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1 = Revisão de anatomia e fisiologia neurológica= Os neurônios são o principal tipo celular do nosso sistema nervoso. São células especializadas em transportar estímulos sensoriais, motores e viscerais para as regiões apropriadas do corpo. Eles podem variar em tamanho ou forma, mas possuem uma estrutura básica: - Os dendritos se projetam a partir do corpo celular, constituindo o maior local de recepção de informações vindas de outros neurônios. - O corpo celular é onde os diferentes sinais recebidos são somados. - Os axônios são as unidades transmissoras dos neurônios, enviando sinais a outros neurônios ou a células musculares ou a glândulas. Os axônios terminam em regiões em forma de discos chamadas terminais pré-sinápticos (ver fig abaixo). Os sinais transmitidos pelos neurônios são potenciais de ação (mudança de polaridade da membrana do neurônio com posterior retorno ao estado inicial). Quando um potencial de ação atravessa o axônio e chega até o terminal pré- sináptico de um neurônio, cria uma mudança de formato neste local. Isso faz com que neurotransmissores sejam liberados pelos terminais pré-sinápticos. Esses neurotransmissores caem num espaço chamado de fenda sináptica que está localizado entre o terminal pré-sináptico e a célula que estiver fazendo contato com o neurônio, a qual recebe o nome de terminação pós-sináptica. A esses 3 componentes dá-se o nome de sinapse. Componentes das Sinapses: Terminação pré-sináptica: célula transmissora do sinal = Neurônio Terminação pós-sináptica: membrana da célula receptora = músculo, outro neurônio, ou uma glândula. Fenda Sináptica: espaço entre as terminações. Fisioterapia Em Neurologia Prof. Laura Oliveira - Texto de apoio 2 A terminação pré-sináptica libera neurotransmissores na fenda. A membrana da célula da terminação pós-sináptica possui receptores que reconhecerão esses neurotransmissores. = Divisões do Sistema Nervoso = 1) DIVISÃO FUNCIONAL DO SISTEMA NERVOSO: feita conforme a função que cada estrutura desempenha N Aferente - Sistema nervoso Visceral Simpático N Eferente do SN Autônomo ou Vegetativo Parassimpático N Aferente (parte do sistema SENSORIAL SOMÁTICO) - Sistema Nervoso Somático N Eferente (parte do sistema MOTOR SOMÁTICO) O sistema nervoso visceral é aquele que se relaciona com a inervação e controle das estruturas viscerais (vasos e órgãos como coração, intestino, bexiga, etc). Integra o funcionamento das vísceras para manter a homeostase. Possui dois componentes: um aferente e outro eferente. O componente aferente é composto de neurônios que conduzem impulsos nervosos originados em receptores das vísceras (visceroceptores) para áreas específicas do sistema nervoso, informando o que está acontecendo naquelas regiões. O componente eferente é composto de neurônios que formam o chamado sistema nervoso autônomo ou vegetativo (dividido em simpático e parassimpático) o qual leva os impulsos originados em centros nervoso até as glândulas, músculo liso ou músculo cardíaco, fazendo com que a função de cada víscera ocorra no momento certo e conforme a necessidade do organismo. Mais tarde falaremos sobre o sistema nervoso visceral. O sistema nervoso somático é aquele que relaciona o organismo com o meio ambiente. Também possui dois componentes: um aferente e outro eferente. N = neurônio Quando eles se ligarem ao receptor isso causará potenciais de ação excitatórios ou inibitórios na célula receptora, causando nova transmissão de sinal no caso de neurônio, contração no caso de mm e expulsão de substâncias no caso de glândulas. O efeito dos neurotransmissores depende do tipo de receptor onde eles se fixam. 