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Brasília-DF. O Ambiente e As DOençAs De trAbAlhO Elaboração Dra. Myria do Egito Vieira de Sousa Dr. Paulo Roberto Guerra Jucá Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 6 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 7 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9 UNIDADE I ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR ............................................................................................ 11 CAPÍTULO 1 HISTÓRIA NO MUNDO OCIDENTAL .......................................................................................... 11 CAPÍTULO 2 ASSISTÊNCIA À SAÚDE ............................................................................................................ 20 CAPÍTULO 3 FINANCIAMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE ................................................................................ 27 CAPÍTULO 4 SAÚDE SUPLEMENTAR ............................................................................................................. 30 UNIDADE II EPIDEMIOLOGIA .................................................................................................................................. 35 CAPÍTULO 1 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA ............................................................................................. 35 CAPÍTULO 2 LEMBRANDO-SE DA ESTATÍSTICA .............................................................................................. 37 CAPÍTULO 3 EPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................................... 39 CAPÍTULO 4 MÉTODOS DE ESTUDO EM EPIDEMIOLOGIA ........................................................................... 47 UNIDADE III TOXICOLOGIA ..................................................................................................................................... 56 CAPÍTULO 1 TOXICOLOGIA ....................................................................................................................... 56 CAPÍTULO 2 LIMITES DE EXPOSIÇÃO – TLVS ................................................................................................ 62 CAPÍTULO 3 FICHA DE INFORMAÇÃO DE SEGURANÇA DE PRODUTOS QUÍMICOS – FISPQ .......................... 72 UNIDADE IV PCMSO ............................................................................................................................................... 84 CAPÍTULO 1 PERFIL DE SAÚDE DOS TRABALHADORES ................................................................................. 84 CAPÍTULO 2 PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL – PCMSO – NR-07 ................ 87 UNIDADE V DORT .................................................................................................................................................. 91 CAPÍTULO 1 DOENÇAS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO – DORT ................................. 91 UNIDADE VI DOENÇAS INVALIDANTES ..................................................................................................................... 96 CAPÍTULO 1 ALIENAÇÃO MENTAL ............................................................................................................. 97 CAPÍTULO 2 CARDIOPATIA GRAVE .......................................................................................................... 100 CAPÍTULO 3 CEGUEIRA .......................................................................................................................... 117 CAPÍTULO 4 ESPONDILITE ANQUILOSANTE ................................................................................................ 120 CAPÍTULO 5 ESTADOS AVANÇADOS DA DOENÇA DE PAGET (OSTEÍTE DEFORMANTE) ............................... 122 CAPÍTULO 6 HANSENÍASE ........................................................................................................................ 124 CAPÍTULO 7 MAL DE PARKINSON ............................................................................................................ 129 CAPÍTULO 8 NEFROPATIA GRAVE ............................................................................................................ 130 CAPÍTULO 9 NEOPLASIA MALIGNA .......................................................................................................... 133 5 CAPÍTULO 10 ALZHEIMER ........................................................................................................................... 135 CAPÍTULO 11 PARALISIA IRREVERSÍVEL E INCAPACITANTE ............................................................................. 137 CAPÍTULO 12 ESCLEROSE MÚLTIPLA ........................................................................................................... 139 CAPÍTULO 13 SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA/AIDS) .................................................. 141 CAPÍTULO 14 TUBERCULOSE ATIVA ............................................................................................................ 144 CAPÍTULO 15 CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................... 148 PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 150 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 151 6 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico- tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 7 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem emseu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 8 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 9 Introdução O meio ambiente pode ser considerado um sistema fechado (a terra) onde sua sustentabilidade depende de um equilíbrio de todos os fatores presentes nele. Este sistema há milênios permitiu que o homem fizesse parte dele, mas com a descoberta do fogo e com a formação de assentamentos humanos o homem vem testando os limites da natureza, ampliando este equilíbrio a seu favor. Tal “embate” teve um grande incremento com a revolução industrial, e chegou ao ápice no século XX, momento em que foi questionado até quando o planeta permitirá este deslocamento do equilíbrio ambiental, com alteração do ar, do solo, das águas e da eliminação de animais e de plantas. A questão ambiental passou a ser objeto de intensa preocupação para vários países, principalmente após 1970 (com a primeira crise do petróleo, quando a sociedade, de forma geral, descobriu os limites dos recursos naturais), mesmo considerando que os impactos ambientais sofridos pela Terra, devido à ação antrópica, já eram discutidos há mais tempo. A origem do movimento de defesa do meio ambiente de forma pragmática efetivou-se após o manifesto do Clube de Roma que fez uma previsão dos riscos decorrentes do crescimento econômico contínuo, sedimentado em recursos naturais escassos. Surgiu, a partir daí, a formação dos primeiros movimentos ecológicos. Na última década do século XX, a tomada da consciência mundial quanto à importância das questões ambientais faz com que a abordagem se fundamente na premissa de que: “o homem deve estar preparado para internalizar os custos da qualidade de vida em seu orçamento, pagando o preço de manter limpo o ambiente em que vive” (adaptado de Vale, 1996). Isto posto, várias instituições econômicas e produtivas (fábricas, firmas, comércio etc.) passaram a inserir em sua cadeia de produção os custos necessários para manter a qualidade de vida e o bem-estar coletivo. Paradigma este que fez com que, na metade da década de 1990, normas internacionais, do porte da ISO, concretizassem de forma coerente tal demanda da sociedade, passando as instituições a buscarem marcos conceituais e metodológicos como: certificação ambiental e gestão ambiental. A ideia de que os recursos naturais são ilimitados já não existe e a tentativa de manutenção do domínio deste planeta impõe medidas para se promover a sustentabilidade do planeta e a preservação do progresso humano. Objetivos » Apresentar a visão do estabelecimento da relação saúde-doença, desde o início de sua história no mundo ocidental até os dias de hoje. » Apresentar como se estrutura a assistência à saúde no País, incluindo a saúde suplementar. » Fornecer as metodologias de abordagem epidemiológica que permitem uma experimentação na área de Saúde, assim como obter a forma de interpretação de experimentos realizados nesta área. » Abordar os principais conceitos que envolvem a toxicologia. » Apresentar a estruturação dos Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO e sua interação com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA. » Apresentar as características e como se estabelece o diagnóstico das principais doenças invalidantes reconhecidas pelo Brasil. 