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História da América

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Prévia do material em texto

2011
História da américa
Prof. Manoel José Fonseca Rocha
Prof. Anderson Nereu Galcowski
Copyright © UNIASSELVI 2011
Elaboração:
Prof. Manoel José Fonseca Rocha
Prof. Anderson Nereu Galcowski
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
980
R672h Rocha, Manoel José Fonseca
 História da América / Manoel José Fonseca Rocha; Anderson
 Nereu Galcowski. Indaial : UNIASSELVI, 2011.
 
 192 p. : il.
 Inclui bibliografia.
 ISBN 978-85-7830-391-4
 1. História da América; I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 Ensino a Distância. II. Título.
 
III
apresentação
Prezado(a) acadêmico(a)! 
Você está começando o estudo da disciplina de História da América.
A partir desse momento, convidamos você a conhecer um pouco 
sobre a história do continente em que vivemos, dos seus primórdios até 
nossos dias. O conteúdo presente nesse caderno, e que você irá estudar, 
foi elaborado com uma linguagem simples, objetiva e dialógica. Você irá 
perceber que nossa preocupação será levá-lo a pensar e dialogar com os 
textos apresentados.
Para melhor atingir os objetivos propostos, dividimos o caderno em 
três unidades, as quais estão subdivididas em quatro tópicos.
A primeira unidade traz o processo que levou à colonização da América. 
Nesse sentido, caracterizaremos os motivos que levaram o europeu a colonizar 
o continente, bem como as civilizações que aqui viviam e, consequentemente, 
as populações que para cá vieram. Por fim, descreveremos os diversos tipos 
de colonização adotados pelo colonizador europeu. Nossa intenção, nessa 
unidade, será fornecer condições para que você possa compreender e refletir 
sobre o processo que levou à colonização da América.
Na segunda unidade, nosso objetivo é apresentar a independência 
das colônias americanas, como sendo resultado de um processo norteado 
por interesses internos e externos. Nesse sentido, apresentaremos o processo 
que levou à independência da América inglesa e da América espanhola, 
procurando, sempre que for possível, estabelecer uma reflexão com o 
processo de independência do Brasil. Ainda nessa unidade, descreveremos e 
refletiremos sobre uma das guerras mais marcantes da história da América - 
a Guerra do Paraguai.
Na terceira unidade, será apresentada a História mais recente da 
América. Aqui descreveremos e refletiremos sobre a Revolução Cubana, as 
Ditaduras da América Latina e sobre os Blocos Econômicos, que nortearam a 
economia americana nos séculos XX e XXI.
Sempre que você precisar esclarecer dúvidas sobre os conteúdos ou 
sobre atividades presentes no seu caderno, entre em contato conosco! Não se 
esqueça de fazer as atividades, elas são importantes para o seu aprendizado.
Um grande abraço.
Prof. Manoel José Fonseca Rocha
Prof. Anderson Nereu Galcowski
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS ........................ 1
TÓPICO 1 – A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE NOVAS TERRAS .... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 O FEUDALISMO .................................................................................................................................. 3
3 A CRISE DO FEUDALISMO .............................................................................................................. 8
4 A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: UMA SAÍDA PARA A CRISE EUROPEIA .................... 10
5 A EUROPA ENTRE OS SÉCULOS XI-XIII ...................................................................................... 11
6 A AMÉRICA COMO UMA ALTERNATIVA VIÁVEL .................................................................. 14
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16
TÓPICO 2 – A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS ...................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17
2 OS PRIMÓRDIOS DA MESOAMÉRICA ....................................................................................... 17
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ............................................................................................................ 23
3 SOCIEDADES ANDINAS .................................................................................................................. 24
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ............................................................................................................ 29
4 OS NATIVOS DO BRASIL EM 1500 ................................................................................................ 31
4.1 O COTIDIANO E SOBREVIVÊNCIA DOS NATIVOS ............................................................... 32
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 36
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 37
TÓPICO 3 – AMÉRICA PORTUGUESA ............................................................................................. 39
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 39
2 AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES.......................................................................................................... 39
3 A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA ....................................................................................... 41
4 OS MÉTODOS UTILIZADOS PARA A CONQUISTA ................................................................ 45
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................48
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49
TÓPICO 4 – AMÉRICA ESPANHOLA ................................................................................................ 51
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 51
2 A CONQUISTA DO NOVO MUNDO ............................................................................................. 51
3 ORGANIZAÇÃO POLÍTICA METROPOLITANA ....................................................................... 52
4 ESTRUTURA SOCIAL E ECONÔMICA NA AMÉRICA ESPANHOLA .................................. 53
4.1 CLASSES SOCIAIS E MÉTODOS DE TRABALHO NA COLÔNIA ........................................ 54
5 A CRISE COLONIAL ESPANHOLA ................................................................................................ 55
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 58
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 59
TÓPICO 5 – AMÉRICA INGLESA ....................................................................................................... 61
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 61
2 INGLESES NA AMÉRICA DO NORTE ........................................................................................... 61
sumário
VIII
3 A ESTRUTURA COLONIAL .............................................................................................................. 63
4 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ............................................................................................ 65
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 66
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 67
TÓPICO 6 – A AMÉRICA FRANCESA ............................................................................................... 69
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 69
2 A PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL .......................................................................................... 69
3 OS FRANCESES NA AMÉRICA DO NORTE ................................................................................ 70
RESUMO DO TÓPICO 6........................................................................................................................ 71
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72
UNIDADE 2 – DO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA COLONIAL 
 À GUERRA DO PARAGUAI ...................................................................................... 73
TÓPICO 1 – O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA INGLESA ......................... 75
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75
2 AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS ......................................................................................................... 75
3 AS ETAPAS DA INDEPENDÊNCIA ................................................................................................. 77
3.1 AS LEIS INTOLERÁVEIS .............................................................................................................. 77
3.2 O PRIMEIRO CONGRESSO CONTINENTAL DA FILADÉLFIA ............................................ 78
3.3 O SEGUNDO CONGRESSO CONTINENTAL DA FILADÉLFIA ........................................... 79
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 87
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 88
TÓPICO 2 – O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA .................. 89
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 89
2 AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS ......................................................................................................... 89
3 A INDEPENDÊNCIA GRADUAL E A FRAGMENTAÇÃO POLÍTICA ................................... 91
3.1 JOSÉ DE SAN MARTÍN ................................................................................................................. 92
3.2 SIMON BOLÍVAR ............................................................................................................................ 93
4 A NECESSIDADE DE CONSOLIDAR A INDEPENDÊNCIA .................................................... 95
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 97
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................101
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................102
TÓPICO 3 – OS ESTADOS UNIDOS: “OS GUARDIÃES DA AMÉRICA” ..............................103
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103
2 A DOUTRINA MONROE .................................................................................................................103
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................106
3 O BIG STICK ........................................................................................................................................108
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................110
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................111
TÓPICO 4 – GUERRA DO PARAGUAI ............................................................................................113
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113
2 AS CAUSAS DA GUERRA: ANTECEDENTES HISTÓRICOS ................................................113
2.1 O PARAGUAI DEPOIS DA GUERRA ........................................................................................119
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................121
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................125
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................126
IX
UNIDADE 3 – A AMÉRICA NO SÉCULO XX .................................................................................127
TÓPICO 1 – A ARGENTINA E O PERONISMO ............................................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1292 ARGENTINA E BRASIL: UMA BREVE COMPARAÇÃO .........................................................129
3 A ASCENSÃO DO PERONISMO ...................................................................................................132
3.1 A DÉCADA INFAME ....................................................................................................................133
3.2 OS DOIS MANDATOS DE PERÓN ............................................................................................134
4 A ARGENTINA LOGO APÓS PERÓN ..........................................................................................136
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139
TÓPICO 2 – A REVOLUÇÃO CUBANA ...........................................................................................141
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141
2 O QUADRO SOCIOECONÔMICO DE CUBA ANTES DA REVOLUÇÃO ..........................141
3 CUBA NO PERÍODO REVOLUCIONÁRIO .................................................................................144
3.1 A SIERRA MAESTRA E FIDEL ...................................................................................................145
3.2 CUBA APÓS A REVOLUÇÃO.....................................................................................................148
4 CUBA HOJE: UM BREVE RETRATO .............................................................................................151
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................154
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................158
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159
TÓPICO 3 – AS DITADURAS DA AMÉRICA LATINA................................................................161
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161
2 CARACTERÍSTICAS .........................................................................................................................161
2.1 A ARGENTINA DE GALTIERI A ALFONSÍN ..........................................................................162
2.2 O CHILE DE PINOCHET .............................................................................................................164
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ..........................................................................................................169
2.3 O PARAGUAI DE STROESSNER ................................................................................................171
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ..........................................................................................................173
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................176
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................177
TÓPICO 4 – OS BLOCOS ECONÔMICOS AMERICANOS ........................................................179
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................179
2 BLOCOS ECONÔMICOS .................................................................................................................180
2.1 O NASCIMENTO ..........................................................................................................................180
2.2 OBJETIVOS .....................................................................................................................................180
3 O MERCOSUL .....................................................................................................................................182
3.1 O NASCIMENTO ..........................................................................................................................182
3.2 OBJETIVOS .....................................................................................................................................183
4 OUTROS BLOCOS ECONÔMICOS ..............................................................................................183
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................185
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................187
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................189
X
1
UNIDADE 1
A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS 
PRIMEIROS TEMPOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
 A partir desta unidade, você será capaz de:
• identificar as razões que levaram à colonização do continente americano; 
• compreender a estrutura colonial portuguesa, espanhola, inglesa, francesa 
e holandesa; 
• refletir, a partir do contexto colonial, sobre a situação atual do nativo 
americano; 
• conhecer e comparar as diferenças existentes entre o processo de coloniza-
ção inglesa, espanhola, francesa, holandesa e portuguesa e refletir sobre suas 
influências na realidade atual.
