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Diferenças e Semelhanças entre Avaliação Psicológica e Avaliação Neuropsicológica: A Opinião de Profissionais das Áreas1 Elyan Herrera Arbo Gallas2 Jefferson Silva Krug3 Faculdades Integradas de Taquara – FACCAT RESUMO Este artigo visa a realizar um breve estudo sobre avaliação psicológica e avaliação neuropsicológica, através de entrevistas com psicólogos e neuropsicólogos, investigando as diferenças e semelhanças existentes entre estes dois tipos de avaliações clínicas. Para tal, foram realizadas e gravadas entrevistas com dois psicólogos com prática clínica em avaliação psicológica, bem como com dois neuropsicólogos, com prática clínica em avaliação neuropsicológica. Após, foram analisados e discutidos os dados coletados nas entrevistas realizadas com os profissionais. Nos resultados obtidos nesta pesquisa, foi identificado um maior número de semelhanças do que de diferenças entre esses tipos de avaliações realizadas. Como principais semelhanças, observaram-se os conhecimentos, habilidades necessárias e métodos avaliativos. As diferenças principais residem nas questões relativas aos objetivos de cada tipo de avaliação. Palavras-Chave: Psicologia. Neuropsicologia. Avaliação Psicológica. Avaliação Neuropsicológica. INTRODUÇÃO A ciência nos fala que o padrão de atividade neural difere em relação a uma psicopatologia existente ou não no indivíduo. Devido a esta diversidade disfuncional ou funcional,considera-se,na atualidade, de suma importância o conhecimento do cérebro e suas funções, para melhor adequação de tratamento para um determinado paciente, dentro de sua psicopatologia e/ou desordens neuropsicológicas (ANDRADE, 2004). Atualmente, torna-se necessário, ao psicólogo, ter conhecimento a respeito do desenvolvimento, organização e funcionamento do sistema nervoso, visto que nele reside, não somente a origem da atividade mental, mas também o objeto de sua prática. Portanto, para 1 Artigo de pesquisa apresentado ao Curso de Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara, como requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão II. 2 Acadêmica do Curso de Psicologia. 3 Psicólogo, Mestre em Psicologia Clínica (PUCRS), Professor do Curso de Psicologia da FACCAT, Coordenador do Grupo de Pesquisa “Avaliação Psicológica: instrumentos e contextos” e Coordenador do Curso de Psicologia. Supprimé : Supprimé : uma melhor eficácia de seu trabalho, justifica-se que este profissional estabeleça relações entre a(s) psicopatologia(s) diagnosticada(s) e a(s) potencialidade(s) encontrada(s) na avaliação psicológica de seu paciente e/ou na avaliação neuropsicológica do mesmo. Observa-se que o crescimento das áreas de estudo, dentro da neurociência, tem gerado algumas inquietações no campo profissional e científico em relação às práticas desenvolvidas por profissionais da área da saúde. Entre essas inquietações, podemos relacionar a dificuldade para se definir, com precisão, semelhanças e diferenças existentes entre as práticas dos psicólogos e as dos neuropsicólogos. As avaliações psicológicas, muitas vezes, assemelham-se às avaliações neuropsicológicas no tocante aos objetivos, conhecimentos e habilidades necessárias, como também nos procedimentos para fins de diagnóstico ou tratamentos. Supõe-se, porém, que cada uma destas avaliações esteja baseada em pressupostos que podem diferenciar-se e, assim, influenciar, tanto na condução do processo avaliativo, quanto na leitura de materiais produzidos ao longo de uma avaliação, mesmo que estes materiais possam assemelhar-se. Neste sentido, surgem algumas dúvidas no campo das avaliações das funções mentais, em relação à abrangência e os objetivos de cada uma das investigações, bem como o papel de cada um dos profissionais em uma avaliação multidisciplinar. A preocupação com a eficiência no diagnóstico, adesão ao tratamento e reabilitação, bem como sua eficácia, é de responsabilidade de profissionais da área da saúde, da qual a psicologia faz parte. Sendo assim, nesta pesquisa, pretende-se abordar as diferenças e semelhanças entre a avaliação psicológica e a avaliação neuropsicológica, segundo opinião de profissionais destas duas áreas de atuação. Para tal, procuramos conhecer os objetivos de cada um dos tipos de avaliação, os métodos de investigação adotados, os procedimentos utilizados, os conhecimentos, as habilidades e o tempo necessários para a realização das avaliações. 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 Avaliação Psicológica Na ciência, a área que se dedica a estudar os processos mentais e o comportamento é a psicologia. A avaliação psicológica proporciona dados destes processos, fornecendo-nos características do indivíduo e mostrando-nos como este responde a determinados estímulos. Portanto, o papel da avaliação psicológica sempre esteve estritamente ligado à necessidade de conceituar e implementar estratégias de intervenções bem-sucedidas para a correção dos transtornos psicológicos (ATIKINSON, 2002). Segundo Anastasi e Urbina (2000), na atualidade, as avaliações psicológicas já não são mais somente observações clínicas dos indivíduos, mas nestas são utilizadas testagens psicométricas, as quais possuem baterias de testes psicológicos e escalas psicológicas, objetivando e agilizando os tratamentos. Os testes psicológicos e