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Aborto: Tipos, Sujeitos e Penas

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Aborto 
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Art. 124 do CP Provocar aborto em si mesma 
ou consentir que outrem lho provoque: Pena -
detenção, de um a três anos. 
Autoaborto e Aborto Consentido 
Espécies: Duas modalidades de aborto 
criminoso praticados pela mulher grávida: 
autoaborto e aborto consentido.
Autoaborto e Aborto Consentido 
Sujeito Ativo: Mulher grávida. Impossível a 
coautoria, limitando-se o terceiro à condição de 
partícipe 
Ex: namorado que fornece dinheiro para custear o 
aborto. 
Crime de mão própria.
Sujeito Passivo: Produto da concepção.
Autoaborto e Aborto Consentido 
Tipo Objetivo
a) Autoaborto: “provocar aborto em si 
mesma”: a própria gestante efetua as 
manobras abortivas.
Ex: ingestão de medicamento; 
Autoaborto e Aborto Consentido 
b) Aborto consentido: “consentir que outrem lho
provoque”: a gestante concorda com o aborto, 
sendo as manobras abortivas realizadas por 
terceiro. Ex: médico, enfermeiro ou leigo. 
- Nesse caso, o terceiro responde pelo art. 126 do CP 
(“aborto provocado por terceiro com o 
consentimento da gestante”) enquanto a gestante 
pelo art. 124 do CP. 
Autoaborto e Aborto Consentido 
Tipo Subjetivo: Dolo
Consumação: Com a morte do produto da 
concepção (decorrente das manobras 
abortivas).
Tentativa: Admissível
Autoaborto e Aborto Consentido 
Art. 126 do CP Provocar aborto com o 
consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 1 
(um) a 4 (quatro) anos. Parágrafo único: Aplica-
se a pena do artigo anterior, se a gestante não é 
maior de 14 (quatorze) anos, ou é alienada ou 
débil mental, ou se o consentimento é obtido 
mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Aborto Provocado por Terceiro, com o 
Consentimento da Gestante
Exceção pluralista à teoria monista (art. 29, 
caput, do CP) em caso de concurso de pessoas. 
O mesmo resultado (morte do produto da 
concepção), a depender do sujeito, se gestante 
ou terceiro, configura pelo menos dois crimes 
distintos (arts 124 e 126). 
Introdução
O crime pressupõe que a autorização da 
mulher seja válida (consciente e voluntária) e 
que dure até a consumação do aborto.
Noção Geral
Consentimento inválido: 
I Gestante não maior de 14 (quatorze) anos;
II Gestante alienada ou débil mental; 
III Concordância obtida mediante fraude, 
grave ameaça ou violência (art. 126, § único, 
do CP).
Noção Geral
Qualquer pessoa. 
Crime comum.
Admite-se o concurso de agentes (coautoria e 
participação). Se configurada a associação 
criminosa (art. 288 do CP) (Ex: clínicas de aborto) 
e gerada a morte do produto da concepção, 
haverá concurso material de crimes.
Sujeito Ativo
Apenas o produto da concepção. A gestante 
não figura como vítima (já que consentiu com o 
aborto). 
Sujeito Passivo
Ocasionar, comissiva ou omissivamente, com 
o consentimento válido da gestante, a 
interrupção da gravidez, eliminando o produto 
da concepção.
Tipo Objetivo 
Dolo, manifestado na consciência e vontade de 
interromper a gravidez com o consentimento 
válido da gestante.
- Aborto culposo: conduta da gestante 
impunível / conduta de terceiro punida 
como lesão corporal culposa (?).
TipoSubjetivo
Morte do produto da concepção. Crime 
material. 
Consumação
Admissível. Delito plurissubsistente.
Tentativa
Art. 125 do CP Provocar aborto, sem o 
consentimento da gestante: Pena - reclusão, 
de 3 (três) a 10 (dez) anos.