3 - O componente eferente (parte do sistema MOTOR SOMÁTICO) é composto de neurônios que levam aos músculos (mm) estriados esqueléticos comandos do encéfalo, resultando em movimentos voluntários, que permitem ao indivíduo se ajustar à situação que está vivenciando, manter o equilíbrio corporal e desempenhar da melhor maneira possível os atos motores. - O componente aferente (parte do sistema SENSORIAL SOMÁTICO) é composto de neurônios que conduzem ao encéfalo os impulsos originados em receptores periféricos, informando o que acontece no ambiente (como é o chão em que a pessoa está pisando; se a superfície é fixa ou móvel; quanto um músculo está se contraindo ou o quanto ele está sendo estirado; quanto uma articulação está flexionada; se o indivíduo estiver segurando um objeto, informa qual é a textura, o peso e a temperatura deste objeto; ou seja, todas as sensações somestésicas experimentadas pelo indivíduo). * * * Quando percebemos o ambiente através dos nossos sentidos, isso só acontece porque neurônios aferentes que possuem terminações nervosas sensíveis a diferentes estímulos, carregam tais estímulos para “cima”, até o encéfalo (através da transmissão de potenciais de ação), para que as regiões apropriadas analisem estes estímulos e depois formulem uma resposta que pode ser um movimento. Quando um movimento ocorre isso se deve ao fato de que um neurônio eferente vindo de diferentes regiões do encéfalo “desceu” carregando o estímulo (potencial de ação) até o músculo adequado. A maneira pela qual esses estímulos “sobem” ou “descem” a partir do encéfalo é através de grupamentos de neurônios (como um feixe de fios da rede elétrica de uma cidade) que tem um trajeto especial e que recebem nomes específicos para facilitar sua compreensão e localização. Assim, o grupo de neurônios que leva os estímulos percebidos pelo corpo (de forma consciente ou não), subindo em direção ao encéfalo são chamados de ascendentes. O grupo de neurônios que traz os estímulos do encéfalo descendo em direção aos músculos esqueléticos (fazendo com que a contração aconteça) é chamado de descendente. Essas vias ascendentes e descendentes mais os corpos dos neurônios arranjados em posições definidas, formam a estrutura do sistema nervoso conforme o conhecemos. Vamos agora revisar as estruturas que compõem o sistema nervoso de humanos. 2) DIVISÃO ANATÔMICA DO SISTEMA NERVOSO: usada para fins didáticos 4 O sistema nervoso central é aquele que se localiza dentro do esqueleto axial (cavidade craniana e canal vertebral). O encéfalo se localiza dentro da cavidade craniana. A medula está localizada dentro do canal vertebral. O sistema nervoso periférico é aquele que se localiza fora desse esqueleto axial. = SISTEMA NERVOSO CENTRAL = A e B: Sistema nervoso central (vista lateral) 1- Telencéfalo 2- Diencéfalo 3- Mesencéfalo 4- Ponte 5- Cerebelo 6- Bulbo 7- Medula Corte sagital do sistema nervoso CENTRAL Medula - Sistema nervoso central Bulbo Encéfalo Tronco cerebral Ponte Mesencéfalo Diencéfalo Telencéfalo (cérebro) Cerebelo Nervos Espinhais - Sistema nervoso Periférico Nervos Cranianos * Gânglios Terminações nervosas * Nem todos os nervos cranianos fazem parte do sistema nervoso periférico. Alguns são considerados como fazendo parte do sistema nervoso central. 5 = SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO = SNP somático = Relacionado ao controle motor do tronco e membros. Inerva (eferente)mm estriados esqueléticos, articulações e pele, e informa (aferente) sensações da pele, mm e articulções aos centros cerebrais. Composto de: - Alguns dos nervos cranianos (para músculos da face, da língua, do pescoço, etc). - Nervos espinhais: entre a medula e músculos, pele e articulações. Possuem comprimento muito variável, podendo chegar até mesmo a 1m. Cada nervo espinhal é composto por uma parte sensorial somática e outra motora somática. origem a estes axônios estão localizados no gânglio da raiz dorsal. Os neurônios sensoriais somáticos (aferentes) são neurônios pseudo-unipolares, tendo seus axônios O sistema nervoso periférico pode ser subdividido em: SNP visceral = Relacionado com o controle de órgãos e meio interno. Inerva (eferente) vasos, glândulas, órgãos