escalas podem ser quantitativos e/ou qualitativos. A escolha do método adequado dependerá do objetivo a ser investigado. As entrevistas padronizadas ou estruturadas e as escalas de avaliação foram incorporadas, progressivamente, nas avaliações diagnósticas dos pacientes. De acordo com Andrade e Santos (2004), um teste psicológico objetiva e padroniza uma amostra do comportamento, sendo que os testes aplicados e mensurados do indivíduo, são como os de outra ciência. Como exemplo, podemos comparar esta atividade de testagem humana, entre um psicólogo e um bioquímico. Este testa o sangue de um paciente, coletando uma amostra; aquele testa o comportamento através de avaliações psicológicas. No que tange à caracterização da avaliação psicológica, Landeira-Fernandez (1998, p. 17) afirmam: a mudança está na forma de se delimitar e entender o problema, levando em consideração fatores biológicos como variáveis importantes no entendimento da atividade mental. Da mesma forma, esta posição não reduz a atividade psicológica a mecanismos puramente biológicos. A própria natureza multifatorial do fenômeno psicológico impede tal reducionismo neste assunto tão complexo como é o da mente humana. A maior dificuldade, talvez, esteja no ceticismo do psicológico clínico quanto à enorme quantidade de evidências clínicas e experimentais, mostrando que nossos pensamentos, motivações, idéias, crenças e emoções, em um dado momento de nossas vidas, resultam do impacto do meio ambiente e das relações sociais, que tiveram ação sobre a plasticidade de nossas células nervosas no decorrer da nossa existência. Assim, poderíamos considerar o fato de que nossas funções psicológicas alteram-se após mudanças em nossas percepções cognitivas, as quais mudam nosso padrão de comunicação na rede neural, conforme o caminho que nossas estruturas cerebrais tomam, de acordo com as funções ou disfunções neurológicas existentes em nosso cérebro (BEAR, 2002). 1.2 Avaliação Neuropsicológica Em Bear (2002), encontramos que a neurociência acompanhou o desenvolvimento do estudo do cérebro, desde a antiguidade, utilizando-se do processo chamado trepanação (cirurgia cerebral pré-histórica). Então, apesar da palavra “neuropsicologia” ser nova dentro da área das neurociências, observa-se que, desde tempos remotos, este órgão humano nunca deixou de intrigar cientistas de múltiplasespecialidades, os quais utilizavam-se ou não de intervenções anatômicas para localizar as funções cerebrais do homem. Falando em neuropsicologia, segundo Andrade e Santos (2004), a fundamentação teórica desta possui seus construtos constituídos em grande parte a partir da convergência de algumas ciências, tais como: Matemática, Fisiologia, Psicologia e Medicina (neurologia e neuroquímica.), permitindo assim, que uma conjunção de conceitos psicológicos, anatômicos e orgânicos se somassem aos de outras ciências e se constituísse a neuropsicologia. A partir da união destas diferentes disciplinas, outras começam com o mesmo movimento e objetivos. Surgem, assim, especializações que, até então, não existiam, como a Neuropsicologia, que auxilia a ciência com pesquisas científicas, estudos de caso e proporciona visões complementares para os diagnósticos médicos e psicodiagnósticos. Quanto ao termo neuropsicologia, Lezak (1995) nos traz que, a partir de 1913, esta nomenclatura foi apresentada de maneira sistemática, com o avanço de estudo. Como por exemplo, a verificação das funções complexas mentais e o funcionamento de áreas cerebrais atuantes em conjunto e como estas se relacionavam, o que possibilitava a associação entre cérebro e comportamento, constituindo deste modo, a base desta área científica. Disto, resultaram avanços provenientes de estudos em indivíduos com distúrbios particulares. Estes estudos sinalizavam a importância da descrição das alterações cerebrais observadas e suas respectivas manifestações comportamentais nesses pacientes, impulsionando a área da neuropsicologia. Conforme Landeira- Fernandes (1998), a neuropsicologia faz parte da área das Neurociências, e a mesma é uma área específica da Psicologia, a qual aborda o estudo do ser humano, baseado no seu funcionamento cerebral. Esta é uma ciência que propõe novos métodos para investigar o papel dos sistemas cerebrais, em formas complexas de atividade mental. Desta forma, a avaliação, dentro da neuropsicologia, investiga o processamento cognitivo e comunicativo e seus correlatos neurais, sendo seu foco principal a investigação das bases neurobiológicas do funcionamento das funções cognitivas, como por exemplo, percepção, linguagem, memória, atenção, orientação têmporo-espacial, praxias, calculias, e funções executivas, tanto no cérebro com algum acometimento neurológico, quanto do cérebro intacto (CAIXETA, 2007). Para Mello (2006), a avaliação neuropsicológica é a avaliação do aspecto neurológico das funções cognitivas como atenção, memória, linguagem, funções executivas, capacidade de planejamento, raciocínio lógico, abstrato, funções motoras, entre outras. O objetivo deste tipo de avaliação é identificar efeitos funcionais ou disfuncionais, em diversas psicopatologias e desordens neurológicas, tanto nos transtornos psiquiátricos, quanto em indivíduo sadio, para fazer uma espécie de “check-up” cognitivo, com ou sem queixa de modificação do funcionamento cognitivo, inclusive