Esta unidade está dividida em seis tópicos. Em cada um deles, você encontrará 
atividades que contribuirão para a apropriação dos conteúdos.
TÓPICO 1 – A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO 
 DE NOVAS TERRAS 
TÓPICO 2 – A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
TÓPICO 3 – AMÉRICA PORTUGUESA
TÓPICO 4 – AMÉRICA ESPANHOLA
TÓPICO 5 – AMÉRICA INGLESA
TÓPICO 6 – A AMÉRICA FRANCESA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE 
NOVAS TERRAS
1 INTRODUÇÃO
A colonização da América está atrelada às transformações econômicas e 
políticas ocorridas na Europa a partir do século XII. Neste sentido, consideramos 
relevante analisar, mesmo que brevemente, tais transformações.
 Esta análise deve proporcionar uma aproximação entre você, acadêmico 
(a), e os fundamentos culturais recorrentes na Europa neste período. 
Assim, consideramos elementar iniciar esta reflexão a partir das principais 
características do feudalismo e, sobretudo, os motivos que ocasionaram a ruína 
desse sistema. Nessas primeiras páginas, estudaremos sobre a constituição 
do feudalismo, sua concepção e seus agentes predominantes. Em seguida, 
será observado o período caracterizado pela crise do sistema feudal e suas 
consequências que culminaram na “necessidade” da exploração de novos 
territórios a fim de satisfazer as necessidades da economia europeia.
Portanto, através desta unidade, objetivamos compreender os motivos 
que ocasionaram a vinda dos europeus para a América.
2 O FEUDALISMO
Considerando a crise do sistema feudal, fator preponderante para o 
processo de expansão marítima e imperialista europeia no final da Idade Média, 
nos parece coerente iniciar nossa leitura relembrando e até mesmo aprofundando 
nossa reflexão acerca das principais características pertinentes ao feudalismo.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
4
FIGURA 1 – EXEMPLO DE FEUDO
FONTE: Disponívelem: <http://www.professoraclara.com/imagens/feudal/feudo-des.JPG>. 
Acesso em: 27 out. 2010.
O sistema feudal emerge a partir do século X atingindo seu apogeu entre 
fins do século XII e início do século XIII.
 Assim, 
Pelo século XIII, o feudalismo europeu já havia produzido uma 
civilização unificada e desenvolvida, que registrava um enorme 
avanço em relação às comunidades rudimentares e fragmentadas 
da Idade Média. Eram muitos os índices deste avanço. O primeiro e 
mais fundamental deles foi o grande salto para frente que produziu 
o excedente agrícola no feudalismo. Isto porque as novas relações 
de produção rural haviam permitido um impressionante aumento 
na produtividade agrícola. As inovações técnicas que eram os 
instrumentos materiais deste aumento foram basicamente o arado de 
ferro para lavrar, os arreios firmes para tração equina, o moinho de 
água para a força mecânica, o adubo calcário para a melhoria do solo e 
o sistema de três campos para a rotação de semeaduras. (ANDERSON, 
2004, p. 177-178).
TÓPICO 1 A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE NOVAS TERRAS
5
FIGURA 2 – DIAGRAMA DE UM FEUDO
FONTE: Burns, 1993
E sobre isto Perry Anderson nos alerta para que de fato não foi o “simples” 
advento de novas tecnologias voltadas à produção agrícola que estimularam 
esse emergente sistema social. Somente após a consolidação do sistema feudal, 
ou seja, as configurações das relações sociais de produção é que esses elementos 
associados foram amplamente implementados.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
6
Em suma, este autor defende a tese de que a simples invenção desses 
implementos não foi suficiente para alavancar a constituição de um novo modelo 
social, pelo contrário, ganhou significado a partir da consolidação das relações 
sociais que caracterizaram o feudalismo como as concessões de posse da terra, 
dependência entre servos e senhores entre outras. 
Ao longo da conhecida Idade Média Ocidental, o feudalismo apresentou-
se como o resultado do processo de aculturação entre as sociedades romana e 
bárbara, fato resultante da invasão desses ao território ocupado por aquela. Sua 
estrutura baseava-se em alguns pilares dentre os quais: o social, o político, o 
econômico e o religioso.
NOTA
Segundo o Dicionário Aurélio, aculturação é o “processo decorrente do contato 
mais ou menos direto e contínuo entre dois ou mais grupos sociais, pelo qual cada um desses 
grupos assimila, adota ou rejeita elementos da cultura do outro, seja de modo recíproco ou 
unilateral, e podendo implicar, eventualmente, subordinação política”.
FIGURA 3 – SÍNTESE DA SOCIEDADE FEUDAL
Clero
Nobreza
Camponeses e Servos
FONTE: Disponível em: <http://www.asdicas.com.br/wp-content/uploads/2010/03/feudalismo.
png>. Acesso em: 27 out. 2010.
TÓPICO 1 A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE NOVAS TERRAS
7
 A seguir caracterizamos de maneira sucinta quatro desses pilares: 
● Social: as relações de poder manifestavam-se através da posse da terra. O 
poder em questão estava vinculado ao fato de ter ou não a posse desta. Aqueles 
que dependiam de um senhor - proprietário de terras – encontravam-se em 
uma situação de submissão. 
● Político: representa um período em que o poder político estava descentralizado 
com relação ao rei. Os reis, em virtude das práticas de susserania e vassalagem, 
perderam parte considerável do poder político, agora nas mãos dos senhores, 
figura mais próxima e presente no cotidiano da vila.
● Econômico: caracterizava-se pela autossuficiência econômica e pela ausência 
quase total do comércio e de intercâmbios monetários. A produção era 
predominantemente agropastoril, voltada para a subsistência, e as trocas eram 
feitas com produtos, não com dinheiro. 
● Religioso: a Igreja se tornou proprietária de uma grande quantidade de feudos, 
e consequentemente, exerceu forte poder político e econômico na sociedade, 
exercendo inclusive controle sobre a produção científica e cultural da época. 
Estes quatro pilares, somados, foram fundamentais para que o feudalismo 
mantivesse suas sólidas estruturas por basicamente mil anos. A sociedade 
concentrava-se no âmbito rural e era no feudo que gravitava a vida social do 
homem medieval. Num único feudo existiam campos cultiváveis, a capela 
(para os habitantes dos feudos rezarem), os bosques (para os senhores feudais 
promoverem suas caçadas), as vilas (onde camponeses moravam).
Aqui, o senhor feudal era realmente, nas palavras de Marx, ‘o manipulador 
e controlador do processo de produção e de todo o processo da vida social’ – 
ou seja, uma necessidade funcional do avanço agrícola. Naturalmente, este 
avanço era obtido ao mesmo tempo para benefício do proprietário do moinho 
e à custa do vilão. Outras banalités tinham caráter mais puramente confiscatório, 
mas a maioria era derivada do uso coercitivo dos meios de produção superiores 
controlados pela nobreza. As banalités foram profundamente odiadas durante toda 
a Idade Média e eram sempre um dos primeiros objetivos de ataques populares 
durante os levantes camponeses. O papel direto do senhor na administração 
e supervisão do processo de produção naturalmente declinava, enquanto o 
próprio excedente aumentava: desde cedo bailios e intendentes administravam 
grandes propriedades para uma nobreza mais elevada que se havia tornado 
economicamente parasitária.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
8
NOTA
Significado de bailio: s. m. Nome dado em diversos países a magistrados com 
várias atribuições e hierarquias. Comendador, nas antigas ordens militares. FONTE: Disponível 
em:< http://www.dicionarioweb.com.br/bailio.html>.
