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Jornal Valor --- Página 1 da edição "06/02/2019 2a CAD A" ---- Impressa por VDSilva às 05/02/2019@22:28:14 Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 | Ano 19 | Número4684 | R$5,00www.valor.com.br Aumenta odéficit comercial da indústria MartaWatanabe DeSãoPaulo Odéficit da balança comercial da in- dústria de transformação se aprofun- dou no ano passado. O saldo negativo avançou de US$ 3,2 bilhões em 2017 para US$ 25,2 bilhões em 2018, segun- do cálculo do Institutode Estudos para oDesenvolvimento Industrial (Iedi). “Odéficitcaminhaparaonívelpré-cri- se”—chegouaUS$63,6bilhõesem2014, pior resultado desde 2000 —, diz Rafael Cagnin, do Iedi. A crise argentina e a de- saceleração do comércio mundial, fato- res que afetaram o embarque de indus- trializados no ano passado, devem se manter em 2019, ao menos na primeira metade do ano. Eventual redução de alí- quotas de importaçãopoderia acelerar o processodedeterioração.PáginaA5 Grandesbancos pagamR$36,8bi aseusacionistas TalitaMoreira DeSãoPaulo Os três maiores bancos privados do país vão distribuir neste ano R$ 36,8 bi- lhõesaosacionistasna formadedividen- dos, juros sobre capital próprio e recom- pra de ações. O número equivale a 61,7% do lucro líquido ajustado que Itaú Uni- banco,BradescoeSantanderalcançaram juntosem2018,deR$59,7bilhões. O valor distribuído foi ampliado por causa de umnovo recorde de remunera- ção dos acionistas do Itaú, que atingiu R$ 22,9 bilhões, equivalente a 89,25% lu- cro líquido do ano passado. Em 2018, o banco já havia devolvido 83% de seu re- sultado, amelhormarca até então. A farta distribuição de dividendos ocorre nomomento em que o governo Bolsonaro discute a possibilidade de tributar o instrumento em troca de um corte nas alíquotas do Imposto de Ren- da pago pelas empresas. O ministro da Economia, PauloGuedes, indicouqueo IRpode ser reduzidodos atuais 34%pa- ra 15%, após a taxação de dividendos. A medida vem sendo elogiada por execu- tivosdebancos eanalistasdo setor. O Bradesco distribuiu aos acionistas R$7,3bilhões relativos aosnúmerosde 2018, o que equivale a 34,2% do resul- tado. O Santander pagou R$ 6,6 bi- lhões, 53,2%do lucro recorrente. Tecnicamente, os superdividendos do Itaú decorrem de uma política ado- tadapelobancopara lidar comumpro- blemabom—oexcesso de capital. Para evitar uma “sobra” aindamaior, a insti- tuição anunciou em setembro de 2017 a derrubada do teto que limitava os di- videndos a 45% do lucro líquido. Na época, o Itaú definiu que passaria a fa- zer, a cada ano, a distribuição necessá- ria paramanter 13,5% do capital emní- vel1,parâmetroqueincluiações, lucros acumulados e alguns títulos de dívida. Comocrédito fraco e limitadopelos re- guladores para fazer aquisições, o Itaú optou por distribuir mais lucros aos acionistas, encerrando2018 com15,9% docapital emnível 1. A política do Itaú é diferente da adotada por seus maiores concorren- tes. O diretor de relações com o mer- cado do Bradesco, Carlos Firetti, disse que 13,5% em capital de nível 1 é o pa- tamar ótimo, mas não necessariamen- te um teto. “A gente pode acumular mais”, disse em teleconferência com analistas. Segundo Firetti, a expectati- va do banco é que as mudanças discu- tidas pelo governo não impliquem au- mento da carga tributária. Página C1 Fotonretoma planospara fábricanopaís Marli Olmos DeSãoPaulo A Foton Aumark do Brasil está reto- mando o projeto de construção de sua fábrica de caminhões em Guaíba (RS). A empresa é controlada pelo ex-minis- tro Luiz Carlos Mendonça de Barros, que em 2010 decidiu importar cami- nhões da chinesa Foton e, em seguida, negociou com o governo gaúcho in- centivos e terreno para iniciar a pro- dução no país. A fábrica, porém, nun- ca saiu do papel por conta da crise econômica. Agora, com perspectivas mais otimistas, sua construção será re- tomada e os chineses, que não têm participação na empresa brasileira, se comprometem a assumir a operação no país em 18meses. Página B3 OpresidentedaTotal, PatrickPouyanné,dissequeaempresacaminhaparaampliaros investimentos emgásnatural até2040. “Temosde lidarcomamudançaclimáticaesermosmaiseficientes”.Pág.B2 N A SS ER B ER ZA N E/ A P PresidentedaCâmara, RodrigoMaia (DEM-RJ), defende fimda tabela dos fretesA6 Conselhos regionais queremadiar resolução doórgão federal sobre ‘telemedicina’B5 Opesodoclima Comnova fábrica, farmacêuticaCimedvai ampliar aproduçãoem maisde100% até2024, diz MarquesB4 Ibovespa 5/fev/19 -0,28% R$ 16,3 bi Selic (meta) 5/fev/19 6,50% ao ano Selic (taxa efetiva) 5/fev/19 6,40% ao ano Dólar comercial (BC) 5/fev/19 3,6735/3,6741 Dólar comercial (mercado) 5/fev/19 3,6658/3,6664 Dólar turismo (mercado) 5/fev/19 3,6300/3,8100 Euro comercial (BC) 5/fev/19 4,1937/4,1951 Euro comercial (mercado) 5/fev/19 4,1834/4,1841 Euro turismo (mercado) 5/fev/19 4,1826/4,3626 Ideias Indicadores MaluDelgado Como definiu um parlamentar expe- riente, “desgraçadamente” a política não está no comando.A8 CristianoRomero Adiscussãourgente sobreanecessidade demudaras regrasdasaposentadoriasé hojeomaioralvodemanipulações.A4 Destaques Esteanovai trazerdesafiosaosfundosde pensão,queprecisarãoaumentaroriscode suasalocaçõesemrazãodaquedadosjuros, ummovimentojáantecipadoporalgumas fundações.SegundoaconsultoriaAditus, 61%dosplanosficaramabaixodasmetas atuariaisem2018.“Algumafundaçõesestão preocupadas.Omercadofoipositivoemja- neiro,masodesempenhodependemuito dasreformas”,dizGuilhermeBenites.C10 Mais gastos com TI em 2019 Os gastos com tecnologia e telecomuni- cações no Brasil vão se acelerar neste ano, com aumento de 4,9%, segundo projeções da consultoria e empresa de pesquisas IDC. “Omercado não volta ao ritmo de 2014, mas em diversos seg- mentos o avanço será bastante acelera- do”, diz Pietro Delai. B6 Marcos Elias admite culpa nos EUA OgestoreanalistadeinvestimentosMarcos Elias,presodesdeagostonosEUA,confes- souocrimedeconspiraçãocontra institui- çõesfinanceirasamericanas, segundoaPro- curadoriadeNovaYork.Ele foipresonaSuí- çaeextraditadoparaosEUAsobacusação departicipardeesquemaparaobtermais deUS$750mildebancosamericanos.A4 Heringer pede recuperação Pressionada por uma dívida que chega a R$ 1,5 bilhão, a Fertilizantes Heringer apresentou pedido de recuperação ju- dicial. Amedida foi adotada após a rus- sa Eurochem executar uma dívida de cerca de R$ 55milhões, que levou ao bloqueio de contas. As ações da compa- nhia caírammais de 30% ontem. B10 Entraves às vendas do agronegócio Baixosganhosdeprodutividadenasáreas deprocessamentoe logística,ausênciade acordoscomerciaisemercadointernacio- nalconturbadoporquestõesgeopolíticas podemameaçarocrescimentodasexpor- taçõesbrasileirasdoagronegócio,dizMar- cos Jank,presidente-executivodaAsia-Bra- zilAgroAlliance,quereúneexportadores deproteínaanimal,açúcareálcool.B9 Juro baixo desafia fundos de pensão Caixa vai vender ações do IRB ACaixapretende vendernomercado suaparticipaçãono IRBBrasil RE, em umaoperaçãoquepode chegar aR$2,4 bilhões, considerandoa cotaçãoda açõesda resseguradoranoencerramen- todabolsana segunda-feira.O crono- gramadavendaainda está sendodiscu- tido, inclusive como IRB, paranão ter impactonospapéis da empresa.C3 Promotordeixa ‘casoFlávioBolsonaro’ OpromotorClaudioCalo,doMinistério PúblicodoRio, indicadopara investigar movimentações financeirasatípicasde ex-funcionáriosdegabinetedohojesena- dorFlávioBolsonaro(PSL-RJ),desistiuda atribuiçãoapósquestionamentossobre manifestações favoráveisaFlávioeaogo- vernoBolsonaroquefezemredesocial.A8 Reformaémaisduraparaservidor RibamarOliveira,RaphaelDiCunto, FabioGraner, EdnaSimãoeMarceloRibeiro DeBrasília A minuta de reforma da Previdência que vazou nesta semana é mais suave comos trabalhadoresda iniciativapriva- da e mais dura para os servidores públi- cos do que aproposta apresentada pelo governodoex-presidenteMichelTemer. A gestão anterior propôs idademínima de 65 anos para todos. A minuta mantém os 65 anos, porém com redução a 60 anos para professores e trabalhadores rurais. Masaregraquetornaaminutamuitomais duraparaosservidores, inclusivemilitares, éaquedeterminacriaçãodecontribuições extraordinárias, alémda contribuiçãopre- videnciária normal, para equacionar o dé- ficit atuarialdaprevidênciado setorpúbli- coedosmilitares.Seaminutafosseaprova- da no Congresso, esses servidores teriam que arcar com os déficits de seus regimes enãomaisoTesouro,comoocorrehoje. Ogovernodecidiuenviarnovaproposta de reforma e não usará mais o projeto de Temer.Comisso,otextoteráquepassarno- vamente pela Comissão de Constituição e Justiça e por uma comissão especial, o que atrasará a tramitação. A proposta anterior levouquatromesesparasuperaressasfases emaisummêsdenegociaçõesantesdapri- meiratentativadevotação.PáginaA7 Alemanhareage parapreservar suasempresas RuthBender DowJonesNewswire, deBerlim AAlemanhaanunciouque vai intensi- ficar os esforços para proteger setores importantes de sua economia contra aquisições e concorrência de grupos es- trangeiros, como forma de combater o que classificou de crescente protecionis- modosEstadosUnidosedaChina. A nova política permitirá ao país assu- mirparticipações emempresas estratégi- cas para evitar que sejam compradas por estrangeiros.Tambémprevêumaadapta- ção das regras antitruste, nacionais e eu- ropeias,paraencorajaracriaçãode“cam- peãs nacionais ou europeias” para en- frentargiganteschinesaseamericanas. O anúncio acontece no momento em queadefesadaeconomiademercadore- cua em quase todo omundo, emmeio a umagrande reaçãoantiglobalização, em especialnoOcidente.PáginaA11 A2 | Valor | Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 | Valor | A3 Jornal Valor --- Página 