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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) DRGE é uma condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas e/ou complicações. Essas manifestações podem ser esofágicas ou extra-esofágicas. SÍNDROMES ESOFÁGICAS SÍNDROMES EXTRA-ESOFÁGICAS S. Sintomáticas S. com lesão esofágica Associação estabelecida Associação possível Síndrome do refluxo típica Esofagite de refluxo Tosse de refluxo Sinusite Restrição/estenose de refluxo Laringite de refluxo Fibrose pulmonar Dor torácica de refluxo Esôfago de Barrett Asma de refluxo Faringite Adenocarcinoma Erosões dentárias de refluxo Otite média de refluxo Anatomia esofagogástrica Deglutição = Relaxamento do esfíncter esofagiano inferior (fisiologicamente). A barreira anti-refluxo na junção gastroesofágica é anatômica e fisiologicamente complexa e vulnerável a vários mecanismos potenciais de refluxo. Refluxo recorrente é agressivo às camadas teciduais e pode lesar o epitélio, o que caracteriza a esofagite. Defesas anti-refluxo: Anatômicas: Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI), crura diafragmática, localização intra-abdominal do EEI, ligamentos freno-esofágicos, ângulo de Hiss. Funcionais: Depuração ácida esofágica e resistência tecidual. Essas defesas lutam contra fatores agressivos que culminam para DRGE tais como: fatores gástricos, refluxo duodenogástrico, retardo de esvaziamento gástrico comum em diabéticos. Patogenia da DRGE O efeito primário na patogênese da doença do refluxo gastroesofágico é o movimento do suco gástrico do estômago para o esôfago. A barreira anti-refluxo na junção gastroesofágica é anatômica e fisiologicamente complexa e vulnerável a vários mecanismos potenciais de refluxo. Os três mecanismos fisiopatológicos dominantes que causam incompetência da junção gastroesofágica são: 1. Relaxamentos transitórios do EEI; 2. Esfíncter esofágico inferior hipotenso; 3. Interrupção anatômica da junção gastroesofágica, frequentemente associada a uma hérnia de hiato. Características demográficas Prevalência: EUA 42-44% (alto custo social anual). Sexo: Europa 2-10% afetando igualmente homens e mulheres, contudo nos homens as complicações aumentaram com o envelhecimento da população. Etnia: A azia é similar entre grupos étnicos nos EUA, no entanto afro americanos apresentam menos esofagite comparados a população branca. Diagnóstico empírico DRGE é empiricamente diagnosticada e tratada na prática clínica com base na avaliação dos sintomas clínicos. Ou seja, no caso de suspeita de DRGE, iniciamos tratamento antes de realizar testagem. Indicações para testagem (solicitação de exames): - Falha terapêutica - Incerteza diagnóstica - Tratamento (ou prevenção) de complicações da DRGE Objetivos do tratamento: - Cicatrização da mucosa esofágica ▪ Náuseas ▪ Vômitos ▪ Água na boca OBS.: Idosos são geralmente assintomáticos - Controle dos sintomas Geralmente o tratamento adotado inclui Omeprazol 40 ou 80 mg por dia durante 2 a 4 semanas. Indicativo positivo no teste de supressão gástrica: Melhora de > 50% da azia → Se o teste for positivo, manter o tratamento com doses individualizadas (20 mg) por 4 a 8 semanas. História clínica da DRGE Os sintomas típicos de DRGE (regurgitação de ácido e azia) são melhores respondedores ao tratamento em relação a sintomas atípicos, enfatizando o valor de uma boa história clínica. Ou seja, quanto mais típica a clínica mais eficaz o tratamento. SINTOMAS TÍPICOS DA DRGE (ST) Azia: Sintoma clássico de refluxo, diagnosticado clinicamente pela presença de azia 2 ou mais vezes por semana. Queimação retroesternal pós- prandial, relacionado a grandes refeições (principalmente picantes, cítricos, gorduras, chocolate e álcool) ou à posição supina ou o ato de curvar-se pode exacerbar o quadro. O estresse psicológico, auditivo, privação do sono