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Biometria Florestal 63 5 RELAÇÃO ALTURA E DIÂMETRO A relação altura e diâmetro de uma árvore é, comumente, simbolizada por “h/d” e denominada “relação hipsométrica”. No inventário florestal, esta relação é usada para fornecer as alturas de árvores que tiveram apenas o diâmetro medido, e na determinação de alturas dominantes. 5.1 Características da relação hipsométrica A relação hipsométrica, ou relação entre o diâmetro e altura das árvores, é regulada geneticamente e só tem sentido quando analisada para uma espécie. É fácil observar que espécies distintas podem ter valores de relação h/d diferentes. Um Eucalyptus grandis com 20,0 cm de diâmetro alcança facilmente a altura de 27,0 m (h/d = 27/20 = 135); enquanto o Pinus taeda com o mesmo diâmetro não alcança 19,0 m (h/d = 19,0/20 = 0,95). Assim, a relação hipsométrica para espécies distintas pode ser representada pela Figura 34. FIGURA 34- Representação da relação hipsométrica para três espécies florestais . Biometria Florestal 64 Considerando a mesma espécie, a relação hipsométrica diferencia-se com a idade. De acordo com as leis naturais, durante o crescimento, a relação hipsométrica não produz extensões, mas projeta-se em um novo nível. Esse fato deve ser analisado observando-se a dinâmica do povoamento, pois, com o crescimento, as árvores finas passam para classes superiores e as árvores das classes superiores passam para classes mais altas. Esse crescimento se dá também em diâmetro, porém com velocidade diferente, fazendo com que, para o mesmo diâmetro, sejam obtidas alturas diferentes (Figura 35). FIGURA 35 - Representação da variação da relação hipsométrica em povoamento de diferentes idades. Ao se observar esta dinâmica durante longo tempo, percebe-se ainda que as diferenças de níveis entre as curvas das relações hipsométricas vão diminuindo com o aumento da idade, o que reflete a diminuição do vigor das árvores, ou seja, na estabilização do crescimento em altura; conforme apresentado na Figura 36, apresentada por Loetsch et. al, (1973). Biometria Florestal 65 FIGURA 36 - Característica das curvas hipsométricas de Larix (Larix sp.) e Spruce (Picea sp.) com a variação do diâmetro. Onde: h = altura total; k = altura até o ponto de inserção da copa. A influência da qualidade do sítio (qualidade do local para o crescimento de uma espécie) também se reflete na relação hipsométrica. Considerando florestas de mesma idade, as árvores que crescem em sítio bom terão maior diâmetro e altura que as de sítio ruim, estando as alturas distribuídas em níveis diferentes, conforme mostra a Figura 37. FIGURA 37 - Relação hipsométrica para árvores crescendo em sítio bom e ruim. Biometria Florestal 66 De forma geral, pode ser demonstrado que a relação hipsométrica apresenta níveis diferenciados com a idade e qualidade do sítio, mas que a inclinação desses conjuntos de pontos não difere entre eles. Considerando que existe uma forte associação entre as variáveis diâmetro e altura, a relação hipsométrica pode ser descrita por um modelo matemático de forma linear ou curvilinear, dependendo da espécie e amplitude dos dados observados. Sendo, por exemplo, a fórmula geral do modelo que descreve a relação hipsométrica expressa por: XbbY 10 ⋅+= , onde Y = variável dependente altura; X = variável dependente diâmetro; 0b = representa o intercepto; e, 1b = coeficiente angular; pode ser demonstrado que o coeficiente 1b não difere estatisticamente para a mesma espécie em diferentes sítios e idades. Resultados assim foram relatados por: Sterba (1986), para Picea abies; por Marschall (1975 apud Sterba,1986), para Abies alba e Picea abies em povoamentos mistos; por Finger (1991) para Eucalyptus grandis e E. saligna distribuídos sobre florestas de diferentes idades e sítios; por Coelho e Finger (1997), para povoamentos de Pinus taeda originados por regeneração natural e por mudas; e por Finger, Spathelf e Schneider (1999) para Acacia mearnsii . De acordo com o demonstrado por Sterba (1986) os coeficientes angulares de uma função de relação hipsométrica apresentam com o aumento da idade do povoamento somente variação ao acaso, enquanto o intercepto tende a diminuir (Tabela 14). Biometria Florestal 