a nível preventivo. Com o aumento da longevidade do homem, estes procedimentos preventivos de saúde poderão levá-lo a uma melhor qualidade de vida, por conseguir-se detectar, precocemente, disfunções e reabilitá-las com extrema eficácia, incentivando sua plasticidade cerebral. A avaliação neuropsicológica utiliza-se de métodos psicométricos da psicologia e da neurologia, e também pode vir a analisar os procedimentos eletrônicos e computacionais feitos com o paciente. Avaliação neuropsicológica se apresenta, cada vez mais, como um método científico, valioso para medir os prejuízos nas funções cerebrais, identificando o modo como o paciente processa informação. Esse método pode, também, examinar como estes prejuízos podem ser afetados pela relação cérebro-comportamento. Portanto, a avaliação neuropsicológica pode ser utilizada, por exemplo, para responder perguntas como: este paciente tem capacidade de aprendizagem que afeta seu desempenho, e/ou de processar informações percepto-motoras na sua vida diária? Assim, através dos resultados obtidos, poderá ser escolhida a estrutura do desenvolvimento das intervenções de tratamento e/ou reabilitação, tanto psicológica, quanto neuropsicológica, de acordo com aquele determinado indivíduo e seu próprio funcionamento cerebral (LANDEIRA-FERNANDES, 1998). A necessidade científica e populacional de obter resultados nos tratamentos propiciou o movimento de investimentos nas avaliações do cérebro humano. Estas avaliações passaram a contar com o auxílio dos testes psicológicos, para facilitar identificações mais específicas das patologias orgânicas e psíquicas, como em lesões adquiridas, aliando as mesmas a seus prejuízos e potencialidades nas funções cognitivas, onde as avaliações e testagens neuropsicológicas podem vir a contribuir (LEZAK, 1995). A neuropsiclologia, como área científica, realiza pesquisa clínica sobre técnicas de avaliação e reabilitação neurológica, coletando dados fundamentais para a avaliação científica destes procedimentos (ABRISQUETA-GOMES e SANTOS, 2006). Portanto, a neuropsicologia é a ciência dedicada a estudar a expressão comportamental das disfunções cerebrais, ou seja, é a ciência que estuda a relação entre cérebro e comportamento humano, tendo como principal enfoque o desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano baseada no funcionamento cerebral (COSTA et. al, 2004). Como em todos os ramos atuais de atividades, na ciência não é diferente, ocorrem movimentos de unificações, os quais vêm seguidos de tumulto em relação a separações específicas dentro das áreas da saúde. No tema aqui abordado, torna-se necessário refletir sobre alguns princípios gerais, pois, a partir disto, é possível conceituá-los integrando evidências experimentais, observações empíricas e clínicas. Desta forma, uma série de procedimentos de avaliação psicológica e neuropsicológica surgiu nos últimos anos, facilitando, cada vez mais, as investigações e modificando os métodos de intervenções clínicas, conforme os resultados obtidos em cada indivíduo. Isto possibilita um maior entendimento individual do caso e facilita a reabilitação durante o desenvolvimento do tratamento. 2 MÉTODO Este estudo parte de um delineamento qualitativo de pesquisa, o qual “pode ser utilizado para aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensão e capazes de ser abrangidos intensamente. Trabalha com valores, crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões” (KRUG, 2005, p. 8). Neste sentido, optou-se por esse delineamento uma vez que ele possibilita maior aprofundamento sobre um fenômeno estudado. 2.1 Participantes Participaram deste estudo dois psicólogos com experiência em avaliação psicológica e dois neuropsicólogos, também com prática na área, sendo que estes são psicólogos especialistas em neuropsicologia. A escolha dos participantes foi feita segundo o critério de conveniência. Os profissionais atuam em clínica particular e/ou hospitais. 2.2 Instrumentos Para este trabalho, foi utilizada, como instrumento, a entrevista estruturada que “é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas (MARCONI e LAKATOS, p. 93, 2002). Para sua realização, foram confeccionados dois roteiros de entrevistas, de acordo com a especialização de cada um dos dois tipos de profissionais que realizam avaliações psicológicas e neuropsicológicas. 2.3 Procedimentos para coleta dos dados Antes da coleta de dados desta pesquisa, foi encaminhado ao comitê de ética das Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) o projeto da mesma. Após a aprovação deste, entrou-se em contato com os participantespara a marcação das entrevistas. No dia do encontro com cada participante, foi realizada a leitura e assinatura do Termo de Compromisso Livre e Esclarecido. A realização e a gravação das entrevistas foram feitas nos locais indicados pelos participantes. 2.4 Procedimentos para análise de dados As entrevistas foram transcritas e analisadas através do método de Análise de Conteúdo de Bardin (1977). Segundo Bardin (1977, p.31) a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando a obter, por modelos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. A Análise de Conteúdo, conforme Bardin (1977), investiga o entendimento do conteúdo das mensagens, relacionando-o com a comunicação entre os homens. Neste estudo, o item, citado acima, foi realizado através dos dados coletados nas entrevistas dos psicólogos e neuropsicólogos com experiência nestas áreas de atuação profissional. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A partir da análise dos dados das entrevistas com os profissionais, construíram-se categorias de respostas, possibilitando, assim, a comparação entre os aspectos citados pelos entrevistados quanto às semelhanças e diferenças entre a avaliação psicológica e a avaliação neuropsicológica. As categorias são apresentadas na Tabela abaixo: Tabela1: Categorias resultantes da Análise das Entrevistas Categorias Subcategorias Categoria A OBJETIVOS Cat. 1 – Tipo de demanda Cat. 2 – O que é avaliado Cat. 3 – Objetivos finais da avaliação Cat. 4 – Característica do diagnóstico Categoria B CONHECIMENTOS E HABILIDADES NECESSÁRIAS Cat. 5 – Processo de avaliação Cat. 6 – Domínio prático e teórico das tarefas Cat. 7 – Teoria Cat. 8 – Instrumentos Cat. 9 – Supervisão Cat. 10 – Atualização teórica Cat. 11 – Trocas interdisciplinares Categoria C PROCEDIMENTOS Cat. 12 – Instrumentos utilizados Cat. 13 – Observação clínica Cat. 14 – Reavaliações Cat. 15 – Duração da avaliação Cat. 16 – Devolução Cat. 17 – Produção de documentos A primeira grande categoria intitulada “Objetivos” (Categoria A) engloba todas as passagens das entrevistas que apontam os objetivos dos dois tipos de avaliações estudados, com relação às demandas (Cat. 1), o que é avaliado (Cat. 2), o objetivo final da avaliação (Cat. 3) e as características do diagnóstico (Cat. 4). A Cat. “tipo de demanda” apontou que a avaliação psicológica ocorre, geralmente, a partir de uma demanda individual do avaliado ou do encaminhamento de outro profissional. Já na avaliação neuropsicológica, a demanda citada pelos entrevistados, fez menção apenas ao encaminhamentos de profissionais. Neste sentido, pode-se supor que a busca por uma avaliação neuropsicológica não ocorra por demanda individual do avaliado, mas por sugestão de outro profissional, visando ao aprimoramento do diagnóstico ou tomada de alguma decisão. Essas informações podem ser observadas nas seguintes passagens das entrevistas: “(...) ele mesmo que busca, é processo de que ele vem com a queixa...” “(...) começa tudo pelo encaminhamento, quem te encaminhou aquele paciente, entender, o porquê da queixa...” Segundo Taub et. al, (2006), a queixa individual e familiar objetiva a compreensão da inter-relação entre os comportamentos adaptativos e/ou desadaptativos apresentados pelo indivíduo, estão de acordo com as demandas ambientais do contexto onde o indivíduo está inserido. Portanto, isto nos leva a refletir sobre o fato de que alguns prejuízos avaliados como tal, tornam-se ou não comportamentos desadaptativos. Isto vai depender do contexto deste indivíduo, como se nota na fala de um dos entrevistados. “(...) se ele vive na roça, falar ou pensar mais lento que o ´normal`, não vai ser problema pra ele, mas aqui vai...” Quanto ao “o que é avaliado” (Cat. 2), observou-se que a avaliação psicológica tem seu foco na investigação da personalidade, da emoção, das potencialidades e prejuízos das funções cognitivas. Para os entrevistados, o que diferenciaria a avaliação psicológica da neuropsicológica seria a não preocupação com aspectos de personalidade e emoção, buscando enfatizar os prejuízos das funções cognitivas e o seu funcionamento cerebral, identificando-os para tratamentos, cirurgias e capacidades laborais, entre outros. Do mesmo modo, a literatura nos traz que é fundamental para a neuropsicologia a compreensão do funcionamento cerebral do indivíduo, para as atividades que este executa, tanto comportamentais, quanto cognitivas (LÚRIA, 1981). Já para Anastasi e Urbina (2000), os testes repousam sobre a idéia de que se pode ter as características da personalidade, através da maneira pela qual a pessoa dá sentido a um estímulo relativamente pouco estruturado e vazio de sentido. Deste modo, o termo projetivo é um adjetivo que é utilizado no campo do psicodiagnóstico, para qualificar técnicas cujos estímulos e instruções, potencialmente, pretendem elicitar no sujeito o processo de projeção, típicos da avaliação psicológica. No entanto, os testes não se propõem apenas a medir as características da personalidade e da emoção ou a quantificá-las, mas buscam compreender o sujeito, o que ele faz ou não, a forma como executa a ação, quando e por que age de determinada maneira. Sendo assim, podemos verificar este conceito nas seguintes afirmações dos entrevistados: “(...) para os testes são muitos conhecimentos, ele tem que conhecer psicologia, testagem, instrumentos...” “(...) a avaliação psicológica fica só focada na questão das funções de personalidade, da memória, da emoção, também na área da inteligência, a partir disso tu pode tentar entender o funcionamento cognitivo da pessoa...” Mas a identificação das potencialidades pode propiciar as futuras intervenções de reabilitação, como percebemos na seguinte frase de um dos entrevistados: “(...) saber se ela pode trabalhar por aí, e intervir pra tentar superar o funcionamento dela, desde tarefas que sejam compensatórias, ou de recuperação mesmo, reabilitação neuropsicológica...” Estes são os “objetivos finais da avaliação” (Cat. 3) neuropsicológica. Esta visa a reabilitação, ou seja, a incentivar a plasticidade