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Teoria do Apego Adulto

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159 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
ESSE AMOR ME ADOECE: UM ESTUDO 
EXPLORATÓRIO DA TEORIA DO APEGO 
ADULTO COM MULHER EM CONFLITO NAS 
RELAÇÕES AFETIVO-CONJUGAL 
Alisandra Barboza e Lucilene Ribeiro da Silva* 
Orientadora: Profª Geovana Rodrigues Santos
1
 
Resumo: Apego é concebido como um processo relacional de co-criação de um 
senso de confiança mútua entre os parceiros, processos esses vinculados às 
interações afetivas desde o início da vida. Este artigo objetiva investigar as 
influências das relações de apego adulto na relação afetivo-conjugal com uma 
mulher que freqüenta programas anônimos de recuperação. Para tanto, faremos 
uma revisão da Teoria do Apego, apresentando as idéias iniciais de Bowlby 
sobre os padrões de apego infantil até Mary Main e suas perspectivas acerca do 
apego adulto. O presente estudo procura analisar, exploratoriamente, o estilo de 
apego apresentado pela voluntária através de uma análise qualitativa utilizando 
o AAI (Adult Attachment Interview Protocol) e uma entrevista semi-estruturada 
das relações com seus parceiros. 
Palavras-chaves: Apego, relações de apego adulto, relação afetivo-
conjugal, programas anônimos de recuperação, AAI. 
INTRODUÇÃO 
A teoria do apego é uma teoria psicológica, evolutiva e 
etológica sobre as relações entre os seres humanos e uma das teorias 
mais influentes do século sobre desenvolvimento das relações 
sociais. Tendo como base os estudos discutidos por Bowlby quanto 
ao apego infantil, Mary Main, posteriormente, discutirá aspectos 
referentes ao apego adulto e apresentará a discussão de três padrões 
de apego adulto. Neste estudo descreveremos o que é o apego 
adulto, os tipos de estilo e analisaremos, exploratoriamente, as 
influências das relações de apego adulto no relacionamento afetivo-
 
* Discentes do 7º período de psicologia da FACHO ( Faculdades de Ciências Humanas de Olinda). 
¹ Psicóloga Clínica pela FAFIRE, Especialista em Saúde Mental pela UFPE, Mestre em 
Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela UNICAP. Professora da disciplina Psicopatologia 
Especial da FACHO. 
 
160 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
conjugal de uma voluntária que frequentava programas anônimos de 
recuperação através de uma análise qualitativa. 
DESENVOLVIMENTO 
1. Bases Conceituais sobre a teoria do apego 
John Bowlby
2
 foi um psiquiatra londrino que desenvolveu 
estudos sobre a teoria do apego. Graduado pela Universidade de 
Cambridge em 1928, iniciou sua formação profissional no Instituto 
Britânico de Psicanálise com psiquiatria infantil. Bowlby se tornou 
chefe do Departamento da Criança na Clínica Tavistock 
(Inglaterra), onde concentrou seus estudos clínicos sobre os efeitos 
da separação mãe-bebê. Finalizou uma monografia para a 
Organização Mundial de Saúde sobre o triste destino de crianças 
abandonadas na Europa do pós-guerra e colaborou com James 
Robertson em um filme, A Two-Year-Old, para a introdução 
referente às visitas da família a crianças hospitalizadas. Estes 
trabalhos chamaram a atenção de clínicos para os efeitos 
devastadores da separação materna, e levaram à liberalização da 
visita da família a crianças hospitalizadas. Assim, John Bowlby 
publicou a sua primeira formulação da teoria do apego em um 
artigo intitulado The nature of the child‟s tie to his mother 
tornando-se um marco nas pesquisas na área do apego (Bowlby, 
1958; Lyra, 2008). Posteriormente, publicou o primeiro volume, 
Apego, da sua trilogia “Apego, Separação e Perda”, dando início a 
várias pesquisas interessadas na investigação da relação afetiva 
precoce estabelecida entre o bebê e os responsáveis pelos seus 
cuidados iniciais – geralmente a figura materna. O princípio mais 
importante da teoria do apego é que uma criança necessita para 
desenvolver qualquer tipo de relação de pelo menos um cuidador 
primário, para o seu desenvolvimento social e emocional. As 
 