67 TABELA 14 - Variação dos coeficientes de intercepto ( 0b ) e angular ( 1b ) em função da idade (STERBA, 1986) IDADE 0b 1b 35 0,233 0,497 45 0,210 0,501 55 0,194 0,545 65 0,178 0,705 75 0,172 0,659 85 0,168 0,566 95 0,165 0,546 115 0,158 0,677 125 0,156 0,747 135 0,157 0,602 No estudo da relação hipsométrica para povoamento desbastado de Pinus elliottii, realizado por Glufke (1996) e Glufke, Finger e Schneider (1997), foi demonstrado que as curvas apresentaram, com o aumento da idade, diferentes níveis, mas mantiveram a inclinação comum entre elas. Os resultados mostraram ainda que, em áreas com desbaste extremamente forte e em idades mais avançadas, a curva mudou a inclinação, não refletindo mais a realidade fisiológica. Tal fato é explicado pela interferência humana na seleção das árvores para desbaste e pelo reduzido número de remanescentes nas unidades amostrais. Por outro lado, no tratamento testemunha sem desbaste e no tratamento com 25% da área basal desbastada, foi mantida a mesma inclinação para as curvas de relação hipsométrica em todas as idades (Figura 38). Biometria Florestal 68 FIGURA 38 - Variação da relação hipsomética de Pinus elliottii com a idade e tratamento de desbaste. Biometria Florestal 69 5.2 Determinação das curvas de altura e diâmetro A determinação de uma relação hipsométrica é importante, pois permite descrever, com um modelo matemático, a associação entre as variáveis diâmetro e altura, possibilitando estimar as alturas não medidas na floresta, bem como determinar alturas para diâmetros médios obtidos por cálculo. Essa possibilidade também tem um grande significado econômico, pois permite reduzir o número de alturas medidas durante o inventário florestal, sem prejuízo de precisão, mas reduzindo sensivelmente o custo da atividade. O modelo matemático que descreve a relação h/d é, em geral, do tipo parabólico. Entretanto, para determinar o modelo matemático que descreve a relação hipsométrica, deve-se testar vários modelos e selecionar aquele de melhor aplicação, segundo os critérios de seleção de modelos usados em análise de regressão. A Tabela 15 apresenta alguns modelos matemáticos que podem ser usados para descrever a relação altura/diâmetro de árvores. Segundo Schneider (1986), são suficientes na determinação de uma relação hipsométrica, em média, 30 a 40 alturas distribuídas em toda a amplitude diamétrica. Na relação de altura e diâmetro, evidencia-se a variação biológica, ou seja, para um diâmetro “X” qualquer se encontra, no povoamento, árvores com alturas Y1, Y2, Y3. Dessa forma, quanto maior a heterogeneidade do povoamento, maior será o erro da equação. Independentemente do número de troncos medidos, deverão ser tomadas ainda as alturas das árvores dominantes, evitando-se assim a extrapolação de alturas para as maiores árvores. Biometria Florestal 70 TABELA 15 - Modelos de relação hipsométrica Equação MODELOS 01 ( ) 3,1d/bb 1h 2 10 + + = 02 d 1bb 30,1h 1 10 += − 03 2 210 dbdbb30,1h ++=− 04 2 210dbdbbh ++= 05 3 3 2 210 dbdbdbbh +++= 06 d 1bbh 10 += 07 2210 d 1b d 1bb30,1 h 1 ++=− 08 2 210 2 dbdbb30,1 h d ++=− 09 ( ) d 1bb30,1hlog 10 +=− 10 dbb30,1h 10 +=− 11 dbbhlog 10 += 12 dbbh 10 += 13 dlogbbhlog 10 += 14 ( ) dlogbb30,1hlog 10 +=− 15 ( ) dlogbdlogbb30,1hlog 2210 ++=− 16 ( ) � � � � � � + +=− d1 dlogbb30,1hlog 10 Fonte: Schneider (1986) modificado. Biometria Florestal 71 Assim, com base no conjunto de pares de dados de altura e diâmetro medidos na unidade amostral durante o inventário florestal, deve-se pesquisar qual o modelo matemático que melhor descreve a relação entre essas variáveis. Para isso ,devem ser testados quatro ou cinco modelos, tomando-se o cuidado de selecionar entre modelos aritméticos, logarítmicos e recíprocos. A decisão entre qual deve ser escolhido deve-se basear nos critérios de maior Coeficiente de Determinação ( 2r ); menor Erro Padrão em percentagem da média, e distribuição uniforme dos resíduos. O modelo matemático, assim selecionado, poderá com segurança fornecer boas estimativas das alturas das árvores. A Figura 39 exemplifica o desenvolvimento de cinco modelos matemáticos para o mesmo conjunto de dados. A simples observação dessa Figura permite verificar a importância da seleção de um modelo adequado, bem como a necessidade de se fazer estimativas somente para a amplitude dos dados observados, evitando extrapolações. FIGURA 39 - Desenvolvimento de cinco modelos de regressão para o mesmo conjunto de dados. Biometria Florestal 72 Exemplificando a aplicação do cálculo, considere a determinação dos coeficientes de regressão de um modelo linear simples a partir dos dados de diâmetro e altura (Tabela 16) levantados em uma unidade amostral e o modelo matemático ( ) 3,1d/ 1h 2 10 +β+β= . TABELA 16 – Pares de dados de diâmetro e altura medidos em uma unidade amostral. d (cm) h (m) 8,5 7,0 24,0 23,8 28,5 27,1 . . . . . 