Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
BIOQUÍMICA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Profa. Patricia de Fátima Lopes Profa. Patricia Appolinário Composição Molecular dos Miofilamentos • As miofibrilas do músculo estriado contêm quatro proteínas principais: miosina, actina, tropomiosina e troponina. • Os filamentos grossos são formados de miosina e as outras três proteínas são encontradas nos filamentos finos. • A miosina e a actina, juntas, representam 55% do total de proteínas do músculo estriado (Junqueira & Carneiro, 1990). Filamento grosso: Miosina • Cada filamento grosso: ± 200 moléculas de miosina • Miosina: cauda com forma de haste com duas cabeças globulares nas extremidades com atividade de enzima ATPase • Cabeças de miosina interagem com filamentos finos (actina) em regiões específicas formando pontes cruzadas que geram tensão. • Região central do filamento grosso é lisa • A miosina tem três atividades biológicas importantes: – principal constituinte dos filamentos grossos; – é uma enzima ATPase; – liga-se à actina polimerizada. • Essa equação global, que ocorre em uma série de etapas independentes, fornece a energia livre para contração muscular. • A miosina pode ser vista como uma mecanoenzima porque ela catalisa a conversão de energia química a mecânica. Filamento grosso: Miosina • Filamentos finos: actina + proteínas reguladoras • Actina é a principal constituinte dos filamentos finos: – proteína globular com uma única cadeia polipeptídica – Monômero: actina G, pela sua forma globular; quando a força iônica aumenta, esta polimeriza-se numa forma fibrosa , a actina F. – Como a miosina, esta proteína também é uma ATPase; o ciclo ATP-ADP da actina participa na montagem e desmontagem do filamento. – No estado monomérico (actina-G), possui uma molécula de ATP e uma de cálcio incorporadas em sua estrutura. Filamentos finos • Monômeros de actina globular (G) são polimerizados em longos fios = actina fibrosa (F) • Dois fios de actina F enrolam-se e formam espinha dorsal de cada filamento fino. Filamentos finos • a actina e a miosina são mantidas sob controle pela tropomiosina e pelo complexo de troponina. Estas estão localizadas no filamento fino. • A tropomiosina é um bastão filamentoso que alinha-se quase paralelamente ao eixo do filamento fino, espirala- se sobre a actina F => fortalece a fibra. • A troponina é um complexo de três cadeias polipeptídicas • Cada complexo de troponina regula, através da tropomiosina, as interações com actina (Stryer, 1996). Filamentos finos Cada molécula de tropomiosina se prende a uma de actina. A troponina liga actina em tropomiosina. Quando há aumento de [Ca+2], a troponina se deforma e afasta a molécula de tropomiosina da actina. (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2000) Contração muscular • Na década de 1950, Andrew Huxley e Ralph Niedergerke, e Hugh Huxley e Jean Hanson, independentemente, propuseram um modelo de filamentos deslizantes, baseados em estudo com raios X e microscopia ótica e eletrônica. • As características essenciais deste modelo são: – Os comprimentos dos filamentos grossos e finos não mudam durante a contração muscular; – Ao contrário, o comprimento do sarcômero diminui durante a contração porque os dois tipos de filamento superpõem- se. – Os filamentos grossos e finos deslizam uns sobre os outros na contração; A força de contração é gerada por um processo que move ativamente um tipo de filamento ao longo dos filamentos vizinhos do outro tipo (Stryer, 1996). • Conforme cita Stryer (1996), julga-se que o ciclo ATP-ADP na miosina produza movimento direcional da seguinte maneira: – No músculo em repouso, as cabeças da miosina são incapazes de interagir com as unidades de actina nos filamentos finos por causa da interferência