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APOSTILA HISTÓRIA DO DIREITO II

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 FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ DE CAMPO GRANDE. 
 Curso: DIREITO
 Disciplina: HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO
 Prof. : JOSÉ CHADID.
 HISTÓRIA DO DIREITO II
A MAGNA CARTA (1.215 A.D.)
 Inicialmente, cumpre observar que o Direito Romano, tão influente na legislação européia da Idade Média, não se projetou com a mesma força na Grã-Bretanha, conquanto quatro séculos e meio (54 a.C.- 406 d.C.) representem o período da dominação romana. Muito embora o latim, até 1.731, fosse usado na linguagem forense e, ainda hoje, os textos legais estejam impregnados de máximas latinas, o Direito Romano apenas exerceu uma leve influência sobre o Direito Inglês.
O fenômeno é realmente curioso e, a explicação para que o Direito Inglês tenha se desenvolvido de maneira tão autônoma, que não se tenha submetido, senão limitadamente, à influência do Direito Romano tem duas versões. A primeira é que, prevalecendo o princípio segundo o qual são consideradas de caráter público as questões submetidas aos tribunais ingleses, não poderia o Direito Romano, por ser essencialmente um direito privado, ter aplicação na Inglaterra. 
A segunda diz que, a falta de maior receptividade do Direito Romano na vida jurídica inglesa, também se explica pela predominância de um sentimento nacionalista, sempre atento e contrário à presença desse direito. Assim, já em 1151, portanto, no reinado de Estevão (1135-1154), o seu ensino era proibido em Oxford. E, a partir de 1234, a mesma proibição foi imposta por Henrique III em Londres. Até que, em fins do século XIII, o ensino do Direito Romano deixou de ser adotado por completo nas Universidades da Inglaterra.
O Direito Inglês trata-se de um direito não desviado de suas origens; de um direito peculiar, dotado de características próprias; de um direito sempre geral e não legislado nem codificado por áreas em que o direito se distribui, ou seja, em civil, comercial, penal, administrativo etc.
Em razão de tudo isso, ressalta uma diferença fundamental entre os sistemas de influência inglesa e os de influência romana: nestes, as soluções de justiça se orientam através de uma técnica que tem como ponto de partida a lei; naqueles, a técnica para alcançar o mesmo objetivo parte das decisões judiciais. Não obstante, na descoberta e realização da justiça, esses sistemas distintos se convergem para um único ponto: a unidade do direito ocidental.
Analisemos a seguir a Common Law. O período anglo-saxão na Inglaterra, de 449 a 1066 A.D., assinala uma organização administrativa, política e jurídica ainda pouco desenvolvida. O rei, auxiliado pelo Conselho dos Prudentes (Witan), representa o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. É nessa fase que começam a ser expedidos os chamados mooms, espécies de sentenças contendo sanções pecuniárias por ofensas contra a pessoa e o patrimônio. Estaria aí a origem do Direito Penal na Grã-Bretanha.
Mas é de notar que o sistema jurídico britânico encontra o seu fundamento no common law, considerado este em dois sentidos: lato sensu, ele serve para designar o Direito Inglês na sua totalidade, distinguindo-o do Direito Romano; segundo, stricto sensu, ele compreende o conjunto de normas civis e penais cuja origem remonta aos costumes das tribos germânicas que povoaram a Inglaterra e, depois da conquista normanda em 1066, se consolidaram pelas decisões dos antigos tribunais de common law. 
Foi essa tradição que projetou o common law, não como resultado do arbítrio humano, mas como um obstáculo, paulatina e naturalmente consolidado, ao uso indiscriminado do poder, inclusive o do rei. Graças a ela, a estrutura política da Grã-Bretanha não se deixou orientar na direção de uma monarquia absoluta excessivamente centralizada.
