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Futebol e regimes militares

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Futebol e regimes militares 
O FUTEBOL NAS DITADURAS BRASILEIRA E ARGENTINA 
 
Em 1970, o Brasil ainda vivia sob a ditadura do regime militar, instaurado em 1964. O 
presidente era o general Emílio Garrastazu Médici, que governou o país de 1969 a 
1974. Médici era da "linha dura", a ala mais radical dos militares que instauraram a 
ditadura. Seu governo foi, talvez, o mais repressivo da história política do Brasil, 
resultando na morte e tortura de centenas de oposicionistas, acusados ou suspeitos 
de "subversão". 
 
 
O capitão da seleção de 1970, Carlos Alberto, e o 
general Médici seguram a taça Jules Rimet 
 
 
Foi também um período em que parte da oposição decidiu partir para a luta armada, 
praticando atos de terrorismo, seqüestros de diplomatas estrangeiros para trocá-los 
por prisioneiros políticos e assaltos a banco, chamados eufemisticamente de 
"expropriações". 
Milagre brasileiro 
Apesar da repressão política, a economia brasileira crescia mais de 10% ao ano. Não 
que o crescimento da economia fosse obra do governo. Como foi um período de 
crescimento da economia mundial, a economia brasileira acabou se beneficiando. 
Houve um aumento dos empréstimos obtidos no exterior e dos investimentos 
estrangeiros no país. As exportações aumentaram, especialmente as de produtos 
agrícolas, como soja e laranja. 
 
Naquela época, crescimento da economia significava também aumento da oferta de 
empregos na indústria. Foi uma época em que a classe média realizava seus sonhos 
comprando carros e eletrodomésticos. Foi nesse contexto político e econômico que a 
seleção brasileira conquistou a Copa do Mundo no México e o Brasil se tornou o 
primeiro país tricampeão. 
Futebol e propaganda política 
Além da tortura e da repressão, o governo Médici usou a propaganda como arma 
política. O presidente Médici era apresentado como um "homem do povo" e 
"apaixonado por futebol". A vitória da seleção brasileira sobre a seleção italiana por 4 
a 1, na final, foi bastante explorada pela propaganda do governo Médici em slogans do 
tipo "Ninguém segura este país" ou "Brasil; ame-o ou deixe-o". 
 
O técnico que classificou o Brasil para a Copa de 1970 foi João Saldanha, que acabou 
substituído por Mario Zagalo durante a competição. Alguns acreditam que a 
substituição de Saldanha por Zagalo teria sido resultado de uma suposta interferência 
de Médici. O então presidente da República teria dado palpite na escalação do time 
feita por Saldanha. O técnico teria respondido que Médici mandava nos ministérios, 
mas que quem mandava na seleção era ele (Saldanha). 
Futebol: o ópio do povo 
Temendo que a vitória da seleção na Copa do Mundo fosse explorada pela 
propaganda do regime militar, o que acabou acontecendo, alguns intelectuais de 
esquerda, opositores do Regime, afirmavam que o futebol era o "ópio do povo", pois 
faria a população se alienar, deixando de lutar pela solução dos problemas sociais. A 
expressão foi criada por Karl Marx. Era como ele considerava a religião. 
 
Porém, em 1974, a seleção brasileira decepcionou os torcedores, ao não conseguir 
repetir a conquista da Copa anterior. E o regime militar brasileiro também não 
conseguiu manter sua popularidade. Naquele ano, o aumento do preço do petróleo 
imposto pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) gerou uma 
crise econômica mundial que levou ao fim do chamado "milagre econômico". A 
inflação disparou no Brasil e os brasileiros sofreram com o aumento dos preços e o 
arrocho salarial. 
1978: a Copa na Argentina 
Em 1976, foi instaurada uma ditadura militar de extrema-direita na Argentina. No 
Brasil, os militares ficaram quase vinte e um anos no poder (de abril de 1964 a março 
de 1985). Na Argentina, os militares ficaram apenas sete anos (de março de 1976 a 
dezembro de 1983). Apesar de ter durado menos tempo, a ditadura portenha 
conseguiu ser muito mais violenta com a oposição. 
 