4 da edição "06/02/2019 2a CAD A" ---- Impressa por VDSilva às 05/02/2019@22:47:23 A4 | Valor | Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 Brasil EspecialistasdaONUcriticamvetode Doriaàcriaçãodecomitêcontratortura RICKBAJORNAS/UN MalcolmEvans: “EsperamosqueoBrasil cumprasuasobrigações internacionais” AssisMoreira DeGenebra Especialistas em direitos hu- manos da Organização das Na- ções Unidas (ONU) pediram ao Brasil que cumpra suas obriga- ções legais internacionais, emco- municado divulgado no início desta semana pelo Alto Comissa- riado das Nações Unidas para os DireitosHumanos. Esses especialistas se dizem “profundamente preocupados” com o recente veto, pelo gover- nador de São Paulo, João Doria, do projeto de lei que institui o Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura e o Mecanis- mo de Prevenção e Combate à TorturanoEstado . No seu veto, em 16 de janeiro, o governador paulista ressalta que a prevenção da tortura deve ter apoio “incondicional e irres- trito” do Estado, mas diz que o projeto fere o princípio de sepa- ração de poderes. Afirma, por exemplo, que “não é admissível a criação de órgão vinculado ao Poder Legislativo com poderes para fiscalizar as atividades dos estabelecimentos privativos de liberdade”. Os especialistas da ONU pe- dem que a Assembleia Legislati- va reverta adecisão. “OBrasil tem a obrigação legal internacional de estabelecer mecanismos na- cionais de prevenção para com- bater a tortura e os maus-tratos, em razão do fato de o país ter ra- tificado em 2007 o Protocolo Fa- cultativo à Convenção contra a Tortura (OPCAT)”, afirmam. Otextodestacaque,em2015,o Brasil introduziu uma lei federal criando um Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, que se baseia no estabelecimento de uma rede demecanismos pre- ventivos no plano estadual. Esses mecanismos já foram estabeleci- dosnosEstadosdoRiode Janeiro, Pernambuco, Roraima, além do Distrito Federal. E considera que o veto em São Paulo inverte essa tendênciapositiva. “Esperamos que o Brasil conti- nue cumprindo as suas obriga- ções internacionais, reverta essa decisão e permaneça compro- metido em favor da luta contra a tortura”, declarou sir Malcolm Evans, presidente do Subcomitê para a Prevenção da Tortura. “Congratulamo-nos comadecla- ração feita na semana passada pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão ao rejeitar esse veto, convidando o Estado a cumprir com as suas obrigações noâmbitodoOPCAT.” “O governo brasileiro está sob obrigação legal internacional de garantir que isso aconteça”, diz o textodivulgadopeloAltoComis- sariadodaONU. Aditus C10 ADM B10 Agco B10 Agrale B3 Agronow C10 Airbus A11 Alphabet C2 Alstom A11 Amazon B6 Andrade Gutierrez B3 Apple B6 Arko Advice A8 Arquilau de Paula Advogados Associados A6 Avianca Brasil B5 B3 B2, B10 Banco do Brasil B1, B10, C5, C10 Banco Fibra A5 Banco Pan C5 Banrisul A6 BNDES B3 Bradesco A5, C1, C2, C5 Bradespar C10 Braskem C10 BRF B10 BTG Pactual B4, B5, C1, C10 Caixa C3, C10 Carioca B3 Carrefour B5 Celonis A11 Cielo C5 Cimed B4 CM Capital Markets C2 Coface C2 CPFL Energia B10 Cummins B3 CVA Solutions B2 Deepl A11 Deutsche Bank A11 Digesto C10 Discovery B6 Elliott Associates B5 Elliott International B5 Escritório Carvalhaes B8 Eurasia A8 Eurochem B10 Euromonitor B7 Fertilizantes Heringer B10 Fertilizantes Tocantins B10 Finpass C10 Ford B3 Foton B3 Funcef B2 Gol B5 Goldman Sachs C5 GPA B5 Grupo Bandeirantes de Comunicação B6 Hapvida B5 Hyundai B3 IDC B6 IHS Markit A5 Imperial A6 Ipiranga B2 IRB C3 Itaú BBA B4 Itaú Unibanco C1, C2, C5 ITV B6 Iveco B3 Kia B3 Kimberly B7 Klabin B4 Kuka A11 Latam B5 Livraria Cultura B1 Locomotiva B4 Manchester Securities B5 Mannrich e Vasconcelos A6 Meteorologix B8 Microsoft B6 Midea A11 Netflix B6 Nexas Resources C10 Nielsen B5 OAS B3 Odebrecht B3 Oi B6 PagSeguro C5 Petrobras B2, B3, B10, C10 Petros B2 Pharol B6 Previ B2 Procter & Gamble B7 Raízen B2 Ralph Lauren C2 Rede C5 Sace Simest C10 Sacha Calmon, Misabel Derzi A6 Santander B5, C1, C2, C5 SAP A11 Saraiva B1 Seery Futures B8 Setal Engenharia B3 Siemens A11 Sog B3 Sogemar B4 Stone C5 Tendências Consultoria A8 This is L B7 ThyssenKrupp A11 Total B2 Transunião A6 Tüv Süd B4 UBS B4 Vale A6, B2, B4, C10 Votorantim B5 Walt Disney Company C2 ZF B3 Índice de empresas citadas em textos nesta edição Obstáculodareforma estánadesinformação CristianoRomero U madas características marcantesdo debatenacional éa manipulaçãoda informação.Émais fácil “dialogar”quandoo interlocutornãosabe exatamentedoqueseestá falando.Muitoantesdoadvento das “fakenews”quese propagamfeitoervadaninha nas redes sociais, notícias falsas, lendasurbanasemistificações já sedisseminavamcomenorme facilidadeparaalémdas conversasdebar. A ignorânciarepetidacomo verdade, registre-se,nuncafoi privilégiodepessoascombaixo acessoàeducaçãoformaleaos meiosdecomunicação.Nas universidadespúblicas, lócusdo conhecimentoesupostamente dolivredebatede ideias, elites intelectuais, refénsdo corporativismo, sãocontráriasàs reformasdequeoBrasilprecisa parase tornarsocialmentemais justo. Funcionamcomoigrejas, deumcredosó,ondeopiniões quequestionemostatusquode seus“donos” (professorese funcionários)nãosão bem-vindas.Mesmoquemtem porofício, comoos jornalistas, informardamaneiramais ampla,objetivaedesinteressada possível,queda-semuitasvezes pelocaminhoobscuroda desinformação.Oalheamento aosproblemasrenitentesdeste imensopaíséumdefeito inaceitávelnacondutadequem possuiodeverde informar. Adiscussãourgentesobrea necessidadedeopaísmudaras regrasdeaposentadoriadeseus cidadãos,principalmentedos funcionáriospúblicos, éhojea principalvítimadamanipulação de informação,umaforma perversadeseperpetrara desinformação.Umasociedade mal informadaécampofértil paraasagraçãodepopulistas, demagogosepatrimonialistas. Adefesa de ampla e profunda reforma previdenciária émissão árdua emBrasília, palco das decisões nacionais. Em tese, não deveria ser tão difícil, afinal, se a reforma é para reduzir privilégios do funcionalismo público de um lado e, do outro, adequar as regras de aposentadoria dos trabalhadores do setor privado —que se aposentampelo INSS, compiso de um saláriomínimo e teto pouco acima de R$ 5mil — à evolução da demografia, o pendor pormudanças seria determinado pelo grupomais numeroso de brasileiros. Infelizmente, não funciona assim. Odesequilíbrioéchocantee deveria impressionaros moradoresdaVilaMadalena, animadobairrodeclassemédia deSãoPaulo, redutode jovens emsuamaioriacontráriosa mudançasnaPrevidênciaea reformasquerevolucionema vocaçãohistóricadoEstado brasileirodedestinaramaior partedeseusparcosrecursosa quemmenosprecisadesua ajuda(grandesempresas, estudantesde famílias abastadas,multinacionaisda indústriaautomotiva,Estadose prefeiturasmais ricos, funcionáriospúblicos, monopólios, estataisetc). Temascomoofimda estabilidadedofuncionalismoe acobrançademensalidadenas universidadespúblicas, mudançasquepoderiamajudar adiminuiraconcentraçãode rendareinanteporaquidesde quandonoschamávamos Ilhade VeraCruz.Arazãoparatanta conversa fiadaéumasó: desinformação. Junte-sea issoa velhapráticadaesquerda brasileiradedefenderslogans antesdeconheceras ideiasque os justifiquemepronto:odebate serásempretortoe,portanto, inútil,oquecontribui decisivamenteparaopaís ter dezenasdemilhõesdepessoas vivendoemregimedemiséria absolutaeoutrasdezenasde milhõesemestadodepobreza imobilizante. OsnúmerosdaPrevidência em2018foramosseguintes: 1)contabilizandooquetodos —trabalhadoresepatrões— contribuímosparao INSSeas despesascompagamentode aposentadoria,pensõese benefíciosassistenciais, faltaram R$195,19bilhões.Este foio déficitdaPrevidênciaSocial,que serefereaumuniversodecerca de30milhõesdepessoas, entre aposentados,pensionistase beneficiáriosdeprogramas assistenciais; 2)aoutrapartedacontaestá nosregimesprópriosde previdênciadofuncionalismo federaledosmilitares,um contingentede aproximadamenteummilhão depessoas.Nestecaso,aconta tambémnãofecha:entreoque servidoresemilitares contribuíramem2018paraa aposentadoriaeoqueos aposentadosepensionistas receberam,osaldo,negativo, chegouaR$46,4bilhõesentreos civis,R$43,9bilhõesnocasodos militareseaR$4,8bilhõesentre funcionáriosdoDistritoFederal, cujosbenefíciosaindasãopagos pelaUnião.Total: R$95,1bilhões,R$10bilhões acimadorombode2017. Assim,odéficit totalda Previdêncianoúltimoano somouaincrível cifrade R$290,3bilhões,R$20bilhõesa maisquenoanoanterior. Se faltoudinheiro, comooTesouro Nacionalcobriuaconta?De duas formas, comosevem fazendohámuitosanos: tomandodinheiroemprestado nomercadoa jurosaltose cortandogastosdeoutrasáreas, comoeducação, saúdee segurançapública,alémde investimentosondeoEstadoé demandado. Aáreaquemaisperdeéa saúdeeapenasesse fatodeveria ser suficienteparamobilizaro pessoaldaVilaMadalena, preocupadocomosrumosda nação.Muitosnãoligamuma coisaàoutra,masporqueo Brasilmelhoraapassosde cágadoos indicadoresdesaúdee educaçãodesuapopulação? Claro,oproblemanãoésófalta derecursos,mas issoexplica umaboapartedoproblema.O fatoéque,enquantonãohouver umasoluçãodemédioe longo prazosparaascontas Previdência,oBrasil terásempre maniadegrandeza,emvezde grandeza. Nodebate,algunsalegamque umapartedaconta—os benefíciosassistenciaisnão contributivos, comooabono salarial—deveriaestar forado déficit, equeestedeveria refletir apenasosaldoentre contribuiçõesedespesas.