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A COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA ESPANHOLA E PORTUGUESA: O PAPEL DE DOMINAÇÃO REPRESENTADO PELA CIDADE

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A COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA ESPANHOLA E PORTUGUESA: O PAPEL DE 
DOMINAÇÃO REPRESENTADO PELA CIDADE 
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O semeador e o ladrilhador. In. ____________, Raízes do 
Brasil. 6 ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora,1971. p. 61-100. 
O livro de Sergio Buarque de Holanda1 “Raízes do Brasil”, teve sua primeira 
publicação dentro da mentalidade modernista brasileira, momento em que se buscavam 
mudanças e aspirava-se a formação de uma identidade nacional, valorizando e redescobrindo 
o país e negando as culturas do exterior. Nesse sentido, no capítulo intitulado o ‘Semeador e o 
Ladrilhador’, o autor faz uma comparação sobre a colonização portuguesa e espanhola na 
América, na qual os portugueses, a seu ver, foram “desleixados” e não tiveram um 
planejamento prévio para a ocupação, ao contrário dos espanhóis, sempre racionais, e que 
procuravam por locais predispostos a formação de um povoado (clima, altitude semelhantes 
aos da coroa). Sendo assim, o objetivo desta resenha sobre o capítulo é analisar o papel da 
ocupação da cidade como forma de colonização hispânica e portuguesa na América. 
A construção de cidade atua como um importante instrumento de dominação, sendo o 
elemento mais duradouro e eficiente, para o Sérgio. Tendo em vista esse aspecto e a diferença 
das colonizações ibéricas, tem-se que: 
” a colonização espanhola caracterizou-se largamente pelo que faltou à portuguesa: -
por uma aplicação insistente em assegurar o predomínio militar, econômico e 
político da metrópole sobre as terras conquistadas, mediante a criação de grandes 
núcleos de povoação estáveis e bem ordenados.”2 
A partir de então, o plano regular feito pelos espanhóis “é um ato definido da vontade 
humana”3 um modo de ordenar e impor seu domínio, fazendo uma extensão de seu território 
original. Enquanto, para o autor, os portugueses ocuparam o território de forma desordenada, 
apenas com o intuito da exploração comercial. 
Para o historiador José Luis Romero4 no capítulo introdutório de “América Latina: as 
cidades e as ideias”5 as cidades desempenharam papéis diferentes em cada lugar. Enquanto 
 
1 Sérgio Buarque de Holanda (São Paulo, 1902 – São Paulo, 1982) foi historiador e crítico literário. Graduou-se 
na faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Fez parte do Movimento Modernista de 1922. 
Lecionou História Moderna e Contemporânea na extinta Universidade do Distrito Federal e em 1936 publicou 
“Raízes do Brasil”. 
2 HOLANDA, 1971 p.62. 
3 Idem, 1971 p.62. 
4 José Luis Romero (1909-1977) Argentino e historiador modernista. 
5 ROMERO, José Luis. América latina: as cidades e as ideias. Trad.: Bella Josef. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 
2004. P. 42-75 
aos espanhóis pareceu viável construir uma “Nova Europa”, com uma rede de cidades, 
sociedades urbanas compactadas utopicamente, homogêneas e militantes, ajustadas dentro de 
um sistema político hierárquico e sob a ideologia cristã, para os portugueses pareceu razoável 
confiar suas terras aos senhores para a própria agricultura, onde posteriormente surgiriam as 
grandes plantações e engenhos, que se tornariam unidades socioeconômicas. Desse modo os 
portugueses conceberam o primeiro perfil do Brasil colonial em que as cidades durante muito 
tempo foram apenas feitorias que exportavam as riquezas para a Europa e até o século XVIII 
só algumas cidades conseguiam influir na forte aristocracia latifundiária (Salvador e Recife)6. 
Ainda assim, conforme Nestor Goulart7 no texto “Política Organizadora”8 houve um 
traçado urbanístico português bem planejado para a ocupação latifundiária no território 
brasileiro: 
 
“Com a criação das capitanias e o estabelecimento de uma agricultura regular, 
Portugal inicia no Brasil uma nova forma de colonização, procurando encontrar um 
relacionamento mais favorável entre seus interesses e as condições locais.” 9 
 
Para Sérgio Buarque, somente após o descobrimento das minas de ouro e diamantes 
que surgiu o interesse na colonização efetiva, e mesmo assim, de forma tirânica e 
repreendendo um povoamento de fato. O que é questionável, pois, para Nestor Goulart, a 
fundação da cidade de Salvador (1549) foi um exemplo da formação de uma centralidade 
portuguesa, com um traçado regular, sendo esse traçado adaptado de acordo com as condições 
físicas do local. A localização estratégica de vilas e cidades demonstra a existência de um 
projeto geral de urbanização com relação ao conjunto, de forma que o comércio entre coroa e 
metrópole fosse facilitado. Ainda segundo Goulart, os portugueses não negligenciaram o 
território da colônia, pois planejaram seu uso conforme seus interesses, construindo as 
povoações próximas aos locais de fácil escoamento para o comércio com a metrópole. 
 As condições da terra recém-descoberta por parte dos colonizadores influenciaram no 
modo em que eles a ocupariam: os espanhóis depararam-se com civilizações pré-existentes 
que constituíam cidades e tinham uma organização política hierárquica, possibilitando uma 
 
6 ROMERO, 2004 p.45. 
7Nestor Goulart Reis Filho (1931) é graduado em Arquitetura e Urbanismo (1955) e em Ciências Sociais pela 
Universidade de São Paulo (1962). Atualmente é professor da Universidade de São Paulo. Possui experiência na 
área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em História e Teoria da Urbanização, do Urbanismo e da 
Arquitetura, atuando principalmente nos seguintes temas: patrimônio, urbanização colonial e urbanização 
contemporânea, em especial no que se refere ao Brasil 
8 REIS FILHO, Nestor Goulart. A Política Urbanizadora. In: Evolução Urbana do Brasil - 1500/1720. São 
Paulo: Livraria Pioneira, 1968, cap. 2, p. 73-77 
9 GOULART, 1968, p.75 
forma de ocupação por meio da própria cidade. Mas vale lembrar que para tal as grandes 
cidades pré-existentes foram destruídas devido sua importante significação simbólica. Já no 
Brasil, os portugueses se depararam com grupos indígenas de características nômades que se 
organizavam de forma mais simples, sendo então a dominação facilitada pela agricultura, 
extração e trocas. Ao contrário do que aconteceu na colonização espanhola, a cidade não foi 
pensada como forma de dominação do povo indígena; para os portugueses a cidade tinha sua 
ordenação baseada nas necessidades comerciais mercantilistas da Coroa.

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