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1. Estrutura Molecular do Material Genético ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 1 1. Estrutura Molecular do Material Genético Do ponto de vista genético, todas as células de um indivíduo são, teoricamente, iguais, possuindo, 23 pares de cromossomas (com excepção dos gâmetas) Aquando da mitose, ocorrem pequenas mutações que, geralmente, não interferem com o funcionamento celular. Se ocorrem alterações funcionais da célula pode originar uma das duas situações: � A célula não é viável e morre; � A célula adquire novas características, podendo dar origem a células tumorais e/ou cancerígenas. 1.1 Gene Gene é toda a sequência de nucleótidos que contêm informação para dar origem a uma molécula de RNA. 1.2 Nucleótidos Há dois tipos major de nucleótidos: � Desoxiribonucleótidos, constituídos por um grupo fosfato, uma desoxirribose e uma base azotada; � Ribonucleótidos, constituídos por um grupo fosfato, uma ribose e uma base azotada. Nota: A diferença entre um desoxiribonucleótido e um ribonucleótido passa pela existência de um grupo –OH, situada no carbono 2’, do primeiro nucleótido. O facto de o DNA possuir esse grupo, e o RNA não, traduz- se na elevada estabilidade desta molécula face ao RNA. A molécula de DNA é bastante mais estável, podendo conservar-se durante anos. Segundo as diferentes bases azotadas (adenina, guanina, citosina, timina/uracilo), há quatro tipos de nucleótidos. O grupo fosfato dos nucleótidos, que se encontra ligado ao carbono 5’ da ose, pode ter um, dois ou três fosfatos. Figura 1. Esquema de um nucleótido Se a base azotada for a adenina, que funciona como moeda energética, fica-se com: � Adenina + 1P = AMP � Adenina + 2P = ADP � Adenina + 3P = ATP O mesmo se passa com as restantes bases azotadas: � Guanina – GMP + 2P = GDP + P = GTP � Citosina – CMP + 2P = CDP + P = CTP � Timina – TMP + 2P = TDP + P = TTP 1. Estrutura Molecular do Material Genético ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 2 Notas: As ligações entre o fosfato e o açúcar denominam-se ligações fosfodiéster. Dentro do DNA, os nucleótidos encontram-se sob a forma de monofosfato. No entanto, para a introdução de novos nucleótidos na molécula de DNA é necessário que estejam na forma de trifosfato. As bases azotadas dividem-se em dois grupos: � Pirimidinas (bases com um anel): Citocina e Timina/Uracilo � Purinas (bases com dois anéis): Adenina e Guanina Para além do número de anéis, as bases azotadas não são iguais entre si, possuindo diversas diferenças: � Uracilo e Timina: a Timina é um Uracilo metilado1 � Timina e Citosina: A Citosina é amina e não metilada2 � Guanina e Adenina: A Guanina possui um grupo -NH2, que na adenina se situa num outro local. 1.3 DNA O DNA é um polímero linear de nucleótidos que se organizam em cadeia dupla. A molécula de DNA cresce, com a intervenção da enzima DNA polimerase, através da adição de novos nucleótidos. A ligação entre elas ocorre através do seu grupo fosfato que, se por um lado está ligado ao carbono 5’ do seu nucleótido, por outro, liga-se ao carbono 3’ do nucleótido anterior. Deste modo a cadeia cresce na direcção 5’ � 3’. Nota: O terminal 5’ acaba com um fosfato livre, enquanto que o terminal 3’ termina com um grupo -OH. A forma normal do DNA é em cadeia dupla, em que a cadeia inicial emparelha com a cadeia complementar, tendo orientações opostas: 5’ � 3’ 3’ 5’ Entre as duas cadeias há ligação entre as bases azotadas (ligações de Hidrogénio): � Guanina Citosina � Adenina = Timina Mas porquê este emparelhamento? Porque este tem de estabelecer entre uma purina e uma pirimidina, uma vez que a distância entre as cadeias tem de ser constante. 1 As faltas de Ácido fólico, para alem do leque de malformações fetais, podem provocar cancro. Isto porque, quando há falta de ácido fólico, ocorre um défice de -CH3 que provoca erros no DNA celular. 2 A desaminação das Citosinas é um processo natural de mutação que ocorre com a idade. Deste modo, as citosinas passam a Timinas podendo levar à formação de tumores. 1. Estrutura Molecular do Material Genético ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 3 Figura 2. Quando se liga duas purinas ou duas pirimidinas, a distancia constante não é mantida, originando involuções. Para ser estável, o DNA encontra-se na forma de dupla hélice, correspondendo deste modo à molécula básica de DNA. Figura 3. Dupla hélice do DNA É possível separar as duas cadeia, sendo esse processo denominado desnaturação. Enquanto que no nosso organismo é efectuado por enzimas, laboratorialmente é executado com aumento de temperatura. 1.4 Cromossoma Um cromossoma é uma molécula de DNA. Logo, numa célula somática existem 46 moléculas de DNA. Quando ocorre mitose, os cromossomas estão duplicados, ou seja, em vez de 46 cromossomas, há 92 cromossomas, havendo, por isso, cromatídeos irmãos. Os cromossomas organizam-se segundo determinados níveis: Figura 4. Organização dos cromossomas 1. Estrutura Molecular do Material Genético ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 4 1. O DNA está enrolado sobre proteínas denominadas de histonas (proteínas positivas importantes na regulação genica), adquirindo o nome de cromatina. 2. Consoante a importância do gene, este pode esta mais ou menos acessível, sendo denominado de eucromatina e heterocromatina. 3. Cromatina empacotada. 4. Cromossoma. Quando se estuda os cromossomas e estes são corados, apresentam riscas devido à condensação do cromossoma. As bandas claras correspondem à eucromatina e as bandas escuras são heterocromatina (DNA condensado). A heterocromatina divide-se em dois sub-tipos: � Facultativa: Zonas do DNA em que os genes correspondentes não são importantes para a célula � Constitutiva: Zonas do DNA sem genes. 