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Fisiologia da dor

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PROBLEMA 1 
1. Definir e classificar dor. OK 
1.1 Decálogo da dor. OK 
2. Caracterizar os nociceptores (como funcionam e quais são). OK 
3. Descrever a via da dor e identificar as estruturas encefálicas mínimas para sentir dor. OK 
4. Definir sensibilização periférica. OK 
5. Caracterizar a modulação central (Sistema Analgésico Central Descendente) e periférica da dor. OK 
6. Caracterizar sensibilização central (o que é, como ocorre, quais as consequências). OK 
7. Caracterizar neuropatia periférica (o que é, causas, neuroma, características clínicas, tratamento). 
8. Compreender mecanismos de ação de anticonvulsivantes e antidepressivos voltados para o controle 
analgésico da neuropatia. 
9. Descrever limiar de de dor e quais as áreas encefálicas relacionadas. 
10. Definir hiperalgesia e alodínea (tratamento). OK 
 
GLOSSÁRIO 
- DOR​: experiência sensitiva associada a lesão 
- LIMIAR DA DOR​: intensidade de estímulo que leva à percepção, é o mínimo para se der o estímulo doloroso. 
- HIPERALGESIA​: aumento da resposta ao estímulo que normalmente é dolorosa 
- ALODÍNIA​: dor ao estímulo que normalmente não é doloroso mas passa a ser 
- PARESTESIA: ​sensação anormal, espontânea ou evocada nem sempre desagradável. 
- NEURALGIA: ​dor da distribuição do nervo que pode ou não ser acompanhada de sinais de hipofunção do nervo. 
- ANALGESIA: ​ausência de dor ao estímulo nociceptivo. 
- PARESTESIA: ​sensação anormal, espontânea ou evocada, nem sempre desagradável; 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
CONCEITO 
É uma experiência sensorial, emocional e cognitiva desagradável, relacionada com uma lesão real ou 
potencial dos tecidos a qual determina respostas celulares, do sistema nervoso e psicológicas. 
Aspectos fundamentais da dor: 
1. Perceptivo-discriminativo: dor relacionada a estruturas neurofisiológicas distintas, discrimina o 
estímulo doloroso. 
2. Aversivo-cognitivo: dor como sofrimento, determinantes psicológicos. 
A presença de dor na ausência da lesão tecidual é explicada ao fato da dor depender de diversas 
atividades do sistema nervosos relacionadas com processos sensoriais, motivacionais/afetivos, cognitivos e 
mecanismos psicodinâmicos. 
 
Tratado de Anestesiologia SAESP VII 
DECÁLOGO  
1. ​LOCAL​ – ​Onde dói? 
2.​ ​INTENSIDADE​ – ​Numa escala de 0 a 10, quanto está doendo? 
3.​ ​IRRADIAÇÃO​ – ​A dor irradia? Ela se move? Espalha pra outro lugar? 
4.​ ​EXTENSÃO​ – ​A dor é pontual ou ela é em uma grande área? 
5.​ ​EVOLUÇÃO​ – A dor piorou? A dor melhorou? 
6. TIPO DE DOR ​– Pontada, queimação, formigamento, fisgada, aperto, cólica, esmagamento, coceira, ardor, calor, 
choque, pulsação, tremor, como uma batida, pesada, 
7.​ ​FATORES AGRAVANTES ​– O que faz a dor piorar? 
8.​ ​FATORES ATENUANTES ​– O que faz a dor melhorar? 
9.​ ​FATORES QUE ACOMPANHAM ​– Você tem algum outro sintoma junto com a dor? 
10.​ ​FATORES DE SEMELHANÇA ​– Você já sentiu essa dor antes? 
Semiologia Médica - Celmo Celeno Porto - 7ª Edição. 2013 
 