Por conseguinte, em vista das acepções acima, pode a expressão common law ser perfeitamente traduzida por direito comum. A aplicação do common law, entendido este em sentido estrito, orienta-se pelo princípio da obrigatoriedade do precedente judicial. O precedente é a solução dada a um caso antecedente. Cumpre, porém, não confundir aqui precedente com costume (ou uso firmado por meio da prática continuada) ou jurisprudência (que se forma de decisões uniformes e reiteradas). Em outras palavras, enquanto o costume e a jurisprudência necessitam de repetição prolongada para se firmarem, o precedente se impõe se nenhuma delonga, é obrigatório desde logo. Por fim, esclareça-se que a aplicação do common law, com base no princípio da obrigatoriedade do precedente judicial, é da competência dos juízes ordinários. 
Outra das mais nítidas características do Direito Inglês, de modo a constituir também um de seus fundamentos, é a equity, aplicada pelos juízes de chancelaria.
Literalmente, o referido termo se traduz por eqüidade. Todavia, na sua acepção no Direito Inglês, não se relaciona somente com o conceito abstrato de justiça e, sim, com um corpo técnico de normas jurídicas. Quer dizer: a equity forma um corpo de direito, de conteúdo técnico e jurídico análogo ao common law em sentido estrito, deixando assim de ser uma concepção meramente abstrata para se converter em um ramo formal do Direito Inglês. É um poder jurisdicional para resolver as controvérsias com base nos pronunciamentos da antiga Corte de Equidade inglesa (Court of Chancery) e continuados pelos tribunais de eqüidade.
Eis os fins da equity: sanar as falhas e atenuar os rigores do common law em sentido estrito, que peca por excesso de formalismo. Portanto, uma completa o outro, como resultado do aperfeiçoamento da primitiva forma que deu origem à equity no Direito Inglês. De modo que, quando o common law não pudesse indicar a forma adequada para um determinado caso, ou a sua aplicação pudesse oferecer riscos a um julgamento equânime, os interessados dispunham do expediente de provocar a intervenção do rei, na pessoa de seu representante, o Chanceler. Tal intervenção seria naturalmente legítima nos casos em que a técnica do direito fosse falha. Neste sentido, sem se violar o direito comum, aplicava-se o princípio: Equity follows the law. 
Em suma, no sistema equity, destacar-se-iam os elementos de correção das falhas oriundas do sistema do common law. Por isso, Clóvis Beviláqua refere-se a essa eqüidade como um instrumento destinado a atenuar “os rigores da lei não escrita” e elevada pelos ingleses “à altura de uma noção positiva, fazendo dela uma fonte jurídica”. E acrescenta: “Blackstone definiu-a como “a correção dos defeitos que procedem da universalidade da lei”. 
Como mais um traço fundamental do Direito Inglês, há que se fazer ainda menção ao statute law – direito estatutário ou escrito. Na sua fase primitiva, o statute law tinha em mira confirmar o direito consuetudinário. Todavia no seu processo de evolução, passou a ter por objetivo principal a tarefa de completar e até mesmo alterar esse direito.
O statute law foi se revelando na forma de estatutos, atos, ordenanças e editos. Como exemplos, entre outros, podemos citar a MAGNA CARTA de 1215 e a Declaração de Direitos (Bill of Rights) de 1689.
A Magna Carta de 1215 foi assinada por João Sem Terra, contra sua vontade, mas pressionado pelos nobres e pelo clero da Inglaterra. Essa declaração foi escrita em latim e somente muito mais tarde, no século XVI, traduzida para o inglês.
João Sem Terra era o filho mais moço do rei Henrique II e irmão de Ricardo Coração de Leão e recebeu este cognome em virtude de não ter sido contemplado, quando seu pai doou províncias continentais a seus irmãos mais velhos. Recebendo, entretanto, enormes privilégios. Assim que assumiu o trono, João Sem Terra logo se revelou um déspota. Seus abusos e arbitrariedades chegaram a tal ponto que provocaram, forte reação dos nobres e do Clero, os quais, reunidos e apoiados por elementos burgueses, obrigaram João Sem Terra a firmar um documento, no qual se comprometia a respeitar, as liberdades fundamentais do reino. Este documentofoi chamado de A MAGNA CARTA, e é considerado a base tradicional das instituições inglesas..
Grande era, nessa época. o poder do rei da Inglaterra e nenhuma força tinham os barões contra o arbítrio do trono. Nenhuma classe, por mais graduada que fosse, estava isenta das mais clamorosas espoliações. Dispunha o rei da vida e dos bens dos seus súditos. 
