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Historia Ocidental da Linguística

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Historia Ocidental da Linguística
3.1-Introduçao
Esta é a terceira unidade desse Caderno Didático cujo objetivo principal é oferecer uma visão panorâmica da história da Linguística. Pará tanto se torna necessário, antes de tudo, colocá-la no seu contexto histórico, afim de que saibamos quais os motivos e intuições do passado serviram de bases a teorias e orientações atuais e possamos formular uma série de propostas satisfatórias a respeito do que seja linguagem.
Um exame, mesmo superficial da história da Linguística, demonstra que, se, por um lado, ela se desenvolveu metodologicamente à sombra de outras disciplinas, por outro lado, procurar a natureza subjacente das línguas sempre esteve no centro das preocupações dos linguistas.
Salientamos que nosso enfoque são as investigações Linguísticas no Ocidente, de Platão às propostas do século XX. Faremos referência a poucas investigações Linguísticas ocorridas no Oriente, apenas àquelas que interferiram no pensamento ocidental.
Essa terceira unidade, História ocidental da Linguística (século IV a.C ao século XX) foi organizada com as seguintes subunidades:
3.2-Na Antiguidade 
3.2.1-Na Índia
 Segundo Leroy (1971, p. 16), os hindus-povos da civilização oriental –, por razões religiosas, foram os primeiros povos levados a estudar sua língua. Preocuparam-se com os textos sagrados, reunidos no Veda, pois não queriam que sofressem alteração alguma no momento de serem cantados ou recitados durante os sacrilégios. Depois, os gramáticos – dos quais o mais célebre é Panini (século IV A.C) – dedicaram-se ao estudo do valor e do empréstimo das palavras e fizeram de sua língua, com precisão e minúcias admiráveis, descrições fonéticas que são consideradas modelo no gênero. Por muito tempo esquecidas, foram elas descobertas pelos sábios ocidentais nos fins do século XVIII e constituíram, como veremos ainda nessa unidade, o ponto de partida indispensável à criação da gramática comparada.
 Na esteira de Laroca (2005, p.12), a descoberta do sânscrito possibilitou aos estudiosos reconhecer a estrutura interna das palavras, depreendendo unidades mínimas como raízes e afixos. Ademais, cumpre ressaltar que os estudos hindus eram puramente estáticos, relativos apenas ao sânscrito, efetuados por homens totalmente desprovidos de senso histórico, pois se limitavam a classificar os fatos sem procurar-lhes a explicação.
3.2.2-Na Grécia Antiga
Se, por um lado, os gregos – civilização ocidental – não deixaram de sua língua nenhuma descrição comparável à dos hindus, por outro, estudaram sua própria língua com muita atenção, não só no plano estético (os procedimentos de estilo), mas também no plano filosófico (adequação da linguagem ao pensamento). Nessa medida, esse último ponto de vista (sobre o qual falaremos nessa seção) interessa-nos particularmente, pois tais especulações dos antigos constituem, em boa parte, o ponto de partida do pensamento linguístico moderno tanto nos seus desacertos como nos rumos de seus êxitos, conforme veremos ao longo dessa unidade.
As primeiras discussões dos filósofos gregos, sobre a linguagem centravam-se no problema da relação entre o pensamento e a palavra, isto é, discutiam se o que regia a língua era a natureza ou a convenção. Essa oposição da natureza e da convenção era um lugar-comum da especulação filosófica. Dizer que uma determinada instituição era natural equivalia a dizer que tinha sua origem em princípios eternos e imutáveis fora do próprio homem, e era por isso inviolável; convencional equivalia a dizer que era o mero resultado do costume e da tradição, isto é, de algum acordo tácito, ou contrato social, entre os membros da comunidade– contrato que, por ter sido feito pelos homens, podia ser violado por eles mesmos.