CLASSIFICAÇÃO 
A classificação da dor pode ser feita de acordo com variados critérios: 
1. TEMPO: ​aguda, desaparece junto com a lesão; crônica, duração maior que 3 a 4 meses. 
● AGUDA - dor desaparece junto com a lesão 
○ Causa ansiedade, medo, irritação, aumento da frequência cardíaca e respiratória, provocando 
alterações neurovegetativas como sudorese e dilatação da pupila. Alerta de risco para a lesão. 
● CRÔNICA - a dor permanece e tem duração maior que 3-4 meses. 
○ É persistente e de longa duração. Não apresenta função biológica, alterando as funções fisiológicas e 
psicológicas como depressão, ansiedade, letargia e distúrbio do sono. Tem alívio inadequado. 
2. FISIOPATOLOGIA: ​pode ser nociceptiva somática e visceral, neuropática ou psicogênica. 
● NOCICEPTIVA (​trauma, infecção, degeneração articular, invasão tumoral em osso): é decorrente da ativação de 
nociceptores situados em tecidos somáticos superficiais e profundos e é visceral quando sensibiliza receptores 
em estruturas viscerais. Caracteriza-se muitas vezes como dor em pontada, latejante ou queimante. Na dor 
visceral, descrita como profunda, tem-se características de uma dor difusa, mal localizada e opressiva, 
geralmente com associação clínica a quedas de pressão, náuseas, vômitos, sudorese e alteração na frequência 
cardíaca. 
○ Funcional: somática profunda, somática superficial (​cãibra​) e visceral (​enxaqueca​) 
○ Orgânica: somática profunda (​artrite​), somática superficial (​infecção de pele​) e visceral (​tumor​) 
 
 
● NEUROPÁTICA (​neuralgia pós-herpética, neurite traumática, síndrome complexa de dor regional, neuralgia do 
trigêmeo​): é uma dor causada por doença, lesão ou disfunção dos nervos. 
○ Funcional (​SCDR​) 
○ Orgânica: central (​pós AVC, lesão medular​) e periférica (​neuropatía diabética, neuralgia pós-herpética​) 
■ Dor central: decorre de lesões da medula espinhal, de tronco cerebral, tálamo e córtex cerebral. 
 
 
○ Psicogênica 
3. LOCALIZAÇÃO: 
● SOMÁTICA - bem localizada, próxima da lesão e pode exacerbar com o movimento 
● VISCERAL - é pouco localizada, com alterações autonômicas e é uma dor referida. 
4. ETIOLOGIA: 
● Pode ser causada por trauma, cirurgia, herpes zóster, câncer, hérnia de disco, infecção, isquemia, espasmos. 
5. DEPENDÊNCIA DO SISTEMA SIMPÁTICO: 
● Pode ser dependente ou independente do sistema simpático. São mantidas pelo simpático: ​SCDR, neuralgia, dor 
inflamatória, dor central e dor fantasma​. 
6. REGIÃO AFETADA: 
● Lombar, torácica, cefálica, cervical, abdominal, pélvica e dos membros. 
7. SÍNDROME: 
● Lombalgia e lombociatalgia; 
● Cervicobraquialgia; 
● Miofascial; 
● Fibromiálgica; 
● SCDR; 
● Central; 
● Neuropatia; 
● Trauma. 
Tratado de Anestesiologia SAESP VII 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
NOCICEPTORES 
Os nociceptores são os neurônios aferentes responsáveis pela detecção e sinalização do estímulo nóxico. É na 
verdade, o terminal sensorial periférico onde ocorre a transdução de energia, podendo ser considerado também o 
corpo celular do gânglio da raiz do corno dorsal ou trigeminal, ou ainda a terminação neuronal na medula espinal ou no 
tronco cerebral. 
Tratado de Anestesiologia SAESP VII 
Existem três classificações de nociceptores: 
1. MECANORRECEPTORES:​ respondem ao estímulo mecânico intenso; 
2. TERMORRECEPTORES: ​são ativados por temperaturas extremas, estão acoplados com as fibras A gama ou C. 
3. POLIMODAIS: ​respondem à estímulos térmicos, mecânicos e químicos. A lesão leva a liberação ou a formação 
de diferentes substâncias que sensibilizam ou ativam nociceptores (bradicinina, serotonina, histamina, 
prostaglandinas, citocinas, adenosina, íons diversos e óxido nítrico. 
a) ÓXIDO NÍTRICO: gerado pela inflamaçãoativa fibras sensitivas. 
b) ADENOSINA (ATP): causa a ativação direta de neurônios sensitivos, a hidrólise do ATP causa dor pela 
ativação de receptores A2. 
c) BRADICININA E CALICREÍNA: agem pela ligação de receptores B1 e B2. 
d) SEROTONINA: aumenta a permeabilidade do íon sódio. 
e) HISTAMINA: aumento da permeabilidade do íon cálcio. 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
FIBRAS 
● Há dois tipos de sensações dolorosas que se originam da ​pele​: 
○ DOR RÁPIDA (em agulhada) mediada por ​fibras aferentes primárias mielinicas do tipo A​, é bem 
localizada quanto à intensidade e a natureza do estímulo, são provocadas por estímulos intensos de 
pressão e calor. 
○ DOR LENTA (difusa e em queimação)mediada ​fibras aferentes primárias amielinicos do tipo C de difícil 
localização e caracterização quanto a sua natureza e geralmente decorrente de lesões teciduais 
(queimaduras, inflamações) 
 
