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curso 11193 aula 03 v1

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Aula 03
Literatura p/ ENEM 2016
Professores: Equipe Rafaela Freitas, Rafaela Freitas
Literatura p/ ENEM 
Teoria e Questões Comentadas 
Profª Rafaela Freitas ʹ Aula 03 
 
 
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AULA 03 
ARTE COLONIALISTA 
DO QUINHENTISMO E AO ROMANTISMO 
A 
 
Olá, galera! Vamos começar bem animados mais uma aula de Literatura. 
Dessa vez, vamos falar sobre o período que vai do Quinhentismo ao Barroco. 
Sobre o Romantismo vou falar na próxima aula, aguardem!!! 
 
 
SUMÁRIO 
QUINHENTISMO....................................................................................02 
LITERATURA INFORMATIVA....................................................................03 
LITERATURA JESUÍTICA.........................................................................07 
BARROCO.............................................................................................12 
ARCADISMO.........................................................................................31 
HORA DE PRATICAR...............................................................................44 
LISTA DE QUESTÕES QUE FORAM COMENTADAS NESTA AULA....................68 
GABARITO............................................................................................87 
O MEU ATÉ BREVE.................................................................................88 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Literatura p/ ENEM 
Teoria e Questões Comentadas 
Profª Rafaela Freitas ʹ Aula 03 
 
 
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Durante a aula, vou fazer um panorama do que foi a Literatura Brasileira 
desde o descobrimento (1500) até a independência do Brasil (1822). Esse foi o 
período em que o nosso país foi colônia de Portugal. Sendo assim, a nossa 
literatura dessa época pode ser chamada de COLONIALISTA. Não tínhamos 
uma expressão de arte autêntica, importávamos a arte da colônia, ainda que, 
HP�DOJXQV�PRPHQWRV�� WHQKD� VLGR�GDGD�XPD� ³FDUD´�PDLV� EUDVLOHLUD� WHQGR�HP�
vista o contexto histórico de cada período. Vamos ver cada período da nossa 
arte colonialista. 
 
QUINHENTISMO 
 
Quinhentismo é a denominação dada a todas as manifestações literárias 
ocorridas no Brasil durante o século XVI, quando a cultura europeia foi 
introduzida no país. Ainda não tínhamos uma Literatura genuinamente 
brasileira. Os índios que aqui viviam possuíam uma cultura imensamente 
diferente da que estava chegando, a portuguesa. O que tivemos entre 1500 e 
1600 foi uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota 
a visão, as ambições e as intenções do homem europeu mercantilista em 
busca de novas terras e riquezas. Você acha que os Portugueses estavam 
apenas curiosos com a nova terra, nada queriam daqui? Sabemos que não. Em 
1530 começa a colonização brasileira e as manifestações ocorridas aqui se 
prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos 
escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram. Estou 
falando da Literatura de Informação. 
 
 
 
Literatura p/ ENEM 
Teoria e Questões Comentadas 
Profª Rafaela Freitas ʹ Aula 03 
 
 
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LITERATURA INFORMATIVA 
 
A famosa Carta de Caminha inaugura o que se convencionou chamar de 
Literatura Informativa sobre o Brasil. Foi resultante das Grandes 
Navegações e faz um levantamento ³WHUUD�QRYD´��GH�VXD� IORUHVWD�H�IDXQD��GH�
seus habitantes e costumes, que se apresentaram muito diferentes dos 
europeus. Daí ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem 
grande valor literário. A principal característica da carta é a exaltação da terra 
(o que marca uma linguagem com exagero de adjetivos), resultante do 
assombro do europeu diante do exotismo e da exuberância de um mundo 
tropical. Imaginem só a diferença climática e o susto dos Portugueses ao 
encontrarem os índios nus e sem nenhuma vergonha de estarem assim? 
 
Você conhece a Carta de Pero Vaz de Caminha? Leia a seguir alguns 
fragmentos. 
 
Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil 
 
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros 
capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta Vossa terra 
nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso 
minha conta. (...) 
Literatura p/ ENEM 
Teoria e Questões Comentadas 
Profª Rafaela Freitas ʹ Aula 03 
 
 
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E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira 
G¶�RLWDYDV�GH�3iVFRD��TXH�IRUDP����GLDV�G¶$EULO��TXH�WRSDPRV�DOJXQV�VLQDLV�GH�
terra (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam 
fura-buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, 
LVWR� p�� SULPHLUDPHQWH� G¶XP� JUDQGH� PRQWH�� PXL� DOWR� H� UHGRQGR�� H� G¶RXWUDV�
serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual 
monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera 
Cruz. (...) 
(� GDOL� KRXYHPRV� YLVWD� G¶KRPHQV�� TXH� DQGDYDP� SHOD� SUDLD�� GH� �� RX� ���
segundo os navios pequenos disseram, por chegaram primeiro. (...) A feição 
deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, 
bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma 
cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta 
inocência como têm em mostrar o rosto. (...) 
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, 
com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão 
altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem 
olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (...) 
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a 
qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, 
tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, 
fizera vergonha, por não terem a sua como ela. (...) 
O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma 
alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande 
ao pescoço. (...) Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou 
d'acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia 
que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo 
acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. 
(...) 
Literatura p/ ENEM 
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Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de 
metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares 
frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo 
d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal 
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa 
das águas que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me 
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa 
Alteza em ela deve lançar. (...) 
 
capitão-mor: trata-se de Pedro Álvares Cabral. 
conta: relato. 
oitavas de Páscoa: semana que vai desde o domingo dePáscoa até o domingo seguinte. 
horas de véspera: final da tarde. 
chã: plana. 
cousa: coisa. 
vergonhas: órgãos sexais. 
çarradinhas: alguns historiadores consideram "saradinhas", isto é, sem doenças, e outros 
consideram "cerradinhas", isto é, densas. 
tinta: tingida. 
alcatifa: tapete, que cobre ou se estende. 
Entre-Douro-e-Minho: antiga província de Portugal. 
 
 
Original da Carta de Caminha 
 
É bom ler sobre o Brasil de antigamente, não é? A literatura informativa 
satisfaz a curiosidade a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de vida, 
oferecendo o encanto das narrativas de viagem. Para os historiadores, os 
textos são fontes obrigatórias de pesquisa. Mais adiante, com o movimento 
modernista, esses textos foram retomados pelos escritores brasileiros, como 
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Oswald de Andrade, como forma de denúncia da exploração a que o país 
sofrera desde então. 
 
 
A carta de Caminha não foi o único documento informativo do 
Quinhentismo, veja os principais documentos que compõem a nossa literatura 
informativa: 
1. Carta do descobrimento (Pero Vaz de Caminha): foi escrita no ano de 
1500 e publicada pela primeira vez em 1817. 
2. Tratado da terra do Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): foi escrito por 
volta de 1570 e impresso pela primeira vez em 1826. 
3. História da Província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos 
Brasil (Pero de Magalhães Gândavo): foi editado em 1576. 
4. Diálogo sobre a conversão dos gentios (Padre Manuel da Nóbrega): foi 
escrito em 1557 e impresso em 1880. 
5. Tratado descritivo do Brasil (Gabriel Soares de Sousa): escrito em 1587 
e impresso por volta de 1839. 
 
 
A carta escrita por Pero Vaz de Caminha, que é hoje a mais famosa do 
período, não foi publicada logo que chegou às mãos do rei de Portugal. Por 
conter grande valor e detalhar a riqueza do Brasil, o monarca escondeu o 
documento que só veia a público em 1817, quase três séculos depois!!! 
 