2 Os conceitos de Bowlby foram construídos com base nos campos da psicanálise, biologia , etologia, 
psicologia do desenvolvimento, ciências cognitivas e teoria dos sistemas de controle (BOWLBY, 
1989; BRETHERTON, 1992) 
 
 
161 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
observações sobre o cuidado inadequado na primeira infância e o 
desconforto e a ansiedade de crianças pequenas quanto à separação 
dos cuidadores, levaram Bowlby a estudar os efeitos do cuidado 
materno sobre as crianças, em seus primeiros anos de vida. Para 
esta teoria, o principal interesse de investigação está no 
comportamento da criança em relação a um determinado adulto que 
atua para ela como uma figura de apego. (Lyra 2009, p. 27). Mais 
especificamente, 
Dizer que uma criança é apegada ou tem apego por 
alguém, significa que ela está fortemente disposta a 
buscar proximidade e contato com uma figura 
específica, principalmente quando está assustada, 
cansada ou doente. (...) A teoria do apego é uma 
tentativa tanto de explicar o comportamento de 
apego, com seu aparecimento e desaparecimento 
episódicos, como também os apegos duradouros que 
as crianças formam (e também os adultos) para com 
determinadas figuras (BOWLBY, 1969/1984, p. 396, 
grifo nosso). 
No início da década de 50, a equipe de pesquisadores de 
Bowlby acolheu a norte-americana Mary Ainsworth
3
 que, após 
alguns anos elaborando pesquisas junto à equipe, viajou para 
Uganda onde passou três anos (1953-1956) e realizou um estudo de 
observação naturalista que veio a confirmar novas idéias etológicas 
de Bowlby. A partir das contribuições de Ainsworth, Bowlby 
aprofundou a sua teoria em três livros fundamentais: Attachment, 
Separation e Loss (respectivamente, 1969, 1973 e 1980). Segundo 
Bowlby (1990), o estabelecimento de um modelo de apego seguro 
ou inseguro fornece a base para a formação de um modelo funcional 
interno, uma lente a partir da qual o indivíduo vai ver o mundo e a 
si próprio. Mary Ainsworth e cols.(1978) desenvolveram um estudo 
longitudinal, no qual observaram 26 famílias e seus bebês em suas 
casas, duas vezes por semana, durante duas horas, ao longo de um 
 
3 Discípula de Bowlby, psicóloga e pesquisadora, trabalhou com William Batz, autor da “Teoria da 
Segurança”, que a influenciou no seu trabalho. 
 
162 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
período de nove meses. Baseando-se nos dados provenientes deste 
estudo, foram identificadas diferenças individuais na qualidade das 
relações mãe-bebê que pareciam estar associadas a diferentes 
padrões de apego. (VILLACHAN-LYRA, 2009, p.38). 
Denominado Situação Estranha 
4
 esse estudo possibilitou a 
identificação de três padrões diferentes de apego: 
Apego seguro: As crianças classificadas nesta categoria 
demonstraram ser ativas nas brincadeiras, buscavam contato com a 
mãe após uma separação breve e eram confortadas com facilidade, 
voltando a se envolver em suas brincadeiras; 
Apego inseguro/esquivo: Nesta classificação incluem-se 
aquelas crianças que após uma breve separação da mãe, evitavam 
reunir-se a ela quando esta retornava; 
Apego inseguro/resistentes: Essas crianças demonstraram 
na situação experimental uma oscilação entre a busca de contato 
com sua mãe e a resistência ao contato com esta, além de se 
mostrado mais coléricas ou passivas que as crianças com os padrões 
de apego anteriormente descritos. Bowlby, citado em Ainsworth & 
Marvin (1994, p.12), diz que no sentido mais fundamental, a 
classificação tem por base o que nós aprendemos nas observações 
naturalísticas. 
No entanto, diante do retornoda figura materna, os bebês 
classificados como inseguros ansioso-resistentes não apresentam 
comportamentos ativos na tentativa de retomar o contato com a 
mãe. Um quarto tipo de apego – denominado 
“desorganizado/desorientado” – foi posteriormente identificado por 
Main e Solomon (1990) e inclui aqueles bebês que não apresentam 
padrões de comportamento específicos de resposta e mostram-se 
bastante confusos durante o procedimento de situação estranha. É 
 
4 O procedimento de Situação Estranha (Strange Situation Procedure-SSP) baseava-se na observação 
do comportamento do bebê diante de um estranho. Objetivava provocar respostas por parte do bebê 
que são concebidas como indicativas da qualidade da relação de apego estabelecida entre o bebê e a 
sua principal figura de apego. 
 