Tal regime durou muitos anos, até que o país se viu novamente às portas de uma guerra com a França. João Sem Terra exigia grandes sacrifícios das classes feudais, impostos e serviço militar e precisava da colaboração dos barões, que não a negaram, mas exigiram de João Sem Terra o juramento solene de, para o futuro, respeitar os direitos dos homens livres de seu reino. Este documento tomou a forma de um ato institucional e constava de 67 artigos, que o rei autenticou com o seu sinete. 
Tais promessas nem sempre foram cumpridas por João Sem Terra, mas, de qualquer forma, estavam ali escritas e asseguradas as garantias individuais dos cidadãos.
Dessas garantias, derivam e se acham incorporados às Constituições dos povos livres os seguintes preceitos: 
Governo representativo,
Organização das assembléias políticas;
Imunidades parlamentares,
Ilegitimidade das tributações sem participação dos representantes dos povos;
O Habeas‑Corpus;
	 f) O tribunal do júri e numerosos princípios, relacionados com os direitos e garantias individuais.
Há escritores que negam a esse documento o caráter de uma conquista popular. Mas, como acentua Jayme de Altavila, embora apenas doze de seus artigos tratem diretamente de assuntos relacionados ao interesse do povo, esses pontos foram de substancial importância. Há também os que afirmam que tal declaração não criou nenhum direito novo. 
Realmente, muitas de suas disposições já aparecem em leis anteriores e o próprio Habeas-corpus encontra símile nos Estatutos da Paz, de 1022, editados pelo Rei Luís, como informa o autor acima referido. Todavia, nesse documento, isto é na MAGNA CARTA, foram editados vários dispositivos de real importância para as liberdades, passando esse documento a ser considerado uma carta de princípios a ser respeitada e cumprida por todos.
Destaquemos outros dispositivos importantes desse famoso documento: 
 “Art 43 – Haverá em todo Reino uma mesma medida para vinho e a cerveja, assim como para os cereais (grãos). Esta medida será a que atualmente se emprega em Londres. Todos os panos se ajustarão a uma mesma medida, em largura, que será de duas varas. Os pesos serão, também, os mesmos para todo o Reino.”
Tal dispositivo teve dois grandes méritos: repressão à fraude, em abono das classes pobres, consumidoras, e a antecipação do sistema métrico (que somente foi imaginado na França no ano de 1670, pelo abade Gabriel Monto, tomando por base o minuto de um grau meridiano). A Magna Carta foi a precursora dessa unificação de pesos e medidas e os seus intuitos foram naturalmente de amparar o povo, vítima das extorsões.
“Art 48 – Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdades, senão em virtude de julgamento de seus pares, segundo as leis do país”. 
Este inciso democrático poderia ser encaixado em qualquer legislação penal contemporânea, apenas com uma simples adaptação de texto. Encontra-se aqui disposição assecuratória das liberdades individuais, bem à semelhança de nossas leis atuais, sobretudo no que diz respeito à liberdade de ir e vir e resguardo dos seus bens. É a origem do habeas-corpus.
“Art. 49 – Não venderemos, nem recusaremos, nem dilataremos a quem quer que seja a administração da justiça”.
Este dispositivo vale pela evidência da probidade administrativa que se inaugurava na Inglaterra, cuja justiça é um dos seus maiores galardões.
 	Desse modo, fica evidenciado que, conquanto a MAGNA CARTA tivesse resultado de uma iniciativa dos barões e do clero, representou ela uma conquista de todo o povo inglês, suprimindo o arbítrio e acabando certos privilégios que eram odiosos e atentavam contra a dignidade da pessoa humana.
Mais tarde, em 1.689, veio a DECLARAÇÃO DE DIREITOS (Bill of Rights) que, elaborada em treze artigos, consolidou os ideais políticos do povo inglês. 