11 UNIDADE IASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR “A prática e o saber no campo da saúde estão articulados à transformação histórica do processo de produção econômica”. Juan César Garcia CAPÍTULO 1 História no mundo ocidental É na estruturação e na execução dos processos de trabalho, contextualizados em seu período, que se concretizam as patologias1 ocupacionais. A relação trabalho X saúde-doença já se faz presente em relatos desde o antigo Egito, onde dermatites pruriginosas laborais são descritas nos papiros de Ebers (GOLDMAN, 1979) lesões de braços e mãos em pedreiras são descritos nos papiros de Sellier (DEMBE, 1996), este relata ainda que havia atendimento médico nos locais de grande número de trabalhadores. No Talmude judaico determinava-se claramente que os patrões ou “proprietários” de servos respeitassem os hábitos culturais de sono e vigília de seus “subordinados”, devendo alimentá-los, e não poderiam submetê-los a trabalhos indignos com relação às suas crenças e sim respeitá-los como homens (KOTTEC, 1995). Mesmo com estas referências históricas no mundo ocidental, o estudo e a temática saúde no trabalho eram extremamente marginais, pois os impérios presentes na antiguidade eram calcados no trabalho escravo. Assim, as principais obras que tratam do tema são de Hipócrates e de seus seguidores nos tratados relativos à saúde – Corpus Hippocratium, ainda assim de forma secundária. 1 Patho = sofrimento, doença; Logos= estudo. 12 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR Galeno (129 a 199 d.C.) – considerado o maior médico do Império Romano –, Platão (427 a 347 a.C.) e Aristóteles (384 a 322 a.C.) apresentaram um número considerável de citações em que se relacionam doenças e ocupações. Na Roma antiga, a lógica dos serviços médicos era tratar a doença dos indivíduos, e não com uma abordagem ocupacional, mesmo assim foram estabelecidas as relações de problemas mentais em marinheiros: Virgílio (70 a 19 a.C.) risco ocupacional com manuseio do enxofre; Marcial (40 a 100 d. C.) cegueira em ferreiros e varicoceles em religiosos; Juvenal (60 a 140 d.C.) risco ocupacional em minas de chumbo, mercúrio e poeiras; Plínio, o velho, (23 a 79 d.C.) relata a utilização de panos ou bexigas de carneiro na frente do rosto para mitigar a inalação de poeiras, tornando-se, talvez, a primeira descrição de uso de um Equipamento de Proteção Individual – EPI. A morte prematura em minas de ouro foi narrada pelo poeta Lucrécio (96 a 55 a.C.): “Não viste ou ouviste como morrem, em tão pouco tempo, quando ainda tinham tanta vida pela frente?” (citado por RAMAZZINI). Na antiguidade, foram estabelecidas as relações entre doenças e ocupações, entretanto, o conhecimento, enquanto prática médica, não redundava em modificações nos processos de trabalho e nem em um conhecimento técnico que se extrapola a “Medicina Geral”, para uma relação entre trabalho e saúde. O primeiro livro dedicado exclusivamente a uma ocupação somente foi escrito em 1473 por Ellembog(1440 – 1499), e dirigido aos ourives de Augsburg (Alemanha). Ellenbug elencou sintomas e sinais relacionados à manipulação de metais e reconheceu que os vapores eram mais prejudiciais que o próprio metal em si, indicando qual o tratamento adequado. Ainda neste século, Johannas de Vigo, importante cirurgião, dedicou parte de seu livro sobre a febre dos marinheiros, sendo uma das primeiras contribuições à Medicina do Trabalho. Georgius Agrícola (1494 – 1555) publicou o livro De Re Metallica que relata a extração de prata e ouro, destacando os acidentes do trabalho e as doenças que mais acometem os mineiros, sendo o primeiro a caracterizar o que hoje denominamos silicose – aliás, o próprio Agrícola já sabia como esses problemas poderiam ser evitados. Não se tratava de uma questão médica e sim de problemas de natureza politica-organizacional e tecnológica, que se expressavam no tipo de processo de trabalho utilizado, cuja modificação, acrescida da introdução de meios para melhorar a ventilação das minas, poderia proteger os trabalhadores da inalação de poeiras lesivas. Na verdade, eram observações epidemiológicas, nascidas do senso comum, seguidas da clara compreensão sobre a verdadeira natureza do problema, muito antes de serem esclarecidos pela ciência médica os mecanismos fisiopatológicos de produção da silicose (AGRÍCOLA, 1556; ROSEN, 1979; citados por MENDES, 2005). 13 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I Uma década mais tarde foi publicada a obra Von der Bergsutch und anderen Berg Kran Khetein, de Paracelso (1493 – 1541), dedicada às doenças ocupacionais de mineiros e fundidores, em que correlacionou os métodos de trabalho ou as substâncias manuseadas a sintomas das doenças, com definição de procedimentos terapêuticos a serem utilizados em envenenamentos. Verificamos pelos fatos relatados que os estudos das doenças relacionadas ao trabalho não tiveram grande evolução e foram pontuais, pois a base econômica da sociedade era a escravidão e a servidão, isto é, não havia “valor econômico” significativo para a mão de obra disponível, sendo os estudos ou realizados ou com caráter de curiosidade científica. No renascimento, ampliava-se os estudos das doenças vinculadas à extração de ouro e prata e sua manufatura, isso aconteceu devido à presença do mercantilismo, em que o acúmulo de metais preciosos determinavam a importância do país e seu nível de riqueza, então, passou a ser importante que os profissionais/trabalhadores que fossem vinculados a esta atividade tivessem seus trabalhos avaliados no âmbito da saúde, pois passaram a ter importância econômica para a sociedade da época. A grande alteração do modus operandi estabelecido para o tema veio com Bernardo Ramazzini (1633 – 1714), que em 1700 escreveu a obra De morbis Artificum Diatriba, traduzido no Brasil em 1971 com o título Doenças dos Trabalhadores e se constituiu como o primeiro tratado completo sobre as doenças relacionadas ao trabalho de mais de 50 profissões, sendo obra de referência até a eclosão da revolução industrial no século XIX, quando surgiram novos paradigmas sanitários. No bojo da revolução industrial, aumentaram os impactos sobre a saúde dos trabalhadores, pois se ampliou a duração da jornada de trabalho (comum jornadas superiores a 14 horas), e o trabalho penoso e perigoso, em ambientes laborais insalubres, incrementaram os acidentes de graves, mutilantes e fatais, incluindo crianças de até cinco anos e mulheres (por receberem salários mais baixos). O trabalho de Percival Pott (1713 – 1788) estabeleceu o nexo causal entre o câncer de escroto e o trabalho de limpeza das chaminés realizados por garotos, repercutindo tão fortemente na Inglaterra que em 1788 aprovaram-se leis reduzindo a exploração de crianças e a exigência de proteção laboral – vestuário específico e higienização dos ambientes (MELICOW, 1975). Em 1802 foi publicado o Helth and Morals of Apprentices Act, que indicava a idade mínima para o trabalho, a redução da jornada de trabalho diária (12 horas) e as melhorias ambientais nas fábricas. Em 1833 foi promulgado o “Factory Act”, que resguardava os trabalhadores em todas as fábricas que utilizavam a força hidráulica ou do vapor 14 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR e iniciou-se a contratação de médicos para o controle de saúde dos trabalhadores nos locais de trabalho. A partir desta época vários estudos na área da saúde do trabalhador foram efetivados. Na França, podemos destacar: o médico René Villerme (1782 – 1863), conhecido pelo seu trabalho “Tableu de l’Etat Physique et Moral des Ourives Employés dans les manufactures de Coton, de Laine et de Soie”: ([...] descrição comparativa das similaridades e das diferenças entre trabalhadores da mesma atividade, mas que trabalham em diferentes locais, e trabalhadores do mesmo estabelecimento, mas em atividades diferentes) (citado por MENDES, 2005); o médico Tanquerel dês Planches (1809 – 1862), que publicou em 1839 seu “Traité dês Maladies de Plomb ou Saturnines”, observando 1.200 casos. Na Inglaterra, os estudos de William Farr (1807 – 1883) analisaram a mortalidade dos mineiros de diversas regiões do país com não mineiros. Tabela 1. Média anual de número de mortes por 1.000 mineiros e por 1.000 não mineiros, em Cornwall, por todas as causas e por doenças pulmonares, de 1849 a 1853. Todas as causas Doenças pulmonares Idades Mineiros Não Mineiros Idades Mineiros Não Mineiros Não Mineiros 15 – 25 8,90 7,12 15 – 25 3,77 3,30 25 – 35 8,96 8,84 25 – 35 4,15 3,83 35 – 45 14,30 9,99 35 – 45 7,89 4,24 45 – 55 33,51 14,76 45 – 55 19,75 4,34 55 – 65 63,17 24,12 55 – 65 43,29 5,19 65 – 75 111,23 58,61 65 – 75 45,04 10,48 Fonte: Vital Statistics, 1875. A Medicina Social no Brasil nasce com o objetivo de “servir como apoio científico indispensável ao exercício do poder de Estado”, em uma relação de imanência com um Estado que tem a pretensão de assumir a organização positiva dos habitantes, produzindo suas condições de vida, quando estabelece a possibilidade de um controle político individual ou coletivo que se exerça de forma contínua. A Medicina nele está presente como condição de possibilidade de normalização da sociedade (MACHADO; COLS, 1978). No Brasil, em função de ainda ser um país escravagista, não se levava a sério a relação trabalho X saúde-doença, tornando-a exceção em nossa estrutura de trabalho. Em 1850, Mendonça, em seu trabalho “Das Fábricas de Charuto e Rapé, da Capital e seus Arrabaldes”, mostra sua grande preocupação pela localização destes estabelecimentos. 