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LITERATURA JESUÍTICA 
 
Os portugueses não buscavam apenas expansão territorial em suas 
navegações. Com a igreja católica enfraquecida, era importante salvar os 
gentios e angariar assim mais fiéis para a igreja. Foi por esse motivo que 
muitos jesuítas foram desbravar os mares com os navegadores. 
Com o Brasil não foi diferente. Como consequência da Contrarreforma, 
chegam, em 1549, os primeiros jesuítas ao Brasil. Incumbidos de catequizar 
os índios e de instalar o ensino público no país, fundaram os primeiros 
colégios, que foram, durante muito tempo, a única atividade intelectual 
existente na colônia. 
Devemos dizer que os jesuítas foram responsáveis pela melhor 
produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de 
devoção, cultivaram o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens 
bíblicas, e produziram documentos que informavam aos superiores na Europa 
o andamento dos trabalhos. 
O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos 
jesuítas (moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar os índios) foi 
o teatro. Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, utilizando-a 
como veículo de expressão. Os índios não eram apenas espectadores das 
peças teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores. 
 
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram 
o padre Manuel da Nóbrega, o missionário Fernão Cardim e o padre José de 
Anchieta, de quem falaremos com mais detalhes a seguir: 
 
 
 
 
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José de Anchieta (1534 - 1597) 
 
Nascido em 1534 na ilha de Tenerife, Canárias, o padre da Companhia de 
Jesus veio para o Brasil em 1553 e fundou, no ano seguinte, um colégio na 
região da então cidade de São Paulo. Faleceu na atual cidade de Anchieta, 
litoral do Espírito Santo, em 1597. 
Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé branco"), Anchieta deixou 
como legado a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha 
para o ensino da língua dos nativos (Arte da gramática da língua mais usada 
na costa do Brasil). Destacou-se também por suas poesias e autos, nos quais 
misturava a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas. 
 
Peça teatral mais famosa 
 
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, 
escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi, 
português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer 
queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta intentou conciliar os valores 
católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da 
nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, 
sem que isso significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos 
espetáculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das 
encenações saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o 
jogo coreográfico, a cor, o som. 
 
Anchieta também deixou obras de grande valor poético. Os poemas mais 
conhecidos dele VmR�� ³'R� 6DQWtVVLPR� 6DFUDPHQWR´� H� ³$� 6DQWD� ,QrV´�� 9HMD��
abaixo, um trecho do poema: 
 
 
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A Santa Inês 
 
Cordeirinha linda, 
Como folga¹ o povo, 
Porque vossa vinda 
Lhe dá lume² novo! 
Cordeirinha santa, 
De Jesus querida, 
Vossa santa vida 
 
O Diabo espanta. 
Por isso vos canta 
Com prazer o povo, 
Porque vossa vinda 
 
Lhe dá lume novo. 
Nossa culpa escura 
Fugirá depressa, 
Pois vossa cabeça 
 
Vem com luz tão pura. 
Vossa formosura 
Honra é do povo, 
Porque vossa vinda 
 
Lhe dá lume novo. 
 
 
 
Virginal cabeça, 
Pela fé cortada, 
Com vossa chegada 
 
Já ninguém pereça; 
Vinde mui depressa 
Ajudar o povo, 
Pois com vossa vinda 
Lhe dais lume novo. 
 
Vós sois cordeirinha 
De Jesus Formoso; 
Mas o vosso Esposo 
 
já vos fez Rainha. 
Também padeirinha 
Sois do vosso Povo, 
pois com vossa vinda, 
Lhe dais trigo novo. 
 
 ¹folga: se alegra 
 ²lume: luz 
 
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Esse poema fala do confronto entre o bem e o mal com bastante 
simplicidade: a chegada de Santa Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo 
revigora sua fé. A linguagem é clara, as ideias são facilmente compreensíveis e 
o ritmo faz com que os versos tenham musicalidade, ajudando o poeta a 
envolver o ouvinte e a sensibilizá-lo para sua mensagem religiosa. 
 
 
 
 
ENEM/2009 
 
 
Eckhout 
Literatura p/ ENEM 
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Profª Rafaela Freitas www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 88$�IHLomR�GHOHV�p�VHUHP�SDUGRV��PDQHLUD�G¶DYHUPHOKDGRV��GH�ERQV�URVtos e 
bons narizes, bem feitos. 
Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa 
cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência 
como têm em mostrar o rosto. 
(CAMINHA, P. V. A carta. www.dominiopublico.gov.br.) 
 
 
Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do 
texto de Caminha, conclui-se que: 
a) ambos se identificam pelas características estéticas marcantes, como 
tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas. 
b) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira 
realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. 
c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é 
representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. 
d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia 
e a cultura indígena. 
e) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o 
índio representado é objeto da catequização jesuítica. 
 
Comentário: observem, alunos, que a pintura mostra exatamente o que o 
texto diz quando descreve a naturalidade com que os índios se portavam, 
andando nus, sem vergonha de seus corpos, sem esconder suas faces - na 
pintura, o índio observa o espectador. Eles eram culturalmente assim e não 
imaginavam estar ofendendo ninguém. 
GABARITO: C 
 
 
 
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BARROCO 
 
Estamos entrando agora no período do exagero, da antítese, do homem 
em meio ao céu e ao inferno sem saber para que lado seguir. O período 
conhecido como Barroco é constituído pelas primeiras manifestações literárias 
genuinamente brasileiras ocorridas no Brasil Colônia, embora diretamente 
influenciadas pelo barroco português. 
O termo BARROCO denomina genericamente todas as manifestações 
artísticas dos anos 1600 e início dos anos 1700, por isso também chamado de 
seiscentismo. Além da literatura, estende-se à música, pintura, escultura e 
arquitetura da época. 
 
"Vaidade" (sem data), de Domenico Piola 
 
Contexto Histórico 
 
Impossível estudar o período BARROCO sem conhecer o contexto histórico 
que o motivou! Após o Concílio de Trento, o Catolicismo sofreu grande 
reformulação. Em resposta à Reforma protestante, a disciplina e a autoridade 
da Igreja de Roma foram restauradas, estabelecendo-se a divisão da 
cristandade entre protestantes e católicos. 
Devemos lembrar que o Renascimento trouxe confiança e outros valores 
para os homens, ao antropocentrismo renascentista (valorização do 
homem) opôs-se o teocentrismo (Deus como centro de tudo), inspirado nas 
tradições medievais. O homem via-se então entre duas realidades: 
Nos Estados protestantes, onde as condições sociais foram mais 
favoráveis à liberdade de pensamento, o racionalismo e a curiosidade científica 
do Renascimento continuaram a se desenvolver. Já nos Estados católicos, 
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sobretudo na Península Ibérica, desenvolveu-se o movimento chamado 
Contrarreforma, que procurou reprimir todas as tentativas de manifestações 
culturais ou religiosas contrárias às determinações da Igreja Católica. Nesse 
período, a Companhia de Jesus passa a dominar quase que inteiramente o 
ensino, exercendo papel importantíssimo na difusão do pensamento aprovado 
pelo Concílio de Trento. O clima geral era de austeridade e repressão. 
Essa situação contraditória resultou em um movimento artístico que 
expressava também atitudes contraditórias do artista em face do 
mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo; esse movimento 
recebeu o nome de Barroco. 
O homem busca a salvação de forma angustiada, está colocado entre o 
céu e a terra, consciente de sua grandeza mas atormentado pela ideia de 
pecado. Os sentimentos se exaltam, as paixões não são mais controladas pela 
razão, e o desejo de exprimir esses estados de alma vai se realizar por meio 
de antíteses, paradoxos e interrogações. Essa oscilação que leva o homem do 
céu ao inferno, que mostra sua dimensão carnal e espiritual, é uma das 
principais características da literatura barroca. Os escritores barrocos abusam 
do jogo de palavras (cultismo) e do jogo de ideias ou conceitos (conceptismo). 
 