Por ela era vedada ao rei a autoridade para suspender o cumprimento das leis, proibindo a cobrança de impostos que não fossem previamente, votados pelo Parlamento, assegurando o direito de petição ao rei, impugnando as prisões ilegais, condenando os impostos exorbitantes, proclamando que a lista dos jurados eleitos deveria ser feita na devida forma, e com as notificações necessárias, anulando as concessões abusivas e as confiscações ilegais e impondo que os Parlamentos fossem convocados para "corrigir, afirmar e conservar as leis” .
	Desses direitos, aí se incluindo os consignados na MAGNA CARTA, destacamos alguns que passaram a incorporar as Constituições de todos os povos livres: 
	1 - O direito de petição, não incluído expressamente na MAGNA CARTA, embora estivesse implícito em vários preceitos, foi objeto de reconhecimento expresso em 1628 (Bill of Petitions) e incorpora a declaração de direitos de 1689, artigo 5º. 
	2 - A não exigência de tributos sem uma previsão legal. 
	3 - O habeas corpus, cabível sempre que alguém sofrer ou estiver ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso do poder. Note‑se que o Habeas corpus não nasceu em 1689 com a Declaração de Direitos, mas, em 1215, com a MAGNA CARTA. Apenas aí teve sua força revigorada nas leis da Inglaterra.
No Brasil, o Habeas corpus, foi especificamente criado pelo Código Criminal do Império (1830), que dispôs, nos seus artigos 183 e 184, constituir crime contra a liberdade: “Recusarem os juízes, a quem foi permitido passar ordem de habeas corpus, concedê‑los quando lhes forem regulamente requeridas, nos casos em que podem ser legalmente passadas”. Sua regulamentação vem logo após, com o Código de Processo Penal, de 1832. 
A primeira Constituição brasileira, de 1824, porém, já continha essa disposição consagradora desse remédio legal, apenas não usando a expressão que se consagrou no mundo inteiro. “Ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos declarados na lei...” Esses e muitos outros, como acima anotados, constituíram princípios que foram incorporados às Constituições dos povos livres de todo o mundo.
Daí podermos, afirmar, secundando as palavras do professor Pinto Ferreira (“Princípios do Direito Constitucional Moderno, apud Jayme de Altavila”), que a “MAGNA CARTA encerra uma época histórica e reabre uma outra, devendo ser entendida como a crisálida ou o modelo imperfeito das Constituições posteriores”.
_______________________________________________________
 DOS DELITOS E DAS PENAS (1764)
 	 Cesare Bonesana, Marquês de Beccaria , nasceu em 1738 e morreu em 1794. Nasceu em Milão, Itália, e graduou-se em Direito pela Universidade de Pádua, em 1758.
 	Sua obra, Dos Delitos e das Penas, foi publicada anonimamente em 1764 e despertou enorme interesse por preconizar um novo sistema de Direito Penal, pregando a supressão da tortura, da pena de morte, do confisco, da instrução criminal secreta, etc.
 		Seu livro foi traduzido, na época, em 22 línguas e até hoje se repetem edições da pequena grande obra que iria despertar uma nova mentalidade, agitando consciências adormecidas e fazendo ver aos homens dominantes da época que era um absurdo, já naquele estágio da civilização, empregarem leis e métodos ultrapassados, rigorosos , desumanos.
 		Teve a coragem de dizer isto, o que faltava a muita gente. Teve a propriedade de lançar as suas idéias de forma clara, objetiva, sintética, o que certamente concorreu para a grande divulgação de sua obra.
 		Foi sóbrio, equilibrado na emissão de seus conceitos. 
 Na sua obra, fez-se portador dos protestos da consciência pública contra os julgamentos infamantes, a atrocidade do suplício, o juramento imposto aosacusados, etc. Toma por base do direito de punir a utilidade social, declarando a pena de morte inútil e reclama a proporcionalidade das penas aos delitos.
 		O sistema jurídico vigorante ao tempo de Beccaria, ele mesmo o retratava no prefácio de sua obra: “Alguns fragmentos da legislação de um antigo povo conquistador, compilados por ordem de um príncipe que reinava a 12 séculos em Constantinopla, combinados, em seguida, com os costumes dos lombardos e amortalhados num volumoso calhamaço de comentários obscuros, constituem um acervo de opiniões que uma grande parte da Europa honrou com o nome de leis ...”.
