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O BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO INFANTIL OS BENEFÍCIOS E DESAFIOS Mariana Silva Louback Pimentel Isolda Cecilia Bravin Resumo: A Educação Bilíngue, que foi introduzida no Brasil por volta de 1990 e desde então demonstrou a suma importância de introdução desse tipo de alfabetização desde a primeira infância. Baseados na atual e tamanha globalização, as escolas que adotam a modalidade de ensino bilíngue se destacam pelas propostas pedagógicas, visando criar cidadãos bilíngues para um futuro com maiores oportunidades. Baseando-se no nosso mundo atual, percebemos a necessidade de dominar uma segunda língua e o bilinguismo se tornou uma necessidade mundial. Sabemos que é uma proposta pedagógica futurística e desafiadora. Neste artigo, de escopo científico, baseado em pesquisas bibliográficas e em estudo de campo, perceberemos a importância da introdução do segundo idioma, na fase da primeira infância, como peça fundamental para desenvolvimento intelectual e social, da criança. Veremos como a educação bilíngue precisa e deve ser encarada e como afeta, de forma positiva, o desenvolvimento do aluno que tem o privilégio de ter uma segunda língua introduzida na fase da alfabetização, recebendo um alfabetismo bilíngue e de forma natural. Discorreremos alguns desafios que podem ser encontrados, as dúvidas mais frequentes e constantes, como por exemplo se essa introdução causa algum tipo de confusão mental à criança. Veremos claramente como esse processo funciona, como pode ser aplicado no dia-a-dia da criança e em como essa adaptação e esse processo são vantajosos quando aplicados à uma criança em seus primeiros anos de infância. Ao final deste artigo, consta o meu relato profissional, de estudo de campo, demonstrando como tem se aplicado o ensino bilíngue na nossa atualidade. Palavras Chaves: Educação bilíngue, bilinguismo, educação infantil, primeira infância, formação, desenvolvimento, pedagógico, futuro, criança. 1 INTRODUÇÃO O bilinguismo se tornou uma realidade e está cada vez mais presente no Brasil e no dia-a-dia e quando compreendemos e nos deparamos com coisa tal, percebemos as diferenças entre um ensino regular, convencional e a necessidade de uma inclusão bilíngue, desde a educação infantil. Com a imersão tecnológica, cada vez maior e com tamanha globalização, tem aumentado cada vez mais o interesse e a necessidade de conhecimento de uma segunda língua, especialmente o inglês, já que esse idioma se tornou o primordial. O conhecimento e a inclusão de um segundo idioma se tornaram uma necessidade, não somente no âmbito profissional, mas também no âmbito acadêmico e social. Essa conveniência é resultado das alterações estruturais, acontecidas e determinada pela "mundialização". Sendo assim, a grande averiguação deste artigo é indagar e relatar a importância do ensino bilíngue na primeira infância e como isso pode, ou não, afetar a criança. O mundo mudou e continua em constante transformação, portanto, a ciência de um segundo idioma se tornou um diferencial. A educação bilíngue é uma proposta pedagógica pensada para o futuro. Em algumas circunstâncias, os pais não desenvolvem o conhecimento do idioma, mas procuram inserir e proporcionar o conhecimento aos filhos. O objetivo primário é expandir as oportunidades e implementar novos caminhos, sem estabelecer fronteiras. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n°. 9.394/96: “Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” (BRASIL, 1996. p. 10) Acredita-se que quanto antes é feita essa introdução, maior interesse e facilidade de aprendizagem, o aluno desenvolverá no decorrer desse processo. Este artigo será de escopo científico. A pesquisa de campo, foi desenvolvida no Centro Integrado de Desenvolvimento Espaço Verde, situado na cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Utilizando pesquisas bibliográficas e trabalhando os estudos dos autores: Piaget, Vygotsky, Buttler, Hakuta, Baker, Prys Jones, Macnamara, Souza, Santos, Silva, Wolfforwitz-Sanches, Mello, Genesee, Martins, Megale