[...] “O camponês típico devia proporcionar rendas em trabalho na 
propriedade senhorial – muitas vezes até três dias por semana – e muitas obrigações 
adicionais; no entanto, ele estava livre para tentar aumentar a produção em sua 
própria faixa de terra no resto da semana”. (ANDERSON, 2004, p. 179). 
3 A CRISE DO FEUDALISMO
É comum encontrarmos sites e até mesmo livros didáticos descreverem de 
maneira pragmática as causas do esfacelamento do sistema feudal, porém vários 
debates historiográficos já denunciaram as dificuldades de padronização desses 
conceitos. Durante o período medieval, o sul da Europa ocidental apresentou 
traços peculiares que diferenciavam essa região das áreas mais centrais e daquelas 
situadas ao norte. 
Neste sentido, concordamos com Hilário Franco Júnior (2006, p. 46), 
quando afirma que “Importa-nos mais buscar o entendimento da essência da crise. 
Sem dúvida, podemos afirmar que após uma fase A de crescimento econômico 
(1200-1316), a Europa ocidental entrou numa fase B depressiva, que se estenderia 
até fins do século XV no Sul e princípios do XVI no Centro e no Norte”.
Evidentemente que as limitações técnicas relativas à produção agrícola, 
os baixos índices de reeinvestimentos pelos senhores de terra, o crescimento 
populacional colaboraram para que “entre meados do século XIV a fins do 
século XV, [Portugal conhecesse] 21 crises de subsistência. Ademais, verificaram-
se pelo menos cinco períodos de fome generalizada em quase todo o Ocidente, 
cada um deles de anos” (FRANCO JÚNIOR, 2006, p. 47), denunciando assim a 
precariedade e vulnerabilidade do setor primário.
O setor secundário observou uma retração muito provavelmente 
ocasionada pela elevação dos preços dos alimentos. Assim, os recursos financeiros 
disponíveis para consumir bens industriais eram diminutos.
TÓPICO 1 A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE NOVAS TERRAS
9
Afetado pelos motivos anteriores, o setor terciário é atingido por uma 
redução da margem de lucro tanto das atividades comerciais quanto das 
financeiras. No caso dos bancos italianos, a lucratividade atingiu no começo do 
século XIV cerca da metade ou um terço do quefora anteriormente. As dificuldades 
econômicas das monarquias agravaram ainda mais o setor, sobretudo na França 
e na Inglaterra, envolvidas na Guerra dos Cem Anos. Precisando de recursos 
para a luta, os reis lançavam impostos extraordinários sobre o comércio, quando 
não simplesmente confiscaram mercadorias e dinheiro. Ou então contraíam 
empréstimos que não podiam saldar, como os que levaram à falência as casas 
bancárias dos Bardi e dos Peruzzi em 1345 e dos Acciaiuoli em 1347. (FRANCO 
JÚNIOR, 2006).
Esses fatos revelam o clima de insegurança que por sua vez propiciava 
o desmantelamento de um sistema financeiro fragilizado pelas constantes 
mutações monetárias impostas pelos soberanos. Sempre necessitados de 
dinheiro, os monarcas diminuíam a proporção de metal precioso das moedas 
e mantinham seu valor nominal, cunhando assim um maior número de peças 
com a mesma quantidade de metal nobre. Mas dessa forma recebiam impostos 
em moeda desvalorizada, o que os levava a efetuar nova desvalorização, e assim 
sucessivamente. Para lembrar apenas o caso francês, entre 1330 e 1380, o Gros 
perdeu 80% de seu valor real. (FRANCO JÚNIOR, 2006, p. 47).
Essas políticas monetárias eram ocasionadas pelos ônus das várias 
guerras, retração comercial – e não sua total estagnação – escassez de metais 
preciosos necessários à cunhagem de novas moedas e à diminuta circulação 
monetária. “Por fim, o entesouramento: percebendo que tanto as moedas ricas em 
metal precioso quanto as já manipuladas e desvalorizadas tinham o mesmo valor 
nominal, os usuários usavam estas e guardavam aquelas, forçando, portanto 
novas manipulações por parte do Estado”. (FRANCO JÚNIOR, 2006, p. 48).
 Esse fato reforça os conceitos cristalizados, inclusive em livros didáticos, 
acerca da necessidade de governos europeus encontrarem novas fontes de metais 
preciosos. Desse período de crise e desestabilização socioeconômica irá emergir 
a economia moderna.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
10
4 A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: UMA SAÍDA PARA A 
CRISE EUROPEIA
Na medida em que chegavam, apropriavam-se das terras por onde 
passavam, portanto, especula-se que a vinda dos europeus para a América não foi 
outra senão a necessidade de estabelecer novas relações comerciais e extrativistas 
como nos lembra Jaime Pinsky (2007, p. 23), ao afirmar que:
A descoberta da América por Cristóvão Colombo faz parte do 
processo de expansão do capitalismo europeu. O comércio, renascido 
em fins da Idade Média e desenvolvido no interior da Europa entre 
as cidades italianas e flamengas, foi deslocado, no século XIV, para o 
litoral atlântico. A escassez de metais preciosos provocava a falta de 
moeda em circulação, agravando os problemas já existentes. As nações 
da costa atlântica (Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda), 
detentoras do comércio sobrevivente, eram as que mais sofriam com 
a crise e, para superá-la, precisavam encontrar metais preciosos para 
valorizar suas moedas. Por outro lado, dependiam das cidades italianas 
para o fornecimento das mercadorias orientais trazidas pelos árabes, 
que dominavam o comércio no Mediterrâneo. Assim, a busca de 
novos caminhos para atingir o Oriente, terra encarada como fonte de 
riquezas, passou a constituir uma questão de sobrevivência. Era preciso 
enfrentar o Atlântico, explorá-lo, buscando saídas, e para financiar um 
empreendimento desse porte era condição prévia a existência de Estados 
Nacionais com poder político centralizado e recursos financeiros 
volumosos. Portugal e Espanha formaram os primeiros Estados 
Nacionais. Estavam, portanto, prontos para liderar o expansionismo 
marítimo e, levados pela necessidade, assim o fizeram.
Ou seja, a crise europeia associada à decadência do sistema feudal e a 
ascensão das relações pré-capitalistas de produção provocaram a necessidade, 
por parte dos europeus, de dominar novas rotas marítimas com destino às Índias 
ou regiões a partir das quais fosse viável a extração de algum tipo de riqueza. 
Neste contexto, foram os países ibéricos – Portugal e Espanha – os 
pioneiros em se aventurar por mares desconhecidos além de interagir com povos 
e culturas diferentes daquelas observadas na Europa.
O contexto citado acima se refere ao período transitório entre Idade Média 
e Idade Moderna.
 
Aproveitando a oportunidade convido você, a analisar o texto a seguir 
de Pazzinato & Senise (2002, p. 72), pertinente às relações pré-capitalistas de 
produção e suas origens.
TÓPICO 1 A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE NOVAS TERRAS
11
No século XIII, com o predomínio das atividades comerciais sobre 
o trabalho dos artesãos, iniciaram-se os choques entre a burguesia e os 
trabalhadores. Isso provocou a desagregação das comunas como forma 
de organização política que unificava todos os habitantes do burgo. Com 
o declínio das comunas, o governo das cidades passou a ser exercido pelos 
representantes dos grupos burgueses mais poderosos. Ao mesmo tempo, dois 
outros processos contribuíam para o aparecimento de um novo grupo social. 
Um deles foi o enfraquecimento das corporações, que já não podiam competir 
com a produção em maior escala do trabalho em domicílio organizado pelos 
mercadores. Com isso, muitos de seus oficiais, companheiros e aprendizes e até 
mesmo mestres artesãos tornaram-se trabalhadores assalariados a serviço dos 
grandes comerciantes. 
Na Inglaterra essas mudanças foram acompanhadas pela expulsão 
dos camponeses das terras em que trabalhavam. Obrigados a migrar para as 
cidades, esses camponeses passaram a trabalhar em troca de um salário na 
produção manufatureira. Esses dois contingentes de assalariados – camponeses 
sem terra e antigos trabalhadores das corporações de ofício – dariam origem a 
um novo grupo social ligado ao trabalho urbano. 