● Em ​tecidos profundos​, as sensações dolorosas são mediada por ​fibras do tipo C​, igualmente difusas e lentas 
(câimbras musculares) 
● Nas ​vísceras​, são mediadas por ​fibras do tipo C​, igualmente difusas e lentas (cólicas) 
● As fibras do tipo C, lentas, são multissinapticas, a informação é mandada para o córtex límbico e frontal, 
hipotálamo, núcleos motores e assim não consegue ser analisada com precisão, nem intensidade e nem 
características (sensibilidade visceral e profunda). É lenta, gradativa e prolongada, muito difusa. Relacionada 
com a dor crônica, é acompanhada de intensa reação neuro-vegetativa, motora e comportamental 
 
NEUROTRANSMISSORES 
● As sinapses químicas podem ser excitatórias ou inibitórias. Os neurotransmissores excitatórios (acetilcolina, 
glutamato e serotonina) abrem canais de cátions, induzindo o influxo de Na+, o que despolariza a membrana 
pós-sináptica para ativar o potencial de ação. Já neurotransmissores inibitórios (ácido γ-aminobutírico, ou 
GABA, e glicina) abrem canais de Cl- e K+. 
● Os polimodais são os que mais respondem aos estímulos térmicos, mecânicos e químicos. Os nociceptores 
podem ser silenciosos ou latentes, que não respondem ao estímulo intenso, mas passam a exibir atividade 
espontânea na presença de mediadores inflamatórios - gerados por lesão tecidual, vasos, células imunológicas, 
nervos sensitivos simpáticos e sensitivos. 
● A lesão é responsável pela produção ou liberação de substâncias que sensibilizam ou ativam os nociceptores, 
que agem por meio de receptores e canais presentes na membrana dos nociceptores. Além disso, a lesão 
também provoca a liberação de ácido láctico, que causam a ativação direta de nociceptores e o aumento da 
permeabilidade a íons, com ativação de nervo e aumento da sensibilidade. 
● Lesão + inflamação + ativação de neurônio sensitivo = geração de óxido nítrico, que causa a ativação de fibras 
sensitivas, provocando a liberação de um péptide relacionado ao gene da calcitonina. Já o ATP causa a ativação 
direta de neurônio sensitivo provocando a dor - a sua hidrólise rápida, que gera ADENOSINA, causa dor e 
hiperalgesia pela ativação dos receptores A2. Também ativa os receptores A1, que diminui a excitabilidade por 
bloquear a permeabilidade ao íon cálcio ou aumentar a permeabilidade ao íon potássio. O AMPc diminui a 
permeabilidade ao íon potássio. 
● A hiperalgesia é mediada pela liberação de TNF-alfa e interleucina-1-beta ou por prostaglandinas. 
 
VIAS DA DOR 
Existem duas vias principais pelas quais os impulsos de dor e temperatura chegam ao cérebro a 
NEOESPINOTALÂMICA ​(trato espinotalâmico lateral)​ ​e a ​PALEOESPINOTALÂMICA ​(via espino-reticular-talâmica). 
1. VIA NEOESPINOTALÂMICA 
Constitui-se do trato espinotalâmico lateral e envolve uma cadeia de três neurônios. Essa via é responsável 
apenas pela dor aguda bem localizada na superfície do corpo (dor em pontada). 
a) Neurônios I: situam-se nos gânglios espinais que estão nas raízes dorsais, seu prolongamento periférico liga-se 
ao receptor e o prolongamento central liga-se ao ​neurônio II ​terminando na coluna posterior da medula. 
b) Neurônio II: suas fibras constituem o trato espinotalâmico lateral e sobem, ao chegar no nível da ponte essas 
fibras se unem as do trato espinotalâmico anterior e constituem o lemnisco espinhal que termina no tálamo 
fazendo sinapse com o ​neurônio III. 
c) Neurônio III: ​estão localizados no núcleo ventral posterolateral do tálamo, passam pela cápsula interna e coroa 
radiada até chegar no giro-pós central (área somestésica). 
 
