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Microbiologia do rúmen ZOO 613 Professor Jalison Lopes Zootecnista-DSc Microbiota � Nome dado ao conjunto de populações microbianas de um ecossistema que ocupam nichos ecológicos diferentes. � O ruminante caracteriza-se pela presença de uma intensa microbiota� O ruminante caracteriza-se pela presença de uma intensa microbiota no rúmen e no intestino. � A microbiota do rúmen é constituída principalmente de bactérias, protozoários e fungos anaeróbios. � Estabelece com o ruminante uma interação complexa de cooperação mútua obrigatória, denominada simbiose. Microbiota Microbiota ruminal Arcuri, 2003 2 a 3 Kg/dia passam para o Intestino DelgadoDelgado Teixeira, 2001 Ruminante e microbiota = Simbiose “Relação ecológica onde ambas as partes se beneficiam e não podem sobreviver sem o parceiro” Arcuri, 2009 Simbiose = “Contrato entre partes” Ruminante = hospedeiroRuminante = hospedeiro � Comida fresca � Antiácidos � Casa � Calor � Remoção do “lixo” Arcuri, 2009 Características do ecossistema ruminal � Equilíbrio entre entrada de alimentos e líquidos e a absorção e remoção dos produtos da fermentação.produtos da fermentação. �Matéria seca do conteúdo = 10 a 18% (depende da natureza do alimento) � Temperatura = 38 a 41°C (média 39ºC) � pH = 5,5 a 7,0 (ambiente tamponado) � � [ ] Oxigênio (� anaerobiose) � Pressão osmótica constante. “Constância de temperatura, pH e anaerobiose mantém ambiente ideal para crescimento microbiano”. Distribuição da microbiota no rúmen Simbiose = “Contrato entre partes” MicrobiotaMicrobiota � Digestão e fermentação de carboidratos, produzindo AVG’S (principal fonte de energia do ruminante). � Servir como fonte protéica de alta qualidade para o ruminante (60 a 90% da proteína que chega ao ID). � Síntese de vitaminas do complexo B e K. � Eliminação de substâncias tóxicas dos alimentos Bactérias ruminais � Pelo menos 200 espécies diferentes � População de 1010 a 1011/g de conteúdo ruminal � Atividade metabólica muito intensa �Maioria é anaeróbica obrigatória (também há facultativas) � Colonização do substrato a partir de 1 a 2 min após entrada no rúmen � Tempo para duplicação >20 minutos � Predomínio de espécies de acordo com a dieta Classificação das bactérias ruminais Classificadas em função dos substratos utilizados e dos produtos da fermentação em: �Celulolíticas ou fibrolíticas �Amilolíticas �Pectinolíticas �Lipolíticas �Proteolíticas �Archaea (metanogênicos) �Outras (Utilizadoras de AGV´s; lácticas; produtoras de amônia, ureolíticas) Celulolíticas ou fibrolíticas � Associam-se às fibras dos alimentos e degradam componentes da parede celular dos vegetais (hemicelulose e celulose); � Tem uma taxa de crescimento mais lento;� Tem uma taxa de crescimento mais lento; � pH ideal para atuação ≥ 6,2 � Principais produtos: Acetato, butirato, succinato, formato, lactato. � Principais espécies: Fibrobacter succinogenes, Ruminococcus albus (cel) , Ruminicoccus flaverfaciens , Butyrivibrio fibrisolvens (cel, hemicel) “Bactéria atacando a fibra da planta” Clímax de colonização por bactérias fibrolíticas Bactérias degradando celulose Amilolíticas � Fermentam o amido (presente em grande quantidade em grãos de cereais (como milho e sorgo). � Apresentam� taxa de crescimento� Apresentam� taxa de crescimento � pH ideal para atuação: 5,5-5,8 � Principais produtos: Acetato, Propionato, Succinato, Formato, Lactato. � Principais espécies: Streptococcus bovis, Ruminobacter amylophilus, Succinomonas amylolytica, Prevotella ruminicola, Selenomonas ruminantium, Succinivibrio dextriinosolvens Pectinolíticas � Fermentam pectina (carboidrato estrutural de rápida fermentação ruminal) � Apresentam características semelhantes as bactérias