a mesma do 
procedimento comum previsto no art. 394 e ss. do CPP. 
Processo 1ª Turma. HC 105739/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, julgado em 08/02/2012. 
 
 
 
 
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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) A Lei n. 11.340/2006, mais conhecida como “Lei Maria da Penha” viola o art. 5º, caput, da CF, ao 
estabelecer distinção irrazoável entre homem e mulher, contrariando,assim, cláusula pétrea 
constitucional. ( ) 
2) A Lei Maria da Penha prevê legítima ação afirmativa em favor da mulher, estando em consonância com 
o que se tem denominado de “constitucionalismo fraterno” ( ) 
3) É sempre desproporcional ou ilegítimo o sexo como critério de diferenciação. ( ) 
4) As ações afirmativas consistem em políticas públicas voltadas a reduzir as desigualdades materiais 
apenas decorrentes da raça. ( ) 
5) Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas 
decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. ( ) 
6) É inconstitucional lei federal que recomenda aos Tribunais de Justiça a criação de órgãos jurisdicionais 
especializados. ( ) 
7) Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da 
pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995 apenas quanto às medidas 
despenalizadoras. ( ) 
8) A Lei Maria da Penha, ao excluir do seu âmbito a aplicação da Lei 9.099/95, violou o art. 98, I, da CF/88. ( ) 
9) Os crimes de lesões corporais leves e culposas são delitos de ação penal pública condicionada. ( ) 
10) As lesões corporais leves e culposas praticadas contra a mulher no âmbito de violência doméstica são 
de ação pública condicionada. ( ) 
11) Por razões de política criminal e de proteção da família, a mulher tem poder de decidir se deseja instaurar 
ou não a persecução penal no caso de lesão leve sofrida no âmbito de violência doméstica. ( ) 
12) Se a mulher que sofreu lesões corporais leves de seu marido, arrependida e reconciliada com o 
cônjuge, procura o delegado, o promotor ou o juiz dizendo que gostaria que o inquérito ou o processo 
não tivesse prosseguimento, esta manifestação não terá nenhum efeito jurídico, devendo a tramitação 
continuar normalmente. ( ) 
13) Após a decisão do STF, no julgamento da ADI 4424/DF, os crimes praticados contra a mulher, em sede 
de violência doméstica, serão de ação penal incondicionada com o fim de não esvaziar a proteção 
constitucional assegurada às mulheres. ( ) 
14) No procedimento penal comum, após o réu apresentar resposta escrita à acusação, o juiz sempre 
deverá abrir vista ao MP para que este se manifeste sobre a peça defensiva. ( ) 
15) No procedimento penal comum, após o réu apresentar resposta escrita à acusação, se o juiz abrir vista 
ao MP para que este se manifeste sobre a peça defensiva, haverá nulidade considerando que inexiste 
previsão legal neste sentido e tendo ainda em conta o princípio do favor rei. ( ) 
16) O procedimento penal sumaríssimo, previsto na Lei 9.099/95, segundo o CPP, é etiquetado como 
especial. ( ) 
 
 
 
Gabarito 
1. E 2. C 3. E 4. E 5. C 6. E 7. E 8. E 
9. C 10. E 11. E 12. C 13. E 14. E 15. E 16. E

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