e Flory. DESENVOLVIMENTO Piaget propõe quatro estágios de desenvolvimento da criança: sensório-motor (zero a dois anos), que é a fase que antecede a fala; Pré-operatório (dois a sete anos), que é a fase das representações; Operatório-concreto (sete a doze anos), estágio de construção da logicidade e Operatório-formal (doze anos em diante), período da racionalidade e do alcance total da linguagem como expressão de comunicação e influência social. Em objeção a esse ponto de vista, Lev Vygotsky (1993) demonstra a relevância do papel de uma outra pessoa neste desenvolvimento, ou seja, o papel do outro no processo da comunicação. Para Vygotsky, a evolução da comunicação acontece através da troca de conhecimentos entre o adulto e a criança, onde as estruturas desenvolvidas externamente e socialmente sofrem um processo de interiorização e de concepção mental, comumente por volta dos dois anos de idade. “O adulto tem, aqui, um papel fundamental no processo de aquisição da linguagem, funcionando enquanto regulador/mediador de todas as informações que as crianças recebem do meio. Essas informações são sempre intermediadas pelos que as cercam e, uma vez recebidas, são reelaboradas num tipo de linguagem interna, individual. É desse modo que a criança se desenvolve na interação com o outro e aprende com ele (adulto) aquilo que em breve ela será capaz de fazer sozinha. Contudo, a aquisição de habilidades depende da instrução dada pelo adulto no momento em que a criança se encontra na chamada Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), i.e., uma fase de transição entre aquilo que ela é capaz de fazer sozinha e o que ainda não é capaz de realizar por si só, mas pode fazê-lo com o auxílio de alguém mais experiente, como a mãe, o professor, outros adultos, colegas mais velhos etc. (VIGOTSKY apud DEL RÉ, 2006, p. 23). Esta teoria está traçada na concessão de uma relevância primordial à interação social no processo de conquista e desenvolvimento não só da linguagem, mas de todas as demais funções psíquicas superiores. O autor compreende as curiosidades que as palavras despertam na criança como um momento em que o pensamento se torna real através da forma simbólica das palavras, fazendo acontecer uma transformação de fases no processo de conquista e desenvolvimento da linguagem. Consequentemente, se há tantas e tão diferentes definições para aquisição da linguagem, como os sujeitos se portam diante da conquista de outro idioma? Quais as dificuldades encontradas em nessa conquista? Existe uma idade em que se torna mais atingível? O termo Bilinguismo, segundo Buttler e Hakuta, indica um conceito de comunidade, na qual se dividem entre habilidades verbais e não verbais. Ainda, tal conceito engloba “um comportamento linguístico, psicológico e sociocultural complexo e com aspectos multidimensionais” (BUTTLER; HAKUTA, 2013, p.110). A educação bilíngue é uma proposta pedagógica futurística. Com a globalização do mundo, cada vez maior, as escolas especializadas em tal proposta, apresentam vantagens para crianças e adolescentes. O objetivo primordial seria de amplificar as oportunidades e os caminhos para realizações pessoais futuras, principalmente, pela razão da língua inglesa ter se tornado um pré-requisito de uma vida sem limitações. Consequentemente, em contraproposta, um enorme desafio, conciliar a Educação Infantil à Educação Bilíngue é de trazer uma nova cultura, diversa da cultura em que a criança já está inserida e acostumada, o que pode, às vezes, criar certo desconforto, nesse processo de adaptação de duas culturasdiversificadas. O bilinguismo na infância implica o desenvolvimento de um contexto de interações iminentemente benéfico para o desenvolvimento cognitivo, mas é de suma importância ponderar a valorização afetiva e a definição de cada língua e cultura para a criança e a partir da lei n° 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, no art. 29, como já citada anteriormente, tendo em vista o Ensino Bilíngue, é preciso considerar e ponderar o estudo de duas