podem diminuir o limiar dos sintomas. Regurgitação ácida SINTOMAS ATÍPICOS DA DRGE (SAT) ▪ Odinofagia ▪ Soluços ▪ Eructação ▪ Dor torácica: Pode imitar a angina, subesternal irradiando para as costas, mandíbulas e braço. Apresenta piora após refeições, podendo despertar o paciente à noite, piora com estresse emocional e exercícios. Manifestações RESPIRATÓRIAS LARINGOFARINGEANAS OUTRAS Tosse Irritação crônica da garganta Erosão dentária Fibrose pulmonar Sensação de glubus Otite Rejeição de transplante pulmonar Dor de garganta Sinusite Asma Rouquidão Laringite posterior Disfonia CA de laringe Inibidores da bomba de prótons na DRGE FISIOLOGIA DA SECREÇÃO ÁCIDA Além das células secretoras de muco que revestem toda a superfície do estômago, a mucosa gástrica tem dois tipos importantes de glândulas tubulares: as glândulas oxínticas e as glândulas pilóricas. Glândulas oxínticas (também denominadas glândulas gástricas): São formadoras de ácido. Secretam ácido clorídrico, pepsinogênio, fator intrínseco e muco. Glândulas pilóricas: Secretam principalmente muco para proteger a mucosa pilórica do ácido gástrico. Também secretam o hormônio gastrina. Secreções das glândulas oxínticas (gástricas): As glândulas oxínticas típicas são formadas por três tipos de células: ▪ Células mucosas: do cólon que secretam, basicamente muco. ▪ Células pépticas (ou principais): secretam grandes quantidades de pepsinogênio. ▪ Células parietais (ou oxínticas): secretam ácido clorídrico e o fator intrínseco. Fatores básicos que estimulam a secreção ácida: Acetilcolina, gastrina e histamina Acetilcolina: Estimula a secreção de pepsinogênio pelas células pépticas; HCl pelas células parietais e muco pelas células da mucosa. Gastrina e histamina: Estimulam, fortemente, a secreção de ácido pelas células parietais. Secreção e ativação do pepsinogênio Quando secretado, o pepsinogênio não tem atividade digestiva. Entretanto, assim que entra em contato com o HCl é clivado para formar pepsina ativa. A pepsina atua como enzima proteolítica, ativa em meio ácido. OBS: As células parietais das glândulas oxínticas são as únicas células que secretam ácido clorídrico. AÇÃO DOS INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS Fármacos que inibem a secreção ácida Anti-histamínicos ou inibidores da bomba de prótons (IBP). Os IBPs são os mais eficazes supressores da secreção ácida gástrica e atualmente, os mais empregados. São ativados em condições ácidas (modificação estrutural para forma ativa). Ex.: Omeprazol, Lansoprazol, Rabeprazol, Pantoprazol... IBPs aplicados à DRGE A resposta sintomática à terapia com IBPs não é equivalente a um diagnóstico de DRGE, esta correlação é imperfeita com a doença objetivamente definida após testagem. A resposta a sintomas atípicos (dor torácica, tosse crônica, laringite, etc) são menores que as taxas de resposta aos IBPs para os sintomas típicos, diminuindo assim a utilidade desta metodologia na abordagem para diagnóstico de DRGE. Apesar da baixa especificidade, a abordagem ao tratamento empírico com IBPs é menos dispendiosa que a testagem diagnóstica, sendo recomendado pelas guidelines das sociedades. Testagem diagnóstica ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Primeira linha de exames após tratamento empírico! Quando os sintomas da DRGE não respondem ao uso empírico de IBPs, uma endoscopia é recomendada para avaliar possíveis complicações da DRGE e para detectar potenciais diagnósticos alternativos que podem redirecionar a terapia. Endoscopiaserve para avaliar lesão esofágica. Padrão outro para documentar a presença e extensão da lesão esofágica. Para a DRGE, a endoscopia apresenta baixa sensibilidade, porém alta especificidade. Possíveis lesões encontradas podem ser avaliadas através do uso de algumas escalas de classificação. CLASSIFICAÇÃO DE SAVARY-MILLER GRAU LESÕES I