Assim, apesar do feudalismo permanecer como sistema dominante no 
interior da sociedade medieval, percebe-se, entre os séculos XI e XIII, o início do 
desenvolvimento de uma nova configuração de ordem social. 
5 A EUROPA ENTRE OS SÉCULOS XI-XIII
O aumento populacional observado desde meados do século X ocasionou 
a divisão dos antigos mansos pertinentes à época carolíngia em lotes menores, 
com cerca de 3 ou 4 hectares, denominados tenências. 
Porém, de acordo com Hilário Franco Júnior (2006, p. 37), 
não só os lotes camponeses viram sua área diminuir na Idade Média 
Central. A reserva senhorial também se viu reduzida em razão de 
vários fatores. Primeiro, a necessidade de criação de novas tenências 
camponesas, o que apenas o desmembramento dos mansos não fazia 
na quantidade desejada. Segundo, o progresso das técnicas agrícolas 
permitia ao senhor obter maior produção com menos terra. Terceiro, 
os rendimentos senhoriais vinham então bem mais do exercício dos 
direitos de ‘ban’ do que da exploração direta do solo (daí as baixas 
exigências feitas aos camponeses em troca de suas tenências). Quarto, 
na nova ordem social que se implantava desde fins do século X – o 
feudalismo – para estabelecer relações de vassalagem o senhor cedia 
terras sob forma de feudo.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
12
NOTA
Ban: no começo da Idade Média, este termo designava o poder de comando do 
chefe militar. Depois, o conjunto de poderes regalianos (de rei) que a partir do século X foi 
confiscado e explorado por grandes latifundiários: julgar, punir, tributar.
Essas alterações proporcionaram uma drástica diminuição do trabalho 
escravo no norte europeu em decorrência do barateamento da mão de obra 
ocasionada por sua vez pelo já mencionado aumento populacional.
Além disso, o aumento da produtividade agrícola e seu consequente 
excedente oportunizaram o revigoramento do comércio. Como afirma Franco 
Júnior (2006, p. 187), “a repercussão desse fato extrapolou a esfera econômica, 
tendo como pontosde convergência as feiras, dentre as quais se destacam as 
ocorridas na região de Champanhe”. 
Outra transformação econômica denominada por Jean Gimpel como 
Revolução Industrial Medieval é identificada durante a Idade Média Central, 
assim: 
Seu ponto de partida foi o crescimento demográfico e comercial, 
fomentador do desenvolvimento urbano. Estimuladas pela chegada 
de camponeses que conseguiam romper os laços servis, as cidades 
localizadas próximas a rios ou estradas frequentadas por comerciantes 
logo começaram a crescer. Noutros pontos, sem uma célula urbana 
a desenvolver, surgiram cidades praticamente do nada: entre 1100 e 
1300 apareceram cerca de 140 novas cidades no Ocidente. Algumas 
eram de iniciativa senhorial (para poder taxá-las), outras nasciam de 
um entreposto comercial ou de um mercado rural.
Todas elas, qualquer que fosse sua origem, precisavam oferecer ao 
campo alguns bens em troca de alimentos e de matérias-primas. Dessa 
maneira o artesanato urbano logo conheceu seu primeiro impulso, 
prolongado pelas crescentes necessidades de uma população (rural 
e urbana) em expansão e mais exigente em função do progresso 
econômico. A partir dessa pressão do mercado consumidor e 
aproveitando o avanço cultural que ocorria paralelamente, a 
Cristandade ocidental criou e aperfeiçoou dezenas de técnicas. 
(FRANCO JÚNIOR, 2006, p. 41- 42).
Esses fatores contribuem para uma acentuada monetarização da economia 
europeia, avessa ao o que ocorrera nesta região num período anterior (séculos IV-
X), no qual o entesouramento era prática predominante. 
Considerando nossa leitura até este ponto, podemos perceber uma 
correlação entre os fatos apresentados e os motivos que ocasionaram a chegada 
dos europeus ao Novo Mundo, posteriormente reconhecido como Continente 
Americano.
TÓPICO 1 A CRISE DO SISTEMA FEUDAL E O ACHAMENTO DE NOVAS TERRAS
13
Aquilo que Jean Gimpel denominou de Revolução Industrial Medieval e a 
consequente monetarização da economia provocou a busca por novos entrepostos 
comerciais, mercados consumidores e metais preciosos, dentre eles ouro e prata 
utilizados, sobretudo, na cunhagem de moedas.
Neste sentido, 
[...] percebeu-se que as antigas espécies monetárias não satisfaziam 
naquele contexto diferente. Um primeiro problema era a grande diversidade, a 
existência de centenas de moedas senhoriais, cada uma delas circulando numa 
área restrita. Um segundo problema era o baixo valor das espécies, resultado da 
reforma monetária carolíngia do século VIII, que implantara o monometalismo 
de prata: o denarius, moeda de pequeno valor, adequava-se melhor àquela 
economia pouco produtiva e de lenta circulação.
De um lado, a solução veio do fortalecimento do poder monárquico que 
então começava a ocorrer. Na França, por exemplo, as 300 oficinas de cunhagem 
existentes no início do século XI foram sendo reduzidas, até restarem apenas 
30 no início do século XIV. De outro, os metais preciosos que tinham sido 
entesourados foram aos poucos reentrando em circulação. Graças à expansão 
mercantil, entre início do século XII e meados do século XIII um afluxo de ouro 
muçulmano contribuiu para alargar o estoque metálico ocidental. Graças às 
novas técnicas de mineração, cresceu bastante a produção de prata da Europa 
central. Enfim, respondendo melhor às condições da época, em meados do 
século XIII reinstaurou-se o bimetalismo. Significativamente, as moedas de 
ouro reapareceram nas cidades mercantis italianas e só depois no resto do 
Ocidente cristão. (FRANCO JÚNIOR, 2006, p. 44).
Eis alguns fatos preponderantes vinculados à crise do sistema feudal: 
● Decadência do feudalismo em decorrência do renascimento urbano e comercial. 
Neste cenário, a posse da terra perde o significado mantido até então em 
detrimento dos avanços das práticas mercantis.
● Escassez de metais preciosos para cunhar moedas e consequentemente 
dinamizar as relações comerciais.
● Necessidade de expandir a fé católica em novas terras em resposta ao avanço 
da religião protestante. 
Portanto, o continente americano, objeto de nosso interesse neste Caderno de 
Estudos, foi observado como fonte das mais diversas riquezas naturais, necessárias 
à sustentação dos novos padrões econômicos emergentes no Velho Mundo. 
É a partir deste contexto que podemos analisar o processo de colonização 
da América e consequentemente toda a estrutura econômica, política e social 
organizada estruturada nesta região. 
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
14
6 A AMÉRICA COMO UMA ALTERNATIVA VIÁVEL
O achamento do então desconhecido Continente Americano pelos 
europeus no final do século XV foi encarado como uma alternativa viável aos 
já expostos problemas enfrentados na Europa, especialmente aqueles de caráter 
econômico.
Neste sentido, é importante analisar os motivos pelos quais os habitantes 
do Velho Mundo pressionados inclusive pelos seus governantes sentiram-se 
obrigados a desbravar um mar tenebroso, desconhecido e extremamente perigoso 
e posteriormente iniciar outro processo, este em terra firme, caracterizado pelo 
reconhecimento de territórios e culturas diferentes. 
A compreensão e utilização dos termos “achamento” e “culturas 
diferentes” revelam nossas perspectivas em relação a este processo. Para tal, 
consideramos as novas correntes historiográficas que posicionam o Continente 
Americano, enquanto uma região autêntica em seus mais variados aspectos 
sociais, culturais e ambientais. Assim, o nativo não é analisado como um indivíduo 
inferior tampouco superior ao europeu ou qualquer outro povo.
Por outro lado, o próprio europeu deverá aqui ser analisado a partir da 
sua concepção antropológica pertinente ao período em questão, sem vulgarizá-
lo, julgá-lo, desmerecê-lo ou enaltecido. Houve nesse período uma convergência 
de culturas, de seres distintos e concepções a respeito da própria existência 
completamente antagônicas.
15
Neste tópico, você viu que: 
● Os motivos que ocasionaram o colapso do feudalismo, dentre eles, foi a 
diminuta circulação monetária e a desvalorização da moeda como um dos 
fatores preponderantes que ocasionaram a crise desse sistema.
 
● A concepção do europeu em relação ao novo Continente a partir da perspectiva 
econômica, social e cultural. 
● As necessidades europeias e viabilidade de ocupação do Novo Mundo com 
vistas ao saneamento das questões econômicas.