15 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I Quanto a seus empregados, depois de citar Ramazzini e clássicos franceses, assinala convicto que: As nossas observações nos levam a considerar como gratuito o longo catálogo de afecções assinaladas como peculiares a esta classe de obreiros. Certamente que hoje ninguém mais nos virá dizer que os trabalhadores das fábricas de tabaco estão sujeitos a doenças [...] como estabeleceram os autores citados, que só viram exceções na regra geral. Para comprovar suas observações, informa que: Os proprietários das fábricas [...] estão tão convencidos da inocuidade das emanações destes estabelecimentos sobre seus trabalhadores e empregados, que não usam precauções higiênicas nas fábricas. Este fato vem ainda corroborar o que dissemos relativamente a não se observarem nestas fábricas moléstias que se lhes possam assinalar como peculiares.” (MENDONÇA, 1850, citado por MENDES, 2005). Em 1852, Silva citou que a literatura internacional não se aplicava, pois os empregadores afirmavam que a atividade era inócua. Lage (1853) reforça as doenças em função dos miasmas e Godoy Junior (1852, citado por MENDES, 2005), emsua tese “Das fábricas de velas de sebo e das de sabões do Rio de Janeiro, que influência tem exercido na saúde de seus empregados e vizinhos?” afirma que: Embora garanta a inexistência de doenças profissionais típicas destes trabalhadores, assinala a elevada prevalência de tísica pulmonar, atribuindo-a à mudança brusca de temperatura nos diferentes ambientes das fábricas. Menciona ainda a existência de diarreia crônica entre os escravos, atribuindo a sua causa ao costume de acrescentarem à sua ração alimentar sebos e outras gorduras em processo de saponificação. Os empregados que têm alimentação decente e separada nunca tiveram esta moléstia. No Brasil, tal abordagem somente começou a se render à literatura internacional com o advento da “Escola Tropicalista Baiana”, divulgadora do modelo anglo-germânico de Medicina, que se pautava na busca de causalidades específicas na procura de critérios de especificidade, sem deixar de dar importância ao contorno sociopolítico. Defensores da tese do contágio para várias doenças, como a cólera, diferenciavam as ações necessárias no plano individual daquelas de nível coletivo (MENDES, 2005). Seu objetivo primeiro era a higiene. 16 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR “Uma ação profilática ampla dependia muito mais do interesse do Estado em realizá-la do que propriamente dos avanços da ciência médica” (OLIVEIRA, 1982). Figura 1. Evolução da Medicina do Trabalho ou Ocupacional. Preservar o coletivo Evitar epidemias, surtos, garantir a saúde da coletividade Curar o indivíduo Foco individual sem vincular com a ocupação Medicina Social Doenças dos trabalhadores Higiene Era bacteriológica = cada doença é um agente etiológico a ser combatido Medicina Legal Estudo de nexos causais Medicina do Seguro Recuperação pecuniária – seguridade social/previdência Saúde pública Em 1906 foi realizado o I Congresso Internacional das Doenças do Trabalho em Milão (Itália) para a harmonização da Medicina do Seguro, que levou à criação da Comissão Permanente Internacional de Saúde Ocupacional servindo de embrião para a Organização Internacional do Trabalho – OIT em 1919. Em 1925 a OIT apresentou sua primeira lista de doenças profissionais legalmente amparadas para fins de seguro, com apenas três doenças: saturnismo, hidragirismo e carbúnculo. Em 1934 a lista foi ampliada para 10 doenças; em 1964 para 15; em 1980 para 29 e em 1991 para 78. “Os médicos normalmente não desejam ou são incapazes de confrontar os métodos de produção capitalista que se mostram lesivos à saúde”. (MILLES, 1985) 17 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I Quadro 1. Versão preliminar da lista de doenças profissionais proposta por um grupo de consulta convidada pela OIT (1991), com vistas a atualizar o anexo da convenção no 121, de 1964 (Emenda de 1980). 1. Agentes químicos Doenças causadas pelo berílio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo cádmio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo fósforo ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo cromo ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo manganês ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo arsênio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo mercúrio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo chumbo ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo flúor ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo sulfeto de carbono Doenças causadas pelos derivados halogenados tóxicos dos hidrocarbonetos alifáticos ou aromáticos Doenças causadas pelo benzeno ou seus homólogos tóxicos Doenças causadas pelo nitro e aminoderivados tóxicos do benzeno ou de seus homólogos Doenças causadas pela nitroglicerina ou outros ésteres de ácido nítrico Doenças causadas pelos alcoóis ou cetonas Doenças causadas pelos asfixiantes: monóxido de carbono, cianeto de hidrogênio, sulfeto de hidrogênio ou seus derivados tóxicos Doenças causadas pela acrilonitrila Doenças causadas pelos óxidos de nitrogênio Doenças causadas pelas benzoquinonas Doenças causadas pelo vanádio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo antimônio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo hexano Doenças causadas por ácidos minerais Doenças causadas por antibióticos Doenças causadas pelo tálio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo ósmio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo selênio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo cobre ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo estanho ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo zinco ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo ozônio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas pelo fosgênio ou seus compostos tóxicos Doenças causadas por outras substâncias químicas tóxicas não constantes desta lista. 2. Agentes físicos Perdas auditivas causadas pelo ruído Doenças causadas pela vibração Doenças causadas pelo trabalho em ar comprimido Doenças causadas pelas radiações ionizantes Doenças causadas pelas radiações de calor Conjuntivite causada pela radiação ultravioleta Doenças causadas pelo ultrassom Doenças causadas por temperaturas extremas 3. Agentes biológicos Infecções ou doenças parasitárias contraídas em alguma ocupação em que existe um risco particular de contaminação 18 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR 4. Doenças segundo órgãos ou sistemas Doenças respiratórias ocupacionais Pneumoconiose, causadas por poeira fibrogênica (silicose, antracossilicose, asbestose) e silicotuberculose Doenças broncopulmonares causadas por poeira de metais duros Doenças broncopulmonares causadas por poeira de algodão, cânhamo, juta ou sisal (bissinose) Asma ocupacional causada por agentes sensibilizantes reconhecidos ou irritantes presentes no processo de trabalho Alveolite alérgica extrínseca causada pela inalação de poeiras orgânicas, segundo prescrito pela legislação nacional Siderose Doenças broncopulmonares obstrutivas crônicas Doenças broncopulmonares ocasionadas por poeiras de alumínio Dermatoses ocupacionais Dermatoses causadas por agentes físicos, químicos ou biológicos não incluídos nos outros itens da lista Vitiligo ocupacional Doenças musculoesqueléticas Doenças musculoesqueléticas causadas por atividades específicas ou pelo meio de trabalho em que determinados fatores de riscos estão presentes. Constituem exemplos destas condições ou fatores de risco: movimentos rápidos ou repetitivos; deslocamentos corporais forçados; concentração de força mecânica excessiva; posturas viciosas e forçadas Vibração 5. Câncer ocupacional Câncer causado pelos seguintes agentes. Asbesto Benzidina e seus sais Éter bis-clorometílico Cromo e compostos de cromo Alcatrão e piches; fuligem Betanaftalina Cloreto de vinila Benzeno e seus homólogos Nitro e amino derivados do benzeno e seus homólogos Radiações ionizantes Epitelioma primário de pele causado por alcatrão, piche, betume, óleos minerais, antraceno ou seus compostos, produtos ou resíduos Câncer broncopulmonar causado por emissões de fornos de coque Câncer brônquico ou de fossas nasais causado pelos compostos de níquel Câncer das fossas nasais causado por poeiras de madeira 6. Outras Nistagmo dos mineiros O Brasil adota um sistema misto que se baseia em listas (essa informação consta nos anexos do Decreto no 3.048/1999) acompanhadas de “cláusulas abertas” que deram a possibilidade de se inserir doenças não listadas e ainda o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP. Assim, no Brasil, a saúde do trabalhador e o estudo da relação trabalho X saúde-doença está indelevelmente casada com a Medicina do Seguro,auxiliada pela Medicina Legal. 