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apostila desafios da familia na contemporaneidade

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1 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
Apresentação ................................................................................................................................ 5 
Aula 1: Formação da família no contexto familiar atual ............................................................... 6 
Introdução ........................................................................................................................6 
Conteúdo ................................................................................................................................ 6 
Codificação Beviláqua ...................................................................................................6 
Constituição familiar na contemporaneidade ............................................................7 
Família na Constituição Brasileira ................................................................................8 
Formação da família no contexto constitucional atual ..............................................9 
A família matrimonializada .........................................................................................11 
A família monoparental ...............................................................................................15 
A união estável heteroafetiva .....................................................................................15 
Conclusão .....................................................................................................................17 
Atividade proposta .......................................................................................................17 
Referências .......................................................................................................................... 18 
Exercícios de fixação ........................................................................................................ 19 
Notas ........................................................................................................................................... 25 
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 26 
Aula 2: A família homoafetiva ..................................................................................................... 27 
Introdução ......................................................................................................................27 
Conteúdo .............................................................................................................................. 28 
Análise da evolução histórica da identidade homossexual ....................................28 
A criminalização homossexualidade ..........................................................................30 
Despatologização e descriminalização ......................................................................30 
Os relacionamentos homoafetivos no Brasil ............................................................31 
A união homoafetiva ...................................................................................................33 
Direito fundamental à opção sexual ..........................................................................34 
Princípio da liberdade de orientar-se sexualmente .................................................36 
A isonomia entre parcerias homossexuais e heterossexuais .................................37 
Entidade familiar homoafetiva ...................................................................................39 
Atividade proposta .......................................................................................................40 
Aprenda Mais ....................................................................................................................... 41 
Referências .......................................................................................................................... 42 
Exercícios de fixação ........................................................................................................ 43 
2 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 49 
Aula 3: Homoparentalidade ........................................................................................................ 51 
Introdução ......................................................................................................................51 
Conteúdo .............................................................................................................................. 52 
Homoparentalidade .....................................................................................................52 
O exercício da parentalidade ......................................................................................53 
Estatuto da diversidade sexual ..................................................................................54 
Princípio constitucional da igualdade ........................................................................55 
Jurisprudência acerca da homoparentalidade .........................................................56 
Jurisprudência – caso 1 ...............................................................................................57 
Jurisprudência – caso 2...............................................................................................59 
Jurisprudência – caso 3 ...............................................................................................61 
Jurisprudência – caso 4 ...............................................................................................63 
Jurisprudência – caso 5...............................................................................................64 
Conclusão .....................................................................................................................65 
Atividade proposta .......................................................................................................65 
Referências .......................................................................................................................... 66 
Exercícios de fixação ........................................................................................................ 67 
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 73 
Aula 4: Filiação e reprodução medicamente assistida ................................................................ 77 
Introdução ......................................................................................................................77 
Conteúdo .............................................................................................................................. 78 
Reconhecimento jurídico da filiação ..........................................................................78 
Filiação no constitucionalismo brasileiro ..................................................................78 
Aprenda Mais ....................................................................................................................... 79 
Referências .......................................................................................................................... 80 
Exercícios de fixação ........................................................................................................ 80 
Notas ........................................................................................................................................... 86 
Chaves de resposta .....................................................................................................................86 
Aula 5: Afetividade e cuidado ..................................................................................................... 88 
Introdução ......................................................................................................................88 
Conteúdo .............................................................................................................................. 88 
A nova família brasileira tem origem no afeto e não no casamento .....................88 
Dignidade ......................................................................................................................89 
Direitos fundamentais .................................................................................................90 
Relações afetivas .........................................................................................................91 
3 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
Jurisprudência ..............................................................................................................92 
Relações intersubjetivas familiares ..........................................................................93 
Dever de cuidado .........................................................................................................94 
Tutela dos direitos de personalidade ........................................................................96 
Atividade proposta .......................................................................................................96 
Referências .......................................................................................................................... 98 
Exercícios de fixação ........................................................................................................ 99 
Chaves de resposta ................................................................................................................... 104 
Aula 6: Alienação parental ........................................................................................................ 107 
Introdução ................................................................................................................... 107 
Conteúdo ............................................................................................................................ 107 
Análise da Lei de Alienação Parental (Lei nº 12.318/2010) ................................. 107 
Síndrome de Alienação Parental ............................................................................. 108 
Possíveis Sanções ..................................................................................................... 109 
Convivência familiar ................................................................................................. 110 
Estatuto das Famílias define a alienação parental................................................ 111 
Análise da jurisprudência sobre alienação parental ............................................. 112 
Indício de alienação parental .................................................................................. 114 
Perícia psicológica ..................................................................................................... 117 
Atividade proposta .................................................................................................... 118 
Referências ........................................................................................................................ 119 
Exercícios de fixação ...................................................................................................... 119 
Chaves de resposta ................................................................................................................... 128 
Aula 7: Alimentos gravídicos e cadastro de proteção ao credor de alimentos ......................... 129 
Introdução ................................................................................................................... 129 
Conteúdo ............................................................................................................................ 130 
Análise do contorno jurídico dos alimentos gravídicos ........................................ 130 
A Lei de Alimentos Gravídicos ................................................................................. 131 
Indícios da paternidade ........................................................................................... 132 
Análise da possibilidade de inscrição do nome do devedor de alimentos no 
cadastro de proteção ao crédito ............................................................................. 134 
Efeitos jurídicos da inscrição do nome ................................................................... 136 
Principais características dos alimentos ................................................................. 137 
Atividade proposta .................................................................................................... 140 
Referências ........................................................................................................................ 140 
Exercícios de fixação ...................................................................................................... 141 
4 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
Notas ......................................................................................................................................... 148 
Chaves de resposta ................................................................................................................... 148 
Aula 8: Uniões paralelas ............................................................................................................ 151 
Introdução ................................................................................................................... 151 
Conteúdo ............................................................................................................................ 151 
Diferença entre união estável de concubinato...................................................... 151 
Estabelecimento de união estável .......................................................................... 152 
Concubinato adulterino ou união paralela ............................................................. 155 
Análise do jurídica do concubinato adulterino ...................................................... 156 
União paralela ........................................................................................................... 156 
As três correntes - ordem patrimonial ................................................................... 158 
Designações discriminatórias .................................................................................. 160 
Atividade proposta .................................................................................................... 161 
Referências ........................................................................................................................ 163 
Exercícios de fixação ...................................................................................................... 163 
Chaves de resposta ................................................................................................................... 169 
Conteudista ............................................................................................................................... 172 
5 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É possível constatar que, histórica e juridicamente, a sociedade alicerçou-se na 
tríade sexo, casamento e família, moralizando o comportamento humano, como 
se, por meio de ficção legal, houvesse a possibilidadede somente reconhecer a 
entidade familiar concebida sob tais cânones, independentemente da ordem 
dos desejos. Porém, é possível substituir na presente “equação” a palavra 
casamento pela palavra afeto, que representa muito mais do que uma 
finalidade, pois representa uma verdade. Ao se inserir o afeto nesse contexto, 
há de se constatar a pluralidade com que se desenvolve atualmente, formando, 
pois, novos núcleos familiares. 
Além disso, será analisado na presente disciplina a evolução sócio-jurídica da 
identidade homossexual e o reconhecimento da família homoafetiva, bem como 
o exercício da homoparentalidade. A filiação, dentro do cenário civil- 
constitucional, também será objeto de estudo. 
Por fim, serão estudadas questões inerentes aos novos desafios da família na 
contemporaneidade, quais sejam: alienação parental, alimentos gavídicos, 
cadastro de proteção ao credor de alimentos e uniões paralelas 
 
Sendo assim, essa disciplina tem como objetivos: 
1. Analisar a formação da família no contexto constitucional atual. 
2. Analisar a família matrimonializada, monoparental, as uniões estáveis 
heteroafetivas e homoafetivas, além das uniões paralelas. 
3. Analisar a evolução histórica da identidade homossexual e o exercício da 
homoparentalidade. 
4. Analisar a filiação no ordenamento jurídico brasileiro. 
6 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
5. Analisar a alienação parental, os alimentos gavídicos e o cadastro de 
proteção ao credor de alimentos. 
 