Temas frequentes na Literatura Barroca: 
- fugacidade da vida e instabilidade das coisas; 
- morte, expressão máxima da efemeridade das coisas; 
- concepção do tempo como agente da morte e da dissolução das coisas; 
- castigo, como decorrência do pecado; 
- arrependimento; 
- narração de cenas trágicas; 
- erotismo; 
- misticismo; 
- apelo à religião. 
 
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Cultismo e conceptismo 
 
O cultismo caracteriza-se pelo uso de linguagem rebuscada, culta, 
extravagante, repleta de jogos de palavras e do emprego abusivo de figuras de 
estilo, como a metáfora e a hipérbole. Veja um exemplo de poesia cultista: 
 
Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, A quem 
infiéis despedaçaram 
 
O todo sem a parte não é todo; 
A parte sem o todo não é parte; 
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, 
Não se diga que é parte, sendo o todo. (Gregório de Matos) 
 
Já o conceptismo, que ocorre principalmente na prosa, é marcado pelo 
jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, nacionalista, que 
utiliza uma retórica aprimorada. A organização da frase obedece a uma ordem 
rigorosa, com o intuito de convencer e ensinar. Veja um exemplo de prosa 
conceptista: 
 
Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, 
espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se 
tem espelhos e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há 
mister¹ luz, há mister espelho e há mister olhos. (Pe. Antônio Vieira) 
 
¹mister: necessidade de, precisão. 
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Figuras de Linguagem no Barroco 
 
Como o homem tentava expor seus sentimentos por meio da arte, as 
figuras de linguagem aparecem bastante nas poesias. Vejam as que mais 
aparecem: 
 
Metáfora: é uma comparação implícita. Tem-se como exemplo o trecho a 
seguir, escrito por Gregório de Matos: 
 
Se és fogo, como passas brandamente? 
Se és neve, como queimas com porfia? 
 
Antítese: é a principal figura de linguagem barroca, pois reflete a 
contradição do homem, seu dualismo. Revela o contraste que o escritor vê em 
quase tudo. Observe a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual é 
descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes: 
 
Vista por fora é pouco apetecida 
Porque aos olhos por feia é parecida; 
Porém, dentro habitada 
É muito bela, muito desejada, 
É como a concha tosca e deslustrosa, 
Que dentro cria a pérola formosa. 
 
Paradoxo: corresponde à união de duas ideias contrárias num só 
pensamento. Opõe-se ao racionalismo da arterenascentista. Veja a estrofe a 
seguir, de Gregório de Matos: 
 
 
Literatura p/ ENEM 
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Ardor em firme Coração nascido; 
pranto por belos olhos derramado; 
incêndio em mares de água disfarçado; 
rio de neve em fogo convertido. 
 
Hipérbole: traduz ideia de grandiosidade, pompa, exagero. Veja mais um 
exemplo de Gregório de Matos: 
 
É a vaidade, Fábio, nesta vida, 
Rosa, que da manhã lisonjeada, 
Púrpuras mil, com ambição dourada, 
Airosa rompe, arrasta presumida. 
 
Prosopopeia: personificação de seres inanimados para dinamizar a 
realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antonio Vieira: 
 
No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptível, na águia o 
sublime, no Leão o generoso, no Sol o excesso de Luz. 
 
Arte Barroca 
 
Trata-se de uma arte rebuscada que tentava captar a realidade em pleno 
movimento. Mais do que estrutura, porém, o que se buscava era o 
embelezamento de portas e janelas e da ornamentação de interiores. As 
colunas, altares e púlpitos eram recobertos com espirais, flores e anjos ± 
revestidos de ouro ±, numa integração da pintura, escultura e arquitetura, 
exercendo sobre o espectador uma grande atração visual. No Brasil, a 
exploração do ouro e de pedras preciosas na região de Minas Gerais 
impulsionou a produção da arte barroca. 
 
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Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife (PE), uma das glórias do barroco brasileiro. 
 
A grande marca do BARROCO na decoração das igrejas era o revestimento 
em outro, o que demonstrava para os fiéis o grande poder e riqueza da 
instituição católica. 
 
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Última Ceia (1795-1796), do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho 
 
A influência barroca manifestou-se claramente nas pinturas feitas em 
tetos e paredes de igrejas e palácios. As cenas e elementos arquitetônicos 
(colunas, escadas, balcões, degraus) proporcionavam uma incrível ilusão de 
movimento e ampliação de espaço, chegando, em alguns casos, a dar a 
impressão de que a pintura era a realidade, e a parede, de fato, não existisse. 
 
 
Afresco da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), por Manuel da Costa 
Athayde 
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Aleijadinho 
 
Antônio Francisco Lisboa, nosso querido Aleijadinho, nasceu por volta de 
1730 em Ouro preto, mineirinho do bão, uai! Orgulho de minha Minas Gerais. 
Sua trajetória é praticamente construída pelas obras que deixou como 
escultor, entalhador e arquiteto, pois os principais documentos sobre sua vida 
só foram escritos por volta de 40 anos depois de sua morte. 
Toda sua obra, entre talha, projetos arquitetônicos, relevos e estatuária, 
foi realizada em Minas Gerais, especialmente nas cidades de Ouro Preto, 
Sabará, São João del-Rei e Congonhas. Os principais monumentos que contém 
suas obras são a Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto e o Santuário 
do Bom Jesus de Matosinhos. 
Veja a seguir, algumas obras deixadas pelo mineiro: 
 
Retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco em São João del-Rei 
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Projeto para a fachada da Igreja de São Francisco em São João del-Rei 
 
 
Cena do carregamento da cruz, na Via Sacra de Congonhas 
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Relevo no pórtico da Igreja de São Francisco em São João del-Rei 
 
 
Barroco no Brasil 
 
O Barroco foi introduzido no Brasil por intermédio dos jesuítas. 
Inicialmente, no final do século XVI, tratava-se de um movimento apenas 
destinado à catequização. A partir do século XVII, o Barroco passa a se 
expandir para os centros de produção açucareira, especialmente na Bahia, por 
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meio das igrejas. Assim, a função da igreja era ensinar o caminho da 
religiosidade e da moral a uma população que vivia desregradamente. 
Nos séculos XVII e XVIII não havia ainda condições para a formação de 
uma consciência literária brasileira. A vida social no país era organizada em 
função de pequenos núcleos econômicos, não existindo efetivamente um 
público leitor para as obras literárias, o que só viria a ocorrer no século XIX. 
Por esse motivo, fala-se apenas em autores brasileiros com características 
barrocas, influenciados por fontes estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas 
que não chegaram a constituir um movimento propriamente dito. Nesse 
contexto, merecem destaque a poesia de Gregório de Matos Guerra e a prosa 
do padre Antônio Vieira representada pelos seus sermões. 
 
Autores 
 
Gregório de Matos Guerra: o Boca do Inferno 
 
 
Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador (BA) 
e morreu em Recife (PE). Estudou no colégio dos 
jesuítas e formou-se em Direito em Coimbra 
(Portugal). Recebeu o apelido de Boca do Inferno, 
graças a sua irreverente obra satírica. 
 