Éum argumentorazoável,masé precisoponderarquea Constituiçãode1988introduziu oconceitodeseguridade, inspiradonomodeloespanhole quevaialémdaPrevidência.O queestápor trásdessemodeloé a ideiadequetodos—cidadãose empresas—devemoscontribuir paramelhoraravidadequem temmenosoportunidade,parte davisãodequeumasociedade commenosdesigualdadesé melhorparatodos.Detoda forma, retirarasdespesas assistenciaisnãoacabariacomo déficit. CristianoRomeroéeditor-executivo e escreveàsquartas-feiras E-mail cristiano.romero@valor.com.br Porqueprivilégiosdo funcionalismonão revoltamjovensdaVila? Emvídeo,Vélez defende ‘ensino cívico’ da escola àuniversidade OministrodaEducação,RicardoVélez Rodríguez,prometeu“muitaênfase” noensinodevalorescívicosdesdea educação infantil atéauniversidade durantesuagestãonoMEC. “Havia nasnossasantigasescolasprimárias esecundárias, [equivalentes]ao ensino fundamental emédio, a educaçãomoral cívica.Ehavia, depois nociclouniversitário, estudosde problemasbrasileiros. Isso foi esquecido, achoqueserianecessário voltaravalorizaraeducaçãocívica [...] queéabasedocomportamento sobreaqual sesedimentaavida comunitária, avidacidadã”, afirmouo ministronovídeo“Bate-papocomo professorVélez”, publicadopeloMEC noYouTube.Vélez tambémprometeu retomaroProjetoRondon, criadoem 1968para levaros jovens universitáriosavisitaras regiões menosdesenvolvidasdopaís.A iniciativadurouaté1989edepois foi retomadaapartirde2005.RE PR O D U Ç Ã O /Y O U TU B E Últimasnotícias Finanças PresonosEUA,gestorMarcosElias confessa crime Toni Sciarretta DeSãoPaulo O gestor e analista de investi- mentos Marcos Elias, preso desde agosto do ano passado nos EUA, confessou o crime de conspiração contra instituições financeiras americanas, segundo o procura- dor do Distrito Sul de Nova York, Geoffrey S. Berman. Elias foi preso na Suíça e depois extraditadopara os EUA, sobacusaçãodeparticipar deumesquemaparaobtermaisde US$ 750 mil de bancos de Nova Yorkusandodocumentos falsifica- dosdeclientesbrasileiros. Segundo o procurador, Elias confessou o crime durante au- diência com a juíza distrital Lau- ra Taylor Swain, do Sul de Nova York, nesta segunda. Elias deve aguardar o julgamento, previsto para 4 de abril. Ele pode pegar até 30 anos de prisão. Formado em engenharia me- catrônica pela USP, com mestra- do em direito pela Fundação Ge- tulio Vargas (FGV) e MBA em ad- ministração pela Universidade de Pittsburgh, o analista come- çouacarreira comoestagiáriono antigo Bozano, Simonsen. Como analista de investimentos, traba- lhou primeiro no Banco Brascan edepois noBNPParibas. Em 2003, fundou a GAS Investi- mentos, incorporada pela Vinci Partners em2004. Emseguida, tor- nou-se sócio da Link Investimen- tos, de onde saiu em 2006 após a empresasservendidaparaaQuest. Mais tarde criou a gestora Gal- leas, de fundos especializados em ações "small caps” (empresas de menor capitalização). À frente da casa, Elias se envolveu na primeira polêmica ao fechar os portfólios para resgate diante do nervosismo apósaquebradoLehmanBrothers, em setembro de 2008. O Galleas permaneceu bloqueado de outu- brodaqueleanoaabrilde2009. Após deixar a Galleas, Elias aju- dou a fundar a Empiricus Resear- ch. Como chefe de pesquisa, Elias escreveu relatórios considerados polêmicos pelo mercado ao ado- tar uma linguagem agressiva em seus comentários. Um dos docu- mentos, no qual atacava aMarfrig, tornou-se peça principal de um processo por violação do código de conduta da Apimec (associa- ção dos analistas). O episódio cus- tou ao analista a suspensão de seu registro por 12meses. O último trabalho de Elias no Brasil foi na assessoria financei- ra Modena Capital. O Valor não conseguiu conta- to comosadvogadosdeElias. Jornal Valor --- Página 5 da edição "06/02/2019 1a CAD A" ---- Impressa por CCassiano às 05/02/2019@20:38:24 Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 | Valor | A5 Brasil ConjunturaEmcrise, Argentina reduziu as compras e contribuiupara saldonegativodeR$25,16bilhões Indústriaperdeespaço naexportação,edéficit cresce7vezesem2018 RafaelCagnin: “Pormaisqueaeconomia [naArgentina]melhore,deveterumapoucomaisdevagarparaarecuperação” SILVIACOSTANTI/VALOR MartaWatanabe DeSãoPauloO déficit da balança comercial da indústria de transformação se aprofundou no ano passado. O saldo negativo avançou de US$ 3,22 bilhões em 2017 para US$ 25,16 bilhões em2018. O sal- do negativo do ano passado é re- sultadodeUS$ 138,47 bilhões em exportações e US$ 163,63 bilhões em importações. Os dados são do InstitutodeEstudosparaoDesen- volvimento Industrial (Iedi). O déficit caminha para o nível pré-crise, quando chegou a US$63,66bilhões,em2014,opior resultadodesde2000, destacaRa- faelCagnin, economistado Iedi.A crise argentina e a desaceleração docomérciomundial, fatoresque afetaram o embarque de indus- trializados no ano passado, de- vemsemanterem2019,aomenos naprimeirametadedoano. Even- tual redução de alíquotas de im- portação, avalia, pode acelerar o processodedeterioração. O desempenho dos produtos básicos, com superávit comercial recorde de US$ 83,82 bilhões, des- taca Cagnin, foi o que garantiu à balança brasileira total no ano passado o segundo maior resulta- dopositivodahistóriadopaís. Segundo dados do governo fe- deral, em 2018 os produtos in- dustrializados, incluindo manu- faturados e semi-manufatura- dos, representaram 48,8% dos embarques brasileiros. Essa fatia foi de 65,8% em2007, últimoano em que a indústria de transfor- mação teve superávit comercial, segundo a série história do Iedi. O saldo positivo naquele ano foi deUS$18,93bilhões. O tamanho do déficit na in- dústria da transformação em 2018 mostra clara inversão de desempenho dos saldos comer- ciais, diz Cagnin. “A trajetória de recuperação foi interrompida por fatores internos e externos.” No mercado doméstico, diz ele, há desempenho importante das importações. As compras externas de bens da indústria de transfor- mação se aceleram, de 9,7% em 2017 para 20,1% em 2018. “A des- peito da fragilidade da recupera- ção econômica, as importações dobraram o ritmo, o que não é pouca coisa.” Em compensação, diz ele, a exportação mostra desa- celeração, caindo pelametade. Se- gundo dados do Iedi, o embarque debensindustriaiscaiude9,2%em 2017para4,1%noanopassado. O avanço do déficit, diz Cag- nin, é expressivo e disseminado entre os diversos setores, o que fi- ca evidenciado com a evolução do segmento de média-baixa in- tensidade tecnológica, que, supe- ravitário em 2016 e 2017, ficou com saldo comercial negativo no anopassado. Formada por ramos como os de produtos metálicos, construção naval, produtos de petróleo e borracha e plásticos, essa indústria passou de um sal- do positivo de US$ 858 milhões em 2017 para um déficit de US$5,39bilhõesnoanopassado. O economista destaca também o segmento demédia-alta intensi- dade tecnológica, que “voltou a andar para trás, com trajetória de melhora interrompida”. Respon- sávelpor26,3%das exportaçõesda indústria de transformação, o seg- mento de média-alta intensidade expandiu o déficit comercial de US$ 26,3 bilhões em 2017 para US$38,2bilhõesnoanopassado. Entre os setores que puxaram amaiordeterioraçãonessepeda- ço da indústria, estão os segmen- tos de máquinas equipamentos mecânicos, com saldo negativo que cresceu de US$ 4,3 bilhões em 2017 para US$ 6,4 bilhões no ano passado. Também contri- buiu o setor de produtos quími- cos, excluídos os farmacêuticos, que aumentou o déficit de US$ 20,2 bilhões para US$ 25,2 bilhões em igual período. O grande destaque fica para a troca de sinal do ramo de auto- móveis, reboques e semi-rebo- ques, no qual o superávit de US$ 3,4 bilhões foi substituído por um déficit de US$ 752 mi- lhões, semprede2017para2018. O segmento de automóveis che- gou a ter saldo positivo por dois anos consecutivos, após umdéfi- cit deUS$3,5bilhões em2015. Tradicionalmente superavitá- Fonte: Secex/Alice, com elaboração do Iedi com base na taxonomia da OCDE/Standatabase. *Inclui reboques e semi-reboques Déficit na indústria de transformação Saldo da balança comercial - em US$ bilhões Resultado negativo mais disseminado Saldos comerciais por intensidade tecnológica - em US$ bilhões Balança de veículos automotores* Saldos comerciais - em US$ bilhões -80 -40 0 40 80 2001 2001 2018 2001 2005 20152010 2018 BaixaMédia-baixaMédia-altaAlta -19,4 -38,2 -5,4 37,9 -80 -60 -40 -20 0 20 40 Total -3,6 -2,1 6,9 16,6 23,9 31,5 29,9 18,9 -7,2 8,4 -34,8 -48,9 -50,9 -59,9 -63,7 -30,9 -2,5 -3,2 -25,2 -0,9 2,7 13,2 24,7 33,6 45,2 46,5 40,1 24,7 25,1 20,0 29,7 18,9 2,3 -4,2 19,5 47,6 67 58,7 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 -12 -8 -4 0 4 8 12 -0,75 rios, os ramos de baixa tecnologia tambémcontribuíramparaadete- rioração do saldo comercial da in- dústria de transformação ao enco- lher o saldo positivo de US$ 40,1 bilhõesparaUS$37,9bilhões.Ain- dústria de baixa intensidade tec- nológica é formada, entre outros, pelos ramosde alimentos, alémde madeira, papel e celulose e de têx- teis, courosecalçados. Entre os principais fatores ex- ternosqueafetaramaexportação debens industriais, estáacrisear- gentina, diz Cagnin. Segundoda- dos do governo federal, em 2017 um quinto dos manufaturados exportados pelo Brasil foi desti- nadoaopaís vizinho.Noanopas- sado, a fatia caiu para 15,6%. Em 2018, os argentinos compraram US$13,54bilhõesembensmanu- faturados brasileiros, valor que representa recuo de 17,2% em re- laçãoaoanoanterior. ParaCagnin, aexportaçãobrasi- leira de bens industriais ainda de- ve continuar a sofrer os efeitos da criseargentinaem2019, aomenos na primeira metade do ano. “Por mais que a economia de lámelho- re, a recuperaçãodeve serumpou- comaisdevagar.”Adicionalmente, no cenário internacional, diz o es- pecialista, o comércio pode passar pornovadesaceleração.Aperspec- tiva de um comércio mundial em ritmo mais desacelerado dificulta a exportação brasileira e também acirra a concorrência da indústria doméstica em relação aos impor- tados, avalia ele. A indústria, que durante a