2. VIA PALEOESPINOTALÂMICA 
Essa via da dor possui uma cadeia maior de neurônios do que a espinotalâmica, seu cruzamento de fibras na 
medula varia e está mais relacionada à dores crônicas e difusas. 
a) Neurônio I:​ igual da espinotalâmica. 
b) Neurônio II: situam-se na coluna posterior e suas fibras podem se direcionar o funículo lateral ipsilateralmente 
ou do lado oposto e formam o trato espino-reticular que sobe na medula e faz sinapse com o ​neurônio III em 
vários níveis de formação reticular. 
c) Neurônios III: ​localizam-se localizam-se na formação reticular e originam as fibras reticulotalâmicas que vão até 
o grupo medial do tálamo, em especial nos núcleos intralaminares (neurônio IV). 
d) Neurônio IV: são os núcleos intralaminares que se projetam para diversas partes do córtex cerebral, no entanto, 
a sensação de dor toma consciência já em nível talâmico. 
 
Neuroanatomia Funcional, Ângelo Machado 
As fibras aferentes nociceptivas primárias são representadas pelas fibras C não mielinizadas e pelas fibras 
A-delta, mielinizadas. 
O trato espinotalâmico é a principal via de transmissão da dor e suas fibras localizam-se principalmente nas 
lâminas I, IV, V e VI do corno dorsal, na lâmina VII da zona intermediária e na lâmina VIII do corno ventral. As fibras 
deste trato projetam-se para o tálamo medial e lateral. Os neurônios que se projetam para o tálamo lateral originam-se 
nas lâminas I, II, e V e vão para o córtex somatossensorial, estando associadas a aspectos sensoriais e discriminativos da 
dor. Já os neurônios que se projetam para o tálamo medial originam-se nas lâminas VI e IX possuem projeções colaterais 
para a formação reticular bulbar, da ponte e do mesencéfalo, além de se projetar para outras áreas do córtex 
somatosensorial. Estes neurônios estão relacionados aos aspectos de respostas reflexas autonômicas , estado de alerta 
e aspectos emocionais da dor. 
As lâminas associadas aos tratos espinorreticulares (TER) são as VII e VIII e, em menor proporção, as I e V.Esse 
trato projeta-se para núcleos de formação reticular bulbopontina do tronco cerebral que segue para tálamo, tálamo 
ventral e hipotálamo. O TER está relacionado a resposta aversiva, autonômica reflexa, com componentes motivacionais 
e afetivos da experiência dolorosa e com estímulos da vigília. 
 