1.5 Sistema de Coordenadas O centrómero é a zona de ligação de cromatídeos irmãos, servindo também de ligação ao fuso acromático. Os cromossomas possuem dois braços: um pequeno (p) e um grande (q) Quanto ao tamanho dos braços os cromossomas podem ser classificados: � Metacêntricos p=q � Submetacêntricos p<q � Acrocêntricos p=0 (cromossomas 13, 14, 15, 21 e 22) Deste modo, os cromossomas possuem uma nomenclatura baseada no seu número e no braço onde se situa o gene: 16 . p . 11. 2 16 Cromossoma p Braço 1 Região 1 Banda 2 Sub-banda 1.6 Plano Genético O plano genético encontra-se organizado por tamanho (Cromossoma 1 é o maior e o 21 o menor). Os cromossomas 1 a 22 são autossómicos, enquanto que os cromossomas X e Y são cromossomas sexuais pois são responsáveis pelas características sexuais3. 3 O cromossoma Y é o único de dimorfismo sexual. Todos os seres são, por defeito, mulheres, sendo necessária a presença de factores de transcrição existentes no cromossoma Y para que surjam as características sexuais masculinas. 1. Estrutura Molecular do Material Genético ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 5 Figura 5. Mapa genético 2. Genética Molecular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 6 2. Genética Molecular 2.1 Replicação do DNA A replicação do DNA corresponde à síntese de novas cadeias de DNA. Este processo é semi-conservativo, pois as cadeias de DNA que servem de molde para a replicação, são mantidas como constituinte das novas duplas cadeias. É também bi-direccional, sendo que aDNA polimerase é a enzima que alonga as cadeias de DNA na direcção 5’ � 3’. Figura 5. Replicação do DNA A replicação varia consoante a cadeia a ser replicada. Uma é replicada continuamente, enquanto que a outra é replicada descontinuamente. Mas a que se deve esta diferença? A cadeia nova de DNA surge de 5’ � 3’, o que significa que a cadeia molde que tenha a direcção 5’ � 3’ (da esquerda para a direita, de acordo com a Figura 5) irá ter um crescimento continuo. Já a cadeia de baixo, 3’ � 5’ (da esquerda para a direita, do acordo com a Figura 5) irá ter um crescimento descontinuo, pois a origem da replicação, que nunca é só uma, surge no meio da cadeia, o que torna impossível o crescimento de uma das cadeias de modo continuo. O crescimento das cadeias encontra-se resumido no quadro seguinte: Cadeia Continua Colocação de um primer Alongamento da cadeia Cadeia Descontinua Diversos primers Alongamento das “mini-cadeias” Degradação dos primers de RNA Substituição dos mesmos por DNA Ligação dos fragmento de Okazaki, ou seja, dos fragmentos da cadeia Enzimas envolvidas Helicase (desenrola e desfaz as ligações de hidrogénio) Topoisomerase (revela a dupla hélice, facilitando a quebra de pontes de hidrogénio e cortando as cadeias de DNA) Exonuclease (degrada o extremo do ácido nucleico) RNA primase (forma os primers) DNA polimerase (alonga o DNA) Ligase (liga os fragmento de Okasaki) 2.2 Expressão Génica A expressão génica corresponde à transferência de informação do DNA em proteína As proteínas existentes numa determinada célula definem qual o seu tipo Este processo é constituído por três fases: Transcrição, Processamento do RNA e Tradução. transcrição processamento tradução DNA transcripto primário mRNA proteína transcrição processamento tradução DNA transcripto primário mRNA proteína 2. Genética Molecular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 7 2.2.1 Transcrição (núcleo) A RNA polimerase é o enzima envolvida e tem três sub-tipos: 1. RNA polimerase que dá origem a RNA ribossómico (rRNA) 2. RNA polimerase que dá origem a RNA mensageiro (mRNA) 3. RNA polimerase que dá origem a RNA transferência (tRNA) e outras pequenas moléculas de RNA, como as que estão envolvidas no processo de splicing A RNA polimerase polimeriza a cadeia até ao final do local de transcrição, em que o produto final é uma cadeia simples de DNA É necessário existir sequências reguladoras que determinem o início, o final da transcrição, entre outras. Enhances Sequências reguladoras (200-300bp) TATAAT 90.000bp Enhances Sequências reguladoras (200-300bp) TATAAT 90.000bp O promotor é uma sequência de nucleótidos (50bp) existente antes da região de transcrição. O TATAbox é um promotor típico, rico em adeninas e timinas. Os Enhances são locais onde também se ligam factores de transcrição permitindo um aumento da transcrição do gene. Já os factores de transcrição, ao reconhecerem as sequências reguladoras e ao ligarem-se às mesmas, recrutam a RNA polimerase. 2.2.2 Processamento (núcleo) Esta etapa consiste na transformação do transcripto primário da polimerase 2 em mRNA. Divide-se em três acções diferentes: a) Adição do 5’cap (adição e 7-metil-guanosina ao terminal 5’ do RNA) b) Adição da cadeia de poli A (adição de 100-200 adeninas no terminal 3’)4 c) Splicing (que é a remoção dos intrões e união dos exões) O splicing é executado pelo spliceossoma (composto por SuRNA, que reconhece a TATAbox, e U1,U2, U3, U4, U5 e U6) que conhece a fronteira intrão-exão. Figura 6. Splicing O splicing alternativo é um processo que corresponde à remoção de determinados exões, para além dos intrões, levando à formação de diferentes proteínas: 4 Com excepção se as proteínas a serem formadas forem histonas 2. Genética Molecular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 8 Proteína A – exão1-exão2-exão3-exão4 Proteína B – exão1-exão3-exão4 Proteína C – exão2-exão-3-exão45 Exemplo de um caso de splicing alternativo: gene da tropomiosina(?) constituído por 9 exões e presente nas células musculares. Para cada tipo de célula produz uma proteína diferente. 