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Bilinguismo: características e relação com aspectos cognitivos

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BILINGUISMO: CARACTERÍSTICAS E RELAÇÃO COM ASPECTOS 
COGNITIVOS1
Matheus Gazzola Tussi2
Andrey Ximenez3
Quem é bilíngue?
Nos dias de hoje, com uma maior permeabilização das fronteiras culturais entre 
os países, é comum uma pessoa saber outras línguas além da sua língua materna. Esse 
conhecimento, no entanto, pode ser desde o uso de algumas palavras bastante 
conhecidas, como o c’est la vie, do francês, ou o gracias, do espanhol, até um 
conhecimento pleno, a um nível alto de proficiência. 
O fato é que mesmo uma pessoa que conhece bem uma língua estrangeira, a 
pode conhecer bem em determinado nível de competência linguística, e não em outro. O 
que sói acontecer no meio acadêmico, por exemplo, é saber-se ler tranquilamente um 
texto na área de competência do estudante, de forma a compreendê-lo e replicá-lo ao 
seu estudo, sem, necessariamente, conseguir comunicar-se naquela língua: essa pessoa 
não tem a competência da compreensão auditiva e de expressão, embora tenha a de 
leitura.
Há o caso de quem passa a viver em outro país, acaba se inserindo culturalmente 
e aprende a língua do local. Com o passar dos anos, compreende a língua 
completamente, a usa todos os dias, de modo que esta pode acabar substituindo a sua 
língua materna na questão da frequência de uso.
Existem pessoas que nascem em famílias onde existem duas línguas sendo 
usadas ao mesmo tempo: o pai é brasileiro e a mãe é argentina, por exemplo. Ou 
pessoas, no Brasil, que nascem em famílias de forte colonização européia, nas quais a 
primeira língua aprendida é justamente a ‘estrangeira’, sendo a língua portuguesa 
aprendida somente quando se começa a ir para a escola. Há também a questão singular 
vista nas regiões de fronteira, onde, além das línguas oficiais dos países fronteiriços, 
1 O presente trabalho é parte da pesquisa “A relação do bilinguismo com capacidades cognitivas no 
envelhecimento”, coordenada pela Prof. Dr. Lilian Cristine Scherer na Pontifícia Universidade Católica 
do Rio Grande do Sul.
2 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Rio Grande do Sul – Brasil.
3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – Rio Grande do Sul – Brasil.
ainda criam-se dialetos próprios do local, como o Portunhol, o Tex-Mex, o Franglais, 
etc.
Enfim, muitas são as situações que podem levar um indivíduo a ter contato com 
duas ou mais línguas e a usá-las em circunstâncias diversas.
Quem é, portanto, o bilíngue? Como medir a competência de saber mais de uma 
língua? Qual é, enfim, o conceito de bilinguismo?
A questão é de ‘grau’. E é essa questão que está presente nos estudos acerca do 
bilinguismo. Para Bloomfield, em 1933, o bilinguismo resultaria da adição de um 
conhecimento perfeito de uma língua estrangeira. Weinreich, em 1953, disse que o 
bilinguismo seria o uso alternado de duas línguas. Já Haugen, também em 1953, 
defendia que o bilinguismo começaria com a habilidade de produzir sentenças 
completas e com sentido na segunda língua (EDWARDS, 2006). Com a ideia de 
Haugen, até mesmo o mero uso do c’est la vie, por exemplo, poderia ser considerado 
bilinguismo.
Conforme Edwards (2006), em termos gerais, as primeiras definições tendiam a 
restringir o bilinguismo ao domínio de duas línguas no mesmo nível, enquanto as 
definições mais tardias já permitiam uma maior variação na competência. O autor diz 
que, modernamente, se tem entendido que qualquer discussão razoável acerca da 
definição de bilinguismo tem que ser levada tendo-se em conta um contexto específico e 
para finalidades específicas.
Grosjean (1994) baseia seu conceito de bilinguismo na ideia de uso: bilingues 
são pessoas que utilizam duas ou mais línguas ou dialetos no seu dia a dia. Segundo o 
autor, essa definição inclui desde o imigrante que fala com dificuldade a língua do país 
que o acolheu até o intérprete profissional que é totalmente fluente nas duas línguas. 