Aborto Provocado por Terceiro, sem o 
Consentimento da Gestante
Aborto praticado em contrariedade à vontade 
da gestante.
Noção Geral
Hipóteses de consentimento inválido (art. 126, 
§ único, do CP - agente responderá pela pena 
cominada ao art. 125):
- Violência, grave ameaça ou fraude na 
obtenção do consentimento (vontade 
viciada);
Lembrar!
- Se a gestante não for maior de 14 anos, 
alienada ou doente mental (ausência de 
capacidade de entendimento do ato).
Lembrar!
** Gestante menor de 14 anos: a gravidez será 
considerada criminosa (estupro de vulnerável 
– art. 217 A do CP) e, portanto, admitido o 
aborto praticado por médico desde que haja 
autorização do representante legal (art. 128, 
inciso II, do CP).
Aborto Provocado por Terceiro, sem o 
Consentimento da Gestante
Qualquer pessoa (crime comum). Admite-se o 
concurso de agentes.
Sujeito Ativo 
Dupla subjetividade passiva: Produto da 
concepção (óvulo, embrião ou feto) e gestante.
Sujeito Passivo 
Interromper, de modo violento e intencional, 
uma gravidez, eliminando o produto da 
concepção.
Tipo Objetivo
Dolo: Consciência e vontade de interromper a 
gravidez contra o querer da gestante
Tipo Subjetivo
- Nas situações de dissenso presumido (art. 126, 
parágrafo único), o dolo deve compreender, 
ainda, as qualidades da grávida (pessoa não 
maior de 14 anos ou alienada ou débil mental) 
ou modo de execução (consentimento obtido 
mediante fraude, grave ameaça ou violência).
Aborto Provocado por Terceiro, sem o 
Consentimento da Gestante
Com o extermínio do produto da concepção 
(crime material).
Consumação
Admissível (delito plurissubsistente).
Tentativa
Art. 127do CP As penas cominadas nos dois 
artigos anteriores são aumentadas de um terço, 
se, em conseqüência do aborto ou dos meios 
empregados para provocá-lo, a gestante sofre 
lesão corporal de natureza grave; e são 
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe 
sobrevém a morte.
Aborto Provocado por Terceiro Majorado
Não são qualificadoras, mas sim causas de 
aumento de pena.
Natureza Jurídica
Somente aplicáveis aos crimes de aborto 
provocado por terceiro (com ou sem 
consentimento da gestante – arts. 125 e 126); 
não se aplicam aos crimes de autoaborto ou 
aborto consentido (art. 124 do CP).
Aplicação
O crime de aborto provocado será:
a) aumentado de 1/3 se, em conseqüência do 
aborto ou das manobras abortivas, a gestante 
sofre lesão corporal de natureza grave (art. 129, 
§§ 1º e 2º, do CP).
b) duplicado se, em conseqüência do aborto ou 
das manobras abortivas, a gestante falece.
Hipóteses
Dolo na conduta antecedente e culpa no 
resultado conseqüente.
Pretedolo
Quem mata dolosamente uma gestante, sabendo 
que ela está grávida, responde por homicídio 
doloso e aborto, em concurso formal, aplicando-se 
a pena do crime mais grave aumentada de um 
sexto até metade (art. 70, caput, primeira parte, 
CP). Se houver desígnios autônomos, as penas 
serão somadas (art. 70, caput, segunda parte, CP).
Dolo no Resultado
Art. 128 do CP Não se pune o aborto praticado por 
médico: 
I Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
II Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é 
precedido de consentimento da gestante ou, 
quando incapaz, de seu representante legal.
Aborto Legal ou Permitido
- Posicionamento majoritário: causas 
especiais de exclusão da ilicitude.
a) Inciso I: Aborto necessário ou terapêutico 
ou profilático (dispensa prévia autorização 
judicial e consentimento da gestante);
Aborto Legal ou Permitido
b) Inciso II: Aborto sentimental ou 
humanitário ou ético (dispensa prévia 
autorização judicial, mas exige consentimento 
da gestante ou representante legal).