e informa (aferente) a temperatura, a pressão, o conteúdo arterial de O2, a FC, entre outros, aos centros cerebrais. É composto pelo o SNA com o simpático e parassimpático e por alguns dos nervos cranianos. Receptor sensorial Vários axônios de neurônios sensoriais somáticos (aferentes), provenientes de receptores sensoriais responsáveis pela detecção de diferentes sensações, vão se unindo em filetes nervosos até formar um grupo de fibras que penetra pelo lado esquerdo e direito no canal vertebral e posteriormente na medula espinhal pela raiz dorsal desta. Os corpos celulares dos neurônios que dão origem Secção transversal da medula 6 ligados ao receptor periférico, seu corpo no gânglio da raiz dorsal e sua outra extremidade subindo pela medula. Eles são chamados de axônios aferentes primários. Ao mesmo tempo, os axônios motores somáticos (eferentes) responsáveis pela inervação dos músculos estão saindo da medula pela raiz anterior. Fora da medula, após o gânglio da raiz dorsal, esses dois grupos de axônios se encontram formando um nervo espinhal de cada lado da medula. Neurônio Unipolar Neurônio Bipolar Neurônio Pseudo-unipolar Fibras aferentes sensoriais somáticas Esse encontro entre as raízes dorsais (sensitivas) e ventrais (motoras) acontece 30 vezes, formando então 30 segmentos espinhais delimitados pelos 30 pares de nervos espinhais originados na medula espinhal: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares e 5 sacrais. Assim, cada par de nervos fica responsável pela inervação de uma área da pele. A área da pele inervada pelas raízes dorsais, direita e esquerda, de um único segmento espinhal é chamado de dermátomo havendo correspondência de cada segmento para cada dermátomo. Para detectar se a sensação da área de um dermátomo está preservada testamos a modalidade sensorial nos chamados pontos-chave sensitivos, comparando um lado do corpo com o outro. Isso economiza tempo já que não é preciso testar todo o território de pele daquele dermátomo (ver próxima página). 7 Se secionarmos a raiz dorsal de um segmento a sensibilidade do dermátomo correspondente não será perdida porque além daquelas raízes, outras raízes adjacentes também inervam aquela área. Para perder totalmente a sensibilidade é necessário que três raízes sejam seccionadas. A pele inervada por apenas um raiz é revelada quando o indivíduo contrai Herpes Zoster. = SISTEMA SENSORIAL SOMÁTICO = Aprendemos desde cedo que possuímos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. O sistema sensorial somático pode ser considerado como as sensações relacionadas ao tato e não relacionadas aos outros quatro sentidos. Porém, as sensações táteis não se limitam apenas ao tato (percepção das características dos objetos que tocam a pele), mas também as de temperatura (do ar, dos objetos), a propriocepção (sensação de posição corporal) e dor. Assim, é fácil concluir que os sentidos são muito mais numerosos do que pensávamos. A capacidade de receber informações de diferentes partes do corpo é chamada de SOMESTESIA (soma = corpo; aesthesia = sensibilidade). Nem todas as informações recebidas se tornam conscientes. Algumas são utilizadas de forma inconsciente para a motricidade e para o funcionamento dos órgãos internos. OBS: mais adiante comentaremos melhor a parte motora somática. Agora vamos estudar o sistema sensorial somático. 