SENSIBILIZAÇÃO PERIFÉRICA 
 
A dor é resultado da ação de nociceptores periféricos sensibilizados por estímulos térmicos, mecânicos ou 
químicos. Essa informação vinda dos receptores é transmitida ao SNC pelas fibras nervosas A delta e C. Quando se tem 
um estímulo intenso e prolongado ocorre a liberação de substâncias que causam inflamações que podem durar horas 
ou dias, a ​persistência desse estímulo causa alterações do SNC​. 
A sensibilização periférica é a alteração das fibras nervosas aumentando a atividade espontânea neuronal o que 
diminui o limiar necessário para a ativação dos nociceptores e, consequentemente, provoca a hiperalgesia (dor 
exagerada) e a alodínia (dor causada por um estímulo originalmente não nóxico). 
Diversas substâncias são responsáveis pela ativação ou sensibilização dos nociceptores: bradicinina, serotonina, 
histamina, íons hidrogênio e potássio, ATP, substância-P, prostaglandinas, leucotrieno B-4, interleucinas, TNF-alfa, fator 
de crescimento neural, noradrenalina, óxido nítricoe adenosina. 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL 
Devido à estimulação persistente de nociceptores observa-se a diminuição do limiar da dor e, 
consequentemente, o surgimento da alodínia e da hiperalgesia que são disfunções persistentes mesmo após a resolução 
da lesão tecidual, o que demonstra que a sensibilização periférica não é a responsável por todas as alterações. 
Estímulos frequentes de fibras C levam ao aumento intenso e duradouro da atividade de neurônios específicos 
na medula espinhal. Com o aumento do evento excitatório são liberadas péptides e neurotransmissores em grande 
quantidade e em períodos prolongados, ativando receptores NMDA e causando a hiperexcitabilidade de neurônios do 
sistema nervoso central, denominada como sensibilização central. 
A diminuição do limiar para ocorrência da sinapse ocorre devido a liberação da substância-P que sensibiliza o 
segundo neurônio da medula espinhal. Essa substância pode se difundir pelo corno dorsal e sensibilizar neurônios a 
distância , causando a expansão do campo receptivos e resultando em uma dor mais intensa e prolongada. 
A sensibilização central é caracterizada por aumento da atividade espontânea, diminuição do limiar, 
despolarização prolongada após estímulos e expansão dos campos receptivos periféricos. Essas mudanças resultam 
também na transmissão da dor por fibras A-beta que normalmente não conduzem dor. 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
FENÔMENO ​WIND UP 
Esse fenômeno é o aumento da resposta dos nociceptores de maneira súbita e marcante tanto em intensidade 
quanto em em duração da atividade. O estímulo repetitivo e constante de fibras C causam ​wind up​. 
Para que ocorra esse fenômeno é necessária a ativação de receptores NMDA por glutamato, a remoção dos íons 
de magnésio que bloqueiam o canal e a ação moduladora de taquicininas. A despolarização por taquicinina causa um 
deslocamento do magnésio dos receptores NMDA e consequente passagem de cálcio para o interior dos neurônios, 
levando à uma cascata de eventos. 
Os estímulos intensos ativam tanto os receptores de AMPA quanto os NMDA. 
AMPA são ativados por estímulo das fibras A-delta e C > somente a C libera péptides > estimulação repetitiva > 
despolarização cumulativa > remove bloqueio do magnésio > ativa receptores NMDA. 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
MODULAÇÃO DA DOR 
O estímulo doloroso é modulado em diferentes níveis do SNC por meio de sistemas anatomicamente e 
neurofisiologicamente diferentes, modificando assim a mensagem inicial da dor a cada sinapse. 
Os principais mediadores de inibição da dor no nível espinhal são: serotonina, noradrenalina, encefalina, GABA, 