 		O Código Penal Francês, de 1810, editado ao tempo de Napoleão, todavia, pouco se inspirou na obra de Beccaria, mas já em 1832, esse mesmo Código foi sensivelmente modificado para inserir em seu contexto as normas beccarianas.
 		O Brasil, depois de reger-se pelo livro 5( das Ordenações Filipinas, viu promulgado, em 1830, o Código Criminal do Império, onde sua influência , de algum modo, se faz sentir.
 		A obra de Beccaria operou uma verdadeira revolução branca, sem tiros, sem canhões, revolução pela força do pensamento, pela força de suas idéias, idéias expostas com precisão, com objetividade, com clareza e coragem, as quais, como assinala Pessina, citado por Altavila, antes de atacar a autoridade em seu fundamento, a combatia em seus excessos, que são mais visíveis. E, por isso mesmo, conclui, é que em torno dele veio agrupar-se grande número de escritores, proclamando todos eles a humanidade e brandura das penas e as garantias do direito individual na administração da justiça penal.
 		No parágrafo III de sua obra está consignado: “A primeira conseqüência desse princípio é que só as leis podem fixar as penas de cada delito e que o direito de fazer leis penais não pode residir senão na pessoa do legislador, que represente toda a sociedade por um contrato social.”
 		No § IV: “As provas de um delito podem distinguir-se em provas perfeitas e provas imperfeitas. As provas perfeitas são as que demonstram positivamente que é impossível que o acusado seja inocente. As provas são imperfeitas, quando não excluem a possibilidade de inocência do acusado.”
 		Em seguida, prega a publicidade dos julgamentos e das provas. 	
 Investe contra os interrogatórios sugestivos e pergunta: “Haverá um interrogatório mais sugestivo do que a dor?” E acrescenta que um acusado robusto resistiria a essa dor para evitar a condenação, enquanto um acusado fraco logo confessaria o crime para não sofrer mais.
 		Aborda a diferença de tratamento que deve ter o acusado, enquanto não for considerado culpado, daquele que já tiver sua responsabilidade reconhecida.
 		No § XV, fala da moderação das penas: “Das simples considerações das verdades até aqui expostas, resulta a evidência de que o fim das penas não é atormentar e afligir um ser sensível, nem desfazer um crime que já foi cometido. Os castigos têm por fim único impedir o culpado de ser nocivo futuramente à sociedade e desviar seus concidadãos para a senda do crime.
 		Sobre a pena de morte, escreveu (§ XVI): “Quem poderia ter dado ao homem o direito de degolar seus semelhantes? Esse direito não tem, certamente, a mesma origem que as leis que o protegem... Se eu provar, porém, que a morte não é tão útil nem necessária, terei ganho a causa da Humanidade.”
 		Admitia a pena de morte somente em casos de confusão em que a nação fica na alternativa de recuperar ou perder a sua liberdade.
 		No § XIX diz: “Se a prisão é apenas um meio de deter um cidadão até que ele seja julgado culpado, como esse meio é aflitivo e cruel, deve-se, tanto quanto possível, suavizar-lhe o rigor e a duração. Um cidadão detido só deve ficar na prisão o tempo necessário para a instrução do processo e os mais antigos detidos têm direito de serem julgados em primeiro lugar.”
 Prega a proporcionalidade das penas aos delitos (§ XXIII): “Se dois crimes que atingem desigualmente a sociedade recebem o mesmo castigo, o homem inclinado ao crime, não tendo que temer uma pena maior para o crime mais monstruoso, decidir-se-á mais facilmente pelo delito que lhe seja mais vantajoso...”.
 		E, nesse diapasão, segue Beccaria a sua pregação, sempre mostrando os erros que eram então cometidos em nome das leis, leis que não correspondiam ao estágio de desenvolvimento dos povos de então. E mostrava o caminho certo a seguir, sempre de forma objetiva, clara, humanitária, sem quebra da autoridade dos governantes.
 		Conclui sua magistral obra, dizendo: “De tudo o que acaba de ser exposto, pode-se deduzir um teorema geral utilíssimo, mas pouco conforme o uso, que é o legislador ordinário das nações: ‘ É que, para não ser um ato de violência contra o cidadão, a pena deve ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e determinada pela lei’”.