re- cessão da economia brasileira se voltou para o mercado externo, agora busca novamente omerca- do doméstico, num movimento que também contribui para um déficit comercial maior. “Sem le- var em consideração que émuito provável que teremos um redu- ção de alíquotas de importação”, diz ele. Para ele,medidas de aber- tura abertural precisam ser gra- duais e adotadas somente com umprograma que garantamaior competitividade à indústria bra- sileira. A redução de alíquotas tem sido levantada por integran- tes da equipe econômica do pre- sidente JairBolsonaro. Medidas de ampliação da competitividade da produção nacional, segundo Cagnin, de- moram a dar resultados. “A re- forma tributária é fundamental nesse programa, mas a negocia- ção é lenta, a aprovação, tam- bém, e os efeitos serão mais di- luídos no tempo”, exemplifica. Enquantouma reforma tributá- ria não vem, um dos fatores que poderiam amenizar essa perspec- tiva de elevação de déficit comer- cialnaindústriadetransformação, afirma Cagnin, seria a recomposi- ção do Reintegra, benefício fiscal que devolve ao exportador parte dostributospagosnaproduçãodo bem embarcado. O que pode aju- dar a indústria também, diz o eco- nomista, éo câmbio, pela ausência de um movimento de apreciação fortedo real. Seoquadro semanti- ver, avalia, isso pode amenizar o efeito de redução de alíquotas de importação num cenário de recu- peraçãodomercadodoméstico. Entidades reduzemprojeçõespara crescimento e inflação EstevãoTaiar DeSãoPaulo A lentidãoda atividade econô- micaneste iníciodeano tempro- vocado ajustes nas projeções pa- ra o Produto Interno Bruto (PIB), ao mesmo tempo que a grande ociosidadedaeconomia reduzas estimativaspara a inflação. O Comitê de Acompanha- mento Macroeconômico da As- sociação Brasileira das Entida- des dos Mercados Financeiroe de Capitais (Anbima) — que reú- ne 25 economistas de institui- ções associadas — cortou a esti- mativa para a expansão do pro- duto neste ano para 2,6%, de 2,8% previstos em dezembro do ano passado. A economia brasileira iniciou o ano avançando de forma “mais gradual”, afirmou, em nota, Fer- nando Honorato, presidente do comitêdaAnbima. O Banco Fibra, em relatório também divulgado ontem, diz ter colocado viés de baixa na es- timativa de crescimento de 2,5%. “Os indicadores coincidentes e antecedentes já divulgados nes- te início de ano nos mostram uma economia crescendo ainda muito lentamente, com gradual melhora do mercado de traba- lho”, diz o texto elaborado pela instituição. Em meados de janeiro, outra instituição financeira, o Brades- co, já tinha reduzido a expectati- va de crescimento do PIB do pri- meiro trimestredesteanode0,7% para 0,3%, resultado da herança pior que a esperada deixada pelo quarto trimestre do ano passado, cujos números oficiais serão co- nhecidos no início de março. A herança estatística mais fraca do fim de 2018 e a atividade ainda fraca neste início de ano tornam mais desafiador crescer acima de 2,5% neste ano, economistas dis- seramaoValoremjaneiro. Nocasodos relatóriosdivulga- dos ontem, ambos, Fibra e Anbi- ma, avaliam que o avanço na agenda de reformas, Previdência em especial, a melhora da con- fiança e das condições financei- ras devem contribuir para acele- rar a economia ao longodoano. “Mesmo reconhecendo o iní- cio mais gradual, o avanço na agenda de reformas e a posição cíclica da economia, incluindo importante melhora nas condi- ções financeiras, devem provo- car aceleração do crescimento ao longo de 2019”, afirma Fer- nando Honorato. Para o Índice Nacional de Pre- ços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2019, o comitê da An- bima reduziu ligeiramente sua estimativa, de 4% para 3,9%, um movimento já registrado tam- bémpelo boletim Focus, do Ban- coCentral, emqueamedianadas estimativas está em3,94%.OBan- co Fibra projeta uma inflação mais abaixo, em 3,45%. Ambos estimamaSelic em6,5%até o fim deste ano. Na reunião de dezembro, os economistas da Anbima tinham apontado expectativas de au- mentoapartir deoutubro, coma taxa chegandoa7,5%noencerra- mentodoano. “Amudançadaes- timativa foi provocada pela per- cepçãodocomitêdequeocresci- mento da economia pode ser mais moderado do que o previs- to anteriormente”, diz o relatório da instituição. O comitê também revisou a projeção do dólar: de R$ 3,80, na reunião anterior, para R$ 3,70. O resultado corresponderia a uma valorização de 4,5% do real no ano.O Fibra esperaque a cotação caia a R$ 3,50 até o fim do ano, dos atuais R$ 3,67. (Colaborou AnaConceição, de SãoPaulo) Ver tambémaentrevista comFabio KanckzucknapáginaA14 Reajustedeônibus eleva custodevidadabaixa renda AlessandraSaraiva DoRio Passagensdeônibusmaiscaras impulsionaram inflação percebi- da entre osmais pobres aomaior nível em seis meses. É o quemos- trou o Índice de Preços ao Consu- midor – Classe 1 (IPC-C1), que abrange famílias com renda mensal até2,5 saláriosmínimos. O indicador da Fundação Ge- tulio Vargas (FGV) subiu de 0,32% para 0,61% entre dezem- brodoanopassadoe janeirodes- te ano. Foi a mais elevada taxa desde junho de 2018 (1,52%), além de ser a mais forte inflação para mês de janeiro, registrada pelo indicador, desde2016. Para André Braz, economista da FGV, o indicador de janeiro captou o auge do reajuste das passagens de ônibus. A tendên- cia, no curto prazo, é de estabili- dadeno índice, quenãodeve vol- tar a subir de forma tão expressi- va em fevereiro. Segundo Braz, a variação de preço de tarifa de ônibus urbano saiudedeflaçãode0,32%para in- flaçãode3,87%entredezembroe janeiro. O aumento respondeu por 0,29 ponto percentual do IPC-C1 do mês passado. “É um item de grande peso entre as fa- mílias de menor poder aquisiti- vo”, afirmouoespecialista.Coma tarifa de ônibus mais cara, a va- riação de preços no grupo Trans- portes passou de -0,52% para 1,84%, nomesmoperíodo. Além de ônibus, o IPC-C1 con- tou com impacto de alimentos e mensalidades escolares mais ca- ros. Esses movimentos são co- munsno começodoano: no caso dos alimentos, por problemas climáticos que reduzem a oferta, e, no das mensalidades, porque esta é a época de reajustes em es- colas. Com isso, a inflação do grupo Alimentação permaneceu em patamar elevado (de 0,83% para0,84%) eospreçosdeEduca- ção, Leitura e Recreação tiveram aceleração—de0,66%para2%. No entanto, a concentração de aumentos em diferentes setores observada em janeiro não deve se repetir em fevereiro. Braz afir- mou que a maioria dos reajustes em mensalidades escolares e em ônibus urbano já foi efetuada no primeiromêsdoano. “Teremos ainda uma contribui- ção de ônibus urbano em feverei- ro, um ‘rescaldo’ mas não será co- moemjaneiro”,disse. “Atendência édeoIPC-C1seestabilizar,maisdo quecontinuaraacelerar.” Outras classes de despesa que apresentaram aumento de pre- ços, ou fim de deflação, entre de- zembro e janeiro foram Habita- ção (0,10% para 0,19%), Despe- sas Diversas (0,09%) e Comuni- cação (-0,02% para 0,01%). Com o resultado de janeiro, o IPC-C1 acumula alta de 4,29%. Curtas Inadimplência Opercentualde famílias com dívidas (comatrasoounão)no país subiude59,8%emdezembro de2018para60,1%emjaneiro desteano.Aparcelade inadim- plentes,ouseja, aquelescomdívi- dasoucontasematraso, também cresceunoperíodo:de22,8%para 22,9%.OsdadossãodaPesquisa deEndividamentoe Inadimplên- ciadoConsumidor (Peic),divul- gadapelaConfederaçãoNacional doComérciodeBens, Serviçose Turismo(CNC).Deacordocoma CNC,noentanto, apiorados indi- cadoresnacomparaçãomensal nãocomprometeaexpectativade evoluçãodaeconomia. Serviços emalta Oíndicegerentedecompras (PMI,na siglaeminglês)dosetor deserviçosbrasileiro teve ligeira altaemjaneiro, subindode51,9 pontosemdezembropara52em janeiro, sinalizandocrescimento daatividade.Éoqueaponta rela- tóriodaconsultoria IHSMarkit.O cálculo temajuste sazonal.Apesar deo indicador “ter crescidoape- nasmarginalmente”, ovolumede produçãodos serviços tevea maiorexpansãoemquaseumano. “Aestabilidadeeconômica, as re- servasdomésticasmelhoreseoce- náriopolítico favorável foramal- gunsdos fatores citadosparaoau- mentodaatividade”,dizaMarkit. Jornal Valor --- Página 6 da edição "06/02/2019 2a CAD A" ---- Impressa por VDSilva às 05/02/2019@22:31:34 A6 | Valor | Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 Brasil ConjunturaPara secretáriodeGuedes,processo fiscalprecisa ser ‘urgentemente revisitado’ Cintradizquepropostaparafecharo Carfserá ‘cuidadosamente’avaliada FábioPupo eBeatrizOlivon DeBrasília A equipe do ministro da Eco- nomia, Paulo Guedes, vai anali- sar a proposta criada por audito- res da Receita Federal de extin- guir o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) — res- ponsável por julgar mais de R$500bilhõesemprocessoscon- tra devedores da União. Dentro da pasta, há a visão de que o pro- cesso fiscal do país precisa de ser reavaliado “urgentemente”. O secretário especial da Receita Federal,Marcos Cintra, afirmouao Valor que a proposta ainda não chegou a suas mãos, mas que ela será analisada. “O Carf precisa de muita atenção para melhor cum- prir suamissão.Certamente,apro- posta, chegando às minhas mãos, será cuidadosamente avaliada”, disse.Osecretáriodizquetemcon- versadocomGuedessobreaneces- sidade de se reavaliar o rito de co- brançade tributos nopaís. “Opro- cesso administrativo fiscal brasi- leiro precisa ser urgentemente re- visitado”, afirmou. Conforme antecipou o Valor, Guedes recebeu do Sindicato Na- cional dosAuditores-Fiscais daRe- ceita Federal (Sindifisco) propos- tas para aumentar a arrecadação tributárianopaís—entreelas, ace- lerar o rito processual da contesta- ção de dívidas pormeio de medi- das como o fechamento do Carf. “Fim do Carf, com estabelecimen- to de