glicina, acetilcolina. 
Tem-se também regiões do encéfalo relacionadas a inibição descendente: hipotálamo anterior, área septal 
inferior, núcleo centro-mediano do tálamo, cápsula interna, substância cinzenta periaquedutal e núcleo da rafe. 
Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP: DOR 
SISTEMA ANALGÉSICO DA DOR 
Existe uma teoria a qual propõe que a penetração dos impulsos dolorosos no SNC é regulada por 
neurônios e circuitos nervosos existentes na substância gelatinosa da coluna posterior da medula, que agiria como uma 
espécie de “portão”, impedindo ou permitindo a entrada de impulsos dolorosos. 
Esse sistema analgésico funciona por meio do efeito antagônico que as fibras do tato (A-beta) tem sobre as 
fibras dolorosas (A-delta e C). Além disso, confirmou-se também que que os ramos colaterais das grossas fibras táteis 
dos fascículos grácil e cuneiforme que penetram na coluna posterior inibem a transmissão dos impulsos dolorosos, ou 
seja, fecham o "portão". Com base neste fato, surgiram as chamadas "técnicas de estimulação transcutânea", usadas 
hoje com sucesso para o tratamento de certos tipos de dor e que consistem na estimulação, feita através de eletrodos 
colocados sobre a pele, das fibras táteis de nervos periféricos ou do funículo posterior da medula. A inibição dos 
impulsos dolorosos por estímulos táteis explica também o alívio que se sente ao esfregar um membro dolorido depois 
de uma topada. 
Tem-se também pesquisas sobre regiões do encéfalo que são capazes de suprimir a dor. A analgesia obtida 
através do encéfalo depende de uma via que se liga a substância cinzenta periaquedutal ao núcleo magno da rafe de 
onde partem fibras serotoninérgicas que terminam em neurônios internunciais encefalinérgicos situados no núcleo do 
trato espinhal do trigêmeo e na substância gelatinosa da medula. 
Esses neurônios encefalinérgicos inibem a sinapse entre o neurônio I e II na via da dor por meio da liberação da 
encefalina (substância opióide do mesmo grupo da morfina). O uso de opióides como a morfina se deve a existência de 
receptores nessa via analgésica descrita. 
Já os fármacos antidepressivos como a fluoxetina agem no tratamento das dores crônicas por meio da liberação 
de serotonina nas sinapses. Isso ocorre tanto no sistema serotoninérgico de projeção difusa, que age sobre o cérebro 
(ação antidepressiva), como nas fibras serotoninérgicas que, do núcleo magno da rafe, vão à substância gelatinosa da 
medula (efeito analgésico). 
A substância cinzenta periaquedutal recebe aferências tanto das vias neo e paleoespinotalâmicas, como da área 
somestésica do córtex. Dessa forma, os próprios estímulos nociceptivos podem inibir a entrada de estímulo doloroso no 
SNC, explicando porque em situações de perigo não sentimos um ferimento. 
Neuroanatomia Funcional, Ângelo Machado 
EVN: escala visual numérica. 
FISIOPATOLOGIA DA DOR NEUROPÁTICA 
A dor neuropática ocorre devido à lesão ou disfunção do SNC ou do SNP e caracteriza-se por hiperatividade 
patológica de membranas excitáveis. As características da dor são variáveis. Seu tratamento é mais complexo do que o 
da dor nociceptiva. 
A neuroplasticidade são as alterações funcionais e morfológicas que ocorrem quando há interrupção total ou 
parcial das fibras nervosas (dano, ruptura…). Devido a essa interrupção o neurônio denervado pode ser reinervardo por 
outros axônios, as sinapses inibitórias podem ser substituídas por excitatórias, formando conexões anormais. Com esse 
“erro” de conexões as áreas podem ficar mais sensíveis aos estímulos de neurotransmissores e pode ocorrer o 
surgimento de áreas responsivas que antes eram silenciosas. 
 