19 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I “Um conjunto de interpretações e práticas, oriundas da tradição normativa de matiz secundário, que visa a restringir as associações entre fatores laborais e a gênese de doenças pela imposição do reconhecimento da existência de limites que permitem distinguir entre origens laborais e não laborais de distúrbios apresentados por trabalhadores” (WAISSMANN, 2000). 20 CAPÍTULO 2 Assistência à saúde Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância pública as ações e os serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou mediante terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 198. As ações e os serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. § 1o O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. § 2o A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre: I – no caso da União, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no § 3o; II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os art. 157e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os art. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3o. 21 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I § 3o Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá: I – os percentuais de que trata o § 2o; II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivando a progressiva redução das disparidades regionais; III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; IV – as normas de cálculo do montante a ser aplicado pela União. § 4o Os gestores locais do sistema único de saúde poderão admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para sua atuação. § 5o Lei federal disporá sobre o regime jurídico e a regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e agente de combate às endemias. § 6o Além das hipóteses previstas no § 1o do art. 41 e no § 4o do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o seu exercício. A Organização Mundial de Saúde2 – OMS define a saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”. Para bem desenvolver uma política pública voltada à assistência à saúde, é imprescindível o entendimento desta definição de saúde do qual o Brasil é um dos signatários; definição esta que deverá estar casada com as prerrogativas de nossa Constituição Federal. O Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa explica que o termo saúde tem origem etimológica da palavra latina salute – “salvação”, “conservação da vida” –, possuindo vários empregos: 2 A definição consta do preâmbulo da Constituição da Assembleia Mundial de Saúde, adotada pela Conferência Sanitária Internacional realizada em Nova Iorque (19 a 22 de junho de 1946) e assinada em 22 de julho de 1946 pelos representantes de 61 Estados-Membros da Organização das Nações Unidas, com vigor a partir de abril de 1948, não emendada desde então. 22 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR 1 – Estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais encontram-se em situação normal; estado que se é sadio ou são. 2 – Força, robustez, vigor: esta criança está vendendo saúde. 3 – Disposição do organismo: é homem de boa saúde. 4 – Disposição moral ou mental: saúde de espírito. 5 – Voto ou saudação que se faz bebendo à saúde de alguém, brinde. 6 – Desviar antecipadamente a responsabilidade de um ato. Além de ser usado para: » área do conhecimento e campo de estudo sobre a saúde, as ciências da saúde; » designação sintética dos programas, estabelecimentos, agências ou organismos sociais públicos ou privados destinados a cuidar da saúde dos indivíduos e comunidades; » atividade política pública ou programa social governamental voltado para os cuidados com a saúde individual ou coletiva e para a administração destes serviços. O mesmo dicionário Aurélio define bem-estar como “Estado de perfeita satisfação física ou moral; conforto”. Assim, temos que o direito à saúde e seu acesso pela população apresenta um “nirvana” conceitual e que não se presta para uma abordagem epidemiológica3, e dificulta sobremaneira uma abordagem de estabelecimento de política pública eficiente por parte do sistema criado para oferecê-la, permitindo uma ampla gama de enfoques, muitas vezes antagônicos entre si. O Dr. Miranda Sá, em seu artigo “Desconstruindo a definição de saúde”4, faz uma abordagem primorosa dos efeitos desta definição na gestão pública da saúde: Ninguém, com mínima informação e boa-fé, entende a noção de saúde com qualquer dos outros sentidos da palavra. De fato, como seria possível um orçamento do bem-estar físico, mental e social, ou ser um funcionário da ausência de doença, ou o Estado garantir a sanidade de 3 Muito bem-explanado pelo Professor Naomar de Almeida Filho do Instituto de Saúde Coletiva/Universidade Federal da Bahia, em seu artigo:” O conceito de saúde: ponto-cego da epidemiologia?”, publicado na Revista Brasileira Epidemiologia 4, vol 3. no 1-3, 2000. 4 Miranda Sá Junior, Luis S. “Desconstruindo a definição de saúde”. Jornal do Conselho Federal de Medicina (CFM) jul./ago./ set. de 2004, pp. 15-16. 23 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I alguém ou de algum animal ou vegetal? O que a Constituição chama de saúde? Exatamente o último dos sentidos apontados para o termo5. A Constituição brasileira declara a saúde como direito social (art. 6o). E direito de todo cidadão e, consequentemente, dever do Estado (art. 196). Quem se debruçar sobre a Constituição do Brasil verificará que, nela, saúde significa “políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (art. 196). Mesmo tendo este enfoque, tratando o bem-estarda sociedade e não do indivíduo (conceito subjetivo e extremamente variável), o termo apresenta incompatibilidade epidemiológica que fragiliza os mecanismos de controle e os indicadores da área de saúde. Rememorando, independentemente da incompatibilidade epidemiológica, a assistência à saúde brasileira possui as seguintes características: é universal, isto é, ela deve atingir toda a população brasileira independentemente do cidadão, como indivíduo, ter contribuído monetariamente para a manutenção do sistema. Assim, a assistência à saúde deve ser oferecida sem contrapartida do cidadão. Deve oferecer cobertura ambulatorial, hospitalar, odontológica e farmacológica. Mas a saúde não é monopólio do Estado, permitindo a participação da iniciativa privada, exceto nos casos de acidentes de trabalho e nas vacinações básicas. O modelo da assistência à saúde brasileiro não é um modelo universal, somente mais dois países americanos possuem um modelo universal de atendimento: Canadá e Cuba. Como exemplo, nos Estados Unidos, mais de trinta e sete milhões de americanos estão alijados do sistema de saúde. O modelo assistencial brasileiro, além de não ser um modelo universal, ainda é novo, pois só foi criado após a redemocratização brasileira nos fins da década de 1980. Tal quadro faz com que a base do modelo: o Sistema Único de Saúde (SUS), ainda esteja em evolução, em adaptação, mas que infelizmente apresenta o seguinte quadro. Por ser um sistema que absorveu a estrutura assistencialista do INAMPS, também absorveu o seu modus operandi, que o tem caracterizado como um sistema que considera predominantemente o aspecto de “recuperação da saúde perdida” mediante o atendimento médico-hospitalar – lógica previdenciária taylorista de recuperar a saúde para devolver o trabalhador ao processo laboral. 5 Atividade política pública ou programa social governamental voltado para os cuidados com a saúde individual ou coletiva e para a administração destes serviços. 