RESUMO DO TÓPICO 1
16
1 Descreva os motivos pelos quais os governos europeus optaram por 
desbravar novas terras com o intuito de encontrar metais preciosos em fins 
da Idade Média e início da Idade Moderna, ou seja, durante o período de 
crise do sistema feudal.
2 Discorra sobre a viabilidade de colonização da América por parte dos 
europeus a partir do final do século XV.
AUTOATIVIDADE
17
TÓPICO 2
A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Os países situados atualmente na América Latina e que foram colonizados 
por espanhóis revelam suas origens nas civilizações pré-colombianas. Assim, a 
proposta deste tópico é analisar as origens dos povos situados nesta região no 
período anterior ao estabelecimento dos mexicas (astecas), em seguida verificar as 
particularidades dos próprios mexicas, além de fazer uma observação da região 
durante o período imediatamente anterior à chegada dos primeiros europeus.
Ressaltarmos a importância em se considerar as diversas culturas 
localizadas neste Continente no período que antecedeu a chegada dos europeus. 
O conjunto de povos citados neste texto, embora compreendam uma parcela 
significativa desta diversidade, expressam suas lacunas oportunizadas pela 
marginalização e exclusão de alguns. Não é novidade, que ao longo dos últimos 
séculos, o europeu foi considerado superior e civilizado quando comparado com 
o nativo americano, concepção que vem sendo combatidapor algumas correntes 
historiográficas recentes e que lentamente observam o resultado de suas pesquisas 
serem publicadas inclusive em novos livros didáticos.
Voltaremos a refletir sobre estas questões no momento da apresentação 
dos povos nativos que ocupavam o território que mais tarde se tornou colônia 
portuguesa, ou seja, o Brasil.
2 OS PRIMÓRDIOS DA MESOAMÉRICA
Embora seja corrente, os testemunhos acerca da presença humana em 
território ocupado pelo atual México a partir de 20.000 a.C. e até mesmo antes 
disso, por volta de 35.000 a.C. chegando neste Continente através do estreito de 
Bering, os fósseis encontrados no sítio arqueológico de Tepexpan, situado a cerca 
de 40 quilômetros da Cidade do México, datam de no máximo 9.000 a.C.
Durante um longo período habitaram a terra apenas alguns bandos 
de caçadores e coletores de alimentos. Seriam necessários mais três ou talvez 
quatro milênios para que o homem da Mesoamérica iniciasse, por volta de 
5.000 a.C, o processo que veio desembocar na agricultura. Achados em várias 
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
18
cavernas de Sierra de Tamaulipas e em Cozcátlan (Puebla) mostram como 
pouco a pouco os antigos coletores iniciaram o cultivo da abóbora, da pimenta 
malagueta, do feijão e do milho. A produção cerâmica teve início muito mais 
tarde, por volta de 2.300 a.C. Em várias partes do México central e meridional 
e na América Central, começaram a proliferar aldeias de agricultores e artesãos 
de cerâmica. Algumas dessas aldeias, situadas em ambientes provavelmente 
mais adequados, como às margens de um curso d’água ou junto ao mar, 
experimentaram muito cedo um crescimento populacional. Muitas vezes os 
habitantes dessas aldeias espalhadas por um território tão vasto diferiam étnica 
e linguisticamente. Dentre esses, cedo se destacou um grupo em particular. 
Achados arqueológicos revelam que uma série de mudanças extraordinárias 
começaram a surgir, a partir de mais ou menos 1.300 a. C., numa região próxima 
ao Golfo do México, ao sul de Veracruz e no estado vizinho de Tabasco. Essa 
região era conhecida desde os tempos pré-colombianos pelo nome de “Terra da 
Borracha”, Olman, terra dos olmecas. (BETHELL, 2004, p. 27).
Acredita-se que foram os olmecas os primeiros povos situados na região da 
Mesoamérica e construir grandes complexos voltados em sua maioria para práticas 
religiosas. A existência de grandes praças públicas indica que determinados rituais 
religiosos eram realizados ao ar livre.
FIGURA 4 – ESCULTURA OLMECA
FONTE: Disponível em: <http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/04/olmecas-300x293.
jpg>. Acesso em: 27 out. 2010.
TÓPICO 2 | A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
19
“É possível supor algum tipo de divisão de trabalho. Enquanto muitos 
indivíduos continuaram a trabalhar na agricultura e em outras atividades de 
subsistência, outros se especializaram em artes e ofícios diferentes, em garantir 
a defesa do grupo, em empreendimentos comerciais, no culto aos deuses e no 
governo, que estava provavelmente nas mãos dos chefes religiosos”. (BETHELL, 
2004, p. 28).
Há indícios que através das práticas comerciais e religiosos tenham 
influenciado várias regiões próximas ao golfo do México e no Planalto Central, 
regiões ocupadas pelos Maias além do oeste mexicano.
Por volta de 600 a.C., a influência da cultura olmeca começou a se fazer 
sentir em locais como Tlatilco, Zacatenco e outros, nas proximidades 
do que séculos mais tarde veio a ser Cidade do México. Processos 
paralelos desenvolveram-se em outras regiões da Mesoamérica central 
e meridional. A agricultura se expandiu e diversificou; entre outras 
culturas, o algodão foi cultivado com sucesso. As aldeias cresceram, 
dando lugar a centros maiores. (BETHEL, 2004, p. 29).
 Esses avanços e sua notória influência na região da Mesoamérica 
revelam a capacidade desses povos em transpor as dificuldades ocasionadas pelo 
desconhecimento dos usos da roda, metalurgia e domesticação de animais.
No planalto central desenvolveu-se uma verdadeira “metrópole dos 
deuses” na qual além das construções destinadas aos eventos religiosos 
percebe-se o cuidado com o planejamento urbano. Esta cidade que contava com 
bairros extensos, bem organizados e eficientes sistemas de drenagem chegou a 
comportar em seu apogeu – entre os séculos V e VI d. C. – uma população de 
aproximadamente 50 mil habitantes.
Paralelamente ao desenvolvimento de Teotihuacán, surgiu uma 
civilização em outras sub-regiões da Mesoamérica. Um dos primeiros 
exemplos foi Monte Albán, em Oaxaca central, cujo surgimento 
remonta a cerca de 600 d. C. Nesse local, além do centro religioso 
construído no topo de uma colina, a presença de numerosas 
estruturas em suas encostas sugere a existência de um núcleo urbano 
relativamente grande. (BETHELL, 2004, p. 30-31).
Os maias ocuparam as regiões de Guatemala e Belize, estendendo-se pela 
península de Yucatán e pelas planícies e montanhas dos estados do atual México 
denominados Tabasco e Chiapas além de porções de El Salvador e Honduras.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
20
FIGURA 5 – OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO DE CHICHÉN ITZÁ, CIVILIZAÇÃO MAIA
FONTE: Disponível em: <http://static.blogstorage.hipi.com/spaceblog.com.br/t/tu/turma/images/
mn/1226679307.jpg>. Acesso em: 27 out. 2010.
Graças à arqueologia, sabemos da existência de mais de 50 centros 
maias de importância considerável, que foram ocupados durante todo o 
Período Clássico. Alguns dos mais famosos são Tikal, Uaxactún, Piedras 
Negras e Ouiriguá na Guatemala; Copán em Honduras; Nakum em 
Belize; Yaxchilám, Palenque e Bonampak em Chiapas; Dzibilchaltún, 
Cobá, Labná, Kabah e os primórdios de Uxmal e Chichén-Itzá na 
península de Yucatán. [...] Na sociedade maia clássica coexistiam 
dois estratos sociais claramente distintos: o povo comum, ou plebeu 
(devotados, em sua maioria, à agricultura e à execução de vários serviços 
pessoais), e o grupo dominante, composto de governantes, sacerdotes e 
guerreiros de alta posição. (BETHELL, 2004, p. 31).
Especula-se a respeito do desaparecimento dessas civilizações, porém o 
fato é que este episódio ocorreu entre 650 e 950 d. C.
 
Os avanços culturais promovidos ao longo do Período Clássico (650 d.C. 
– 950 d.C.) foram preservados pelas civilizações posteriores até a chegada dos 
espanhóis em 1519.
Apesar de conhecerem metais preciosos como ouro e prata não se 
destacaram na produção de ferramentas. Seus martelos, raspadores e facas, 
por exemplo, eram feitos de pedra e os instrumentos para trabalhar o couro de 
ossos. Manipulavam a madeira e posteriormente desenvolveram pertinentes à 
metalurgia.