Gregório de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou a 
poesia lírica, satírica, erótica e religiosa. O que se conhece de sua obra é fruto 
de inúmeras pesquisas, pois Gregório não publicou seus poemas em vida. Por 
essa razão, há dúvidas quanto à autenticidade de muitos textos que lhe são 
atribuídos. 
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O poeta religioso 
 
A preocupação religiosa do escritor revela-se no grande número de textos 
que tratam do tema da salvação espiritual do homem. No soneto a seguir, o 
poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver 
pecado, e promete redimir-se. Observe: 
 
Soneto a Nosso Senhor 
 
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinquido 
Vos tem a perdoar mais empenhado. 
 
Se basta a voz irar tanto pecado, 
A abrandar-vos sobeja um só gemido: 
Que a mesma culpa que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado. 
 
Se uma ovelha perdida e já cobrada 
Glória tal e prazer tão repentino 
Vos deu, como afirmais na sacra história. 
 
Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada, 
Recobrai-a; e não queirais, pastor divino, 
Perder na vossa ovelha a vossa glória. 
 
 
 
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O poeta satírico 
 
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação 
econômica da Bahia, especialmente de Salvador, graças à expansão econômica 
chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então governador da Bahia Antonio 
Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja e a religiosidade 
presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras 
rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos 
 
Triste Bahia 
 
Triste Bahia! 
ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado! 
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante. 
 
A ti tricou-te a máquina mercante, 
Que em tua larga barra tem entrado, 
A mim foi-me trocando e, tem trocado, 
Tanto negócio e tanto negociante. 
 
O poeta lírico 
 
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado 
em face à vida, à religião e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela 
sua amada, uma mulher bela que é constantemente comparada aos elementos 
da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos 
corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado. 
 
 
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À mesma d. Ângela 
 
Anjo no nome, Angélica na cara! 
Isso é ser flor, e Anjo juntamente: 
Ser Angélica flor, e Anjo florente, 
Em quem, senão em vós, se uniformara: 
 
Quem vira uma tal flor, que a não cortara, 
De verde pé, da rama fluorescente; 
E quem um Anjo vira tão luzente, 
Que por seu Deus o não idolatrara? 
 
Se pois como Anjo sois dos meus altares, 
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda, 
Livrara eu de diabólicos azares. 
 
Mas vejo, que por bela, e por galharda, 
Posto que os Anjos nunca dão pesares, 
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. 
 
Padre Antônio Vieira 
 
Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e 
morreu na Bahia, em 1697. Com sete anos de 
idade, veio para o Brasil e entrou para a Companhia 
de Jesus. Por defender posições favoráveis aos 
índios e aos judeus, foi condenado à prisão pela 
Inquisição, onde ficou por dois anos. 
Padre Antônio Vieira, por Arnold van Westerhout (1651-1725) 
 
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Responsável pelo desenvolvimento da prosa no período do barroco, Padre 
Antônio Vieira é conhecido por seus sermões polêmicos em que critica, entre 
outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influência negativa que 
o Protestantismo exerceria na colônia, os pregadores que não cumpriam com 
seu ofício de catequizar e evangelizar (seus adversários católicos) e a própria 
Inquisição. Além disso, defendia os índios e sua evangelização, condenando os 
horrores vivenciados por eles nas mãos de colonos e os cristãos-novos (judeus 
convertidos ao Catolicismo) que aqui se instalaram. Famoso por seus sermões, 
padre Antônio Vieira também se dedicou a escrever cartas e profecias. 
 
Os sermões 
 
Em estilo conceptista, escreveu cerca de duzentos sermões. Em seus 
textos, privilegia a retórica e o encadeamento lógico de ideias e conceitos. 
Estão formalmente divididos em três partes: 
 
I - Intróito ou Exórdio: a apresentação, introdução do assunto. 
II - Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na 
argumentação. 
III - Peroração: parte final, conclusão. 
 
Seus sermões mais mais famosos são: 
 
Sermão da Sexágésima (1655): 
 
O sermão, dividido em dez partes, é conhecido por tratar da arte de 
pregar. Nele, Padre Antônio Vieira condena aqueles que apenas pregam a 
palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a palavra de Deus era como uma 
semente, que deveria ser semeada pelo pregador. Por fim, o padre chega à 
conclusão de que, se a palavra de Deus não dá frutos no plano terreno a culpa 
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é única e exclusivamente dos pregadores que não cumprem direito a sua 
função. Leia um trecho do sermão: 
 
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que "saiu o pregador 
evangélico a semear" a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de 
Deus ão só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque 
no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os 
passos. (...) Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há 
outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à 
Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam 
com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que 
têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara 
tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah 
Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, 
com mais passos: Exiit seminare. (...) Ora, suposto que a conversão das almas 
por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e 
do ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou 
por parte do pregador, ou por parte de Deus? (...) 
 
Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de 
Holanda (1640): 
 
Neste sermão, o padre incita os seguidores a reagir contra as invasões 
Holandesas, alegando que a presença dos protestantes na colônia resultaria 
em uma série de depredações à colônia. Leia um trecho do sermão: 
 
Se acaso for assim ² o que vós não permitais ² e está determinado em 
vosso secreto juízo, que entrem os hereges na Bahia, o que só vos represento 
humildemente, e muito deveras, é que, antes da execução da sentença, 
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repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com 
vosso coração enquanto é tempo, porque melhor será arrepender agora, que 
quando o mal passado não tenha remédio. Bem estais na intenção e alusão 
com que digo isto, e na razão, fundada em vós mesmo, que tenho para o 
dizer. Também antes do dilúvio estáveis vós mui colérico e irado contra os 
homens, e por mais que Noé orava em todos aqueles cem anos, nunca houve 
remédio para que se aplacasse vossa ira. Romperam-se enfim as cataratas do 
céu, cresceu o mar até os cumes dos montes, alagou-se o mundo todo: já 
estaria satisfeita vossa justiça, senão quando ao terceiro dia começaram a 
boiar os corpos mortos, e a surgir e aparecer em multidão infinita aquelas 
figuras pálidas, e então se representou sobre as ondas a mais triste e funesta 
tragédia que nunca viram os anjos, que homens que a vissem, não os havia. 
 
 
Sermão de Santo Antônio (1654): 
 
Também conhecido como "O Sermão dos Peixes", pois nele o padre usa a 
imagem dos peixes como símbolo para fazer uma crítica aos vícios dos colonos 
portugueses que se aproveitavam da condição dos índios para escravizá-los e 
sujeitá-los ao seu poder. Leia um trecho do sermão:Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da 
terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o 
sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão 
corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual 
será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? (...) Enfim, que havemos de 
pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas 
boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera 
desconsolar o Pregador, que é serem gente os peixes que se não há-de 
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converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não 
sente (...) Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o 
vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no 
segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. (...) 
 
 
 
Quando Deus redimiu da tirania 
Da mão do Faraó endurecido 
O Povo Hebreu amado, e esclarecido, 
Páscoa ficou da redenção o dia. 
 
Páscoa de flores, dia de alegria 
Àquele Povo foi tão afligido 
O dia, em que por Deus foi redimido; 
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. 
 
Pois mandado pela alta Majestade 
Nos remiu de tão triste cativeiro, 
Nos livrou de tão vil calamidade. 
 
Quem pode ser senão um verdadeiro 
Deus, que veio estirpar desta cidade 
O Faraó do povo brasileiro. 
 
DAMASCENO, D.(Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006. 
 
 
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ENEM/2014 
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que 
apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta 
temática expressa por 
a) visão cética sobre as relações sociais. 
b) preocupação com a identidade brasileira. 
c) crítica velada à forma de governo vigente. 
d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo. 
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. 
 
