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ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 1Medgrupo - CiClo 2: M.E.D ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 2Medgrupo - CiClo 2: M.E.D VÍDEO DE INTRODUÇÃO Pneumonias Comunitária e nosoComial clínica médica - VOlUmE 7 m.E.d - 2018 Diagnóstico Diferencial (Hypothesis) Prescrição Desafio Diagnóstico seção 1: Pneumonia comunitária Introdução Definição Epidemiologia Patogenia Como os Agentes Infecciosos Atingem as Vias Aéreas Inferiores e os Alvéolos Principais Padrões Histopatológicos Pneumonia Típica x Pneumonia Atípica Etiologia Manifestações Clínicas, Laboratoriais e Radiológicas Pneumonia por Micro-Organismos Típicos Pneumonia por Micro-Organismos Atípicos Diagnóstico Principais Exames Disponíveis para Buscarmos o Agente Etiológico 1) Exame de Escarro 2) Hemoculturas 3) Testes de Antígenos Urinários 4) Outros Testes Não Invasivos 5) Broncofibroscopia 6) Existem Outros Exames Invasivos Disponíveis? Quais São Eles? Prognóstico: Tratamento Ambulatorial x Internação Hospitalar PSI (Pneumonia Severity Index) – Escore PORT CURB-65 Internação em Enfermaria x CTI Tratamento Complicações A) Derrame Parapneumônico B) Pneumonia Necrosante C) Sepse Grave e Choque Séptico D) Outras Complicações: Pneumotórax, Atelectasia por Rolha de Secreção, etc. Prevenção A) Vacina Anti-Influenza (Feita com Vírus Inativado) B) Vacina Antipneumocócica Particularidades dos Agentes Etiológicos seção 2: Pneumonia nosocomial (Pn) e associaDa à ventilação mecânica (Pavm) Introdução Patogênese Fatores de Risco Revendo Conceitos Pneumonia Nosocomial x Pneumonia Comunitária Pneumonia Nosocomial x Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica Agentes Etiológicos Diagnóstico da Pneumonia Nosocomial e Associada à VM Critério Clínico Critério Bacteriológico Tratamento Prognóstico aPênDice Influenza m.e.D r3 - clÍnica mÉDica área De treinamento m.e.D Questões de Concursos Comentários 4 Caso 1 Francislene, uma simpática auxiliar de limpeza do hospital em que você tra- balha, sempre reclama pelos corredores que não tem sor te com os maridos! O primeiro foi preso após par ticipar de um esquema com máquinas caça-ní- queis; o segundo fugiu com a prima dela dois dias depois do casamento; e o terceiro (o atual!), conhecido como Paulão, 50 anos, vive chegando em casa embria- gado... Você, sempre sensibilizado com as histórias, dessa vez se envolveu ainda mais. A pedido de Francislene, foi avaliar Paulão, que acabara de chegar à emergência do hospital. A história era de uma evolução rápida, com febre alta, queda do estado geral, calafrios e tos- se, inicialmente seca, seguida de escarro purulento, ferruginoso. No exame físico, apresenta- va PA = 110 x 70 mmHg, FC = 130 bpm, FR = 31 irpm; TAx = 39,2oC. Confuso, anictérico, acianótico, corado e desidratado ++/4+. Ausculta pulmonar com crepitações teleinspiratórias, audíveis no terço médio e superior do hemitórax direito; broncofonia correspondente à mesma área. Exames laboratoriais mostravam: Hemácias = 5.500.000/mm3; leucócitos = 22.000/mm3 (0/0/0/1/15/54/25/5). Ureia = 30 mg/dl e Cr = 1,1 mg/dl. Realizou radiografia de tórax com o seguinte padrão: Com base no quadro apresentado, qual seria a sua principal hipótese diagnóstica? O tratamento deve ser hospitalar ou ambulatorial? A pesquisa do agente etiológico está indicada neste caso? Justifique. Defina a sua escolha inicial para a antibioticoterapia. 5 Silvio, paciente de 76 anos, hiper ten so estágio 2, i nternado há nove dias co m quadro de ac idente vascular cerebral isquêmico. Apó s três dias de i nternação, evo luiu com re- baixamento sig nificativo do ní vel de consciên cia, preci- sando de intub ação orotraque al e ventilação mecânica. Ainda assustado com a responsabilidade em suas mãos, observou que, no relato da enfermagem, no verso da prescrição, havia registro de dois episódios de febre de 39 graus nas últimas 4 horas e de aumento da quanti- dade de secreção pelo aspirador traqueal. Manteve bom controle da pressão ar terial, sem necessidade de reposi- ção volêmica aguda ou aminas vasopressoras. Ao examinar o paciente, percebeu que apresentava febre, com taquicardia discreta, SpO 2 de 88% com FiO 2 de 0,30. PA 120 x 70 mmHg, FC 105 bpm, R: 24 irpm e Tax 38,7oC. A ausculta do tórax revelou ester tores predominando na metade inferior do hemitórax direito. Checou os exames laboratoriais da rotina, que revelaram 16.800 leucócitos com 12% de bastões, U 87 mg/dl, Cr 1,7 mg/dl. Caso 2 Esta foi a passagem de caso que Rafael encontrou no seu primeiro plantão como médico! Assim que acabou de examinar o paciente e che- car os exames, Rafael percebeu que se tratava de um quadro grave, demandando uma conduta imediata. A radiografia de tórax em AP no leito revelou a seguinte imagem: Qual deve ter sido a principal hipótese diagnóstica? Justifique. Que germes devem ser cober tos no tratamento? Qual é a melhor opção de associação de antibióticos para o tratamento deste paciente? 6 Paciente feminina, 61 anos, diabética em uso de Metformina 850 mg 12/12 horas e Gliben- clamida 5 mg/dia, hiper tensa em uso de Enalapril 10 mg 12/12 horas e Atenolol 50 mg/dia, chega à emergência com queixa de febre (38oC), mialgia, tosse com expectoração purulenta e queda do estado geral há cinco dias. Ao exame: confusa, prostrada, hipocorada +/+4, desi- dratada +/+4, taquipneica sem esforço respiratório, ausculta pulmonar com crepitações na base do hemitórax direito, expansibilidade algo reduzida, frêmito toracovocal aumentado. PA = 160 X 90 mmHg, FC = 65 bpm, FR = 31 irpm, T.ax = 38,5oC. Exames da emergência: Hb = 10,8 g/dl, Ht= 36%, leucócitos = 17500, com 15% de bastões, plaquetas = 175 mil, PCR = 35, Glicose = 210 mg/dl, Na = 138 mEq/L, K= 3,9 mEq/L, Mg = 2,0 mEq/L, Ureia = 80 mg/dl, Creatinina = 1,4 mg/dl, pH =7,36, pO 2 = 70 mmHg, pCO 2 = 33 mmHg, HCO 3 = 19 mEq/L, SaO 2 = 90%. Prescrição Internação Sim Não Local Enfermaria CTI 7 ID: Rodiney, masculino, 28 anos, pardo, natural do Rio de Janeiro, estudante. QP: “Tosse produtiva, febre e cansaço”. HDA: Paciente chega à emergência carregado por familiares com história de febre alta não aferida há cerca de duas semanas e queda impor tante do estado geral. Nas últimas 48 ho- ras, houve agravamento do quadro, com surgimento de tosse produtiva, cansaço e dispneia intensa. HPP: Seu irmão não sabia informar detalhes, pois morava em outra cidade e estava apenas pas- sando férias no Rio. H. Familiar: Pais empresários, sem nenhuma doença digna de nota. Irmão saudável. H. Pessoal: Mora sozinho em um enorme apar tamento de luxo comprado pelos pais. Tabagista e etilista. Existe a suspeita de uso de drogas endovenosas. Ao exame, o paciente encontrava-se em franca insuficiência respiratória, cianótico, desidratado e hipocorado +/+4. Realizada intubação orotraqueal imediata, com saída de grande quantidade de secreção purulenta pelo tubo, acoplado ao respirador e puncionado acesso venoso profundo. Os sinais vitais mostravam PA = 80 x 40 mmHg, FC = 120 bpm, FR = 42 irpm, tax = 39oC. Pupilas fotorreagentes, com isocoria. Cabeça e pescoço sem anormalidades. Ausculta respiratória com roncos difusos, crepitações bilaterais e redução do murmúrio vesicular na base direita, associada à redução da expansibilidade torácica e abolição do frêmito toracovocal. A ausculta cardíaca evidenciava ritmo cardíaco regular em dois tempos, bulhas normofonéticas, com sopro sistólico +3/+6, melhor audível em foco tricúspide. Abdome flácido, plano, sem massas ou visceromega- lias. Membros inferiores sem edema e com pulsos periféricos palpáveis. Colhidos os primeirosexames laboratoriais, realizada a radiografia torácica, iniciada reposi- ção de volume e infusão de aminas vasopressoras. Após esta estabilização inicial, o paciente foi transferido para o Centro de Terapia Intensiva do mesmo hospital. Enfim, os exames chegaram: Hb = 11 ,8 g/dl , Ht= 35%, leucóci tos = 19.500/mm3, com 18% de bastões, plaquetas = 153.000/mm3, PCR = 29 mg/L, Glicose = 180 mg/dl , Na = 136 mEq/L, K= 3,7 mEq/L, Mg = 2,0 mEq/L, TGO = 15 U/L, TGP = 20 U/L, FA = 80 U/L, Gama-GT = 110 U/L, Bil irrubina total = 1 ,0 mg/dl , Lactato = 25, Ureia = 170 mg/dl , Creatinina = 1,5 mg/dl , pH = 7,36, pO 2 = 120 mmHg, pCO 2 = 31 mmHg, HCO 3 = 19mEq/L, SaO 2 = 95% (gasometria ar terial colhida após a intubação). E a radiografia torácica mostrava a seguinte imagem: 8 Qual é o diagnóstico provável? Justifique. Que exames adicionais devem ser realizados neste caso? Como deve ser o tratamento? ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 9Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 9 Pneumonia Comunitária á se vão mais de 110 anos desde que sir William Osler definiu a pneumonia como “a mais universal e fatal entre as doenças, capitã dos homens da morte”. Naquela época, a pneumonia era considerada a principal causa de óbito no mundo. Após mais de um século de grande evolução da Medicina, a mortalidade da pneumonia diminuiu consideravelmente, principalmente devido ao desenvolvimento dos antibióticos. Ainda assim, ninguém discorda: na prática clínica, nenhuma outra infecção consegue ser tão frequente e importante – ao mesmo tempo – em todos os níveis de atenção aos doentes, desde a consulta ambulatorial, passando pelas enfermarias, até as unidades de terapia intensiva. Independente da área de atuação que você escolher e do rumo que a sua vida profissional vai tomar, uma coisa é certa: você vai se deparar com vários casos de PNEUMONIA. E não se engane! Apesar de extremamente comuns, as pneumonias, determinadas vezes, desafiam o mais astuto “diagnosticador”. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 10Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Definição: É todo processo inflamatório agudo do parênquima pulmonar decorrente da infecção por algum micro-organismo. Padrões histopatológicos – pneumonia lobar x broncopneumonia: A pneumonia lobar é definida pela consolidação de todo (ou quase todo) um lobo pulmonar (conso- lidação alveolar extensa), sendo que 90 a 95% dos casos têm o Streptococcus pneu- moniae como micro-organismo causador. Já a broncopneumonia é caracterizada pela consolidação alveolar multifocal – são múltiplos focos acinares (ou lobulares), coalescentes, que predominam na região peribrônquica. Este é o tipo mais frequente de apresentação da pneumonia. Pneumonia “típica” x “atípica”: Atualmente estes termos não são considerados adequa- dos pelos especialistas, pois não ajudam na identificação etiológica. O mais correto é dividir as pneumonias em dois grupos: causadas por micro-organismos típicos e causadas por micro-organismos atípicos. Quais são os germes “atípicos”? São aqueles que não podem ser isolados pelas técnicas de cultura em meios convencionais, não podem ser detectados pela coloração com Gram e não podem ser tratados com betalactâmicos Mycoplasma pneumoniae (mais frequente), Chlamydia pneumoniae, Legionella pneumophila e vírus. Quais são os germes “típicos”? S. pneu- moniae, H. influenzae, S.aureus, bactérias Gram-negativas como K. pneumoniae e P. aeruginosa. Quadro clínico – pneumonia por micro- -organismos típicos: Início hiperagudo de febre alta com calafrios, dor pleurítica, queda do estado geral, tosse com expectoração esverdeada e imagens de consolidação al- veolar na radiografia de tórax. Quadro clínico – pneumonia por micro- -organismos atípicos: Início subagudo, com febre menos elevada, calafrios infre- quentes, tosse seca (sintoma predominan- te) e radiografia de tórax mostrando infiltra- do intersticial ou broncopneumônico (em vez de grandes consolidações alveolares). A exceção é a Legionella que, apesar de ser um germe atípico, causa uma pneumonia semelhante à dos germes típicos. Qual é o agente etiológico mais comum da pneumonia comunitária? É o Strepto- coccus pneumoniae, o famoso pneumococo! Como os agentes infecciosos atingem as vias aéreas inferiores e os alvéolos? A for- ma mais comum é a aspiração de micropar- tículas da orofaringe contendo germes pato- gênicos, que vão depender da flora do indiví- duo e de fatores de risco para determinados grupos de bactérias, como os Gram-negati- vos. Outras vias menos comuns: inalação de micro-organismos e via hematogênica (Sta- phylococcus aureus). RX de tórax: Pode ser infiltrado broncop- neumônico (mais comum), pneumonia lobar ou ainda infiltrado retículo-nodular, sendo este mais comum na pneumonia por germes atípicos, com exceção da Legionella. Exame de escarro: Deve ser solicitado para todos os pacientes com pneumonia comunitá- ria e indicação de internação hospitalar. Enviar para Gram e cultura quantitativa. Broncoscopia: Exame invasivo de es- colha para a coleta de material das vias aéreas inferiores. Indicado nos casos de: (1) pneumonia não responsiva aos antibió- ticos; (2) pneumonia em imunodeprimidos. Nos casos de pneumonia comunitária gra- ve, com indicação de UTI, a indicação é relativa. O material deve ser enviado para Gram, BAAR, micologia, cultura quantita- tiva para germes comuns, cultura para BK e fungos. Quando devemos coletar amostras para hemocultura? Apenas nos pacientes inter- nados. A sensibilidade é baixa. Condutas diagnósticas e suas indica- ções: Pacientes para tratamento ambulatorial: Tratamento empírico sem exames micro- biológicos; Pacientes internados: Coletar amostras para rastreamento microbiológico antes de iniciar o antibiótico, de acordo com as indicações na tabela presente no tex- to deste capítulo. Observação: Iniciar o tratamento imediatamente, sem esperar o resultado do estudo bacteriológico. Tratamento da pneumonia adquirida na comunidade: 1) Ambulatorial x internado: CURB-65 ≥ 2 pontos Internar: critérios – 1 ponto cada: confusão mental, ureia ≥ 43, FR ≥ 30 irpm, baixa PA (sist. < 90 ou diast. ≤ 60), idade ≥ 65; 2) Internado: enfermaria x CTI Avaliar critérios para PAC grave (os mais impor- tantes são choque séptico e/ou necessida- de de ventilação mecânica, além desses devemos considerar o somatório de outros critérios menores, como FR ≥ 30 irpm, P/F < 250, infiltrado multilobar, alteração da consciência, Ur ≥ 43 mg/dl, leucopenia < 4.000, Plaq. < 100.000, hipotermia, hipo- tensão arterial). Escolha empírica do antibiótico: AMBU- LATORIAL 1) Paciente previamente hígido, sem fator de risco para pneumococo re- sistente: MACROLÍDEO (referências brasileira e americana) ou DOXICICLINA (referência americana) ou AMOXICILINA (referência brasileira). 2) Presença de comorbidades, uso de antibióticos nos últimos três meses, regiões de alta prevalência de pneu- mococo resistente aos macrolídeos: FLUOROQUINOLONA RESPIRATÓRIA ou associação MACROLÍDEO + BETA- LACTÂMICO. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 11Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Escolha empírica do antibiótico: ENFER- MARIA 1) FLUOROQUINOLONA RESPIRATÓRIA ou associação BETALACTÂMICO + MA- CROLÍDEO. Escolha empírica do antibiótico: CTI 1) Mínimo recomendado: BETALACTÂMI- CO + AZITROMICINA ou BETALACTÂMI- CO + FLUOROQUINOLONA. 2) Pensando em Pseudomonas aeru- ginosa: BETALACTÂMICO + FLUO- ROQUINOLONA com ação antipseu- domonas ± AMINOGLICOSÍDEO ou BETALACTÂMICO + AZITROMICINA + AMINOGLICOSÍDEO. 3) Pensando em MRSA: Acrescentar VAN- COMICINA ou LINEZOLIDA. Em alérgicos à penicilina internados em CTI: substituir β-lactâmico por AZTREONAM. Pneumonia de resolução lenta ou não responsiva ao tratamento: Ausência de resposta em 48 a 72 horas, com dose e posologia do antibiótico corretas. Por quê? (1) A bactéria é resistente ao esquema uti- lizado. (2) Existe coleção purulenta (empiema, abs- cesso) ou uma pneumonia obstrutiva. (3) Trata-se de um germe não coberto: Mycobacterium tuberculosis, Pneu- mocystis jirovecii, fungo, Nocardia as- teroides, Actinomyces israelii, etc. (4) Febre do antibiótico. (5) O infiltrado não é infeccioso – neopla- sia, TEP, vasculite, colagenose, BOOP, pneumonia eosinofílica, etc. O que fazer? Solicitar broncoscopia com coleta de material (LBA ou ECP) para cultu- ra quantitativa (ver anteriormente), BAAR, coloração para P. jirovecii e fungos (pra- ta), e, nos casos ainda duvidosos, biópsia transbrônquica. O anti-HIV deve ser soli- citado. Caso mesmo com esses métodos o diagnóstico não seja dado e o paciente permaneça doente, partir para a biópsia, guiada por toracoscopia ou a céu aberto (padrão-ouro). Introdução Definição Pneumonia é todo e qualquer processo in- flamatório agudo do parênquima pulmonar decorrente da infecção por algum micro-or- ganismo. Ocorre preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório, con- tendo neutrófilos e exsudato purulento com debris celulares e com os agentes causadores (FIGURA 1). As pneumonias comunitárias são aquelas ad- quiridas na comunidade (PAC), ou seja, fora de ambiente hospitalar, clínicas de diálise, asilos, etc. Essa definição é importante? Muito, pois os principais patógenos e o tratamento empí- rico variam de acordo com a provável fonte de infecção. Figura 1 – Preenchimento alveolar con- fluente com sangue e pus. Embora a mortalidade tenha diminuído con- sideravelmente no decorrer do último século, a pneumonia ainda tem grande importância nos consultórios e hospitais de todo o mundo, sendo ainda a principal causa de óbito por doença infecciosa em muitos países. No último Guideline publicado em 2007, con- juntamente pela American Thoracic Society e pela Infectious Disease Society of America (ATS/IDSA), as duas entidades, outrora in- dependentes, publicaram um texto unificado, que é a grande referência sobre o tema. Este é o consenso utilizado pelo Harrison para ela- boração do seu capítulo de Pneumonias, por exemplo. Um novo texto deverá ser publica- do durante o ano de 2018. Em 2009, foram publicadas pela SBPT (Socie- dade Brasileira de Pneumonia e Tisiologia) as últimas Diretrizes Brasileiras para Pneumonia Adquirida na Comunidade em Adultos Imuno- competentes, que também vamos conhecer neste capítulo. Nesta apostila abordaremos apenas a pneumo- nia em adultos. Estudaremos a pneumonia em crianças e seus diagnósticos diferenciais em apostila específica do bloco de Pediatria. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 12Medgrupo - CiClo 2: M.E.D RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – DF No que se refere às doenças respiratórias infecciosas agudas, julgue o próximo item. A Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) pode se manifestar até o quinto dia de inter- nação hospitalar. a) CERTo. b) ERRADo. Questão tranquila, porém, excelente para firmarmos uma bandeira de conhecimento: a pneumonia adquirida na comunidade ou sim- plesmente comunitária é aquela que ocorre em pacientes não internados ou, naqueles internados, cujos sintomas se iniciam em até 48h de internação hospitalar. seja, da maioria da população, formada por indivíduos sem essas características. Epidemiologia Segundo o Harrison, nos EUA ocorrem anual- mente mais de 5 milhões de casos de pneu- monia comunitária (incidência de 12 casos para 1.000 pessoas-ano). Pelo menos 1,2 milhão de pacientes são hospitalizados e 55 mil óbitos são registrados. Só como curiosidade, o custo estimado do tra- tamento desses pacientes chega a 12 bilhões de dólares anuais. Patogenia Como os Agentes InfeCCIosos AtIngem As VIAs AéreAs InferIores e os AlVéolos 1- Aspiração: Esta é a forma mais comum e importante nas pneumonias bacterianas. A aspiração de micropartículas da orofaringe durante o sono é um fenômeno frequente em nosso dia a dia. É essencial que o agente infeccioso inicialmente colonize a orofaringe, para que possa ser aspirado. Indivíduos sau- dáveis provenientes da comunidade podem ter sua orofaringe colonizada periodicamente por micro-organismos como Streptococcus pneumoniae e anaeróbios, e mais raramen- te por bactérias Gram-negativas. Memorize! Imunodepressão, internação hospitalar, idade avançada e presença de comorbidades são condições que aumentam a probabilidade de colonização da orofaringe por bactérias Gram-negativas. 2- Inalação: A inalação de micro-organis- mos é um mecanismo muito importante nas pneumonias por Legionella sp. e Mycoplas- ma pneumoniae. 3- Via hematogênica: É a implantação nos pulmões de agentes infecciosos circulantes na corrente sanguínea. Pacientes que apresentam foco infeccioso à distância são acometidos. Um exemplo é a presença de infecções em partes moles por Staphylococcus aureus e a presença de endocardite infecciosa em coração direito. Usuários de drogas intravenosas apresentam risco aumentado para esta infecção! 4- Extensão direta: Raramente o patógeno causador da pneumonia pode ser proveniente do espaço pleural ou do mediastino (em vigên- cia de infecção desses sítios). PrInCIPAIs PAdrões HIstoPAtológICos Pneumonia lobar x broncopneumonia O Streptococcus pneumoniae (também co- nhecido como pneumococo) é um coco Gram- -positivo capaz de desencadear uma reação inflamatória neutrofílica intensa ao atingir os Cuidado para não cair em “pegadinha”! Paciente internado sem sinto- mas de pneumonia (internado por outro motivo qualquer) que apresenta pneumonia nas primeiras 48 horas após a admissão é portador de pneumonia comunitária, e não hospitalar! Por quê? Pois, nesse caso, o período de incubação é muito curto para que se considere que a pneumonia foi adquirida em ambiente hospitalar! Muito provavelmente esse paciente já “trouxe a bactéria” do am- biente extra-hospitalar... RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL Do PARANÁ – UFPR Assinale a alternativa que caracteriza um caso de pneumonia (PN) adquirida na comunidade. a) PN em paciente internado por outras razões em período menor que 48 horas. b) PN em paciente advindo do domicílio com internação prévia, por 10 dias, 2 meses atrás. c) PN em paciente em regime de internamento domiciliar sendo tratado com antibioticoterapia há 30 dias. d) PN em paciente em hemodiálise regular. e) PN em paciente advindo de casa de repou- so com tratamento prévio com quimioterápicos há 30 dias. A alternativa A é correta e traz o “ponto de corte” para a diferenciação entre pneumonia comunitária e hospitalar: quando a pneumo- nia se instala até 48 horas após a internação, muito provavelmente o patógeno foi adquirido fora do hospital, já que o tempo de incubação esperado para uma pneumonia bacteriana é de 48 horas. Quanto às demais opções, os pacientes com internação há menos de 90 dias, internação domiciliar, moradores de casas de repouso, em esquema de hemodiálise e que recebe- ram antibiótico IV ou quimioterapia recente (últimos 30 dias) com pneumonia são classifi- cados como “pneumonia relacionada a cuida- dos de saúde”, não se tratando de pneumonia comunitária, já que a microbiota desses pa- cientes não é a mesma da “comunidade”, ou ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 13Medgrupo - CiClo 2: M.E.D alvéolos. O processo pneumônico se instala e evolui em quatro fases sucessivas: FASES EVOLUTIVAS DA PNEUMONIA PNEUMOCÓCICA 1- Congestão – Nesta fase, ocorre rápida multiplicação das bactérias no interior dos alvéolos. Osvasos pulmonares dilatam e ficam ingurgitados de sangue. Um exsudato fibrinoso, com poucos neutrófilos, já pode ser visto no espaço alveolar. 2- Hepatização vermelha – Esta fase é mar- cada pela exsudação de hemácias, neutrófilos e fibrina para o interior dos alvéolos, forman- do-se um exsudato que ocupa todo o espaço alveolar. Como predominam as hemácias, o aspecto macroscópico do lobo pulmonar aco- metido é semelhante ao fígado – daí o nome hepatização. Você já deve ter visto este termo em laudos de ultrassom de tórax. 3- Hepatização cinzenta – Ocorre desinte- gração das hemácias e o exsudato passa a conter basicamente neutrófilos e debris celulares. Seria a fase supurativa da pneu- monia. O aspecto macroscópico revela uma consolidação de cor cinza claro. 4- Resolução ou organização – Nesta fase, o exsudato celular é substituído por um material semifluido e granulado, formado pelos debris das células inflamatórias. Os macrófagos alveolares fagocitam esses de- bris até a resolução do processo. Na maioria das vezes, o parênquima pulmonar volta ao normal. Aqui cabe ressaltar que a pneumo- nia pneumocócica não costuma destruir os septos alveolares, diferente do que ocorre na pneumonia estafilocócica, por germes Gram- -negativos entéricos e por anaeróbios. A ocupação total do espaço alveolar pelo exsuda- to neutrofílico pode ocorrer numa grande área do parênquima, fenômeno conhecido como conso- lidação (ou condensação) alveolar. Quando todo (ou quase todo) um lobo pulmonar é consolidado = PNEUMONIA LOBAR (FIGURA 3). Cerca de 90 a 95% dos casos de pneumonia lobar comu- nitária têm o Streptococcus pneumoniae como micro-organismo causador (FIGURA 2). Quando há múltiplos focos coalescentes de consolidação alveolar distribuindo-se na re- gião peribrônquica = BRONCOPNEUMONIA (FIGURA 4). Entretanto, vale ressaltar que se a coalescên- cia dos focos broncopneumônicos atingir um grande volume, o infiltrado pode se transfor- mar em uma pneumonia lobar ou sublobar. Vamos fixar estes conceitos! TIPOS HISTOPATOLÓGICOS DE PNEUMONIA BACTERIANA 1- Pneumonia Lobar – FIGURA 3 Caracterizada pela consolidação alveolar extensa, ocupando uma grande área do pa- rênquima pulmonar, como um lobo inteiro. O agente principal é o Streptococcus pneumo- niae, mas qualquer bactéria de alta virulência pode desenvolver este padrão pneumônico. 2- Broncopneumonia – FIGURA 4 Caracterizada pela consolidação alveolar multifocal – são múltiplos focos acinares (ou lobulares), coalescentes, que predominam na região peribrônquica. Este é o tipo mais frequente de apresentação da pneumonia, mesmo quando o agente causador é o pneumococo. Figura 2 – Streptococcus pneumoniae. Figura 3 – Radiografia de tórax de uma pneumonia lobar. Figura 4 – Broncopneumonia bilateral. NÃO CONFUNDA: Principal causa de pneumonia lobar = PNEUMOCOCO Principal tipo histopatológico das pneumonias em geral = BRONCOPNEUMONIA Principal tipo histopatológico das pneumonias PNEUMOCÓCICAS = BRONCOPNEUMONIA RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 HoSPITAL DA PoLÍCIA MILITAR – MG Um menino de 7 anos é atendido no pronto- -socorro com quadro de tosse e febre há 2 dias. Há 1 dia está cansado e vomitando após ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 14Medgrupo - CiClo 2: M.E.D tosse. A radiografia de tórax revela opacifica- ção do lobo inferior direito e linha de derrame pleural. Este quadro sugere: a) Pneumonia por pneumococo. b) Pneumonia por gram-negativo. c) Pneumonia por estafilococo. d) Pneumonia por aspiração. Como vimos anteriormente, a principal causa de pneumonia lobar é o pneumococo. Opção A correta. PneumonIA tíPICA x PneumonIA AtíPICA É preciso que você preste muita atenção agora, para não confundir os conceitos e as modifica- ções realizadas nos mesmos a partir das novas descobertas! Antigamente, as pneumonias eram consideradas típicas ou atípicas, depen- dendo de sua apresentação clinicorradiológica. Muita coisa mudou e este conceito está caindo cada vez mais em desuso, por trazer pouco benefício em relação à terapêutica. Cada vez mais, vamos ouvir falar apenas em Pneumonia Comunitária e Pneumonia Nosocomial. Atualmente, a maioria dos autores denomina pneumonia “atípica” qualquer pneumonia cau- sada por um germe atípico. Quem são eles? Os micro-organismos atípicos são aque- les que não podem ser isolados pelas téc- nicas de cultura em meios convencionais, não podem ser detectados pela coloração com Gram e são geralmente resistentes aos betalactâmicos. Patógenos Micro-organismos bacterianos típicos atípicos • S. pneumoniae • Mycoplasma pneumoniae • Haemophilus • Chlamydia influenzae pneumoniae • S. aureus • Espécies de Legionella • Vírus respiratórios como influenza, adenovírus e vírus sinciciais respiratórios. • Bactérias Gram- negativas como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. Etiologia Qual é o agente etiológico mais comum da PAC? Simples! É o Streptococcus pneumoniae, o famoso pneumococo, um diplococo Gram-positivo. Ele é a causa mais comum de pneumonia em todas as faixas etárias, exceto em re- cém-nascidos. Estima-se que o pneumococo seja responsá- vel por 30 a 40% das pneumonias em adultos. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC Em paciente previamente hígido, o agente mais frequente de pneumonia comunitária grave (PORT III, IV ou V) é: a) Legionella. b) Pneumococo. c) Mycoplasma. d) Pseudomonas. e) Estafilococo. Sempre que te perguntarem isso, não hesite em responder: pneumococo sempre! Opção B correta. A lista de agentes etiológicos potenciais das PAC inclui bactérias, fungos, vírus e protozoários e é enorme, entretanto, a maioria dos casos é cau- sada por um número relativamente pequeno de patógenos. A referência americana e a brasileira, neste caso, mostram algumas diferenças que podem ser solicitadas nas provas... Veja! Segundo o Guideline da ATS/IDSA: Etiologia das Pneumonias Adquiridas na Comunidade em ordem Decrescente de Frequência Pacientes Pacientes hospitalizados ambulatoriais Fora da UTI Na UTI • S. pneumoniae • Mycoplasma pneumoniae • Haemophilus influenzae • Chlamydia pneumoniae • Vírus respiratórios • S. pneumo- niae • Mycoplasma pneumoniae • Chlamydia pneumoniae • Haemophilus influenzae • Legionella spp. • Vírus respi- ratórios* • S. pneumo- niae • S. aureus • Legionella spp. • Bastonetes Gram- negativos • H. influenzae * Influenza A e B, adenovírus, vírus sinciciais respiratórios, parainfluenza. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 15Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Segundo o Consenso da SBPT: Etiologia das Pneumonias Adquiridas na Comunidade em ordem Decrescente de Frequência Pacientes Pacientes hospitalizados ambulatoriais Fora da UTI Na UTI • S. pneumoniae • Mycoplasma pneumoniae • Chlamydia pneumoniae • Vírus respiratórios • Haemophilus influenzae • S. pneumo- niae • Mycoplasma pneumoniae • Chlamydia pneumoniae • Vírus respira- tórios • Haemophilus influenzae • Legionella spp. • S. pneumo- niae • Bastonetes Gram-nega- tivos • H. influen- zae • Legionella spp. • S. aureus Algumas curiosidades: Acredita-se que... * 18% das PAC sejam causadas por vírus. * 10 a 15% das PAC sejam polimicrobianas (geralmente causadas por um patógeno “tí- pico” + um “atípico”). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008 FUNDAÇÃo JoÃo GoULART – FJG No tratamento da pneumonia bacteriana, é essencial que se estabeleça se foi adquirida em ambiente hospitalar ou na comunidade, para a escolha do esquema de antimicrobia- nos adequado. A alternativaem que o tipo de pneumonia está CORRETAMENTE associado aos patógenos é: a) Hospitalar – Pseudomonas aeruginosa, Mycoplasma pneumoniae, Staphylococcus aureus. b) Hospitalar – Legionella pneumophila, bactérias anaeróbias orais e Pseudomonas aeruginosa. c) Comunitária – Streptococcus pneumo- niae, Haemophilus influenzae e Chlamydia pneumoniae. d) Comunitária – Streptococcus pneumo- niae, bactérias anaeróbias entéricas, Pseu- domonas aeruginosa. Reveja as tabelas anteriores... Qual é a melhor resposta? A letra C. Qual é a importância da relação entre a vi- rulência do agente infeccioso e as defesas do hospedeiro? Vamos ver a partir de agora! A ocorrência da pneumonia depende muito da competição entre a bactéria e as defesas do hospedeiro. Para ocorrer pneumonia, uma ou mais das seguintes situações tem que estar presente: (1) contato do alvéolo com um agen- te de alta virulência; (2) contato do alvéolo com um grande inóculo de bactérias; (3) defeito nos mecanismos de defesa do hospedeiro. Perceba, então, que pode ocorrer pneumonia mesmo se as defesas estiverem normais, em caso de germe altamente virulento ou grande inóculo de bactérias. Ora, como algumas bactérias podem driblar as defesas do hospedeiro? Se a virulência do agente for alta, ele consegue se multiplicar mesmo na presença de macrófagos alveola- res. Algumas bactérias podem se proteger do sistema humoral (anticorpos, complemento) pela liberação de exotoxinas e pela presença de uma cápsula polissacarídica, como no caso do pneumococo. A defesa contra este tipo de germe depen- de muito da presença de anticorpos especí- ficos contra os antígenos capsulares (o que pode ser obtido com a vacina antipneumo- cócica polivalente). Distúrbios na defesa do hospedeiro também favorecem a ocorrência de pneumonia. Que condições estão relacionadas a estes distúr- bios? Existem várias condições que inibem um ou mais mecanismos de defesa contra os agentes da pneumonia comunitária. Al- gumas delas aumentam a probabilidade de pneumonia por quase todos os micro-orga- nismos, como é o caso da idade avançada e das doenças respiratórias e cardíacas (veja na tabela a seguir). CONDIÇÃO Idade Avançada Tabagismo DPOC Alcoolismo Diabetes Mellitus Insuficiência Cardíaca Congestiva MECANISMO DE PREDISPOSIÇÃO Mecanismo desconhecido de imunodepressão; aumenta a colonização faríngea por Gram-negativos. Inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macrófagos al- veolares. Inibe a atividade ciliar e a capacidade fagocítica dos macrófagos alve- olares; aumenta a colonização faríngea e da árvore traqueobrônquica por Gram-negativos. Inibe a tosse e os reflexos glóticos; inibe a quimiotaxia para neu- trófilos e o metabolismo oxidativo destas células; aumenta a colo- nização faríngea por Gram-negativos. Mecanismo desconhecido de imunodepressão; aumenta a colonização faríngea por Gram-negativos. Mecanismo desconhecido. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 16Medgrupo - CiClo 2: M.E.D O ALUNO PERGUNTA... O uso de corticoide inalatório (por exemplo, em paciente asmático) aumenta o risco de pneumonia? Boa pergunta! Embora haja alguma contro- vérsia na literatura, a asma brônquica por si só já é um fator de risco para pneumonia pneumocócica por diversas referências, tanto que é uma das indicações para vacinação an- tipneumocócica. Em um grande estudo caso- -controle publicado pelo NEJM em 2005, con- cluiu-se que asmáticos tinham risco dobrado de pneumonia pneumocócica, em relação a não asmáticos. Já o uso de corticoide inalató- rio a princípio não é considerado fator de risco para pneumonia! Uma metanálise publicada em 2011, envolvendo ao todo 86 estudos e mais de 50 mil pacientes, não conseguiu com- provar a associação entre uso de budesonida em asmáticos e pneumonia. Manifestações Clínicas, Laboratoriais e Radiológicas Para facilitar o entendimento, vamos separar em pneumonia por germes “típicos” e “atípi- cos”... Vale lembrar que a Legionella, embora seja um micro-organismo atípico, geralmente apresenta quadro clínico “típico”, frequente- mente evoluindo com gravidade. PneumonIA Por mICro-orgAnIsmos tíPICos Como dissemos anteriormente, a divisão da pneumonia em “típica” e “atípica” encontra-se em desuso e cada vez menos importante para a definição da terapia. Contudo, ainda é fre- quente encontrarmos esses termos em livros e discussões em enfermarias. Por isso, man- tivemos na apostila uma breve explicação. 1) Quadro Clínico O quadro clássico da pneumonia comunitária por um germe “típico” é representado pela pneumonia pneumocócica. • Instalação hiperaguda em dois a três dias. • Calafrios, febre alta (39 a 40ºC), dor pleurítica e tosse com expectoração purulenta. • Os achados positivos no exame do apa- relho respiratório podem variar desde es- tertores inspiratórios até uma síndrome de consolidação e/ou de derrame pleural. Só pra relembrar rapidamente... A síndrome de consolidação é caracterizada pela presença do som bronquial (“sopro tubário”), aumento do frêmito toracovocal, submacicez, bronco- fonia e pectorilóquia. A síndrome do derrame pleural é marcada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submaci- cez e egofonia. Consolidação Derrame Pleural Som bronquial Abolição do murmúrio (“sopro tubário”) vesicular Aumento do frêmito Abolição do frêmito toracovocal toracovocal Submacicez Submacicez Broncofonia Egofonia Pectorilóquia X Sintomas gastrointestinais como náusea, vô- mitos e diarreia são observados em cerca de 20% dos casos. Outros sintomas comuns incluem astenia, ce- faleia, mialgias e artralgias. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 HoSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDA- DE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – MG Flávio, 47 anos, tem subitamente calafrios com tremores, febre e tosse produtiva. Sentia-se bem até a noite anterior, quando ficou cansado, febril e teve tosse com dor pleurítica do lado direito. Ao exame físico, nota temperatura de 38,8°C, a saturação de oxigênio em ar ambiente de 98%, e presença de estertores crepitantes na base do pulmão direito. A radiografia de tó- rax revela área de consolidação no lobo inferior direito. Assinale a alternativa CoRRETA quanto ao diagnóstico apresentado na história clínica: a) Bronquiectasia infectada. b) Câncer de pulmão. c) Pneumonia adquirida na comunidade. d) Pneumonite química. e) Doença intersticial difusa. Ainda existem questões tão fáceis quanto esta! O quadro de Flávio é, de modo flagrante, CONDIÇÃO Doença Renal Crônica Infecções Virais (principalmente Influenza) Queda da Consciência Doença Cerebrovascular MECANISMO DE PREDISPOSIÇÃO (Cont.) Menos capacidade fagocítica; inibe a quimiotaxia para neutrófilos e o metabolismo oxidativo destas células. Lesão do epitélio traqueobrônquico (perda da atividade ciliar). Inibição da tosse e dos reflexos glóticos – aspiração de grandes quan- tidades de material faríngeo ou gástrico. Inibição da tosse e dos reflexos glóticos. Distúrbio da deglutição. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 17Medgrupo - CiClo 2: M.E.D uma pneumonia, somando febre com calafrios de início agudo, tosse e dor pleurítica, achados associados a uma ausculta alterada e radiogra- fia de tórax com consolidação no lobo inferior direito. Não há por que pensarmos em bron- quiectasia (não há referência a tosse crônica – A errada). Câncer de pulmão até pode abrir o quadro com uma pneumonia, mas não temos imagem à radiografia de tórax ou perda de peso para ajudar essa hipótese (B errada). Não há exposição a qualquer tipo de agente irritativo pulmonar no enunciado(D errada). A letra E é absurda e dispensa comentários. Como esse paciente tem uma pneumonia e a adquiriu fora do ambiente hospitalar e NÃO TEM nenhuma condição associada a cuidados de saúde, tra- ta-se de pneumonia comunitária. Resposta: C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELoTAS – UCPEL A propedêutica pulmonar em um quadro de pneumonia, na faixa etária de pré-adolescente, pode incluir a pectorilóquia, que é definida como: a) Vibração do ar nos alvéolos ampliada por ressonância pela caixa torácica. b) Ausculta da palavra articulada com nitidez e de forma intensa. c) Sensação vibratória originada nas cordas vocais transmitida até a superfície do tórax pelo pulmão. d) Presença de estertores subcrepitantes dis- seminados pelos campos pulmonares. e) Ausência de murmúrio vesicular audível em bases pulmonares. A pectorilóquia é, por definição: “Estado mórbido em que a voz do doente parece partir diretamente do peito”; para reconhecimento desse som, pede-se ao paciente para falar o clássico “trinta e três” no momento da ausculta. Quando se ouve com nitidez a voz falada, cha- ma-se pectorilóquia fônica e quando o mesmo acontece com a voz cochichada, chama-se pectorilóquia afônica, o que representa uma facilitação à passagem do som. Essa “facili- tação” ocorre nas situações de consolidação pulmonar (vista, evidentemente, nas pneumo- nias) devido à mais fácil transmissão de sons no meio sólido. Resposta: letra B. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 PRoCESSo SELETIVo UNIFICADo – MG Um adolescente de 15 anos, previamente hí- gido, procura o Pronto-Socorro com história de febre, tosse e dor torácica no hemitórax direito há 3 dias. Está febril, ta qui cárdico e taquipneico com broncofonia e pectorilóquia afônica e frêmito toracovocal aumentado. o diagnóstico para o caso baseado nos dados semiológicos é: a) Pneumonia alveolar. b) Pneumonia alveolar com derrame pleural. c) Pneumonia intersticial com derrame. d) Pneumonia necrotizante com derrame pleural. Questão conceitual sobre os achados semio- lógicos encontrados no exame pulmonar em pacientes com suspeita de consolidação pul- monar (pneumonia alveolar). Além dos citados, podemos citar outros como submacicez à per- cussão, diminuição do murmúrio vesicular e estertores crepitantes. Opção correta: letra A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ Queixando-se de falta de ar, febre com cala- frios, dor à inspiração e tosse seca, um mo- torista de ônibus procurou o serviço médico de sua empresa. Ao examiná-lo, o plantonista ob- servou diminuição da expansibilidade torácica à esquerda e diminuição basal do murmúrio vesicular, com frêmito toracovocal aumenta- do. Também aus cultou, na mesma região pul- monar, estertores crepitantes, raros sibilos ex- piratórios e nítido sopro tubário. Essa semiolo- gia do aparelho respiratório é compatível com: a) Fibrose intersticial. c) Pneumonia lobar. b) Infarto pulmonar. d) Pleurite adesiva. Quando você estuda a semiologia respira- tória, deve pensar “isto nunca vai cair!”. En- tão, mais um exemplo para você de síndrome de consolidação pulmonar. Resposta: C. 2) Alterações laboratoriais Em geral, estão presentes leucocitose entre 15.000 a 35.000/mm3, com desvio para es- querda e maciça ativação dos neutrófilos, que pode ser notada à hematoscopia pela presença de granulações grosseiras no citoplasma e/ou corpúsculos de Dohle (muito detalhe, não? Mas podem perguntar...). A leucopenia pode ocorrer, sendo considerada um importante sinal de mau prognóstico. A bioquímica na maioria das vezes está normal, mas pode mostrar hiponatremia leve a moderada em alguns casos. CONCEITO FUNDAMENTAL O quadro clinicolaboratorial descrito é muito co- mum quando a pneumonia bacteriana comunitá- ria acomete adultos de meia-idade previamente hígidos. Quanto mais idoso e mais debilitado for o paciente, mais o quadro clínico se afasta desta descrição! A febre pode estar ausente ou, se presente, ser mais baixa (38 a 38,5ºC). Po- dem faltar outros comemorativos, como a tosse, a expectoração purulenta e a leucocitose. Às vezes, o único sinal de pneumonia nesses pa- cientes pode ser a prostração, a desorientação ou a taquidispneia. Fique atento! O aumento agudo das escórias renais sugere sepse grave ou nefrite intersticial pelo antibió- tico utilizado. A gasometria arterial depende da gravidade e extensão da pneumonia, bem como da reserva cardiopulmonar prévia do paciente. Encontramos mais frequentemente hipoxemia e alcalose respiratória. O achado de hipoxemia grave (PaO2 < 60 mmHg), acidose metabólica ou respiratória são importantes sinais de mau prognóstico. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 18Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 3) Radiografia torácica Vamos prestar atenção em alguns pontos im- portantes! I) Existe pneumonia com radiografia de tórax normal? Sim, mas não é um achado comum. E por que isso pode ocorrer? (1) O infiltrado é re- trocardíaco, não sendo visualizado na inci- dência PA; (2) o infiltrado é muito tênue para ser identificado pela radiografia – mas pode ser visualizado na TC (este fenômeno é mais comum na pneumocistose e na neutropenia grave); (3) a técnica da radiografia foi incor- reta, exagerando-se na quilovoltagem dos raios X (“muito penetrado”). II) E o que costumamos visualizar na radio- grafia de um paciente com pneumonia por germe típico? Humm... Fácil! Um infiltrado pulmonar! Ok, mas os padrões de infiltrado podem ser diferentes. Geralmente são do tipo alveolar broncopneumônico, que corresponde à pre- sença de múltiplas condensações lobulares coalescentes – FIGURA 5. Já vimos que a presença do “broncograma aéreo” caracteriza o infiltrado alveolar, pois os alvéolos em volta do brônquio estão preenchidos de exsudato, contrastando com o ar no seu interior. Em outras situações, podemos ter uma grande área de consolidação alveolar, constituindo a pneumonia lobar ou sublobar – FIGURA 6. Mendelson (pneumonite química aspirati- va), o tromboembolismo pulmonar, a SDRA por causas não infecciosas, a pneumonia eosinofílica, a hipersensibilidade medica- mentosa, a síndrome de Löeffler, a BOOP (ou COP), colagenoses, vasculites, etc. Mui- tas vezes, essas entidades são confundidas com pneumonia na prática médica e o diagnóstico diferencial exige uma análise abrangente do caso clínico e de outros exames complementares. IV) Existem padrões radiológicos sugestivos de um determinado agente etiológico? Com certeza! Vamos ver no quadro a seguir! V) É verdade que posso acompanhar a me- lhora do paciente pela melhora do RX? Não se trata de um método confiável de acompanhamento, pois o RX pode se man- ter alterado apesar da clínica de melhora! Mas vamos ter cuidado! Existem padrões radiológicos sugestivos, mas estes não devem ser utilizados para determi- nar o agente etiológico, já que a especificidade é pequena. Antes de passar para o próximo tópico, veja neste vídeo algumas dicas sobre a localização das lesões numa radiografia de tórax que podem ser úteis para sua prova! O ALUNO PERGUNTA... Sempre ouço dizer que os pacientes imunodeprimidos podem apresentar pneumonia grave com pouca expressão radiológica. É verdade isso? Por quê? Sim! Na verdade o infiltrado característico da doença é causado principalmente pela ativa- ção local de macrófagos com liberação de mediadores inflamatórios, como interleuci- nas e TNF, que promovem alterações como quimiotaxia de neutrófilos e aumento da per- meabilidade capilar alveolar. Esta é, em últi- ma análise, a responsável pelo aparecimento do infiltrado pulmonar. Por essa razão, pa- cientes imunodeprimidos apresentam menor resposta imune e consequentemente menor expressão radiológica de pneumonia. Figura 7 – Infiltrado reticulonodularem pneumonia atípica. Figura 6 – Pneumonia lobar envolvendo todo o lobo superior direito. Figura 5 – Infiltrado broncopneumônico. Do mesmo modo que ocorre na histopatologia, o infiltrado alveolar do tipo broncopneu- mônico é o achado radiológico mais frequente na pneumonia bacteriana, qualquer que seja o agente etiológico! III)Todo infiltrado pulmonar observado na radiografia significa pneumonia? Claro que não! Existe uma infinidade de doenças não infecciosas que podem se manifestar como infiltrado pulmonar na radiografia. Quais os principais exemplos? Edema pulmonar da insuficiência cardíaca congestiva descompensada, a síndrome de ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 19Medgrupo - CiClo 2: M.E.D PneumonIA Por mICro-orgAnIsmos AtíPICos 1) Quadro clínico Lembra uma virose respiratória prolongada. O principal agente é o Mycoplasma pneumoniae, incidindo geralmente numa faixa etária jovem, acima dos cinco anos e abaixo dos 40 anos de idade. Ao contrário da pneumonia bacteriana típica, a instalação é subaguda (tempo de início médio dos sintomas = 10 dias), abrindo com sintomas gerais de uma “síndrome gripal”: dor de garganta, mal-estar, mialgia, cefaleia, tosse seca, febre entre 38 e 39ºC. A tosse costuma piorar após a primeira semana, passando a ser o principal sintoma; às vezes persiste por várias semanas. Costuma ser uma tosse seca, que atrapalha o sono do paciente, mas também pode mostrar-se produtiva. Neste caso, a ex- pectoração geralmente é branca, mas em 30 a 50% dos casos é descrita como purulenta. A pneumonia por Chlamydia pneumoniae se manifesta de forma muito semelhante à pneumonia por Mycoplasma pneumoniae, porém predomina numa faixa etária acima, geralmente entre 65 e 80 anos. É o segundo agente mais comum de pneumonia “atípica”. 