A palavra gramática, no sentido amplo de sistematização dos fatos de uma língua (MELO, 1972, p. 7), começou a ser empregada no mundo ocidental a partir de Aristóteles:
il faut se rappeller que les premières observations sur le langage furente faites par les sophistes à l’occasion de la critique d’Homère. Ce n’est qu’après Aristóteles que la grammaire se constitua en science independante(HARDY, 1984, p.10). Tradução: ”É preciso lembrar-se de que as primeiras observações sobre a linguagem foram feitas pelos sofistas no momento em que criticaram Homero. Somente após Aristóteles, a gramática constituiu-se como uma ciência independente”.
Os sofistas (século V - IV a. C) tiveram da linguagem uma visão predominante utilitarista: eram professores de retórica e via nas palavras, acima de tudo, um instrumento de persuasão; não lhes interessou um estudo aprofundado dos problemas da língua nem uma sistematização dos fatos linguísticos.
Já em Platão, filósofo grego, no século Va. C, podemos encontrar reflexões sobre a linguagem, questão central na época, nos diálogos conhecidos como Crátilo. Nesses diálogos, tomavam como parte três interlocutores – Crátilo, Hermógenes e Sócrates –, representando cada qual um ponto de vista a respeito da denominação ou designação, isto é, da relação existente entre o nome, a ideia e a coisa.
A indagação central estava baseada na existência ou não da relação de similaridade entre a forma (código linguístico) e o sentido por ela expresso. Para Crátilo, a língua é o espelho do mundo, o que significa que existe uma relação natural e, portanto, similar entre os elementos da língua e os seres por eles representados. Para Hermógenes, a língua é arbitrária, isto é, convencional, pois entre o nome e as ideias ou as coisas designadas não há transparência ou similaridade. Sócrates, por sua vez, tem o papel de fazer a integração entre os dois pontos de vista.
Enquanto Aristóteles (século IV A.C.) levou mais longe a preocupação com a linguagem, embora não tenha escrito obras que tratem especificamente desse assunto; sua doutrina linguística encontra-se esparsa em vários de seus tratados.
Aristóteles, em seus tratados de lógica, cujo conjunto recebeu a denominação de Organon,destaca um fato eminentemente humano que é o exercício da linguagem, nas palavras de Neves(1987, p. 61). O Organon inclui vários capítulos, entre os quais destacamos o capítulo I (Categorias) e os capítulos II, III e IV (Sobre a Interpretação).
Nesse contexto, Aristóteles aborda, logo de início, sinônimos, homônimos e parônimos(Categorias, cap. I); mais além, define o nome, verbo, o discurso (Sobre a Interpretação, cap. II--IV). Na sua obra Poética (cap. XX-XXII), da qual restaram apenas fragmentos, esboça uma classificação das palavras, incluindo, além do nome, do verbo e dos artigos, conectivo, articulação e frase (cap. XX) e a metáfora (cap. XXII). É na obra Política, que é um conjunto de oito livros que não apresentam encadeamento lógico rigoroso, no Livro I, capítulo II, que vai ser explicitada a natureza da linguagem. Para Aristóteles, o animal político liga-se necessariamente à faculdade humana de falar, pois sem linguagem não haveria sociedade política. O homem é um animal político mais do que as abelhas ou os outros animais gregários. A natureza não faz nada em vão e, entre os animais, o homem é o único que ela dotou de linguagem (NEVES, 1987, p. 62).
Em outras palavras: A linguagem está no homem suscitada pela vocação de animal político e operada pela sua natureza, a fim de que essa vocação se possa cumprir. Assim sendo, a base para as sociedades é a possibilidade de comunicação. Só a voz articulada, à palavra Humana, tem um sentido, o qual é dado pela faculdade exclusivamente humana.
No campo da lógica, Aristóteles estabelece as categorias, que constituem uma classificação de ideias humanas: a substância, a quantidade, a qualidade, a relação, o lugar, o tempo, a posição, o estado, atividade, a passividade (ARISTÓTELES, Categorias, cap. IV). Esses são, segundo ele, os dez gêneros ou ideias universais em que se encerram todos os seres contingentes. Aristóteles apresenta assim a totalidade
dos predicados que se podem afirmar do ser (BENVENISTE, 2005, p. 71). Após isso,seus seguidores foram, aos poucos, estabelecendo as chamadas categorias gramaticais (no sentido de partes do discurso): nome (substantivo e, a adjetiva), verbo, etc.