que fermentam carboidratos não estrutural (ex. amilolíticas)carboidratos não estrutural (ex. amilolíticas) � Principais produtos: Acetato, Propionato, Succinato, Formato, Butirato � Principais espécies: Lachnospira multiparus, Prevotella ruminicola, Butyrivibrio fibrisolvens, Bacteroides ruminicola � Fermentação das pectnolíticas mantêm pH ruminal mais alto em relação as bactérias amilolíticas porque não produz lactato. Lipolíticas � Hidrolisam lipídeos (triglicerídeos) produzindo glicerol e ácidos graxos. � Também são responsáveis pela biohidrogenação de ácidos graxos � Principais produtos: Acetato, Succinato, Propionato � Principal espécie: Anaerovibrio lipolytica Proteolíticas � Muitas bactérias presentes no rúmen são capazes de degradar proteínas. � No entanto, existem, bactérias essencialmente proteolíticas, que utilizam aminoácidos como fonte de energia primária e tem uma atividadeaminoácidos como fonte de energia primária e tem uma atividade proteolítica bem mais intensa que as demais. � Principais produtos: Acetato, Butirato, Propionato e AGV’s de cadeia ramificada. � Principais espécies: Peptostreptococcus sp., Clostridium aminophilum, Clostridium sticklandii. Archaea (Metanogênicos) � Archaea é um grupo de microrganismos presentes no rúmen diferente das bactérias cujos principais representantes são os metanogênicos. � Produzem metano (CH4) a partir de CO2 e H2 derivados da atividade fermentativa das demais espécies. � Principais espécies: Methanosarcina sp, Methanobrevibacter sp, Methanobacterium sp, Methanomicrobium sp. BactériasProdução de metano por ruminantes �O metano é um subproduto da fermentação ruminal. � Sua importância é viabilizar o funcionamento do rúmen devido a sua� Sua importância é viabilizar o funcionamento do rúmen devido a sua capacidadede retirar H+do ambiente ruminal � O metano pode amplificar o efeito estufa na atmosfera (capacidade de armazenar calor é 20x maior que CO2 ) � Ruminantes são considerados importantes contribuintes da emissão dos gases causadores do efeito estufa (3,3% do total dos GEE) Fontes globais de metano relacionadas às atividades humanas Adaptado de USEPA (2000). BactériasProdução de metano por ruminantes �Ruminantes domésticos representam uma das poucas fontes de CH4 que podemde alguma forma sermanipuladas. Emissão de CH por ruminantes pode ser obtida através da:����� Emissão de CH4 por ruminantes pode ser obtida através da: �Melhoria da dieta �Melhoria das pastagens � Suplementação alimentar �� Capacidade produtiva dos animais (melhoramento genético) � Outras medidas que resultem em ciclos produtivos mais curtos (� eficiência no processo produtivo) Conjunto coletor para medir CH4 entérico Técnica do gás traçador SF6 para medição de campo do metano ruminal em bovinos. Animal com cabresto coletor e canga armazenadora. Protozoários � 25 gêneros (todos anaeróbicos) � 105 a 106 /g de conteúdo ruminal �Tempo para duplicação de 24 horas em média � 10 a 100 vezes maiores que bactérias � 40 a 60% da biomassa microbiana total do rúmen � pH ideal para sobrevivência : 6,5 Protozoários �� Fluxo para o intestino (concentram-se na parte ventral do rúmen) �Armazenam uma grande quantidade de amido (fonte de energia) �Não são essenciais a sobrevivência de ruminantes �Presença proporciona efeitos benéficos e adversos � Predadores de bactérias, fungos e leveduras � Protozoários ciliados (predominantes no rúmen) são divididos em 2 grupos: Holotriquias e Entodinomorfos Holotriquias � Gêneros: Isotricha e Dasytricha � Tufos de cílios na porção anterior � Grande tamanho � Nadam mais rápido que os entodinomorfos � Substratos utilizados: amido e açúcares solúveis � Produtos da fermentação: H2, acetato, lactato, propionato.