 
 
 
 
Introdução 
A presente aula tem como objetivo constatar que, histórica e juridicamente, a 
sociedade alicerçou-se na tríade sexo, casamento e família, moralizando o 
comportamento humano, como se, por meio de ficção legal, houvesse a 
possibilidade de somente reconhecer a entidade familiar concebida sob tais 
cânones, independentemente da ordem dos desejos. Porém, é possível 
substituir na presente “equação” a palavra casamento (pelo menos o 
casamento civil tradicional de matriz exclusivamente heterossexual), pela 
palavra afeto, que representa muito mais do que uma finalidade, pois 
representa uma verdade. Ao se inserir o afeto nesse contexto, há de se 
constatar a pluralidade com que se desenvolve atualmente, formando, pois, 
novos núcleos familiares. 
 
Objetivo: 
1. Analisar a formação da família no contexto constitucional atual; 
2. Analisar a família matrimonializada, monoparental e as uniões estáveis 
heteroafetivas. 
Conteúdo 
 
Codificação Beviláqua 
De acordo com Chaves e Rosenvald (2014, p. 174): 
 
 
Durante a vigência da Codificação Beviláqua [Código Civil de 1916], o 
casamento assumiu preponderante papel de forma instituidora única da família 
legítima, que gozava de privilégios distintos. Fora do casamento a família era 
7 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
ilegítima, espúria ou adulterina, e não merecia a proteção do ordenamento 
jurídico familiarista, projetando efeitos, tão somente, no âmbito das relações 
obrigacionais (grifos nossos). 
Constituição familiar na contemporaneidade 
Desta forma, o direito civil clássico, a partir do contexto social inserido, atrelava 
o sexo à reprodução, a partir do casamento, concebendo a conduta 
heterossexual como a conduta típica, e mais, como a única possível e legítima. 
Tal premissa já não mais se sustenta no atual cenário jurídico, uma vez que o 
ato sexual não é o único meio que se tem para procriar, existindo várias outras 
formas. 
 
Em outro giro, o casamento não é mais compreendido como legitimador das 
relações sexuais, pois o sexo, modernamente, encontra-se compreendido na 
ordem do desejo, o que afasta a exclusividade de sua função procriadora e o 
eleva a uma das principais fontes de prazer. 
 
A partir da constituição e reconhecimento dos direitos sexuais, ocorre a 
possibilidade do livre exercício responsável da sexualidade pelo sujeito de 
direito, estruturando uma regulamentação jurídica equidistante da tradicional 
moralidade repressiva, que caracterizava as relações sociais. 
 
Logo, surge uma compreensão pós-dogmática dos direitos sexuais, na qual o 
conjunto de normas jurídicas e sua aplicação possam ir além de ordenamentos 
restritivos, assumindo o sistema o seu papel transformador, ao estimular 
condições favoráveis à estruturação de um direito da sexualidade humano e 
revolucionário, no qual seja possível legitimar todas as formações familiares 
(RIOS, 2006, p. 71). 
 
Assim, o direito de família não deve alicerçar-se por identidades e práticas 
sexuais moralmente definidas, baseadas na ideologia heterossexual da maioria, 
calcada em sexualidade ortodoxa. Com isso, o sistema jurídico deve assimilar as 
identidades sexuais periféricas minoritárias, coibindo sua marginalização. Trata- 
8 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
se, portanto, de alinhavar um novo direito de família com caráter 
transformador, informado pelos princípios da liberdade e da igualdade (RIOS, 
2006, p. 82). 
 
É cabível constatar, que a família de matriz patriarcal é o último elemento da 
tríade proposta, pois constitui o resultado do sexo heterossexual e do 
casamento civil. Sua origem vincula-se ao surgimento do sistema capitalista, 
cuja função estava ancorada no âmbito patrimonial, além de tentar manter o 
controle social, a partir de valores androcêntricos e de reducionismos religiosos. 
 
 
Família na Constituição Brasileira 
 
No Brasil, apenas com a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, 
ocorreu o rompimento da premissa de que o casamento era o único instituto 
formador e legitimador da família tradicional, na qual os interesses individuais 
eram anulados em prol da manutenção do vínculo. De acordo com Pereira 
(2012, p. 195): 
 
A hermenêutica do texto constitucional e, sobretudo, da aplicação do princípio 
da pluralidade das formas de família, sem o qual se estaria dando um lugar de 
indignidade aos sujeitos da relação que se pretende seja família, tornou-se 
imperioso o tratamento tutelar a todo grupamento que, pelo elo do afeto, 
apresenta-se como família, já que ela não é um fato da natureza, mas da 
cultura. Por tratamento tutelar entenda-se o reconhecimento do Estado de que 
tais grupamentos não são ilegítimos e, portanto, não estarão excluídos do laço 
social. 
 
Nesse cenário, as famílias podem ser recompostas, reconstituídas, binucleares, 
monoparentais, formadas por casais com filhos de casamentos anteriores e 
seus novos filhos, por casais homossexuais, através de uniões estáveis, já que 
a lista da pluralidade de arranjos familiares é vasta, sendo apenas fundamental 
verificar se os indivíduos uniram-se através de laços afetivos e se constituíram 
9 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
em entidade familiar, que está além de um convívio superficial e 
despretensioso, o que reclama sua proteção pelo Estado sob o epíteto família. 
 
Segundo Pereira (2012, p. 199): 
Pouco relevante é a obediência a uma padronização, mesmo porque, quando se 
trata de afeto, isso é impensável. Necessário é compreender que a sociedade 
comporta a pluralidade de família, num movimento histórico, a partir das 
demandas íntimas de cada indivíduo. Ao se relacionar e afeiçoar-se a alguém, 
não deveria fazer parte da preocupação da pessoa a titulação que será dada a 
este elo. O importante é verificar se há ali um núcleo familiar compondo uma 
estrutura psíquica, seja com alguém de seu sexo ou de sexo oposto, com filhos 
ou sem eles, para se ter uma nova vivência afetiva, não obstante a dor de um 
rompimento anterior. 
 
 
Formação da família no contexto constitucional atual 
A partir doexposto, a família constitui o núcleo da sociedade, devendo 
reconhecer o direito, as relações estruturadas em seu bojo e determinantes 
para a sua formação, em observância à dignidade da pessoa humana. É 
possível afirmar que a família contemporânea forma-se a partir do afeto, 
relegando antigas funções em que preponderava o valor patrimonial. 
 
Dias (2011, p. 336) ressalta o afeto como valor maior na constituição de uma 
família e acrescenta: 
O direito das famílias, ao receber o influxo do direito constitucional, foi alvo de 
uma profunda transformação. O princípio da igualdade ocasionou uma 
verdadeira revolução ao banir as discriminações que existiam no campo das 
relações familiares. Num único dispositivo, o constituinte espancou séculos de 
hipocrisia e preconceito. Além de alargar o conceito de família para além do 
casamento, foi derrogada toda a legislação que hierarquizava homens e 
mulheres, bem como a que estabelecia diferenciações entre os filhos pelo 
vínculo existente entre os pais. A Constituição Federal, ao outorgar a proteção à 
10 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
família, independentemente da celebração do casamento, vincou um novo 
conceito, o de entidade familiar, albergando vínculos afetivos outros. 
 
A doutrinadora em comento estabelece vínculo entre direito civil, na sua 
dimensão familiar, e direito constitucional, na esteira da leitura civil- 
constitucional do ordenamento jurídico brasileiro. 
Na perspectiva apresentada, o princípio da isonomia foi alçado à categoria 
normativa, determinando emergência de novo ideário infraconstitucional acerca 
de família, constituída por meio do afeto e não apenas do matrimônio. Tornou- 
se irrelevante perquirir se a família encontra-se alicerçada no casamento, na 
união estável entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, ou da 
adoção por pessoa solteira. 
 