 		E o que resultou é que o livro de Beccaria se tornou universalmente conhecido e recordado pelos professores de Direito Penal e de Processo Penal, até nossos dias, o que bem revela a grandeza de sua obra, sobretudo olhada na perspectiva do tempo.
 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO
 (1789) 
	A Revolução Francesa é a mais importante revolução da história. A monarquia absoluta representava um obstáculo à ascensão da burguesia, classe mais rica e instruída da nação e o povo francês não podia mais tolerar um regime em que eram tantos os privilégios e os abusos. 
	A nobreza gozava de inúmeros privilégios, sendo que somente seus membros tinham acesso aos cargos da Corte, aos comandos militares e às dignidades eclesiásticas. A nobreza e o alto clero possuíam as melhores e as mais extensas propriedades, enquanto os camponeses viviam esmagados pelo sistema feudal, ainda reinante no campo, sob o peso de impostos, dízimos eclesiásticos e outros encargos. Havia também falta de unidade administrativa, variando os impostos de província para província, com tribunais diversos, inclusive os dos senhores da terra, os da municipalidade e os da Igreja.
	O poder do rei era absoluto e com uma simples ordem, podia ele mandar efetuar prisões discricionariamente. A Assembléia Geral, composta da nobreza, do clero e do chamado Terceiro Estado, não era convocada desde 1614. Não havia liberdade religiosa e nem de imprensa.
	Contudo, a França se desenvolvia no seu comércio e também na indústria, sobretudo na têxtil e de mineração. A burguesia possuía grandes recursos e não se conformava em ocupar uma posição de inferioridade e, por isso, era a principal interessada na Revolução. Também a classe operária crescia e passava a reivindicar melhores salários e os camponeses, que eram esmagados pelos impostos se mostravam insatisfeitos com a situação reinante.
	Nesse clima surgiram as idéias avançadas dos intelectuais da época, com o Jean Jacques Rousseau, com o Contrato Social, Voltaire, Diderot, D’Alembert, dentre outros, pregando a igualdade de todos perante a lei e a ausência de um Direito, nas leis da natureza, que justificasse a um homem se tornar escravo de outro. 
Proclamavam, em suma, um veto à opressão e à tirania, tudo isto ajudado pelos reflexos da luta pela independência dos Estados Unidos da América, de 1776, em cuja declaração Thomas Jefferson afirmava que era preferível “morrer livre do que viver como escravo” e que “ao dar-nos a vida, Deus nos deu ao mesmo tempo a liberdade”. Havia, pois, um clima favorável à Revolução.
	 O rei, pressionado, convocou a Assembléia Geral, fato que não ocorria desde 1614 e, desse modo, o povo passou a contar com uma poderosa força no Parlamento, o Terceiro Estado, contrapondo-se ao clero e à nobreza. 
Houve divergências entre o trono e o Parlamento e o rei mandou fecha-lo. O povo tomou o partido do Parlamento e, conquanto houvesse recuos do Rei, o processo revolucionário estava desencadeado.
	No dia14 de Julho de 1789, o povo sublevado, pega em armas e após algumas horas de luta, toma de assalto a famosa prisão da Bastilha, fortaleza que era o símbolo das injustiças do antigo regime. O rei fez concessões aos revolucionários, mas já era tarde demais, pois a revolução estava inapelavelmente desencadeada, sendo impossível estancá-la.
	A Assembléia Constituinte reunida decidiu suprimir os direitos feudais, os privilégios fiscais e no dia 02 de outubro de 1789, votou definitivamente a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão que estabelecia, principalmente, que todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos; que o fim do poder é proteger esses direitos que são “liberdade, propriedade e segurança”, bem como combater a iniqüidade e a injustiça. Que o poder existe, não no interesse dos que governam, mas no interesse dos governados. Que todo homem goza do direito de agir, de pensar e de escolher sua religião. A Lei é igual para todos.
	A Constituição Francesa foi concluída em 1791, estabelecendo a igualdade de impostos, secularizando o matrimônio, o registro e a instrução pública. 