2) Alterações laboratoriais Ocorre leucocitose neutrofílica em apenas cerca de 20% dos casos, o que difere da pneu- monia bacteriana “típica”, na qual a leucocitose com desvio para esquerda é a regra. Hiponatremia grave e elevação de enzimas hepáticas são mais comuns na pneumonia por Legionella pneumophila Vale mais uma vez lembrar a exceção: a Le- gionella, embora seja um micro-organismo “atípico”, geralmente apresenta quadro clínico “típico”, frequentemente evoluindo com gravi- dade. Por essas e outras razões é que mui- tos autores têm optado por abandonar esses termos. Nós apenas os mantemos aqui para fins didáticos, para que você perceba o quanto o quadro arrastado de uma pneumonia por Pneumonia lobar “Pneumonia do lobo pesado” (é um tipo especial de pneumonia lobar, onde o comprometimento do lobo su- perior provoca abaulamento da cisura) Pneumatoceles (são cistos com pare- des finas, decorrentes da passagem de ar para o interstício subpleural através de pequenas roturas bron- quiolares. Não exigem drenagem, pois regridem com a antibioticoterapia) Pneumonia redonda (é aquela que se manifesta na radiografia de tórax como uma condensação de formato arredondado, chamada de pseudo- tumor) Necrose parenquimatosa, com for- mação de cavitações Derrame pleural É quase sempre causada pelo pneumococo, mas pode eventualmente surgir em uma pneumonia estafilocócica ou por Gram-negativos. Causada pela Klebsiella pneumoniae (pneumonia de Friedlander), geralmente em alcoólatras ou diabéticos. Comum na pneumonia por Staphylococcus aureus. Po- dem aparecer também em infecções por K. pneumoniae, H. influenzae, S. pneumoniae e Pneumocystis (raro). É mais típica em crianças, causada quase sempre pelo Streptococcus pneumoniae. Ocorre mais nas pneumonias por anae róbios (aspirativa), Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus e Strep- tococcus pneumoniae sorotipo 3 (raro). Infecções por Pseudomonas também podem cavitar. Quando as lesões cavitárias são pequenas (< 2 cm), usa- mos a denominação pneumonia necrosante, e quando a lesão cavitária é grande (> 2 cm), contendo nível hidroa- éreo, chamamos de abscesso pulmonar. Na verdade, as duas entidades são gradações do mesmo processo. A incidência de derrame pleural associado à pneumo- nia bacteriana varia de acordo com o agente etiológico, desde 25 a 50% para o “pneumococo” e até 55 a 95% para o Streptococcus pyogenes. Quando alguma bacté- ria é isolada no líquido pleural, deve ser considerado o próprio agente etiológico da pneumonia, pois a pleura é caracteristicamente um compartimento estéril. Vale res- saltar que o isolamento desta bactéria define um derrame parapneumônico complicado ou empiema pleural. O der- rame pleural é complicado ou empiematoso em 1 a 5% na pneumonia pneumocócica, versus 90% na pneumonia aspirativa por anaeróbios. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 20Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Mycoplasma é diferente de uma pneumonia pneumocócica, por exemplo. 3) Radiografia torácica Um detalhe que marca a síndrome da pneu- monia “atípica” é a importante dis sociação clinicorradiológica. O exame do aparelho res- piratório costuma ser normal ou revelar apenas discretos estertores crepitantes ou sibilos, mas a radiografia de tórax frequentemente mostra um infiltrado pulmonar maior do que o esperado. E como podem ser estes infiltrados? Do tipo broncopneumônico (típico das infec- ções por Mycoplasma ou Chlamydia) ou do tipo intersticial reticular ou reticulonodular (tí- pico das viroses – FIGURA 7 anterior). Figura 8 – Pneumonia por Legionella em uma crian- ça. Repare a área de con- solidação alveolar. ATENçÃO AGORA!!! E a pneumonia por Legionella pneumophila (legionelose)? É uma exceção!!! Embora seja cons ide rado um agente “atí- pico”, o motivo certamente não é o quadro clí- nico, mas sim o fato de esta bactér ia não ser identificada com facilidade no Gram de es- carro, não cres- cer em cultura para germes comuns e não responder aos antibióticos be- talactâmicos. Na verdade, a legionelose é uma doença bastante grave, muito mais que a infecção pneumocócica, e de início agudo, com febre alta e evolução para grandes áreas de con- densação pulmonar de pneumonia lobar, bem diferente das pneumonias por micoplasma ou clamídia (FIGURA 8). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007 INSTITUTo DE PREVIDÊNCIA DoS SER- VIDoRES Do ESTADo DE MINAS GERAIS – IPSEMG Paciente do sexo masculino, com 16 anos, inicia com quadro de tosse não produtiva, cefaleia, artralgia, vômitos, febre baixa e bron- coespasmo importante. O diagnóstico presumido mais CoRRETo é: a) Pneumonia estafilocócica. b) Pneumonia pneumocócica. c) Pneumonia por Mycoplasma pneumoniae. d) Pneumonia viral. Mais uma: para começar, ninguém pode du- vidar que é pneumonia. Se você teve dúvida, leia as alternativas. A partir daí: pneumonia em jovem e com quadro respiratório atípico = micoplasma é a causa mais frequente! Diagnóstico DIAGNÓSTICO DE PNEUMONIA = Clínica + exame físico + radiografia com infiltrado pulmonar O exame físico possui sensibilidade de 58% e especificidade de 67% para o diagnóstico de pneumonia comunitária. Por esta razão, podem ser indicados alguns exames auxiliares para o diagnóstico. Além da radiografia, cujas alterações já abordamos, vamos estudar as indicações dos demais exames a seguir. Exames auxiliares A SpO2 deve ser avaliada na rotina, antes da oxigenoterapia suplementar. No caso de SpO2 ≤ 90% ou na presença de pneumonia conside- rada grave, a gasometria arterial está indicada. O hemograma apresenta baixa sensibilidade e especificidade, porém é útil na avaliação da gravidade e da resposta terapêutica. Além disso, leucopenia denota mau prognóstico. Gli- cemia, eletrólitos e transaminases não ajudam no diagnóstico, mas podem identificar doenças associadas e colaborar na decisão de inter- nação. A proteína C reativa e a procalcitonina sãomarcadores de atividade inflamatória que também podem ser solicitados. PrInCIPAIs exAmes dIsPoníVeIs PArA BusCArmos o Agente etIológICo 1) Exame de escarro Aí está a grande dúvida: vale a pena solicitar um exame de escarro de um paciente com suspeita de pneumonia? Pois é... Esta dúvi- da também passa pela cabeça dos principais especialistas no assunto! Vejamos as reco- mendações atuais segundo o último consen- so da ATS/IDSA (American Thoracic Society/ Infectious Disease Society of America): O exame de escarro (incluindo Gram e cultura) deve ser solicitado para todos os pacientes com pneumonia comunitária e indicação de internação hospitalar, listados na TAbELA 1 (a seguir), não havendo ne- cessidade para os pacientes que realizarão tratamento ambulatorial. Entretanto, mesmo nestes casos, é preciso ter em mente que o exame de escarro não deve retardar o início da antibioticoterapia empírica! Obs.: Alguns indivíduos com tosse seca preci- sam realizar uma nebulização (de preferência ultrassônica) com salina 3% (0,5 ml de NaCl ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 21Medgrupo - CiClo 2: M.E.D 20% + 4,5 ml de SF 0,9%) para conseguir expectorar material suficiente – é o famoso “escarro induzido”. Ora, mas o que é necessário para que o exa- me de escarro seja confiável, na avaliação diagnóstica de pneumonia? É preciso que o material da amostra seja proveniente das vias aéreas inferiores e não da faringe ou cavidade oral. Ou seja, tem que ser “escarro propria- mente dito” e não saliva. E como podemos saber isso? O exame microscópico pode nos dar uma pista importante: se tiver um número de neutrófilos polimorfonucleares > 25 por campo e de células epiteliais < 10 por cam- po, no aumento de 100x (objetiva de 10x), é porque o material é representativo das vias aéreas inferiores, e, portanto, confiável. Caso contrário, o material deve ser descartado, pois provavelmente representa secreção faríngea ou da cavidade oral. Escarro confiável: > 25 neutrófilos polimorfonucleares e < 10 células epiteliais por campo Bacterioscopia do escarro A bacterioscopia do escarro pelo Gram é o exame mais importante! Imagine um paciente com pneumonia comunitária “típica”, com infil- trado broncopneumônico na radiografia e cujo Gram de escarro revela a presença de múlti- plos diplococos Gram-positivos, sendo o ma- terial confiável para exame. O diagnóstico de pneumonia pneumocócica é muito provável. A adição de soro com anticorpos anticapsulares pode ressaltar a cápsula do “pneumococo” no Gram, aumentando a acurácia do teste – esta é a chamada “reação Quellung”. A interpreta- ção do Gram de escarro deve ser de acordo com a forma predominante. A presença de poucas bactérias ou de uma flora mista não aponta para nenhum germe específico. Embora o Gram de escarro tenha sido consi- derado um exame de razoável acurácia para o diagnóstico da pneumonia pneumocócica em casos suspeitos, já não é tão bom para os outros agentes etiológicos da pneumonia, sendo na maioria das vezes inconclusivo. Além do Gram, o método de Ziehl-Neelsen (B.A.A.R.) também deve ser realizado de ro- tina, de forma a detectar os casos de tuber- culose que eventualmente se apresentem de forma semelhante à pneumonia bacteriana. E a cultura do escarro? Preste atenção! Aprenda o seguinte concei- to: Para que uma bactéria seja detectada na bacterioscopia (Gram) de escarro como forma predominante, precisa ter uma concentração alta no material examinado. Entretanto, para uma bactéria crescer na cultura do laboratório, um pequeno número já é suficiente. Na maioria das vezes, portanto, a cultura de escarro para germes comuns não tem va- lor no diagnóstico etiológico da pneumonia bacteriana, pelo alto índice de falso-positivos (“contaminação”) e falso-negativos (inibição do crescimento do agente etiológico por um “contaminante”). Entretanto, quando cresce o “pneumococo” em um escarro “confiável” e com o Gram sugestivo, podemos aproveitar o antibiograma para guiar a terapêutica. 