� Predominam em dietas a base de grãos de cereias Entodinomorfos � Gêneros: Entodinia, Diplodinium, Eudiplodinium, Polyplastron, Ophryoscolex, Epidinium �Pequeno tamanho � Principais substratos utilizados: amido, hemicelulose, celulose � Produtos da fermentação: H2, acetato, butirato, propionato, lactato e formato �Predominam em dietas a base de forragem Efeitos da presença de protozoários no rúmen �Mantêm a estabilidade da fermentação ruminal e do pH, evitando a acidose, devido a estocagem em seu corpo de amido e açúcares provenientes da dieta e liberação gradativa dos mesmos (importante em dietas com���� grão).dieta e liberação gradativa dos mesmos (importante em dietas com���� grão). � Destruição intensa de bactérias ruminais (� produção total de proteína microbiana e eficiência energética) pode comprometer o desempenho animal (principalmente em dietas com���� volumoso). � A maioria dos resultados na literatura demonstram que a defaunação (eliminação dos protozóarios do rúmen) provoca ���� de desempenho e eficiência alimentar (� produção de metano e� produção de propionato). Bactérias e protozoário Van Soest, 1994 Protozoários se dividindo Protozoário com bactérias aderidas Fungos anaeróbicos � 0 a 103 - 105 / g conteúdo ruminal � Principais espécies: Neocallimastix frontalis, Sphaeromonas communis, Piromonas communisPiromonas communis � Biomassa aumenta substancialmente em dietas ricas em volumosos e estão praticamente ausentes em dietas ricas em concentrados (sensíveis a � pH ruminal). � Dietas fibrosas e de ���� qualidade nutritiva ���� ���� população de fungos no rúmen, (pode chegar a 8% da biomassa ruminal). Fungos anaeróbicos � São hábeis em utilizar uma ampla variedade de carboidratos solúveis como fonte de energia e utilizam quase todos os polissacarídeos das plantas (exceção da pectina e do ácido poligalacturônico). � Produzem AGV’s, gases, e pouco etanol e lactato � Principal função dos fungos é facilitar a digestão da parede celular � A ação dos fungos na parede celular diminui a rigidez estrutural das forragens e aumenta a superfície acessível para a ação das bactérias. Zoósporo Esporângio Ciclo de vida de fungos anaeróbicos no rúmen Van Soest, 1994 Rizóides Esporângio Substrato lignocelulósico (alimento fibroso) Rompimento físico da fibra por fungos Atkin, 1986 Fungo aderido às fibras vegetais de amostra de líquido ruminal Abrão, 2010 Protozoário Fungo Bactérias Inter-relações da microbiota ruminal �Competiçãomicrobiana � Predação� Predação � Antagonismo � Parasitismo � Estratégias fisiológicas �Colaboraçãomicrobiana � Sinergismo � Transferência inter-específica de H2 BactériasPredação Protozoários são os predadores principais �Predação de bactérias�Predação de bactérias •� Biomassa bacteriana ruminal (em até 90%) e fluxo de proteína microbiana para o intestino delgado �Protozoários de espécies maiores predam os de espécies menores �Protozoários predam fungos ruminais BactériasAntagonismo �Ação opositora entre espécies, que quando juntas diminuem a efetividade de pelo menos uma delas �Relação entre duas espécies na qual os indivíduos de uma espécie afetam adversamente os indivíduos da outra espécie � Inibição do crescimento de uma espécie de organismo por uma outra espécie, que seja competidora pelo mesmo nicho ecológico Arcuri, 2009 BactériasAntagonismo Principal mecanismo é a produção de BACTERIOCINAS “Bacteriocinas são peptídeos com atividade antimicrobiana produzidos por espécies de bactérias que em geral disputam oproduzidos por espécies de bactérias que em geral disputam o mesmo nicho trófico” Ex: �Ruminococcus albus pode produzir bacteriocinas contra R. flavefaciens � Bactérias celulolíticas podem produzir bacteriocinas contra fungos ruminais BactériasParasitismo Vírus