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A culinária no Egito


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Segundo Pierre Tallet, os alimentos despertam nas pessoas uma ‘’curiosidade’’ nas culturas humanas, e traz com sigo uma força na sociedade e sobre os homens.
Os historiadores despertaram para o fato de que os alimentos são uma chave privilegiada para abrirmos as portas à compreensão das culturas humanas e que a comida do dia- a-dia, ou aquela consumida em ocasiões especiais, é, não só uma expressão das relações sociais mas também uma força que atua sobre a sociedade e sobre os homens. ( HISTÓRIA DA COZINHA FARAÔNICA, TALLET PIERRE,P.11-12).
Havia uma divisão de trabalho que definia o que produziam e quem consumia esses alimentos, eles tinham vários significados.“[...]os alimentos não apenas saciam a fome, eles dão forma, cor,e sentido às diferenças entre os homens: entre culturas diversas e dentro de uma mesma cultura, os alimentos são assim, agentes sociais.” ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P. 12) 
 
Os pobres consumiam só determinados alimentos quando haviam festivais religiosos e lá eram distribuídos, a mesa dos faraós e das pessoas mais ricas era sofisticada, combinavam-se os aromas, texturas, sabores, carne de todos os tipos, sua preparação era feita de vários jeitos, pães com muitas formas, bebidas especiais, doces, isso tudo marcava as diferenças entra as classes sociais no Egisto Antigo, da mesma forma que ocorre nas sociedades contemporâneas.( TALLET, 2001, P. 12)
 “[...] permite que tememos consciência de que os alimentos que consumimos, os pratos que elaboramos, expressam o que somos, como seres sociais, que, ao mesmo tempo em que fazemos culinária, a culinária nos faz ser o que somos[...]” A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001)
 
Na povoação simples haviam muitos camponeses, que alimentavam-se principalmente de diversos tipos de pães, obtidos através da cevada ou do trigo e uma cerveja elaborada ao longo do ano em todos os lares. Quando essas pessoas trabalhavam para o faraó o seus pagamentos eram feitos através de pães e de cerveja, esses alimentos serviam como moeda de troca.( TALLET, 2001)
Na antiguidade era costume chamar aos egípcios de os “comedores de pão”[...] o pão não era um acompanhamento mais sim o alimento principal da refeição. As camadas mais pobres viviam na prática apenas de pão. Ainda hoje os descendentes dos egípcios antigos abrem os pães redondos com uma faca e colocam lá dentro o resto da refeição[...]comendo o conjunto como se fosse uma espécie de pastel recheado( JACOB, HEINRICH EDUARD,SP:NOVA ALEXANDRIA,2003,P.70)
Nos festivais feitos pelos faraós o próprio estado dava uma quantidade de alimento para se organizarem e usufruir das comidas e cerveja, aí os povos de classe social mais baixa teriam acesso a alimentação mais rica e variada.( TALLET, 2001)
“Em ambientes mais abastados, o tema do banquete é representado com freqüência, em especial em numerosas tumbas da necrópole tebana, A abundância, até mesmo o excesso de alimentos com freqüência é representada no contexto das festa familiares celebradas em louvor aos mortos. Embora se represente os convidados diante de um amontoamento de comidas, praticamente nunca eles são vistos consumindo os alimentos.”( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.37)
 	Na cozinha, eram encontradas panelas que poderiam ter contato direto com o fogo, além disso muitas bacias e malgas. Com o tempo o formato do pão foi mudando e foi e suas bacias eram um dos utensílios mais utilizados pela cerâmica.No império novo o formato do pão era mais alongado. Os recipientes que faziam o formato eram utilizados uma vez, porque depois do cozimento teria que quebrá-lo para retirar o pão. ( TALLET, 2001)
“Na falta de receitas, o que se encontrou com freqüência nos assentamentos urbanos foram os utensílios que os egípcios utilizavam para cozinhar.” ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.49)
O local onde era preparado era simples, com fogueiros circulares, feitos de argila onde se colocavam os recipientes e poderia estar no interior ou no exterior da casa.(TALLET, 2001).
Nas casas de luxo, era ocupado o pátio (ar livre) para ser feito o cozimento de alimentos, carne, aves, peixe, esse local era privado, tinha apenas toldos para proteger os cozinheiros do sol, enquanto os aposentos dos nobres serviam apenas para a recepção de convidados. A cozinha, por sua vez, era localizada no exterior dos muros de preferência no lado sul dos quartos, para evitar que entrasse fumaça, pois o vento dominante do Egito vem do norte.( TALLET, 2001).
Os egípcios faziam três refeições por dia, no período da manhã antes de irem trabalhar, de meio-dia e a última refeição durante a noite, era a mais importante, pois a família ficava unida.( TALLET, 2001).
O trigo era o produto essencial, e foi o cultivo mais importante do país. O trigo deles é diferente do nosso atual. Depois da colheita os produtos eram armazenados em depósitos para a panificação ao longo do ano. Cada armazém era dividido em departamentos dedicados aos principais alimentos. O do pão era variado por diferentes formatos, foi também a base da alimentação egípcia. Nas tumbas foi representada muito a sua elaboração.( TALLET, 2001).
“[...]o ‘’número de pães’’ significava a riqueza, e os fornos de pão espalhados pelo país eram quase comparáveis a oficinas de produção de moedas[...]” ( JACOB, HEINRICH EDUARD,SP:NOVA ALEXANDRIA,2003,P.71).
 “O padeiro dedica-se inteiramente a seu trabalho: quando coloca os pães no fogo, sua cabeça penetra completamente no interior do forno, e seu filho segura vigorosamente pelos pés, pois, se escapasse de suas mãos, cairia até o fundo do forno.” ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.64).
Produziam diversidades de doces, e eram utilizados no seu preparo, mel, tâmaras, alfarrobas e alguns outros adoçantes disponíveis naquela época. Nas tumbas há poucas imagens mostrando as confeitarias, o preparo, receitas desses doces.( TALLET, 2001, P.65).
Pode-se deduzir a partir das informações das tumbas que havia o biscoito shayat ou biscoito de chufas segundo as pinturas da tumba de vizir Rekmire e de acordo com o papiro médico Eberts. As receitas eram parecidas, apesar de que o de Rekmire tinha chufas , mel e gordura, mas os ingredientes do outro biscoito eram mais modestos, e a massa era feita com farinha de trigo. Através do papiro Ebers chegaram algumas receitas de tortas doces recomendadas para curar a tosse.( TALLET, 2001, P. 67).
 