culturas diversas e desenvolver um equilíbrio em todos seus aspectos a favor do desenvolvimento infantil. Baker e Prys Jones definem o bilinguismo: É o bilinguismo medido por quão fluente a pessoa é nas duas línguas? Os bilíngues devem ter a mesma competência de um falante monolíngue em cada uma de suas duas línguas? Se uma pessoa é considerada menos fluente em uma língua do que na outra, deveria essa pessoa ser considerada como bilíngue? São bilíngues apenas aqueles que possuem uma competência semelhante em ambas as línguas? A habilidade nas duas línguas é o único critério de avaliação do bilinguismo ou o uso dessas línguas também deve ser considerado? Nesse caso, se uma pessoa fala uma segunda língua fluentemente, mas raramente a usa poderia ser classificada como bilíngue. Mas e uma pessoa que não fala uma segunda língua fluentemente, mas a usa regularmente? E a pessoa que fala uma segunda língua, mas não é letrada nela? É o termo bilíngue um rótulo que as pessoas dão a si próprias? É o bilinguismo um estado de mudanças e variações conforme o tempo e as circunstâncias? Pode ser uma pessoa mais ou menos bilíngue? (BAKER e PRYS JONES, 1998, p. 2) O dicionário de Oxford (2000, p. 17) define bilinguismo de seguinte forma “ser capaz de falar duas línguas igualmente bem porque as utiliza desde muito jovem”. Mas vale ressaltar que, ninguém fala nem mesmo sua própria língua materna de modo extremamente igual, pois a língua é algo variável; portanto o sujeito bilíngue seria aquela pessoa que é capaz de se comunicar na língua materna e também consegue se comunicar em uma segunda língua. Concordante a definição do dicionário Oxford, Macnamara (apud HARMERS e BLANC, 2000) defende que “um indivíduo bilíngue é alguém que possui competência mínima em uma das quatro habilidades linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever) em uma língua diferente de sua língua nativa” (op.cit.p.6) Comprovando esse pensamento, Souza (2006) também define que um indivíduo pode ser considerado bilingue apresentando apenas uma dessas habilidades acima citadas. Pode ser usado como exemplo a criança que convive com pais bilingues, onde falam uma língua entre si e outra com a criança. Embora a criança não consiga se comunicar, ela consegue compreender o que é falado. Quando uma criança tem a oportunidade de conviver com pais que possuem conhecimento e falam mais de um idioma, se torna mais simples o bilinguismo, pois conforme vai crescendo, a criança vai se adaptando a ouvir, compreender e a falar um outro idioma e dessa forma, o aprendizado acontece naturalmente. Mas quando esse aprendizado acontece somente no ambiente escolar, requer maior esforço, principalmente por parte do professor. Quando o bilinguismo se estende para a habilidade da escrita, a tendência é que a criança apresente maior dificuldade, já que, na própria língua materna, a alfabetização é algo que representa problemas e dificuldades para a maior parte da população, sendo assim a alfabetização em um segundo idioma é algo ainda um pouco restrito e que necessita de uma modalidade de escola específica. Os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil explicam que: A linguagem oral possibilita comunicar ideias, pensamentos e interações de diversas naturezas, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais. Seu aprendizado acontece dentro de um contexto e é por meio do diálogo que a comunicação acontece. São sujeitos em interações singulares que atribuem sentidos únicos às falas. Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes, como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa (BRASIL, 1998, p.120-121). A aprendizagem da língua estrangeira pode acontecer e intensificar, se realmente acontecer de forma natural, espontânea e afetiva, conforme acontece o desenvolvimento infantil. As escolas com proposta bilingue, necessitam desenvolver um currículo diferenciado, procurando inserir de forma natural o segundo idioma, para aquisição de forma mais fácil do conteúdo, o que poderia ser, também, observado e inserido em escolas regulares. Esse currículo diferenciado e o olhar diferente sobre o processo de ensino-aprendizagem, são as causas principais que distinguem o ensino bilingue do ensino tradicional. Segundo Silva (2009), em sua maioria, as escolas de ensino bilingue tem como objetivo desenvolver todas as capacidades dos alunos, incluindo a evolução da memória e da consciência crítica. Quando falamos sobre processos de aprendizagem bilíngue, logo pensamos até onde ele é benéfico ou prejudicial ao sistema intelectual, cognitivo e social de uma criança. Estudos apontam que pessoas alfabetizadas em duas línguas, tem maiores possibilidades de falar como nativo, transformando de forma natural o processo de aprendizagem de linguagem sem implicar nenhuma de suas capacidades. Estudos sobre a educação bilíngue passaram por diferentes momentos. As primeiras pesquisas indicavam o bilinguismo como prejudicial para o desenvolvimento cognitivo das crianças, uma vez que confundiria a criança e interferiria no desenvolvimento das funções cognitivas. Posteriormente, na década de 1960, os programas canadenses de imersão francesa para crianças anglo-fônicas demonstraram resultados positivos, sem apresentar problemas à língua materna (SANTOS 2014, p.6) De acordo com Vygotsky (2008), a aprendizagem é um processo social, interposto por instrumentos e signos. Nas crianças, a aprendizagem provoca interiormente inúmeros processos de desenvolvimento, já que seu funcionamento ocorre somente quando há comunicação da criança com seu ambiente de convívio diário. Portanto, a aprendizagem acontece na interação que o sujeito estabelece com outros sujeitos, antes de se tornar um processo mental. Por consequência, a comunicação e o contexto social são a razão do desenvolvimento cognitivo. Além disso, Vygotsky (2008) garante que é através da palavra que se atingem resultados no que se refere à ideia de pensamento e de fala. E, mesmo não dominando a linguagem como sistema simbólico e escrito, as crianças empregam meios verbais para afirmarem uma comunicação concreta. Segundo Santos (2004), a educação bilingue passou a ser vista sob uma nova perspectiva e intensificaram-se as pesquisas a partir do século XX. Na década de 1980, foram desenvolvidos vários estudos com relação ao ensino bilingue e se tornou relevante a teoria de Vygotsky para análise desse desenvolvimento. Atualmente, em grande maioria, os estudos apontam pontos positivos da aprendizagem e do ensino bilingue e que os estudantes desta modalidade apresentam ganhos cognitivos. [...] a aprendizagem não é, em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal, para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente. (VYGOTSKY, 1998, p.115) Diante de tudo o que foi citado, fica notória a relevância de um ensino bilíngue, de como esse ensino se torna uma ponte para diversasnovas oportunidades e os inúmero benefícios que essa modalidade de ensino trás para uma vida toda, trazendo à criança competências que dificilmente serão desenvolvidas em outro momento. A introdução do bilinguismo na primeira infância é uma oportunidade única de expansão mental, social e intelectual, permitindo que a criança conquiste um olhar mais amplo, com maior perspectiva de vida e oportuniza facilidades futuras, devido ao segundo idioma que foi inserido de forma natural e total, desde o início de seu desenvolvimento social, intelectual e mental. Notório é perceber que, o interesse e a facilidade de aprendizagem que uma criança na primeira infância apresenta, não é a mesma facilidade e interesse que encontramos em um adolescente e menor ainda em um adulto. Mesmo que, a informação não seja totalmente exteriorizada pela criança de forma correta, mesmo que ela não consiga se comunicar de forma clara em um segundo idioma pela pouca idade e por estar aprendendo ainda a se comunicar de forma correta na língua materna, ao chegar em uma fase superior e de melhor entendimento e comunicação, ela já possuirá maior facilidade de expressão, pois aquele conteúdo já lhe foi apresentado anteriormente e absorvido através de seu