1º Passo: verificar se o modelo é linear ou se necessita ser transformado. ( ) �+β+β= 3,1d/ 1h 2 10 modelo está na forma não linear, pois os coeficientes não estão na forma aditiva ou subtrativa com potência 1. Transformando-o para a forma linear, tem-se: a) ( )210 d/ 13,1h β+β=− ; b) ( )210 d/ 13,1h β+β =− ; c) d/ 3,1h 1 10 β+β= − ; Biometria Florestal 73 d) d/ 3,1h 1 10 β+β= − . Com o modelo na forma linear é possível escrever que: d 1Xe 3,1h 1Y = − = e o modelo na fórmula geral como: XY 10 ⋅β+β= Para o desenvolvimento do cálculo veja o capítulo 18. 5.3 Paralelismo das curvas de regressão Como exposto anteriormente, o emprego da relação hipsométrica traz grande economia de tempo, de recursos humanos e de material para a realização do inventário florestal, pois permite reduzir substancialmente o tempo de medição da unidade amostral e o custo de levantamento. Espera-se para uma espécie florestal, que a relação hipsométrica descrita por um modelo matemático tenha a mesma inclinação, variando apenas o nível em função da idade e sítio. É importante lembrar, entretanto, que a intervenção humana, sob a forma de desbaste na floresta, pode alterar a relação natural entre o diâmetro e a altura, conforme se observa na Figura 38. De posse dessas informações e de milhares de pares de dados de diâmetro e altura distribuídos em centenas de unidades amostrais que cobrem diferentes idades da floresta e diversos sítios naturais, pode-se investigar a hipótese de que as curvas de relação hipsométrica tenham coeficiente angular comum, isto é, que não difiram estatisticamente entre eles. O teste da hipótese do paralelismo entre as “n” curvas de regressão, representando cada unidade amostral, é feito por análise de covariância e pode ser Biometria Florestal 74 facilmente programado em computador, usando-se uma planilha eletrônica ou com o uso de softwares como o SAS. Para isso, utiliza-se a PROC GLM, declarando a unidade amostral como CLASS e fazendo a interação da unidade amostral e a variável independente na declaração MODEL. Para maiores informações, veja SAS (1986), Freese (1970) ou Kozak (1970). Os dois últimos autores apresentam o procedimento de cálculo de forma clara permitindo ao leitor a fácil compreensão dos cálculos. Sendo a hipótese verdadeira poder-se-á reduzir, ainda mais, o trabalho durante o inventário florestal, passando-se a medir, nas unidades amostrais, todos os diâmetros e apenas uma altura. Essa altura será correspondente à árvore de diâmetro médio, qualquer que seja a sua expressão: diâmetro médio aritmético (d), diâmetro da árvore de área basal média ( gd ) etc. (para maiores informações veja o capítulo 11). Sendo o coeficiente angular da equação de regressão constante, o par de dados d e h, medidos na árvore média, possibilitará o cálculo do nível em que passa a curva de relação hipsométrica, conforme o seguinte exemplo. Considerando-se o modelo ( ) ,dap/bb3,1h 1 10 += − calculado por Finger (1991) para Eucaliptus saligna e Eucaliptus grandis e os valores de diâmetro e altura da árvore média, medidos em uma unidade amostral, respectivamente 24,0 cm e 28,0 m e, sendo o valor do coeficiente angular igual a 1,04909, tem-se: ( ) 0,24 04909,1b 30,10,28 1 0 += − =0b 0,19353-0,04371 �= 14982,0b0 coeficiente de intersecção para a referida unidade amostral Para gerar as demais alturas, tem-se, então, o modelo completo: Biometria Florestal 75 ( ) dap 04909,114982,0 30,10,28 1 += − que, por transformação para a forma de estimação da altura em metros, será: 3,1 dap 04909,114982,0 1h 2 + �� � � �� � � + = .
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