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AS NOVAS TECNOLOGIAS - DAINFO A AO E O FUT O DOS AR V OS o entrannos nos anos 90, temos com reqüência nos defrontado com os conceitos, símbolos e sentimentos do cha mado fun do século, um tempo que já se teria iniciado e cujo ténnino remete-nos sempre à idéia de uma nova etapa da his tória humana. Do tédio pós-modernista à conspiração aquariana de uma nova era, a ficção científica vai se tomando cada vez menos ficção, e a realidade cotidiana vai sendo alterada verti ginosamente, sobretudo nos países do pri meiro mundo, em razão dos avança; cientí ficos e da emergência de novas tecnologias. Estaríamos, assim, vivenciando uma Segunda Revolução buiustriol, com a cres cente automação do processo produtivo e o aporte de inteligências artificiais para substituir a mecanização característica da Primeira Revolução Industrial. Esta Segunda Revolução Industrial esta ria detenninando, )X)f sua vez, o que se con vencionou chamar de era da illformação, idéia consolidada ao longo dos últimos 30 anos a partirda constatação edas col<;eqüên- José Maria Jardim • cias sociais do fato de que jamais se produ lju, se. a.nnazel1ou e se dis.seminou tanta informação como nas sociedades atuais. Da mesma forma, jamais tantos recursos tecno lógicos foram direcionados especificamente para a criação e a gestão de informaçócs. A chamada era da illformação tem im posto desafios com dificuldades e comple xidades sem precedentes aos profissionais de arquivologia e biblioteconomia às suas respectivas instituições de formação e à sua ação profissional. Conforme Sluart-Stubbs (1989), até os anos 50 não se pensava em informação como uma entidade específica, mas apenas como manuscritos, livros, panfletos e ou tras variações documentais. O formato fí sico do documento praticamente se sobre punha ao seu conteúdo, e esta tendência represenlava uma orientação intelectual com inúmeras implicações sobre todo o processo de coleta, processamento técnico e disselninação de tais materiais. As pró prias instituiçôcs responsáveis por geren ciar inform.'ções foram historicamente Eslwlru Ui.rtórico.s, Rio de Janeir<\ vol. 5, n. 10, 1992, p. 251-260. 252 FSlUDOS IDSroRICOS-1992/10 configuradas sobretudo a partir dos meios usados para o registro da informaçao. As características físicas dessas institui ções, sua arquitetura e equipamento, os esquemas intelectuais que empregam para a organização da informação, a forma de supervisionar o uso dos materiais que cus todiam, e mesmo as diferentes profissões que aí se foljaram, todos esses aspectos se desenvolveram muito menos a partir do cOllteúdo que do formato documental. Du rante muitos anos, por exemplo, distin guia-se bibliotecas de arquivos com base principalmente nas distinções entre mate rial publicado e não-publicado. As alterações ocorridas nesse tipo de conceituação têm solicitado de nós - atual mente identificados como profissionais da informação - que pensemos não apenas no vefcu/o usado para registrar e comUlúcar fatos, pensamentos e expressões, mas Iam bém, em termos abstratos, no conjunto de símbolos que chamamos de informação. Cabe ressaltar que, para efeito destas refle xões, são considerados irúormação todos os fatos e idéias que tenham sido registrados, . comunicados e10u distribuídos formal ou informalmente em qualquer fornJato físico. Aconceituação de informação registra da, com uma especificidade que a diferen cia do formato e do suporte documental, relaciona-se, no iaúcio do anos 60, com a crescente consciência da infonnação como um produto econômico, ou seja, mercado ria com valor monetário. Em 1 %2, Fritz Machlup publicava The productioll alld distributioll of kllowledge ill the Ullited States, demonstrando que 29% do Produto Nacional Bruto dos EUA em 1959 estavam vinculados ao setor de produção de conhecimento, e que 32% da força de trabalho encontravam-se engaja dos em atividades de produção de conbe cimento. Ainda em 1962, realiza-se na Vir giIúa, EUA, a primeira co,úerellcia refe rente à ciência da illfonnação sob o patro- dnio da Força Aérea Americana e da Mitre Corporation. Em 