subconsciente. Qualquer criança pode conhecer os números e as cores em um segundo idioma, mas somente através do ensino bilíngue, esta criança aprende a contar e a relacionar as cores, a utilizar todo o conteúdo que lhe é apresentado, trazendo seu conhecimento e suas habilidades para o dia a dia e externando este conhecimento de forma natural. Vale ressaltar que, no ensino bilíngue o protagonista deste processo não é o professor e sim o aluno. O professor apenas é o mediador para que este processo aconteça de forma efetiva, natural e afetiva. Embora o Brasil seja um país que apresente dimensões continentais, o ensino bilíngue é algo recente, quando comparado a outros países do mundo. No Brasil, o ensino regular já contava com a obrigatoriedade de ensinar vários idiomas estrangeiros, na experiência de inserir o Brasil em um panorama mundial. Em 1931 diversas reformas educacionais aconteceram nos estados brasileiros, que voltaram obrigatório o ensino de idiomas como o Latim, o Francês e o Inglês, permitindo a decisão de cada estado, concedendo-lhes certa autonomia. Em meados dos anos 1970 o interesse pela língua inglesa ultrapassou o interesse pela língua francesa, que era ensinada desde a vinda da família Real ao Brasil, em 1808. “Desde então [1971], o número de instituições infantis que incluem a língua inglesa em seus currículos é crescente” afirma Wolfforwitz-Sanches (2009). Ao analisar os padrões curriculares exigidos pelo Ministério da Educação (MEC), o ensino de uma língua estrangeira na educação infantil, no Brasil, não é obrigatório, todavia, esse modelo de ensino, vem se tornando cada vez mais comum, até mesmo nas redes públicas, que escolhem por incrementar e incentivar o ensino de uma língua estrangeira, mesmo que de forma superficial, de forma diferente de uma escola bilíngue, onde o ensino acontece de forma esparsa, fazendo com que a criança traduza as palavras, faça comparações tornando artificial e fugindo da imersão natural, que é a ideia principal do ensino bilíngue. Já no ensino bilíngue, que acontece em uma escola bilíngue, onde a aprendizagem ocorre de forma natural e simultânea à língua materna, a criança não percebe duas línguas distintas, mas sim duas formas de comunicação que serão absorvidos e desenvolvidos de forma natural. Por isso considera-se que, quanto antes é iniciado esse processo de alfabetização em outro idioma, mais fácil será a absorção, pois na primeira infância o cérebro é completamente plástico e como uma esponja, onde absorve tudo quanto lhe é ensinado, facilitando a forma de desenvolvimento por imersão. “A primeira infância coincide com o período em que diferentes áreas do cérebro são capazes de assumir uma variedade de funções, incluindo a linguagem (período de plasticidade do cérebro). Depois, o cérebro começa a perder esta plasticidade e a capacidade de aprender uma língua diminui”. (MELLO, 1999, p.70). Quando uma criança é introduzida em um local de aprendizagem em duas línguas, ela aprende a utilizar de modo apropriado a língua específica e as respostas adequadas culturalmente. Uma criança introduzida nesse contexto conquista a segunda língua de uma forma sequencial. Em um primeiro momento, a criança, mesmo exposta à segunda língua, continua a usar a língua materna. Depois, geralmente, a criança passa por uma fase nomeada de não verbal ou de silêncio. Por fim, passa a usar frases “telegráficas” e “frases feitas” na segunda língua culturalmente. No período de silêncio, entende-se que as crianças estão em constante processo de compreensão da segunda língua. Elas observam com atenção, a fim de absorver o máximo possível do que a professora e outras crianças dizem da segunda língua. Ainda nesse período de silêncio, as crianças utilizam a linguagem não verbal para se comunicar, como mímica e gestos. Assim como a aprendizagem da primeira língua, as crianças começam a repetir os sons que estão a sua volta e então utilizam uma linguagem “telegráfica”. Essas tentativas comumente são formuladas pelas crianças com as palavras que já aprenderam, como, por exemplo, objetos