Como se pode inferir, não há mais espaço para a reprodução de codificação, 
que tenha a pretensão de ser completa e impermeável ao tempo; em sentido 
contrário, abre-se um espaço para outra construção, na qual o direito civil- 
constitucional requer análise interdisciplinar, não se admitindo a mera 
justaposição entre direito civil clássico e direito constitucional. Trata-se, na 
verdade, da criação de outro direito privado, norteado por princípios 
constitucionais. 
Sob esse ângulo, novas formas privilegiadas de afeto passam a informar os 
modelos de família, que o direito tem a incumbência de legitimar, pois a 
Constituição da República de 1988 não apresentou rol taxativo de possibilidades 
de entidades familiares. Em decorrência, o novo direito de família transforma-se 
em instrumento hábil à realização da dignidade humana, a partir do 
reconhecimento da pluralidade de entidades familiares. 
 
Em síntese, a Carta Magna dedicou atenção a algumas entidades familiares, 
não se restringindo a um único modelo, como o fez o Código Civil de 1916. 
Entre outras consequências, percebe-se o afastamento de um formalismo 
exacerbado que segregava social e juridicamente alguns indivíduos e grupos. 
Não subsiste, desta maneira, hierarquia entre filhos, distinções entre sexos, ou 
11 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
preconceitos de qualquer espécie, e o sujeito, a partir da nova perspectiva, 
passa a escolher a forma de constituir sua família. 
 
Essa vertente alberga vários modelos, os quais têm a aptidão para produzir 
efeitos jurídicos, independentemente do suporte do matrimônio civil, devendo 
ser considerada discriminação injusta um tratamento inferior a qualquer das 
possibilidades de formação familiar, segundo os valores do atual sistema 
jurídico. 
 
Como realçado, a nova ordem constitucional redireciona a hermenêutica 
atinente à instituição familiar, o que incorpora a realidade fática ao sistema 
normativo. Diante da omissão legislativa, cabe à jurisprudência ressaltar ora a 
existência do afeto a propiciar a origem da família, ora a constatação de sua 
ausência. 
 
Na presente ordem de ideias, são elucidativas as considerações de Gama 
(2000, p. 32): 
(...) O certo é que uma das notas peculiares do final do século XX consiste na 
verificação de que as famílias devem se fundar, cada vez mais, em valores 
existenciais e psíquicos, próprios do convívio próximo, afastando as uniões de 
valores autoritários, materialistas, patrimonialistas e individualistas que 
notabilizaram o modelo de família oitocentista do Código de Napoleão. E, no 
âmbito jurídico, não se pode deixar de considerar o relevante e inestimável 
papel da Constituição Federal, mormente a de 1988, no direito brasileiro: como 
já se pôde perceber, o direito civil passa pelo fenômeno de constitucionalização 
dos bens e valores fundantes do ordenamento jurídico, com atribuição de maior 
relevância à pessoa humana (o ser) do que ao seu patrimônio (o ter). 
 
A lei nº 13.146/15, que foi nomeada de Estatuto da Pessoa com Deficiência, diz 
que a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo, de 
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, conforme o seu art. 2º. Não 
fazendo nenhum tipo de distinção para a aplicabilidade da lei ao tipo de 
deficiência portada pela pessoa. 
12 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
Lei nº 13.146/15 
O artigo 6º do Estatuto tem a seguinte redação: 
Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive 
para: 
I - casar-se e constituir união estável; 
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; 
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a 
informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; 
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; 
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e 
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante 
ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. 
E acrescenta no artigo 84: 
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o 
direito ao exercício de sua capacidade legal em 
igualdade de condições com as demais pessoas. 
Deixando claro que a isonomia atingiu a todas as pessoas com deficiência, as 
tornando plenamente capazes e limitando a incapacidade absoluta apenas aos 
menores de 16, modificando a redação do artigo 3º do Código Civil. A partir de 
então aquele que tem alguma deficiência é considerado plenamente capaz, 
mesmo que precise de auxílio para a prática dos atos da vida civil. 
 
O instituto da incapacidade relativa, também, foi atingido pelo Estatuto, o qual 
modificou a redação dos incisos II e III, do artigo 4º do Código Civil, suprimindo 
as expressões “por deficiência mental” e “sem desenvolvimento mental 
completo”, proporcionando, assim, igualdade de tratamento a todas as pessoas, 
portadoras, ou não, de deficiência mental. 
 
 
13 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
A família matrimonializada 
A Constituição da República de 1988 trouxe significativas transformações ao 
paradigma individualista e patrimonial da família, admitindo outras formas para 
sua estruturação, que não apenas pelo casamento, em decorrência da 
necessidade de adequação do arcabouço constitucional às novas demandas 
sociais, sob pena de seu esvaziamento prematuro e ineficácia de seus 
comandos. 
 
É certo que para uma corrente, os efeitos dessa modificação continuaram a 
girar em torno da família heterossexual, embora tendo que admitir o 
alargamento da formação familiar para outras origens, distintas do casamento. 
 
A presente constatação apresenta-se nas seguintes observações de Pereira(2012, p. 192): 
Neste sentido, houve o rompimento com a premissa 
de que o casamento era o único instituto formador e 
legitimador da família brasileira, e do modelo de 
família hierarquizada, patriarcal, impessoal e, 
necessariamente, heterossexual, em que os interesses 
individuais cediam espaço à manutenção do vínculo. 
Esta Constituição trouxe, além de novos preceitos 
para as famílias, princípios norteadores e 
determinantes para a compreensão e legitimação de 
todas as formas de família. 
 
Cumpre observar que a Constituição de 1988, em seu Artigo 226, enumerou as 
possíveis entidades familiares, a serem reconhecidas juridicamente; contudo, o 
dispositivo não deve ser concebido de maneira conclusiva, uma vez que existem 
outras formas de constituição familiar, que devem ser legitimadas pelo 
ordenamento. 
 
Não se concorda com o entendimento de que a Carta se apoie em matriz 
heterossexista, pois promoveu ruptura com o modelo familiar estruturado 
14 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
unicamente no casamento, tornando possível a estruturação da família 
monoparental, ou por meio de união estável. 
 
Numa visão tradicional, Diniz (2002, p. 38-40) enxerga como finalidades do 
casamento civil: 
 
• Procriação dos filhos, como consequência lógico-natural e não essencial; 
• Legalização das relações sexuais, uma vez que dentro da satisfação 
sexual, que é normal e inerente à natureza humana, apazigua a 
concupiscência; 
• Educação da prole; 
• Atribuição do nome ao cônjuge; 
 
 
Reparação de erros do passado. 
Não há mais espaço no atual cenário jurídico-constitucional para sustentarem- 
se as finalidades apontadas, uma vez que o casamento surge do afeto entre os 
cônjuges, que desejam a constituição de uma família, através da comunhão de 
vida e com outorga de direitos. Desta forma: 
 
1- A procriação de filhos não é requisito para o casamento, uma vez que o 
planejamento familiar faz parte da autonomia do casal. Assim, casais que 
não querem ou não podem conceber filhos também devem ser 
considerados uma família. 
 
2- As relações sexuais não devem ser legitimadas pelo direito, pois não há 
nada de ilícito em realizá-las fora do casamento, pelo contrário, 
encontram-se vinculadas à ordem dos desejos e estabelecidas entre 
sujeitos maiores e capazes. 
 
3- A educação da prole pode ser efetuada em arranjos familiares dos mais 
diversos, sendo o casamento apenas mais um deles. 
 
4- Não há imposição legal para a utilização do patronímico do cônjuge 
(Artigo 1.565, § 1º, Código Civil), além do direito à utilização ser 
15 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
estendido ao companheiro em união estável (Artigo 57, § 2º, Lei nº 
6.015/73). 
 
5- A conduta sexual fora do casamento não deve ser considerada um 
“erro”, nem, tampouco, uma vida livre e alheia das convenções 
herméticas sociais, desde que não haja prejuízo ao direito de terceiros. 
 
De acordo com Matos (2001, p. 406), a família, no Brasil, como instituição 
formada no casamento, perdeu sua força, não mais normatizando os 
comportamentos afetivos e sexuais. A autora evidencia cinco fatores 
macrossociais responsáveis pela propugnada transformação, são eles: 
 
1- As transformações no sistema capitalista, a partir da expansão do 
mercado, que acabou inserindo as mulheres no processo de trabalho 
remunerado. 
 
2- A luta pelos direitos civis das minorias, tais como: vida, igualdade, 
liberdade e segurança. 
 