Entre esses extremos, há o estrangeiro que interage com amigos, o cientista que lê e 
escreve artigo em uma segunda língua (mas que raramente fala), o membro de uma 
minoria linguística que usa a língua minoritária somente em casa e a majoritária nos 
outros lugares, a pessoa surda que utiliza a língua dos sinais com seus amigos, mas 
gestos com pessoas que não são surdas, etc. Para o autor, o importante é que, para além 
da grande diversidade existente entre essas pessoas, todas elas compartilham algo em 
comum: levam suas vidas com duas ou mais línguas.
O conceito de bilinguismo, portanto, está muito ligado ao contexto ou a proposta 
do que se quer dizer com ele, sempre tendo como parâmetro o grau ou nível de fluência 
do indivíduo. Parece razoável, também, a proposta de Grosjean porque não adstrita à 
mera consideração da capacidade linguística do falante na segunda língua, mas ligada 
ao uso que se faz dessa língua na rotina e nas mais diversas circunstâncias em que isso 
ocorre.
É importante passar para algumas referências em relação ao momento em que 
ocorre a aquisição da segunda língua pelo indivíduo bilíngue, tendo em vista que esse 
momento pode, em princípio, ocorrer em qualquer etapa da vida, tendo relação com o 
resultado da capacidade linguística do falante.
Aquisição da segunda língua: simultânea ou sucessiva
Pode-se dizer que a aquisição da segunda língua ocorre de forma simultânea ou 
sucessiva em relação à língua materna. A forma simultânea ocorre quando se é exposto 
a mais de uma variedade linguística em uma idade muito nova, que poderia ser até os 
três ou quatro anos de idade, conforme alguns autores. Nessa aquisição simultânea, é 
comum que a criança utilize uma língua para cada pessoa, seguindo o princípio de ‘uma 
pessoa, uma língua’ (EDWARDS, 2006). A aquisição sucessiva, por sua vez, é a 
aquisição da segunda língua posteriormente, depois que já está consolidada a língua 
materna, e pode se dar em qualquer idade.
Conforme Edwards (2006), a aquisição prematura facilita a fluência, o 
vocabulário e a pronúncia. Todavia, pode-se criticar a ênfase demasiada nos benefícios 
da aquisição prematura da língua, como se houvesse um ‘período crítico’ para adicionar 
outra variedade.
Os autores que defendem a tese do ‘período crítico’ (alguns preferem a 
expressão ‘período sensível’) indicam que as crianças, até uma certa idade, aprenderiam 
uma segunda língua mais facilmente do que na adolescência ou na fase adulta.
Lenneberg4 (1967 apud SCARPA, 2001), por exemplo, buscou bases biológicas 
para o seu argumento em favor do período crítico, dizendo que após a puberdade 
4 LENNEBERG, E. Biological foundations of language. New York, Wiley, 1967.
declinariam a capacidade de auto-organização e ajuste às demandas psicológicas do 
comportamento verbal. Assim, o que não tivesse sido fixado pelo cérebro em termos de 
habilidades básicas permaneceria deficiente até o fim da vida.
Pinker5 (1994 apud SCARPA, 2001), por sua vez, diz que a aquisição de 
linguagem é comprometida depois dos seis anos de idade e rara após a puberdade. O 
período crítico se explicaria por mudanças maturacionais no cérebro, como o 
metabolismo e a diminuição do número de neurônios e de sinapses (SCARPA, 2001).
Conforme Scarpa (2001), a dificuldade de aquisição de segunda língua depois da 
adolescência tem sido relativizada:
Argumentos interacionistas são levantados com relação às diferenças entre a 
aquisição da língua materna ou estrangeira na infância e depois da 
adolescência. Contemplam diferentes fatores interativos e socioculturais de 
aquisição nas duas situações, oque explicaria a extrema diferença individual 
tanto no processo de aquisição de L2 em idade adulta, quanto no alvo a ser 
atingido: o grau de domínio do alvo pretendido é muito variado. (SCARPA, 
2001, p. 223).
Os adultos, por sua vez, têm a seu favor a experiência cognitiva e metacognitiva 
que falta nas crianças e, junto com uma grande motivação, podem mesmo provar serem 
melhores aprendizes. Edwards (2006) diz que a combinação da maturidade dos adultos 
com a capacidade de imitação e de expressão e ainda a espontaneidade dos jovens, pode 
ser a receita para uma rápida e proficiente aquisição bilíngue.
Tão complexa quanto a questão de definir o bilinguismo, é esta da existência ou 
não de um momento que seja melhor para a aquisição da segunda língua. De fato, se 
antes falou-se no contexto e na proposta do que se quer para a definição do conceito, a 
pesquisa necessita ter na sua metodologia a especificação do seu público-alvo, já que 
uma grande variação se encontrará de acordo com a idade e o momento de aquisição 
dos participantes.