24 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR A essência do atendimento, ainda é, a manutenção do seu poder laboral, fazendo com que a remuneração dos serviços seja fundamentado por produção, o que indiretamente impõe uma ineficácia operacional nas ações de vigilância à saúde e, por conseguinte, na prevenção de doenças. É interessante resgatar o caso do prefeito de uma cidade ser flagrado, em 2002, transportando o mosquito da dengue para seu município com o objetivo de ganhar as verbas destinadas a sua erradicação/controle. Temos ainda um Sistema de Saúde que, apesar de ser jovem, já está saturado devido à metropolização do atendimento, castigado pela demanda flutuante, onde a rede de atendimento não possui uma capilaridade adequada. Esta, conjugada com uma não exigência de oferecimento de serviços básicos de saúde por parte das prefeituras (nos moldes do ensino fundamental), faz com que não exista interesse das municipalidades em assumir este compromisso, “empurrando” o problema para os centros maiores, provocando insuficiência de cobertura e baixa resolutividade da atenção ambulatorial. Complementando essa análise, o Banco Mundial, por meio do Relatório no 36601- BR “Brasil: Governança no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil: melhorando a qualidade do Gasto Público e Gestão de Recursos”, apresenta o seguinte quadro-síntese dos problemas do SUS e suas consequências (quadro 3): Quadro 2. Resumo dos problemas e das consequências do SUS. Causas Estruturais Consequências Fragmentação do Processo de Planejamento Orçamentário Ênfase formalista e legalista do sistema de planejamento público e do SUS. Planejamento e orçamento voltados para justificar o repasse de recursos. Processo truncado e desarticulado; os diferentes instrumentos não se integram e não se complementam. Planos feitos por exigência legal, com frequência esquecida depois de aprovados. Planos sem estratégias de ação, pouco realistas. Planos sem previsão de recursos. Importantes flutuações na alocação, na execução orçamentária das unidades e na sua distribuição. Ausência de monitoramento e avaliação de resultados. Dissociação entre plano e realidade. Formalismo e Rigidez na Execução do Orçamento e da Gestão de Recursos Humanos Rigidez das normas e dos prazos para execução orçamentária. Rigidez da legislação de pessoal e de licitações e ausência de gestão proativa Sistema voltado ao cumprimento dos procedimentos e controles financeiros e não para a gestão e avaliação. A legislação e a estrutura do orçamento dificultam a flexibilidade na sua execução e estimulam sua ineficiência. Atrasos importantes nos processos administrativos e financeiros. Muitas compras pequenas e/ou de emergência utilizando verba de pronto pagamento para contornar os processos formais burocratizados, resultando em ineficiência/custos mais altos, desperdício e falta de materiais. Ausência de gestão efetiva de recursos humanos, especialmente a dificuldade de introduzir uma orientação para o desempenho entre o pessoal, e distribuição inadequada e ineficiente do pessoal com escassez localizada e capacidade ociosa. Altos custos de transação por causa dos múltiplos procedimentos de contabilidade e das exigências de prestação de contas para transferências específicas. 25 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I Causas Estruturais Consequências Ausência de Autonomia Gerencial Local Falta de autonomia gerencial e financeira nas unidades de saúde. Sistema centralizado voltado para o controle central, e não para as necessidades locais. Centralização da maioria das funções de RH em unidade central, ou outra secretaria. Centralização do gasto em muitos municípios. Caráter indutivo do planejamento central (exigência legal e incentivo financeiro) enfraquecendo os incentivos para o planejamento local. Baixa participação do nível executivo e dos conselhos de saúde no planejamento. Pouco uso da informação orçamentária para análise e avaliação local. Ausência de informações gerenciais em nível da unidade de saúde. As unidades de saúde gerenciam pouco seus recursos humanos (30% dos hospitais fazem pagamento de pessoal, 25% contratam e 54% remanejam). Ausência de Informações Adequações para Gestão Sistemas de informação voltados para controle central e não utilização local. Baixa integração entre sistemas múltiplos de informação, cada um orientado para uma finalidade específica. Estrutura orçamentária e mecanismos de controle inadequados ao monitoramento e à avaliação de programas. Ênfase na produção de serviços e não na sua efetividade ou em resultados. A informação gerada é pouco utilizada (financeira, de produção etc.), especialmente no nível das unidades de saúde. A maioria das unidades de saúde tem pouca ou nenhuma informação financeira. Orçamento não desagrega ou discrimina o gasto de maneira útil para gestão. Ausência de informação de custos. Informações parciais e inconsistentes sobre a cobertura, a produção e o gasto dos programas nacionais. Inconsistência das informações entre níveis de governo. Baixa Capacidade Gerencial em Nível Local Inadequada qualificação profissional em nível local para planejamento, gestão e avaliação. Baixa capacidade de atrair e manter profissionais qualificados (baixa remuneração, políticas pouco atrativas). Pouca utilização de métodos e de técnicas modernas de gestão. Grau limitado de gestão efetiva de recursos físicos e humanos. Organização ineficiente dos serviços médicos. Ausência de monitoração e avaliação sistemática de programas e do desempenho das ações. Baixa capacidade de planejamento ao nível local e principalmente nas unidades de saúde, que resulta, entre outros, em falta de recursos em certas categorias ou unidades de despesas e excesso em outras.Baixo nível de execução orçamentária em municípios e unidades de saúde. Planejamento de necessidades e programação de compras inadequadas. Baixo nível de controle sobre utilização de recursos, e estoques e não utilização dos recursos disponíveis. Sistema inadequado de dispensação de medicamentos e interrupções no fornecimento. Contratos sem supervisão ou avaliação (apenas 5% dos contratos com avaliação de qualidade) Falta, inadequação e/ou mau estado de instalações e equipamentos. Estrutura de Incentivos Inadequada Complexidade e formalismo das modalidades e dos requisitos de habilitação no SUS. Requisitos e critérios de repasses federais aos municípios não promovem a eficiência e a equidade. Ausência de políticas e de mecanismos de estímulo a desempenho, responsabilidade, qualidade e eficiência. Dificuldades dos municípios de se inserirem nas modalidades de gestão do SUS. Ênfase processual e nas atividades-meio dos requisitos, com pouca ênfase nos resultados. Alto grau de iniquidade no gasto municipal em saúde e nas transferências federais aos municípios. Estados e municípios não cumprem EC-29. Falta de isonomia salarial entre regimes distintos. Absenteísmo e não cumprimento da jornada de trabalho. Todo este quadro é agravado pela expectativa dos usuários, pela medicalização e pela utilização intensiva de processos de diagnóstico, o que favorece a política de “farmalização” da saúde, fortalecendo a lógica de recuperação da saúde, do direcionamento dos recursos financeiros para a medicalização em detrimento dos profissionais de saúde. 26 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR Corroborando com este enfoque, um levantamento realizado pela União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde – Unidas, em 2005, informa que 26,5% das despesas dentro da saúde suplementar são para medicamentos, contra apenas 15,41% para honorários médicos. Até 1974, o único método de diagnóstico não invasivo era o raio-X, inventado em 1895 por um físico alemão. As máquinas de raio-X tradicionais só dispõem de filmes com cerca de 60 tonalidades de cinza. Os tomógrafos mais modernos, por sua vez, contam com mais de 1000 tons. [...] Nos aparelhos de última geração, um software especial associa a cada tom de cinza uma cor. Do ponto de vista do diagnóstico, esse artifício não é importante. Mas o resultado dele é espetacular. [...] (Revista Veja, 23 de abril de 2003) Felizmente a inflação dos serviços da área de saúde, de 1997 até 2004, (Gráfico 1) superaram em oitenta e um pontos percentuais a inflação total no município de São Paulo, e, como o incremento de receitas na área de saúde não acompanham esta evolução, está fazendo com que exista uma implantação forçada do financiamento do SUS, na lógica prevencionista, pois o Estado não tem capacidade de acompanhar a necessidade de financiamento do sistema nessa lógica “produtivista”. Aplica-se um valor per capita mensal, para atender a todas as demandas de saúde daquele distrito sanitário, o que vai privilegiar a gestão dos gastos e as ações de prevenção da saúde. Gráfico 1. Índice de Custo de Vida/DIEESE acumulado janeiro de 1997 a abril de 2004 no município de São Paulo – SP. Comparativo da variação do grupo SAÚDE e outros grupos. ´ Fonte DIEESE. 