TÓPICO 2 | A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
21
As técnicas agrícolas eram variadas. Além do cultivo sazonal, no qual às 
vezes empregavam algum tipo de fertilizante, as sociedades da Mesoamérica 
fizeram uso de sistemas de irrigação, terraceamento e, principalmente na 
região central, introduziram os famosos chinampas, descritos muitas vezes 
como ‘jardins flutuantes’. Eram estruturas artificiais de junco, cobertas com 
terra fértil, fundeadas nos leitos dos lagos por meio de estacas de madeira. 
Nos chinampas eram plantados salgueiros para segurá-los no lugar. Sobre o 
excelente solo dos chinampas, os mexicas cultivavam flores e legumes frescos 
em abundância. (BETHELL, 2004, p. 53-54).
Em ocasião de sua chegada, o europeu demonstrou-se impressionado 
pela estrutura comercial organizada pelos pochtecas em praças de mercado e 
comércio. 
“Além de comprar e vender, os comerciantes também lidavam com 
vários tipos de contratos e empréstimos no sentido de viabilizar seus negócios”. 
(BETHELL, 2004, p. 55).
Outro aspecto relevante da cultura presente em Tenochtitlán era a religião, 
caracterizada pela diversidade de elementos oriundos de povos e civilizaçõessubmetidas e antecessoras processadas arduamente pelos sacerdotes a fim de 
melhor externar as visões de mundo dos mexicas.
FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DE TENOCHTITLÁN
FONTE: Disponível em: <http://civilizacoesantigas.pbworks.com/f/tenochtitlan-2.jpg>. Acesso 
em: 27 out. 2010.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
22
No período imediatamente anterior à chegada dos espanhóis, percebe-se 
que Tenochtitlán caracterizava-se como o centro de referências para os povos que 
margeavam essa região, como ressalta Bethell (2004, p. 59): “às vésperas da invasão 
espanhola, Tenochtitlán-México, a metrópole asteca, era o centro administrativo 
de um vasto e complexo conglomerado político e socioeconômico. Vários autores, 
ao descrever a natureza política dessa entidade, utilizaram termos como império, 
reino ou confederação de senhoriais e mesmo tribos”. 
[...] Não há registros de qualquer tentativa de expandir rumo ao 
norte no período de Tenochtitlán-México. Foi deixada aos espanhóis 
(acompanhados pelos tlaxcalanos e pelos mexicas) a conquista e a 
colonização da vasta extensão de territórios para além da Mesoamérica.
Assim, um mosaico de povos, culturas e línguas possuíam a terra em 
que Hernán Cortés e seus seiscentos homens logo iriam desembarcar. 
O conquistador cedo ficaria sabendo da existência dos mexicas. Foram 
feitas referências a eles pelos maias de Yucatán, pelos chontals de 
Tabasco e pelos totonacas de Veracruz. Por intermédio dos últimos, 
e particularmente dos tlaxcalanos, Cortés foi informado do poder e 
da riqueza da metrópole asteca e de seus governantes, em especial de 
Moteuczoma. Em seus escritos (e nos dos outros ‘cronistas soldados’), 
podem-se encontrar inúmeras referências aos aspectos mais óbvios 
da estrutura política, religiosa e socioeconômica que sustentavam a 
grandeza dos mexicas. (PAZZINATO; SENISE, 2002, p. 72).
Prezado(a) acadêmico(a)! As informações acima pertinentes as 
diversidades dos povos mesoamericanos, considerando o Período Clássico até 
a chegada dos espanhóis, nos fornece subsídios teóricos para compreender 
as estratégias utilizadas por Cortés com o intuito de desestabilizar os astecas. 
Exercendo seu poder “imperialista” sobre os demais povos desta região, os 
astecas não eram bem vistos pelos seus vizinhos, e Cortés soube articular essas 
forças em benefício dos próprios europeus, fazendo com que os próprios nativos 
se articulassem contra os poderosos mexicas (astecas), facilitando o propósito de 
dominação daqueles.
TÓPICO 2 | A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
23
LEITURA COMPLEMENTAR 1
A VISÃO ASTECA DA CONQUISTA
O primeiro traço fundamental da visão asteca da Conquista é o que se 
poderia descrever como o quadro mágico no qual esta haveria de desenvolver-se. 
Os astecas afirmam que, alguns anos antes da chegada dos homens de Castela, 
houve uma série de prodígios e presságios anunciando o que haveria de acontecer. 
No pensamento do senhor Motecuhzoma, a espiga de fogo que apareceu no céu, 
o templo que se incendiou por si mesmo, a água que ferveu no meio do lago, a 
voz de uma mulher que gritava noite adentro, as visões de homens que vinham 
atropeladamente montados numa espécie de veados, tudo isso parecia avisar que 
era chegado o momento, anunciado nos códices, do regresso de Quetzalcóatl e 
dos deuses.
Mas, quando chegaram as primeiras notícias procedentes das margens 
do Golfo sobre a presença de seres estranhos, chegados em barcas grandes 
como montanhas, que montavam uma espécie de veados enormes, tinham cães 
grandes e ferozes e possuíam instrumentos lançadores de fogo, Motecuhzoma 
e seus conselheiros ficaram em dúvida. De lado, talvez Quetzalcóatl houvesse 
regressado. Mas, de outro, não tinham certeza disso. No coração de Motecuhzoma 
nasceu, então, a angústia. Enviou, por isso, mensageiros que suplicaram aos 
forasteiros para que regressassem ao seu lugar de origem.
A dúvida a respeito da identidade dos homens de Castela subsistiu até 
o momento em que, já hóspedes dos astecas em Tenochtitlán, perpetraram a 
matança do templo maior. O povo em geral acreditava que os estrangeiros eram 
deuses. Mas quando viram seu modo de comportar-se, sua cobiça e sua fúria, 
forçados por esta realidade mudaram sua maneira de pensar: os estrangeiros não 
eram deuses, mas popolocas, ou bárbaros, que tinham vindo destruir sua cidade e 
seu antigo modo de vida.
As lutas posteriores da Conquista, registradas pelos historiadores 
indígenas, testemunham o heroísmo da defesa. Mas a derrota final, ao ser 
narrada nos textos astecas, já é depoimento de um trauma profundo. A visão 
final é dramática e trágica. Pode-se ver isto claramente no seguinte “canto triste” 
ou icnocuícatl:
Nos caminhos jazem dardos quebrados.
Os cabelos estão espalhados.
Destelhadas estão as casas,
Incandescentes estão seus muros. 
Vermes abundam por ruas e praças,
E as paredes estão manchadas de miolos arrebentados.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
24
Vermelhas estão as águas, como se alguém as tivesse tingido,
E se as bebíamos, era água de salitre.
Golpeávamos os muros de abobe em nossa ansiedade
E nos restava por herança uma rede de buracos.
Nos escudos esteve nosso resguardo,
Mas os escudos não detêm a desolação...
As palavras anteriores encontram novo eco na resposta dos sábios aos 
doze franciscanos chegados em 1524:
Deixem-nos, pois, morrer,
Deixem-nos perecer,
Pois nossos deuses já estão mortos!
Muitas outras citações poderiam acumular-se para mostrar o que foi o 
trauma da Conquista para a alma indígena. (...) a experiência do povo que, após 
resistir com armas desiguais, viu-se a si mesmo vencido. Não se deve esquecer 
que os astecas eram seguidores do deus da guerra, Huitzilopochtli; que se 
consideravam escolhidos do sol e que, até então, sempre creram ter uma missão 
cósmica e divina de submeter a todos os povos dos quatro cantos do universo. 
Quem se considera invencível, o povo do sol, o mais poderoso da Mesoamérica, 
teve de aceitar sua derrota. Mortos os deuses, perdidos o governo e o mando, a 
fama e a glória, a experiência da Conquista significou algo mais que tragédia: 
ficou cravada na alma e sua recordação passou a ser um trauma.
OBS.: “Manuscrito Anônimo de Tratelolco” (1528), edição fac-símile de 
E. Mengin, Copenhague, 1945, fl. 33.
O “Libro de los Coloquios de los Doce” não foi integralmente traduzido 
para o castelhano. Existe apenas um resumo dele em espanhol, preparado pelo 
Frei Bernardinho de Sahagún. A tradução dada aqui foi preparada pelo autor do 
texto.
FONTE: León-Portilla, Miguel. A conquista da América Latina vista pelos índios. Petrópolis: 
Vozes, 1984. p. 16-18.
3 SOCIEDADES ANDINAS
Há indícios que revelam o interesse e incursões de europeus estabelecidos 
na mesoamérica à região Andina anos antes da chegada de Pizarro no início do 
século XVI. Nesta ocasião, este território era descrito como rico, próspero e assim 
sendo, atendia aos interesses dos invasores espanhóis. Porém, esses relatos, como 
outros concernentes ao período são fragmentados e não encontram na arqueologia 
contemporânea o suporte necessário para serem analisados e interpretados em 
sua totalidade.