Outra importante contribuição de Aristóteles para os estudos gramaticais foi estabelecer, na lógica (Categorias, cap. II), o conceito de sujeito e predicado, elementos fundamentais em todo raciocínio e na oração.
Além disso, o método que seria adotado pela chamada gramática tradicional foi inaugurado por Aristóteles: a partir dele, segundo Neves: Aparece a definição das partes do discurso. Seu procedimento geral de investigação, que se baseia na definição e nas classificações, aplica-se também às formas de expressão e caracteriza, a partir daí, a apresentação das entidades da linguagem. Mais tarde, a gramática alexandrina vai estruturar-se sobre o procedimento de classificações e definições e, do mesmo modo, vai-se ver, pelo tempo afora assim apresentarem-se também as gramáticas ocidentais (NEVES,1987, p. 207).
Aparece a definição das partes do discurso. Seu procedimento geral de investigação, que se baseia na definição e nas classificações, aplica-se também às formas de expressão e caracteriza, a partir daí, a apresentação das entidades da linguagem. Mais tarde, a gramática alexandrina vai estruturar-se sobre o procedimento de classificações e definições e, do mesmo modo, vai-se ver, pelo tempo afora assim apresentarem-se também as gramáticas ocidentais (NEVES,1987, p. 207).
Partindo, pois, de Aristóteles, os estoicos (cuja escola data do século III A.C.) começaram a organizar a gramática no sentido de estudo sistemático da língua, escrevendo obras especificamente gramaticais, em que trataram de Fonética, de Morfologia e de Sintaxe; deles, porém, só nos chegaram notícias de fragmentos. Entre os estoicos que trataram de questões linguísticas, temos Crates de Malo, que esteve em Roma em meados do século II A.C. e, com suas palestras, deu o primeiro impulso aos estudos sistemáticos dos romanos no campo da língua.
Lobato (1986, p. 78) ressalta o fato de que, ainda que os estoicos tenham se dedicado ao estudo de questões gramaticais, eles não se interessaram pela língua em si mesma, o que coincide com o pensamento dos filósofos, visto que percebiam a língua como a expressão do pensamento e dos sentimentos. Essa é a característica compartilhada com os estudiosos do período anterior: todos desenvolveram o estudo sobre a língua no âmbito de pesquisas filosóficas ou lógicas.
3.3-Periodo Alexandrino
Maior importância para a evolução dos estudos gramaticais tiveram os alexandrinos que (também a partir do século III a.C.) ocuparam-se deste assunto: as alterações introduzidas pelos sábios alexandrinos nas doutrinas dos estoicos é que deram à gramática a forma com que, posteriormente, chegou aos romanos e, através destes, à tradição europeia. A sistematização da gramática efetuou-se no período alexandrino sob o influxo das condições políticas e culturais da época: a extensão do império criado por Alexandre motivou o surgimento de uma discrepância cada vez maior entre a língua grega culta e a língua corrente, que se contaminou com barbarismos devido à introdução de povos diversos na comunidade cultural helênica; o estudo da gramática foi um meio de preservar a língua como expressão de valores da cultura que os gregos desejavam conservar.