2.2.3 Tradução (citoplasma) Corresponde à leitura do mRNA pelo ribososma Cada sequência de três bases designa-se por codão, havendo quatro bases diferentes, é possível obter 64 codões diferentes (ver figura 7. Código Genético). Há aminoácidos que são codificados por mais que um codão. Há três codões “STOP”: UAA, UAG, e UGA Num codão, as duas primeiras bases são mais específicas de um determinado aminoácido: CGx=arginina e CUx=leucina. Figura 7. Código Genético O RNA de transferência, ou tRNA, é a molécula que reconhece os codões, por complementaridade, com os seus anticodões, e transporta os aminoácidos. Esta molécula é constituída por aproximadamente 60- 70bp com várias regiões complementares, tendo forma de trevo. O aminoácido encontra-se na extremidade 3’. O ribossoma (que se desloca no sentido 5’ � 3’) é constituído por duas sub-unidades (RNA+proteína), que se encontram isoladas no citoplasma, ligando-se apenas quando activas: � Sub-unidade pequena (uma molécula de RNA de 18s e 33 proteínas) � Sub-unidade grande (duas moléculas de RNA de 5s e 28s e 50 proteínas) No interior do ribossoma há três locais importantes: � Local A: Reconhecimento do codão onde o tRNA carregado entra � Local P: Ligação peptídica � Local E: onde a cadeia são do ribossoma 5 Sendo que o exão 1da proteína A é igual ao exão 1 da proteína B,o exão 2 da proteína A é igual ao exão 3 da proteína C, os exões 3 e 4 da proteína A são iguais aos exões 3 e 4 da proteína B e da proteína C. 2. Genética Molecular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 9 A tradução tem três fases: 1. Iniciação: a sub-unidade pequena é recrutada pelos factores de iniciação, trazendo já o aminoácido de metionina (AUG é o codão de iniciação) e scaneia a molécula à procura desse mesmo codão. Formam-se então dois complexos: o complexo de pré-iniciação, que corresponde à Sub-unidade pequena mais tRNA, e o complexo de iniciação, que é constituído pelo codão de pré-iniciação mais o codão de iniciação AUG. 2. Alongamento, em que o tRNA recruta os aminoácidos seguintes com gasto de GTP na ligação 3. Terminação: Quando aparece um codão STOP, ocorrendo depois a hidrólise da ligação tRNA-proteína, pela acção do RF1 (factor de libertação 1) 3. Ciclo Celular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 10 3. Ciclo Celular 3.1 Objectivo da Divisão celular O grande objectivo da divisão celular é a segregação dos cromossomas de igual forma. 3.2 Fases Anteriores ao Ciclo Celular Existem quatro fases anteriores ao ciclo celular, comuns tanto à mitose como à meiose: fase G0, fase G1, fase S e fase G2. Fase G0 Corresponde à fase em que a célula acabou de “nascer” ou está estável Fase G1 Nesta fase, ocorre a síntese de diversos componentes celulares, levando a um aumento do tamanho da célula Fase S É nesta fase que se dá a replicação do material genético (ver capítulo 2) No final desta fase, a quantidade de DNA na célula é 4x: 46 cromossomas (ou seja, 23 cromossomas duplos) x 2 = 96 cromossomas irmãos ligados pelo centrómero (por questões de nomenclatura designam-se por 46 pares de cromossomas) Uma acção de extrema importância ocorre nesta fase: os check points, que são pontos em que acélula verifica o seu conteúdo. Se estiver tudo bem, a divisão celular avança; se houver algum erro, a célula entra em apoptose. Fase G2 É a fase pré-mitótica ou pré-meiótica, caracterizada pela síntese de RNA e proteínas. 3.3 Mitose A mitose é uma divisão somática, em que a célula se divide em duas célula-filhas. Profase Condensação do DNA Desaparecimento da membrana nuclear e dos nucléolos Início do fuso acromático, que tem origem nos microtúbulos, cujos filamentos Se ligam aos centrossomas. Metafase Máximo de Condensação dos cromossomas Período mais propício para se efectuar um estudo citogénico Organização dos cromossomas na placa equatorial Os microtúbulos encontram-se já ligados ao centrómero, um de cada lado Anafase Divisão dos centrómeros e consequente migração dos cromatídeos irmãos para pólos opostos Telofase Descondensação da cromatina Formação dos dois núcleos Se houver cromossomas perdidos forma-se um micronúcleo, que é destruído mais tarde Citocinese Divisão do citoplasma 3. Ciclo Celular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 11 Figura 8. Mitose 3.4 Meiose O seu objectivo é produzir gâmetas. A meiose é um processo evolutivo da mitose, sendo necessário a existência de duas fases. A variabilidade genética vem do crossing-over e da fecundação. O saldo deste processo é de 4 espermatozóides do homem e um oócito com um segundo corpo polar na mulher. Profase I Dá-se a sinapse: ligação e emparelhamento de um cromatídeo de um dos cromossomas homólogos com um cromatídeo de outro. Quando não há correspondência faz-se um loop A sinapse permite o crossing-over: troca de informação entre os cromossomas homólogos Estes dois processos permitem uma maior variabilidade Nota: Os gâmetas femininos encontram-se parados nesta fase, o processo é retomado mensalmente, após a menarca Metafase I Formação do fuso acromático Posicionamento dos cromossomas homólogos na placa equatorial Anafase I Migração dos cromossomas homólogos para pólos opostos Telofase I Formação dos núcleos Citocinese Homens: Divisão do citoplasma equitativamente Mulheres: Divisão desigual do citoplasma (um pré-óocito e um corpo polar) Profase II Metafase II Mensalmente as mulheres param nesta fase, seguindo o seu desenvolvimento apenas se houver fecundação Anafase II Telofase II 3. Ciclo Celular ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 12 Citocinese Homens: Divisão do citoplasma equitativamente Mulheres: Divisão desigual do citoplasma (um óocito e 2º corpo polar) Figura 9. Meiose Mosaico É um indivíduo que, por defeito, teve origem em diferentes linhas celulares: 1. Após quatro divisões, uma das células teve uma mutação, que pode ter graves consequências dependendo do sítio para onde vai migrar 2. Por fecundação do óvulo e do 2º corpo polar. Como não se separam, assumem que já se encontram divididos. Aqui há problema se o óocito e o 2º corpo polar forem fecundados por espermatozóides de cariótipo sexual diferente, podendo dar origem a hermafroditismo. 