cerebral do ser humano. Já a avaliação psicológica visa a atender a solicitações de perícia judicial, de demandas individuais do avaliado ou de outros profissionais da área da saúde. Essas diferenças influenciariam nas “Características do diagnóstico” (Cat. 4) de cada uma destas avaliações, onde é mencionada a importância da finalidade do diagnóstico, como podemos verificar nas falas dos entrevistados: “(...) então é muito mais que tu dizer que fulano de tal, pela avaliação psicológica que se entende que ele tem um diagnóstico tal, eu não vejo muita função nisso, eu vejo mais quando você delimita tudo que teve bem e tudo que teve com prejuízo...pra investir no tratamento...” “(...) nos casos de perícia, às vezes, é necessário um diagnóstico final, isso então é diferente...” A segunda grande categoria intitulada “Conhecimentos e habilidades necessárias” (Categoria B), inclui todas as passagens das entrevistas que fazem menção aos fundamentos necessários para cada um dos tipos de avaliações estudados: com relação ao processo de avaliação (Cat. 5), o domínio prático e teórico das tarefas (Cat. 6), a teoria (Cat. 7), os instrumentos (Cat. 8), a supervisão (Cat. 9), a atualização teórica (Cat. 10) e as trocas interdisciplinares (Cat. 11). Quanto ao “processo de avaliação” (Cat. 5), percebeu-se que na avaliação psicológica, são realizadas entrevistas estruturada,com o avaliado, com seus familiares, com outros profissionais da área da saúde ou não; por exemplo, com o professor (em casos de avaliação infantil). Comprova-se a presença destes dados nas seguintes citações das entrevistas: “(...) entro em contato com a escola, pra falar com o professor da criança...” “(...) eu gosto sempre de falar com os pais primeiro, pra identificar qual é a queixa...” Para Costa et al, (2004), a neuropsicologia realiza exame neuropsicológico em crianças, adultos ou idosos que apresentem algum comprometimento neuropsicológico. Presta,também, orientação e esclarecimentos aos portadores, familiares e à comunidade, visando a auxiliar no tratamento e melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas, assim como em nível de prevenção. De acordo com os relatos das entrevistas, em relação aos dados citados anteriormente, quando se fizer necessário, estas entrevistas poderão ser refeitas após o término do processo avaliativo, para esclarecer algum ponto específico que tenha deixado dúvidas no profissional. Mas na avaliação neuropsicológica, além destas pessoas citadas pelos participantes da pesquisa, também é entrevistado o cuidador do avaliado e realizado contato com outros profissionais da área da saúde, envolvidos na investigação do caso. Em ambas as avaliações, porém, é citado que se faz necessário que o profissional avaliador tenha “domínio prático e teórico das tarefas” (cat. 6). Minayo (2004), relata que Bourdieu, em 1972, já mencionava que: “a teoria da prática que aparece como uma condição de uma ciência rigorosa das práticas, não é menos teórica”(p. 10). Como, por exemplo, está presente na fala abaixo: “(...) acredito que seja muita prática clínica, claro conhecimento teórico também...” Em relação à categoria acima, tanto na avaliação psicológica, quanto na avaliação neuropsicológica, foi enfatizado pelos entrevistados que é fundamental o conhecimento prático e teórico por parte do profissional, bem como sua criatividade na elaboração das tarefas a serem executadas pelo avaliado. Apresentou-se aqui, como ponto comum entre os entrevistados, a possibilidade de tarefas que avaliem sem um custo oneroso, como por exemplo, as que são realizadas só com lápis e papel Este dado está disposto na seguinte passagem da entrevista: “(...) tarefa sem custo alto, tu tem uma folha de papel e pede pra pessoa copiar com o lápis uma figura, tu já pode ver o padrão da cópia dela, se por exemplo, ela consegue perceber todos os elementos e reproduzir, tu pode ver se ela negligencia na metade, tu vai avaliando, aí tu percebe a hemineglgência, a lateralidade disto.” Contudo, na avaliação psicológica, estas tarefas tinham seu foco avaliativo na capacidade intelectual do avaliado e foram denominadas de tarefas cotidianas. Na avaliação neuropsicológica, foram mencionadas como tarefas ecológicas, focando a capacidade de funcionamento do indivíduo na sua casa, bem como no seu trabalho, ou seja, de acordo com o seu contexto e cultura. Observou-se que isto envolve conhecimentos por parte do profissional, como é disposto na seguinte passagem: “(...) ele tem que conhecer psicologia social no sentido assim das influências em termos sociais....” Para Anastasi e Urbina (2000), a avaliação do ser humano é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito dos fenômenos, os quais são resultados da relação do indivíduo com a sociedade. Para tanto, utilizam-se estratégias, métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos, sociais e seus efeitos no psiquismo do indivíduo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar, não somente sobre o mesmo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo. Contudo, para o profissional avaliador conseguir elaborar e montar tarefas é imprescindível ter conhecimento da “teoria” (cat. 7), onde a psicologia possui uma vasta literatura, facilitando o estudo para o psicólogo. Embora, nas entrevistas feitas com os psicólogos, não se tenha