Comentário: estamos diante de um soneto do autor baiano Gregório de 
Matos que apresenta uma intertextualidade (diálogo entre textos, uso de um 
texto já existente para embasar um novo). Percebe-se claramente que o autor 
faz referência às Sagradas Escrituras. Sabendo que poeta barroco utilizava sua 
literatura como meio de criticar a sociedade de sua época, ainda que o fizesse 
por meio de metáforas, como ocorre no texto acima, podemos confirmar a 
alternativa C como resposta correta. 
GABARITO: C 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ARCADISMO 
 
Começo falando sobre o Arcadismo comentando a tela a seguir: 
 
 
O Balanço (década de 1730), de Nicolas Lancret 
 
A obra de Lancret representa brilhantemente o que veio a ser o momento 
que seguiu o tão conflituoso Barroco. O Arcadismo é leveza, é o culto ao 
clássico, é estar junto à natureza. Vejam no quadro: ninfetas, festas, bebidas, 
uma ³balada´ na floresta. Este é o carpe diem ideal dos arcadistas. 
 
 
 
 
 
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O Arcadismo, movimento que também pode ser chamado de Setecentismo 
ou Neoclacissismo (retorno ao clássico renascentista), surgiu na Itália e se 
espalhou pelo mundo até chegar ao Brasil, no século XVIII. 
 
 
O nome faz referência à Arcádia, região do sul da Grécia que, por sua 
vez, foi nomeada em referência ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto). 
Arcádia é também a morada dos deuses. Viram como a mitologia grega 
perpassa o movimento? 
 
 
Algumas mudanças históricas mundiais marcaram o período, como: 
- a ascensão do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso 
e as ciências. 
- Independência dos Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para 
vários movimentos de independência ao longo de toda a América, como foi o 
caso do Brasil, que presenciou inúmeras revoluções e inconfidências até a 
chegada da Família Real em 1808. 
 - Revolução Francesa, todo apelo popular da revolução reforçaram as 
ideias iluministas no mundo. 
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Lemas árcades 
 
O movimento fazia oposição clara ao exagero e riqueza do Barroco. Para 
marcar tal posicionamento, os autores estipularam lemas que deveriam ser 
seguidos para uma vida feliz, simples e bucólica. Eram expressões em latim. 
Conheça algumas delas: 
 
Inutilia truncat: "cortar o inútil", referência aos excessos cometidos 
pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade. 
 
Fugere urbem: "fugir da cidade", do escritor clássico Horácio; 
 
Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento dos 
centros urbanos monárquicos; 
 
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do 
tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente. 
 
 
 
Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos 
burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um 
fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios. 
 
 
 
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O Arcadismo no Brasil 
 
Vamos ver o que o grande crítico literário Alfredo Bosi disse em seu livro 
História Concisa da Literatura Brasileira (São Paulo: editora Cultrix, 2006) 
sobre os dois momentos do Arcadismo no Brasil: 
 
a) poético: retorno à tradição clássica com a utilização dos seus modelos, 
e valorização da natureza e da mitologia. 
 
b) ideológico (engajada): influenciados pela filosofia presente no 
Iluminismo, que traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do 
clero. 
 
Seus principais autores são Cláudio Manoel da Costa, Tomás Antônio 
Gonzaga, Basílio da Gama e Santa Rita Durão. No Brasil, o ano convencionado 
para o início do Arcadismo é 1768, quando houve a publicação de Obras, do 
poeta Claudio Manoel da Costa. 
 
Arcádia Ultramarina 
 
Trata-se de uma sociedade literária fundada na cidade de Vila Rica (MG), 
influenciada pela Arcádia italiana (fundada em 1690) e cujos membros 
adotavam pseudônimos, isto é, nomes artísticos, de pastores cantados na 
poesia grega ou latina. Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo 
brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e 
romana. 
 
 
 
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Principais características 
 
- inspiração nos modelos clássicos greco-latinose renascentistas, como 
por exemplo, em O Uraguai (gênero épico), em Marília de Dirceu (gênero 
lírico) e em Cartas Chilenas (gênero satírico); 
- influência da filosofia francesa; 
- mitologia pagã como elemento estético; 
- o bom selvagem, expressão do filósofo Jean-Jacques Rousseau, denota a 
pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca pela vida 
simples, bucólica e pastoril; 
- tensão entre o burguês culto, da cidade, contra a aristocracia; 
- pastoralismo: poetas simples e humildes; 
- bucolismo: busca pelos valores da natureza; 
- nativismo: referências à terra e ao mundo natural; 
- tom confessional; 
- estado de espírito de espontaneidade dos sentimentos; 
- exaltação da pureza, da ingenuidade e da beleza. 
 
Principais Autores 
 
Cláudio Manoel da Costa (1729-1789) 
 
 
Cláudio Manoel da Costa, o poeta mineiro 
nascido em 1729, ilustrado por Newton Resende. 
 
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Usou o pseudônimo Glauceste Satúrnio. Ficou conhecido também como o 
"guardador de rebanhos". Cláudio Manoel da Costa nasceu na cidade de 
Mariana (em Minas Gerais). Estudou Direito em Coimbra, onde teve contato 
com as principais ideias do Iluminismo e, ao voltar para o Brasil, fundou da 
Arcádia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses que 
influenciou a elite intelectual da época. Por ter participado da Inconfidência 
Mineira, foi preso e encontrado enforcado na cadeia em 1789. 
Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexões morais e das 
contradições da vida com forte inspiração nos modelos barrocos. 
Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a natureza 
funciona como um refúgio para o poeta que busca a vida longe da cidade e 
reflete o as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessível Nise. 
Estes poemas fazem parte do conjunto intitulado Obras (1768). 
Cláudio Manoel da Costa também se dedicou à exaltação dos 
bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região mineradora e 
desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade de Ouro 
Preto no poemeto épico Vila Rica (1773). 
 
Veja um exemplo de sua poesia bucólica: 
 
Sonetos X 
 
Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo, 
Porás a ovelha branca, e o cajado; 
E ambos ao som da flauta magoado 
Podemos competir de extremo a extremo. 
 
Principia, pastor; que eu te não temo; 
Inda que sejas tão avantajado 
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No cântico amebeu: para louvado 
Escolhamos embora o velho Alcemo. 
 
Que esperas? Toma a flauta, principia; 
Eu quero acompanhar te; os horizontes 
Já se enchem de prazer, e de alegria: 
 
Parece, que estes prados, e estas fontes 
Já sabem, que é o assunto da porfia 
Nise, a melhor pastora destes montes. 
 
 
E de sua poesia épica: 
 
Vila Rica 
Canto VI 
 
Levados de fervor, que o peito encerra 
Vês os Paulistas, animosa gente, 
Que ao Rei procuram do metal luzente 
Co'as próprias mãos enriquecer o erário. 
Arzão é este, é Este, o temerário, 
Que da Casca os sertões tentou primeiro: 
Vê qual despreza o nobre aventureiro, 
Os laços e as traições, que lhe prepara 
Do cruento gentio a fome avara. 
 
 
 
 
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Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) 
 
 
Tomás Antônio Gonzaga, poeta árcade, ilustrdo por 
artista desconhecido. Patrono da cadeira de número 37 
da Academia Brasileira de Letras, Gonzaga deixou 
como legado importantes obra líricas e satíricas. 
 