3- O movimento de individualização das mulheres, a partir de sua 
escolarização. 
 
4- A consciência do feminismo associada ao controle tecnológico de 
reprodução humana, desvencilhando reprodução do exercício sexual. 
 
5- A maior visibilidade das alternativas relacionadas à identidade de gênero, 
com destaque para a homossexualidade. 
 
Concorda-se com a opinião de Chaves e Rosenvald (2014, p. 174), de que o 
casamento, como decorrência da pluralidade de manifestações afetivas, perdeu 
sua exclusividade na origem da família, mas continua sendo protegido pelo 
ordenamento jurídico de forma plena. 
 
Importante observar que os direitos outorgados à família matrimonializada são 
16 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
aplicados por analogia às demais formações familiares, que apesar de 
reconhecidas constitucionalmente, encontram-se, muitas vezes, carentes de 
disciplinamento infraconstitucional. 
 
 
A família monoparental 
Inserida na família de ordem parental encontra-se a família monoparental. 
Pode-se conceituar a família parental como a entidade familiar que se forma 
por um grupamento de pessoas unidas por laços de parentesco biológico ou 
sociafetivo. 
 
Segundo Pereira (2012, p. 203), a família monoparental teve a sua positivação 
a partir da Constituição Federal de 1988, podendo ser designada por qualquer 
dos pais e seus descendentes, ou seja, pelo homem ou pela mulher, sem o par 
conjugal, e sua prole. 
 
Sendo considerada entidade familiar, o presente agrupamento goza do conjunto 
de direitos inerentes a outras formas de arranjo afetivo, ressaltando- se: a 
proteção patrimonial, a concessão de alimentos, os efeitos sucessórios e 
previdenciários e a competência da Vara de Família para resolução de suas 
questões. 
 
 
A união estável heteroafetiva 
É conveniente lembrar o percurso realizado pelas uniões estáveis 
heterossexuais, ao longo da história brasileira. Tais uniões enfrentaram 
caminhos de idas e vindas, acolhimentos e rejeições. Foi somente a partir da 
Constituição Federal de 1988 que obtiveram pleno reconhecimento institucional, 
passando a ser consideradas como verdadeiras entidades familiares. 
 
1- A lei não exige prazo mínimo para a sua constituição, devendo ser 
analisadas as circunstâncias do caso concreto; 
2- Não há exigência de prole comum; 
17 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
3- Não se exige que os companheiros vivam sob o mesmo teto, a teor da 
Súmula nº 382 do STF, que relacionava-se ao concubinato e era utilizada 
à união estável; 
4- As causas impeditivas matrimoniais (Artigo 1.521, Código Civil) também 
constituem óbice para caracterização da união estável, desencadeando o 
concubinato (Artigo 1.727, Código Civil). Tal assertiva não leva em 
consideração o sujeito separado de fato, judicialmente ou 
extrajudicialmente, que pode constituir união estável; 
5- As causas suspensivas matrimoniais (Artigo 1.523, Código Civil) não 
constituem óbice para caracterização da união estável. 
 
É possível reconhecer três acepções jurídicas principais à entidade familiar, 
como proteção patrimonial, concessão de alimentos e efeitos sucessórios, além 
de outras acessórias, como a questão processual concernente à competência e 
efeitos previdenciários. 
 
Materializada a união estável em dado caso concreto, é cabível: 
 
 
1- O reconhecimento jurídico e a proteção patrimonial, conforme Artigos 
1.723 a 1.727 do Código Civil; 
2- A concessão de alimentos entre os companheiros, conforme Artigo 
1.694, Código Civil; 
3- Os efeitos sucessórios de acordo com o Artigo 1.790, Código Civil, sendo 
que o direito real de habitação sobre o imóvel do casal como direito 
sucessório do companheiro pelo Artigo 7º, § único da Lei nº 9.278/96; 
4- A competência da Vara de Família para apreciar os conflitos relativos à 
união estável pelo Artigo 9º da Lei nº 9.278/1996; 
5- A condição de dependente do companheiro perante o Regime de 
Previdência Social pelo Artigo 16, I, do Decreto nº 3.048/99. 
18 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Importante mencionar, a regra do Artigo 1.725,Código Civil: “Na união estável, 
salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações 
patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens”. 
 
Desta forma, desnecessária será a prova de esforço comum para que haja a 
meação do patrimônio, a teor do Enunciado nº 115 da I Jornada de Direito Civil 
do CJF/STJ: 
 
“Artigo 1.725: há presunção de comunhão de aquestos na constância da união 
extramatrimonial mantida entre os companheiros, sendo desnecessária a prova 
do esforço comum para se verificar a comunhão dos bens”. 
 
 
Conclusão 
Para que conquistas jurídicas sejam materializadas, foi oportuna a extensão da 
designação de família às uniões não formalizadas, uma vez que esse signo 
linguístico abarca um contexto de valores, sentimentos e emoções presentes na 
realidade concreta. 
 
De outra sorte, mesmo reconhecendo a relevância da fundamentação jurídica 
baseada na sociedade de fato para as uniões não formalizadas, não há mais – 
no contexto da norma infraconstitucional civil – espaço para o artificialismo e 
para um modo de entender as questões familiares a partir do viés patrimonial. 
Logo, não se pode sustentar a análise de entidades familiares pelo apresentado 
critério, como aconteceu historicamente com as uniões estáveis heterossexuais. 
 
 
Atividade proposta 
Para Álvaro Vilaça, a Constituição Federal de 1988 não protegeu o casamento, 
mas sim a família, e com isso, ao protegê-la, enumerou algumas formas de 
convivência que não são exaustivas. Ainda para o autor, a constituição não tem 
como estabelecer todas as formas de convivência, uma vez que tal tarefa cabe 
19 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
ao povo no exercício de seus direitos. Concorde ou discorde, levando em 
consideração a concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
Chave de resposta: Novas formas privilegiadas de afeto passam a informar 
os modelos de família, que o direito tem a incumbência de legitimar, pois a 
Constituição da República de 1988 não apresentou rol taxativo de possibilidades 
de entidades familiares. Em decorrência, o novo direito de família transforma-se 
em instrumento hábil à realização da dignidade humana, a partir do 
reconhecimento da pluralidade de entidades familiares. 
 
 
 
Referências 
CHAVES, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 6. ed. rev. 
atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2014. v. 6. 
 
DIAS, Maria Berenice. União homoafetiva: o preconceito & a justiça. 5. ed. 
rev. atual. e ampl. São Paulo: RT, 2011. 
 
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 17. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2002. v. 5. 
 
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito 
civil. Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 6. 
 
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A união civil entre pessoas do mesmo 
sexo, Revista de Direito Privado, 2, 30, 2000. 
 
MATOS, Marlise. A disciplina civil-constitucional das relações familiares. In: 
Temas de direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. 
 
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do 
direito de família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
20 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
RIOS, Roger Raupp. Para um direito democrático da sexualidade. Horizontes 
Antropológicos, Porto Alegre, ano 12, n. 26, jul./dez. 2006. Acesso em: 16 
abr. 2013. 
 
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 3. ed. São Paulo: Método, 2013. 
 
 
SIMÃO, José Fernando. Estatuto da Pessoa com Deficiência causa 
perplexidade (Parte 2). Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-ago-
07/jose-simao-estatuto-pessoa-deficiencia-traz-mudancas. Acesso em: 06 de 
fev. 2017
21 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 
 
(2012 – MPSP – PROMOTOR) - Pelo casamento, homem e mulher assumem 
mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos 
encargos da família. Em relação à eficácia do casamento, é correto afirmar: 
a) Qualquer dos nubentes, com a autorização expressa do outro, poderá 
acrescer ao seu o sobrenome do outro. 
b) A direção da sociedade conjugal será exercida pelo marido, com a 
colaboração da mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. 
c) São deveres do cônjuge virago: o planejamento familiar, a escolha do 
domicílio do casal, a educação dos filhos e a administração dos bens do 
casal. 
d) Se qualquer dos cônjuges estiver encarcerado por mais de 180 (cento e 
oitenta) dias, o outro requererá ao juiz alvará para exercer, com 
exclusividade, a direção da família e a administração dos bens do casal. 
e) Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos 
rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação dos 
filhos, qualquer que seja o regime patrimonial. 
 