Segundo Lyons (1979, p. 9), cumpre ressaltar o fato de que, com o estabelecimento da grande biblioteca da colônia grega de Alexandria, nó início do séc. III a. C, essa cidade tornou-se o centro de intensa pesquisa literária e linguística. Os manuscritos dos autores antigos, em particular os que traziam o texto dos poemas homéricos, encontravam-se bastante corrompidos. Comparando diferentes manuscritos das mesmas obras, os filólogos alexandrinos dos séculos III e II a. C procuraram restaurar o texto original e escolher, entre os trabalhos, os genuínos e os espúrios. Porque a língua dos textos clássicos diferia, em muitos aspectos, do grego contemporâneo de Alexandria, desenvolveu-se a prática de publicar comentários de textos e tratados de gramática para elucidar as várias dificuldades que poderiam perturbar o leitor dos antigos poetas gregos. À admiração pelas grandes obras literárias do passado encorajou a crença de que a própria língua na qual elas tinham sido escritas era em si mais pura mais correta do que a fala coloquial corrente de Alexandria e de outros centros helênicos. Assim, as gramáticas escritas pelos filósofos helenistas tinham dupla finalidade: combinavam a intenção de estabelecer e explicar a língua dos autores clássicos com o desejo de preservar o grego da corrupção por parte dos ignorantes e dos iletrados. Essa abordagem do estudo da língua cultivada pelo classicismo alexandrino envolvia dois erros fatais de concepção, os quais figuram como os erros clássicos no estudo da língua.
Ora, o primeiro se refere ao fato de que a cultura linguística grega valorizou a escrita em detrimento da fala. Quando se percebia diferenças entre a língua falada e a escrita, havia uma grande tendência em considerar a segunda como principal (independente) e a primeira como derivada (dependente), o que era reforçado pelo interesse do povo alexandrino pela literatura.
Já o segundo erro era a suposição de que a língua dos escritores do século V a. C. era mais bem elaborada do que a fala coloquial; e, em geral, a dedução de que são as pessoas cultas que mantém o uso correto da língua.
Um dos sábios alexandrinos, Dionísio da Trácia, que viveu entre os séculos II e I a. C., é o autor da primeira descrição explícita da língua grega, contida num breve estudo intitulado Téchne Grammatiké (A Arte da Gramática). A grande contribuição de Dionísio para os estudos gramaticais foi fixar as classes de palavras, que, para ele, são oito: nome, verbo, particípio, artigo, pronome, preposição, advérbio e conjunção. Os estoicos haviam reconhecido apenas o nome (que distribuíam, aliás, em duas classes, a dos nomes próprios e a dos nomes comuns), o verbo, a conjunção, o artigo e o advérbio. Em verdade, nas primeiras classificações feitas na Grécia (ou seja, na de Platão, de Aristóteles e dos estoicos), as palavras são encaradas não em si, mas como partes do discurso. À fixação dessas palavras é importante para o desenvolvimento dos estudos gramaticais, pois:
É especialmente na classificação das palavras “partes do discurso” que podemos apontar a construção de um sistema gramatical porque (...) é exatamente nesse campo que a gramática tem condições de mostrar um tratamento diferente, em natureza, do tratamento filosófico (NEVES, 1987, p. 201-202).
Os filósofos classificaram as partes do discurso com um critério nocional, isto é, com base na significação. Em Dionísio, esse critério é ocasional, sendo muito mais importante o critério da forma (flexão). Nesse sentido, as partes do discurso passam a ser encaradas como classes de palavras: a gramática separa-se da filosofia e se estabelece como disciplina independente.
Segundo Dionísio, a gramática é o conhecimento prático do uso da língua, baseado no estudo dos bons escritores; utiliza, pois, o método empírico, fundamentando-se nas observações dos fatos da língua.
A obra de Dionísio serviu de base para a elaboração de gramáticas latinas até o século XIII e, através destas, influenciou também as gramáticas de diversas línguas modernas da Europa.