espalhados pela sala ou mesmo a recitação das letras do alfabeto. As frases feitas servem como apoio para a criança se comunicar com a professora e os colegas. Desse modo, as crianças compreendem e adquirem significados para se comunicar na segunda língua e utilizam frases pré-formuladas. Após esse momento, as crianças começam a desenvolver um entendimento de sintaxe e da estrutura gramatical da língua, o que permite a formulação de frases mais elaboradas, deixam de utilizar frases pré- formuladas e isso contribui para ampliar o vocabulário da nova língua, (SANTOS, 2013, p.8). Genesee (1994) relata que as crianças possuem tendência a assumir elementos isolados de uma língua na outra. Martins (2007), por sua vez, diz que é muito comum as crianças, no processo de aquisição de uma segunda língua, trocarem algumas palavras ou misturarem as duas línguas. “A troca de código geralmente ocorre quando uma criança está tentando classificar uma ideia ou resolver uma ambiguidade. Ela é também usada para atrair ou manter a atenção do ouvinte ou para elaborar uma afirmação. As crianças algumas vezes misturam as duas línguas quando tentam comunicar uma palavra ou expressão que não está imediatamente disponível para elas na segunda língua.” (MARTINS, 2007, p. 39) De acordo com que as crianças se familiarizam com os dois idiomas, elas se sentem mais seguras e à vontade e não trocam mais as palavras. Passam a entender que cada idioma tem sua peculiaridade e singularidade, seu vocabulário e compreendem os dois idiomas, distinguindo qual dos dois devem utilizar para cada pessoa e para cada ocasião. Genesee (1994), nos relata que essa troca poderia ser vista de forma negativa, mas não deve, pois isso explica que, quando esse fenômeno de troca ocorre, significa que a criança está usando recursos efetivos de comunicação. Fonoaudiólogos relatam que os erros e as trocas, precisam ser vistas de forma positiva, como algo que está sendo criado e organizado na produção linguística e comunicativa da criança, como algo que está marcando e enraizando, uma vez que é demonstrada essa reflexão sobre a língua, da criança. A escola reflete muito diretamente sobre o pensar e o reproduzir dessa língua. O currículo deve ser adaptado para que essa inserção aconteça de forma natural e contínua, mantendo a responsabilidade cultural e linguística. No Brasil, as escolas bilíngues, são exclusividade da educação privada, com alto custo de mensalidades, o que não se tornaacessível para todos, se diferenciando em algumas características da escola tradicional. Ainda sobre a importância da introdução do ensino bilíngue na primeira infância, Megale (2005) destaca em sua pesquisa que: “As crianças iniciam a educação primária em sua respectiva, se esta for francês, alemão, italiano ou inglês. Se a criança tiver como uma língua diferente destas, deve escolher uma delas para iniciar sua educação primária. Numa segunda etapa uma é introduzida. Num estágio posterior, as aulas são organizadas de modo que as quatro línguas possam ser utilizadas como meio de instrução de conteúdo.” (MEGALE, 2005, p.10) A escola bilíngue, no Brasil, ainda está em formação, mas vem se afirmando cada vez mais no cenário atual. Para obter sucesso, é necessário que o ambiente escolar esteja propício e preparado para isso, proporcionando liberdade e encorajamento de comunicação às crianças, tornando-os capazes de expressar suas criatividades e sentimentos em um ambiente que irá os acolher e incentivar, capacitando a formação de um cidadão bilíngue. É importante, também, em todo esse processo, respeitar o tempo de aprendizagem e de desenvolvimento de cada criança, afinal cada um aprende e desenvolve dentro do seu próprio tempo. Não devemos comparar o processo de aprendizagem da criança "A" com o processo de aprendizagem da criança "B", pois cada um desenvolve uma habilidade diferente, dentro de um tempo diferente. A criança que desenvolve primeiro a habilidade da fala de um segundo idioma, pode ser que não desenvolva em conjunto a habilidade de fácil compreensão e escuta e