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 13 4. Mutação Génica 4.1 Mutação Uma mutação é uma alteração permanente no sequência de DNA. No momento em que surge é possível ser corrigida Por questões de nomenclatura divide-se em: � Cromossómica (grandes alterações) � Génica (pequenas alterações) Classifica-se em: � Somática (quando afecta células que não entram na fecundação) � Germinal (quando afecta os gâmetas) Quanto à sua origem, classifica-se em: � Espontânea (surge de um modo natural e é importante em termos evolutivos) � Induzida (causada por agentes externos) Sempre que há desvios no emparelhamento A=T e G=C, a célula detecta esse desvio como sendo uma mutação. 4.2 Mutação Génica Há dois tipos de Mutação Génica: a) Substituição em que há troca de uma base por outra Solução: Substituição da base errada ou fixação da mutação, podendo haver alteração da informação Figura 10. Substituição b) Quebras simples ou duplas Solução: União dos dois segmentos por meio de enzimas, podendo haver delecção de um dos segmentos. As nossas células possuem enzimas que rapidamente corrigem estes erros. O problema só é mais grave se a mutação se der imediatamente antes da replicação, havendo fixação da mutação. 4.2.1 Erros de Replicação � Mutação Espontânea � Ocorre cerca de um em cada 105 bases, mas a maioria é corrigido, ficando somente cerca de um em cada 109 bases. 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 14 � Esta mutação ocorre devido a um mau emparelhamento por parte da DNA polimerase e as correcções são feitas por um gene que lhe pertence. Figura 11. Erros de Replicação 4.2.2 Depurinação � Mutação Espontânea � Processo pelo qual há saída de purinas � Quebra de ligação entre a desoxiribose e a base G ou A, ocorrendo por um mecanismo de hidrólise pela água � É corrigido na maioria dos casos � Ocorrem cerca de 3x10-9 depurinações por minuto � A consequência, temporária ou permanente, é a delecção Figura 12. Depurinação 4.2.3 Mudanças Tautoméricas � Mutação Espontânea � Deve-se à existência de isómeros dos nucleótidos que diferem nas posições dos átomos e das ligações entre eles � Esta diferença deixa os seus e- mais expostos e susceptíveis a saírem da sua nuvem e entrarem na orbital de outra, aumentando ou diminuindo o número de possíveis pontes de hidrogénio � Quando se dá a replicação, a base tautomérica volta ao normal emparelhando correctamente com a sua base complementar, havendo fixação da mutação. 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 15 Figura 13. Mudanças Tautoméricas 4.2.4 Desaminação � Mutação Espontânea � Perda do grupo amina das Citocinas � Citocina desaminada = Uracilo � Citocina metilada = Timina Figura 14. Desaminação 4.2.5 Análogos de Bases � Mutação induzida por agentes químicos � Moléculas semelhantes aos nucleótidos que são incorporados na replicação � Podem ser mutagénicos ou letais � Podem ter origem em drogas terapêuticas ou experimentais � As mudanças tautoméricas nestas moléculas são extremamente frequentes Figura 15. Análogos de Bases 4.2.6 Agentes Alquilantes � Mutação induzida � Agentes que modificam as bases, mas não são incorporados no DNA � Adiciona grupos –alquil às bases � Exemplo: Etil-metanossulfito (EMS); adiciona um grupo metil 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 16 Figura 16. Agentes Alquilantes 4.2.7 Agentes Desaminantes � Mutação induzida � Agentes que modificam as bases, mas não são incorporados no DNA � Retiram o grupo amina à Citocina e à Adenina � Exemplo: Ácido Nitroso Figura 17. Agentes Desaminantes 4.2.8 Agentes de Depurinação � Mutação induzida � Agentes que modificam as bases, mas não são incorporados no DNA � Removem a base deixando o esqueleto intacto � Promovem delecções � Exemplo: Aflotoxina Figura 18. Agentes de Depurinação 4.2.9 Agentes Intercalantes � Mutação induzida � Agentes que modificam as bases, mas não são incorporadas no DNA � Semelhantes a pares de bases que se introduzem no DNA � Provocam delecções ou inserções � Exemplo: Acridina, Proflavina 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 17 Figura 19. Agentes Intercalantes4.2.10 Radiação Ultravioleta � Mutação induzida � Agente físico � Provoca a formação de dímeros de pirimidinas (principalmente Timinas) � Origina paragem de transcrição e de replicação � Pode provocar substituição de bases � Fotoreactivação para voltar ao normal Figura 20. Radiação Ultravioleta6 4.2.11 Radiação Ionizante � Mutação induzida � Agente físico Raios X Quebras em cadeia simples Alteração de bases Raios γ Quebras em cadeias simples e dupla Partículas α Quebras em cadeia simples e dupla 4.3 Tipos de mutação As mutações podem ser agrupadas em duas classes: I. Mutação Pontual (Substituição, Delecção, Insercção) II. Rearranjos de sequência de DNA (Inversão, Translocação, Fusão de genes)7 Nota: As consequências das mutações dependem do local onde ocorre: - Se ocorrer no promotor do gene, pode não haver síntese proteica. - Em homozigotia é letal. - Se ocorre na junção intrão-exão pode não haver diferenciação desta zona aquando do splicing, sendo o exão removido do gene ou o intrão incluído. 4.3.1 Substituição Sinónima Há substituição de uma base por outra que codifica o mesmo aminoácido. Apenas traz problemas se o novo codão existir em menor quantidade no nosso organismo, dificultando a síntese proteica. 6 Os raios UV excitam os electrões das duas timinas adjacentes formando ligações entre si. Como consequência dá-se a apoptose. Na doença Xeroderma, este mecanismo de correcção não funciona. 7 Capítulo 6. Mutações Cromossómicas 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 18 Figura 21. Substituição Sinónima 4.3.2 Substituição Não Sinónima Há substituição de uma base por outra que não codifica o mesmo aminoácido. Pode ser de dois tipos: 4.3.2.1 Missence: a substituição origina um aminoácido diferente 4.3.2.2 Nonsence: � A substituição origina um codão STOP, levando à formação de proteínas truncadas � Se esse codão STOP for colocado no codão 2, não há proteína � Se o codão STOP for colocado imediatamente antes do verdadeiro codão STOP, não há problema � Se o codão STOP for colocado a meio, as proteínas são mais pequenas, sendo inibidoras e tóxicas. 