3.3.1-Em Roma
Em Roma, os estudos gramaticais consistiram, em grande parte, na aplicação da terminologia grega à língua latina. Destaca-se, porém, pela originalidade, o gramático Marco Terêncio Varrão (séc. I A.C.), autor de um tratado intitulado De Língua Latina; esta é a mais antiga obra gramatical romana da qual nos resta algo mais que fragmentos: dos vinte e cinco livros que a compunham, seis chegaram até nós mais ou menos completos e permitem ver que o autor elaborou toda uma teoria gramatical, procurando conciliares as ideias dos estudiosos gregos que o precederam. Varrão aceita que a língua tenhairregularidades, mas, por outro lado, esboça uma teoria normativa. Define gramática como o estudo sistemático do uso dos poetas, historiadores e oradores, o que é quase uma cópia da definição de Dionísio; mas, ao classificar as palavras, mostra-se original: distingue entre palavras variáveis e invariáveis e as divide em cinco classes (o nome, o verbo, o particípio, a conjunção e o advérbio). Apresenta, ainda, um estudo sobre flexão do nome, as vozes e os tempos do verbo. Contudo, Varrão teve menor influência sobre os estudos linguísticos do período medieval do que os outros autores sem originalidade, que apenas adaptaram o latim às teorias de Dionísio; entre estes, interessa-nos o gramático Pris ciano.
Desse autor, que viveu entre os séculos V e VI d. C., chegou-nos uma obra intitulada Institutiones Grammaticae, na qual transpôs para o latim as classes de palavras estabelecidas por Dionísio; excluiu o artigo, inexistente em latim, acrescentou a interjeição e usou termos latinos em vez dos gregos: nomem (classe que compreende o substantivo e o adjetivo), verbum, participium, pronomem, adverbium, praepositio, interiectio e coniunctio (verbo, particípio, pronome, advérbio, preposição, interjeição e conjunção). Aí temos a origem da nomenclatura usada até hoje nas gramáticas das línguas europeias em geral. Além disso, Prisciano estabeleceu a ordem seguida até hoje pelos gramáticos de linha tradicional: tratou primeiro da fonética, depois da morfologia e, por último, da sintaxe, da qual Dionísio não tinha apresentado um estudo sistemático.
A obra de Prisciano constituiu, pois, uma ponte entre a Antiguidade e a Idade Média. Durante toda a Idade Média, destaca-se sua grande influência nos estudos da linguagem.
3.4-Na Idade Média
Seguindo a tradição greco-romana, os gramáticos medievais adotaram a nomenclatura estabelecida por Dionísio e adaptada ao latim por Prisciano. As gramáticas medievais da primeira fase foram obras meramente didáticas, quase sem nenhuma originalidade, destinadas, sobretudo, ao ensino do latim. Já na segunda metade da Idade Média, caracterizada pelo intenso estudo da filosofia, surgiram obras que procuraram aplicar a lógica às questões linguísticas buscando as razões filosóficas das teorias estabelecidas por Prisciano.
A partir do século XII, graças à atividade docente de Santo Tomás de Aquino, a influência de Aristóteles sobre o pensamento medieval intensificou-se e a chamada filosofia escolástica chegou ao seu apogeu. Nessa época, prevaleceu a ideia de que Prisciano fizera um trabalho superficial, pois lhe faltava uma base filosófica. Surgiu, então, a chamada gramática especulativa, que constituiu a integração da descrição gramatical do latim, realizada por Prisciano, à filosofia escolástica. Os gramáticos especulativos conservaram, pois, quase sem alteração, a morfologia de Prisciano, mas apresentaram pensamento mais profundo, mais filosófico, buscando dar validade universal às regras da gramática latina, e criaram uma grande quantidade de termos técnicos para formalizar suas teorias. Assim, passa a vigorar a concepção de uma gramática universal subjacente e admite-se a existência dos universais linguísticos (princípios aplicáveis a todas as línguas); afirma-se que a gramática é, em essência, a mesma para todas as línguas e as diferenças são apenas variações acidentais, ideia retomada no século XVII pelos chamados gramáticos de Port. Royal, como veremos mais adiante.
Os gramáticos especulativos, porém, exageram o aspecto lógico da língua, voltando-se mais para a teoria do que para os dados; por isso, e também porque na Idade Média a literatura pagã era mal vista – com exceção de algumas obras, como as de Aristóteles, já assimiladas pelo cristianismo – esses gramáticos formularam seus próprios exemplos, em vez de extraí-los dos textos clássicos.