Importa agora referir, como objeto mais central do presente estudo e da ampla 
pesquisa da qual é parte, algumas relações entre o bilinguismo e os aspectos cognitivos, 
expondo algumas vantagens e desvantagens que têm sido indicadas dos bilingues em 
comparação com os monolingues nesse campo.
5 PINKER, S. The language instinct. Boston, MIT press, 1994.
Bilinguismo e sua relação com os aspectos cognitivos
Nos idos do início do século XX, alguns estudos costumavam fazer associações 
negativas a respeito da relação entre bilinguismo e inteligência. Todavia, eram estudos 
muito simplistas, que tinha como objeto a presença de muitos imigrantes europeus nos 
Estados Unidos; identificada a dificuldade dos imigrantes com a língua inglesa, logo se 
concluía pela sua ‘menor’ inteligência (EDWARDS, 2006). 
A partir dos anos 1960, contudo, alguns estudos passaram a apontar associações 
positivas nesse tema, pois concluíram que os bilíngues podem ter maior flexibilidade 
mental, serem superiores na formação de conceitos, e possuírem um conjunto mais 
diversificado de habilidades mentais (EDWARDS, 2006).
O fato é que essa relação entre bilinguismo e inteligência é muito difícil de ser 
realizada. Edwards (2006) indica, como principais dificuldades, a própria definição de 
bilinguismo e, ainda mais, a de inteligência, além do problema de como se interpretar 
qualquer relação encontrada entre ambos.
Como visto acima, o conceito de bilinguismo é muito abstrato, estando ligado ao 
contexto e à proposta do que se está querendo dizer com ele. Inteligência, por sua vez, 
até já foi uma ideia mais consolidada quando aplicavam-se testes de QI para aferi-la, 
testes esses atualmente questionados. Hoje, contudo, sabe-se da existência de diversos 
‘tipos’ de inteligência, como a emocional, a espacial, a motora, a linguística, a musical, 
etc.
Uma questão importante, todavia, é verificar se o bilinguismo é uma experiência 
que leva a um aumento geral dos aspectos cognitivos. 
A necessidade de controlar a atenção para um sistema específico em um 
contexto de sistemas competitivos e ativados é a característica que difere os bilíngues 
dos monolíngues e é, ao mesmo tempo, responsável pelas consequências linguísticas e 
cognitivas do bilinguismo (BIALYSTOK, 2009).
Referimos aqui três aspectos cognitivos destacados por Bialystok (2009): a 
fluência verbal, o controle executivo e a memória.
Conforme a pesquisadora, a fluência verbal6 é um aspecto que tem sido 
considerado como negativo para os bilíngues na sua comparação com os monolíngues. 
Em testes realizados com crianças, por exemplo, verificou-se que as bilíngues 
controlam um vocabulário menor em cada língua na sua comparação com as 
monolíngues. Em adultos, os problemas estão relacionados ao acesso e evocação 
lexicais. Bialystok (2009) postula que as razões para essas dificuldades estão em que o 
bilíngue utiliza cada uma das línguas com menor frequência do que o monolíngue 
utiliza a sua. Além disso, é necessário um forte mecanismo de controle de atenção por 
causa do conflito criado pela competição entre as duas línguas.
Quanto ao controle executivo7, a autora diz que os estudos têm concluído por 
uma vantagem dos bilíngues. 
A produção da língua nos bilíngues requer um constante envolvimento do 
sistema de controle executivo para gerenciar a atenção para a língua que deve ser 
utilizada no momento e para que ocorra a inibição da(s) outra(s) língua(s) que o falante 
conhece. É possível que essa experiência melhore o sistema também para outras 
funções.
Em testes realizados, crianças bilíngues têm tido melhores resultados em tarefas 
metalinguísticas que requeriam controle da atenção e inibição (inibição da língua que 
não deve ser usada no momento). Um exemplo são seus melhores resultados em testes 
gramaticais, como ao identificar quando uma sentença está correta gramaticalmente, 
embora não tenha sentido (ex. ‘Maçãs crescem em narizes’). Esse julgamento da 
gramaticalidade da sentença requer grande atenção para evitar dizer que está errada 
porque não faz sentido.