4.3.3 Inserção/Delecção Ocorre a inserção ou delecção de uma ou mais bases, alterando todos os aminoácidos da proteína. A situação com menos impacto corresponde àquela em que há inserção/delecção de um tripleto completo. Leva a uma mutação frameshift. Figura 22. Frameshift 4.3.4 Mutação Pontual em Regiões Reguladoras Pode ser por substituição, inserção ou delecção, pondo em risco o processo de síntese proteica. 4.3.4 Mutação Pontual na Junção exão/intrão Pode levar ao aumento ou à diminuição do mesmo 4.4 Natureza da Mutação Dominante Heterozigóticos (Aa) e Homozigóticos (AA) Ganho de função (efeito de dosagem genica ou aumento da actividade enzimática) Aquisição de uma nova função Proteína mutada com efeito tóxico Recessivo Homozigóticos (aa) Perda de função Dominante Heterozigóticos 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 19 Negativo Ocorre em proteínas multiméricas 4.5 Reparação do DNA Nota: A célula não corrige mutações mas sim lesões no DNA. Consoante o tipo de erro, a célula activa um dos vários mecanismos de reparação de DNA. 4.5.1 Reparação por excisão de base (BER) 1. Local apurínico ou apurimidico 2. Remoção desse nucleótido por uma endonuclease ou uma fosfodiesterase 3. Colocação de um novo nucleótido (DNApolimerase) 4. Ligação dos dois segmentos de DNA (DNAligase) 4.5.2 Reparação por excisão de nucleótidos (NER) 1. Reconhecimento de um mau emparelhamento 2. Remoção da lesão com uma margem de erro por acção de endonucleases 3. Reposição da cadeia excisada 4.5.3 Reparação de erros de emparelhamento (MMR) (normalmente associados às fases de meiose/mitose) 1. Reconhecimento de um mau emparelhamento 2. Remoção da cadeia recém sintetizada por uma endonuclease 3. Síntese da nova cadeia de DNA (DNApolimerase) 4.5.4 Reparação de quebras da cadeia de DNA Quebra em cadeia simples 1. Fácil de reparar 2. Reparação por BER Quebra em cadeia dupla (É problemática se houver muitas “pontas” soltas e a reparação por recombinação) 1. Recombinação homóloga: a célula tenta reconhecer as pontas correctas por comparação ao cromossoma homólogo 2. Ligação de terminais: união das extremidades, podendo provocar novas mutações 4.6 Doenças Humanas Associadas a Défice de Reparação de DNA 4.6.1 Xeroderma Pigmentosa � Mutações em genes de NER � Existem 7 genes e basta um não funcionar � Hereditariedade Autossómica Recessiva � Sensibilidade aos UV’s, com morte prematura 4.6.2 HNPCC – Cancro Hereditário do Cólon Sem Polipose � Mutação em genes MMR � Vários genes � Hereditariedade Autossómica Dominante � Há uma maior probabilidade de desenvolver cancro do cólon 4. Mutação Génica ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 20 4.6.3 Síndrome de Bloom � Mutação em genes de reparação de quebras de DNA � A DNAligase não funciona muito bem � Hereditariedade Autossómica Recessiva � Aumento da susceptibilidade para leucemias e linfomas 5. Tipos de Hereditariedade ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 21 5. Tipos de Hereditariedade 5.1 Heredograma � Representação esquemática de um conjunto de indivíduos com ligações de parentesco entre si � Permite: Diagnóstico pré-sintomático Prevenção (aconselhamento genético) Diagnóstico mais correcto Prognóstico mais preciso Determinação do tipo de hereditariedade Nota: Propositus (homem), proposita (mulher) ou probando – indivíduo em estudo, a partir do qual se elabora o heredograma 5.2. Normas para a Elaboração de um Heredograma � Cada geração ao mesmo nível � Indivíduos ordenados por data de nascimento � Pai à esquerda e Mãe à direita � A cada geração atribui-se um número romano � A cada indivíduo atribui-se um algarismo 5.2.1 Símbolos Figura 23. Símbolos dos heredogramas 5.2.2 Determinação do Caracter � Monogénico ou Mendeliano: Se é devido a um único gene � Poligénico: Se é devido a vários genes � Multifactorial: Interacção entre vários grupos e factores ambientais 5. Tipos de Hereditariedade ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 22 5.3 Conceitos � Locus (loci): Região do cromossoma � Alelo: Forma alternativa do gene (mutação ou polimorfismo) Dominante: A expressão ocorre na presença de uma cópia Recessivo: A expressão ocorre na presença de duas cópias � Genótipo: Combinação de alelos de um determinado locus Homozigotia: dois alelos iguais Heterozigotia: dois alelos diferentes Hemizigotia: cromossoma X no homem � Fenótipo: Expressão de determinado genótipo � Princípio de Mendel: Segregação independente de Alelos 5.4 Tipos de Hereditariedade 5.4.1 Hereditariedade Autossómica Dominante � Genes em cromossomas autossómicos � Doente: AA ou Aa � Saudável: aa � Exemplos: Distrofia miotónica; Hipercolestrolémia familiar; Polipose cólica familiar; Síndrome de Marfan � Critérios: - Os dois sexos são afectados de igual forma - Indivíduos do sexo masculino e feminino transmitem a doença quer a filhos quer a filhas - Não há saltos de geração - Filhos doentes têm pelo menos um progenitor doente - Pais saudáveis têm filhos saudáveis 5.4.2 Hereditariedade Autossómica Recessiva � Genes em cromossomas autossómicos� Doente: aa � Saudável: AA ou Aa � Exemplos: Albinismo; Drepanocitose: Fenilcetonúria; Fibrose quística; Talassémia � Critérios: - Os dois sexos são afectados de igual forma - Indivíduos do sexo masculino e feminino transmitem a doença quer a filhos quer a filhas - Pode saltar gerações - A taxa de consanguinidade dos pais de crianças afectadas é habitualmente mais elevada que na população em geral - Ambos os pais doentes têm os filhos sempre doentes 5.4.3 Hereditariedade Ligada ao X Recessiva � Genes localizados no cromossoma X � Doente: Xa Xa ou Xa Y � Saudável: XA XA ou XA Y 5. Tipos de Hereditariedade ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 23 � Exemplos Daltonismo; Deficiência de G6PD; Distrofia muscular de Duchene; Hemofilia A e B � Critérios: - Homens mais afectados que as mulheres - A transmissão aos filhos homens é feita pela mulher portadora - Pode saltar gerações de homens - Filhas de mães doentes são todas doentes - Filhas de pais doentes são, pelo menos, portadoras - Não há transmissão Pai-Filho (homem) pois o pai transmite o Y Nota: Em virtude da lionização (acto de incapacitarem um dos seus cromossomas X, para não expressarem duas vezes a mesma informação), por vezes as portadoras (mulheres) manifestam alguns sinais da doença. A hemofilia e a displasia ectodérmica são alguns exemplos. 