transição em no máximo dois anos”, diz o texto entregue. A proposta é que haja apenas duas instâncias,dentrodaReceita. Atualmente,odevedorpodeen- trarcomrecursossobreacobrança de tributos em duas instâncias. A primeira nas Delegacias de Julga- mento — constituídas por turmas decincojulgadores(auditores).Ea outra no Carf. Além do rito admi- nistrativo, a discussão sobre os dé- bitos pode passar potencialmente por mais quatro instâncias judi- ciais. Para o sindicato, há hoje um excesso de instâncias e recursos paraosdevedores. Após ser revelada ontem pelo Valor, a proposta de fechar o Carf gerou reações. AOrdemdosAdvo- gados do Brasil (OAB) divulgou nota em que diz que a sugestão “parece estar desconectada dos própriosvaloresdaReceita”. O tributarista Tiago Conde, presidente daComissãodeDirei- to Tributário da OAB e advogado no escritório Sacha Calmon, Mi- sabel Derzi, diz que o Carf repre- senta “uma garantia de ampla defesa e contraditório, que são previstos na Constituição”. Para ele, os casos vãoacabar indopara o Judiciário. “Vai aumentar a liti- giosidade emuito”, afirma. O ex-conselheiro do Carf Breno Ferreira Martins Vasconcelos, pro- fessor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e advogado no escritório Mannrich e Vasconcelos, diz que acabar comoCarf agora é uma su- posta solução. “Para todo proble- ma complexo, existe uma solução simples e errada”, afirmou. De acordo como relatório do Carf so- bre decisões em 2016, o contri- buinte venceu em 52,4% das deci- sõeseaFazendaem47,6%.Por isso, segundo Vasconcelos, extinguir o Carf é fazer esses 52%deautuações fiscais desaguarem no Poder Judi- ciário, que não costuma ser espe- cializadoemdireito tributário. “Essa ideia [de extinguir o Carf] é um fantasma que vira e mexe aparece. O Direito é colocado em xeque sob o prisma de uma certa eficiência”, afirmaoadvogadoBre- nodePaula, advogado tributarista e membro do Arquilau de Paula AdvogadosAssociados. Propostas de extinguir o Carf surgiram, por exemplo, na época em que foi deflagrada a Operação Zelotes.OcConselhochegouaficar fechado durante algunsmeses em 2015. Na sua reinauguração, a ex- pectativa da Fazenda era que um aumentona eficiência doórgão ti- vesseefeito sobreaarrecadação. A reforma do conselho tornou os julgamentos mais rápidos. Foi imposto um limite ao número de pedidosde vista—apenasdois—e o prazo de ummês para seremde- volvidos.Alémdisso,casosdevalor elevado têm julgamento prioritá- rio e questões repetidas envolven- do amesma empresa são julgadas em conjunto. Os conselheiros re- presentantes dos contribuintes passaramaser impedidosdeadvo- gar,pordecisãodaOAB. Desde aquela época, o estoque de processos em julgamento no Carf édecercadeR$500bilhões.O órgão encerrou 2018 comestoque R$ 584 bilhões em processos. De acordo com relatório de gestão do Ministério da Fazenda sobre 2017, de janeiro a dezembro daquele ano o Carf proferiu 13.937 deci- sões em julgamento de recursos, movimentando aproximadamen- teR$323bilhões. “Se a proposta viesse da PGFN, Confederações ou Carf, aceitaría- mos amadurecer o assunto. Mas vem do Sindifisco, que está total- mente fora da realidade do Carf”, afirma Demetrius Nichele Macei, conselheiro representante dos contribuintes. Procurado, o Carf nãoquis semanifestar. Fonte: Carf e Relatório de Gestão do Ministério da Fazenda de 2017 À espera Evolução do estoque de processos no Carf - em R$ bilhões Valor dos processos julgados no Carf 0 100 200 300 400 68,9 244,8 323,4 Processos 500 550 600 650 700 Out 17 Nov Dez Jan 18 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set 120 118 118 119 119 119 119 119 120 120 122 123 2015 2016 2017 647 606 630 628 623 614 616 580 577 573 573 584 Osecretário especial daReceita,MarcosCintra: “ Carf precisa demuita atençãoparamelhor cumprir suamissão” LEOPINHEIRO/VALOR Paraprivatizar estataisdoRS, Leitepede fim deplebiscito Folhapress, de PortoAlegre O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), pe- diu aos deputados estaduais que aprovem a retirada da obrigato- riedade de plebiscito para a pri- vatizaçãode estatais. A votação popular para a ven- da das empresas é determinada pela Constituição gaúcha. Leite apresentaráoprojetodeemenda à lei ainda nesta semana. O go- vernoquerprivatizar trêsestatais (energia, mineração e gás) como contrapartida à adesão ao Regi- me de Recuperação Fiscal (RRF) do governo federal. A privatiza- çãodoBanrisul, quegera lucros e é considerado estratégico, não é cogitadapor Leite. Ogovernador abriu aprimeira sessão do ano do Legislativo on- tem. Após abordar a crise das fi- nanças, disse que “a Assembleia precisa exercer sua responsabili- dade sobre temas complexos” e que os deputados “serão chama- dos a tomar as decisões”. “O go- vernador é um proponente, mas énestaCasaque sedecide”, disse. São necessários 28 votos de um total de 55 para aprovar a modificaçãona lei.Ogovernador anterior, José Ivo Sartori (MDB), também tentou retirar a obriga- toriedade do plebiscito para pri- vatização, mas os deputados não aprovaram. Depois, Sartori ten- tou realizar oplebiscito, simulta- neamente às eleições de 2018, e também não conseguiu aprovar — a oposição considerou “eleito- reira” a iniciativa. Rebatendo a críticas de que a retirada do plebiscito é “pouco democrática”, Leite afirmou em seu pronunciamento que em uma democracia representativa os deputados precisam decidir “temas complexos”. Leite foi vaiado por servidores presentes, contráriosàsprivatiza- ções e mudanças na previdência. Ele tambémdestacou amudança demográfica do Rio Grande do Sul, Estado com menor cresci- mento populacional do país e que, nas próximas décadas, deve terdecréscimodesuapopulação. Zemaprevê economiadeR$ 1bi comcortede servidores MarcosdeMoura eSouza DeBeloHorizonte OgovernadordeMinasGerais, Romeu Zema (Novo), anunciou ontemque oprimeiro projeto de lei que encaminhará à Assem- bleia Legislativa prevê uma redu- ção da estrutura do Executivo que permitirá a economia de R$ 1 bilhão até o fim de seu atual mandato, em2022. O texto tratadadiminuiçãono número das secretarias. Eram 21 na gestão do governador ante- rior, Fernando Pimentel (PT). Ze- ma instituiu no mês passado, quando assumiu, apenas 12 pas- tas.Masprecisadoavaldosdepu- tados, cujos trabalhos começa- ramnesta semana. Com essa e outras reduções, haverá um corte de aproximada- mente 1.700 funcionários em cargos de comissão e outros não concursados. A economia de R$ 1 bilhão prevista em quatro anos, no en- tanto, é apenas uma fração do rombo nas contas do Estado. O Orçamento para este ano prevê um déficit de R$ 11,5 bilhões, mas Zema já disse que está su- bestimado esse número, envia- do por Pimentel e aprovado pela Assembleia Legislativa. De acor- do com ele, o rombo deverá atingir os R$ 15 bilhões. Em um segundo momento, o governador também pretende propor a extinção de empresas, autarquias e fundações perten- centes aoEstado. Eleito em outubro, Zema pro- meteu que uma de suas missões seria reduzir os gastos e melho- rar a gestão do Estado. O gover- nador, que fez carreira como empresário, nunca havia desem- penhado nenhum cargo na ad- ministração pública. Para aprovar sua primeira re- forma, o governador terá de contar com deputados estaduais de diversos partidos, uma vez que a sua sigla elegeu três dos 77 parlamentares da Assembleia Legislativamineira. “Estou bastante confiante em relação à posição da Assem- bleia Legislativa”, afirmou Zema durante entrevista sobre o pro- jeto de lei. “Os 77 deputados que repre- sentam o Estado, e que conhe- cem todas as cidades, sabemper- feitamente da situação em que Minas se encontra. Vejo que nãotem como fazer diferente, nosso Estado se tornou inviável”, com- pletougovernador. Minas Gerais atravessa há al- guns anos uma séria crise fiscal, o que fez Pimentel parcelar o pa- gamento de salários do funcio- nalismo, represar repasses devi- dos aos municípios e não pagar o 13o salário do ano passado. Maiadefendeextinção de tabelaparao frete CristianoZaia eRaphael Di Cunto DeBrasília Noprimeiro almoçodoanoda Frente Parlamentar da Agrope- cuária (FPA),ontem,opresidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM- RJ), se posicionou contra o tabe- lamento do frete rodoviário de cargas e sinalizou apoio à banca- da ruralista na busca de uma so- luçãoparao embróglio. Empresários e entidades do agronegócio já encorpam um movimento para derrubada no Congresso Nacional da lei que criou um piso para o frete míni- mo, editada pelo governo do ex- presidente Michel Temer para cessar a paralisação dos cami- nhoneiros que afetou o país em maiodoanopassado—comseus efeitos econômicos ainda reper- cutindo nosmeses seguintes, co- mo a queda da confiança de in- dustriais e consumidores. Durante o tradicional almoço dos ruralistas, Maia também disse ser contrário a “artificialidades” na economia, em referência às ta- belas de frete, relatam deputados que participaram do encontro. Por outro lado, ponderou que qualquer recuo na lei, seja para revogá-la, seja para modificá-la, precisa ser feito com cuidado. Em outra frente, lideranças de caminhoneiros autônomos já deram um recado ao governo passado e aode Jair Bolsonaro de que não vão permitir o cancela- mento da lei e deixaram vivas as ameaçasdenovas greves Acabar simplesmente com a tabela, no entanto, não é tarefa simples. Até mesmo dentro do governo Bolsonaro não há con- senso a respeito. Os ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Osmar Terra (Cidadania) já de- fenderam que o tabelamento do frete seja mantido até que se en- contre uma alternativa; enquan- to a ministra Tereza Cristina (Agricultura) afirma ser contrá- ria às tabelas. SP licita