27 CAPÍTULO 3 Financiamento das ações de saúde No ano de 2004 o setor de saúde correspondeu a 8,3% do PIB, movimentando cerca de R$ 147 bilhões de reais, sendo que o serviço público representou cerca de 44% dos gastos, e apresenta a seguinte distribuição da oferta de serviço de saúde. Quadro 3. Distribuição de oferta de serviço de saúde. Estrutura Quant. Pública Privada Quant. % Quant. % Leitos hospitalares 471.000 164.850 35 306.150 65 Unidades ambulatoriais 60.000 45.000 75 15.000 25 Serviços de diagnóstico 11.500 690 06 10.810 94 Fonte: Banco Mundial (2007) No Gráfico 2, tem-se uma visão da composição percentual do custo por faixa etária da assistência à saúde, percebendo-se que o gasto com exames (diagnósticos) representa grande fatia dos recursos destinados à saúde. Esta informação, conjugada com as informações da Tabela 2, levanta a seguinte constatação: Alega-se que sempre faltam recursos para manter o SUS, mas os serviços mais rentáveis (mesmo utilizando a tabela do SUS) estão na mão da iniciativa privada! Gráfico 2. Composição percentual do custo por faixa etária da assistência à saúde. Fonte: Unidas 2004 28 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR Quadro 4. Composição do Gasto Nacional em Saúde por fonte. Fonte % Federal 28,8 Estadual 10,2 Municipal 11,7 Medicina de Grupo 07,2 Cooperativas Médicas 05,3 Seguro Saúde 06,2 Autogestão 09,6 Privado Direto 25,0 Fonte: Dados do SIOPS, ABRAMGE e IBGE citado pelo Banco Mundial. No orçamento da Seguridade Social, já havia sido definido pela Constituição Federal de 1988 que a saúde possuiria no mínimo 30% do orçamento, tomando por base a Tabela 1 isto representaria para o ano de 2005 cerca de R$ 83,4 bilhões de reais. No entanto, o orçamento para as ações voltado à saúde (não só Ministério da Saúde) foi de R$ 48,89 bilhões de reais. A Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – CPMF, que em princípio era para ajudar a financiar as ações e os serviços de saúde, teve sua desvinculação ao sistema em 1998, e hoje financia em média apenas 33,6% dos gastos da saúde. Sinto-me por vezes desanimado quando vejo que, após investir muito tempo na coleta de detalhada história médica que me diz exatamente o que há, o paciente se mostra incrédulo. Mas, quando o levo para minha sala de exames, onde tenho a um canto um antiquado fluoroscópio com intensificador de imagens, máquina cujo painel de instrumentos se assemelha ao de um avião, o paciente fica impressionado e posso imaginá-lo dizendo com seus botões: “Ah, que bom estar num consultório tão bem- equipado”. Ou talvez: “O doutor vai usar comigo essa máquina maravilhosa?”. A fé pueril na magia da tecnologia é uma das razões pelas quais o público vem tolerando a desumanização da Medicina. (Dr. Bernard Lown – A Arte Perdida de Curar, p. 95) Quadro 5. Saúde: Distribuição do percentual das Fontes de Recursos 1999-2004. Fontes 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Média sobre total 1 Recursos Provenientes de Impostos. 15,1% 4,9% 14,6% 12,3% 12,6% 7,7% 11,2% 2. Contribuições Sociais 65,1% 80,7% 74,6% 79,8% 82,9% 87,5% 78,4% 2.1 Contribuição sobre o Lucro – CSLL 4,2% 13,5% 7,7% 25,0% 30,5% 33,7% 19,1% 29 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I Fontes 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Média sobre total 2.2. Contribuição para Financiamento de Seguridade Social – COFINS 34,6% 32,7% 36,0% 13,6% 16,3% 21,3% 25,7% 2.3. Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – CPMF 26,3% 34,6% 30,9% 41,2% 36,1% 32,6% 33,6% 3. Outras Fontes 10,6% 14,3% 5,9% 5,1% 4,5% 3,8% 7,4% 4. Fundo de Combate e Erradicação à Pobreza 0,0% 0,0% 4,9% 2,7% 0,0% 1,0% 1,4% 5. Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) 9,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,5% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% - Total em milhões correntes 15.487 20.270 23.634 25.435 27.172 32.973 - Fonte SIAFI/SIDOR 30 CAPÍTULO 4 Saúde suplementar A Constituição Federal de 1988 permitiu a manutenção da iniciativa privada na prestação de assistência à saúde, in verbis: Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. §1o. As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. §2o. É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às instituições privadascom fins lucrativos. §3o. É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei. Aqui deve-se fazer presente a equidade dita por Aristóteles, pois é garantida à instituição privada participar de forma complementar ao SUS, mas a palavra complementar, por definição do Dicionário Houaiss, remete a: “relativo a complemento ou que constitui complemento de algo”. O SUS, por sua vez, tem como premissa ser universal e dar acesso igualitário às ações e aos serviços (de saúde) para a sua promoção, proteção e recuperação. Assim, onde ficaria a participação da iniciativa privada, se esta só pode atuar complementarmente ao SUS, já que o SUS é por definição completo pleno, universal? A Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, (conhecida como Lei Orgânica da Saúde) reforça tal sentimento em seu artigo 24, descrevendo bem onde deve ficar a iniciativa privada. Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público. 31 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I Com base no artigo transcrito acima, da lei que regula o SUS, verifica-se que ele não cumpre a sua função de acesso universal e igualitário, pois cidadãos brasileiros recebem tratamento diferenciado caso se encontrem em municípios com capacidade de serviço diferenciado. Mas essa discussão filosófica conceitual não é nosso tópico de interesse, mas sim suas consequências práticas. A permanência do direito da iniciativa privada prover ações e serviços de saúde vem do fato de que apenas 44% dos recursos totais destinados à saúde são recursos públicos, frente a uma média internacional de 70%, e que o valor dos recursos públicos destinado à saúde em proporção do PIB é de 3,2%, menor que os 5,2% da Argentina; 6,2% de Cuba e dos Estados Unidos, e de 8,3% da Alemanha, o que se traduz em valores per capita/ano também abaixo do aplicado por outras nações6. Assim, na prática, tem de ser criar denominações para falar em saúde fora do Sistema Único de Saúde: saúde complementar, saúde suplementar, assistência médica suplementar e atenção médica supletiva, entre outras, todas sem consenso. Quadro 6. Valor per capita destinado de recursos públicos à saúde no ano 2000. País Valor em US$1,00/ano China 24,00 Brasil 109,00 Chile 143,00 México 144,00 Uruguai 304,00 Argentina 362,00 Canadá 1.483,00 Fonte: BIRD e OMS Em 1998, é promulgada a Lei no 9.656, de 3 de junho de 1998, que vem regular o setor de saúde privado, e em 2000, para se evitar a possível celeuma da atenção complementar, que a Constituição Federal de 1988 relegou a participação da iniciativa privada, é criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, para atuar na regulamentação deste setor. Note que a alteração da palavra complementar para suplementar modifica completamente o lócus legal da prestação privada de serviço de saúde. A palavra “suplementar” por definição do Dicionário Houaiss remete a: “Servir de suplemento; suprir ou compensar a deficiência de”, assim, a saúde suplementar pode coexistir junto ao SUS, suplementando onde ele não é capaz de atender 6 Fonte: Unidas: União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde: Autogestão da Saúde no Brasil: 1980-2006 História da organização e consolidação do setor, São Paulo. p. 20. 32 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR nos requisitos que o cidadão almeja. Resumindo: a saúde suplementar pode atuar concorrentemente ao SUS. Por atuar de forma concorrente, o mercado de saúde suplementar não é obrigado a atender as diretrizes fixadas para o SUS, assim qualquer discussão a respeito da saúde suplementar e de seus planos deve ter em mente a seguinte abordagem dada por Figueiredo (2006)7: A rede particular de prestação de serviços de saúde atua supletivamente à rede pública, sendo disponibilizada por entidades privadas de forma adicional e facultativa aos serviços disponibilizados pelo Estado (art. 199, caput da C.F.). Por tais razões, trata-se de atividade econômica em sentido estrito, regida por princípios e regras de direito privado, sendo seu acesso garantido, tão somente, à parcela da população com renda para tais serviços. Não se pode tratar a assistência à saúde na forma suplementar como assistência social, com grave risco de quebrar o setor e levar consigo os usuários a ele vinculados. O mercado de saúde suplementar está estruturado organizacionalmente em diversas personalidades jurídicas, cada qual como uma característica própria: » Administradora: são apenas intermediárias do serviço de saúde, não assumindo o risco decorrente da operação desses planos e nem possuem rede própria. Exemplo: Associação dos Servidores Públicos do Governo do Distrito Federal – ASPGDF, Clube Afinidade. » Autogestão: as próprias empresas administram programas de assistência à saúde para seus empregados, por meio da criação de instituições privadas sem fins lucrativos. Vincula a prestação destes serviços aos empregados ativos, inativos (aposentados), pensionistas destas empresas, ou a associações, sindicatos, fundações, caixas de assistência ou entidades de classe profissionais. Exemplos: GEAP, CAPSESP, FIOPREV, CASSIS, AGROS, PETROBRAS, APUB SAÚDE. » Cooperativas Médicas ou Odontológicas: os médicos ou dentistas são simultaneamente sócios e prestadores de serviços. A sua estrutura é semelhante à Medicina de Grupo. Possui fim lucrativo. Exemplo: UNIMED. 