1968, criava-se nos EUAa lnforma tion lnduslries Association com o objetivo de promover o desenvolvimento da empre sa privada no campo da informação. Nesse mesmo ano, o Americao Documentation lnstitute, criado em 1937, foi restabelecido como a American Society for lnformation Science and Automation Division, insi nuando para alguns que informação não vinculada ao computador não é informa ção. Este preconceito persiste e tende, em alguns casos, a aumentar. No Brasil, o mBD (Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação), fundado em 1954, passa a se chamar, em 1976, lnstituto Brasileiro de lnformação em Ciência e Tecnologia. É iroportante ressaltar ainda que, nos Estados Unidos, a classe empresarial, além dos quadros executivos do setor público, adota amplamente esta nova conceituação de informação. Um marco importante, neste sentido, é a publicação, em 1969, da obra de Peter Druckee, T7.e age of discon tinuity, destacando a função dos sistemas de informação nas organizações como fon te de poder, decisão e controle. Cabe lem brar a esse respeito que os recursos desti nados pela mM para a pesquisa na área de gestão de recursos da informação têm sido concedidos não às escolas de bibliotecono mia, arquivologia ou ciência da informa ção, e sim às escolas de administração. A idéia de era da informação e os con ceitos daí derivados são também insepará veis das mudanças radicais oca.sionadas pelas novas tecnologias como a infonnáti ca, a biotecnologia e os novos materiais produtivos - para citar algumas. Nas últimas IIêsdécadas, a emergência de novas tecnologias tem reorientado acentua dame.tle o futuro social, econômico, políti co, cultural e ambiental das popUL1ções. Todas essas tecnologias são um produto da cultura. As raízes culturais que propi ciaram a emergência da informática, por o FUJ1JRO IX>S ARQUIVOS 253 exemplo, remetem-nos às fontes gregas da racionalidade ocidental, passando pelo re conhecimento social da lucratividade e da gestão do tempo inerente ao capitalismo. Também contribuíram para o posterior de senvolvimento da informática as exigên cias de velocidade na produção, expressas nos métodos de organização e racionalida de do trabalho tayloristas e fordistas utili zados desde o início deste século. 1à.is métodos começam a alcançar seus limites técnicos e sociais em meados dos anos 60, na medida em que não podem mais assegurar O nível e o ritmo de crescimento da produtividade. Neste quadro, a informática é introduzida no processo de trabalho, através da automação industrial (robótica), dos es criJórws (burótica) e das telecomw.icaçães (telemática), implicando várias alterações no modelo organizacional tradicional. Da sociologia à antropologia, da histó ria à ciência da infonnação, diversos auto res reconhecem que as sociedades moder nas estão sob "choque ilÚOrmátiCO" ou • • • • • seja, suas estruturas ecollOlrucas. SOCiaIS e culturais estão sendo profundamente alte radas com as novas tecnologias da infor mação. Acrescenle ulilizaç.'io desses recur sos vem afetando hábitos, conhecimentos, competências, o universo cultural e mes mo a raz.1o de ser dos indivíduos. Duas teses opostas derivam desse quadro: -para os pessimistas, a introdução gene ralizada e rápida da itúonnação em todos os aspcdos da vida levará ao mundo desuma nizado descrito por Geo'1:e OJWeU em 1984; -para os otimistas, a Terceira OIula, des crita por A1vin Thffier, conduzirá, graças às tecnologias da infonnação, a um futuro eco nômico, sedutor, dinâmico, 00 qual se desenvolverá uma sociedade democrática. Entre estas dllas posições, nuem várias possibilidades que devem ser objeto da pes quisa científica e da própria tecnologia. Por outro lado, as conseqüências daí decorren- • tes devem ser democraticamente controla- das pela sociedade, considerando-se que as funções sociais das tecnologias da informa ção comprometem-nas com a promoção do atendimento às necessidades vitais da hu manidade que, em grande parte, carece das mais elementares condições de existência. Concluímos, neste ponto, que o concei to de informação desenvolvido a partir dos anos 60 -possibilitando inclusive