linhasdeônibus semrenovarempresas Folhapress, de SãoPaulo A gestão Bruno Covas (PSDB) finalmente conseguiu abrir os envelopesda licitaçãodosistema de ônibus municipal, dando iní- cio a um processo que vinha se arrastando desde 2013. O pro- cesso, no entanto, não vai gerar renovação, uma vez que as em- presas são controladas pelos mesmos grupos que já prestam serviçosna capital paulista. Maior licitação do país na área de transporte,nacasadosR$71bi- lhões para os próximos 20 anos, o certame acabou travado várias ve- zes por decisões judiciais e do Tri- bunaldeContasdoMunicípio.Ho- je, esse sistema funciona com con- tratos emergenciais,mais custosos e menos exigentes em relação às empresasdeônibus. O processo, iniciado ontem, pode durar meses até ser finali- zado, na análise de documentos ehabilitaçãodas empresas. De 33 lotes, apenas um haverá concorrência de fato, entre as empresas Transunião e Imperial, que disputam a atuação na re- gião de São Miguel Paulista (zo- na leste da capital). Nos demais, há apenas uma empresa por lote e envolvem viações pertencentes aosmesmosgruposque jáatuam na cidade, embora nem sempre permaneçamnamesma região. Entre as questões apontadas para diminuir o númerode com- petidores, estão o fato de as atuais empresas já possuíremga- ragens (cujos terrenos são caros) e o prazopara início, de 120dias, considerado reduzido para se adquirir novosônibus. O secretáriomunicipal deMo- bilidade eTransportes, EdsonCa- ram, defendeu a competitivida- de da licitação. “Você tinha antes 22 lotes. Hoje você está traba- lhando com 33. Você tem nomí- nimo dez empresas a mais no mercado.” Ele disse ainda que a concorrência possibilitará me- lhoriadaqualidadedo serviço. Aneelvai fiscalizar 142 barragenshidrelétricas Agência Brasil, de Brasília A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que co- meçará nodia 12uma força-tarefa para fiscalizar in loco até maio as barragens de 142 usinas hidrelé- tricas, em18 Estados, alémdoDis- trito Federal. A intenção de fiscali- zar as barragens das usinas hidre- létricas foi anunciada no dia 30 de janeiro como resposta ao rompi- mento da barragem da mina Cór- regodo Feijão, daVale, emBruma- dinho(MG)nodia25. A fiscalização será realizada com equipe da própria Aneel ou por meio de parcerias com agên- cias reguladoras estaduais conve- niadas. Emreuniãona tardedeon- tem, ficou definido que as equipes da Aneel, com o apoio de agentes credenciados, fiscalizarão as bar- ragens de 71 usinas consideradas comodemaior dano potencial. As outras 71 usinas serão fiscalizadas pelas agências estaduais convenia- dasdecadaregião. De acordo com a Aneel, para efeitos de fiscalização, as barra- gens são caracterizadas em dois critérios: dano potencial alto e risco. No dano potencial alto en- contram-se: barragens comgran- des reservatórios; existência de pessoas ocupando permanente- mente a área a jusante da barra- gem; área a ser afetada apresenta interesse ambiental relevante ou é protegida e existência de insta- lações residenciais, comerciais, agrícolas, industriais de infraes- trutura e serviços de lazer e turis- monaáreaque seria afetada. No critério de risco são avalia- dos: a documentação do projeto, qualificação técnica da equipe de segurança de barragens, roteiros de inspeção de segurança e moni- toramento; regra operacional dos dispositivos de descarga da barra- gemerelatóriosde inspeçãode se- gurança com análise e interpreta- ção. AAneel é responsável pela fis- calização de 437hidrelétricas, que totalizam616barragens. Jornal Valor --- Página 7 da edição "06/02/2019 1a CAD A" ---- Impressa por VDSilva às 05/02/2019@21:05:59 Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 | Valor | A7 Política Congresso Segundo texto, déficit será cobertopelopróprio servidor Minutaprevêajustemais pesadoparaofuncionalismo RibamarOliveira DeBrasília A minuta de uma proposta de reforma da Previdência Social elaboradapelogoverno, equeva- zou anteontem para a imprensa, émais leve para os trabalhadores da iniciativa privada e mais dura para os servidores públicos do que a proposta original apresen- tada pelo ex-presidente Michel Temer, emdezembrode2016. Temer propôs idade mínima para requer aposentadoria de 65anosparahomensemulheres, com a regra valendo para todos, incluindo trabalhadores rurais e professores. A minuta manteve os65anosparahomensemulhe- res, mas propõe a idade mínima de60anosparaprofessores e tra- balhadores rurais. Alémdisso, a proposta de Temer previa um mínimo de 25 anos de contribuição para se ter direito ao benefício de aposentadoria, en- quantoaminutaestabelece20anos paraoRegimeGeraldePrevidência Social(RGPS)e25anossomentepa- raos servidores. Paraobter100%do valor do benefício da aposentado- ria,otrabalhadordoRGPSteriaque contribuir durante 49 anos, segun- do a proposta de 2016, e por 40 anos,deacordocomaminuta. A regra que torna a minuta muito dura em relação aos servi- dores civis, ativos, inativos e pen- sionistas, incluindo os militares, é o dispositivo que determina a criaçãode contribuições extraor- dinárias, além da contribuição previdenciária normal, destina- das a equacionar o déficit atua- rial doRPPS edosmilitares. Se a minuta fosse aprovada pelo Congresso, os servidores civis emili- tares teriam que arcar com os défi- cits de seus regimes. A cobertura do déficit não seria mais feita pelo Te- souro, como ocorre hoje. Em outras palavras,ocustodoajustenãopode- riaserrepassadoatodasociedade. A minuta não esclarece qual o montante do déficit atuarial que teriadesercobertocomascontri- buições extraordinárias. Para se ter uma ideia, apenas o déficit atuarial do RPPS dos servidores civis da União superava R$ 1 tri- lhão,enquantoqueodosRPPSes- taduais superava R$ 2 trilhões, de acordocom estudo de 2016, ela- borado pelo economistaMarcelo Caetano, do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea). ApropostadeTemerdesvincu- lava os benefícios de prestação continuada (BPC) do salário mí- nimo, o que foimantido pelami- nuta. Assim, em ambas as pro- postas, os benefícios destinados aos idosos e aos deficientes físi- cospoderiamser inferioresaopi- so salarial. Os valores seriam de- finidos em lei posterior. A minu- ta estabelece, no entanto, que até que a lei seja aprovada, o benefí- cio seria de R$ 1 mil para o defi- ciente físico, R$ 500 para o idoso com 55 anos oumais e de R$ 750 para idoso com65anosoumais. No caso do idoso, a proposta original de Temer previa que a idade para acesso ao benefício passaria de 65 anos para 70 anos. A mudança seria feita de forma gradual, com o aumento de um ano de idade após o transcurso dedois anos.Aminutamantéma idade de 65 anos para o paga- mentodobenefício ao idoso. A proposta de Temer e aminu- ta preveem mudança na pensão por morte, com o valor do bene- fícionão sendomais omesmoda aposentadoria. O benefício seria de 50% da aposentadoria, acres- cidode10%paracadadependen- te, até o limitede100%. Uma diferença significativa entre as duas é que a proposta de Temerproibiaoacúmulodeapo- sentadoria compensão, enquan- toqueaminutavazadapermiteo acúmulo dentro de certos limi- tes. A minuta prevê que o abono salarial será pago apenas para os trabalhadores que ganham até um salário mínimo, o que não constadapropostade2016. A proposta original de Temer foi sendo desidratada durante as discussões na Câmara dos Depu- tados. Muitas regras foram ame- nizadas, com a idade mínima passando para 65 anos para ho- mens e 62 anos para mulheres. Para viabilizar a aprovação da re- forma, o governo do ex-presi- dente aceitou retirar daproposta mudanças nas regras dos traba- lhadores rurais edoBPC. Fonte: PEC 287/2016 (Temer, original) Comparação das propostas Minuta é mais leve para trabalhadores da iniciativa privada Temer (Original) Minuta divulgada Idade mínima Tempo de contribuição 100% do benefício Professores Trabalhador rural Aposentadoria por idade Pensão por morte 65 anos homens e mulheres 25 anos 49 anos de contribuição Idade mínima de 65 anos Idade mínima de 65 anos 70 anos 50% da aposentadoria mais 10% por dependente 65 anos homens e mulheres 20 anos RGPS e 25 anos RPPS 40 anos de contribuição Idade mínima de 60 anos Idade mínima de 60 anos 65 anos 50% da aposentadoria mais 10% por dependente Regra de transição Acúmulo de benefícios BPC Valor BPC Militares Déficit do RPPS Regime de capitalização Abono salarial Pedágio de 50% do tempo que falta paraatingir o número de meses de contribuição Proibido acumular pensão com aposentadoria Desvincula valor do salário mínimo Lei definirá valores Excluídos da proposta Não trata Não trata Não trata Excluídos da proposta Desvincula valor do salário mínimo Lei definirá valores. Até lá, R$ 1 mil para deficiente, R$ 500 para idoso com 55 anos ou mais, R$ 750 para idoso com 65 anos ou mais Prevê contribuições extraordinárias de servidores ativos, inativos e pensionistas, incluindo militares, para pagar o déficit atuarial Prevê que lei complementar definirá novo regime de capitalização Só terá direito quem ganha até um salário mínimo Pode acumular pensão com aposentadoria, mas com limites Só pode requer aposentadoria quando a soma da idade e tempo de contribuição for 86 (mulheres) e 96 (homens). A cada ano, a soma acresce um ponto até atingir 105 para os dois Porta-vozdizqueBolsonaroeministros estãoem ‘sinergia’ SilviaAmorim*, CarlaAraújo e AndreaJubé DeSãoPaulo eBrasília Um dia depois de vir a público uma minuta da reforma da Previ- dência Social que expôs divergên- cias entre o presidente Jair Bolso- naro e o ministro da Economia, PauloGuedes,oporta-vozdaPresi- dência,generalOtávioRêgoBarros afirmouqueopresidenteestáana- lisando o texto final da