7 Figueredo, Leonardo Vizeu. Curso de Direito de Saúde Suplementar. São Paulo: Ed. MP, 2006 pg29. 33 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I » Filantrópicas: são operadoras de saúde sem fins lucrativos, que possuem certificado de entidade filantrópica junto ao Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e declaração de utilidade pública federal junto ao Ministério da Justiça. Exemplo: Planos de saúde das Santas Casas de Misericórdia. » Medicina ou Odontologia de Grupo: normalmente atuam como intermediários na prestação de serviço entre o cliente e o prestador (médico, clínica, laboratório e hospital), possui acesso aos serviços mediante pré-pagamento. Possui fim lucrativo. Exemplo: Golden Cross, Medial, Amil. » Seguro Saúde: atua na forma de um seguro, havendo a intermediação financeira do sinistro diretamente por reembolso ao associado ou à rede prestadora de serviço. Possui fim lucrativo. Exemplo: Saúde Bradesco, Sul América. » Serviço Próprio: é o departamento ou a área de recursos humanos de uma empresa que atua diretamente como intermediária entre seu funcionário e a prestadora de serviço de interesse (médico, hospital, laboratório). Não tem fim lucrativo. Exemplos: Plano de Saúde da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, PAS da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Rede de Atendimento do Comando do Exército. De acordo com a ANS, em dezembro de 2004, estavam vinculados a planos de saúde suplementar trinta e três milhões, setecentos e seis mil quinhentos e seis usuários, cerca de 18,6% da população brasileira à época. Estes usuários estão distribuídos em duas mil cento e sessenta e sete (2.167) empresas operadoras de planos de saúde registradas. Quadro 7. Operadoras de saúde suplementar por classificação em 2/2005. Operadora % de participação De Grupo 53 Cooperativa 25 Autogestão 15 Filantropia 5 Seguradoras 1 Administradoras 1 Total 100 Fonte:ANS/MS 34 UNIDADE I │ASSISTÊNCIA À SAÚDE DO TRABALHADOR Quadro 8. Beneficiários por classificação de operadora em 12/2004. Operadora No de beneficiários % de participação De Grupo 12.924.384 38,34 Cooperativa 9.643.966 28,61 Autogestão 5.329.212 15,81 Seguradoras 4.493.256 13,33 Filantropia 1310.775 3,89 Administradoras 4.913 0,01 Total 33.706.506 99,99 Fonte: ANS/MS Tabela 2. Distribuição percentual de beneficiários a plano de saúde por faixa etária por sexo, comparada a população geral, em 12/2004. Faixa Etária (anos) masculino Feminino % com Plano de saúde % com Plano de saúde 0 a 9 16,32 14,58 10 a 19 14,58 13,82 20 a 29 20,65 19,56 30 a 39 21,07 22,07 40 a 49 20,00 21,21 50 a 59 21,05 19,04 60 a 69 16,66 16,66 70 a 79 8,33 18,75 80 ou + 10,00 13,30 Fonte: ANS/MS – Adaptado pelo Autor De forma prática, quando um cidadão for optar por estar vinculado ao um plano de saúde suplementar, deve lembrar que, por existir diversas modalidades de operadoras, ele estará pagando outros encargos que não só o serviço. Quadro 9. Distribuição de encargos na contratação de um serviço de saúde suplementar, por tipo de operadora. Tipo Pagamentos Regulação pela ANSserviço Taxa de administração da administradora Taxa de administração do plano Lucro do plano Administradora sim sim sim sim não Medicina ou odontologia de grupo sim não sim sim Autogestões sim não sim não sim Filantrópicas sim não sim não sim Serviço Próprio sim não não não não 35 UNIDADE IIEPIDEMIOLOGIA CAPÍTULO 1 História natural da doença Normalmente consideramos o binômio saúde/doença, ou é saúde ou é doença, mas as doenças apresentam padrões de evolução/progressão diferentes de um agente etiológico para outro de um individuo para o outro. De forma geral, as doenças manifestam-se de três formas: » aguda, que pode levar rapidamente à morte, ou que apresenta rápida recuperação; » crônica, que evolui de forma lenta, mas progressiva, podendo levar à morte após longo período ou situação que intercala períodos assintomáticos com crises; » limiar clínico, identificado por meio de exames laboratoriais, a sintomatologia não se exterioriza de forma que a pessoa nunca saberá que estava doente. A história natural da doença se apresenta em quatro fases. » Fase de suscetibilidade: existem condições ambientais e individuais que favorecem o aparecimento da doença. » Fase patológica pré-clínica: a doença ainda não apresenta sintomatologia externa, mas o organismo já apresenta alterações patológicas. A evolução da doença pode ser subclínica (limiar clínico), levar à cura ou progredir na fase seguinte. A identificação precoce resulta em uma maior probabilidade de êxito com tratamento adequado. É aqui, nesta fase, que se torna importante conhecer as associações existentes entre indivíduos e do ambiente com o surgimento das doenças. » Fase clínica: nesta fase a doença já se encontra em estágio adiantada. Aqui cabe a assistência médica de recuperação/curativa. 36 UNIDADE II │ EPIDEMIOLOGIA » Fase de incapacidade residual: ocorre quando a doença não progrediu para a morte e a cura deixou sequelas, havendo necessidade de reabilitação de cunho físico, psicológico ou social. Figura. 2. Padrões de evolução das doenças A validade desta divisão didática é possibilitar a separação dos indivíduos em diferentes posições em função dos riscos e danos à saúde que apresentam. 37 CAPÍTULO 2 Lembrando-se da estatística Para o engenheiro de segurança do trabalho se aventurar no estudo da Epidemiologia, é necessário que se retome alguns conceitos de estatística para poder embasar os estudos e a interpretação dos resultados obtidos. » Amostra: Subconjunto da população. Pode ser de conveniência (não aleatório) ou aleatório. » Coeficiente ou Taxa: frequência com que um evento ocorre na população; proporção de uma população possuidora de uma determinada característica. Ex.: mortalidade. » Desvio-Padrão: afastamento padrão em relação à média, informa a dispersão dos valores em torno da média. » Eficácia: a extensão de quanto uma determinada intervenção, procedimento, programa, regime ou serviço produz um resultado benéfico em condições ideais de observação. » Eficiência: referem-se aos efeitos alcançados em relação ao esforço despendido em termos de recursos e tempo. » Hipótese: suposição ou conjectura sobre a relação entre dois ou mais eventos. » Média: informa onde está localizado o valor central do grupo (amostra). » Mediana: o valor central quando as mensurações são alinhadas do menor ao maior valor; o ponto ou A posição que divide a distribuição em duas metades. » Moda: categoria mais frequente de uma escala. Ex.: na série 1,2,4,4,7,7,7,9,10,12, a moda é o número 7, pois ele aparece 3 vezes. » Odds Ratio (OR): chance relativa, razão de probabilidade. » P (probabilidade): estimativa estatística de que um resultado é devido ao acaso; um achado P = 0,05 é tomado arbitrariamente, como ponto de corte para decisões. P menor que 0,05 as diferenças são significativas estatisticamente; se P maior que 0,05 as diferenças não são significativas estatisticamente. 38 UNIDADE II │ EPIDEMIOLOGIA » População: em estatística, tem o sentido de universo, cujas características são investigadas, em geral, pelo estudo das amostras. » Prevalência: número ou proporção de pessoas portadoras de um evento em um particular momento. Coeficiência de prevalência é este número expresso em unidade de população. » Risco absoluto: = mortalidade. » Risco relativo (RR): a razão entre dois riscos, a razão entre duas taxas de incidência ou mortalidade. Corresponde ao risco do agravo entre os indivíduos que tenham tido uma exposição dividido pelo risco do agravo entre aqueles que não tenham tido esta exposição. Informa quantas vezes um risco é maior que o outro. Ex.: um risco relativo igual a 2 significa risco 2 vezes maior de um grupo em relação ao outro grupo. 