5.4.4 Hereditariedade Ligada ao X Dominante � Genes localizados no cromossoma X � Doente: XA XA, XA Xa ou XA Y � Saudável: Xa Xa ou Xa Y � Exemplos: Amielogenese imperfeita; Raquitismo vitamina-resistente; Síndrome de Rett � Critérios: - As mulheres são mais afectadas que os homens - Um pai doente transmite a doença a todas as filhas e todos os filhos são normais - Não salta gerações - Não há transmissão pai-filho porque o pai transmite o Y 5.4.5 Hereditariedade Ligada ao Y � Genes localizados no cromossoma Y � Não existe actualmente nenhuma doença definitivamente ligada ao Y � Critérios: - Só os homens portadores da mutação exprimem e transmitem o gene, que se manifesta sempre - Todos os filhos homens recebem o alelo do pai 5.4.6 Hereditariedade Mitocondrial � Genes localizados no DNA mitocondrial8 � Exemplos: doenças degenerativas no cérebro e músculo estriado esquelético cardíaco como a Encefalopatia Mitocondrial Familiar e Neuropatia Óptica de Leber � DNA circular com várias cópias por mitocôndria e várias mitocôndrias por célula: - Homoplaisa: cópias de DNA todas iguais (normal ou mutado) - Heteroplasia: cópias de DNA misturadas (normal e mutado) � Por divisão de mitocôndrias com heteroplasmia podem surgir: - Linhas celulares com homolasmia (normais) - Linhas celulares com homoplasmia (mutadas) - Linhas celulares com heteroplasmia (iguais à original) � Critérios: - Doença transmitida sempre por via materna 8 As mães transmitem a totalidade das mitocôndrias aos filhos 5. Tipos de Hereditariedade ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 24 - Todos os filhos de uma mãe doente são doentes - Pode haver heterogeneidade nos indivíduos afectados (expressividade variável entre irmãos devida à heteroplasmia) 5.5 Dificuldades na Identificação das Condições Mendelianos 5.5.1 Mutações Letais � Genótipos letais ‘in útero’ ou que não permitem que o individuo cresça e se reproduza, nunca se detecta um heredograma � Exemplos: Incontinentia pigmenti tipo II (Letal para mulheres XAXA e homens XAY), Síndrome de Rett (letal para homens) 5.5.2 Mutações “de novo” � A mutação não está presente no progenitor e aparece no descendente (dominante) � A mutação de novo pode ocorrer na gametogénese (nos progenitores) no início da embriogénese (individuo) � Para se manifestar tem de ocorrer em condições dominantes ou então ligadas ao X recessiva (e manifesta-se nos homens) � Exemplos: Acondroplasia e Neurofibromatose tipo II 5.5.3 Mosaicismo Gonadal � Indivíduo formado por mais que uma linha celular � Há duas hipóteses: � Pessoa saudável com mutação nas gónadas, têm filhos doentes � Pessoa mutada com gónadas saudáveis, com filhos saudáveis � É diferente das quimeras, que têm origem em duas fecundações que originam um indivíduo. 5.5.4 Polialelismo � Existência de diferentes alelos com fenótipos diferentes � Se ocorrer uma mutação no gene, não se sabe ao certo qual a consequência � Exemplo: Hipercolestrolémia familiar 5.5.5 Heterogeneidade Genica � Existência de fenótipos clinicamente idênticos provocados pela expressão de mutação em diferentes genes � Exemplos: Fenilcetonúria (níveis elevados de fenilalanina); Cancro Colo-rectal Sem Polipose – síndrome de Lynch; Surdez � Nos casos de hereditariedade genica para caracteres recessivos podem surgir filhos saudáveis de progenitores doentes, demonstrando a existência de vários genes (Complementação) 5. Tipos de Hereditariedade ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 25 Figura 24. Heterogeneidade Génica 5.5.6 Pleiomorfismo � A mutação de um só gene tem reflexo na expressão de vários fenómenos em diferentes órgãos � O indivíduo pode ter todas ou só uma manifestação � Exemplo: gene da proteína do tecido conjuntivo com consequências a nível ocular,cardiovascular e esquelético 5.5.7 Penetrância Incompleta (em doenças catalogados como incompletas) � É a frequência de expressão de um alelo numa população, dada pela proporção de indivíduos portadores do alelo que manifestam a doença � Penetração Completa: Quando o alelo se manifesta em 100% dos portadores � Penetração Incompleta: apenas uma parte dos portadores do alelo expressam a doença � A penetrância pode ser influenciada pela presença de outros genes ou por factores ambientais � Exemplo: Fenilcetonúria 5.5.8 Expressividade Variável � Refere-se à intensidade (severidade) com que um gene é expresso, podendo variar nos indivíduos de uma mesma família � Pode-se não detectar a doença no progenitor, por ter uma baixa expressividade, mas no descendente ser elevada (severidade da doença) � Pode dever-se a: Interacção genica (efeito de genes modificadores) Heterogeneidade alélica (diferentes mutações num gene podem mesmo originar diferentes patologias) Factores ambientais 5.5.9 Epistasia � Interacção dos produtos de diferentes alelos de diferentes loci para a expressão de um determinado fenótipo 5.5.10 Influência do sexo � A expressão é dependente do sexo � Pode-se exprimir como dominante um sexo e recessivo no outro (calvície) � Pode não se exprimir num sexo, embora seja transmitido pelos dois sexos (desenvolvimento mamário na mulher e da barba no homem) 5. Tipos de Hereditariedade ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 26 5.5 Hereditariedade Poligénica � Não é mendeliana � O fenótipo resulta do efeito parcial e aditivo de múltiplos genes de forma independente do meio ambiente � Exemplos: cor dos olhos, cor da pele, altura, impressões digitais 5.6 Hereditariedade Multifactorial � Caracteres ou doenças que resultam do efeito aditivo dos produtos de vários genes e