proposta em absoluta “sinergia” com seus ministros. Rêgo Barros acrescen- tou que Bolsonaro está se empe- nhando em apresentar o projeto “nomenorprazopossível”. Ontem o vice-presidente Hamilton Mou- rãodissequeapalavra finaldeBol- sonaro sobre o texto definitivo da reforma pode sair na segunda se- manade fevereiro. “O presidente está avaliando os pontos da Previdência que serão elencados para análise do Con- gresso em sinergia com os minis- tros envolvidos no tema”, disse o porta-voz, após visitar Bolsonaro noHospitalAlbertEinstein. “O processo decisório de um tema tão relevante exige muita análise e ponderação, ele [o pre- sidente] compreende a impor- tância do 'timing' dessa apresen- tação e está trabalhando para que isso possa ser feito no prazo menorpossível”, assegurou. Ontem Hamilton Mourão rei- terouqueBolsonaronãoéfavorá- vel a igualar a idade mínima na reforma da Previdência para ho- mens e mulheres. Ele destacou quea ideiadopresidenteédistin- ta daquela defendida por Paulo Guedes, e salientouquevaipreva- lecer a vozdo“presidenteeleito”. “Na visão dele [Guedes], é todo mundo igual. Não é isso que se buscahoje, a igualdade?”, questio- nou, emtomde ironia. Edepois re- forçou: “O presidente não concor- da”. Mourão, que coordenou on- tem pela segunda vez a reunião ministerial no Palácio do Planalto, reiterou que a minuta da reforma da previdência que foi divulgada pela imprensaaindanãoéa final. Questionado se vislumbrava algum tipo de conflito por conta da diferença de pensamento en- tre o ministro, que foi chamado por Bolsonaro de “posto Ipiran- ga”, e o presidente, Mourão ne- gou. “Odecisor [sic] é ele: opresi- dente, ele que foi eleito, nós aqui somosatores coadjuvantes”. O vice-presidente disse ainda queo texto finalda reformasó se- rá fechado com o retorno de Bol- sonaro, que pode se dar na sema- na que vem. “Acredito que ele vai dar a decisão na segunda semana de fevereiro e ai deve ser enviada aoCongresso”, completou. A minuta que veio a público na segunda-feira, comuma versão da reformadaPrevidência, fixa em65 anos a idademínimade aposenta- doria para homens e mulheres. A proposta também acaba com a vinculação dos benefícios assis- tenciais ao valor do salário míni- mo, endurece as regras para rece- bimento do abono salarial e reduz o valor das pensões por morte. Desde quando a reforma do ex- presidenteMichel Temer foi envia- da, Bolsonaro defendia no plená- riodaCâmaraquea idademínima de aposentadoria das mulheres deveria ser inferioràdoshomens. A saúde de Bolsonaro evolui fa- voravelmente. Ontem, o presdien- tecomeçoua ingerir líquidos.Mas, por recomendação médica, foi orientadoamanter-se emrepouso e sem a visita deministros no hos- pital.Ontemestavaprevistaavisita do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ge- neralAugustoHeleno, queadioua viagem diante da recomendação dosmédicos. (*OGlobo) Governomandará nova PECpara Previdência Raphael Di Cunto, FabioGraner, EdnaSimãoeMarceloRibeiro DeBrasília Ogoverno decidiu que enviará uma nova proposta de emenda constitucional (PEC) para a refor- ma da Previdência e não usará mais o projeto do ex-presidente Michel Temer, segundo fontes. A mudança deve atrasar a tramita- çãodo texto—cuja versão final se- rádefinidaapósoretornodopre- sidente Jair Bolsonaro— em al- gunsmeses emrelaçãoà expecta- tiva inicialdaequipeeconômica. O presidente da Câmara, Ro- drigo Maia (DEM-RJ), avisou que não aceitará apensar a nova PEC à proposta de Temer, aprovada na comissão especial e que ficou paralisada no plenário. Essa ma- nobra, que contraria o regimen- to da Câmara, poderia judiciali- zar a discussão. Para usar a PEC de Temer, seria preciso fazer ade- quações ao texto com as emen- das já protocoladas e não pode- ria sercriado texto novo— o que o atual governo pretende fazer, commudançasnoabonoeacria- çãodo regimede capitalização. Com a decisão de encaminhar umanovaPEC, a reforma teráque passar pela Comissão de Consti- tuição e Justiça (CCJ) e por uma comissão especial. A proposta de Temer, um governo reconhecida- mente hábil comoCongresso, le- vou quatro meses para superar essas fases ,e mais ummês de ne- gociações antes da primeira ten- tativadevotarnoplenário. Alémdabuscaporumatramita- ção rápida, há preocupação na área econômica de que seja apro- vadoum texto visto como relevan- te tantopelomercado financeiro e pelo empresariado, demodo a ga- rantir um ciclo de investimento. Um interlocutor do ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o piso para negociações é o texto aprovado por Temer na co- missão especial. A visão é que, se for menos que isso, a reação do mercadoseráruimecompromete- ráa recuperaçãodaeconomia. Para a equipe econômica, a tra- mitação em duas comissões fará o processo durar mais de três meses naCâmara, apesar dasdeclarações de Maia de que, se houver votos, poderia se aprovar em doismeses. Segundo uma fonte, a Casa Civil organiza a estratégia para conse- guirapoioparaareforma,comum esforço de convencimento dos go- vernos estaduais e municipais e apoio dos líderes partidários, com uma liberação mais eficiente das emendasparlamentares. Nos bastidores, há um reconhe- cimento que, se RodrigoMaia não atuar para no mínimo apressar o ritode tramitaçãodanovaPEC ,há riscodeaaprovaçãodareformana Câmarasealongareotextofinal fi- car para o segundo semestre. De- pois, o texto ainda terá de ir ao Se- nado, onde deve ser examinada emmenos tempo. Segundo relato de pessoas próximas, o relator da PEC do governo Temer, deputado Ar- thur Maia (DEM-BA), não conse- guiu esconder ontem o desa- pontamento, durante reunião com o secretário especial de Pre- vidência e Trabalho, Rogério Ma- rinho, ao saber que eram peque- nas as chances de sua proposta ser aproveitada. Arthur Maia te- ria afirmado ser um “erro” o go- verno não aproveitar parte de sua proposta para ganhar tem- po na tramitação do projeto e que optar por esse caminho se- ria “condenar” a sociedade a es- perar pela reforma por pelo me- nosmais um ano. Ovazamentodeumaminutade reforma ampla na segunda-feira não só precipitou a decisão de en- viar uma nova PEC, mas também mostrou que há muita gordura a ser queimada nas negociações com os parlamentares. O proble- maparaoministroPauloGuedesé queparte desse lastro já deverá ser jogado fora internamente no go- verno, como a idademínima igual de 65 anos para homens e mulhe- res, que constava da minuta e que já foi atacadapelo vice-presidente, Hamilton Mourão, que disse tam- bémqueopresidente JairBolsona- ronãoaceitaa ideia. Segundo uma fonte, o texto mais duro seria para “queimar” uma gordura com o próprio Bol- sonaro, que já defendeu idade mínimamenorqueos65anos. Outro ponto que pode ser altera- doantesdeo texto ir aoCongressoé a ideiadedarbenefíciosdesvincula- dos do saláriomínimopara pessoas demenor renda ou comdeficiência física. É alvo de controvérsia dentro do próprio governo. Há dúvidas na área jurídica do governo sobre se is- so não seria judicializado, dadapre- visão de recebimento de valores in- feriores aomínimo. E, se for adiante no governo, o tema ainda terá que ser encarado pelos parlamentares e é tratadocomoumdos“bodes”a se- rem retirados da sala durante a tra- mitaçãodotexto. A área econômica atribui o va- zamento de uma das versões da reforma a reações corporativas ao texto. Há fontes que apontam in- clusive para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), on- de estariam alguns insatisfeitos com regras que seria propostas — o texto que circulou, por exemplo, obriga que os servidores públicos que entraram antes de 2003 e qui- serem aposentadoria igual ao sa- lário da ativa teriam que cumprir a idademínima de aposentadoria, sem regra de transição. Maia fala emaprovar reforma emmaio FábioPupoeMarceloRibeiro DeBrasília OpresidentedaCâmaradosDe- putados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que ele e governo terão como “desafio” garantir a aprova- ção da reforma da Previdência na casa em um prazo de dois meses. Ele estima que, a partir daí, a pro- posta seja encaminhada ao Sena- doevotadapeloscolegasaté julho. Apesar disso, Maia ressaltou que a principal preocupação não é o tempo, mas sim a obtenção de vo- tos necessários para aprovar a emenda constitucional, que pode- ria gerar uma economia calculada emR$1trilhãoaoscofrespúblicos, segundo o ministro da Economia, PauloGuedes. Em suas declarações após se reunir comGuedes, Maia colocou- se ao lado do governo ao afirmar que vai “ajudar oministro” na dis- cussão sobre aPrevidência e aode- fender a reforma como “funda- mental”. “Nosso problema é ga- rantir em dois meses que a refor- ma da Previdência tenha 320 ou 330deputadosafavor.Esseénosso desafio. Esperamos que, com apoio de prefeitos e governadores e dialogando com todos os parti- dos, consigamos construir umtex- to que atenda a todos os poderes da federação”,disseMaia. Para aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC), o governo precisa obter 308 votos em plenário. Antes disso, no en- tanto, o texto precisa passar pela Comissão de Constituição e Justi- ça (CCJ) — onde pode ficar de três semanasa45dias, nos cálculosde Maia. “São cinco sessões para apresentar emenda na CCJ e mais duas sessões de vista. Em três se- manas, se forbemorganizado,vo- cê tiradacomissão. Eemnomáxi- mo45dias você pode tirar”, disse. Além disso, o texto precisa passar porumacomissãoespecial. O início do ano legislativo po- de acabar acelerando o processo da reforma. A interpretação de Maia é que, como há mais parla- mentares estreantes, o número de sessões com quórum tende a aumentar. “Como temmuito de- putado novo chegando, vamos voltar a ter quórumna segunda e na sexta, o que eu