estérica da tropomiosina. Nesse estado, os produtos da hidrólise, ADP e Pi , ainda estão unidos à miosina. – Quando o músculo é estimulado, a tropomiosina muda de posição. As cabeças de miosina podem assim distender-se para fora do filamento grosso e ligar-se às unidades de actina nos filamentos finos. – A ligação da miosina-ADP-Pi , à actina leva à liberação de Pi. A dissociação subsequente do ADP induz uma grande alteração na conformação de miosina. A mudança na orientação de miosina em relação à actina constitui o pulso de força da contração. O ADP é liberado da miosina ao final do pulso de força. – A subsequente ligação do ATP à miosina leva à rápida liberação de actina. A cabeça de miosina é novamente desprendida do filamento fino. – Finalmente, o ATP ligado é hidrolisado da cabeça livre da miosina, o que a recompõe para a próxima interação com o filamento fino. Modelo 2: Processo molecular da contração muscular (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2000) O Ca+2 liberado prende-se à troponina que se deforma, deslocando a tropomiosina e expondo as áreas de actina, que então se ligam às cabeças de miosina. Na fig. B, ocorre hidrólise de ATP a ADP, com liberação de energia para dobrar a molécula de miosina, que gera o deslizamento da actina sobre a miosina. Como conseqüência, os filamentos finos deslizam sobre os grossos, promovendo o encurtamento do sarcômero FONTES DE ENERGIA PARA A CONTRAÇÃO MUSCULAR ATP • Energia necessária para a realização de exercícios é fornecida pelo ATP • Hidrólise de ATP pela miosina ATPase ativa os espaços específicos nos elementos de desenvolvimento de força. • A retirada de Ca2+ pelo retículo endoplasmático também depende de ATP. αβγ ATP • Existem 4 mecanismos envolvidos na quebra e ressíntese de ATP – Hidrólise enzimática do ATP para fornecer energia para a contração muscular. – Fosfocreatina é hidrolisada para fornecer fosfato a ADP e formar ATP – Glicose 6-fosfato: derivada do glicogênio muscular ou da glicose sanguínea, é convertida a lactato pela glicólise anaeróbia e produz ATP por fosforilação direta do substrato. – Produtos do metabolismo de carboidratos, lipídeos, proteínas e álcoois podem entrar no ciclo de Krebs em condições aeróbicas e serem oxidados a CO2 e H2O produzindo ATP no processo de fosforilação oxidativa. Uma parte do ATP é utilizado para ressíntese de fosfocreatina que se esgota durante exercícios intensos. glicose piruvato 2 NADH lactato O2 O2 Ciclo de Krebs e Fosforilação oxidativa 36 ATP 2 ATP METABOLISMO ANAERÓBIO • Dois sistemas estão disponíveis para gerar energia anaerobicamente: – fosfogênico ou aláctico – Sistema glicolítico ou láctico Sistema fosfogênico ou aláctico • Se envenenado com cianeto, um músculo não pode retirar energia do metabolismo aeróbico, mas ainda assim pode exercer força intensa de contração antes de fadigar. • Energia rápida de concentração limitada: ATP e fosfocreatina • Compostos fosfogênicos: estoque de energia imediata Sistema fosfogênico ou aláctico • Alta taxa de transferência de fosfato da fosfocreatina para ADP e restabelecer o ATP corresponde à habilidade de produzir ações fortes e rápidas creatina P Creatina quinase ADPATP P+creatina Sistema fosfogênico ou aláctico • Desvantagem: capacidade limitada • Sem outras fontes de energia: fadiga rápida • A taxa de recuperação é alta: 2-3 minutos após exaurida a reserva • Exaustão da reserva: corridas entre 30 e 50 m • Corridas mais longas: maior tempo de recuperação. Sistema Glicolítico ou láctico • Sob condições normais o músculo não se exaure após alguns segundos de esforço, logo outra fonte de energia deve estar disponível. • Energia provém da glicólise que gera a partir da glicose, sanguínea ou do glicogênio muscular, piruvato. • Glicólise não usa O2, mas resulta em produção de ATP em