8 Além de permitir que percebamos a natureza do estímulo, o sistema sensorial somático nos permite sentir em que parte do corpo o estímulo está ocorrendo, em qual direção, qual intensidade e qual a duração do estímulo, mesmo que não estejamos olhando. Quando estes estímulos tornam-se tão fortes que podem ser lesivos, o percebemos como dor. Apesar da variedade das sensações e de receptores, o sistema sensorial somático (ou somestésico) pode ser dividido em dois subsistemas: o Epicrítico que possui grande capacidade discriminativa e alta precisão (vibração, propriocepção e TATO fino), e o Protopático, pouco discriminativo e menos preciso (temperatura, dor e TATO grosseiro). Em ambos subsistemas, protopático e epicrítico, há basicamente: um neurônio aferente primário, que estabelece uma conexão com um neurônio de segunda ordem em algum ponto do SNC (na medula ou no tronco encefálico). Este neurônio cruza a linha média antes de estabelecer conexão com o neurônio de terceira ordem presente no tálamo. Os neurônios de terceira ordem do tálamo se projetam para as áreas somestésicas do córtex cerebral. Assim, a representação somestésica do SNC é quase sempre contralateral: o hemisfério cerebral direito recebe informação do lado esquerdo do corpo e vice-versa. VIAS ASCENDENTES - A via formada pelos axônios que carreiam o estímulo protopático (dor, temperatura e tato grosseiro) recebe o nome de trato espinotalámico. Os axônios que trazem o estímulo entram na medula pela raiz dorsal, fazem conexão com os neurônios de segunda ordem Por percorrer “caminhos” diferentes para chegar ao córtex, as vias que os axônios aferentes sensoriais formam recebem nomes diferentes: - A via por onde passa o estímulo epicrítico (vibração, propriocepção e tato fino) se chama coluna dorsal leminisco-medial (os axônios entram na medula pela raiz dorsal [fascículos grácil e cuneiforme] e se prolongam até o tronco encefálico onde fazem conexão com neurônios de segunda ordem, que cruzam para o outro lado do corpo, fazem conexão com o neurônio de terceira ordem no tálamo e terminam no córtex cerebral). 9 ainda na medula, a seguir cruzam a linha média, vão até o tálamo, onde fazem sinapse com os neurônios de terceira ordem que terminam no córtex cerebral. Os neurônios que carreiam as sensações da face e da região do pescoço para cima, não fazem parte das vias citadas. A informação sensorial dessas regiões é carreada através de nervos cranianos como, por exemplo, o trigêmio (sensibilidade da pele da face) e o facial (sensibilidade da língua), etc. No caso do trigêmio (V par), por ex, os axônios entram na altura da ponte, cruzam a linha média e vão até o tálamo. Lá fazem conexão com neurônios que terminam no córtex sensorial chamado de S1. A região onde os axônios dos neurônios sensoriais de terceira ordem, terminam se chama córtex sensorial primário (S1), localizado no giro pós-central no lobo parietal do cérebro (áreas 1, 2, 3a e 3b de Brodmann) e no secundário S2. Ver figura na página 10. O S1 é o córtex sensorial primário porque recebe aferências do tálamo; seus neurônios são responsivos a estímulos sensoriais; lesões em S1 prejudicam a sensação somática e porque quando estimulado eletricamente,causa experiências sensoriais. A maioria das aferências do tálamo termina nas áreas 3a e 3b. Daí se projetam para as áreas 1, 2 e S2. Por haver uma ordem de chegada definida para os axônios que trazem as informações sensoriais do corpo para o córtex cerebral, áreas específicas do córtex são formadas apenas por neurônios vindos da face, outras por neurônios vindos de um braço, de uma perna, da língua e assim por diante. Quanto maior o número de axônios que chegarem de uma região do corpo, maior a área do córtex dedicada a essa região e maior a habilidade daquela região em detectar o estímulo sofrido. Assim, se pudéssemos desenhar as partes do corpo a partir do número de axônios dedicados a cada uma no cérebro, o tamanho de cada parte em relação a outra não seria parecido com o tamanho que nós conhecemos. Teríamos então um ser de mãos e língua enormes, tronco pequeno e face grande. Na realidade o mapa nem sempre é contínuo. 