 
Nasceu na cidade de Porto, em Portugal, porém, filho de mãe portuguesa 
e pai brasileiro, vive parte da vida no Brasil. Formado em Direito pela 
Universidade de Coimbra, muda para o Brasil para trabalhar como ouvidor e 
juiz. Aqui, pretendia se casar com a jovem Maria Dorotéia Joaquina de Seixas 
Brandão, sua musa Marília. 
No entanto, como participara da Inconfidência Mineira, é preso e levado 
para o Rio de Janeiro. Quando sai da prisão, muda-se para Moçambique, na 
África, onde casa com Juliana de Sousa Mascarenhas. 
Tomás Antônio Gonzaga é o pastor Dirceu, pseudônimo criado pelo poeta 
para seu conjunto de liras famosas intitulado Marília de Dirceu, publicadas em 
três partes nos anos de 1792, 1799 e 1812. Nessa obra, Dirceu é o pastor que 
cultiva o ideal da vida campestre, que vive entre ovelhas em uma choupana e 
aproveita o momento presente ao lado da amada Marília. 
 
 
 
 
 
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Lira I 
 
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, 
Que viva de guardar alheio gado; 
'H�WRVFR�WUDWR��G¶H[SUHVV}HV�JURVVHLUR� 
Dos frios gelos, e dos sóis queimado. 
Tenho próprio casal, e nele assisto; 
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; 
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, 
E mais as finas lãs, de que me visto. 
 
Graças, Marília bela, 
Graças à minha Estrela! 
 
Lira XIX 
 
Enquanto pasta alegre o manso gado, 
Minha bela Marília, nos sentemos 
À sombra deste cedro levantado. 
 
Um pouco meditemos 
Na regular beleza, 
Que em tudo quanto vive, nos descobre 
A sábia natureza. 
 
Atende, como aquela vaca preta 
O novilhinho seu dos mais separa, 
E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. 
Atende mais, ó cara, 
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Como a ruiva cadela 
Suporta que lhe morda o filho o corpo, 
E salte em cima dela. 
 
Repara, como cheia de ternura 
Entre as asas ao filho essa ave aquenta, 
Como aquela esgravata a terra dura, 
E os seus assim sustenta; 
Como se encoleriza, 
E salta sem receio a todo o vulto, 
Que junto deles pisa. 
 
Que gosto não terá a esposa amante, 
Quando der ao filhinho o peito brando, 
E refletir então no seu semblante! 
Quando, Marília, quando 
'LVVHU�FRQVLJR��³e�HVWD 
³'H�WHX�TXHULGR�SDL�D�mesma barba, 
³$�PHVPD�ERFD��H�WHVWD�´ 
 
Lira XV 
 
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro, 
Fui honrado Pastor da tua aldeia; 
Vestia finas lãs, e tinha sempre 
A minha choça do preciso cheia. 
Tiraram-me o casal, e o manso gado, 
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado. 
 
 
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Como aponta o crítico Alfredo Bosi em seu História Concisa da Literatura 
Brasileira (São Paulo: Cultrix, 2006), há uma mudança na cor dos cabelos de 
Marília, que ora são negros, ora dourados, como se pode observar nos trechos 
a seguir: 
 
Os seus compridos cabelos, 
que sobre as costas odeiam, 
são que os de Apolo mais belos, 
mas de loura cor não são. 
Têm a cor da negra noite; 
e com o branco do rostofazem, Marília, um composto 
da mais formosa união. 
 
Em outra passagem, observa-se: 
 
Os teus olhos espelham a luz divina, 
a quem a luz do sol em vão se atreve; 
papoila ou rosa delicada e fina 
te cobre as faces, que são da cor da neve. 
Os teus cabelos sao uns fios d'ouro; 
teu lindo corpo bálsamos vapora. 
 
Essa oscilação, segundo o crítico, demonstraria o compromisso árcade 
entre o real e os padrões de beleza do lirismo inspirado no poeta clássico 
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Petrarca. Outra oscilação presente nos poemas é entre o pastor bucólico e o 
intelectual da cidade. 
Percebe-se, no entanto, uma mudança considerável no discurso do poeta, 
coincidindo com a época em que o autor esteve preso e passa a refletir sobre 
as angústias do aprisionamento, a justiça e o destino dos homens. 
Cabe ressaltar, no entanto, que, embora o conjunto de liras seja dedicado 
à amada Marília, em momento algum temos a voz da personagem idealizada. É 
apenas Dirceu quem discorre acerca dos seus sentimentos. Segundo alguns 
críticos literários, esse fato é um reflexo da sociedade patriarcal em que 
Gonzaga vivia, não permitindo que suas personagens pudessem expressar 
suas vozes. 
Por fim, Tomás Antônio Gonzaga também ficou conhecido por suas Cartas 
Chilenas, compostas por 13 poemas satíricos escritos antes da Inconfidência 
Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens e pseudônimos: aqui, Critilo 
assina as cartas e as envia para Doroteu. O conteúdo das "cartas" são críticas 
ao suposto governador do Chile (onde vive Critilo) Fanfarrão Minésio, uma 
referência ao governador de Minas Gerais Luís da Cunha Meneses. Veja um 
exemplo: 
 
Amigo Doroteu, prezado amigo, 
Abre os olhos, boceja, estende os braços 
E limpa, das pestanas carregadas, 
O pegajoso humor, que o sono ajunta. 
Critilo, o teu Critilo é quem te chama; 
Ergue a cabeça da engomada fronha 
Acorda, se ouvir queres coisas raras. 
 
(...) 
 
Ah! pobre Chile, que desgraça esperas! 
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Quanto melhor te fora se sentisses 
As pragas, que no Egito se choraram, 
Do que veres que sobe ao teu governo 
Carrancudo casquilho, a quem rodeiam 
Os néscios, os marotos e os peraltas! 
Seguido, pois, dos grandes entra o chefe 
No nosso Santiago junto à noite. 
A casa me recolho e cheio destas 
Tristíssimas imagens, no discurso, 
Mil coisas feias, sem querer, revolvo. 
Por ver se a dor divirto, vou sentar-me 
Na janela da sala e ao ar levanto 
Os olhos já molhados. Céus, que vejo! 
Não vejo estrelas que, serenas, brilhem, 
Nem vejo a lua que prateia os mares: 
Vejo um grande cometa, a quem os doutos 
Caudato apelidaram. Este cobre 
$�WHUUD�WRGD�FR¶�GLVIRUPH�UDER� 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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01. (ENEM/2013) 
 
TEXTO I 
 
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco 
começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos 
ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos 
trocaram por carapuças ou por qualqXHU�FRLVD�TXH�OKHV�GDYDP��>«@�$QGDYDP�
todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que 
muito agradavam. 
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento). 
 
TEXTO II 
 
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm 
Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013. (Foto: Reprodução) 
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Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de 
Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. 
Da leitura dos textos, constata-se que: 
a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras 
manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se 
apenas com a estética literária. 
b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja 
grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação 
de uma linguagem moderna. 
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do 
colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a 
inquietação dos nativos. 
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes ± verbal e 
não verbal ±, cumprem a mesma função social e artística. 
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos 
étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico, retratando 
a colonização. 
 