a emer gência de uma chamada ciência da infor mação - é historicamente determinado por um quadro econômico e social de bllsca da otimização do processo produtivo no capi talismo avançado. É nesta mesma ambiên cia histórica que se torna evidente a proli feração de novas tecnologias da informa ção, gerando disciplinas recentes como a gestão de recursos da informação. Stuart-Stubbs (1989) analisa o futuro da gestão da informação registrada conside rando duas premissas fundamentais: -o meio no qual está registrada a infor mação ainda é o principal fator determi nante das operações e posturas das institui ções guardiàs de itlformaç.ão; -a escolha do meio de registro da infor mação é, cada vez mais, uma escolha do seu produtor. Os profissionais da informação lerão que reavaliar as teorias e os princípios sob os quais as instituições de documentação têm operado. Esse processo de adaptação afeta diversos aspectos, como por exemplo as áreas física, itltelectual, organizacional, e o perlil profISSional das instituições de infonnação. Do ponto de vista do supane material da informação, cabe o reconhecimento de que está mudando a natureza da documen tação, embora autores como Cbarles DoI lar (1990), Katharine Gavrel (1990) e Ro nald E.F. Weissman (1989) ressaltem que o papel MO someJlle persiste como tem aumeJllada em volume. Para Dollar, por 254 ESTIJOOS IUSTÓRlCOS - 199:1110 exemplo, é um mito a idéia, extremamente difundida dez anos atrás, do escritório sem papel, noção esta distinta da de escritório automatizado ou eletlÔnico. É incon testável porém que, progJessivamente, as il,lStituiçães de infonnação defrontam-se cOm os chamados documentos eletrtinicos, informáticos ou Ieg(veis por mJiquina, ou seja, documentos registrados sobre meios tais como discos magnéticos, fitas magné ticas, disquetes, discos óticos, cartões per furados etc., cujos conteúdos são acessí veis somente com a ajuda de um computa dor e dos softwares a ele associados. Conforme levantamento do NARA, National Archives and Records Adminis tration, o governo dos EUA tinha aproxi madamente 12.600 computadores de mé dia e larga escala em 1980. Este número aumentou para 18.200 em 1985 e foi esti mado em 25 mil em 1990. Não estão aí incluídos cerca de 320 mil microcomputa dores. Aqui, vale observar, confonne Gra vei (1990) que o uso crescente de micro computadores afetou a centralização dos serviços de processamente de dados, des centralizando, por sua vez, as possibilida des de criação de documentos eletlÔnicos entre os membros de uma organização. Em proporções diferenciadas, esta tendência ao crescimento na produção de documen tos eletlÔnicos apresenta-se nas adminis trações públicas e privadas de muitos paí ses, inclusive o Brasil. A maior parte dos documentos eletlÔni cos apresenta analogias com o documento papel, embora atualmente esta analogia esteja sendo bruscamente alterada com as novas tecnologias da infonnação cujo ob jetivo é representar o mundo da maneira mais realística possível, sem fronteiras ar tificialmente impostas. Thxtos, gr.I ficos, imagens fixas, vídeo, som estão sendo in terligados eletronicamente num único do cumento chamado documento composto ou documento hipermúJia. Toma-se, as sim, cada vez mais difícil, com a quebra das fronteiras que estabelecem tipologias documentais, definir exatamente o que é um documento, onde começa e termina. Do ponto de vista da arquivologia, al guns conceitos básicos estão sendo reexa minados como, por exemplo, os de ordem original e documento origina� proveniên cia, e instituições arquivfsticas camo de pósitos centrais de documentos. Por con seqüência, práticas como avaliação, ar ranjo e descrição, preservação e uso estão sendo também repensadas. O conceito de documento original não é aplicável na gestão dos documentos eIetrô ni<n; que, ao contrário dos papéis, não são entidades f"icas, mas sim entidades lógicas. As dificuldades de conceituação neste senti do são ainda mais evidentes, por exemplo, em relação às bases de dados inter-organi23- cionais onde bits e peças de informação po dem ser selecionadas de outras bases e incor poradas ao