10 Como dito, a estimulação elétrica de S1 pode causar sensações somáticas. Para mapear o córtex de indivíduos neurocirúrgicos acordados, com anestesia local Wilder Penfield usou esse método. O mapeamento das sensações da superfície do corpo na estrutura do corpo é chamado de somatotopia. O ser que surge se alguém juntar as partes desse desenho é chamado “Homúnculo de PENFIELD”. O tamanho relativo da área do córtex dedicada a cada parte do corpo está relacionada com a densidade de aferências provenientes daquela área do corpo e com a importância daquela região do corpo. Isso varia muito entre as espécies. Por exemplo, nos ratos a áreas das vibrissas (bigodes) é maior do que a das patas. Quando uma aferência (um dedo, por ex) é removida, a área cortical responsável pelo processamento sensorial daquela região passa a ser usada pela região adjacente. Da mesma forma, quando uma área sensorial é aumentada, sua área cortical sensorial correspondente também aumenta (ex: músicos). Nos amputados pode ocorrer a sensação de membro fantasma, quando o indivíduo percebe sensações provenientes do membro ausente quando outras partes do corpo são tocadas. Lesão do córtex parietal posterior pode causar a agnosia = dificuldade de reconhecer objetos. Esterognosia = dificuldade de reconhecer objetos pelo tato, embora seu sentido de tato esteja normal e o indivíduo não tenha dificuldade de reconhecer o objeto pelo cheiro ou pela visão. Os déficits são geralmente limitados ao lado contralateral a lesão. Outro distúrbio que lesões no córtex parietal posterior podem causar é a síndrome da negligência na qual o indivíduo para de perceber metade do corpo ou “metade do mundo”, suprimindo e ignorando e até negando a existência dessa região. Como vimos, existe uma separação da percepção dos diferentes estímulos que o corpo pode sofrer. Porém para que essa informação seja útil para nós ela deve ser integrada para ser interpretada e assim poder fazer sentido. Uma dessas áreas de integração da sensação somática é o córtex parietal posterior. Essa área também está envolvida com estímulos visuais, planejamento motor e como estado de atenção de uma pessoa. 11 TATO – A pele é o maior órgão sensorial do corpo. Ela tem função principalmente protetora, mas evita a evaporação de líquidos corporais para o ambiente e provê nosso contato com o mundo. A sensação do tato começa pela pele. Ela é extremamente sensível, de forma que podemos perceber com a ponta de um dedo um relevo de até 0,006 mm de altura e de 0,04 mm de largura! Para comparar, um ponto da escrita braile é 167 x maior do que isso. A pele pode ser de dois tipos: glabra ou com pêlos (palma e dorso, respectivamente). Alguns pêlos fazem parte do sistema sensorial receptor. Para alguns animais eles chegam a ser os principais órgãos sensoriais como é o caso dos “bigodes” (vibrissas) dos ratos. Para os humanos é mais uma das formas de perceber estímulos na superfície da pele através dos receptores do folículo piloso. A maioria dos receptores do sistema sensorial somático é mecanorreceptor a deformações mecânicas como pressão e estiramento. Como estão presentes em todo corpo, monitoram não só a pele, como a pressão que o sangue está fazendo nos vasos e no coração, estiramento de órgãos digestivos e bexiga, além da força aplicada nos dentes. Os diferentes estímulos mecânicos são percebidos por mecanorreceptores que possuem canais iônicos sensíveis a esses estímulos. Assim, quando ocorre um estímulo mecânico, os canais se abrem e potenciais de ação são gerados. Então eles são transmitidos pelos nervos periféricos e levados até o encéfalo para que este lhe atribua um significado e o utilize ou não para o comportamento. Existem vários mecanorreceptores nas camadas da pele, como o de Ruffini, Pacini, Meissner, terminações nervosas livres, discos de Merkel e receptores do folículo piloso. Todos eles contribuem, cada um a sua forma, com a percepção dos estímulos táteis. Todos esses mecanorreceptores são compostos pela extremidade de um neurônio aferente que pode estar livre (“sem nada na ponta”) ou associado aos receptores citados. A pele pode sofrer vibração, pressão, agulhada, toque e seus pêlos podem ser curvados ou puxados. Assim temos receptores que variam conforme a preferência pelos estímulos. O corpúsculo de Pacini é o mais