TÓPICO 2 | A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
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Considerando as dificuldades em compreender determinados aspectos 
das sociedades Andinas, assim como ocorre, por exemplo, com os astecas, não 
podemos descartar cartas, relatos e outros documentos produzidos por aqueles 
que estiveram na região em ocasião do contato desses povos com os europeus, 
pois foi através desses que construímos o conhecimento atual sobre as populações 
Andinas.
Em linhas gerais, a antiga civilização inca ocupou os territórios do atual 
Peru, Bolívia, Chile e Equador.
 Cuzco, considerada sagrada, foi fundada durante o século XIII perdurando 
até o domínio espanholocorrido em 1532.
FIGURA 7 – IMPÉRIO ANDINO
Atlantic
Ocean
Lima
Tumbes
Pacific
Ocean
Amazon R.
Cajamarca
Cuzco
Titicaca Valley
The Inca Empire
1463-1532
Caribbean
Sca
FONTE: Disponível em: <http://static.infoescola.com/wp-content/uploads/2010/02/mapa-incas-
262x300.gif>. Acesso em: 27 out. 2010.
Assim como os faraós, o imperador inca, denominado Sapa era reconhecido 
como um deus. A organização social apresentava estratificação, ou seja, classes 
determinadas nas quais os nobres compreendiam governantes, guerreiros e 
sacerdotes. Os funcionários públicos, como por exemplo, os cobradores de 
impostos, além de trabalhadores especializados em determinadas funções 
formavam uma classe intermediária. E por fim, na base da pirâmide social inca, 
encontramos artesãos e camponeses, submetidos à cobrança de tributos.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
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Destacaram-se na arquitetura por construírem edificações a partir de 
blocos de pedras encaixadas. A cidade de Machu Picchu foi descoberta em 1911 e 
revelou a concepção urbana presente na sociedade inca. 
FIGURA 8 – MACHU PICCHU
FONTE: Disponível em: <http://img.wallpaperstock.net:81/the-lost-city-of-incas-
wallpapers_3682_1600.jpg>. Acesso em: 27 out. 2010.
A agricultura, embora enfrentasse condições climáticas desfavoráveis, era 
extremamente eficiente. Os terraços, construídos nas encostas das montanhas, 
possibilitavam o cultivo e aproveitamento das águas das chuvas, além disso, 
construíram canais de irrigação. Dentre as culturas mais comuns destacam-se as 
de feijão, milho e batata. 
Conforme já destacamos, o seu desenvolvimento e domínio de técnicas de 
exploração e manipulação de metais preciosos foram externados na arte, através 
da qual se observa a produção de joias, instrumentos e outros objetos decorativos. 
A domesticação da lhama possibilitou a sua utilização como meio de 
transporte, fonte de lã, carne e leite. Cabe ressaltar que as fezes desse animal eram 
utilizadas para alimentar fogueiras. As alpacas e vicunhas também faziam parte do 
rol de animais utilizados pelos incas.
A religião, prática recorrente entre eles, destacava o deus Sol como sua 
principal figura divina. Outros animais como o condor e o jaguar também eram 
considerados sagrados e consequentemente cultuados.
Desenvolveram um sistema de registro denominado quipo, que era 
caracterizado por cordões que podiam ou não ser coloridos e nos quais se davam 
nós para registrar determinadas informações.
TÓPICO 2 | A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
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Em ocasião da chegada dos europeus, constataram em primeiro lugar que:
[...] a paisagem não se assemelhava a nada que já houvessem visto antes 
ou do que tivessem ouvido falar, embora alguns fossem soldados que haviam 
lutado na Itália, no México, na Guatemala, Flandres ou na África do Norte. 
Nos Andes, as montanhas eram mais altas, as noites mais frias e os dias mais 
quentes, os vales mais profundos, os desertos mais secos, as distâncias maiores 
do que as palavras poderiam descrever.
Em segundo lugar, o país era rico e não apenas em termos do que 
podia ser levado embora. Havia riqueza na quantidade de pessoas e em 
suas habilidades, nas maravilhas tecnológicas observáveis na edificação, na 
metalurgia, na construção de estradas, na irrigação ou nos produtos têxteis 
(‘depois que os cristãos levaram tudo o que queriam, ainda parecia que nada 
havia sido tocado’).
Em terceiro lugar, o domínio estava sob o controle de um príncipe 
havia pouco tempo, cerca de três ou quatro gerações antes de 1532. E desde os 
primeiros dias após a vitória espanhola em Cajamarca, pessoas mais atentas 
se perguntavam como havia ruído com tanta facilidade essa autoridade que 
governava tantos povos distintos por sua geografia particular. (BETHELL, 
2004, p. 65-66).
Mesmo enfrentando condições das mais adversas, desde o início do século 
XVI, observa-se uma maior concentração populacional na região do alto planalto 
ao redor do lago Titicaca do que em qualquer outra lugar da região andina.
Essas regiões, que aguçam a curiosidade de estudiosos comprometidos com 
a compreensão de suas origens e por motivos pelos quais esses povos escolheram 
essa área para se estabeleceram, formam pradarias tropicais, situadas na altitude e de 
clima frio, são cultiváveis há muito tempo, “talvez antes mesmo que todas as árvores 
fossem cortadas. Durante milênios, a maioria dos povos andinos viveram nesse local. 
Não apenas os incas, porém as mais antigas estruturas políticas (Tihuanaco, Huari) 
surgiram na puna – savana do Peru”. (BETHELL, 2004, p. 67).
Embora tenha despertado o interesse de agrônomos recentemente, a 
agricultura andina é caracterizada por culturas resistentes às condições locais 
além da adaptação de variedades europeias e africanas como a cevada, cana-de-
açúcar, uva e banana. É difícil precisar quantas dessas variedades eram cultivadas 
no início do século XVI.
Quando se estudam os muitos tubérculos (dos quais a batata é apenas 
o mais famoso) ou o tarwi (um tremoço rico em gorduras) ou a kinuwa 
(um cereal cultivado em grandes altitudes e rico em proteínas) ou a 
folha de coca que sacia a sede, percebe-se o quão autóctone e quão 
antigo era o complexo agrícola andino. (BETHELL, 2004, p. 67). 
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
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O cultivo do milho e da batata-doce eram verificados em todo o continente, 
embora no Sul nenhuma delas fosse produzida em quantidades expressivas. 
Além das diversidades e adversidades geográficas, a agricultura andina teve que 
enfrentar ainda as drásticas variações climáticas ocorridas num intervalo de 24 
horas.
No âmbito de tais adaptações e transformações do ambiente, as 
dimensões das comunidades políticas andinas variavam de algumas 
centenas de famílias a 25 ou 30 mil, com totais populacionais que 
chegavam talvez a 150 mil; quando reunidas num Estado como a 
Tahuantinsuyo dos incas, seu total podia alcançar cinco milhões ou 
mais. Aumentos nas dimensões da comunidade política causavam 
mudanças na localização e nas funções das colônias espalhadas. 
No vale de Huallaga, no que hoje é o Peru central, as primeiras 
investigações europeias identificaram vários grupos étnicos, o maior 
dos quais, o Chupaycho, alegava ter quatro mil famílias no sistema 
inca de contagem decimal. (BETHELL, 2004, p. 68).
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LEITURA COMPLEMENTAR 2
INCAS: QUEM MANDA, QUEM OBEDECE
O caráter despótico da dominação está bastante claro nas seguintes 
palavras que o inca Atahualpa dirigiu ao conquistador Pizarro: “No meu reino, 
nenhum pássaro voa nem folha alguma se move, se esta não for minha vontade”.
Nos postos mais elevados da hierarquia social e política, encontramos uma 
autocracia teocrática hereditária. O Inca, soberano supremo, é ao mesmo tempo 
uma divindade e transmite o poder a seus filhos. Na presença dele humilham-se 
até os mais altos e nobres dignatários, obrigados a apresentarem-se descalços, 
curvados e carregando um peso nas costas. Os direitos de vida e morte sobre seus 
súditos são absolutos, qualquer que seja o nível social deles.
O mito dessa divindade foi habilmente construído e melhor ainda 
difundido entre o povo. Historiadores oficiais, escolhidos pelo Inca, escreviam 
duas histórias diferentes: uma para a nobreza e a hierarquia, outra para o povo. 