documento eletlÔnico. Daí, a im portãncia de os arquivos reterem as infonnaçães sobre as relações lógicas refe rentes aos documentos eletrônicos. Os documentos eletrônicos compõem se de sinais eletlÔnicos cuja localização geralmente não transmite conteúdo inte lectual, o que torna também praticamente impossível a aplicação do conceito de pro veniência. Esta dificuldade de conceituali zação se agrava nos casos de largas e com plexas redes de informação, envolvendo várias organizações ligadas por meio de telecomunicações. As ligações entre com putadores dissolvem, neste caso, as tradi cionais fronteiras entre organizações, o que confronta o arquivista com a especifi cidade do contexto administrativo gerador do documento. Os efeitos desta tendência de se criar bases de dados inter-organiza cionais permitem um uso mais amplo do conceito de proveniência. Conforme K.Gavrel (1990), o termo muúiproveniên cia tem sido usado por algumas institui ções arquiv"ticas para designar a prove niência de uma série de documentos ele- o FlJIVRO DOS AIlQUlVOS 255 trônicos produzidos por bases de dados inter-organizacionais. Um swvey realiza do em 1974 pelo Alquivo Nacional da Austrália indicava a multiproveniência em 27% das séries. Um outro aspecto a ser considerado, segundo DoUar (1990), é a centralização dos documentos e/etrlinicos em institui ções arquivfsticas, devido ao alto custo de sua conservação, que requisita programas constantes de migração de documentos eletrônicos de antigos sistemas para novos. A este respeito, KeteUar (1988) assinala que as vantagens e desvantagens da cria ção de serviços especializados em função dos chamados "novos documentos" en contram-se relacionadas com a natureza destes, devendo ser avaliadas "em função das necessidades do usuário e não, priori tariamente, dos custos de funcionamento". Recomenda este arquivista holandês que a exploração dos documentos eletrônicos seja integrada aos serviços arquivísticos desde que estes possam assumir tais res ponsabilidades. No caso de outras institui ções (eventualmente os próprios órgãos produtores) assumirem a guarda desse ma terial, esta deve ser uma alternativa provi sória, e é importante que ocorra sob o controle físico e intelectual da instituição arquivfstica responsável. Um documento eletrônico não pode es perar anos nas prateleiras até ser avaliado sob o ponto de vista de seu interesse arqui vfstico como documento de terceira idade. Além de bllscar detectarseu valor informa tivo, a avaliação de documentos eletrôni cos considera necessariamente aspectos técnicos ligados à sua legibilidade e adap tabilidade a outros sistemas. O processo de avaliação do valor informativo deve assim ser realizado a partir da produção do do cumento informático, o que divide os está gios do seu ciclo vital em produção, ava liação, uso e destinação final. No caso das bases de dados inter-organizacionaisque resultam em multi proveniência, a avalia- ção do valor informativo coloca-se acima das fronteiras institucionais, baseando-se, sobretudo, nas júnções das organizações envolvidas. Cada vez mais, portanto, tor na-se imperativa a participação do profis sional de arquivo junto aos órgãos no de senvolvimento e instalação de sistemas in formáticos. Em relação ao a"anjo e descrição dos documentos eletrônicos, sobretudo para os resultantes das tecnologias de informação mais Itcentes, Dollar (1990) ressalta a ne cessidade de se ir além da mera produção de instrumentos de pesquisa de modo a se garantir também uma ampla visão sobre os sistemas de informação dos quais são de correntes os docume�tos processados. Des ta forma, torna-se importante que a descri ção ocorra a partir do desenho dos sistemas de informação. Para otimizar a acessibili dade, mostra-se também essencial a imple mentação de um sistema Diretório sobre Recursos de Gestão da Informação (bases de dados sobre outras bases de dados). O impacto de novas tecnologias da in formação está se refletindo também na perspectiva de conservação permanente de documentos informáticos. A fragilidade dos meios eletrônicos de armazenamento de informações tem se constituído