2) Hemoculturas Quando devemos coletar amostras para he- mocultura? Não esqueça! Nem todos os pa- cientes que precisam internar com pneumonia bacteriana merecem coleta de hemoculturas. Veja as indicações na TAbELA 1. Tabela 1 – Indicações clínicas para investigação microbiológica. Indicação Hemocultura Cultura TAU- TAU- Outros do escarro -Legionella -pneumocócico Internação em CTI X X X X Xa Falência do tratamento X X X ambulatorial Infiltrados cavitários X X Xb Leucopenia X X Intoxicação alcoólica X X X X Doença hepática X X crônica grave Doença pulmonar X obstrutiva/estrutural grave Asplenia X X (anatômica ou funcional) Viagem recente X Xc (dentro de duas semanas) Resultado do Xd TAU-Legionella positivo ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 22Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Mas a probabilidade de crescer alguma bactéria não é baixa? Sim, é de apenas 5 a 14%, mas se isto acon- tecer, o diagnóstico etiológico está dado, pois o sangue é um material normalmente estéril. A exceção é quando cresce um micro-orga- nismo de pele (estafilococo coagulase nega- tiva) em uma única amostra, já que este pode ser um contaminante... 3) Testes de antígenos urinários • Teste do Antígeno Urinário Pneumocóci- co: possui sensibilidade de 50 a 80% e es- pecificidade de mais de 90%. É um exame de rápida realização. • Teste do Antígeno Urinário da Legionel- la Sorotipo 1: possui sensibilidade de 70 a 90% e especificidade de 99%. Pode ser detectado três dias após o início da doen- ça clínica, segundo o Harrison, e já no 1º dia segundo o consenso da SBPT. Pode ser detectado mesmo após o início da antibioti- coterapia e depois de semanas de infecção. Recomendado nos casos de pneumonia co- munitária grave. Estes testes já estão disponíveis nos EUA e, no Brasil, apenas em alguns hospitais. 4) Outros testes não invasivos • PCR de material coletado por swab na- sofaríngeo: utilizado principalmente para o diagnóstico de infecções virais, também pode ser empregado para detectar infecções por Legionella, Mycoplasma, Chlamydia e micobactérias. • Sorologia: depende de uma elevação do IgM em pelo menos quatro títulos entre a fase aguda e a convalescença, não sendo um exame tão útil na prática, pois não dá o diagnóstico durante a fase aguda da doença. 5) Broncofibroscopia A broncofibroscopia é um exame relativamente seguro e bem tolerado pelos pacientes, sen- do atualmente considerado o exame invasivo de escolha para a coleta de material das vias aéreas inferiores. A principal complicação é a hipoxemia, notada em 15 a 20% dos exames, sendo facilmente corrigida. Indica-se a coleta de material pela broncofibroscopia nos casos de: (1) pneumonia não responsiva aos anti- bióticos; (2) pneumonia em imunodeprimidos.Nos casos de pneumonia comunitária grave, com indicação de UTI, a indicação é relativa. O material do Lavado Broncoalveolar (LBA) e o obtido no Escovado com Cateter Protegido (ECP) devem ser enviados para realização de cultura quantitativa para germes comuns, bacterioscopia pelo Gram e BAAR, micologia e cultura para BK e fungos. 6) Existem outros exames invasi- vos disponíveis? Quais são eles? Sim. São representados pelo aspirado trans- traqueal, punção transtorácica e biópsia pul- monar. O aspirado transtraqueal é realizado inserindo-se um cateter pela membrana crico- tireoide, sob anestesia local, e introduzindo-o até a carina. A sensibilidade alcança 90%, mas a especificidade fica comprometida por não separar a infecção pulmonar da coloniza- ção da árvore traqueobrônquica (comum no paciente DPOC). Os riscos não são peque- nos e podem incluir enfisema subcutâneo e mediastinal, bem como graves complicações hemorrágicas. A punção transtorácica, reali- zada por uma agulha fina e guiada pela TC de tórax, é um exame de razoável acurácia, porém com um índice de complicações alto (até 40%), incluindo pneumotórax e hemotó- rax. Este procedimento é contraindicado em pacientes durante a ventilação mecânica (risco demasiado alto de pneumotórax). A biópsia pulmonar transbrônquica, realizada durante a broncofibroscopia, tem uma acurácia semelhante à punção transtorácica, com uma taxa de complicações um pouco menor. A biópsia a céu aberto ou guiada pela tora- coscopia endoscópica é o exame padrão-ou- ro para o diagnóstico da pneumonia bacte- riana e do seu agente etiológico. Contudo, só está indicada nos casos duvidosos, mesmo após a análise do material da broncofibroscopia, e que não estão respondendo adequadamente à antibioticoterapia. A biópsia guiada pela tora- coscopia tem revelado resultados promissores, Tabela 1 – Indicações clínicas para investigação microbiológica. (Cont.) Indicação Hemocultura Cultura TAU- TAU- Outros do escarro -Legionella -pneumocócico Resultado do X X TAU-pneumocócico positivo Derrame pleural X X X X Xe TAU = Teste do Antígeno Urinário Hemocultura antes da primeira dose do antibiótico a - Aspirado endotraqueal se intubado (possibilidade de LBA) b - Cultura fúngica e tuberculose c - Ver a TAbELA 2 d - Meio especial para Legionella e - Toracocentese e cultura de líquido pleural ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 23Medgrupo - CiClo 2: M.E.D com acurácia acima de 90% e com um índice de complicações inferior ao encontrado na biópsia a céu aberto. eM resuMo... PACIENTES AMBULATORIAIS: Tratamento sem exames microbiológi- cos PACIENTES INTERNADOS: Coletar amostras para rastreamento microbiológico antes de iniciar o antibi- ótico, segundo os critérios da tabela 1. Iniciar o tratamento imediatamente, não esperar o resultado do rastreamento Mesmo quando indicada a pesquisa do agente etiológico, o início do tratamento deve ser empírico e não pode ser atrasa- do!! Colhemos as culturas e iniciamos imediatamente o antibiótico. Depois po- demos alterar o esquema escolhido se houver necessidade. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP Homem de 32 anos refere, há 2 dias, febre alta, dor torácica tipo pleurítica à direita, tosse com expectoração amarelada em moderada quantidade. Exame físico: regular estado ge- ral, taquidispneico com FR 32 mpm, sonolen- to, ausculta pulmonar com crepitações na base esquerda. Com o diagnóstico de pneumonia aguda, o provável agente etiológico e as con- dutas diagnósticas, além do RX, são: a) Staphylococcus aureus, hemograma e he- moculturas. b) Streptococcus pneumoniae, bacterioscopia de escarro e hemoculturas. c) Mycoplasma pneumoniae, dosagem de crioaglutininas e hemoculturas. d) Streptococcus pneumoniae, bacterioscopia de escarro e tomografia de tórax. e) Vírus influenza H1N1, tomografia de tórax e cultura de escarro. Estamos diante de um paciente jovem, com um quadro de pneumonia comunitária com sinais de gravidade (taquidispneia e rebaixamento do nível de consciência). Sabemos que o pneumo- coco (Streptococcus pneumoniae) persiste como o principal germe causador de pneumonia co- munitária em nosso meio; logo, o esquema te- rapêutico a ser escolhido deve, obrigatoriamen- te, ter cobertura para tal germe. Como dito an- teriormente, este paciente possui alguns sinais de gravidade o que implicam na sua hospitali- zação, inclusive, em um centro de tratamento intensivo. Dessa forma, temos que lembrar que todo paciente com pneumonia comunitária que for internado deve ser submetido, no mínimo, a coleta de escarro para bacterioscopia e cultura, além de hemoculturas. Logo, melhor resposta, embora incompleta, letra B. Prognóstico: Tratamento Ambulatorial x Internação Hospitalar A internação hospitalar faz-se necessária nos casos mais graves. Cerca de 20% dos pacientes com pneumonia são internados para receber o tratamento adequado. Será que os clínicos sabem decidir corre- tamente quem deve ser tratado em casa e quem deve se internar? Pois é... Segundo as pesquisas, os clínicos tendem a supe- restimar a gravidade da pneumonia, in- dicando internação para pacientes que fi- cariam muito bem caso fossem tratados em casa. E que estratégia foi proposta para tentar amenizar esse problema? Numa tentativa de objetivar e uniformizar a decisão médica no atendimento a pacientes com pneumo- nia, os estudiosos desenvolveram formas de classificação e estadiamento da pneu- monia comunitária, de acordo com critérios de gravidade previamente testados. Neste aspecto, um sistema que foi muito aceito e conceituado na literatura é o PSI (Pneumo- nia Severity Index), dividindo os pacientes em cinco classes de prognóstico, de acordo com um escore de pontos desenvolvido pelo grupo PORT (Pneumonia Patient outcomes Research Team) – o escore PORT. Esta clas- sificação foi feita para avaliar o risco de óbito e não a gravidade dos pacientes, mas como não havia outra maneira melhor, foi a mais utilizada para os pacientes com pneumonia comunitária até pouco tempo. Contudo, esse escore possui diversas variáveis, de forma que nem sempre é fácil para o médico cal- culá-lo em meio a uma emergência lotada, por exemplo. Atualmente, como veremos adiante, utilizamos um escore bem mais simples, o critério CURB-65, para avaliar a gravidade, indicando ou não internação e em que setor: enfermaria ou terapia inten- siva. Veremos que é muito mais prático que a classificação PSI. PsI (Pneumonia Severity index) – esCore Port Vejamos como utilizar este sistema de clas- sificação prognóstica da pneumonia comuni- tária. O primeiro passo é definir os pacientes na Classe I, isto é, de excelente prognósti- co com antibioticoterapia domiciliar. A sua letalidade é baixíssima (entre 0,1 e 0,4%). ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 24Medgrupo - CiClo 2: M.E.D Uma vez devidamente classificado, a conduta deveria ser a seguinte: Pacientes Classes I e II devem ser trata- dos ambulatorialmente; Pacientes Classe III devem ser avaliados individualmente e podem ser tratados ambulatorialmente ou internados em unidade de observação, geralmente ne- cessitando de hospitalização breve (1-3 dias) até estabilizarem; Pacientes Classes IV e V devem ser inter- nados e tratados no hospital (nos Classe V, pensar em UTI). Vantagens e desvantagens da classifi- cação PSI com o escore PORT Duas críticas podem ser feitas a este sistema prognóstico: (1) falhaem alguns casos indivi- duais, ao dar a mesma pontuação para graus diferentes de uma complicação – por exemplo, um paciente com PA sistólica = 40 mmHg re- cebe a mesma pontuação de outro com PA sistólica = 85 mmHg; (2) dá trabalho ao médi- co e pode atrasar o atendimento. A principal vantagem é que esse sistema foi va- lidado em diversos estudos de grande porte ran- domizados, sendo o método recomendado pela Infectious Diseases Society of America (IDSA). RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 ASSoCIAÇÃo MÉDICA Do PARANÁ – AMP Qual comorbidade tem MAIOR pontuação na classificação de gravidade de pneumonia ad- quirida na comunidade? a) Neoplasia. b) Doença hepática. c) Insuficiência cardíaca congestiva. d) Doença cerebrovascular. e) Insuficiência renal. Como vimos: opção A correta! Classe de Risco Pontos Letalidade I Vide parágrafo anterior 0.1% II < 70 0.6% III 71-90 2.8% IV 91-130 8.2% V > 130 29.2% Características Pontos 1- Reside em abrigo + 10 2- Neoplasia maligna ativa + 30 3- Doença hepática + 20 4- Insuficiência cardíaca + 10 5- Doença cerebrovascular + 10 6- Doença renal + 10 7- Confusão mental + 20 8- FR ≥ 30 ipm + 20 9- PA sist. < 90 mmHg + 20 10- Tax. < 35ºC ou ≥ 40ºC + 15 11- FC ≥ 125 bpm + 10 12- pH < 7,35 + 30 13- Ureia ≥ 30 mg/dl + 20 14- Sódio < 130 mEq/L + 20 15- Glicose ≥ 250 mg/dl + 10 16- Hematócrito < 30% + 10 17- PaO2 < 60 mmHg ou SaO2 < 90% + 10 18- Derrame pleural + 10 ESCORE DE PONTOS PORT HOMEM: ESCORE = IDADE (ANOS) + PONTUAçÃO OBTIDA MULHER: ESCORE = (IDADE [ANOS] – 10) + PONTUAçÃO OBTIDA Como definimos este primeiro grupo? São aqueles < 50 anos, com estado mental pre- servado, FC < 125 bpm, FR < 30 irpm, PAS > 90 mmHg, temperatura entre 35 e 40ºC e sem história de neoplasias, ICC, doença cerebro- vascular, doença renal ou doença hepática. Se qualquer uma destas características esti- ver presente, o indivíduo não pertence mais à classe I e deve ser classificado segundo a tabela a seguir. ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 25Medgrupo - CiClo 2: M.E.D CurB-65 Composição do escore CURB-65 Sigla Variável Alteração Pontua- ção C Confusão Presente 1 mental U Ureia ≥ 43 mg/dl* 1 R Respiração FR ≥ 30 irpm 1 B “Baixa” pressão PAS < 90** 1 arterial ou PAD ≤ 60 mmHg 65 Idade ≥ 65 anos 1 * > 50 mg/dl pela SBPT. CURB-65: 0 ou 1 AMBULATÓRIO CURB-65: ≥ 2 INTERNAÇÃO As diretrizes da ATS/IDSA sugerem que pode haver necessidade de internação em terapia intensiva em caso de CURB-65 ≥ 3. *Algumas referências podem trazer o pon- to de corte da ureia como 42 mg/dl. Existem algumas diferenças no CURB-65 publicado pela SBPT: são elas o valor da ureia (> 50 mg/dl) e as indicações de internação: consi- derar internação se CURB-65 = 2 e internar se ≥ 3. **O Harrison considera o ponto de corte para a PA sistólica menor OU IGUAL a 90 mmHg (os guidelines consideram apenas < 90 mmHg). A letalidade também pode ser estimada pelo valor do escore CURB-65. Veja a seguir: Pontuação Letalidade 0 0,7% 1 2,1% 2 9,2% 3 14,5% 4 40% 5 57% Você já deve ter percebido que a Medicina não é uma ciência exata. Portanto, a visão do médico deve ir além de uma simples pontuação! Ele deve considerar a idade do paciente, a possibilidade de o paciente tomar ou não medicação via oral, o apoio familiar que o indivíduo terá durante seu tratamento ambulatorial e a presença de comorbida- des que podem ser “descompensadas” pela pneumonia (diabetes, insuficiência cardíaca, DPOC). Dessa forma, mesmo com um esco- re CURB-65 de 0 ou 1, pode ser indicada a internação hospitalar, caso o paciente não conte com apoio em casa, principalmente se for idoso ou se apresentar comorbidades agravadas pela infecção. Também é preciso pesar que as internações têm um custo muito maior, prolongam o re- torno às atividades do dia a dia, além de encerrarem maior risco de tromboembolismo pulmonar e infecção por agentes mais viru- lentos e resistentes. Estas informações de- vem ser consideradas de modo a não haver internações desnecessárias. O consenso da SBPT utiliza também a forma simplificada do CURB-65, chamada de CRB-65, a qual pode ser aplicada inclusi- ve à beira do leito, pois não inclui a dosagem de ureia. Neste caso, com apenas um ponto podemos indicar internação hospitalar. A SBPT sugere que a avaliação inicial do pa- ciente com pneumonia comunitária passe pelas seguintes etapas: 1 - Avaliar a presença de doenças associadas; 2 - Avaliar CRB-65; 3 - Avaliar o grau de oxigenação e o compro- metimento radiológico • SpO2 < 90% – indica- ção de internação • Radiografia de tórax – Ex- tensão radiológica – Derrame pleural suspeito de empiema; 4 - Avaliar os fatores sociais e cognitivos • Ausência de familiar ou cuidador no domicí- lio – necessidade de observação da respos- ta ao tratamento • Capacidade de entendi- mento da prescrição; 5 - Avaliar os fatores econômicos • Acesso aos medicamentos • Retorno para avaliação; 6 - Avaliar a aceitabilidade da medicação oral; 7 - Julgamento clínico. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELoTAS – UCPEL Assinale a opção que não faz parte da ava- liação prognóstica sugerida pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia para Pneumonia comunitária. a) Dosagem de ureia sérica. b) Avaliação do estado mental. c) Frequência cardíaca. d) Frequência respiratória. e) Pressão arterial. Prognóstico na PAC? Referência ao CURB- 65, que utiliza estado mental, ureia sérica, FR, PA e idade para avaliação do prognóstico. Resposta: letra C. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 HoSPITAL MATERNIDADE THEREZINHA DE JESUS – MG Durante o plantão de um médico recém-for- mado em um pronto atendimento de Juiz de Fora, chega um paciente de 50 anos, branco, desempregado, com queixa de tosse produtiva há 48 horas, dor torácica e febre não aferida. Veio à consulta sem acompanhante, e informa mal sobre comorbidades. Durante atendimento apresentou vômitos, que segundo o paciente tem sido recorrente o dia todo. Exame físico: PA 110x80 mmhg, FC 90 bpm, FR 20 ipm, Glasgow 15, MV presente com crepitação grosseira em ClíniCa MédiCa - VoluMe 7 26Medgrupo - CiClo 2: M.E.D base direita. Sobre o caso clínico assinale a alternativa mais CoRRETA: a) Com base nos critérios de CRB-65 seria indicado internação, com antibiótico venoso, pela alta taxa de mortalidade nesses pacientes. b) Após inicio do tratamento é obrigatório o controle radiológico semanal e 6 meses após resolução do quadro. c) Diante do quadro clínico instável torna-se imperativo tratamento em unidade intensiva. d) Está recomendado internação para antibióti- co venoso, pela impossibilidade de via oral no momento e condições socioeconômicas. O quadro pneumônico desse paciente é bas- tante aparente para nós. Após o diagnóstico de pneumonia devemos decidir onde será o tratamento. Será em casa ou no hospital? O julgamento clínico é o mais importante aqui, mas existem critérios que nos ajudam a tomar tal decisão. Um deles é o CURB-65. As dire- trizes brasileiras propõem o CRB-65, para ser realizado à beira do leito, quando não dispomos do valor da ureia. Esse paciente não pontua no CRB-65, e, por esse critério, deveria ser manda- do para casa (com um ponto já poderia ter sido internado – A e C erradas). No entanto, como acabamos de estudar, não devemos atentar apenas a escores em casos como este: observe que o paciente refere estar vomitando de forma incoercível, o que deixa a via oral indisponível no momento, fazendo-o ter indicação de internação pelo menos para receber a primeira dose do
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