Os filósofos nominalistas reforçaram ainda mais o espírito logístico da Alta Idade Média, conforme Robins:
O ponto de vista nominalista, segundo o qual os universais só se encontram nas próprias palavras ou nomes, não tendo existência real fora da linguagem, tornou-se famoso com o trabalho de um de seus maiores representantes, Guilherme de Occam (primeira metade do século XIV) (ROBINS, 1979, p. 68).
A excessiva valorização da palavra levou esses pensadores a construir esquemas teóricos distanciados da realidade; assim, por exemplo, Jean Buridan (século XIV) reduziu a gramática a uma construção puramente teórica, exemplificada por proposições que não se encontram na linguagem real. Buridan inclui seus estudos de gramática numa obra chamada Compendium Totius Logicae; reconduz, pois, a gramática ao campo da filosofia, desligando-a do estudo dos textos.
Deve-se notar que tanto os primeiros gramáticos medievais como os gramáticos especulativos da Alta Idade Média, baseando-se na sistematização de Dionísio e de Prisciano, rendem-se à linha aristotélica; os exageros logicastes, porém, representam um desvio da tradição Greco- romana, segundo a qual o estudo da língua deve apoiar-se nos textos dos escritores consagrados.
3.5-Da Renascença ao Fim do Século XVII
A nossa gramática, ao nascer, em Portugal, obedece ao modelo latino. A primeira obra é a Grammatica da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveyra. Em que pesem, como reconhecem os críticos, as observações originais do autor, não se pode negar a sua forte base latina. Suas partes limitavam-se a Ortografia, Acento, Etimologia e Analogia, esta referente às flexões, sobretudo de gênero e número.
O segundo de nossos gramáticos, João de Barros, não hesita em imitar a gramática latina, ao apresentar declinados artigos, substantivos e pronomes. Aliás, a definição de gramática que ele acolhe é sintomática: um modo certo e justo de falar e escrever, colhido do uso e autoridade dos barões doutos (BARROS,1557, p. 1)
Barros (1557, p. 1) divide sua gramática em quatro partes, à imitação dos latinos: ortografia, que trata da letra; prosódia, que trata de sílaba; etimologia, que trata de dicção; sintaxe que responde à construção.
Reafirmando a fidelidade ao padrão latino, propõe tratar destas não segundo a ordem da gramática especulativa, mas como requer a perceptiva, usando os termos da Gramática Latina, cujos filhos nós somos, por não degenerar dela (BARROS, 1557, p. 1).
Essa posição não é gratuita e parece representar, da parte de João de Barros, a renúncia à tradição medieval, que herdara dos gregos a gramática científica ou especulativa.
Opondo-se aos gramáticos especulativos da Idade Média, os renascentistas estudaram o latim e o grego, bem como as línguas vernáculas, com base na literatura, na língua escrita das classes cultas, mais do que na lógica. Entre os gramáticos dessa época salienta-se, ainda, Pierre Ramée (século XVI), para quem tudo o que Aristóteles disse está errado: quaecumpe ab Aristotele dicta essent commentitia esse (ROBINS, 1979, p. 80). Ramée foi um dos defensores do ensino das línguas através da literatura e não do aristotelismo escolástico. Escreveu gramáticas do grego, do latim e do francês, procurando basear suas teorias nas relações entre as palavras e não na significação ou nas suas categorias lógicas. Conservaram as oito classes de palavras de Prisciano, mas procurou identificá-las por critério de divisão: de um lado as palavras que têm flexão de número (nome, pronome, verbo e particípio) e, de outro lado às demais (advérbio, preposição, conjunção e interjeição). Cumpre observar que Pierre Ramée e os renascentistas em geral, embora criticassem Aristóteles, não se afastaram muito do aristotelismo que norteava os estudos de gramática, pois continuaram aceitando, entre outros pontos, a classificação das palavras que Prisciano havia estabelecido com base em Dionísio da Trácia, cujo sistema gramatical se prende, em última análise, a lógica aristotélica; afastaram-se do que se pode chamar de aristotelismo escolástico, isto é, do logicismo que dominou os pensadores na segunda metade da Idade Média.