Uma extensão dessas pesquisas foi verificar se essas vantagens dos bilíngues 
também se verificavam em tarefas não linguísticas. As pesquisas demonstraram que as 
6 A fluência verbal é uma capacidade cognitiva ligada à evocação e ao controle linguísticos, com forte 
associação com processos mnésicos e executivos. Por isso, é uma capacidade comumente avaliada para 
verificar-se o desempenho das funções executivas.
7 Hamdan e Bueno (2005) explicam que as funções executivas (FEs) são as habilidades concernentes ao 
planejamento, iniciação, seguimento e monitoramento de comportamentos complexos tendo em vista uma 
finalidade.
crianças bilíngues desenvolvem a habilidade de resolver problemas que contém dicas 
conflitantes ou enganosas mais cedo do que as monolíngues. 
Já em relação à memória, os estudos não são conclusivos em relação a possíveis 
vantagens ou desvantagens dos bilíngues. Nos testes realizados que a autora em tela 
descreve, não houve vantagens ou desvantagens perceptíveis de um grupo sobre o outro. 
No entanto, pode-se dizer que, como a memória de trabalho é geralmente considerada 
uma função executiva, uma melhora em geral no controle executivo pode ter como 
consequência um aperfeiçoamento da memória de trabalho8.
Bialystok diz que a conclusão geral que se pode fazer a respeito dos vários 
estudos a respeito da relação entre bilinguismo e cognição, é que o bilinguismo é uma 
experiência que tem consequências significativas para a performance cognitiva, embora 
a natureza e a direção dessas consequências não sejam tão claras, de forma que não se 
pode definir, simplesmente, que há melhora ou piora de certos aspectos cognitivos pelo 
simples fato do indivíduo ser ou não bilíngue. Além disso, deve-se dizer que os estudos 
referidos foram baseados em indivíduos totalmente bilíngues que usam as duas línguas 
diariamente em um alto nível de proficiência. Desvios desse ideal certamente já 
alterariam os resultados.
Por fim, passamos ao último ponto do presente trabalho e, já que a proposta é 
apresentar um panorama do fenômeno do bilinguismo, saímos das questões cognitivas e 
destacamos, em breves linhas, alguns aspectos mais amplos das implicações de ‘ser’ 
bilíngue.
O bilinguismo: identidade e multiculturalidade
Podemos mencionar um aspecto importante, apenas para reflexão, que se refere 
ao fato da multiculturalidade em que o bilíngue está envolvido e o que isso pode 
significar na questão da sua identidade.
De umaforma simplificada, pode-se ver os bilíngues em dois grupos: aqueles 
que utilizam uma gama de fluências de forma instrumental, grupo que aumenta cada vez 
8 A memória de trabalho tem uma duração bastante curta e é ativada no momento em que o indivíduo 
precisa manipular uma quantidade reduzida de dados e mantê-los disponíveis na memória até seu uso. 
mais em um mundo globalizado; e os indivíduos que estão inseridos em um contexto de 
bilinguismo onde há conexões simbólicas e um envolvimento emocional e cultural.
Nesse segundo grupo podemos identificar as pessoas que moram em zonas de 
fronteira, onde duas línguas convivem e formam, por vezes, um dialeto próprio; ou 
indivíduos que nascem em locais de forte colonização européia, por exemplo, quando a 
primeira língua aprendida e comumente falada em casa é a européia e a segunda, 
aprendida na escola, é a língua portuguesa, fato comum no interior do Rio Grande do 
Sul; ou mesmo o estrangeiro que passa a morar em outro país e lida com a língua do 
país receptor envolto em um complexo contexto cultural.
Conforme Edwards (2006), grande parte do bilinguismo tem muito pouca 
importância emocional e psicológica, mas refletem apenas as exigências da vida 
contemporânea (o que está no primeiro grupo acima referido): as fluências puramente 
instrumentais necessárias para conduzir simples transações comerciais, por exemplo, 
que não são mais do que breves excursões a um campo étnico. 
No segundo grupo, entretanto, é onde está presente a questão da identidade. Para 
Edwards (2006), a importância do bilinguismo é, acima de tudo, social e psicológica, 
mais até do que linguística. Nesse sentido, para além de tipos, categorias, métodos e 
processos, no bilinguismo está presente a tensão essencial da identidade. 
O autor diz que há uma relação intrínseca entre linguagem e identidade, um 
senso de pertencimento do falante, seja em relação ao jargão do clube, ao dialeto 
regional ou de classe, ou à lingua da comunidade. 