 
Questão 2 
 
No Brasil, apenas com a promulgação da Constituição brasileira de 1988, 
ocorreu o rompimento da premissa de que o casamento era o único instituto 
formador e legitimador da família tradicional, na qual os interesses individuais 
eram anulados em prol da manutenção do vínculo. Nesse cenário, as famílias 
podem ser, de acordo com o texto da aula, EXCETO: 
a) Recompostas 
 
b) Reconstituídas 
 
c) Binucleares 
20 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
d) Monoparentais 
 
e) Adulterinas 
 
 
 
Questão 3 
 
(TJMS) Assinale a alternativa correta acerca das relações de parentesco: 
 
a) O parentesco é o vínculo que se estabelece entre um dos cônjuges ou 
companheiro e os parentes do outro. 
b) As pessoas se unem em família só em razão do vínculo conjugal ou união 
estável. 
c) As pessoas se unem em família só em razão do parentesco por 
consanguinidade. 
d) As pessoas se unem em família só em razão da afinidade ou da adoção. 
 
e) O parentesco é natural ou civil, conforme resulte da consanguinidade ou 
de outra origem. 
 
 
Questão 4 
 
De acordo com o texto da aula marque a alternativa incorreta: 
 
a) Durante a vigência da Codificação Beviláqua (Código Civil de 1916), o 
casamento assumiu preponderante papel de forma instituidora única da 
família legítima, que gozava de privilégios distintos. 
b) Fora do casamento a família era ilegítima, espúria ou adulterina, e não 
merecia a proteção do ordenamento jurídico familiarista, projetando 
efeitos, tão somente, no âmbito das relações obrigacionais. 
c) O direito civil clássico, a partir do contexto social inserido, atrelava o 
sexo à reprodução, a partir do casamento, concebendo a conduta 
heterossexual como a conduta típica, e mais, como a única possível e 
legítima. 
21 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
d) O casamento ainda é compreendido como legitimador das relações 
sexuais, pois o sexo não se encontra compreendido na ordem do desejo. 
e) O direito de família não deve alicerçar-se por identidades e práticas 
sexuais moralmente definidas, baseadas na ideologia heterossexual da 
maioria, calcada em sexualidade ortodoxa. 
 
 
Questão 5 
 
De acordo com o texto da aula marque a alternativa incorreta: 
 
a) A partir da constituição e reconhecimento dos direitos sexuais, ocorre a 
possibilidade do livre exercício responsável da sexualidade pelo sujeito 
de direito, estruturando uma regulamentação jurídica equidistante da 
tradicional moralidade repressiva, que caracterizava as relações sociais. 
b) Atualmente, surge uma compreensão pós-dogmática dos direitos 
sexuais, na qual o conjunto de normas jurídicas e sua aplicação possam 
ir além de ordenamentos restritivos. 
c) O sistema jurídico vem assumindoseu papel transformador, ao estimular 
condições favoráveis à estruturação de um direito da sexualidade 
humano e revolucionário, no qual seja possível legitimar todas as 
formações familiares. 
d) No Brasil, apenas com a promulgação da Constituição brasileira de 1967 
ocorreu o rompimento da premissa de que o casamento era o único 
instituto formador e legitimador da família tradicional. 
e) A Constituição de 1988 alargou o conceito de família para além do 
casamento, além de derrogar toda a legislação que hierarquizava 
homens e mulheres, bem como a que estabelecia diferenciações entre os 
filhos pelo vínculo existente entre os pais. A Constituição Federal, ao 
outorgar a proteção à família, independentemente da celebração do 
casamento, vincou um novo conceito, o de entidade familiar, albergando 
vínculos afetivos outros. 
22 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
Questão 6 
 
MPPR) Assinale a alternativa incorreta: 
 
a) É nulo o casamento entre afins em linha reta, em qualquer grau. 
 
b) É nulo o casamento no caso de erro essencial quanto à pessoa do outro 
cônjuge. 
c) É anulável o casamento de quem não completou a idade mínima para 
casar. 
d) É anulável o casamento do menor em idade núbil, quando não 
autorizado por seu representante legal. 
e) É nulo o casamento do enfermo mental sem o necessário discernimento 
para os atos da vida civil. 
 
 
Questão 7 
 
(DPPR) A respeito do Direito de Família, é correto afirmar: 
 
a) Coexistem na legislação civil, atualmente, duas espécies de bem de 
família: o voluntário, decorrente da vontade dos cônjuges, companheiros 
ou terceiro, regulamentado pelo Código Civil; e o involuntário ou 
obrigatório, regulamentado na Lei nº 8.009/90. Em ambos os casos, a 
impenhorabilidade incide sobre o imóvel que serve de moradia ao casal 
ou à entidade familiar e todas as suas construções, benfeitorias, 
equipamentos e móveis, e é oponível em qualquer processo de 
execução, independentemente da natureza da dívida, sem exceções. 
b) A lei civil veda a constituição da união estável se presente alguma causa 
de impedimento matrimonial. Por esse motivo, a pessoa casada, mesmo 
separada de fato, não pode constituir união estável com outra. 
23 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
c) Julgada procedente a ação de interdição de ébrio habitual ou de pessoa 
viciada em tóxicos, o juiz nomear-lhe-á curador, que passará a 
representá-lo durante a prática de todos os atos da vida civil, inexistindo 
previsão legal para a fixação de limites da curatela de acordo com o 
estado de desenvolvimento mental do incapaz. 
d) O tutor pode proceder à venda de bem imóvel do tutelado, desde que 
haja manifesta vantagem ao menor, mediante prévia avaliação judicial e 
aprovação do juiz, não sendo necessária, entretanto, a autorização 
judicial, prévia ou ulterior, quando se tratar de permuta de imóveis de 
mesmo valor. 
e) Não havendo, entre os companheiros, contrato escrito estabelecendo 
regra diversa, aplica-se às relações patrimoniais da união estável o 
regime da comunhão parcial de bens, razão pela qual continuam sendo 
considerados bens particulares de cada qual os adquiridos anteriormente 
ao início da união e os sub-rogados em seu lugar, bem como os 
adquiridos durante a convivência a título gratuito, por doação ou 
herança. 
 
 
Questão 8 
 
(TJCE - 2012 - CESPE – JUIZ) - Considere que Carlos e Regina convivam em 
união estável e decidam celebrar contrato de convivência. Nessa situação: 
a) O contrato somente produzirá efeitos patrimoniais. 
 
b) O contrato pode ser celebrado por meio de escritura particular, desde 
que atestado por duas testemunhas e levado a registro. 
c) Se o casal já tiver filhos, o contrato não produzirá efeitos. 
 
d) Celebrado o contrato, este não poderá ser modificado antes de cinco 
anos. 
e) O regime de bens escolhido no contrato terá efeitos retroativos. 
24 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
Questão 9 
 
(TJRJ) Sobre a união estável, é correto afirmar que: 
 
a) Na hipótese de falecimento, o companheiro sobrevivente terá direito à 
herança, inclusive sobre os bens que o falecido tiver recebido por 
doação. 
b) Não pode ser reconhecida caso um dos conviventes seja casado ainda 
que esteja separado de fato. 
c) Pode ser reconhecida nos casos das relações entre a adotada com o filho 
do adotante. 
d) Se houver contrato escrito dispondo de outro modo, não se aplicará às 
relações patrimoniais o regime da comunhão parcial de bens. 
 
 
Questão 10 
 
(TJDF) Referindo-se aos impedimentos para o matrimônio, considere as 
proposições abaixo e assinale a incorreta: 
a) Podem casar o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado 
com quem o foi do adotante. 
b) Não podem casar os ascendentes com os descendentes, seja o 
parentesco natural ou civil. 
c) Podem casar o cônjuge sobrevivente com o que fora absolvido por crime 
de homicídio consumado contra o seu consorte. 
d) Não podem casar os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, 
até o terceiro grau inclusive. 
e) Nenhuma das respostas anteriores. 
25 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
Androcêntricos: No sentido de que o ser do sexo masculino constituía o 
epicentro da regulamentação normativa. 
Ordem parental: A família parental diferencia-se da família conjugal, pois 
esta última se forma a partir de uma relação amorosa, na qual estão presentes 
o afeto, o desejo e o amor conjugal (PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios 
fundamentais norteadores do direito de família. 2. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2012. p. 106). A família parental pode estar contida na família 
conjugal, mas também pode ter existência autônoma. 
26 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 1 - E 
Justificativa: De acordo com o entendimento doutrinário acerca da matéria. 
 