numa das maiores preocupações do universo ar quivfstico. Até o momento, o meio mais aceitável tem sido a fita magnética por demonstrar ser o mais estável fISicamente e O menos custoso, embora sua conserva ção represente um gasto significativo em termos de recursos humanos e financeiros para as instituições arquivísticas. Além do controle ambiental, o ponto principal de um programa de conservação de documentos eletrônicos tem sido um ativo processo onde a equipe responsável rehobina todo o material geralmente a cada dois anos para evitar problemas de junção de suportes, e promove a reprodução das fitas periodicamente,já que sua durabilida de máxima é de dez anos. A ausência de 256 ES1UDOS HlSTÓRlCOS -1992110 padroes na indústria infomJática, assim co mo a obsolescência tecnológica, gera pro blemas para a preservação de documentos eletronicos a longo prazo, provocando um alto custo devido à migração de dados de documentos eletronicos de velhos siste mas para novos. Os recentes meios óticos de armazena gem têm garantido um aumento significa tivo da capacidade de annazenagcm e, no caso dos discos óticos, têm a vantagem de não requererem controle ambiental. A re cente criação de um novo tape ótico flexí vel pennite que um único rolo de 12 pole gadas armazene o equivalente a 5 mil fitas magnéticas. Para Dollar (1990), o conceito dedocu mefÚO permanefÚe é relativo quando os altos custos de preservação da vida útil dos documentos eletronicos se sobrepõem aos beneficios da sua retenção definitiva. Se gundo este mesmo autor, a preocupação arquivística com os documentos eletroni cos deve deslocar sua ênfase da preserva ção dos meios físicos de armazenagem para os aspectos intelectuais que envolvem o acesso às infonnações registradas em suportes magnéticos. A maior parte dos documentos eletrôni cos sob a guarda de instituiçiíes arquivísti cas refere-se a dados estatísticos e tem se mostrado especialmente interessante para estudos de história demográfica através de infonnaçôes relativas a casamento, morte e outras relacionadas com censos popula cionais. No Canadá, por exemplo, os arqui vos infomJáticos têm sido mais utilizados por sociólogos do que por historiadores. Prevê-se que uma nova geração de pes quisadores, fanúliarizada com aplicações informáticas, estabelecerá novas demandas de consulta por meio eletronico aos arqui vos. A aplicação do disco ótico também afetará o uso de documentos textuais, per mitindo ao consulente um amplo acesso a grandes quantidades de informação. Do ponto de vista intelectual, esta tendência requisitará dos arquivos instrumentos de pesquisa mais normatizados e completos. As novas tecnologias estão tomando possível a utilização dos novos arquivos à distllncia, ou seja, através de redes de in formação. As crescentes facilidades de uso de mi crocomputadores, cada vez mais possan tes, sem a necessidade de vastos conbeci mentos infomJáticos por parte do usuário, contribuirão também para tal utilização fo ra dos arquivos. Apesar disso, Ketellar (1988) não acredita que a utilização dos arquivos possa ser confiada inteiramente aos sistemas infonnalizados: "A pesquisa da infonnação não é somente um procedi mento lógico, analítico e linear, o arquivis ta e o pesquisador apelam um ao outro através de percepções balísticas, intuitivas e criativas." Diante das possibilidades geradas pelas novas tecnologias de informação, Charles Dollar (1990) propõe a redefinição dos serviços de referência arquivística em três aspectos: - estes serviços devem nortear sua ação mais para o acesso às informações regis tradas no documento do que para o docu mento em si, com O auxIlio de arquivistas especializados em sistemas eletrônicos de informaçiíes; - as instituições arquivísticas terão que se envolver na configuração de padrões de tecnologia da informação de modo a ga- " . .. . . ranttr que os IDteresses arqulvlShcos selam assegurados; - os arquivos terão de ampliar seu de sempenho na proteção da privacidade e liberdade pessoal prevenindo o uso inade quado da informação arquivística, particu lannente quando muitas informações de interesse social estão sendo