A França enfrenta a seguir várias crises políticas e econômicas, como uma contra-revolução, ameaças externas de vários países, que queriam proteger o rei, que acaba sendo decapitado pelos revolucionários, o mesmo sucedendo com a rainha Maria Antonieta, um pouco mais tarde e, com Robespierre, um dos líderes revolucionário que implantou uma era de terror. 
Depois de vários golpes e contragolpes dos revolucionários, que haviam se instalado no governo, Napoleão Bonaparte, que já se destacara em inúmeras batalhas, assume o poder em 1799. Foram, então, consolidadas definitivamente as idéias revolucionárias.
	As idéias pregadas pela Revolução Francesa não eram propriamente inéditas, pois grandes pensadores da Antiguidade – Aristóteles, Sócrates, Cícero e mais recentemente Locke e outros já as haviam enunciado. Mas coube a Montesquieu, no seu livro Do Espírito das Leis, e a Jean Jacque Rousseau, com sua obra O Contrato Social , despertarem, mais que outros filósofos, o espírito universal dos princípios igualitários do homem.
	Assinale-se que houve na França, em 1789, um clima favorável à transformação política e social, sendo certo, que a maioria das Constituições Modernas, até nossos dias, adota postulados de maior relevância da Declaração Francesa. E, como assinala Jayme de Altavila, nenhuma expressão jurídica alcançou, até agora, uma aura de popularidade tão enternecida, uma consagração tão acentuada e universal como os princípios contidos na Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa.
	Para ser ter uma idéia disto, basta considerar-se que as Constituições de quase todos os povos, contém em seus preâmbulos estas expressões: “Todos os cidadãos são iguais perante a lei”. “Todos os seres humanos são iguais perante a lei”. “A liberdade de crença, de consciência, de opinião religiosa e filosófica individual é inviolável”. “O homem é livre”. “Todos são iguais diante da lei”. “A lei garante a todos os cidadãos o direito à vida, à sua honra, à sua felicidade, à sua liberdade pessoal e de seus bens”. No Brasil, vemos na Constituição Federal de 1988: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de sexo, raça, trabalho, credo religioso e convicções políticas. O preconceito de raça será punido pela lei”.
	Disto resulta que a Revolução Francesa, ditando uma nova ordem de idéias, fazendo surgir novos direitos e sepultando idéias de desigualdades injustificáveis,que até então existiam entre os homens, fez história do Direito, assinalando a sua penosa evolução através dos tempos.
	Constata-se, através de exemplos como estes, que a evolução do Direito, o evolver das conquistas do povo em prol dos ideais de igualdade, de fraternidade e de liberdade não se opera de um momento para outro, mas sim lentamente e à custa de muitos sacrifícios daqueles que se dispõem a lutar por esses ideais, dando mesmo as suas vidas em prol da causa da humanidade.
	A propósito, Rudolf Von Ihering, notável jurista alemão do século passado, no seu consagrado livro A luta pelo Direito (1872), assevera: “A paz é o fim que o Direito tem em vista, a luta é o meio de que se serve para o conseguir. Por muito tempo, pois, que o Direito ainda esteja ameaçado pelos ataques da injustiça – e assim acontecerá, enquanto o mundo for mundo – nunca ele poderá subtrair-se à violência da luta. A vida do Direito é uma luta: a luta dos povos, do Estado, das classes, dos indivíduos”.
____________________________________________________
 
 CÓDIGO DE NAPOLEÃO (OU CÓDIGO CIVIL FRANCÊS)
		É de 1804. Tem 2.281 artigos.
		Essa designação Código de Napoleão é de 1807, sendo abolido este nome pelas Cartas Constitucionais de 1.814 e 1830. Mas ele foi estabelecido, no 2º Império (1.852 – 1.870) por Napoleão III, sobrinho de Napoleão.
		Foi a atividade política de Napoleão que apressou a elaboração do Código e em parte lhe modelou a fisionomia, orientando as Leis Civis para os caminhos tranqüilo da burguesia em ascensão e refreando o extremismo inerente a quase todas as revoluções.