dado ênfase a este aspecto, ele se fez presente, como se observa na fala abaixo: “(...) claro que tu precisa ter conhecimento teórico, também tu precisa saber o que é uma avaliação, o que é um processo destes...” Já nas entrevistas com os neuropsicólogos, foi enfatizado o pouco material disponível para estudo e também “instrumentos” (cat. 8) para esse tipo de avaliação. Na avaliação psicológica, foi mencionado que o profissional deve ter conhecimento em testagem e técnicas de entrevista, como segue na afirmação do entrevistado: “(...) de qualquer forma a gente tem muita carência de material de estudo e de instrumentos, ainda no Brasil na nossa área... “(...) tu entrevista pra saber da história deste paciente até o momento, saber se na família tem casos semelhantes...” Na avaliação neuropsicológica, o avaliador deve possuir conhecimentos de testes validados, bem como habilidades com testes não validados, para transformá-los, quando necessário, em tarefas ecológicas de acordo com o contexto e cultura do avaliado. “(...) então pra gente fazer uma avaliação mais aprofundada, existem escalas não padronizadas aqui no Brasil, as escalas de memória, a lista de palavras de Rey RAVL-T, Figura complexa de Rey, que foram encaminhadas pro Conselho, só que ainda não foi aprovado pra ser utilizado como testes, aí se usa como tarefa...” De acordo com este dado da análise, Abrisqueta-Gomes e Santos (2006) mencionam que nas intervenções de reabilitação utilizam-se das potencialidades identificadas através dos instrumentos para desenvolver as dificuldades do indivíduo, estas ocorrendo em nível de atividades, participação individuais e sociais. A “supervisão” (cat. 9), na avaliação psicológica, é considerada pelos entrevistados um fator importante no processo. Já na neuropsicológica, esta, muitas vezes, faz parte do processo, pois as avaliações são realizadas dentro de uma equipe multidisciplinar e se não for neste contexto, o avaliador entra em contato com profissionais de áreas afins, envolvidos no caso. Isto está claro na fala abaixo: “(...) buscar e selecionar os instrumentos...aplicar as tarefas, aí ter uma boa supervisão clínica, esclarecendo tuas dúvidas na avaliação...” Portanto, a “atualização teórica” (cat. 10) na avaliação psicológica é considerada como estudos dentro da área da psicologia. Já na avaliação neuropsicológica, esta é referida a áreas afins, por exemplo, neurologia e farmacologia. Com isto, as “trocas interdisciplinares”, (cat. 11) na avaliação neuropsicológica, mostraram acontecer com um número maior de profissionais de diversas áreas afins. Na avaliação psicológica, a troca interdisciplinar é mais restrita. Assim, supõe-se que estas trocas são de extrema importância para uma boa avaliação nestas duas áreas da saúde mental. Caixeta (2007) nos diz que, a idéia de trabalho em equipe integrada multidisciplinar, adequada para nosso mundo tecnologicamente avançado, exige uma maior compreensão dos problemas que envolvem a mente humana, ficando imprescindível a interdisciplinariedade. Para isso, podemos contar, na atualidade, com o avanço das novas tecnologias, onde existem recursos que possibilitam a investigação do cérebro em funcionamento, como a Tomografia por emissão de fóton único (SPECT), tomografia por emissão de pósitrons (PET), a Ressonância Magnética Funcional (RMf) e exames mais simples como o (EEG) Eletro Encefalograma (ANDRADE e SANTOS, 2004). Referimo-nos a isto, dando seqüência aos relatos dos entrevistados sobre a categoria abordada no momento: “(...) buscar o resultado que o fonoaudiólogo deu, resultado do neurologista, precisa teressa interdisciplinariedade”... “(...) é necessário ter contato com outros profissionais pra te auxiliarem nessa avaliação...” Seguindo a análise dos dados que compõem esta pesquisa, a terceira grande categoria intitulada “Procedimentos” (Categoria C) contém a Cat. 12 (instrumentos utilizados), a Cat. 13 (observação clínica), a Cat. 14 (reavaliações), a Cat. 15 (duração da avaliação), a Cat. 16 (devolução) e a Cat. 17 (produção de documentos). Quanto à Cat.12 “instrumentos utilizados”, os neuropsicólogos relataram que existem pouquíssimos instrumentos validados no Brasil, pois alguns estão em estágio de pesquisa e outros já foram encaminhados para o Conselho Federal de Psicologia, para obter validação. Enquanto isto não acontece, neste tipo de avaliação, são utilizados testes não padronizados para a nossa população, como por exemplo, Trail Making Test, Hayling Test, dentre outros. Depois estes são observados e analisados, do mesmo modo que as tarefas ecológicas. Na avaliação psicológica, de acordo com os psicólogos entrevistados, em nosso país, são utilizados testes padronizados, tais como: WISC III, WAIS, D2, IFP e AC. Os mesmos enfatizaram a importância da observação por parte do avaliador para saber se o teste possui validação em uma amostra, de acordo com a população que está sendo investigada. Um dos entrevistados relatou utilizar testes não padronizados, como por exemplo, a Lista de Palavras de Rey e a Figura de Rey, observando seus resultados como tarefa, do mesmo modo que é observado na avaliação neuropsicológica. Quanto aos instrumentos, encontramos na literatura que, para a aplicação dos conhecimentos nas avaliações neuropsicológicas, também são utilizadas testagens, que nos permitem comparar