A fartura de carne no Egito era grande, procuradas a partir da caça ou domesticação.Entre os animais domésticos estavam os porcos e as cabras, e deles foram encontrados muitos ossos. O gado tinha um lugar privilegiado.( TALLET, 2001, P.70)
“O faraó, a família real e as grandes instituições religiosas do país mantinham rebanhos de milhares de cabeças de gado, especialmente nas zonas semi-áridas, nas quais o cultivo de cereais era difícil.” ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.75)
Nos cultos celebrados não era difícil de se encontrar como oferta um boi inteiro. Nem todo mundo se alimentava dessa carne. Junto aos defuntos foram encontrados pedaços da carne bovina mumificados junto com o morto.( TALLET, 2001).
Consumiam também porcos-espinhos, lebres e também ratos que foram encontrados no estômago de algumas múmias. O consumo de carne pelos egípcios era grande, o difícil era saber como era feito o seu preparo.( TALLET, 2001).
É importante ressaltar que havia uma série de produtos derivados, como o leite, o queijo e a manteiga. O leite era um derivado muito importante na civilização egípcia, esse produto se encontra muito nos templos com desenhos de vacas ordenhadeiras, e se encontra presente nas oferendas.( TALLET, 2001).
 Cerveja e vinho
‘’Deixando de lado a água, o leite e os sucos das diferentes frutas, os egípcios evidentemente deviam desfrutar de um grande número de bebidas,mas apenas se representa com regularidade a preparação de duas bebidas fermentadas: a cerveja e o vinho. Ambas desempenhavam um papel importante na vida social e religiosa do país e, sem dúvida, a cerveja foi a mais significativa.’’ ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.147)
A cerveja era elaborada em todos os lares egípcios, na sua preparação poderiam colocar produtos muito variados: figos, tâmaras, tremoços, frutos de pérsea, coentro, mel... ( TALLET, 2001, P. 148).
A partir de um texto do século IV depois de Cristo por Zózimo de Ponópolis podemos ver como era a elaboração desse líquido.
‘’ Para fazer cerveja: obter cevada branca, limpa e de boa aparência, deixar macerar um dia e depois tirar da água e deixar descansar num lugar resguardado até a manhã seguinte. A seguir, deixar macerar durante mais 5 horas. Depois derramar num recipiente poroso de um braço de profundidade e conservar úmido. Deixar assim até que se formem flocos, depois esta emulsão é amarga. Moer cevada e formar pães, cozê-los superficialmente até que comecem a dourar. Dissolver então em água açucarada e passar através de uma peneira fina. Quando se chegue a este ponto, os dois preparados são misturados. Outros fazem os pães e depois num forno com água e os deixam cozer um pouco, sem permitir que ferva ou esquente demais. Depois são retirados da água (os pães) e coberto ( o liquido), ( o preparo) é aquecido e provado.’’ ’’ ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.149)
 Há pouco tempo atrás esse tipo de elaboração era feita no Egito com o nome de buza, e também foi uma especialidade núbia.
 O vinho foi uma outra grande bebida dos egípcios. No início era importado da região do Levante, com o tempo os egípcios aprenderam a aclimatar este cultivo. Nas tumbas aparecem suas diferentes etapas, e era mencionado muitas vezes como oferenda.( TALLET, 2001, P.154).