Voltam, porém, à postura logicista, os estudiososreunidos, no século XVII, em redor da abadia francesa de Port. Royal, entre os quais Antoine Arnauld e Claude Lancelot, cuja Grammaire Générale et Raisonée (1660) teve grande sucesso: essa obra, que durante dois séculos servirá de base à formação gramatical, explica os fatos partindo do postulado de que a linguagem, imagem do pensamento, exprime juízos e que as diversas realizações que se encontram nas línguas são conformes a esquemas lógicos universais (DUBOIS et al, 2001, p. 314).
Assim, o século XVII marca, na França, a revivescência dos ideais da gramática especulativa pelos mestres de Port. Royal. Em linhas gerais, o pensamento desses autores prende-se mais a seu contemporâneo Descartes do que a Aristóteles. Assim, exageram o papel da razão e, em sua gramática, estabelecem teorias muito rígidas, que nem sempre correspondem à realidade. Por exemplo, o grego não tem o caso ablativo, que existe em latim, mas os gramáticos de Port. Royal apresentam uma teoria segundo a qual o grego possui, sim, o caso ablativo, que se confunde, porém, com o dativo por ter forma sempre igual à forma deste. Tal afirmação contraria a realidade de ambas as línguas, pois o ablativo latino equivale ora ao dativo, ora ao genitivo grego.
De certo modo, os gramáticos de Port. Royal ligam-se ainda a seus predecessores medievais, pois admitem a existência de uma estrutura universal do pensamento e, portanto, de universais linguísticos, e adotam as tradicionais classes de palavras, que, para eles, são nove: incluem novamente o artigo, excluído por Prisciano, e conservam a interjeição. Além disso, aproximam-se de Aristóteles quando, por exemplo, admitem que a função das línguas é comunicar o pensamento, termo que abrange a simples apreensão, o juízo e o raciocínio (as três operações do espírito humano, segundo a lógica aristotélica); voltam ainda à análise sugerida por Aristóteles (Sobrea Interpretação, cap.II), em que todos os verbos equivalem lógica e gramaticalmente ao verbo ser mais predicativo: Pedro vive é o mesmo que Pedro é vivente e, portanto, essa frase é estruturalmente análoga à frase Pedro é homem. Há, porém, nessa análise dos gramáticos de Port. Royal, uma inovação, que será retomada por linguistas contemporâneos, como verá a seguir: Chomsky reconhecerá que, sob a frase concreta, existirá um nível estrutural mais profundo.
Em resumo, os gramáticos de Port. Royal prendem-se ainda, em alguns pontos, ao pensamento aristotélico, mas apresentam inovações decorrentes de sua formação racionalista, que os leva a procurar a unidade Linguística subjacente às diferentes línguas e a construir esse universalismo com base na razão: ao contrário dos escolásticos, fizeram prevalecer a razão sobre a autoridade.
Além disso, Beauzée deixa de lado a divisão das classes de palavras em dois grupos, estabelecida pelos gramáticos de Port-Royal,segundo a qual o nome, o artigo, o pronome, o particípio e o advérbio relacionam-se com os “objetos” de nossos pensamentos, enquanto o verbo, a conjunção e a interjeição relacionam-se com a “forma ou modo”.
A classificação de Beauzée separa definitivamente o adjetivo do substantivo; fixa, pois, em dez as classes gramaticais (substantivo, adjetivo, artigo, pronome, particípio, advérbio, verbo, preposição, conjunção e interjeição) que, a partir daí, assim aparecem na gramática francesa clássica, fiel à tradição derivada de Aristóteles.