coletadas e preservadas. Considerando.,<;c os custos de conserva ção e processamento técnico dos documen- o fUIURO DOS ARQUIVOS 257 tos eletrônicos, algumas instituições aIqui vÍ'lticas na Europa e América do Norte de bontam-&e com a nece<sidade de o usuário pagar alguma taxa de utilinção desses acer vos, de modo a amortin, lima parte dos investimentos realindos para o seu adequa do tratamento arquivÍ'ltico. Embora o prin cfpio de livre acesso seja comiderado funda mentai na democratinção da informação, o conceito de consulta gratuita já tinha sido alterado em razão das demandas de trata mento técnico de documenta; audiovisuais. Conforme ICeteUar (1988), "se a sociedade como um todo deseja aproveitar as vanta gem que oferecem os novos arquivos, terá que pagar o preço". A este respeito o arqui vista sueco Granstrom (1989), assinala que "tantos recur.ros têm sido investidos na pro dução da informação que uma parte deles merece ser gasta em esforça; para resolver problemas de avaliação, processamento téc nico, preservação, armazenagem e recupera ção de informações". Ainda do ponto de vista do usuário, Peter Mcincke (1989), sublinha que "defi nir as reais necessidades e demandas do usuário é um dos mais imPortantes aspec tos do desenvolvimento e implementação de qualquer inovação tecnológica, espe cialmente quando é certo que as novas tecnologias provocarão grandes transfor mações". Alguns responsáveis pela produ ção de novas tecnologias da informação, no entanto, têm negligenciado seu impacto social e o papel da interferência dos usuá- • • • nos potenCIaIS. Os desa fios impostos pelo impacto de novas tecnologias da informação no traba lho arquivlstico refletem-se diretamente sobre os profissionais de arquivologia. Qual seria o papel deste profissional na era dos sistemas automatizados da informa ção? Conforme Kesner (1984), se os arqui vistas não mudarem a maneira de enfocar o propósito e a natureza de s\las fuOÇÕes no âmbito das organinÇÕes arquivÍ'lticas, dentro em pouco estarão relegados ao pa- pel de conservadores de antiquários, pers pectivas esta sistematicamente recusada no passado por ser uma noção eITÔnea do que um arquivista desenvolve pela socie dade. Neste sentido, a alternativa para osarquivistas seria atuarem como especialis tas da informação, desenvolvendo um pa pei ativo na sua criação, distribuição e conservação mediante a utilinção de um grande conjunto de instrumentos automa tindos e técnicas analíticas. Destaca-se, neste processo de transfor mação, a imperiosa necessidade do profIS sional de arquivologia participar da pro dução dos documelltos ele/rôllicos, coope rando, como já foi mencionado, na concep ção e no desenvolvimento de sistemas automatizados de informação. Daí a im portância de se formar e requalificar pro lissionais de aIquivologia que possam de sempenhar-se da gestão de recursos da in formação, respondendo nos níveis tcórico, metodológico e organizacional às diversas questões provocadas pelas novas tecnolo gias da informação. Da mesma forma, colocam-se as orga nizações arquivfslicas diante da necessida de de operacionalizar transformaÇÕes as sumindo novas posturas institucionais. Se as novas responsabilidades que resultam da moderna gestão da informação não fo rem incorporadas pelos aIquivos, outras instituições o farão, mesmo porque os pró prios usuários buscarão auxilio em outra parte, caso não obtenham os serviços in formativos de que necessitam. Nãose trata, portanto, de uma mera adaptação às novas tecnologias da informação, mas de buscar influenciar o seu desenvolvimento. Os arquivos nacionais que estão logran do avanços neste sentido evidenciam a ab soluta necessidade de· uma política de in formação governamental consistente, so cialmente aprovada e compatível com in teresses arquivísticos. Alguns aspectos dessa política envolvem a ação dos arqui vos nacionais, como por exemplo: 258 ESlUOOS I-DsTóRlcos - 1992110 -legislação adequada dispondo sobre a função do Estado na produção e uso de infonnações resultantes das novas tecno logias e resguardando o direito do cidadão à infonnação e à sua privacidade; - cooperação entre