não tínhamos nosúltimosdois anos”, disse. Maia chegou a mencionar co- mo possível uma aprovação na Câmara até maio, mas evitou se comprometercomumprazoafir- mando que a aprovação depen- derá dos votos. “Nosso problema não está no regimento, mas em não ter votos. O que tínhamos de problema no governo do presi- dente Michel Temer é que em de- terminado momento não tínha- mos maioria para a Previdência”, disse. “Não estou entendendo porque essa preocupação nossa com o tempo. O tempo é da [ob- tenção da] maioria. Nosso pro- blemanãoédeprazo”,disse. Guedes também fez comentá- rios sobreareforma.Segundoele, o governo busca uma economia deR$1trilhãoaoscofrespúblicos em dez anos. Segundo ele, no en- tanto,há“duasoutrês”versõesal- ternativas da proposta e essa eco- nomia pode ser alcançada em prazos maiores dependendo do texto final — em 15 ou 20 anos, dependendodasimulação. De qualquer forma, Guedes dis- sequeapalavra final serádopresi- dente Jair Bolsonaro — que deve vetar idades mínimas iguais para homens e mulheres “A posição de Bolsonaro équemulheres tenham idademenor. E a palavra final é do presidente. Saindo da cirurgia, ele olha [ediz] ‘isso aqui sim, isso aqui não’. Ele tem o cálculo político de- le. Estamoscalibrando”,disse. Maia,depoisdereuniãocomGuedes:metaétentaraprovarPECemmaio; impactoserádeR$1trilhão, segundoGuedes JORGEWILLIAM/AGÊNCIAOGLOBO Jornal Valor --- Página 8 da edição "06/02/2019 2a CAD A" ---- Impressa por VDSilva às 05/02/2019@22:22:03 A8 | Valor | Quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019 Política Reaçãoa idademínima igual faz Guedes sinalizar textomais suave FabioGraner, Raphael Di Cunto, EdnaSimãoeMarceloRibeiro DeBrasília A igualdade de idade para apo- sentadoria entrehomens emulhe- res, proposta em estudo no gover- no federal, enfrenta resistências até entre asdeputadasdoPSL, par- tido do presidente Jair Bolsonaro. “Achoquepodedarumareduzida,de 65 anos para os homens e 62 anosparaasmulheres.Nãovoudi- zer que é irrazoável porque não vi asrazões [para igualar],mas,como mulher, entendo que deve haver uma diferenciação”, disse a depu- tada Bia Kicis (PSL-DF). A ideia é um dos artigos de umaminuta da reforma da Previdência que foi di- vulgada anteontem. O governo já sinalizouestudaalternativas. A deputada Caroline De Toni (PSL-SC) afirmou que acredita que haverá uma pequena diferença, porque o próprio presidente Jair Bolsonaro já defendeu isso, mas que não se oporia a que fosse a mesma idade. “Essa é umadas ver- sões, temos que ver a versão final para comentar”, afirmou. A depu- tada Alê Silva (PSL-RJ) evitou opi- nar antes de saber qual a versão fi- naldotexto. “Eusouperitaatuarial e,antesdefalarseconcordooudis- cordo, tem que ver qual será o pe- ríodode transição”,pontuou. Masháoutrasparlamentaresdo PSL que apoiam abertamente a ideiadePauloGuedesde igualaras idades, como Carla Zambelli (PSL- SP). Para a deputada, se as mulhe- res buscam igualdade de direitos, nada mais justo que tenham a mesma idade para se aposenta- rem, até porque vivem mais. “Sei que é o contrário da opinião da maioria das mulheres, mas acho queamulherterprivilégioédiscri- minação”,disseaparlamentar. O deputado Eduardo Bolsona- ro (PSL-SP) que apoiará qualquer que seja a decisão doministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a idade mínima de homens e mu- lheres na reforma da Previdên- cia. “Não li o projeto ainda, Sou a favorde tudoqueoPauloGuedes for propor. Se ele propor e tiver no papel, eu vou apoiar”, disse o filho do presidente Jair Bolsona- ro aoValor Outro foco de discussão e polê- mica devem ser os regimes espe- ciais, como policiais e bombeiros. Opresidentedachamadabancada da bala, deputado capitão Augus- to (PR-SP), disse que procurou o governo após saber da proposta para os policiais e bombeirosmili- tares, carreiras que afetam direta- mente as contas estaduais, e ouviu que aquele era um esboço inicial. “Domodo proposto não aceitaría- mos de jeito nenhum. É fácil para as Forças Armadas falarem em au- mentar o tempo de serviço, vivem situaçãodiferente enão vãopara a rua”,disseoparlamentar. Interlocutores do ministro da Economia, Paulo Guedes já sina- lizaram a parlamentares que al- guma diferenciação deverá ser feita no texto que for enviado ao Congresso Nacional ainda neste mês.Os critériospara isso, contu- do, ainda estão sendodefinidos. Mesmo quem apoia a ideia ava- lia que não há ambiente na socie- dade para que tal proposta avance naCâmarae,por isso, já trabalham para emplacar ideias como a dife- renciação de idade vinculada a al- gunscritérios, comomaternidade. Na proposta elaborada pelos economistas Paulo Tafner e Ar- mínio Fraga, havia uma vincula- ção da diferença de idade míni- ma para homens e mulheres à existência de filhos. Seria uma forma de reduzir as resistências e reconhecer o principal argu- mento de quem defende a dife- renciação, que é a chamada “du- pla jornada” da mulher, primei- ro no trabalho e depois em casa para cuidar de filhos. Pelaminutaque circulou, se os governos regionais não aprova- rem emdois anos leis específicas regulamentando a Previdência dessas categorias, serão aplica- das as regras que forem defini- dos para as Forças Armadas. A bancada dos militares se reunirá hojepara avaliar oque fazer. AvidaemMarteeno CongressoNacional MaluDelgado V eiodo vice-presidenteda República, HamiltonMourão, o alerta sobre a necessidadede todos preservarmosoplaneta, sobo riscode sermosobrigados a viver emMarte. A aridezdiária dasdisputas e a inexistênciade lideranças capazes edispostas a trabalharpelapreservaçãodo ambientepolíticonoBrasil quase impõemavida emoutro planeta como,de fato, a única alternativapossível. As articulaçõesqueguiaram a sucessãonoCongresso Nacional atestamaextensãoda briga eleitoral ao terceiro turno e a incapacidadedos atores políticosde construir entendimentosque levemem contaprojetosparaopaís. Comodefiniuumparlamentar experiente, “desgraçadamente” apolíticanãoestáno comando. Nãohánenhumagrandeza na renúnciadeRenanCalheiros (quedesistiu apenaspornão suportar o vexamepúblicoda derrota), nemtampoucona persistênciado senadorDavi Alcolumbre empermanecer horas grudadoà cadeirada presidênciadoSenadonum momento emquenãohavia certeza alguma sobre seu destino.Adesgraçada “não política” leva a episódios patéticos e lamentáveis, como os conhecidosduelos entre AntonioCarlosMagalhães, do entãoPFL, e Jader Barbalho, do velhoPMDB,nomesmoSenado. Mas ainda causa certo espanto veruma senadorada República se apossardeuma pastadedocumentosquenão lhepertencemeconvidar o colega apegá-lanamarra, comose estivéssemos todos brincandodepique-pegano jardimde infância. Hojeosmemesajudama tentar interpretarasdesgraçasda política (ouda faltadela) com humor,masépoucoprovável quesechegueaalgumresultado positivo sepermitirmosqueas enquetesdeFacebookesgotem discussõesemplenário, como sugereonovatoemidiático senador JorgeKajuru. É ingenuidadepensarqueo ministrodaCasaCivil, Onyx Lorenzoni, seja oúnico e grande vitoriosoda sucessãodo Senado, pelo fatode ter apoiadoDaviAlcolumbre, um senadordeprimeiromandato doDEMecujospassos até então nãodemandavamatenção, excetopor sua cordialidade. “É ummeninão simpático”, definiuumcolega, horas antes da eleição, sem ter ainda certeza se lhedaria o voto. Alcolumbre só virou presidentedoSenadopor desdobramentosdopleito presidencial de2018.Não chegaria aoposto semacisão evidentenoMDBcapitaneada pela senadora SimoneTebet e a articulação intensade tucanos experientes, comoTasso Jereissati eAntonioAnastasia. CasooMDB tivesse algumbom senso emnãobancar a candidaturadeRenan Calheiros, talvez o senadordo DEMnunca tivesse chegado lá. Mais doquedespertar a fúria doantipetismo, Renanera “tudo issoque está aí”, ou seja, o queBolsonaroderrotouem outubrode2018. Alcolumbre contou, ainda, comaboa vontadedo governadorde SãoPaulo, João Doria, que semostroudisposto a entrar comtudonoxadrez políticodeBrasília.OPSDB, obviamente, pensounopróprio umbigoe jogouas fichasna candidaturadeTasso,mas bateua caranummuro intransponível, que é a perspectivadepoderdoDEM dentrodogovernoBolsonaro. Osenador simpático compreendeubemas circunstânciasque lhecolocaram napresidênciadaCasa.Os agradecimentosemseudiscurso devitória comprovamque Alcolumbre sabequemvai lhe apresentara fatura. Asdivisõesda esquerda, outra contaque começa a ser cobradadepois de2018, tambémcontribuírampara a eleiçãodeAlcolumbre e,mais especificamente, paraque RodrigoMaiapermanecessena presidênciadaCâmara. OPDTdeCiroGomes, na Câmara, agiu comodeliberado objetivode isolar oPT.No Senado, CidGomesdeixoude ladoas arengas cearenses e articulouhoras a fio ao ladode Tasso Jereissati para tirar a majestadedeRenanCalheiros. O rancor eleitoral levouo PCdoBa trilhar omesmo caminho. “Comunistas” e pedetistas integraram-se aum grandeblocopara retirar oPT daMesaDiretoradaCâmara e obter a liderançadaminoria.Os dois partidos ajudaramaeleger Maiaparaminimizar opoder doPT, que ainda temamaior bancadanaCasa. Paraboaparte doPCdoB, o PTnão reconheceu agrandezadogestode Manuelad’Ávila, quedesistiu da candidatura àPresidência para ser vicede Fernando Haddad. “ComoseoPCdoB fosse ter 40milhõesde votos sozinho”, ironizaumpetista. OPT caminhouao ladodo Psol edoRede, apoiando oficialmente a candidaturade Marcelo Freixo.Houve traições, comoerade se esperar.O candidatodoPsol teve 50 votos. Poderia ter tido64, caso as bancadasdoprópriopartido e doPT votassemempesonele. Quandoo fígadonãoguia a política, os resultados costumamsermais alvissareiros. Vemdeum integrantedo clãCalheiros a racionalidade: “Defendi que a composição institucional da Mesa edas comissõesdesse a cadapartidoo real tamanho