da sua interacção com o ambiente � A combinação de factores ambientais e genéticos determina a susceptibilidade de cada indivíduo para desenvolver a doença ou caracter � Hereditabilidade: percentagem do efeito fenotípico devido à componente genética numa condição multifactorial � Exemplos: cancro, Diabetes Mellitus, Hipertensão arterial, Obesidade 6. Mutações Cromossómicas ESTeSL – APCT Diva Gregório, SaraMarques 27 6. Mutações Cromossómicas 6.1 Citogenética A citogenética corresponde ao estudo do cariótipo. Para se visualizar o cariótipo é necessário: � Adicionar o tecido e estimular a mitose � Incubar 2 a 3 dias � Parar as células em metafase (por inibição do fuso mitótico ou por inibição da despolimerização do fuso, deixando os cromossomas alinhados na placa equatorial) � Transferir as células, centrifugá-las e fixá-las � Transferir as células para uma lâmina e fixá-las � Fotografar os cromossomas � Montar Representa-se o cariótipo pelo número total de cromossomas, seguido do sexo e das possíveis anomalias � 46, XX � 47, XY + 21 6.2 Colorações 6.2.1 Bandas G � Coloração com Giemsa após hidrólise das proteínas � Bandas Claras: Ricas em GC � Bandas Escuras: Ricas em AT 6.2.2 Bandas R � Coloração com Giemsa após desnaturação térmica 6.2.3 Bandas Q � Coloração com marcador fluorescente � Bandas Escuras: Ricas em GC (heterocromatina) � Bandas Brilhantes: Ricas em AT (eucromatina) 6.2.4 Bandas C � Coloração da região contromérica 6.2.5 Bandas NOR � Coloração das regiões organizadoras nucleolares 6.2.6 FISH � Coloração de zonas específicas nos cromossomas 6.3 Alterações Numéricas 6.3.1 Euploidia � Cariótipo normal � Espécie humana – 46 cromossomas (46XX ou 46XY) 6. Mutações Cromossómicas ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 28 6.3.2 Poliploidia � Alterações no número de cromossomas que envolve o total do número haplóide � É incompatível com a vida humana � Deve-se a: Dupla fecundação (3n) Ausência de redução meiótica do espermatozóide/óvulo (3n ou 4n) Duplicação cromossómica sem meiose 6.3.3 Aneuploidia � Alteração do número de cromossomas, ou seja, ganho ou perda de cromossomas de um número diferente do número diplóide. Tipos de Aneuploidia: � Nulossomia: perda de duas cópias dos cromossomas, inviável � Monossomia: perda de uma cópia de um par de cromossomas, inviável excepto de for no cromossoma X � Trissomia: ganho de um cromossoma de um dos pares Ocorre por dois mecanismos: Atraso na migração meiotica Metade dos gâmetas não ter cromossomas levando a monossomia Meiose I: 2 células afectadas de 4 Meiose II: 1 célula afectada de 4 Não disjunção9 meiotica Os cromossomas não se separam Meiose I: 2 gâmetas monossómicos e 2 trissómicos Meiose II: 2 gâmetas normais, 1 trissómico e 1 monossómico 9 6 Também pode ocorrer na mitose resultando em: 1. Células inviáveis, 2. Só a célula trissómica é viável, 3. Só a célula monossómica é viável, ou 4. São as duas células viáveis: mosaico 6. Mutações Cromossómicas ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 29 Figura 25. Aneuploidia As aneuploidias mais frequentes são: Somáticas Trissomia do 21 ou Síndrome de Down Trissomia do 18 ou Síndrome de Edwards Trissomia do 13 ou Síndrome de Patan Sexuais Monossomia X ou Síndrome de Turner (45, X) Trissomia XXY ou Síndrome de Kleinefelter (47, XXY) Trissomia XXX 6.4 Alterações Estruturais O problema destas quebras reside na sua localização e na altura do ciclo em que ocorrem. 6.4.1 Quebras simples no cromatídeo Leva à delecção da porção quebrada do cromatídeo. 6.4.2 Quebras simples nos cromatídeos Como há duas pontas que se quebraram, esta situação poderá ter diversas soluções. Entre elas, pode se dar a perda das porções quebradas, ou a união incorrecta das porções, ou ainda a união das duas porções que contêm o centrómero, levando à formação de um cromossoma dicêntrico. Figura 26. Cromossoma dicêntrico Quando houver mitose, a ligação entre a e b vai impedir a divisão, pois haverá um centrómero a ser puxado para um pólo da nova célula e outro centrómero a ser puxado para o pólo oposto, havendo uma ponta entre as duas novas células filhas. Figura 27. Divisão de um cromossoma dicêntrico Para solucionar este problema vai haver uma quebra (aleatória) do cromossoma dicêntrico, podendo ocorrer num local com ou sem genes, levando a perda dos mesmos ou à delecção/duplicação da informação das células filhas. 6.4.3 Quebras Duplas no Mesmo Cromossoma Solução � União correcta � E–H com delecção do F-G � EFGH (inversão do FG com ou sem delecção do H*) Ocorre problemas se afectar as células germinais: 6. Mutações Cromossómicas ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 30 Figura 27. Inversão paracêntrica Aquando do crossing-over, se este ocorrer na zona de inversão, há perda/ganho de informação. Para que o crossing-over ocorra é necessário haver um correcto emparelhamento dos genes, sujeitando um dos cromossomas a um loop (ver figura 28). Figura 28. Crossing-over num cromossoma com inversão paracêntrica Leva à formação de um gâmeta dicêntrico (A) e de um gâmeta acêntrico (B) Mas a inversão poderá ser também pericêntrica, ou seja, envolver o centrómero: Figura 29. Inversão Pericêntrica Leva à formação de dois gâmetas com duplicação e perda de informação. No entanto é menos desastroso que a inversão paracêntrica. 