Comentários: A carta de Caminha foi um importante documento escrito no 
século XVI que apresentou para o povo europeu os relatos do escriba 
português sobre sua viagem ao novo continente. A carta apresenta a 
perspectiva do colonizador durante sua estadia e ajudou a difundir o 
imaginário do índio na Europa. 
Séculos depois, o pintor Candido Portinari retratou em sua pintura mural 
"O Descobrimento do Brasil" a chegada dos portugueses no Brasil pela 
perspectiva dos índios, que se inquietam ao observar a vinda dos estrangeiros. 
GABARITO: C 
 
02. (UEL) O estilo barroco chega ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, 
sobretudo portugueses. Desenvolve-se no século XVIII, 100 anos após o 
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surgimento do Barroco na Europa, ± UHFHEH� LQÀXrQFLDV� WDQWR� SRUWXJXHVDV�
quanto francesas, italianas e espanholas. Em Minas Gerais, a expressão 
estética tanto deverá corresponder às solicitações dos elementos transpostos, 
FRPR�GRV�HOHPHQWRV�ORFDLV�HVSRQWkQHRV��,VVR�YDL�VH�YHUL¿FDU�WDQWR�HP relação 
aos fatores estruturais, como no que diz respeito às ideias, aos conhecimentos 
e valores. 
(Adaptado: MACHADO, L. R. Barroco Mineiro. São Paulo: Perspectiva, 1983. p. 167-169.) 
 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o barroco mineiro, 
consideUH�DV�D¿UPDWLYDV�D�VHJXLU� 
 
I. Nascido da herança europeia, o barroco mineiro é uma arte que traz em 
si o diálogo entre sua origem e um novo contexto, caracterizando-se como um 
meio de expressão ao mesmo tempo barroco e mineiro. 
II. O aspecto social contemporâneo à chegada do barroco a Minas 
contribuiu para que sua organização fosse caótica e para que as características 
desse movimento acabassem contrastando com a vida mineira. 
III. Posto em contato com o clima de efervescência cultural e com as 
descobertas no campo estético de Minas, o barroco mineiro rompeu com a 
ideia do barroco universal e se destacou pela ambivalência. 
IV. Os elementos transpostos pelos colonizadores apresentavam em suas 
raízes algumas semelhanças com o universo mineiro, mas o poder instituído 
pela Academia Nacional de Belas Artes encaminhou o movimento para rumos 
distintos. 
 
Assinale a alternativa correta. 
 
D��6RPHQWH�DV�D¿UPDWLYDV�,�H�,,�VmR�FRUUHWDV�E��6RPHQWH�DV�D¿UPDWLYDV�,�H�,,,�VmR�FRUUHWDV� 
F��6RPHQWH�DV�D¿UPDWLYDV�,,�H�,9�VmR�FRUUHWDV� 
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G��6RPHQWH�DV�D¿UPDWLYDV�,��,,,�H�,9�VmR�FRUUHWDV� 
H��6RPHQWH�DV�D¿UPDWLYDV�,,��,,,�H�,9�VmR�FRUUHWDV� 
 
Comentário: O barroco mineiro apresenta características regionais, em 
contraposição ao barroco europeu. No Brasil, o barroco se fez presente 
principalmente nas zonas com produção de cana-de-açúcar e mineração. 
Dentre suas principais características, estão a ornamentação de igrejas com 
ouro e rebuscados detalhes em janelas, portas, etc. Isso feito para enfatizar o 
poderio da Igreja católica. Diferente do barroco europeu, que visava o campo 
do universal (privação de elementos locais em prol de uma arte que aborde 
temas universais), o barroco mineiro colocou muito dos elementos culturais 
locais em sua expressão, como a já citada presença do ouro em diversos 
elementos das igrejas e traços locais em feições sacras. 
GABARITO: B 
 
03. (UFV) Leia a estrofe abaixo e faça o que se pede: 
 
Dos vícios já desligados 
nos pajés não crendo mais, 
nem suas danças rituais, 
nem seus mágicos cuidados. 
 
(ANCHIETA, José de. O auto de São Lourenço [tradução e adaptação de Walmir Ayala] 
Rio de Janeiro: Ediouro[s.d.]p. 110) 
 
Assinale a afirmativa verdadeira, considerando a estrofe acima, 
pronunciada pelos meninos índios em procissão: 
a) Os meninos índios representam o processo de aculturação em sua 
concretude mais visível, como produto final de todo um empreendimento do 
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qual participaram com igual empenho a Coroa Portuguesa e a Companhia de 
Jesus. 
b) A presença dos meninos índios representa uma síntese perfeita e 
acabada daquilo que se convencionou chamar de literatura informativa. 
c) Os meninos índios estão afirmando os valores de sua própria cultura, 
ao mencionar as danças rituais e as magias praticadas pelos pajés. 
d) Os meninos índios são figuras alegóricas cuja construção como 
personagens atende a todos os requintes da dramaturgia renascentista. 
e) Os meninos índios representam a revolta dos nativos contra a 
catequese trazida pelos jesuítas, de quem querem libertar-se tão logo seja 
possível. 
 
Comentário: O trecho do auto de José de Anchieta, que diz respeito à 
aculturação dos líderes indígenas, fica ainda mais forte simbolicamente 
quando somos informados que os próprios índios curumins eram colocados 
para recitar o auto sobre a perda da identidade de seu povo. As Missões 
Jesuíticas mandadas pela Coroa Portuguesa ao Brasil tinham justamente essa 
função de impor a fé e cultura católica sobre os costumes e tradições 
indígenas. 
GABARITO: A 
 
04. (ENEM 2014) 
 
Quando Deus redimiu da tirania 
Da mão do Faraó endurecido 
O Povo Hebreu amado, e esclarecido, 
Páscoa ficou da redenção o dia. 
 
Páscoa de flores, dia de alegria 
Àquele povo foi tão afligido 
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O dia, em que por Deus foi redimido; 
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. 
 
Pois mandado pela Alta Majestade 
Nos remiu de tão triste cativeiro, 
Nos livrou de tão vil calamidade. 
 
Quem pode ser senão um verdadeiro 
Deus, que veio estirpar desta cidade 
o Faraó do povo brasileiro. 
 
(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006) 
 
Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que 
apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta 
temática expressa por 
a) visão cética sobre as relações sociais. 
b) preocupação coma identidade brasileira. 
c) crítica velada à forma de governo vigente. 
d) reflexão sobre dogmas do Cristianismo. 
e) questionamento das práticas pagãs na Bahia. 
 
Comentário: Gregório de Matos, também conhecido como Boca do 
Inferno, foi famoso por seus diversos inimigos políticos adquiridos pela 
produção de seus poemas. Aqui podemos ver um apelo à figura de Deus para 
que livre o povo brasileiro (principalmente na Bahia) do "Faraó" tirano e 
endurecido. 
GABARITO: C 
 
 
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05. (ENEM 2014) 
 
BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. 
(Foto: Reprodução/Enem) 
 
Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, 
a escultura barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu e está 
representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de 
Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho. 
Profundamente religiosa, sua obra revela: 
a) liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação. 
b) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas 
Gerais. 
c) simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do 
divino. 
d) personalidade, modelando uma imagem sacra com feições 
populares. 
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e) singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras 
divinas 
 
Comentário: O Barroco foi um período histórico, no qual encontramos um 
forte apelo ao misticismo e à religião. No Brasil, foi marcado pelo trabalho de 
Aleijadinho, que impelia sua personalidade em suas obras, retratando o próprio 
povo em suas esculturas sacras. 
GABARITO: D 
 
As questões 6 e 7 referem-se ao seguinte texto: 
 
Torno a ver-vos, ó montes; o destino (verso 1) 
Aqui me torna a pôr nestes outeiros, 
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros 
Pelo traje da Corte, rico e fino. (verso 4) 
 
Aqui estou entre Almendro, entre Corino, 
Os meus fiéis, meus doces companheiros, 
Vendo correr os míseros vaqueiros (verso 7) 
Atrás de seu cansado desatino. 
 