assim por diante. Existem casos, onde a criança pode compreender, mas não conseguir se expressar, no segundo idioma, em primeiro momento, mas desenvolver esta habilidade gradativamente. O desenvolvimento da linguagem de uma criança é algo extremamente complexo, mas apesar de toda essa complexidade, todas as crianças passam por estágios similares, aproximadamente dentro do mesmo período de vida, independentemente se estão no processo de aprendizagem de um ou dois idiomas. As crianças passam todas pelos mesmos processos, como citados anteriormente acima. Sendo assim, dentro do mesmo período de tempo que uma criança monolíngue leva para aprender uma língua, as crianças bilíngues aprendem duas línguas, tornando-as capazes de usá-las com propriedade e naturalidade, nas situações cotidianas mais diversas. Esta experiência propicia à criança uma experiência cognitiva extremamente rica e durante esse processo, ela se torna capaz de organizar a estrutura de cada idioma que está conhecendo e aprendendo, em termos de regras de significado e uso, desenvolvendo a capacidade de se comunicar perfeitamente em um e em outro, mesmo que possuam estruturas diferenciadas, como o inglês e o português. Um ponto importante, também observado durante este artigo, é a conceituação do termo “bilíngue". Até este momento ainda não há um significado específico que alcança todos os seres que dominam uma ou mais habilidades de outro idioma, mas de fato se constou que é um conceito enigmático, pois a comunidade bilíngue contém integrantes de diversos níveis de proficiência e as experiências bilíngues são interpostas por uma diversificação de fatores contextuais e culturais. Sendo assim, compartilhamos que, ser bilíngue é a capacidade de se comunicar com a segunda língua, através do entendimento oral, escrito através da leitura e da comunicação oral. RESULTADO DA PESQUISA Dentro da pesquisa de campo, foi possível contatar e comprovar todo o pensamento exposto durante a pesquisa realizada neste artigo, trabalhando diariamente e pesquisando no Centro Integrado de Desenvolvimento Espaço Verde, escola situada na cidade de Volta Redonda, atuando como instrutora de língua inglesa, para educação infantil, partindo dos 2 anos de idade, até a fase da pré-escola, entre os 5 e 6 anos de idade. Foi possível comprovar como a introdução da segunda língua na educação infantil, é possível, quando a estrutura escolar e familiar, atuam juntamente ao educador. Como acima foi citado, sabemos que escolas com propostas bilíngue, ainda são de domínio privado, pois é necessária toda uma estrutura escolar adequada e ajustada para essa imersão bilíngue. Esta estrutura, que me foi apresentada no local de atuação, requer material didático apropriado para cada nível de aprendizagem, material visual como fantoches, bonecos, figuras ilustrativas, telas para execuções de vídeos e filmes, pois todo esse material, utilizado da forma correta, contribui no desenvolvimento e aprendizagem. É de extrema importância que todos estejam envolvidos nesta proposta pedagógica, sendo o educador, a escola, a família, pois quando trabalhado em comum, chegamos ao consenso de que a imersão bilíngue na educação infantil é possível e necessária. Essa proposta é uma proposta futurística, porém se trabalhado em contínuo, se torna sem prazo de encerramento. Os benefícios trazidos às crianças, são inúmeros. De primeiro momento, as famílias ficam receosas, por investir um segundo idioma em uma criança que está aprendendo a se comunicar de forma clara na língua mãe, mas ao verem que as crianças começam a “levar” para casa o que lhes é apresentado na escola, os pais também conseguem enxergar e perceber a importância desse trabalho. A alfabetização bilíngue traz benefícios, não só comunicativos, mas também cognitivos e psicossociais. A infância é a idade que determina o processo de desenvolvimento da aprendizagem. O conhecimento de um segundo idioma, é algo muito bem visado, principalmente se esse idioma for a língua inglesa, que hoje em dia é o idioma mais visado mundialmente. As exigências