Aborto Legal ou Permitido
- Aborto realizado em virtude de alguma 
anomalia ou doença do feto;
- Não é permitido expressamente em nosso 
ordenamento jurídico. 
Aborto Eugênico ou Eugenésico
ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república 
laica, surgindo absolutamente neutro quanto às 
religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO –
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER –
LIBERDADE SEXUAL E REPRODUTIVA – SAÚDE –
DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO – DIREITOS 
FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. [...]
Feto Anencéfalo[...] Mostra-se inconstitucional interpretação de a 
interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser 
conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, 
incisos I e II, do Código Penal (STF – Tribunal 
Pleno – ADPF 45/DF – Rel. Min. Marco Aurélio - j. 
em 12/04/2012 – DJe 080 de 29/04/2013)
Feto Anencéfalo
“Ementa: (...) inconstitucionalidade da incidência 
do tipo penal do aborto no caso de interrupção 
voluntária da gestação no primeiro trimestre. 
Ordem concedida de ofício (...) 3. Em segundo 
lugar, é preciso conferir interpretação conforme a 
Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do Código 
Penal – que tipificam o crime de aborto – [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] para excluir do seu âmbito de incidência a 
interrupção voluntária da gestação efetivada no 
primeiro trimestre. A criminalização, nessa 
hipótese, viola diversos direitos fundamentais da 
mulher, bem como o princípio da 
proporcionalidade. [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] 4. A criminalização é incompatível com os 
seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais 
e reprodutivos da mulher, que não pode ser 
obrigada pelo Estado a manter uma gestação 
indesejada; a autonomia da mulher, que deve 
conservar o direito de fazer suas escolhas 
existenciais; a integridade física e psíquica da 
gestante, que é quem sofre, [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da 
gravidez; e a igualdade da mulher, já que homens 
não engravidam e, portanto, a equiparação plena 
de gênero depende de se respeitar a vontade da 
mulher nessa matéria. 5. A tudo isto se acrescenta 
o impacto da criminalização sobre as mulheres 
pobres. É que o tratamento como crime, dado pela 
lei penal brasileira, [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] impede que estas mulheres, que não têm 
acesso a médicos e clínicas privadas, recorram ao 
sistema público de saúde para se submeterem aos 
procedimentos cabíveis. Como consequência, 
multiplicam-se os casos de automutilação, lesões 
graves e óbitos. 6. A tipificação penal viola, 
também, o princípio da proporcionalidade por 
motivos que se cumulam [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] : (I) ela constitui medida de duvidosa 
adequação para proteger o bem jurídico que 
pretende tutelar (vida do nascituro), por não 
produzir impacto relevante sobre o número de 
abortos praticados no país, apenas impedindo que 
sejam feitos de modo seguro; [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] (II) é possível que o Estado evite a ocorrência de 
abortos por meios mais eficazes e menos lesivos do 
que a criminalização, tais como educação sexual, 
distribuição de contraceptivos e amparo à mulher 
que deseja ter o filho, mas se encontra em 
condições adversas; [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] (III) a medida é desproporcional em sentido 
estrito, por gerar custos sociais (problemas de 
saúde pública e mortes) superiores aos seus 
benefícios. 7. Anote-se, por derradeiro, que 
praticamente nenhum país democrático e 
desenvolvido do mundo trata a interrupção da 
gestação durante o primeiro trimestre como crime, 
aí incluídos Estados Unidos, [...]
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
[...] Alemanha, Reino Unido, Canadá, França, Itália, 
Espanha, Portugal, Holanda e Austrália(...)” (STF –
Primeira Turma - HC 124306 / RJ – Rel. Min. Marco 
Aurélio - Relator(a) p/ Acórdão: Min. Roberto 
Barroso – j. em 09/08/2016 – DJe 052 de 
16/03/2017). 
Interrupção Voluntária da Gravidez (Até 3 
Meses da Gestação)
Aborto
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