		Das 102 sessões da Comissão de Legislação do Conselho de Estado, Napoleão presidiu 57. Participava das discussões de certas matérias, dando aos debates força de expressão e caráter realista, mostrando grande lucidez e impondo sua vontade em vários pontos. Graças a sua ação ousada e empreendedora, o Código foi elaborado com sucesso e em curto espaço de tempo.
 		O Código de Napoleão é considerado a primeira grande codificação dos tempos modernos, e exerceu enorme influência em todos os Códigos Civis que se lhe seguiram, muito especialmente naqueles elaborados na América Latina. Na América Latina, exerceu profunda influência. As lutas pela independência dos povos do Novo Mundo se fizeram sentir após a Revolução Francesa e, tornando-se independentes, esses países não contavam ainda com uma geração jurídica capaz de preparar, de pronto, Códigos à altura de suas necessidades e certamente o espelho em que se iriam mirar era aquele Código elaborado na França, que estava em grande evidência, pois surgira após a Revolução Francesa (1.789), onde foram assentados os ideais de Liberdade, de Igualdade e de Fraternidade.
		O primeiro Código que apareceu na América do Sul foi o da Bolívia, que é quase uma reprodução do Código de Napoleão, seguindo-se o Peru, Chile, Equador, Uruguai e Paraguai.
		Na América Central, os primeiros foram os de El Salvador, Costa Rita, Nicarágua e Honduras.
		Na América insular, os do Haiti, República Dominicana, Cuba.
		O Haiti adotou inteiramente o Código Francês. Também a República Dominicana e Costa Rica. Nos demais, encontram-se vários dispositivos que se inspiram no pensamento jurídico do Código de Napoleão.
		É bom que se deixe esclarecido que, nos outros países, a influência do Código de Napoleão se fez sentir, mas não a tal ponto de fazer uso dele, mesmo porque, elaborados mais recentemente, esses Códigos já seriam também inspirados noutras legislações, convindo ainda assinalar o surgimento de grandes juristas nesses vários países das Américas.
		O Código Argentino, por exemplo, baseia-se fundamentalmente, no esboço de Teixeira de Freitas, notável jurista que tinha sido encarregado de elaborar o projeto do Código Civil Brasileiro, em 1858, o qual, porém, somente veio a entrar em vigor em 1917, cerca de 60 anos depois, portanto. O projeto aprovado foi o grande jurista Clóvis Bevilacqua.
		O que é certo é que o Código de Napoleão é, reconhecidamente, um “repositório de experiência jurídica”, como disse Clóvis Bevilacqua. Escrito em linguagem de fácil compreensão, didático mesmo, exerceu grande influência nas legislações civis que se lhe seguiram.
		Há, nos anais da humanidade, dois prodigiosos exemplos de imitação jurídica: a expansão do Direito Romano e a irradiação do Código de Napoleão.
		E Napoleão tinha previsto isto, quando, em Santa Helena, escreveu: “Minhas verdadeirasglória não esta em ter ganho quarenta batalhas; Waterloo apagará a lembrança de tantas vitórias. O que não se apagará, o que viverá eternamente, é o meu Código Civil”.
		O Código foi considerado obra de grande valor, embora merecesse algumas críticas, pelo menos em alguns pontos:
		I – Nos arts.: 11, 14, 16, 726 e 912 é ressaltado o ódio ou pelo menos a desconfiança ao estrangeiro. Talvez, porque a França na época estava em guerra com as nações da Europa. Os 2 últimos artigos foram ab-rogados pela Lei de 14/07/1819.
		II – Napoleão queria que se concedesse ao povo, (com os sentimentos democráticos então despertos) tudo quanto não fosse diretamente nocivo ao Poder; que à partilha dos bens e à constituição da família presidissem princípios democráticos, contando que eles não se introduzissem na direção do Estado; “Que houvesse liberdade nas Leis Civis, mas não nas Leis Políticas”.
	 Finalizando: De nada valeriam as Declarações e Constituições dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), sem as leis de Direito Privado para ordenar os princípios fundamentais. O Código Civil foi o instrumento da ideologia democrática nas relações da vida civil. Napoleão, com o Código Civil deu à burguesia triunfante, os meios de cortar as amarras com a Aristocracia e o Feudalismo.
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