163 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
como se esses bebês não apresentassem estratégias visíveis para 
lidar com a situação de angústia causada pelo procedimento de 
situação estranha (VILLACHAN-LYRA, 2009, p.40). 
2. Mary Main e o apego adulto 
Embora Bowlby, ao longo de sua obra (1973, 1977 e 
1988), tenha reconhecido em diversas ocasiões a importância do 
apego ao longo de todo o ciclo da vida humana, as suas 
investigações centraram-se apenas na infância. Bowlby e Ainsworth 
focaram as atenções nas origens desenvolvimentais das relações de 
apego da criança e seus pais, sobretudo, a mãe. A partir da década 
de 80 alguns pesquisadores ofereceram contribuições que tornaram 
relevantes os estudos das relações de apego na adolescência e na 
vida adulta. Entre eles, salientam-se as pesquisas de Main
5
 e sua 
equipe sobre a dimensão representacional dos vínculos dos quais 
resultou na construção do AAI – Adult Attachment Interview 
(George, Kaplan & Main, 1984). De acordo com Crowell, Fraley e 
Shaver (1999) o conceito de Apego Adulto pressupõe ideais 
fundamentais com importantes implicações para o processo de 
avaliação. A primeira liga-se aos aspectos normativos do sistema de 
vinculação e à sua relevância durante a idade adulta; a segunda, à 
presença de diferenças individuais na organização da vinculação, no 
contexto das relações interpessoais como elementos de congruência 
entre a vinculação na infância e na idade adulta. Weiss (1982, 1991) 
apontou a singularidade das características emocionais e 
comportamentais (desejo de proximidade a figura de vinculação em 
alturas adversas, conforto, na presença da figura de vinculação, 
ansiedade em face de inacessibilidade da figura de vinculação, 
respostas de luto em situação de perda), a generalização da 
experiência, dado que elementos emocionais associados à 
 
5 Mary B. Main, PhD. e docente do Departamento de Psicologia da UC Berkeley Academic. Suas 
pesquisas são focadas em Neurociência e estudos comportamentais, tais como; apego, diferenças 
individuais na relação de representação no discurso, desenho e narrativa; distúrbios funcionais da 
consciência; etologia. 
 
164 
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o
 1 
vinculação durante a infância são expressos nas relações de 
vinculação adulta, e, ainda, a ligação temporal entre os fenômenos, 
uma vez que a centralidade dos pares como figuras de vinculação se 
encontra associada ao esbatimento dos progenitores enquanto 
figuras de vinculação primárias. (Canavarro, Dias & Lima, 2006). 
Quanto ao apego do adulto, Mary Main (2001) distinguiu-o 
do apego infantil. Durante a 1ª infância, o apego caracteriza-se 
como um interesse insistente em manter proximidade com uma ou 
algumas pessoas selecionadas; uma tendência ao usar esses 
indivíduos como base segura de referência para a exploração do 
desconhecido. Caracteriza-se também como refúgio, na figura de 
apego, para busca de segurança em momentos de medo. Assim, na 
infância, o apego é considerado seguro ou inseguro com relação à 
figura de apego. Já a segurança em adolescentes e adultos não se 
identifica com nenhuma relação em particular, ou seja, com 
nenhuma figura de apego específica, nem do passado nem do 
presente. O que se investiga são as diferenças individuais do estado 
mental e história global do apego. 
A categoria seguro-autônoma faz um paralelo com o grupo 
de crianças de apego seguro. Nos adultos, esse grupo apresenta um 
relato espontâneo e vívido das experiências de infância, com 
lembranças positivas e uma descrição equilibrada de ocorrências 
infantis difíceis. Os adultos que se enquadram na categoria de apego 
evitativo ou desapegado apresentam um relato idealizado da 
infância, falha na reconstrução das memórias infantis e, se 
dificuldades nessas experiências são relatadas, seus efeitos são 
negados ou minimizados. A categoria preocupado-ansioso 
caracteriza-se por um relato que envolve experiências que podem 
ter sido confusas, vagas ou tempestuosas e conflitantes, 
apresentando inabilidade para se colocar nas situações infantis e 
apresentar um roteiro coerente dessas experiências. Isso também 
acontece no relato de experiências difíceis da infância, o que 
demonstra dificuldade de compreender as origens de emoções 
 