reações de fosforilação em nível de substrato. • A produçãode piruvato é acompanhada pela produção de NADH citossólico que deve ser reoxidado para que a glicólise continue produzindo ATP Sistema Glicolítico ou láctico • Se há oxigênio suficiente, o piruvato vai para a mitocôndria onde é oxidado a CO2 e H2O • Na falta ou insuficiência de O2, o piruvato é reduzido a lactato no citossol, usando potencial redutor do NADH produzido durante a glicólise. • A ativação do sistema glicolítico ou láctico ocorre quase que instantaneamente no início do exercício e a taxa de produção de lactato depende da intensidade do exercício. GLICOSE 2 PIRUVATO 2 NADH 2 NAD+ 2 LACTATO Lactato desidrogenase Glicogênio G-1P G-6P • Durante exercícios de alta intensidade os estoques de glicogênio muscular são quebrados com rapidez e a produção de lactato é alta. • Glicogênio muscular: supre as necessidades energéticas para esforços de alta intensidade entre os 20s e 5 min da atividade. • Períodos menores que 20s: os compostos fosfogênicos são as principais fontes de energia Sistema Glicolítico ou láctico Sistema Glicolítico ou láctico Capacidade (mmolATPkgdm-1) Força (mmolATPkgdm-1s-1) Sistema fosfogênico 55-95 9 Sistema glicolítico 190-300 4,5 combinado 250-370 11 Kgdm = massa seca muscular por kilograma, estimativa realizada no músculo humano vastus lateralis durante exercícios de alta intensidade • Embora a capacidade total do sistema glicolítico seja maior que a dos fosfogênicos, sua taxa de produção de energia é menor. Por isso, a velocidade máxima não pode ser mantida por mais que uns poucos segundos. Combustíveis utilizados pelo músculo esquelético em exercício Metabolismo aeróbico: oxidação de carboidrato, proteína e lipídeo • Carboidratos e lipídeos, dos estoques intramusculares ou da corrente sanguínea, podem ser oxidados para regenerar ATP através das reações da cadeia de transporte de elétrons e fosforilação oxidativa, eventos mitocondriais. • O catabolismo da glicose inicia-se com a glicólise anaeróbica que gera duas moléculas de piruvato que, em condições aeróbicas, vai para a mitocôndria e é oxidado a acetil-coA. • O catabolismo dos lipídeos também gera acetil-coA pelo ciclo de Lynen (beta oxidação). Metabolismo aeróbico: oxidação de carboidrato, proteína e lipídeo • O acetil-coA é o principal provedor do Ciclo de Krebs. • Catabolismo protéico: fonte de energia pequena comparada àquela fornecida por carboidratos e lipídeos. Fornece aminoácidos cetogênicos e glicogênicos, que são eventualmente oxidados após desaminação e conversão em intermediários do CK. • Em quadros de inanição ou esgotamento do estoque de glicogênio, o catabolismo protéico pode tornar-se importante fonte de energia para a prática de exercícios. PROTEÍNAS Aminoácidos CARBOIDRATOS Glicose LIPÍDEOS Ácidos graxos PIRUVATO Acetil-CoA ADP + Pi ATP ATP ADP + Pi ATP ADP + Pi CO2 NADH, FADH2 A T P A D P + Pi Cadeia de Transporte de Elétrons H2O O2+ H+ CICLO DE KREBS CICLO DE KREBS 8 reações catalisadas por enzimas 7 reações ocorrem na matriz mitocondrial e uma tem a enzima associada a face externa da membrana interna da mitocôndria (complexo II da CTE) neste ciclo ocorre oxidação total da acetil-coA a CO2 e coenzimas reduzidas CICLO DE KREBS CITRATO ISOCITRATO αααα-CETOGLUTARATO SUCCINIL-CoA SUCCINATO FUMARATO MALATO OXALOACETATO ACETIL-CoA CICLO DE KREBS • A quantidade de oxaloacetato disponível regula a velocidade do ciclo de Krebs (CK). • O oxaloacetato pode vir de piruvato através da ação da enzima piruvato carboxilase. • O acetil-coA é regulador alostérico positivo da piruvato carboxilase ajustando assim a velocidade do CK, além de prover oxaloacetato para a gliconeogênese. • Regulação do CK é dada: – pela relação NADH/NAD+ – pela relação ATP/ADP CADEIA DE TRANSPORTE DE ELÉTRONS Matriz