6.4.4 Quebras Duplas em Cromossomas Diferentes Se não houver quebra de genes, ocorre uma translocação simples 6. Mutações Cromossómicas ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 31 Há três tipos de segregação: Segregação Adjacente I Os centrómeros alongam-se e migram para pólos opostos. Ambas as células vão ter um cromossoma normal e um cromossoma translocado. Segregação Alternada Os centrómeros homólogos migram para pólos opostos. Uma célula leva dois cromossomas normais e outra leva dois cromossomas translocados. Segregação Adjacente II Os cromossomas homólogos vão para o mesmo pólo. Ambas as células levam um cromossoma normal e um cromossoma homólogo. Por norma leva à formação de células inviáveis, a não ser que a parte translocada seja pequena. O grande problema das translocação recíprocas é a duplicação ou delecção de partes de um cromossoma 6.4.5 Quebras Centroméricas São importantes nos cromossomas acrocêntricos (braço pequeno muito menor que o braço grande) Também denominadas de translocações robertsianas. A mais frequente é t 14:21 Não se perde informação porque o braço mais pequeno corresponde a cópias de genes de rRNA. Figura 30. Translocação Robertsiana 14:21 Figura 31 Segregação Adjacente I Figura 32. Segregação Alternada Figura 33. Segregação Adjacente II Após fecundação de um � Óvulo normal: � Trissomia 14 (Inviável) � Monossomia 21 (Inviável) � Trissomia 21 � Normal � Monossomia 14 (inviável) � Normal Portador 7. Oncogenética ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 32 7. Oncogenética 7.1 Neoplasia � Massa de tecido que cresce sem coordenação em relação ao tecido normal que a envolve 7.1.1 Neoplasias Beningnas � Bem definidas � Bem localizadas � Crescimento lento � Expansão localizada a partir da zona central do tumor � Perigosas quando cimprimem os tecidos circundantes 7.1.2 Neoplasias Malignas � Sem margens bem definidas � Invadem tecidos adjacentes � Capazes de crescimento rápido � Capacidade de metastizar10 7.2 Desenvolvimento Tumoral O corpo humano tem aproximadamente 30 triliões de células, na sua maioria em constante renovação Surgem neoplasias devido: � Maior capacidade de proliferação11 � Alteraçõesa nível da estabilidade do genoma. Uma célula tumoral desenvolve-se quando são afectados genes que controlam o ciclo celular, a diferenciação, a reparação de DNA, a apoptose, etc. Este genes podem ser afectados por: � Factores epigenéticos: Metilação do DNA, Transição heterocromatina/eucromatina � Factores Genéticos: Mutação pontual, Delecção, Amplificação, Translocação 7.3 Genes Responsáveis pelo Desenvolvimento Tumoral 7.3.1 Proto-Oncogenes � Estimulam a proliferação � Mutações de ganho de função Quantitativo (sobre-expressão do gene) Amplificação genica Translocação Hipometilação Qualitativo (proteína alterada) Mutação Pontual 10 A célula perde a capacidade de adesão ao tumor primário, “viaja” até outra zona do organismo e readquire a capacidade de adesão num outro local 11 Por falha do funcionamento de checkpoints, pois estes são promovidos por uma série de proteínas, que, quando mutadas, levam a que este sistema de controlo fique afectado, promovendo a proliferação de células mutadas. 7. Oncogenética ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 33 Translocação proteína quimérica Exemplos: � Receptores de membranas: quando ligados à sua molécula activam cascatas enzimáticas intracelulares por transferência de grupos fosfato � Factores de transcrição: regulam os níveis de expressão dos genes � Proteínas reguladoras da apoptose: moléculas que regulam negativamente a morte celular programada � Mensageiros de transdução do sinal: moléculas que participam em vias de transdução do sinal, conduzindo o sinal recebido nos receptores até ao núcleo de célula. � Telomerases12: enzimas que regulam o tamanho dos cromossomas, impedindo o seu encurtamento 7.3.2 Genes Supressores de Tumor � Inibem a proliferação celular � Mutações de perda de função Quantitativo (sub-expressão do gene) Delecção Substituição Metilação do promotor Qualitativo (proteína não funcional) Mutação pontual Alteração cromossómica Exemplos: � p53: encontra-se nos checkpoints do ciclo celular, em G1, para encontrar falhas/danos, no DNA � BRCA1 e BRCA2: codificam proteínas que participam na reparação de quebras de DNA provocadas por exposição a radiação ionizante, logo mutações nestes genes aumentam o risco de cancro da mama 7.3.3 Genes de Reparação � Proteínas que corrigem as alterações genéticas, mantendo a taxa de mutação celular em níveis mínimos � Se inactivados, a probabilidade de ocorrência de mutações noutros genes é elevada 7.4 Identificação de uma Mutação � Prevenção � Diagnóstico � Prognóstico � Tratamento � Previsão de resposta à terapia � Identificação de novos alvos terapêuticos � Farmacogenética 12 Os telómeros, parte final do cromossoma, vão sendo sucessivamente encurtados em cada ciclo da divisão celular. A telomerase, ao ligar-se às células, confere-lhes imortalidade. 8. Aplicações na Saúde ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 34 8. Aplicações na Saúde 8.1 Testes de Diagnóstico O seu objectivo consiste no diagnóstico precoce de determinadas anomalias Exemplos: � Fenilcetenúria (teste do pezinho) Fenótipo (só após n dias pois o Recém Nascido tem sempre níveis elevados) Genótipo (pode-se fazer logo mas é muito caro) Se for diagnosticado recomenda-se uma dieta sem fenilalanina até aos 18 anos � Doença de Huntington Doença do foro neurológico Sem tratamento nem cura Só se pode fazer o teste após 18 anos e com pedido do próprio, pois se a doença é diagnosticada é dada uma sentença de morte Como diagnosticar precocemente? Através da Fecundação Artificial (durante as fases de pré-concepção e pré-natal13), Ecografias (até ao nascimento) e Testes (desde o nascimento) 8.2 Terapia Genética Após a identificação de um ou mais alelos mutados, arranja-se uma cópia do gene, cópia essa inserida no gene mutado que se vai alterar para normal 8.3 Farmacogenética A resposta a determinados fármacos é variável de indivíduo para indivíduo 8.4 Genética Forense � Identificação de vestígios biológicos � Testes de paternidade/maternidade 8.5 Clonagem 8.6 Organismos Geneticamente Modificados � Exemplos: milho, soja, algodão, batata 13 Através de biopsias ao Líquido Amniótico, Sangue fetal do cordão umbilical, Placenta (vilosidades do córion), Feto (elevado risco) 9. Anexo: Tabelas do Código Genético ESTeSL – APCT Diva Gregório, Sara Marques 35 9. Anexo: Tabela do Código Genético Figura 34. Tabela do Código Genético
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