165 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
preocupantes nessa fase de desenvolvimento humano. A categoria 
de apego adulto desorganizado-desorientado está relacionada a 
relatos com sinais graves de desorientação e desorganização, 
principalmente quando os entrevistados são questionados sobre 
eventos traumáticos ou perduas importantes (CORTINA & 
MARRONE, 2003). 
METODOLOGIA 
Participante e Objetivos 
Este estudo objetivou analisar, exploratoriamente, as 
influências das relações de apego adulto no relacionamento afetivo-
conjugal de uma voluntária que frequentava programas anônimos de 
recuperação. Participaram deste estudo uma mulher, NSE
6
 médio, 
vivendo em zonas urbanas, nível escolar médio, profissional 
autônoma freqüentadora do programa de co-dependência química. 
Utilizamos como análise metodológica os conceitos da Teoria do 
Apego de Mary Main (1990), baseados no Protocolo de Entrevista 
de Apego Adulto - AAI, versão em língua portuguesa, cedida por 
Casellato (2004). A pesquisa desenvolveu-se em dois momentos 
distintos; no primeiro, utilizamos a versão do AAI; no segundo, 
utilizamos uma entrevista semi-estruturada referente às relações 
afetivo-conjugais. Objetivamos investigar: (a) O histórico do 
relacionamento, (b) A qualidade da relação, (c) Levantar dados 
sobre a estrutura familiar, (d) Identificar as principais figuras de 
apego, (e) Identificar as experiências significativas dos vínculos 
desenvolvidos até o presente. 
MÉTODO 
Utilizamos como recurso inicial o AAI e, a seguir, uma 
entrevista semi-estruturada. Ressaltamos que o objetivo principal 
foi realizar uma análise qualitativa, exploratória, através dos relatos 
obtidos e confrontá-los com a literatura apresentada, uma vez que, a 
 
6 Nível Sócio-econômico. 
 
166 
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o
 1 
correta utilização do instrumento científico citado requer 
treinamento específico para interpretá-lo
7
. A Adult Atachment 
Interview- AAI (George, Kaplan & Main, 1985, versão portuguesa 
de Casellato, 2004). Trata-se de uma entrevista semi-estruturada, 
biográfica, de tipo clínico, organizada em torno de um conjunto de 
temas que traduzem as principais questões do apego de acordo com 
as teorias de Bowlby (1969-1984, 1973, 1980). 
A entrevista leva cerca de uma hora para ser administrada e 
contém vinte questões de validação e tem uma extensa pesquisa 
para apoiá-lo
8
. Inicia-se com um breve resumo da históriada 
família, estimulando-se o sujeito a recordar as suas relações com os 
pais na infância, através da escolha de cinco adjetivos para 
caracterizar cada uma dessas relações. Progressivamente, são 
abordadas situações específicas e críticas do ponto de vista da 
relação de apego, nomeadamente, problemas ou dificuldades 
pessoais, doenças, acidentes, separações, situações de rejeição, 
ameaça de abandono pelas figuras de apego, castigos, maus-tratos e 
perdas de figuras significativas. A entrevista contempla ainda 
questões de natureza mais geral e avaliativa, através das quais o 
sujeito é solicitado a analisar a influência das relações com os pais 
na infância, ao nível do seu desenvolvimento pessoal, as razões para 
o comportamento dos pais, bem como, as mudanças ocorridas na 
relação ao longo dos anos. O sujeito é ainda questionado sobre as 
suas relações com outros adultos significativos e, na fase final da 
entrevista, sobre a sua relação atual com os pais. A abordagem de 
cada temática da entrevista é sempre efetuada a um nível mais geral 
(semântico) e a um nível mais específico (episódico). Deste modo, 
em cada questão, o sujeito é incentivado a recordar episódios ou 
acontecimentos ilustrativos das situações mencionadas e a avaliar o 
 