responsivo a vibração. DOR - Além dos mecanorreceptores a sensação somática depende fortemente dos nociceptores (nocere = ferir), terminações nervosas livres que sinalizam que o tecido corporal está lesionado ou em risco de sofrer lesão. A ativação dos nociceptores pode levar a experiência da dor. Mas dor e nocicepção não são a mesma coisa. Dor é a percepção de sensações diferentes como irritação, inflamação, fisgada, ardência ou latejar, sensações ruins e até mesmo insuportáveis. Nocicepção é o processo sensorial que provê sinais que desencadeiam a dor. Os nociceptores estão presentes na maior parte do tecido corporal como pele, mm, órgãos internos,vasos e coração. Exceto o tecido cerebral. TEMPERATURA – Os termorreceptores são as estruturas responsáveis pela detecção de diferenças na percepção da sensação térmica. A via que carreia a sensação térmica até o encéfalo é a mesma que carreia o estímulo doloroso. 12 = SISTEMA MOTOR SOMÁTICO = Os elementos que operam o sistema motor somático são quatro: 1) Executores: realizam os movimentos. São os músculos. 2) Ordenadores: transmitem para os mm os comandos para a ação. São os neurônios motores da medula espinhal e do tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo) e córtex. OBS: se seccionarmos (= cortar) completamente um nervo, o músculo que ele inervava vai atrofiar (perder o trofismo, perder o volume). 3) Controladores: avaliam se os comandos foram executados corretamente (supervisão do movimento). Papel desempenhado pelo cerebelo e pelos núcleos da base que se comunicam com os ordenadores do córtex através do tálamo. 4) Planejadores: idealizam a seqüência de movimentos e emitem instruções detalhadas para os ordenadores enviarem aos executores. Várias regiões do córtex desempenham essa função. Há no nosso corpo três tipos de músculo: - O músculo estriado cardíaco: tipo de tecido do coração - O músculo liso: forma as paredes de nossas vísceras (intestino, traquéia, brônquios, artérias, veias, estômago, etc). - O músculo estriado esquelético: responsável pelos movimentos dos braços, das pernas, dos olhos, da respiração, do pescoço, da face, do tronco, da fala, etc. Falemos sobre os mm estriados esqueléticos. Eles são os executores dos movimentos do sistema motor. Os mm estriados esqueléticos possuem proteínas contráteis que seaproximam ou se afastam criando o movimento. Essas proteínas são a actina e a miosina. O movimento de afastamento ou aproximação da actina e miosina só ocorre porque os mm do sistema motor recebem estímulos de neurônios motores. Os neurônios que inervam os mm da face, parte do pescoço, fala, deglutição, entre outros, têm origem no tronco encefálico. Os neurônios que inervam os mm esqueléticos do tronco e membros são chamados de neurônios motores inferiores e têm origem na medula espinhal, mais exatamente no corno ventral, de onde mandam seus axônios até os músculos. A saída desses neurônios é chamada de raiz ventral. Junto com a raiz dorsal, a raiz ventral forma um nervo espinhal. A coloração acinzentada do H medular se deve a reunião dos núcleos dos neurônios motores inferiores e de outros neurônios na medula espinhal 13 O NEURÔNIO MOTOR INFERIOR só é inervada por um neurônio motor. O número de fibras que cada neurônio motor alfa inerva, depende do movimento que aquele músculo realiza. Quanto mais fino o movimento, menor o número de fibras musculares por neurônio. O conjunto do neurônio motor alfa com as fibras que ele inerva é chamado de UNIDADE MOTORA. A contração muscular resulta das ações combinadas e individuais dessas unidades. O neurônio motor alfa comanda a contração do músculo esquelético. Para realizar esse comando, ele recebe estímulos de centros superiores (através de neurônios motores superiores) que levam a ocorrência de potenciais de ação (mudança da polaridade da membrana celular desse neurônio) que percorrem todo o axônio do neurônio motor até chegar na sinapse entre o neurônio