Uma erosão simples ou exsudativa sobre uma prega longitudinal. II Múltiplas erosões sobre mais de uma prega longitudinal. III Erosões circunferenciais. IV Úlcera, estenose ou esôfago curto isolado ou associado a lesões dos graus I – III. V Esôfago de Barrett de diferentes graus associado a lesões dos graus I – III. Diferença entre úlcera e erosão: Profundidade. Geralmente erosões só acometem mucosas e úlceras chegam a acometer submucosas. Além disso úlceras criam cicatriz, o que pode evoluir para fibrose e disfagia. CLASSIFICAÇÃO DE ESOFAGITES DE LOS ANGELES GRAU LESÕES A Uma ou mais lesões mucosas com menos de 5 mm, confinadas a uma prega (não são confluentes). B Uma ou mais lesões mucosas maiores que 5 mm, mas ainda não são contínuas entre as pregas longitudinais. C Lesões mucosas contínuas entre o ápice de duas ou mais pregas mucosas não circunferenciais (não ocupam 75% da circunferência esofágica). D Lesões mucosas circunferenciais (pelo ao menos 75%). BIÓPSIA ESOFÁGICA Não deve ser feita em primeira instância, é solicitada após tratamento empírico e revisão do paciente. Os critérios de Roma IV recomendam a biópsia do esôfago durante da EDA em casos de: 1. Esofagite eosinofílica; 2. Diferenciação com hipersensibilidade de refluxo e azia funcional; 3. Monitoramento dos escores fisiopatológicos avaliando o alongamento das papilas, hiperplasia basocelular, espaços intercelulares, células inflamatórias intraepiteliais, necrose e erosão. PHMETRIA – 24 HORAS Considerado o teste padrão-ouro para o estabelecimento do diagnóstico de refluxo patológico. Indicações para o exame: ▪ Antes e depois da fundoplicatura ▪ Naqueles com endoscopia normal para diagnóstico de refluxo ▪ Casos de refluxo recorrente ▪ Pacientes com sintomas de refluxo resistentes ao tratamento e que tem uma endoscopia normal* * Nesse caso, o teste é realizado na vigência do tratamento, nos demais casos, este é suspenso para a realização do teste. MANOMETRIA ESOFÁGICA Avalia a bomba de prótons, contração e relaxamento muscular assim como a atividade peristáltica, incluindo contração, amplitude, duração e velocidade. - Não indicada na DRGE não complicada - Indicações: Antes da cirurgia do refluxo e ao avaliar a peristalse esofágica. Diagnóstico diferencial ▪ Acalásia ▪ Divertículo de Zenker ▪ Gastroparesia ▪ Colelitíase ▪ Úlcera péptica Complicações ▪ Hemorragia (7 a 18%) ▪ Úlcera ▪ Perfuração ▪ Estenose péptica (7 a 23%) ▪ Paredes finas, afiladas, estreitamentos circunferenciais do esôfago inferior. ESÔFAGO DE BARRETT Um epitélio diferenciado substitui o epitélio escamoso estratificado que normalmente reveste o esôfago distal. Não causa sintomas, apesar de apresentar fator de risco para adenocarcinoma de esôfago. Área suspeita pode ser identificada pelo diagnóstico endoscópico: epitélio avermelhado, aveludado e diferente do epitélio escamoso esofágico comum de cor clara brilhante. Classificação do E.B: - Longo: > 3cm, nesse caso o risco de evolução para CA é maior; - Curto: < 3cm. Tratamento do E.B: ▪ IBPs ▪ Antiácidos/AINEs em baixas doses ▪ Screening para displasia ▪ Dispepsia funcional ▪ Esofagite por pílulas ▪ Esofagite actínica ▪ Angina Pectoris ▪ Endoscopia depois de 3 a 6 meses. Acompanhamento: - Sem displasia: Endoscopia de 3 em 3 anos - Com displasia de baixo grau: Endoscopia anual - Com displasia de alto grau: Tratamento endoscópico – EMR (Ressecção Endoscópica da Mucosa). Tratamento da DRGE ▪ Mudanças no estilo de vida (refeições menores, até 3 horas antes de deitar....) ▪ Teste terapêutico com IBPs (2 a 4 semanas) ▪ Manutenção com IBPs (4 a 8 semanas) ▪ Terapia endoscópica ▪ Cirurgia. Indicações: - Pacientes com esofagite que sejam intolerantes a IBPs - Pacientes com sintomas de DRGE mal controlados com IBPs - Pacientes com manifestações extra-esofágicas.
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