Entre as inúmeras gramáticas “racionais”, surgidas no Século das Luzes, destaca-se, para nós, a Grammatica Philosophica da Língua Portugueza (1803 ou 1782?, cf. GENOUVRIER e PEYTARD, 1972, p. 137), de Jerônimo Soares Barbosa. Na introdução de sua gramática, o autor discorre, com muita propriedade, sobre a evolução da gramática (Grammática quer dizer Litteratura), ressaltando, ao referir-se às suas partes, a precedência histórica do que chama parte mecânica da língua (Ortografia e Ortoepia) sobre a parte da Lógica (Etimologia e Sintaxe).
Concebe a gramática como “a arte de falar e escrever corretamente a própria língua”(BARBOSA, 1875, p. 1). Na defesa da parte lógica, em que se esmera e cuja paternidade atribui ao gênio de Aristóteles, Soares Barbosa apela para as leis psicológicas, que orientam as operações comuns a todos os homens, essas leis devem comunicar às línguas, que são expressões daquelas operações, os mesmos princípios de regras gerais.
Todos os gramáticos particulares, acrescenta, têm de ter por fundamento a gramática geral e razoada. A reforma operadora, no seu tempo, nas gramáticas das línguas vivas, que ele enaltece, foi precedida da introdução, na gramática latina, das luzes da filosofia. Primeiro, estabeleceram-se princípios gerais e razoados da linguagem e, depois, foram eles aplicados a cada língua.
Deve-se ressaltar, ainda, na obra de Soares Barbosa, frente às gramáticas anteriores, o reconhecimento da sintaxe oracional, até então ignorada. Quando as palavras deixam de ser consideradas em si mesmas (Etymologia) e passam a serem olhadas unidas em discurso para formarem os diferentes painéis do pensamento, descobre-se a Syntaxe que quer dizer coordenação de partes (BARBOSA, 1875, p. 10).
Embora ainda um tanto preso à tradição do ensino gramatical, o século XIX, tem na pessoa de Augusto Epifânio da Silva Dias, cuja Gramática Prática da Língua Portuguesa data de 1870, um inovador, que consegue ir rompendo com a preocupação logística, impregnada na pretensa análise lógica, herdada de Jerônimo Soares Barbosa.
Enquanto isso, dentro de uma linha de renovação, surge, no Brasil, em 1881, a Gramatica Portugueza de Júlio Ribeiro, criando acirrada polêmica nos meios intelectuais. Em abono de seu espírito inovador, foi o primeiro, na 2ª edição, a substituir a tradicional divisão quadripartite de gramática pela biparti-te: Lexicologia e Sintaxe.
O início do prefácio dessa mesma edição soa como uma condenação à gramática filosófica, que a priori aplicava princípios lógicos a fatos gramaticais: as antigas gramáticas portuguesas eram mais dissertações de metafísica do que exposições de uso da língua (RIBEIRO, s/d, p. 1).
Sem desmerecer, por omissão, nessa linha de atualização metodológica e de melhor precisão sintática, o papel desempenhado, entre nós, por Maximino Maciel (1887),João Ribeiro (1887), José Oiticica e outros, destaca-se a contribuição singular de Eduardo Carlos Pereira (1907). Esse gramático sintetiza toda a herança dos séculos anteriores não só no sentido inovador de atualização metodológica e de melhor precisão de conceitos, como também no conservador de manter, paradoxalmente, as tendências que marcaram toda essa evolução gramatical. Isso tanto em Portugal como no Brasil, por mais contraditórias que elas sejam.
No prólogo da 1ª edição de sua Gramática Expositiva (1907), Carlos Pereira refere-se à desorientação da hora presente: “depois que Júlio Ribeiro imprimiu uma nova direção aos estudos gramaticais, romperam-se os velhos moldes e estabeleceu-se largo conflito entre a escola tradicional e a nova corrente” (PEREIRA, 1955, p. 7). Esclareça-se que a “corrente tradicional é a que se preocupa com o elemento lógico na expressão do pensamento, como o próprio autor assinala mais tarde condenando o exclusivismo de uma e outra, ou melhor, a confusão de ambas” (PEREIRA, 1955, p. 7).

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