7 Curso fornecido pela UC Berkeley, Califórnia, a título de pós-graduação em dois semestres. 
8 Uma boa descrição pode ser encontrada no capítulo 19 do Anexo Theory, Research and Clinical 
Applications, editado por J. Cassidy & PR Shaver, Guilford Press, NY, 1999. Sob o título “The Adult 
Attachment Interview: Perspectivas históricas e atuais”, escrito por E. Hesse e, brevemente, traduzido 
neste artigo. 
 
167 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
impacto dessas experiências no desenvolvimento da sua 
personalidade e das suas relações de apego. A AAI foi concebida de 
modo a possibilitar a ativação do sistema de apego, levando o 
sujeito a evocar a história das suas relações com os pais, a partir das 
suas memórias e percepções. Nesse âmbito a entrevista tem como 
objetivo avaliar a representação atual do sujeito em relação ao 
apego, focalizando-se no modo como as experiências e seus efeitos 
são refletidos, avaliados e integrados pelo indivíduo e traduzidos em 
termos de coerência narrativa e discursiva, ao longo da entrevista. 
Neste sentido, a tarefa central colocada ao sujeito é (1) produzir e 
refletir acerca das memórias relacionadas com o apego e, 
simultaneamente, (2) manter um discurso coerente com o 
entrevistador (Hesse, 1999). 
No segundo momento utilizamos uma entrevista semi-
estruturada desenvolvida pelos pesquisadores deste estudo 
composta de dez questões a nível específico (episódico) com 
duração média de 40 minutos que objetivava explorar relatos sobre 
os relacionamentos afetivos anteriores e atuais (histórico) e 
identificar a qualidade dessas relações. As entrevistas foram 
videogravadas e transcritas a partir do método qualitativo, tipo 
estudo de caso, através da análise dos discursos confrontados com a 
metodologia apresentada. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Bowlby (1989) inicialmente pressupôs que os modelos 
internos desenvolvidos nas relações com as figuras de apego 
primárias tendiam, de maneira geral, a ser estáveis e a se 
generalizarem em relações futuras. Partindo deste pressuposto, 
outros pesquisadores, como Main (1985), observaram a necessidade 
de se desenvolverem estudos sobre os padrões de apego em faixas 
etárias diferentes. Com base na literatura e nos resultados obtidos 
através das entrevistas com uma voluntária de diferentes etapas 
evolutivas pudemos verificar que alguns fatores observados foram 
essenciais no desenvolvimento deste artigo. Após a realização das 
 
168 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
entrevistas e a utilização do AAI como recurso para análise, 
confrontamos os dados obtidos com a literatura apresentada acerca 
do apego adulto. A partir de uma análise qualitativa das respostas 
fornecidas pela voluntária pudemos observar características de uma 
co-dependência afetiva. Segundo Dantas (2009), a co-dependência 
sempre aparece em relação a outras pessoas, ou a uma situação na 
qual, por algum motivo interior e pessoal, o indivíduo sente-se 
preso ao “dependente”. Mesmo sabendo (conscientemente) que essa 
relação não está sendo saudável para si, não consegue se afastar e 
voltar-se para sua vida pessoal, colocando-se em segundo plano, e 
assim, vivendo em função do “dependente”. A história de uma 
determinada mulher observada como objeto de estudo, e mantida 
em situação de dependência durante dez anos revela uma trajetória 
de perdas e ausências desde a infância, marcada, pela ausência 
abrupta da figura paterna; 
“Minha infância foi muito difícil, porque eu perdi o 
meu pai com três anos de idade. Foi aí que nossa vida 
mudou, meu pai foi brutalmente assassinado, ele era 
dono de um posto de gasolina e um dos funcionários 
dele, que assassinou ele, por um problema lá que, eu 
nem sei ao certo qual é este problema. Eu era tão 
pequena, né! Três anos de idade...” ( A.L.B , 42 anos) 
Desta forma, supomos que, inconscientemente, muitas das 
suas escolhas afetivas por homens sempre mais velhos perpetuam-
se dentro deste sentimento de ausência sentida ao longo do seu 
desenvolvimento. Estas características ficaram claras na descrição 
da co-dependência afetiva estabelecida por ela em relação ao seu 
atual companheiro, um dependente químico. Para Dantas (2009), a 
co-dependência é sempre uma dependência “ao outro”. Pouco 
importa quem é esse outro, e sim, o que ele representa, pois, 
geralmente o co-dependente é dependente de um dependente. 
Pudemos perceber o grande nível de conflito vivido durante todo o 
relacionamento e as insistentes tentativas de continuidade destes. 
Percebemos claramente a co-dependência desta mulher ao seu 
 