 
Questão 2 - E 
Justificativa: “Nesse cenário, as famílias podem ser recompostas, reconstituídas, 
binucleares, monoparentais, formadas por casais com filhos de casamentos 
anteriores e seus novos filhos, por casais homossexuais, através de uniões 
estáveis, já que a lista da pluralidade de arranjos familiares é vasta”. 
 
Questão 3 - E 
Justificativa: Artigo 1.593 do Código Civil: O parentesco é natural ou civil, 
conforme resulte de consanguinidade ou outra origem. 
 
Questão 4 - D 
Justificativa: “O casamento não é mais compreendido como legitimador das 
relações sexuais, pois o sexo, modernamente, encontra-se compreendido na 
ordem do desejo, o que afasta a exclusividade de sua função procriadora e o 
eleva a uma das principais fontes de prazer”. 
 
Questão 5 - D 
Justificativa: No Brasil, apenas com a promulgação da Constituição brasileira de 
1988 ocorreu o rompimento da premissa de que o casamento era o único 
instituto formador e legitimador da família tradicional. 
 
Questão 6 - B 
Justificativa: Artigo 1.556 do Código Civil. O casamento pode ser anulado por 
vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro 
essencial quanto à pessoa do outro. 
27 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Questão 7 - E 
Justificativa: Artigo 1.725 do Código Civil. Na união estável, salvo contrato 
escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que 
couber, o regime da comunhão parcial de bens. 
 
Questão 8 - A 
Justificativa: Artigo 1.725 do Código Civil: Na união estável, salvo contrato 
escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que 
couber, o regime da comunhão parcial de bens.Questão 9 - C 
Justificativa: Artigo 1.725 do Código Civil: Na união estável, salvo contrato 
escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que 
couber, o regime da comunhão parcial de bens. 
 
Questão 10 - A 
Justificativa: Artigo 1.521 do Código Civil. Não podem casar: III - o adotante 
com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante. 
 
 
 
 
Introdução 
A presente aula tem como objetivo analisar a evolução sócio-jurídica da 
identidade homossexual e do reconhecimento da família homoafetiva, tanto 
pela legislação, quanto pela jurisprudência. Não obstante avanços significativos 
que resultam de luta persistente e organizada de agrupamentos minoritários 
contra preconceitos subsistem evidentes lacunas no que concerne à outorga de 
direitos às uniões entre pessoas do mesmo sexo, no direito brasileiro. 
28 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Objetivo: 
1. Analisar a evolução histórica da identidade homossexual; 
2. Analisar a família homoafetiva e seu reconhecimento pelo STF. 
 
Conteúdo 
 
Análise da evolução histórica da identidade homossexual 
É bastante comum na prática o estabelecimento de conclusões, a partir de 
algumas observações, o que tende a esvaziar a pluralidade de manifestações 
familiares possíveis. 
 
Desta maneira, quando um heterossexual, que faz parte da maioria, visualiza 
um comportamento divergente, tende a avaliá-lo segundo o espectro sexual 
que conhece e considera legítimo. 
 
Ao analisar um comportamento sexual heterodiscordante, tende a reduzir 
o sujeito ao que observou, ignorando que a realidade humana é plural e que 
talvez o seu referencial deva ser revisto, por não dar conta da multiplicidade de 
situações abarcadas por fenômeno tão complexo. 
 
O exercício dos direitos sexuais deve ser concretizado sob o prisma da 
liberdade e da igualdade, reconhecendo-se, assim, a pluralidade de situações, 
manifestações e expressões com que a sexualidade se manifesta. Com isso, o 
ordenamento deve se preocupar com o livre exercício responsável dos 
mencionados direitos, ou seja, que todos os sujeitos envolvidos sejam maiores 
e capazes e que não haja prejuízo ao direito de terceiros. 
Tal compromisso materializa-se no dever fundamental de cuidado, respeito e 
consideração aos direitos de terceiros, quando do exercício livre da sexualidade, 
consubstanciando verdadeira ética, estruturada no exercício da sexualidade do 
modo mais livre, igualitário e respeitoso possível. Desta forma, importante se 
faz a análise da evolução histórica da identidade homossexual. 
29 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Na antiguidade, o amor entre seres do sexo masculino era aceito na sociedade, 
sendo, contudo, valorizado apenas o polo ativo da relação. O presente dado de 
realidade provavelmente exercia influência na força do machismo, já presente 
naquela época, em que se concebia o ato sexual ativo como a postura 
masculina e o passivo como feminina. Como se depreende, a análise não era 
centrada no elemento biológico para o qual o homem direcionava seu afeto, 
mas ao papel sexual que ele desempenhava (LOUZADA, 2011, p. 264). 
Apesar do privilégio conferido ao comportamento sexual, os gregos não 
avaliavam o amor entre homens como motivo de postura excludente em 
relação à heterossexualidade, nem como dois tipos de comportamento 
diferentes, já que possuíam a livre escolha de se relacionar com outros 
cidadãos livres, ou não. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em Roma, a homossexualidade masculina era tolerada, embora destituída de 
importância filosófica e moral, pois as relações se estabeleciam entre cidadãos 
livres e escravos, o que justificava indiferença por parte do Estado. 
Nesse contexto histórico, verificou-se desconfiança em relação aos 
relacionamentos homoeróticos, por meio do discurso médico e filosófico, que os 
vinculava ao abuso do corpo e da alma, e, de outra sorte, enaltecia--se o 
casamento e as obrigações conjugais. 
Desta forma, a atividade sexual discordante passou a ocupar lugar central, em 
decorrência da suposta doença que poderia provocar, e não por ser um 
Atenção 
 
Na sociedade grega da antiguidade, é admissível entender que o 
amor era exclusividade entre homens, uma vez que a amizade, a 
virtude e a beleza masculina eram os elementos indispensáveis à 
deflagração do sentimento. 
30 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
instrumento de prazer, o que fez surgir uma vertente da teologia cristã, 
baseada na ética da relação matrimonial. 
 
 
A criminalização homossexualidade 
Em 1869, o médico húngaro Benkert, diante da iminente criminalização das 
relações homossexuais masculinas na Alemanha, escreveu um texto no qual 
apareceu pela primeira vez o termo homossexual. 
Em 1870, o psiquiatra alemão Westphal publicou artigo em que definia a nova 
identidade sexual e social, a partir da inversão, traçando o seu comportamento 
e o caráter. Desse modo, o homossexual começou a ser definido como ser 
desviante e passível de controle médico-legal. No ano seguinte, criminalizou-se 
a homossexualidade (MISKOLCI, 2007, p. 4). 
 
No século XIX, começou-se a afastar a dogmática religiosa, com a emergência 
do estudo científico acerca da homossexualidade. Primeiramente definida como 
doença, sem qualquer dado concreto, acarretou a realização de tratamentos 
desumanos, tais como terapias com choque convulsivo, lobotomia e terapias 
por aversão. Os estudiosos desejavam descobrir meios de reverter a 
homossexualidade, restando, por óbvio, frustrados, pois não se cura algo que 
não é patológico. 
 