O número de torturados, mortos e "desaparecidos" pelo regime argentino superou em 
muito o "nosso" regime militar, fazendo milhares de vítimas. Na América do Sul, a 
ditadura argentina só foi superada em violência e número de vítimas pelo regime 
ditatorial instaurado pelo general Augusto Pinochet no Chile, que governou o pais de 
1973 a 1990. 
Argentina vence a copa de 78 em casa 
Em 1978, a seleção de futebol da Argentina venceu a Copa do Mundo em casa. 
Semelhante ao que ocorreu no governo Médici, quando a seleção brasileira 
conquistou o tricampeonato, a ditadura argentina aproveitou a conquista do título 
mundial para fazer propaganda e ganhar popularidade. Apesar de invicto, o time 
brasileiro perdeu a chance de disputar a final quando foi superado em saldo de gols 
pelo time da casa depois que a seleção da Argentina goleou a seleção do Peru (6x0). 
 
A goleada atraiu suspeitas de fraude. Ainda hoje, muitos torcedores brasileiros 
suspeitam que houve "marmelada". Segundo essa versão, o time peruano teria sido 
subornado para "entregar" o jogo. Até o fato de o goleiro da seleção peruana, Ramon 
Quiroga, ser um argentino que se naturalizou peruano, contribuiu para aumentar as 
suspeitas. De qualquer modo, com ou sem trapaça, a seleção argentina venceu a 
seleção holandesa na final. 
 
A seleção brasileira teve que se conformar com o terceiro lugar e com o título de 
"campeão moral". A Copa de 1978 também é lembrada pela partida que ficou 
conhecida como a "Batalha de Rosário", na qual brasileiros e argentinos se 
enfrentaram num jogo que terminou empatado (0x0). 
Argentina e Inglaterra: rivais na guerra e no futebol 
Em 2 de abril de 1982, para desviar a atenção da opinião pública dos problemas 
internos, o governo ditatorial argentino resolveu apelar novamente para o 
nacionalismo: iniciou uma guerra contra o Reino Unido pela posse das ilhas Falklands 
(a Guerra das Malvinas, com as ilhas são chamadas pelos argentinos). 
 
O tiro saiu pela culatra: a guerra terminou com uma humilhante derrota para as forças 
armadas argentinas, cuja rendição se deu em 14 de junho do mesmo ano. Com a 
derrota militar para os britânicos, a opinião pública da Argentina se voltou contra o 
governo, que entrou em colapso. No ano seguinte, a ditadura chegava ao fim na 
Argentina. Curiosamente, a Guerra das Malvinas aumentou a rivalidade entre as 
seleções de futebol da Inglaterra e da Argentina (sem falar em briga de torcidas). 
 
A rivalidade já existia antes da guerra e teria começado na Copa do Mundo de 1966, 
realizada na Inglaterra: numa das partidas, a seleção inglesa derrotou a seleção 
argentina por 1x0 num jogo marcado por uma arbitragem polêmica, que resultou na 
expulsão do então capitão do time argentino, Antonio Rattín, considerada injusta pela 
maioria dos torcedores argentinos. 
Maradona e a "mão de Deus" 
Na Copa de 1986, realizada no México, que acabou vencida pela Argentina, os 
argentinos viram num jogo contra a seleção inglesa, uma chance de se "vingarem" da 
derrota na guerra. Dessa vez, os argentinos saíram vitoriosos (2x1). Foram dois gols de 
Maradona, o segundo foi legítimo, mas o primeiro foi feito com a mão. O craque 
argentino afirmou cinicamente que esse gol foi de cabeça, a mão que se viu era "de 
Deus". 
 
Muita gente misturou política e futebol, seja para fazer propaganda, seja para difundir 
a discórdia e o preconceito. No entanto, também é verdade que o futebol-arte supera 
as diferenças políticas e ideológicas. Um exemplo disso ocorreu em 1969 , durante 
uma excursão na África, o Santos de Pelé jogou dois amistosos no antigo Congo 
Belga: o pais estava dividido por uma guerra civil, mas os dois lados fizeram uma 
trégua para ver o "Rei" jogar. 
• 
 
Túlio Vilela*, formado em história pela USP, é professor da rede pública do Estado de 
São Paulo e um dos autores de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de 
Aula" (Editora Contexto).

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