169 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
companheiro a partir de situações corriqueiras, como a seguinte: 
“Desafio de tomar conta da empresa, tomar conta de 
tudo, todos os dias tem um desafio... realmente ele 
era muito experiente, ele não me deixava fazer nada, 
ele tomava conta de tudo até a feira ele fazia... tudo 
era com ele” (A.L. B, 42 anos). 
Utilizando-se da conceituação da co-dependência afetiva e 
analisando os relatos obtidos no AAI pudemos supor que a 
voluntária apresenta características de um apego adulto 
desorganizado/desorientado, mesmo sendo uma experiência 
inaugural com o método que apresentamos. Cortina & Marrone 
(2003), descreveram que este tipo de apego é caracterizado por 
voluntários que demonstram relatos de desorganização e 
desorientação graves, principalmente guando questionados sobre 
eventos traumáticos ou perdas importantes. Essas descrições estão 
fortemente presentes na entrevista e nas respostas repentina do pai e 
da irmã, a ausência afetiva da mãe e sobre presença de uma figura 
“paterna”. Este artigo objetivou ser mais um viés nas investigações 
acerca das relações de apego adulto; buscando mostrar como este 
pode influenciar nas relações adultas com os parceiros. 
REFERÊNCIAS 
ABREU, Cristiano Nabuco. Teoria do Apego: Fundamentos, 
pesquisas e implicações clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 
1ª Ed, 2005. 
CANAVARRO, Maria Cristina; DIAS, Pedro; LIMA, Vânia. A 
avaliação da vinculação do adulto: Uma revisão crítica a 
propósito da aplicação da Adult Atachment Scale-R, AAS-R) 
na população portuguesa. V.20, nº01, Lisboa, 2006. Disponível 
em <http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid...sci...> 
Acessado em 09 out. 2009. 
CASELLATO, Gabriela. Luto por abandono: Enfrentamento e 
correlação com a maternidade.São Paulo. 585f. Dissertação 
(doutorado) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 
 
170 
COM TEXTO, Ano VIII, n
o
 1 
Programa de Estudos Pós-graduados de Psicologia Clínica-Núcleo 
de Família e Comunidade. 
DALBEM, Juliana Xavier; DELL‟AGLIO, Débora Dalbosco. 
Teoria do Apego: Bases conceituais e desenvolvimento dos 
modelos internos de funcionamento. V 57, Ed 01, PP 12-24, 
2005. Disponível em <http//: scielo.com.br>. Acessado em 09 out. 
2009. 
HAZEN, Nancy. John Bowlby. Disponível em <http:// 
social.jrank.org/pages/103/Bowlby_John_1907/1990>. Acessado 
em: 10 out. 2009. 
JONGENELEN, Ines; SOARES, Isabel; GROSSMANN, Karin; 
MARTINS, Carla. Vinculação em mães adolescentes e seus 
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<http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/psi/v20n1/v20n1a02.pdf>. 
Acessado em 28 set. 2009. 
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Berkeley, 2009. Disponível em <http://berkeley.edu/> Acessado 
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MUÑOZ, Raquel Melzoso. Las categorias Del apego em El 
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estrés relacionado com El apego. Revista Internacional de 
psicoanálisis. nº 08, Julho.2001. 
VILLACHAN-LYRA, Pompéia. Relação de Apego Mãe-
Criança: Um Olhar Dinâmico e Histórico-Relacional. 22ºed. 
Recife: Editora Universitária, 2009, Cap. I, p. 27-46.

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