agências governa mentais responsáveis pelo tratamento e acesso à infonnação, desenvolvimento ad muústrativo e assuntos jurídicos, além de organismos privados; - treinamento de especialistas e usuá rios da infonnação; -elaboração de diretrizes sobre destina ção, processamento técnico e padrões téc nicos sobre os novos tipos de documentos eletrônicos; -pesquisa na área de gestão de recursos infonnativos e da infonnação; - supervisão e assistência técnica aos órgãos governamentais na produção e uso de documentos eletrô,úcos. Evidentemente estamos nos referindo a arquivos nacionais e outras instituições ar quivístiOls de países do primeiro mundo com larga tradição democr.ítica e que, como prin cipais produtores dessas novas tecnologias, compartilham IÚveis semelhantes em tennos de divisão u.temacional do trabalho. A esta divisão internacional do trabalho colIUlpon de uma ordem internacional da infonnação na qual as chamadas indústrias de infonna ção são controladas principalmçnte pelos países centrais, com enonnes desigualdades entre o Norte e o Sul. Tomando""" como exemplo os bancos de dados, sabemos que "os EUA detêm 60% dos bancos de dados existentes, contra 26% controlados pela Co mUlúdadeEconôllÚca Européia e 14% petas instituições intemaciolL11s e 'resto do mun- do'" (Bcnakouche, 1985). . Este novo colonialismo via novas tec nologias como as da infonnação apresenta implicações econ(jllÚcas culturais que per passam O universo arquivístico brasileiro, já que a gestão da infonnação a ser adotada por nossas instituiçóes acabará por se pau- tar - em muitos casos - pelos padrôes básicos gerados em países do primeiro mundo. Esta tendência, é claro, não exclui a contribuição da arquivologia brasileira nas reflexões sobre a gestão de novos re cursos infonnativos. A experiência das instituições arquivís ticas e dos cursos de arquivologia no Brasil - centros naturais de produção e acumula ção de conhecimento -é ainda quase nula a este respeito. Isto talvez se explique pela própria precariedade institucional de nos sas instituiçóes e centros de formação ar quivísticos, alguns dos quais vêm tentando desenvolver um processo modellÚzante ca paz de romper com um estancamento jurí dico, técnico e organizacional de dezenas de anos. Os enonnes problemas que ainda nos colocam a avaliação, recolhimento, processamento e guarda dos chamados do cumentos arquivísticos tradicionais não justificam, porém, negligeuciannos as no vas questões resultantes do processo elelrô JÚco de produção documental, sob pena de contribuinnos para ampliar ainda mais as dificuldades de preservação e acesso ao patrimôJÚo arquivístico do país. Este enonne vazio na arquivologia bra sileira certamente não será preenchido pela ação de uma instituição arquivística ou curso de arquivologia isoladamente. A reu nião de profissionais de diversas ulStitui ções públicas e privadas, bem como de cursos de arquivologia, poderia, de fonna dinãllÚca e criativa, conduzir a estudos e propostas básicas sobre a gestão arquivís tica dos documentos eletrônicos em seus diversos aspectos. Apesar de uma defasagem de no mÍIÚ mo duas décadas, ainda não é demasiado tarde para iniciativas neste sentido ou ou tras que possam compatibilizar a arquivo logia brasileira com as novas demandas da gestão da informação. Esta é uma respon sabilidade social dos profISSionais de ar quivologia no Brasil para com seu tempo e seu país. o FlTlUR.O DOS ARQUIVOS 259 Bibliografia BENAKOUCHE, Rabah (org.). 1985. A i"for mática e o Brasil. São Paulo, Petrópolis, PoJisf\bzes, DlCIIONARY oC arcbival tenninology; Dic tionnaire de terminologie archivistique: english and frencb wilh equivalents in dutch, german, italian, russian and spanish, 1984. Compiled by Frank B. Evans, Français J. Himly and Peter Walne. Munchen; New York; Landon; Paris, Saur. DOLLAR, Charles M. 1990. 1he impacl of i" f o r m a tíon l e c hnologies on archival principies and praclices: some considera· tions, Washington, DC: National Archives and Records Administration. (cópia eletros tática). - e WEIR JUNIOR, Thomas E. 1990. 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