Se o bem desta choupana pode tanto, 
Que chega a ter mais preço, e mais valia (verso 10) 
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto, 
 
Aqui descanse a louca fantasia, 
E o que até agora se tornava em pranto (verso 13) 
Se converta em afetos de alegria. 
 Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de 
Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9. 
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06. (ENEM 2008) 
Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos 
constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da 
relação entre o poema e o momento histórico de sua produção. 
D�� 2V� ³PRQWHV´� H� ³RXWHLURV´�� PHQFLRQDGRV� QD� SULPHLUD� HVWURIH�� VmR�
imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu 
FRP�WUDMH�³ULFR�H�ILQR´� 
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, 
revela uma contradiçãovivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do 
mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia. 
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do 
Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma 
representação literária realista da vida nacional. 
G�� $� UHODomR� GH� YDQWDJHP� GD� ³FKRXSDQD´� VREUH� D� ³&LGDGH´�� QD� WHUFHLUD�
estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica 
paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole. 
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está 
representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à 
transformação do pranto em alegria. 
 
Comentário: No caso do texto, Cláudio Manuel da Costa evidencia as 
diferenças entre a Colônia e a metrópole, observando os vaqueiros que o 
remetem à colônia. De acordo com a leitura do poema o eu-poético valoriza a 
vida simples e natural, sugerindo uma nostalgia, presente na Colônia. Essa 
dicotomia campo e urbe é muito presente entre os árcades. Há aqui também 
outras ideias próprias do Arcadismo, como as definidas pelas expressões em 
Latim, locus amenus, ou lugar ameno, que determina e idealiza a natureza 
como um local perfeito e fugere urbem, ou fugir da cidade, que se mostra 
como uma fonte de sofrimento. 
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GABARITO: B 
 
07. Assinale a opção que apresenta um verso do soneto de Cláudio Manoel 
da Costa em que o poeta se dirige ao seu interlocutor. 
$��³7RUQR�D�YHU-YRV��y�PRQWHV��R�GHVWLQR´��Y��� 
%��³$TXL�HVWRX�HQWUH�$OPHQGUR��HQWUH�&RULQR�´��Y��� 
&��³2V�PHXV�ILpLV��PHXV�GRFHV�FRPSDQKHLURV�´��Y��� 
'��³9HQGR�FRUUHU�RV�PtVHURV�YDTXHLURV´��Y��� 
E) ³4XH��GD�&LGDGH��R�OLVRQMHLUR�HQFDQWR�´��Y���� 
 
Comentário: O interlocutor do eu lírico são os montes, para os quais o eu 
do poema almeja regressar. O eu lírico deixou esse lugar bucólico, e agora 
retorna, pois ali, no campo, busca ter sossego e se livrar das preocupações da 
cidade. Para melhor compreender, você pode voltar à p. 33 da aula de hoje. 
GABARITO: A 
 
08. (UEL-PR) O Barroco manifesta-se entre os séculos XVI e XVII, 
momento em que os ideais da Reforma entram em confronto com a Contra-
Reforma católica, ocasionando no plano das artes uma difícil conciliação entre 
o teocentrismo e o antropocentrismo. A alternativa que contém os versos que 
melhor expressam este conflito é: 
 
a) Um paiá de Monal, bonzo bramá, 
Primaz da Cafraria do Pegu, 
Que sem ser do Pequim, por ser do Açu, 
Quer ser filho do sol, nascendo cá. 
(Gregório de Matos) 
 
b) Temerária, soberba, confiada, 
Por altiva, por densa, por lustrosa, 
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A exaltação, a névoa, a mariposa, 
Sobe ao sol, cobre o dia, a luz lhe enfada. 
(Botelho de Oliveira) 
 
c) Fábio, que pouco entendes de finezas! 
Quem faz só o que pode a pouco obriga: 
Quem contra os impossíveis se afadiga, 
A esse cede amor em mil ternezas. 
(Gregório de Matos) 
 
d) Luzes qual sol entre astros brilhadores, 
Se bem rei mais propício, e mais amado; 
Que ele estrelas desterra em régio estado, 
Em régio estado não desterras flores. 
(Botelho de Oliveira) 
 
e) Pequei Senhor; mas não porque hei pecado, 
Da vossa alta clemência me despido; 
Porque quanto mais tenho delinqüido, 
Vos tenho a perdoar mais empenhado. 
(Gregório de Matos) 
 
Comentário: Nesse famoso poema de Gregório de Matos, vemos o autor 
evidenciando sua condição como eterno pecador e procurador da clemência de 
Deus. Isso explicita o conflito entre a vida pecatória (geralmente atribuída à 
vida de excessos das condições básicas humanas como a de se alimentar ou o 
sentimento da raiva), e a reverência a Deus como ser onipotente de quem se 
busca o perdão por esses exageros. 
GABARITO: E 
 
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09. (UFV) Sobre o Arcadismo no Brasil, podemos afirmar que: 
a) produziu obras de estilo rebuscado, pleno de antíteses e frases 
tortuosas, que refletem o conflito entre matéria e espírito. 
b) não apresentou novidades, sendo mera imitação do que se fazia na 
Europa. 
c) além das características europeias, desenvolveu temas ligados à 
realidade brasileira, sendo importante para o desenvolvimento de uma 
literatura nacional. 
d) apresenta já completa ruptura com a literatura europeia, podendo ser 
considerado a primeira fase verdadeiramente nacionalista da literatura 
brasileira. 
e) presente sobretudo em obras de autores mineiros como Tomás Antônio 
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga e Basílio da Gama, 
caracteriza-se como expressão da angústia metafísica e religiosa desses 
poetas, divididos entre a busca da salvação e o gozo material da vida. 
 
Comentário: O Arcadismo foi um importante movimento literário que 
acrescentou à produção nacional elementos claramente locais. Ideais 
referentes à independência política no estado de Minas Gerais, por exemplo, e 
a inauguração do lirismo pessoal deram grande voz e status a esse 
movimento. 
GABARITO: C 
 
10. (UFSM) Sobre a literatura produzida no primeiro século da vida 
colonial brasileira, é correto afirmar que: 
a) É formada principalmente de poemas narrativos e textos dramáticos 
que visavam à catequese. 
b) Inicia com Prosopopeia, de Bento Teixeira. 
c) É constituída por documentos que informam acerca da terra brasileira e 
pela literatura jesuítica. 
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d) Os textos que a constituem apresentam evidente preocupação artística 
e pedagógica. 
e) Descreve com fidelidade e sem idealizações a terra e o homem, ao 
relatar as condições encontradas no Novo Mundo. 
 
Comentário: A literatura quinhentista apresenta forte cunho informativo 
sobre as novidades descobertas na colônia e também grande quantidade de 
material relativo à catequização dos índios feito pelas missões jesuíticas. 
GABARITO: C 
 
11. (ENEM 2013) 
 
LXXVIII (Camões, 1525?-1580) 
 
Leda serenidade deleitosa, 
Que representa em terra um paraíso; 
Entre rubis e perlas doce riso; 
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa; 
 
Presença moderada e graciosa, 
Onde ensinando estão despejo e siso 
Que se pode por arte e por aviso, 
Como por natureza, ser fermosa; 
Fala de quem a morte e a vida pende, 
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa; 
Repouso nela alegre e comedido: 
Estas as armas são com que me rende 
E me cativa Amor; mas não que possa 
Despojar-me da glória de rendido. 
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008. 
Literatura p/ ENEM 
Teoria e Questões Comentadas 
Profª Rafaela Freitas ʹ Aula 03 
 
 
Profª Rafaela Freitas www.estrategiaconcursos.com.br 57 de 88 
 
 
 
 
SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria Borghese. Disponível 
em: www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012. 
 
A pintura e o poema, embora sendo produtos

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