o funcionamento cognitivo do indivíduo saudável com indivíduo que apresenta uma determinada patologia, analisando o desempenho obtido através de instrumentos padronizados e observação clínica do avaliado (PAWLOWSKI, 2007). Assim, percebe-se que, em ambas as avaliações, são utilizados instrumentos padronizados e validados no Brasil, tanto quanto instrumentos não padronizados, que ainda estão sendo analisados pelo Conselho Federal de Psicologia para validação em nosso país. A partir disto, supõe-se que os psicólogos e os neuropsicólogos utilizam alguns testes iguais, padronizados ou não, validados ou não, sendo que os resultados destes estão dependentes da maneira e do foco em que é realizada a análise, dentro de cada tipo de avaliação. Também foram mencionados alguns testes diferentes, como por exemplo, o Neupsilin utilizado pelos profissionais da neuropsicologia. O fato está relatado nas seguintes falas dos entrevistados: “(...) tem agora o Neupsilin, que vai ser lançado, que foi elaborado por um pessoal daqui do Rio Grande do Sul...” “(...) então pra gente fazer uma avaliação mais aprofundada, existem escalas não padronizadas aqui no Brasil, as escalas de memória, a lista de palavras de Rey RAVL-T, Figura complexa de Rey, que foram encaminhadas pro Conselho, só que ainda não foi aprovado pra ser utilizado como testes, aí se usa como tarefa...”. Conforme Jamus e Mãder (2005, p.193) “a Figura Complexa de Rey é uma medida de construção visuo-espacial e memória não verbal, utilizada em pesquisas neuropsicológicas, não apenas em casos de epilepsia, mas em diferentes áreas das neurociências”. Nas entrevistas, apresentou-se também, como ponto comum entre os entrevistados, a necessidade de tarefas que avaliem sem um custo oneroso, como por exemplo, as que são realizadas só com lápis e papel. Este dado está disposto na seguinte passagem da entrevista: “(...) tarefa sem custo alto, tu tem uma folha de papel e pede pra pessoa copiar com o lápis uma figura, tu já pode ver o padrão da cópia dela, por exemplo, se ela consegue perceber todos os elementos e reproduzir, tu pode ver se ela negligência na metade, tu vai avaliando, aí tu percebe a heminegligência, a lateralidade disto..” A Cat 13 “observação clínica” é realizada na avaliação psicológica, segundo os entrevistados, no consultório. A avaliação neuropsicológica também pode ser realizada no consultório, no hospital, e/ou no ambulatório, de acordo com o que está sendo avaliado e as condições físicas do indivíduo. Assim, as “reavaliações” (Cat 14) na avaliação neuropsicológica se fazem necessárias várias vezes durante o processo de reabilitação, para verificação da eficácia das intervenções. Consta que na atualidade, tivemos avanços significativos em técnicas compensatórias de reabilitação para deficiências cognitivas, favorecendo desempenhos mais satisfatórios de comportamento, os quais dependem das funções cognitivas deficientes e do que está funcionando bem no indivíduo (ABRISQUETA- GOMES e SANTOS, 2006). Nas entrevistas, pudemos verificar isto nas seguintes afirmações: “(...) pra dar caminho pra interpretação dos dados trabalhados e ter uma reabilitação futura...” “(...) se um paciente vai sofrer uma intervenção cirúrgica, então tu pode fazer um comparativo de como ele foi antes e depois, aí tu tem um dado daquele paciente, numa relação dele, com ele mesmo... Por outro lado, nas entrevistas com os psicólogos, este dado de reavaliação não consta na avaliação psicológica. Isto nos leva a supor que, quando um indivíduo faz uma avaliação psicológica, posteriormente não retorna, ou não é encaminhado novamente, não realizando verificações para saber se há ou não alterações no indivíduo, após a sua avaliação, ou pouco depois d o término do seu tratamento. Em relação a Cat. 15 “duração da avaliação”, as entrevistas mostraram que, no caso da avaliação psicológica, a média é de sete sessões. Na avaliação neuropsicológica, a duração depende do contexto, do objetivo e das condições em que se encontra o indivíduo. Por exemplo, se é no leito hospitalar, torna-se breve, em torno de um turno. Nas demais, é de seis a sete sessões. Isto nos leva a observar que o tempo de realização das avaliações depende do foco a ser investigado e do estado da saúde do avaliado, como demonstrado, na entrevista, a afirmação abaixo: “(...) às vezes o paciente tá no leito e ele vai ter que realizar uma cirurgia no dia seguinte e tu tem só aquela tarde pra fazer uma avaliação... “(...) tu vai fazer uma entrevista breve com o familiar que tá junto do leito...” “(...) ele tá debilitado então não vai conseguir te responder numa tarde toda..”