Falar uma língua particular significa, pois, pertencer a uma comunidade 
específica de falantes. Edwards chama a atenção ao fato de que cada grupo que tem um 
certo grau de permanência possui características que marcam sua identidade enquanto 
grupo, características estas que se tornam mais ou menos visíveis nos indivíduos. Dessa 
forma, uma pessoa pode ser como um mosaico, carregando marcas de diversos grupos. 
No caso dos bilíngues, eles estão ligados a mais de um grupo pela língua. Estão, 
portanto, ligados a mais de uma comunidade étnico-cultural. Pode ser que esse fato leve 
àquela tensão, ou divisão, mencionada quando se tratou dos aspectos cognitivos, ou 
mesmo que essa dualidade seja a origem da acuidade e percepção que se diz próprias 
dos bilíngues, o que é referido por Byalistok (2009).
O fato é que, para além de questões meramente instrumentais, o indivíduo 
bilíngue não está apenas ligado a duas línguas, a dois conjuntos separados de sons e 
palavras, mas acaba envolto em um complexo contexto cultural, tendo que lidar 
diariamente com uma série de questões não linguísticas, mas que derivam da ligação a 
mais de um grupo, a mais de uma comunidade, enfim, a mais de uma cultura. Como 
bem conclui Edwards: “Beyond utilitarian and unemotional instrumentality, the heart 
of bilingualism is belonging9.
Considerações finais
O bilinguismo é um fenômeno muito presente na sociedade. Muitas pessoas 
falam, se comunicam em mais de um língua; duas, por vezes mais. À parte de questões 
meramente conceituais (essenciais para a pesquisa e seu ponto de partida, admite-se), o 
importante é discutir quais influências tem o bilinguismo para o indivíduo e para a 
sociedade.
Como se viu, alguns estudos já concluem por algumas vantagens em relação aos 
monolíngues no que tange à capacidade de controle executivo, extrapolando, inclusive, 
matérias puramente linguísticas. Por outro lado, dado o constante conflito entre as 
línguas nas situações de uso, o bilíngue pode ter alguma desvantagem na fluência 
verbal, por exemplo, no tamanho do vocabulário armazenado e na rapidez com que 
busca a palavra adequada na língua adequada. O outro ponto referido, a memória, é 
ainda questão aberta, necessitando uma atenção maior das pesquisas sobre o tema.
O bilinguismo, além desses aspectos cognitivos, tem também muitas 
implicações sociais e culturais. Obviamente que toda a ideia de linguagem é social, ou 
seja, implica alguém com quem se fala, uma intenção comunicativa, uma ligação de um 
indivíduo a outro. Por isso, quando o indivíduo está inserido em um contexto de duas ou 
mais línguas, ele está também, a não ser que seja para meros fins instrumentais (e talvez 
até aí), envolvido em um complexo sistema cultural que deve afetar sobremaneira a sua 
9 “Para além da instrumentalidade utilitária e não emocional, o coração do bilinguismo é o pertencimento” 
(tradução livre).
percepção como indivíduo, uma vez que a língua traz um sentimento de pertencimento a 
uma comunidade étnica.
De qualquer maneira, está posta a complexidade do fenômeno do bilinguismo. A 
ideia desse incipiente estudo, o qual faz parte de uma pesquisa mais ampla, foi a de dar 
uma noção das possibilidades e das muitas maneiras de analisar e interpretar as 
inúmeras variedades desse fenômeno existentes na sociedade. Basta, portanto, iniciar a 
pesquisa e aventurar-se nos seus meandros.
Referências
BIALYSTOK, Ellen. Bilingualism: The good, the bad, and the indifferent. In: 
Bilingualism: Language and Cognition 12 (1), 2009, p. 3 – 11.
EDWARDS, John. Foundations of Bilingualism. In: BHATIA, Tej K.; RITCHIE, 
William C. The Handbook of Bilingualism. Malden: Blackwell Publishing, 2006. p. 7 – 
30.
GROSJEAN, François. Individual Biligualism. In: The Encyclopedia of Language and 
Linguistics. Oxford: Pergamon Press, 1994, p. 1.
HANDAM, Amer C.; BUENO, Orlando F. A. Relações entre controle executivo e 
memória episódica verbal no comprometimento cognitivo leve e na demência tipo 
Alzheimer. Estudos de Psicologia, n. 10, v. 1, p. 63-71, 2005.
SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIM, Fernanda; 
BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, v. 2. São 
Paulo: Cortez, 2001. p. 203 – 231.

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