 
Despatologização e descriminalização 
Já no século XX, mais precisamente em 1969, diante do episódio emblemático 
de Stonewall (Rebelião entre homossexuais e a polícia de Nova Iorque, que 
aconteceu em 28 de junho de 1969), verifica-se tendência à modificação no 
discurso, a partir da percepção da equivocada compreensão de seu 
comportamento. 
Os processos de despatologização e descriminalização foram responsáveis pela 
superação do rótulo preconceituoso atribuído àqueles que se orientavam 
sexualmente de forma distinta, fazendo com que a nomenclatura 
31 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
“homossexual”, de cunho degradante, fosse rechaçada, e passaram a 
responder como “gays”, a partir da politização de sua identidade sexual. 
Assim, o movimento se autodenominava, ressaltando o que existia por trás do 
estigma socialmente atribuído a seus membros: uma vida fora da ordem 
sexual vigente. 
Nas décadas finais do século XX, houve tentativa de assimilação da identidade 
homoerótica, através da construção da figura respeitável do “gay cidadão”, não 
diferente dos heterossexuais, a não ser pelo desejo, detalhe ou elemento a 
mais na bricolagem das identidades na modernidade tardia. 
Certamente permanece um ruído de exclusão, uma vez que esse “gay cidadão”, 
como o cidadão médio, é idealizado como branco, de classe média, “bem- 
sucedido”, straight acting, cosmopolita e liberal. 
Essa visão não impede a coexistência de outros tipos de homossexual. O gay 
cidadão aproxima-se do sujeito político-sexual do início do século XXI, o qual, 
mais do que contrapor-se à repressão de sua sexualidade, a ostenta, de 
maneira audaz no espaço público. 
 
 
Os relacionamentos homoafetivos no Brasil 
No Brasil, os relacionamentos homoafetivos eram considerados crime até 1821, 
com base nas Ordenações Filipinas, o que não se seguiu nos diplomas 
seguintes. O Código Criminal de 1830, inspirado no ideário napoleônico, não 
capitulou a sodomia dentreos crimes tipificados e passíveis de punição, ao 
contrário de países como o EUA e a Inglaterra. 
Embora não houvesse a tipificação do crime de sodomia no Brasil, registra-se a 
presença de outros tipos penais vagos e abstratos, nos quais se poderia 
facilmente enquadrar a conduta do homossexual e sancioná-lo, sob os rigores 
de um Estado moralmente preconceituoso. Eram os chamados crimes morais, 
sob a égide do Código Imperial, os quais, à época da República, receberam o 
epíteto de “crime contra a segurança da honra e da honestidade da 
família” ou “ultraje público ao pudor”. 
Apesar do preconceito iluminista, alguns de seus adeptos encaravam como 
verdadeira atrocidade punir a homossexualidade com a pena capital, pois se 
32 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
esta fosse realizada sem violência ou indecência pública, a lei não deveria se 
ocupar dela. 
 
Somente no final do século XIX ocorreu sua descriminalização e a conduta 
homossexual começou a ser definida como doença. Guimarães (2011, p. 35) 
explicita crítica a essa tendência, nos seguintes termos: 
(...) Na verdade, nada mudou muito entre esses dois períodos. A indignação 
moral e a condenação ética desde então se tornaram mais aguda e rancorosa 
que o discurso dos inquisitores, o qual se baseava, principalmente, na ideia de 
que a antinaturalidade do ato homossexual – masculino, pelo menos – 
representava o duplo desperdício da semente vital. 
 
Assim concebida, a opressão sexual é aquela em que a minoria é induzida a 
anular seu desejo, a fim de seguir os ditames impostos pela maioria. Isso faz 
com que, no processo de socialização desde a infância, os cidadãos que 
vivenciam as sexualidades periféricas – expressão cunhada por Foucault – 
sofram diversos tipos de violências, desrespeitos e agressões, das mais variadas 
ordens, às suas integridades físicas e psíquicas (SILVA JUNIOR, 2011, p. 100). 
Porém, alguns conseguem romper com os modelos pré-concebidos e com tudo 
que é imposto em matéria de sexualidade, gênero e afetividade, enfrentando as 
consequências, por mais difíceis e desumanas. 
 
Nas últimas décadas do século XX, o movimento homossexual organizou-se 
politicamente, como resultado de um refinamento teórico da análise inerente à 
inclusão da sexualidade heterodiscordante, por meio de argumentos 
sociológicos e psicanalíticos, que acarretaram sua maior compreensão e 
assimilação. 
 
Em toda parte, com variações e particularidades em cada país, o movimento 
estruturou-se e institucionalizou-se com foco na luta por direitos civis, 
centralizados em torno da legitimação da parceria civil entre pessoas do mesmo 
sexo, além do pleno exercício de sua parentalidade. 
33 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
A união homoafetiva 
A união homoafetiva decorre de orientação homossexual concreta e, desta 
maneira, não pode ser renegada pelo direito, uma vez que diz respeito à esfera 
privada da existência de cada um. Nesse passo, as relações homossexuais 
existem e continuarão a existir, independentemente do reconhecimento jurídico 
pelo Estado. 
O ordenamento, desde suas origens, atraiu a responsabilidade de observar as 
condutas sociais, regulamentá-las e, por conseguinte, outorgá-las direitos. 
 
Não sendo as uniões homoafetivas propiciadoras de violação a direito 
de terceiros, elas se afiguram como verdadeiro dado concreto, 
configurando, portanto, situações lícitas e relativas à esfera privada de cada 
um. 
Além disso, o intérprete constitucional, ao analisar o caso concreto, deve ser 
movido por argumentos de ordem pública e não por concepções particulares, 
sejam religiosas, políticas ou morais, uma vez que o papel do Estado e do 
sistema jurídico é o de acolher todos que são vítimas de preconceito e 
intolerância. 
 
E no Brasil? 
No caso brasileiro, coube ao Supremo Tribunal Federal, ao interpretar a 
Constituição Federal, reconhecer como entidade familiar a união homoafetiva, 
decorrente do direito fundamental à preferência sexual, disposto em seu Art. 
3º, inciso IV, bem como do princípio da igualdade, além do valor afeto, inerente 
à dignidade humana. A presente análise encontra respaldo a partir do 
ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 4.277/DF, cujo objeto 
era a interpretação conforme a Constituição do Art. 1.723 do Código Civil. 
Defendeu-se então a declaração de que uma das vertentes hermenêuticas do 
artigo em exame encontrava-se em rota de colisão com a Constituição Federal, 
ante os diferentes significados de seu arcabouço literal. 
Mesclando argumentos jurídicos e extrajurídicos, o relator da ADI (ação direta 
de inconstitucionalidade), Ministro Ayres Brito, em seu voto sublinhou que o 
34 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
grande incômodo da sociedade em relação à opção sexual alheia ocorre quando 
há quebra do padrão convencionado pela tradição, qual seja, o da 
heterossexualidade. Nessa esteira, ao reconhecer a entidade familiar 
homoafetiva, pretendeu superar o dissenso entre juízes singulares e membros 
dos tribunais, não raro, vinculados a subjetivismos, em detrimento da 
racionalização do sistema jurídico. 
Ele ainda, antes de julgar o mérito da questão, traçou o limite material no qual 
apoiava sua decisão, para produzir efeitos jurídicos, de modo vinculante. Sob 
essa perspectiva, cumpre aferir, em cada caso, a soma de alguns antecedentes, 
quais sejam: 
• Durabilidade da união homoafetiva; 
• Conhecimento público e continuidade; 
• Além do propósito ou anseio de constituição de uma família. 
Em síntese, exige-se a configuração dos mesmos requisitos impostos ao 
reconhecimento da união estável heterossexual. 
 
Dias (2011, p. 250) compartilha da mesma opinião, quando afirma 
que: 
 
A omissão dificulta o reconhecimento de direitos diante de situações que se 
afastam de determinadas posturas convencionais, o que faz crescer a 
responsabilidade do Poder Judiciário. Mas preconceitos e posições pessoais não 
podem levar o juiz a fazer da sentença um meio de punir comportamentos que 
se afastam dos padrões por ele aceitos por motivo religioso. De todo descabido 
invocar a falta de previsão legal para negar direitos àqueles que vivem fora do 
modelo imposto pela moral conservadora, mas sem agredir a ordem social. 
 