 Sua preparação era feita em um “caramanchão”, nesse local era difícil se manter em pé, os coletores trabalhavam ajoelhados colhendo os cachos e os colocando em cestos. O esmagamento, o repisar era imediato para que as uvas não se estragassem. No império antigo esse trabalho era feito em pipas onde os colhedores pisavam na uva, depois de fazer isso era necessário separar o suco das cascas e dos talos. Era feito pelo saco-lagar, que trata-se de um saco de linho, de a partir dai a uva é colocada no interior do pano e quatro homens o retorcem. Esse saco foi descartado após as melhorias da pipa. Através da pipa o líquido é recolhido em um balde para passá-lo as ânforas. O vinho podia envelhecer de cinco à trinta anos antes de ser consumido.( TALLET, 2001, P.155).
 Os egípcios tinham um consumo diário de bebidas como pudemos observar e não apenas usavam como também abusavam delas.( TALLET, 2001, P. 160).
 Os vinhateiros tinham um termo: “Bebe, embriaga-te, não deixes de fazer o que te apetece e que o vinho te caia na forma que desejes.” ( A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001, P.160). Portanto a embriaguês podia ser considerada negativa. (TALLET, 2001).
 Nos banquetes era comum a embriaguês, principalmente das mulheres, precisando da ajuda das criadas. Havia boates antigas chamadas “casas da cerveja”, lá existia diversos tipos de bebidas alcoólicas e se encontravam prostitutas. Consumiam álcool de formas variadas, a embriaguês poderia ser considerada de várias maneiras, as vezes poderia ser ate desejável, como instrumento de passagem entre o mundo dos vivos e dos mortos. ( TALLET, 2001, P.161).
 Preparação do banquete egípcio.
A alimentação do faraó que era um monarca sagrado e que servia de intermediário entre os deuses e os seres humanos era extremamente privilegiada. A ele chegavam todos os tipos de alimentos, havia um elevado número de funcionários no palácio, lá encontravam-se, padeiros, cervejeiros, açougueiros... A cozinha egípcia era farta.
A preparação de um banquete consistia em diversos pratos, alguns deles eram:
Salada de lentilha; ovos dourados; mujol conservado em sal; peixe recheado de passas e pinhões; peixe ao forno com passas e amêndoas; ensopado de coelho; brochete de cordeiro; frango recheado; codornas recheadas; grão de bico que estava principalmente no cardápio dos faraós. Com o passar do tempo os pratos foram adaptados pelos gostos atuais, incluindo alguns produtos que não estavam disponíveis no tempo dos faraós.
“O grão-de-bico [...] é ainda hoje muito popular no vale do Nilo, e com ele se prepara um tipo de patê chamado homus”.(HISTÓRIA DA COZINHA FARAÔNICA, TALLET PIERRE, P.159).
Considerações Finais
	Através do livro “ A culinária no antigo Egito” de Pierre Tallet, sintetizei alguns pontos mencionados no livro, que davam ênfase aos alimentos mais importantes como o pão, doces, a cerveja que também era fundamental, e produzida em todos os lares. A civilização foi muito conhecida por suas antiguidades, talvez pela acumulação de alimentos a culinária seja um dos melhores guias para estudar a mentalidade desse povo.
 	 
Referências Bibliográficas:
A CULINÁRIA NO ANTIGO EGITO, PIERRE TALLET, 2001
JACOB, HEINRICH EDUARD,SP:NOVA ALEXANDRIA, 2003
 TALLET PIERRE, HISTÓRIA DA COZINHA FARAÔNICA: A ALIMENTAÇÃO NO EGITO ANTIGO. TRADUÇÃO DE OLGA CAFALCCHIO, SP: SENAC, 2005

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