motor alfa e o músculo. Quando isso ocorre, neurotransmissores são liberados na fenda sináptica. O neurotransmissor mais comum no sistema motor é a acetilcolina (ACh), derivada da acetil Coenzima A e da colina (colinérgico). A ACh se liga a dois tipos de receptores: -Receptores Muscarínicos: A ACh quando se liga a eles contribui para a regulação do músculo cardíaco, do liso e da atividade glandular. Os neurônios motores inferiores podem ser divididos em neurônios motores ALFA e neurônios motores GAMA. Os n. alfa são responsáveis pela geração da força muscular. Neurônio alfa: As células musculares são chamadas de fibras musculares por causa de sua aparência achatada. Cada neurônio motor alfa é responsável pela inervação de algumas fibras musculares, mas cada fibra muscular só 14 -Receptores Nicotínicos: presentes na membrana pós-sináptica dos músculos estriados esqueléticos. A terminação pré-sináptica do neurônio alfa libera ACh na fenda sináptica. A ACh se liga no receptor nicotínico do músculo esquelético. Isso abre canais de Na+ que despolarizam a membrana da célula muscular permitindo o influxo de Ca++. A liberação de Ca++ dentro da fibra muscular faz com que a aproximação dos filamentos de actina e miosina ocorra. Isto é a contração muscular. Curiosidade: Agonista da ACh = nicotina. Antagonista da ACh = toxina botulínica (Botox). Neurônio Gama: FUSO MUSCULAR O neurônio motor Gama controla a contração das fibras musculares dos fusos, os quais estão incrustados nos músculos esqueléticos. As fibras musculares do fuso são chamadas de intrafusais e as do próprio músculo, extrafusais. As pontas dos fusos estão conectadas às fibras extrafusais de modo que quando as extrafusais são distendidas o fuso também é. As fibras intrafusais só se contraem nas extremidades. O centro delas não se contrai. Há dois tipos de fibras musculares intrafusais: - Cadeia nuclear no centro da fibra: núcleos em fila - Saco nuclear no centro da fibra: núcleos aglomerados Há dois tipos de aferentes que levam a informação de mudança de comprimento e velocidade da mudança de comprimento do fuso: - Ia (anuloespirais): enrolam-se em torno dos dois tipos de fibra. Disparam de forma fásica e tônica. - II (ramalhete): enrolam-se apenas em torno das fibras de cadeia nuclear. Disparam apenas de forma tônica. OBS: a descarga fásica se dá durante a distensão rápida e termina rapidamente (reflexo com martelo). Já a tônica se dá durante uma distensão constante do músculo. Há dois tipos de neurônios gama (eferentes) regulando a contração das extremidades contráteis do fuso: - Gama estático: termina sobre ambos os tipos de fibra do fuso, ajustando a sensibilidade tanto do aferente Ia quanto do II. - Gama dinâmico: termina sobre as fibras de saco nuclear, ajustando a sensibilidade dos aferentes Ia. 15 O comprimento muscular é sinalizado por aferentes Ia e II, refletindo a distensão da região central de ambos os tipos de fibras intrafusais. A sensibilidade do fuso a alterações de comprimento é ajustada por eferentes estáticos gama. A velocidade da alteração do comprimento muscular é sinalizada unicamente por aferentes do tipo Ia com informações principalmente das fibras do saco nuclear, cuja sensibilidade é justada por eferentes dinâmicos gama. Reflexo do fuso: reflexo miotático ou tendinoso ou profundo ou de estiramento: Quando um músculo é subitamente estirado, como quando percutimos um martelo sobre o tendão patelar, isso distende o fuso levando a despolarização das fibras Ia e à criação de um potencial de ação. Este potencial percorre o nervo de forma aferente, penetra na medula pela raiz dorsal e faz conexão diretamente com a o neurônio motor alfa no corno anterior (sinapse excitatória), excitando o n alfa e gerando um potencial de ação que levará a uma contração muscular reflexa. O reflexo miotático serve como uma alça antigravitacional. Por ex, se um peso for adicionado à extremidade de um músculo isso fará com