 
Direito fundamental à opção sexual 
A Constituição Federal comporta o direito fundamental à orientação sexual, em 
seu Artigo 3º, IV, a qual decorre da opção política realizada pelo poder 
constituinte originário de reconhecer e respeitar a diversidade sexual, em 
contraponto à padronização. Não se pode retirar a escolha do sujeito em 
35 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
relação à sexualidade, uma vez que tal condição é inerente à esfera de 
personalidade, constituindo bem jurídico. 
É indiscutível que o direito fundamental à opção sexual tem origem 
constitucional, correspondendo a um bem inerente à personalidade humana, 
decorrente do valor que alimenta todo ordenamento jurídico. Corroborando o 
que foi dito, é importante que você veja parte do voto do Ministro relator: 
(...) Nessa altaneira posição de direito fundamental e bem de personalidade, a 
preferência sexual se põe como direta emanação do princípio da dignidade da 
pessoa humana (inciso III do artigo 1º da CF), e, assim, poderoso fator de 
afirmação e elevação pessoal. De autoestima no mais elevado ponto da 
consciência. Autoestima, de sua parte, a aplainar o mais abrangente caminho 
da felicidade, tal como positivamente normada desde a primeira declaração 
norte-americana de direitos humanos (Declaração de Direitos do Estado da 
Virgínia, de 16de junho de 1768) e até hoje perpassante das declarações 
constitucionais do gênero. Afinal, se as pessoas de preferência heterossexual só 
podem se realizar ou ser felizes heterossexualmente, as de preferência 
homossexual seguem na mesma toada: só podem se realizar ou ser felizes 
homossexualmente. 
 
O ordenamento jurídico brasileiro não deve apenas assegurar ao sujeito o 
direito de escolha entre várias alternativas possíveis, mas também legitimar 
condições objetivas, para que tais escolhas sejam concretizadas no plano 
concreto. 
 
Segundo Dworkin (apud Barroso, p. 21), para um indivíduo de orientação 
homossexual, a alternativa não é entre estabelecer relações com pessoas do 
mesmo sexo ou com pessoas de sexo diferente, mas entre abster-se de sua 
orientação sexual, ou vivê-la clandestinamente. 
36 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Princípio da liberdade de orientar-se sexualmente 
O princípio da liberdade de orientar-se sexualmente decorre da autonomia 
privada de cada pessoa e o seu não reconhecimento pelo direito retira do 
indivíduo uma das dimensões que dão sentido à existência. 
 
Assim, a exclusão das relações homoafetivas do regime da união estável ou do 
casamento, e da consequente condição de entidade familiar, não expressa 
simplesmente lacuna jurídica, eis que agride o exercício da liberdade e do 
desenvolvimento da personalidade de várias pessoas. 
 
Não obstante essa premissa, não se pode ignorar posições que defendem a 
exclusão das relações homoafetivas da possibilidade de constituir entidade 
familiar, procurando justificar, sem êxito, sua posição com base em dois 
fundamentos contrários à liberdade, a saber: 
 
 A impossibilidade de procriação; 
 A violação dos padrões de “normalidade moral”; 
 Quanto à impossibilidade de procriação, esta não constitui justificativa 
razoável para se tratar desigualmente as relações homoafetivas, 
principalmente quando se considera que essa não é a única função da 
família. 
 
A característica predominante da família contemporânea é a afetividade, que 
resulta do projeto de comunhão de vidas, independentemente da sexualidade. 
A lei infraconstitucional brasileira somente determina como requisito para a 
caracterização de união estável a convivência pública, contínua e duradoura, 
estabelecida com o objetivo de constituir família, não havendo, pois, qualquer 
referência à procriação. 
No mesmo sentido, o reconhecimento constitucional da família monoparental 
afasta definitivamente o argumento de que a impossibilidade de procriação seja 
óbice à atribuição da qualidade de família às parcerias homossexuais. 
37 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
Outro argumento recorrente é o de que a relação homoafetiva não pode ser 
reconhecida como família, pois seriam violados os padrões de “normalidade 
moral”. Sob esse ângulo, cumpre levar em conta que moral é conceito subjetivo 
e, portanto, modificável ao longo da evolução social. Há um processo de 
evolução cultural, que impede a adoção de parâmetros cristalizados, conforme 
ideário de uma maioria preconceituosa e individualista. A esse respeito, não se 
pode esquecer que, em épocas e lugares diferentes, foram ou são normais a 
tortura, escravidão e mutilação. 
 
Segundo Barroso (2007, p. 7): 
 
 
O que cabe discutir aqui – e rejeitar – é a imposição autoritária da moral 
dominante à minoria, sobretudo quando a conduta desta não afeta terceiros. 
Em uma sociedade democrática e pluralista, deve-se reconhecer a legitimidade 
de identidades alternativas ao padrão majoritário. O estabelecimento de 
standards de moralidade já justificou, ao longo da história, variadas formas de 
exclusão social e política, valendo-se do discurso médico, religioso ou da 
repressão direta do poder. Não há razão para se reproduzir o erro. 
 
 
A isonomia entre parcerias homossexuais e heterossexuais 
O Ministro Celso de Melo, no julgamento da ADI em comento, ressalvou em seu 
voto a necessidade da plena realização dos valores da liberdade e da igualdade 
(em sua vertente de não discriminação), que representam fundamentos 
essenciais à configuração de uma sociedade democrática. 
No intuito de concretizar a Constituição, é necessário materializar o princípio da 
isonomia, assegurando o respeito à pluralidade de desejos inerente à condição 
humana, sendo possível a convivência pacífica entre os contrários. 
Há, na presente perspectiva, o repudio à “desigualação” jurídica, a partir da 
promoção do bem de todos, que também possui sede constitucional. 
 
Constata-se, dessa forma, a preocupação do STF em concretizar a isonomia 
entre parcerias homossexuais e heterossexuais, ao afirmar que as primeiras 
38 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
detêm igual direito subjetivo à constituição de uma família, em relação às 
segundas. 
Confirma essa afirmação, a transcrição da seguinte parte do voto do Ministro 
relator: 
(...) interpretando por forma não reducionista o conceito de família, penso que 
este STF fará o que lhe compete: manter a Constituição na posse do seu 
fundamental atributo da coerência, pois o conceito contrário implicaria forçar o 
nosso Magno Texto a incorrer, ele mesmo, em discurso indisfarçavelmente 
preconceituoso ou homofóbico. Quando o certo − data vênia de opinião 
divergente - é extrair do sistema de comandos da Constituição os encadeados 
juízos que precedentemente verbalizamos, agora arrematados com a 
proposição de que a isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos 
somente ganha plenitude de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à 
formação de uma autonomizada família. (...) Pena de se consagrar uma 
liberdade homoafetiva pela metade ou condenada a encontros tão ocasionais 
quanto clandestinos ou subterrâneos (grifos nossos). 
 
 
 
 
Para o Ministro Marco Aurélio, o reconhecimento da entidade familiar depende 
apenas da opção livre e responsável dos indivíduos, não se cogitando o sexo 
das pessoas envolvidas, a teor dos Artigos 1º, 3º e 5º constitucionais. 
Conforme sua interpretação, a Carta permite que a união homoafetiva seja 
admitida como verdadeira família, a fim de promover a dignidade dos partícipes 
dessa relação, regida pelo afeto existente entre eles. 
“A afetividade direcionada a outrem de gênero igual compõe a individualidade 
da pessoa, de modo que se torna impossível, sem destruir o ser, exigir o 
contrário. Insisto: se duas pessoas de igual sexo se unem para a vida afetiva 
comum, o ato não pode ser lançado a categoria jurídica imprópria. A tutela da 
situação patrimonial é insuficiente. Impõe-se a proteção jurídica integral, qual 
seja, o reconhecimento do regime familiar. Caso contrário, estar-se-á a 
transmitir a mensagem de que o afeto entre elas é reprovável e não merece o 
39 DESAFIOS DA FAMÍLIA NA CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
respeito da sociedade, tampouco a tutela do Estado, o que viola a dignidade 
dessas pessoas, que apenas buscam o amor, a felicidade, a realização”. 
 
Mais uma vez, é reconhecida a liberdade afetiva, o que dá suporte à 
legitimidade da entidade familiar homossexual. É possível perceber uma gama 
de ilações efetuadas pelo Ministro, que vincula o respeito à individualidade da 
pessoa, à possibilidade de estabelecer relações afetivas com quem bem quiser, 
na esteira da autonomia da vontade, que possibilita a cada cidadão escolher 
seus parceiros, conforme sua individualidade. 
Não se pode entender, da mesma maneira, que a presente união deve ser 
institucionalizada em categoria jurídica imprópria, ou que seus efeitos 
restringem-se a aspectos de ordem patrimonial, sob pena de desmerecimento

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