CONSEQUÊNCIAS DA LESÃO DO NERVO 
Devido à lesão axonal o neurônio apresenta sensibilidade ao estímulo mecânico e despolarização espontânea. 
 
FORMAÇÃO DE NEUROMA 
A lesão do nervo periférico leva a formação de neuroma, massa nodular de axônios em regeneração e células 
de Schwann que não conseguiram atingir seu órgão terminal ou campo receptivo. 
Clinicamente o neuroma causa dor na área da cicatriz com mudança da sensação na distribuição do nervo. A dor 
aumenta na distribuição do nervo, à palpação ou à percussão da cicatriz. 
 
DOR FANTASMA 
● Dor fantasma, fenômeno fantasma ou dor de coto. 
● É a sensação de existência da região amputada em que o paciente sinta dor. É mais intensa em amputação 
proximal ao cotovelo e fracana distal ao joelho, e também no membro dominante em amputação bilateral. 
● A incidência aumenta com a idade do paciente. 
● A dor no coto geralmente surge em decorrência da formação de neuroma no local da secção do nervo ou por 
isquemia/infecção do local. 
● Após a amputação e secção do nervo, ocorre uma degeneração retrógrada e um encurtamento dos neurónios 
aferentes como resultado da lesão, do edema e da tentativa de regeneração do axônio. As fibras da 
extremidade seccionada podem crescer e formar nódulos, denominados neuromas, que geram impulsos 
anormais. Neste fenômeno, conhecido como sprouting, as terminações das fibras A e C alargam-se e 
desorganizam-se, gerando impulsos ectópicos que aumentam após estímulos mecânicos e químicos inócuos. 
Assim, estes impulsos que ativam o SNC podem manter intacta a perceção da existência do membro e resultar 
em dor fantasma. 
FISIOPATOLOGIA DA DOR 
● A transformação dos estímulos agressivos em potenciais de ação, na fibras nervosas periférica são transferidas 
para o sistema nervoso central - os receptores específicos para a dor estão localizados nas terminações de fibras 
nervosas A-delta e C que, quando ativadas, sofrem alterações na sua membrana, permitindo a deflagração de 
potenciais de ação. Traduzem um estímulo agressivo de natureza térmica, química ou mecânica, interpretado 
no córtex cerebral como dor. 
● Os nociceptores são sensibilizados pela ação de substâncias químicas denominadas algiogênicas, que estão 
presentes no ambiente tissular. São elas: acetilcolina, bradicinina, histamina, serotonina, leucotrieno, substância 
P, fator de ativação plaquetário, radicais ácidos, íons potássio, prostaglandinas, tromboxana, interleucinas, 
TNFalfa, fator de crescimento nervoso e AMPc 
● Quando o estímulo provoca a lesão tecidual, há o desencadeamento de processos inflamatórios seguidos de 
reparação. As células lesadas liberam enzimas que degradam ácidos graxos de cadeia longa e atuam sobre os 
cininogênios, dando origem a formação de cininas. As cininas, por sua vez, são ativadas e alteradas até a 
formação da bradicinina, que provoca uma intensa dilatação arteriolar e aumento da permeabilidade capilar, 
que contribui para a propagação da reação inflamatória. 
● Em resumo, a agressão tecidual resulta em acúmulo de metabólitos da cadeia do ácido araquidônico - a 
produção de prostaglandinas e de leucotrienos leva a degranulação de mastócitos e a ativação direta de fibras 
nervosas, macrófagos e linfócitos. Ainda há a liberação de mediadores (como potássio, serotonina, substância P, 
histamina e cininas) e alterações na permeabilidade vascular, no fluxo sanguíneo local e a produção dos sinais 
flogísticos. 
● Tem início o processo de sensibilização periférica como consequente exacerbação da resposta ao estímulo 
doloroso. 
● Os neuromediadores periféricos levam a despolarização da membrana neural por tempo prolongado - e como 
consequência, aumenta a condutividade dos canais de sódio e cálcio e a redução de influxo de potássio e cloro. 
● A estimulação persistente de nociceptores provoca a dor espontânea, redução do limiar de sensibilidade e 
hiperalgesia. 
○ A hiperalgesia primária é o aumento da resposta ao estímulo doloroso no local da lesão 
○ A hiperalgesia secundária é o aumento da resposta ao estímulo doloroso que se estende para áreas 
adjacentes da lesão. 
● A sensibilização central implica em alterações dos impulsos periféricos, com adaptações positivas ou negativas. 
Pode ocorrer a redução do limiar ou aumento da resposta aos impulsos aferentes, descargas persistentes após 
estímulos repetidos e ampliação dos campos receptivos de neurônios do corno dorsal. 
● As fibras nociceptivas cruzam a linha média no nível do corno dorsal da medula espinhal e ascendem pelos 
tratos espinotalâmicos, espinorreticular, espinomesencefálico, coluna dorsal pós-sinaptica e sistema 
espinopontoamigdaliano. 
○ As fibras podem terminar no núcleo talâmico ventroposteromedial (VPM), que ascende para o córtex 
cerebral somestésico, cortex insular e cingular anterior. 
○ Podem tamtém projetar axônios no hipotálamo, formação reticular, substância cinzenta periaquedutal, 
núcleo medial e intratalâmico e estruturas encefálicas anteriores responsáveis por respostas 
neuroendócrinas e emocionais da dor. 
● A ativação de fibras nociceptivas periféricas provoca migração retrógrada de fator de crescimento nervoso para 
a medula espinhal e induz resposta segmentar reflexa, com transporte anterógrado de substância P para a 
periferia, ocasionando vasodilatação, aumento de permeabilidade vascular, atração de células do sistema imune 
para o local da lesão e a liberação de diversos neuromediadores. Já as fibras adrenérgicas também aumentam a 
sensibilidade de fibras nociceptivas a ação da bradicinina, potencializando esses efeitos, o vasoespasmo 
muscular e reflexos que liberam radicais ácidos - e assim, reduzindo o limiar para os disparos da fibra 
nociceptiva. 
 
MECANISMO DE AÇÃO ANTIDEPRESSIVOS E 
ANTICONVULSIVANTES  
ANTIDEPRESSIVOS 
● Inibição da recaptação da noradrenalina, da serotonina ou de ambas, para a terminação nervosa pré-sináptica. 
A dose necessária para o alívio da dor é menor e o efeito analgésico é mais rápido que para o controle da 
depressão. 
● Antagonismo de vários neurotransmissores. Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina, nortriptilina 
e clorimipramina) bloqueiam os receptores N-metil-D-aspartato (NMDA). 
● Aumento da ação GABA. 
● Inibição da liberação da substância P. 
● Bloqueio dos canais de sódio, como ocorre com anestésicos locais e carbamazepina. 
● Bloqueio de receptores H1 da histamina. 
● Inibição dos receptores 5HT2 (antidepressivos tricíclicos). 
● Bloqueio simpático. 
 
ANTICONVULSIVANTES 
● Potencialização da ação inibitória do neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (GABA). 
● Diminuição do glutamato (neurotransmissor excitatório na medula espinal e tálamo). 
● Modulação da permeabilidade da membrana a íons sódio (Na+), Cálcio (Ca++) e potássio (K+). 
● Bloqueio da atividade normal de fibras simpáticas pós-ganglionares.

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