bacteriófagos � Presentes no rúmen em larga quantidade. � Específicos para diferentes bactérias � Patógenos obrigatórios de bactérias. � Capazes de destruir as bactérias. BactériasEstratégias fisiológicas � Afinidade específica por substratos � Produção de metabólitos tóxicosProdução de metabólitos tóxicos �� Taxa de crescimento � Sobrevivência em pH baixo Ex: Streptococcus bovis < 1% em geral passa a predominante com mudança para dieta rica em amido. BactériasSinergismo � Interação de espécies ou indivíduos que, quando combinados produzem um efeito total que é maior que a soma dos efeitos individuais.individuais. � Ação conjunta de organismos que resulta no aumento da efetividade de cada um . � Contrário de antagonismo. Arcuri, 2009 Exemplo de Sinergismo entre bactérias ruminais (Lana, 2005) Amilolítico Exemplo de sinergismo entre espécies de bactérias no rúmen “lactatolítico” requer aa Celulolítico Requer AGVs ramificados: na presença das outras espécies, cresce mais rúmen Arcuri, 2009 Transferência inter-específica de H2 Bactérias “ A dieta que o animal recebe diariamente não é diretamente para seu trato; mas sim para alimentar a microbiota ruminal. Caso a Efeito da dieta sobre a microbiota ruminal seu trato; mas sim para alimentar a microbiota ruminal. Caso a microbiota seja bem cuidada, ela retribuirá e cuidarámuito bem do seu hospedeiro, o ruminante” Robert Edward Hungate , 1966 Bactérias Além da composição química, outros fatores da dieta que interferem namanutenção e estabilidade damicrobiota ruminal são: Efeito da dieta sobre a microbiota ruminal � Estrutura física da dieta � Presença de compostos secundários � Uso de aditivos alimentares Comparação entre concentrações de bactérias ruminais de bovinos e ovinos obtidas de mesmos animais quando alimentados com dietas ricas em forragens ou em concentrados. Espécie Número de animais Período de amostragem (horas após alimentação) Nº de bactérias x 109/mL ou g de conteúdo ruminal Forragem Concentrado Bovino 1 4 2,4 11,0Bovino 1 4 2,4 11,0 Bovino 2 16 11,0 18,6 Bovino 3 4 a 5 0,3 0,3 a 0,51 Ovino 3 0 5,6 21,0 Ovino 4 2 2,6 8,5 Adaptado de Dehority e Opin (1997) – compilação de diversos autores Bactérias Processamento do alimento facilita o ataque microbiano e pode ser feito através de: Estrutura física � Quebra e Moagem � Umidificação ou hidratação � Tratamento com vapor � Ruminação adequada Bactérias Substâncias antinutricionais presentes em um grande número de forrageiras tropicais: Compostos secundários � Constituiem mecanismo de defesa das plantas contra herbívoros em geral � Não fazem parte de vias metabólicas vitais � Resistentes à degradação ruminal � Podem ser tóxicos � Podem ligar-se a proteínas e outras moléculas BactériasCompostos secundários Compostos secundários que���� atividademicrobiana no rúmen: � Precursores de lignina (ácidos fenólicos),� Precursores de lignina (ácidos fenólicos), � Taninos condensados, � Alcalóides, � Saponinas, �Mimosina � Etc... Bactérias � Substâncias orgânicas ou inorgânicas que fazem parte da alimentação humana e animal (Van Soest 1994). Aditivos humana e animal (Van Soest 1994). � Fornecidos em pequenas quantidades �Atuam na microbiota ruminal podendo resultar em incrementos na eficiência alimentar. BactériasAditivos Objetivos da modulação da fermentação microbiana usando aditivos: �� Degradação da fibra e do amido�� Degradação da fibra e do amido � Estimular a produção de propionato � Inibir a produção de metano � Controlar a concentração de lactato e pH ruminal BactériasAditivosPrincipais aditivos usados para modular a atividade da microbiota ruminal: � Ionóforos � Probióticos � Enzimas � Tamponantes e alcalinizantes � Etc... Fim...
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