. Apesar do pouco tempo para realizar a avaliação, e das condições do paciente, a literatura nos traz que nos indivíduos que serão submetidos a cirurgias, como por exemplo, de epilepsia, há necessidade de se avaliar, pois as disfunções e eventuais transferências das funções da linguagem assumem papéis relevantes, especialmente, em candidatos à cirurgia supra-citada, sendo imprescindível a identificação anátomo-funcional ligada às alterações de linguagem clássica e de linguagem musicada (FONTOURA et al , 2005). Quanto à “devolução” (Cat. 16), na avaliação psicológica, esta é feita ao indivíduo, a familiares e a outros profissionais em casos de encaminhamentos, segundo os entrevistados. Já na neuropsicológica, é feita aos familiares, ao cuidador, à equipe multidisciplinar, a outros profissionais que encaminharão ao paciente, se este tiver entendimento para tal e condições físicas no momento da devolução. Além disso, observaram-se relatos quanto à “produção de documentos” (Cat 17) na avaliação neuropsicológica. Nesta, em alguns casos hospitalares, a devolução é feita através do laudo, sendo o indivíduo, após a avaliação, encaminhado para a terapêutica indicada no mesmo. Mas a devolução também é realizada na avaliação psicológica, onde são redigidos pareceres e laudos que são entregues ao próprio indivíduo avaliado, aos familiares e outros profissionais. Dentro deste aspecto, nasentrevistas, é salientado que: “(...) em casos variados, para perícia por exemplo, às vezes é necessário um laudo judicial...” “(...) aponta-se então os pontos fortes e pontos fracos daquele paciente... pra investir melhor e auxiliar no tratamento.” “(...) e por fim a devolução, aonde é entregue o laudo e se discute o que apareceu com a devolução e pedido do encaminhamento...” Considerações Finais Analisando os objetivos deste estudo, observamos que as avaliações psicológicas e neuropsicológicas são de extrema importância como auxílio na escolha das intervenções do tratamento ou reabilitação a ser desenvolvida pelos profissionais de diversas áreas, tais como psicólogos, psiquiatras, neurologistas, fonoaudiólogos e outros, uma vez que se tratam em muitos casos de patologias não só psíquicas, mas também orgânicas. Objetivava-se, nesta pesquisa, desenvolver um breve estudo sobre a avaliação psicológica, bem como sobre a avaliação neuropsicológica, identificando semelhanças e diferenças entre estes dois tipos de avaliações. Desta forma, observou-se que, na avaliação psicológica, investigam-se as potencialidades e prejuízos das funções cognitivas, nas quais as características emocionais e da personalidade do indivíduo fazem parte. Por outro lado, na avaliação neuropsicológica, investigam-se as funções cognitivas, focando os seus aspectos funcionais e disfuncionais, ou seja, a funcionalidade do cérebro do indivíduo, relacionado com seu comportamento e patologias neurológicas, estabelecendo a possível área cerebral envolvida. Os resultados destas avaliações podem determinar futuras intervenções psicoterápicas, cirúrgicas ou de reabilitação neuropsicológica. Constatou-se que, entre os dois tipos de avaliação, existem muitas semelhanças, quanto aos conhecimentos e habilidades necessários, bem como os métodos avaliativos utilizados, ficando difícil diferenciá-las. Mas em relação às diferenças existentes entre as avaliações, percebeu-se que o fator mais relevante é que na avaliação neuropsicológica o objetivo é identificar os prejuízos e o funcionamento cerebral decorrente destes, utilizando as potencialidades para reabilitá-los. Outro fator é que a procura por uma avaliação neuropsicológica não vem por parte do avaliado e sim através de encaminhamento de outro profissional. Na avaliação psicológica, considera-se, além dos prejuízos e potencialidades, também suas características da personalidade e da emoção. Sendo assim, a procura por uma avaliação pode vir do avaliado e através do encaminhamento de outro profissional. Percebe-se que há poucos estudos ainda na área da avaliação neuropsicológica, em comparação com os estudos na área da avaliação psicológica, pois a primeira área é considerada muito nova dentro das neurociências. Sendo assim, a realização de estudos nesta área, poderá contribuir para um melhor entendimento e ampliação da mesma. Ressaltamos ser relevante a realização de estudos, tanto na área de avaliação psicológica, quanto na área de avaliação neuropsicológica, pois estas duas áreas estão cada vez mais interligadas, possibilitando um melhor entendimento do indivíduo. Sugere-se por fim, a realização de estudos que possam abordar o tema discutido aqui com um maior número de participantes. Sugere-se também buscar métodos de coleta de dados mais específicos, como a análise de documentos resultantes de cada um dos tipos de avaliação estudados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRISQUETA-GOMES, Jacqueline ; SANTOS, Flávia Heloísa dos. Reabilitação Neuropsicológica da Teoria à Prática. São Paulo: Artes Médicas, 2006. ANDRADE, Vivian Maria; SANTOS, Flávia Heloísa dos; BUENO, Orlando Francisco Amodeo. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004. ANASTASI, Anne; URBINA, Suzana. Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2000. ATKINSON, Rita L. et al., Susan. Introdução à Psicologia. 13 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. BEAR, Mark; CONOORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências, Desvendando o Sistema Nervoso. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. CAIXETA, Marcelo. et. al. Neuropsicologia dos Transtornos Mentais. São Paulo: Artes Médicas, 2007. COSTA, I. Danielle et. al. Avaliação neuropsicológica da criança. Jornal de Pediatria. Porto Alegre. v. 80, n. 2 (supl.), 2004. p. 111-116. FONTOURA, Denise Ren da et. Al. Dissociação entre alterações de linguagem e preservação da musicalidade em uma criança com epilepsia refratária, Journal of Epilepsy and Clinical Neurophysiology, Porto Alegre, v. 11, n. 3, set. 2005, p. 137-140. GAZZANIGA, M. 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