mitocondrial Espaço intermembranas MI é é FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA • A passagem dos elétrons pela CTE gera o bombeamento de prótons para o espaço intermembranas. • O gradiente de prótons formado deve ser desfeito pela volta dos prótons para a matriz mitocondrial • Como os prótons são impermeáveis à membrana, sua volta se dá através do complexo transmembrana ATP sintase = Teoria quimiosmótica proposta por Mitchell • A volta dos prótons a favor do gradiente pela ATP sintase gera a chamada força próton-motriz que é utilizada para fosforilação do ADP a ATP ARMAZENAMENTO DE CARBOIDRATOS E LIPÍDEOS • GLICOGÊNIO: – Muscular (no sarcoplasma): ± 14-18 g/kgmassa fresca – Fígado: 80-100 g Cada 1 g de glicogênio armazena 3 g de H2O • TRIACILGLICEROL: intramuscular e no tecido adiposo. É armazenado na forma anidra – Maratona: gasto energético de 12.000 kJ = 320 g de gordura OU = 750 g de carboidratos (+2,3 L de água) • PROTEÍNAS: não são armazenadas BASES NITROGENADAS PÚRICAS E FOSFOCREATINA ADENOSINA TRIFOSFATO = ATP • Fosfato de alta energia = fosfogênio • Energia química que pode ser utilizada pelas células ATP ADP + Pi (∆∆∆∆Go = -30,5 kJ/mol) H2O ATP AMP + PPi (∆∆∆∆Go = ~ -50 kJ/mol) H2O ATP + AMP ADP + ADP ATP ATP • Não pode ser acumulado em grandes quantidades • Exercício máximo: – ATP suficiente para 2 s de contração – O estoque de ATP nunca sofre depleção porque a taxa de ressíntese é a mesma da degradação Retirado de: Maughan et al., 2000. Bioquímica do exercício e do treinamento. ATP • Durante o período de transição do repouso para o estado fixo a ressíntese do ATP é anaeróbia. • No estado fixo: a ressíntese do ATP é aeróbia Glicólise aeróbica Glicólise anaeróbica Glicose Piruvato CO2 + H2O + ATP ATP O2 Glicose Piruvato Ácido lático ATP O2 insuficiente FOSFOCREATINA (PCr) • Encontra-se no sarcoplasma • Taxa de transferência do P da Cr para ADP é alta • Creatina cinase (CK): há pelo menos 3 isoformas no músculo esquelético. Ex.: – MM-CK: localizada próxima aos locais de formação das pontes transversas – Mi_CK: localizada na membrana mitocondrial creatina P Creatina quinase ADPATP P+creatina Funções da PCr 1) Tampão temporário para manter a [ATP] e a relação ATP/ADP ↑ 2) Tampão espacial de energia: envolvida no transporte de energia entre o local de produção e de utilização do ATP (“lançadeira da fosfocreatina”) Fibras tipo II tem maior quantidade de PCr 3) Acoplamento funcional com várias outras reações celulares que facilitam a integração do metabolismo energético durante a contração muscular. Bibliografia • Powers, SK & Howley, ET Fisiologia do Exercício – teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3ª edição. Editora Manole, São Paulo. 2000. • Wilmore, J. H. & Costill, D. L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2a edição. Editora Manole, São Paulo 1999. 709p. • McArdle, W. D, Katch, F. I. & Katch, V. L. Nutrição para o desporto e o exercício. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 694p. • McArdle, W. D, Katch, F. I. & Katch, V. L. Fisiologia do exercício – Energia, nutrição e desempenho humano. 4a edição. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 1998. 695p. • Guyton, AC & Hall, JE Text Book of Medical Physiology. Saunders Company, USA, Tenth Edition. 2000. • MARZZOCO, A. & TORRES, B. B. (1999) Bioquímica Básica. 2a. Edição. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. • FOX, E.L., BOWERS, R.W. & FOSS, M.L. (1991) Bases Fisiológicas da Educação física dos Desportos. Guanabara-Koogan S.A, 4 ed, Rio de Janeiro. • MAUGHAN, R., GLEESON, M. & GREENHAFF, P.L. Bioquímica do Exercício e do treinamento. Editora Manole, São Paulo. 2000. 240p • Lancha Jr, A. H. Nutriçãoe metabolismo aplicados à atividade motora. Editora Atheneu, São Paulo. 2004. 194p.
Compartilhar