39 CAPÍTULO 3 Epidemiologia A Epidemiologia é o campo das Ciências Biológicas preocupadas com o inter-relacionamento de vários fatores e condições que determinam à frequência e a distribuição do agravo à saúde em uma comunidade humana, ocupando-se das circunstâncias em que os agravos ocorrem e na quais eles tendem a não florescer, incluindo ai fatores sociais, como religião e política, se estes têm alguma influência sobre a prevalência do agravo. Diferentemente do estabelecimento do nexo causal que é focado no indivíduo, a lógica da Epidemiologia é a abordagem coletiva, em sua perspectiva populacional, numa apresentação probabilística. Medidas de frequência das doenças Na Epidemiologia, o estabelecimento da frequência se dá por meio da incidência e/ou da prevalência. A incidência diz respeito aos casos novos e a prevalência aos casos existentes. Para se determinar a incidência, é imprescindível estabelecer a duração temporal da observação para identificação dos casos novos. Na prevalência verifica-se quantos, em um determinado tempo, possuem a doença, não influenciando se a doença surgiu neste período ou se o indivíduo já estava doente. Taxa de Incidência No de “Casos Novos” em T* X Constante No de pessoas expostas ao risco em T* Taxa de Prevalência No de “Casos Existentes” em T* X Constante No de pessoas na população em T* * Período de tempo utilizado para o estudo. Às vezes, o estudo de um grupo de pessoas em determinado período pode apresentar vieses que dificultam o prosseguimento da investigação proposta, pois pessoas morrem, saem da área geográfica da amostra, influenciando sobremaneira o andamento e as conclusões do estudo/investigação. Para evitar tal viés, é comumutilizar dois artifícios, para estabelecer a população sob análise: pessoas-período e população na metade do período. » Pessoas-período: se dois indivíduos, permanecem em observação por seis meses cada um, eles equivalem a uma pessoa-ano, ou se são 40 UNIDADE II │ EPIDEMIOLOGIA observados por um mês, eles equivalem a uma pessoa-bimestre. O ajuste é aplicado no denominador, que passa a ser “pessoa-ano”, pessoa-período e não mais “número de pessoas”. O coeficiente calculado desta maneira, quando o denominador representa unidades em pessoas-período, também é denominado “coeficiente médio de incidência”. Exemplo: “Em um estudo efetuado em Brasília, numa creche com capacidade para 40 alunos, constatou-se um total de 343 episódios de danos a saúde durante o ano. A média é de cerca de oito episódios por criança no ano, que a simples divisão de números induziria (343 dividido por 40), elevou-se para 14, quando o cálculo foi refinado para “crianças-ano”, já que a creche nem sempre funcionou com 100% de sua capacidade e nem todas as crianças permaneceram todo o tempo em risco de morbidade.” (LOW; PEREIRA, 1977). » População na metade do período: é utilizado para estudo em que há variação da população regularmente, como por exemplo, para avaliar regiões, cidades, países, utilizando-se como estimativa do número da população, a população existente na metade do período. Normalmente, é utilizado para o cálculo de coeficientes de mortalidade, natalidade, fecundidade. Quando usar incidência ou prevalência O uso da incidência ou prevalência depende da questão levantada e dos “insumos” operacionais disponíveis para o observador/investigador. A incidência é a medida mais importante na Epidemiologia, pois ela informa melhor a dinâmica da história da doença na população, sendo fundamental para planejar as investigações – os ensaios clínicos – e estabelecer o tamanho da amostra. A prevalência é direcionada para o planejamento e a administração de serviços e programas de saúde, como um programa para fornecimento de prótese, que é necessário para saber a prevalência de deficientes que necessitam de uma para determinar o número de próteses que devem ser adquiridas. Por oportuno, devemos considerar que há terminologias na área de Saúde que podem generalizar o uso da incidência e da prevalência, que é o caso, por exemplo, dos fatores de risco8. Exemplo: Fatores de Risco: número de novos usuários de crack em um período (incidência) e número de usuários de crack existentes em uma comunidade/população (prevalência). 8 Fator de risco: atributo ou circunstância do ambiente ou característica do indivíduo, herdado ou adquirido, associado à maior probabilidade de este mesmo indivíduo apresentar no futuro um dano à saúde. 41 EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE II A frequência detectada por um estudo pode ser grandemente influenciada alterando sua “correspondência” com a realidade, pelo tamanho e tipo do universo populacional estudado (AMOSTRA), e a forma de identificação do evento. No primeiro caso, temos de verificar que a amostra em estudo é representativa, isto é, não há limitação quanto à inserção de representantes de algum subgrupo da população. Caso contrário, ela é uma amostra viciada, não representativa. Na forma de identificação do evento, devemos considerar as fontes de dados empregados e a tecnologia diagnóstica utilizada, o que pode levar à identificação de: falsos positivo-sadios e vice-versa. Um indicador bastante utilizado em Epidemiologia é o de mortalidade, referindo-se ao que acontece em uma população, no período de um ano (pode-se valer de outro período desde que explicitamente indicado). Os principais indicadores de mortalidade são: Coeficiente de Mortalidade Geral No total de óbitos no período X 1.000 População Total, na metade do período. Coeficiente de Mortalidade por Sexo No total de óbitos de um dado sexo, no período. X 1.000 População do mesmo sexo, na metade do período. Coeficiente de Mortalidade por Idade No total de óbitos no grupo etário, no período. X 1.000 População do mesmo grupo etário, na metade do período. Coeficiente de Mortalidade por Causa No total de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas), no período. X 100.000 População Total, na metade do período. Coeficiente de Mortalidade Materna No total de óbitos por causas ligadas a gravidez, parto e puerpério, no período. X 100.000 No de nascidos vivos, no período. Coeficiente de Mortalidade Infantil No total de óbitos de crianças menores de um ano de idade, no período. X 1.000 Número de nascidos vivos, no período. Coeficiente de Mortalidade Neonatal No total de óbitos de crianças nas primeiras quatro semanas de vida, no período. X 1.000 Número de nascidos vivos, no período. Coeficiente de Mortalidade Perinatal No de óbitos fetais (com 22 semanas ou mais de gestação) acrescido do no de óbitos na primeira semana de vida, no período. X 1.000 No de nascidos vivos e de natimortos, no período. Coeficiente de Letalidade (ou Fatalidade) No de óbitos por determinada doença X 100 (ou 1.000) No de casos da mesma doença Mortalidade Proporcional de 50 anos ou mais No de óbitos de maiores de 50 anos no período X 100 Todos os óbitos no período Mortalidade Proporcional por Causas No de óbitos por determinada causa (ou grupo de causas) no período X 1.000 Todos os óbitos no período 42 UNIDADE II │ EPIDEMIOLOGIA Para a realização de um estudo epidemiológico, é importante a organização das informações no tocante às características dos indivíduos, do lugar geográfico e do tempo. A definição destes parâmetros populacionais de estudo é definida como “Epidemiologia Descritiva”, e deve-se levar em consideração se a amostra não foi obtida por meio de inquérito9, a fonte de dados utilizada. As variáveis mais utilizadas nos estudos epidemiológicos são: 1. Demográficas: a. Sexo; b. idade; c. grupo étnico; d. paridade; e. história familiar; f. composição familiar; g. peso; h. ordem de nascimento; i. peso; j. altura; k. grupo sanguíneo. 2. Sociais: a. estado civil; b. religião; c. renda; d. ocupação; e. educação/instrução; f. classe social. 9 Termo usado com o sentido de ampla investigação não experimental, na qual os indivíduos da amostra são interrogados ou examinados para determinar o nível de presença e a ausência das características de interesse. 43 EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE II 3. Estilo de Vida: a. tipo de comportamento; b. estilo de vida; c. dieta alimentar; d. prática de exercício físico; e. uso de drogas. 4. Lugar: a. país (vida); b. região; c. estado, d. município; e. distrito; f. bairro; g. instituição; h. edifício; i. rua; j. urbano-rural; k. código-postal (CEP); l. tamanho da comunidade. 4. Tempo: a. década; b. ano; c. semestre; d. trimestre; e. mês; f. semana; g. dia; h. hora. 44 UNIDADE II │ EPIDEMIOLOGIA Figura 3. Áreas Epidemiológicas de Febre Amarela no Brasil. Fonte: Ministério da Saúde 2005. Figura 3a. Mortalidade até um ano de idade. Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil – 2001 As séries temporais (variáveis ligadas a tempo) podem ser classificadas como: » histórica ou secular, que indicará a tendência de determinado evento/ doença; 45 EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE II Figura 4. Série histórica ou secular. Verifica-se uma tendência de evolução do PIB do Brasil de 2002 para cá. Fonte: <http://economiadigitalbrasil.blogspot.com/2010/11/evolucao-da-renda-per-capita-no-brasil.html>. » cíclicas, que apresentam na forma de “onda” onde o evento se mostra com maior frequência em determinados espaços de tempo; » sazonal, para designar as oscilações