do mercado de trabalho têm sido cada vez maiores e mais relevantes, portanto, o conhecimento da língua inglesa se tornou uma necessidade constantemente propagandeada pela mídia e a dificuldade que muitos adultos encontram para aprender, faz com que aprendê-la desde cedo, na infância, seja considerado uma vantagem. Outro ponto muito relevante é a facilidade de aprendizagem. Como educadora que já atuou com níveis adultos e nível infantil, afirmo com clareza que, é muito mais fácil tornar um cidadão bilíngue quando a aprendizagem se inicia desde a primeira infância, em conjunto com a aprendizagem da língua mãe, pois ao invés de "traduções" mentais, como muitos adultos fazem, as crianças pensarão em ambos idiomas, facilitando o processo de imersão no universo bilíngue. Acontece que, gerar uma atmosfera rica em aprendizados onde a criança consiga interagir com o idioma e não o aprender maquinalmente, faz com que a oferta de ensino bilíngue, proporcione uma reflexão relacionada às necessidades do desenvolvimento e da aprendizagem infantil, indo além do aprendizado do idioma e possibilitando algumas vantagens às crianças, como por exemplo a antecipação da concepção da relatividade da relação signo referente no real, a consolidação da habilidade inibitiva e do controle de atenção e a precipitação da entrada no pensamento operatório, como ilustradas por Flory (2009). CONCLUSÃO Portanto, para conclusão, relato e reafirmo o pensamento de que, adquirir o segundo idioma na infância é considerado uma vantagem, pois a idade é determinante no processo da aprendizagem. Quanto antes a criança realizar o contato com a segunda língua menor será a influência da língua materna na aprendizagem do segundo idioma e mais rápida será a assimilação do entendimento do mesmo, visto que as crianças são mais espertas, curiosas e interessadas e não desenvolvem o foco na gramática e nem na forma, mas sim na interação, além disso, quando o filtro emocional do aluno está baixo, em geral, ele não sente medo em tentar a comunicação com a segunda língua, mesmo cometendo erros. Foram encontradosmateriais que comprovam a eficiência dos benefícios do bilinguismo na infância. Existem inúmeros desafios, mas todos podem ser superados com muita dedicação e profissionalismo. O bilinguismo provoca um profundo impacto, social e estrutural, no aprendiz, pois o cérebro passará por inúmeras adaptações, o que significa que no período infantil será um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo da criança e atualmente a adaptação bilíngue não é mais um diferencial, pois se tornou necessidade para inserção no mercado de trabalho e na vida social e cultural. Sabemos que ainda há muitos ajustes, avanços e melhorias a serem desenvolvidos, mas o ensino bilíngue tem uma representação única na vida do aprendiz. Infelizmente ainda não é acessível para todas as camadas sociais, mas esperamos que, com o passar do tempo, possa se tornar a realidade de todas as escolas brasileiras e que todos possam ter acesso a uma educação bilíngue, no sistema privado e no público. É preciso que a apropriação linguística aconteça de forma natural e espontânea, portanto precisamos permitir que a criança se sinta confortável e compreender a importância a necessidade de aprendizagem de um segundo idioma. Sendo assim, é necessário avaliar o processo de desenvolvimento do bilinguismo infantil, pois requer a evolução em um contexto de interações iminentemente benéfico para o progresso cognitivo e sempre estarmos atentos, como educadores, à importância da valorização afetiva e o significado que cada língua e cultura, traz para a criança. REFERÊNCIAS BAKER, C. e PRYS-JONES, S. Encyclopedia of Bilingualism and Bilingual Education – School or Education. University of Walles, Bangor: Multilingual Matters Ltd, 1998. BUTTLER, Y; HAKUTA, K. Bilingualism and Second Language Acquisition. IN BHATIA, T. K; RITCHIE, W. C. (eds.). The Handbook of Bilingualism. Malden, MA: Blackwell Publishers, p. 110, 2013. DEL RÉ, Alessandra. (Org). 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