Esta última, cuidadosamente elaborada, excluía tudo o que pudesse diminuir o 
respeito e a fidelidade ao soberano. Contadores de história e cantadores populares 
(hoje seriam enquadrados na categoria de meios de comunicação de massa) eram 
instruídos convenientemente sobre os temas de suas histórias e canções e sobre o 
tratamento que devia ser dado a elas. A derrota do Inca Urco frente aos chancas 
foi totalmente ignorada pela história oficial. Assim, religião,mitos, lendas e 
história foram deliberadamente fabricadas por especialistas, visando a divinizar 
o Inca, fazendo que sua vontade – e seus excessos – aparecesse como a vontade 
de um deus.
Abaixo do soberano vinha uma complexa burocracia administrativa e 
militar que chegou a constituir, por seu caráter hereditário, de fato, uma casta. 
Os descendentes dessa casta recebiam uma educação adequada para o mando e a 
administração. Era uma educação complexa e bastante rigorosa, que compreendia 
o estudo intensivo da versão oficial da história, tal qual havia sido escrita para 
esses nobres. Dado o caráter guerreiro dos incas, o preparo físico para a milícia 
era privilegiado; era o que hoje chamaríamos de ciência militar: a arte da defesa 
e do ataque, das fortificações e cercos, a espionagem e a diplomacia, a correta 
disposição e utilização dos soldados etc.
Os escolhidos para mandar adoravam deuses que não eram os do povo 
ou povos dominados. Estes conservavam a liberdade de adorar suas antigas e 
originais divindades, ainda que tivessem de aceitar como divindade suprema o 
Sol, o deus dos que mandavam, e o Inca, representante do Sol na terra. Havia, 
pois, uma religião dos dominadores e múltiplas religiões dos dominados. 
Existem, ademais, boas razões para crer que além do deus Sol, o Inca e seus nobres 
adoravam uma divindade mais transcendental e definitiva chamada Viracocha 
ou Pachacamac, senhor supremo da criação e criador do próprio Sol.
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
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A faustosa corte do Inca, com seus milhares de servidores, e a hierarquia 
civil e religiosa viviam dos tributos que milhões de seres humanos de todo o 
império entregavam ao Inca. Este recompensava seus dignatários de acordo 
com méritos militares, religiosos e administrativos, sendo que as recompensas 
consistiam em terras, rebanho de lhama, objetos de arte, mulheres, roupas 
de luxo e o direito de viajar em liteiras conduzidas por carregadores, exibir 
certos ornamentos e ocupar lugares privilegiados nas grandes cerimônias. A 
propriedade privada dos dignatários podia ser transmitida por herança não a 
herdeiros determinados pelo proprietário antes de sua morte, mas todo conjunto 
de seus descendentes. Considerava-se, assim, que os méritos acumulados antes da 
morte deveriam ser socializados. Dessa maneira, todos os parentes interessavam-
se para que, enquanto o dignatário fosse vivo, servisse ao Inca da melhor forma 
possível, porque dele dependiam a riqueza e as honras de todos.
O clero, da mesma maneira que a burocracia civil estava diretamente 
subordinado ao Inca. Mais ainda, era costume que o supremo sacerdote fosse um 
irmão ou primo do próprio soberano, designado em assembleia de notáveis. Essa 
espécie de papa era chamada Villac Umu e, logo abaixo, na hierarquia, havia dez 
prelados que poderíamos comparar ao que se tem hoje por bispos. O Villac Umu 
designava essas dez personagens e essas, por sua vez, escolhiam o clero para 
os escalões inferiores. Faziam parte do aparato sacerdotal: feiticeiros, oráculos, 
adivinhos, sacrificadores, intérpretes de sonhos, curandeiros etc. Era uma imensa 
e intrincada rede que assegurava o culto ao Sol e a seu representante vivo, o Inca.
Os dominados
O camponês comum, aquele que no império era chamado Llacta Runa, 
tinha obrigações, poucos direitos e muitos deveres. Abaixo dele, existia uma 
categoria social chamada de Yanaconas, formada por membros de uma sublevação 
da cidade de Yanacu, quando foram derrotadas pelas tropas do Inca e condenados 
à servidão ou à escravidão que se tornava extensivos a seus descendentes. 
De certa maneira, poderíamos dizer que viviam fora dos quadros sociais, 
que não dependiam, como os Llacta Runa, dos funcionários ou clérigos e que 
eram simplesmente propriedade de determinadas pessoas. Não eram escravos 
ou servidores para a produção, mas servidores domésticos. Não durou muito 
tempo e muitos deixaram essa condição, passando a fazer parte das famílias às 
quais serviam. Excepcionalmente, alguns alcançavam méritos ou mostravam 
condições que os elevaram a altas posições. Não faziam parte dos censos, talvez 
por serem considerados menos humanos, no entanto, ao que tudo indica, seu 
destino foi menos árduo que o dos escravos nos impérios espanhol e português.
FONTE: Adaptado de: POMER, Léon. Os incas. In: História da América hispano-indígena. São 
Paulo: Global, 1983. p. 32-34.
TÓPICO 2 | A AMÉRICA ANTES DOS EUROPEUS
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4 OS NATIVOS DO BRASIL EM 1500
Na época da chegada dos primeiros portugueses ao território, no qual hoje 
se encontra o Brasil, depararam-se com grupos humanos organizados socialmente, 
porém com hábitos considerados por aqueles como primitivos. Interessa-nos aqui 
revelar alguns aspectos das sociedades nativas que interagiram com português 
e salientar a visão preconceituosa perpetuada ao longo dos séculos desde o 
ocorrido. Esses nativos, tratados como uma massa homogênea através da qual suas 
diversidades culturais são ignoradas não dominavam nenhuma técnica de escrita 
e assim sendo, os relatos que nos foram transmitidos são originados de viajantes 
europeus que estiveram presentes nas primeiras expedições ao Novo Mundo.
Antes de examinar com maiores detalhes o que se conhece sobre 
os índios brasileiros às vésperas da invasão europeia, é importante 
observar alguns problemas históricos. Naturalmente, os índios 
desconheciam a escrita e qualquer sistema de numeração. Suas lendas 
e tradições orais, apesar de ricas em criatividade, são quase inúteis 
como testemunhos históricos. Eram artesãos de grande habilidade, 
mas construíam, decoravam e pintavam quase que somente sobre 
materiais perecíveis. (BETHELL, 2004, p. 104).
Considerando as palavras de Leslie Bethell expostas acima, cremos ser 
relevante uma reflexão sobre as diversidades concernentes a cada segmento ou 
grupo nativo estabelecido no atual território brasileiro, embora o mesmo possa 
ser feito acerca dos demais povos nativos da América. Por exemplo, os índios 
carijós, apresentam características peculiares como costumes, tradições e rituais 
que os diferenciam de todas as outras nações indígenas. 
Evidentemente, há características semelhantes e até mesmo comuns entre 
essas nações, porém devemos atentar para os conceitos generalistas. 
Acredita-se que o povoamento da América do Sul teve início por volta de 
20.000 a. C., com os vestígios de presença humana no Brasil variando de 16.000 
a.C. a 12.800 a.C aproximadamente. Os sítios arqueológicos espalhados pelo 
Brasil como os de Ibicuí (RS) e Lagoa Santa (MG) nos fornecem informações a 
respeito da propagação desses grupos humanos pelo território brasileiro a partir 
de 9.000 a. C.
Pesquisas recentes indicam que o surgimento dos dois troncos indígenas 
Macro-Tupi e Macro-Jê tenha ocorrido justamente durante esse processo 
de dispersão dessas populações primitivas a partir de 9.000 a. C. Entre os 
séculos VIII e IX as nações Tupi e Guarani originaram-se do tronco Macro-
Tupi, transformando-se posteriormente nos dois grupos indígenas que mais se 
destacaram nos primeiros séculos após a colonização do Brasil.
Em ocasião da chegada dos primeiros colonizadores portugueses ao Brasil, 
estima-se que a população indígena era composta de aproximadamente cinco 
milhões de pessoas. As duas nações originárias do tronco Macro-Tupi, os tupis e os 
UNIDADE 1 | A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA: OS PRIMEIROS TEMPOS
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guaranis estavam dispostos no território nacional da seguinte forma: Os guaranis 
localizavam-se basicamente no litoral Sul da colônia e a região interiorana próxima 
à bacia dos rios Paraguai e Paraná. Por sua vez, os tupis, estabeleceram-se na costa 
entre o Ceará e a Cananeia, atual estado de São Paulo. As demais tribos dispersas 
pelo território da então colônia eram denominadas tapuias, assim conhecidos pelos 
tupis por serem

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