que os neurônios aferentes Ia disparem e causem excitação dos n. alfa o que aumentará a contração muscular. Quando pesquisamos os reflexos de um paciente, estamos avaliando a integridade desse circuito. Quando o neurônio motor superior comanda a contração de um músculo esse estímulo é enviado tanto aos neurônios alfa quanto aos gama. Isso permite que o fuso acompanhe sempre o comprimento do músculo e sirva como um regulador da contração muscular e da função dos neurônios alfa. Se houver desvios do que foi programado, os sensores Ia percebem e o alfa é estimulado a corrigir. Se os alfa e gama não fossem estimulados ao mesmo tempo, mas somente o alfa, o músculo contrairia e o fuso ficaria frouxo, perdendo a sensibilidade. O fuso muscular, juntamente com o órgão tendinoso de Golgi, receptores para ligamentos e cápsulas fazem parte de um sistema responsável por localizar de forma consciente e inconsciente a posição corporal no espaço, ou seja a propriocepção corporal. ÓRGÃO TENDINOSO DE GOLGI Atua como um sensor de tensão muscular. Está localizado na junção do músculo com o tendão e possui aferentes sensoriais do tipo Ib. Os fusos são dispostos em paralelo com os mm e por isso percebem seu comprimento. Já o OTG está disposto em série e por isso informa sobre a tensão. Os aferentes Ib também penetram na medula pelo corno dorsal, porém a sinapse que fazem com o neurônio alfa é intermediada por um interneurônio inibitório de forma que, quando a tensão muscular aumenta, os aferentes Ib são excitados e inibem a atividade do alfa, diminuindo a contração muscular. Essa é a base do reflexo miotático inverso. Em situações extremas esse reflexo protege o músculo. A função normal é regular a tensão numa faixa ótima. Isso é particularmente importante para a manipulação de objetos delicados, o que requer uma preensão estável, porém não muito forte. 16 = RESUMO: TRATOS DA SUBSTÂNCIA BRANCA DA MEDULA ESPINHAL = ASCENDENTES 1) COLUNADORSAL LEMINISCO MEDIAL - As fibras se originam nos mecanorreceptores da pele, articulações e tendões - As fibras ascendem na coluna dorsal - Cruzam em núcleos bulbares dirigem-se para o tálamo e terminam no córtex sensorial 2) ESPINOTALÂMICO - As fibras se originam nos receptores de dor e temperatura da pele (lateral) e nos receptores de tato e pressão (ventral) - Fazem sinapse no corno dorsal da substância cinzenta - Cruzam na medula - Ascendem na porção anterior da coluna lateral - Terminam no tálamo, colateral à formação reticular 3) ESPINOCEREBELAR - Originam-se nos mecanorreceptores da pele, músculos, tendões profundos e articulações - Conexões no corno dorsal da substância cinzenta - Então ascendem na coluna lateral terminando no cerebelo DESCENDENTES 1) CORTICOESPINHAL LATERAL E ANTERIOR - As fibras se originam nos hemisférios cerebrais - Descendem nas colunas laterais e anteriores da substância branca - Terminam principalmente nos neurônios motores alfa e/ou nos interneurônios do corno anterior da substância cinzenta da medula espinhal 2) RETICULOESPINHAL - As fibras se originam na formação reticular do tronco encefálico - Fibras descendem nas colunas laterais e anteriores da substância branca - Terminam principalmente nos neurônios gama e interneurônios da coluna dorsal da substância cinzenta 3) VESTIBULOESPINHAL - As fibras se originam nos núcleos vestibulares laterais - As fibras descendem nas colunas anteriores e laterais - Terminam sobre os neurônios motores alfa e gama do corno ventral da substância cinzenta 4) RUBROESPINHAL - As fibras se originam no núcleo rubro - As fibras descendem na coluna lateral da substância branca - Terminam sobre os neurônios motores e interneurônios do corno ventral da substância cinzenta 5) TECTOESPINHAL - As fibras se originam no colículo superior - Fibras descendem na coluna anterior (cervical) - Terminam nos interneurônios do corno ventral da substância cinzenta
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