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Classificação dos contratos

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Classificação dos Contratos
Prof.ª Ana Maria Blanco Montiel Alvarez
TEXTOS BASE
MARINO, Francisco Paulo de Crescenzo. Classificação dos contratos, in PEREIRA JR., Antonio Jorge; JABUR, Gilberto Haddad (coord.). Direito dos Contratos. São Paulo: Quartier Latin, 2006, pp. 21-50. 
ALVAREZ, Ana Maria Blanco M. Expressões da racionalidade contratual contemporânea (cooperação), in JOBIM, Marco Félix (org,). Inquietações jurídicas contemporâneas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, pp. 21-38.
1. O que vamos estudar?
Classificação dos contratos
Isto é, categorias contratuais: 
 
 	“modelos abstratos formulados de acordo com critérios simples de classificação, normalmente compondo dicotomias ou tricotomias (v.g., contratos onerosos ou gratuitos, contratos unilaterais, bilaterais ou plurilaterais). As categorias contratuais correspondem a nível maior de abstração, se comparadas aos tipos contratuais (compra e venda, leasing, mútuo, empreitada etc.), e a nível menor de abstração, quando confrontadas com o contrato enquanto categoria mais alta, espécie de fato jurídico [negócio jurídico]” MARINO, p. 22.
2. Por que vamos estudar?
Toda e qualquer classificação no direito pode ser útil ou inútil; não se trata de exercício de erudição;
No caso da classificação dos contratos, categorizá-los auxilia na sistematização das normais jurídicas aplicáveis a cada categoria, facilitando o tratamento jurídico do contrato in concreto.
2.1 E que normas são essas aplicáveis às categorias contratuais?
(i) normas reguladoras dos negócios jurídicos;
(ii)normas reguladoras do direito das obrigações;
(iii) normas reguladoras dos contratos em geral;
(iv) normas reguladoras das categorias a que o contrato pertence;
(v) normas reguladoras do tipo contratual em questão.
3. Classificação quanto à tipicidade
Podemos falar em 3.1 contratos típicos: “são aqueles cujo tipo ou modelo jurídico encontra-se previsto em normas legislativas de um dado sistema jurídico” MARINO, p. 23. 
Exemplos: compra e venda, tipo regulado pelos artigos 481 a 532, CC; ou a doação, tipo regulado pelos artigos 538 a 564, CC.
E também podemos falar em 3.2 contratos atípicos: aqueles “cujo modelo jurídico não se encontra fixado em lei”, MARINO, p. 24.
Exemplos: contrato de leasing, contrato de resseguro, contrato para utilização de “flats”, contratos de viagem (“pacote turístico”) etc.
A propósito, é bom lembrar do Código Civil...
“Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.”
Os 3.2 contratos ATÍPICOS 
podem ser:
(i) atípicos por insuficiência do tratamento legislativo existente. Exemplo: leasing e resseguro.
(ii) atípicos puros por serem inteiramente diversos dos tipos legislativos, resultantes da importação de tipos de outros sistemas jurídicos. Exemplos: factoring e franchising.
(iii) atípicos mistos, por se utilizarem de um ou mais tipos de referência.
Os contratos atípicos mistos subdividem-se em:
(iii.a) mistos de tipo modificado, “oriundos de um tipo legislativo” que funciona como referência, mas indo muito além dos seus limites. Exemplo: contrato para utilização de “flats” ou “apart-hoteis” (vai muito além de um contrato de locação).	
(iii.b) mistos de tipo múltiplo, “estruturados por meio da combinação de mais de um tipo de referência”, podendo haver prestações dos tipos de referências em lados contrapostos. Exemplo: contrato de viagem (ou pacote turístico), que envolve transporte, alimentação, hospedagem, prestação de serviços etc.
3.3 As teorias pelas quais se define o tratamento jurídico dos contratos atípicos
Teoria da absorção: “preconiza a identificação de um tipo de referência predominante, cuja disciplina será aplicada para regular o contrato atípico”
Teoria da combinação: a partir da identificação dos tipos de referência, prescreve a combinação do tratamento jurídico dos tipos identificados
Teoria da analogia: “entende os contratos mistos como unidades e não meras somas de grupos de normas, sustentando que as regras pertinentes a tipos de referência somente podem ser aplicadas por analogia”
Teoria da criação: “prevê, à falta de um tipo de referência e na hipótese de não ser possível a analogia, a criação de uma solução concreta, através da interpretação complementadora, com base nos princípios e cláusulas gerais tais como a boa-fé e a equidade”.
Conforme MARINO, p. 26.
3.3.1 Qual teoria deve ser escolhida?
Em 1º lugar, as teorias mencionadas não são mutuamente excludentes, podendo ser coordenadas;
Em 2º lugar, deve-se escolher a teoria que melhor se adaptar à natureza e à estrutura do contrato atípico concretamente considerado.
3.3.2 Como aplicar a(s) teoria(s) eleita(s)?
para regular os contratos atípicos puros a teoria da criação é mais adequada;
aos contratos atípicos mistos de tipo modificado a teoria da absorção coordenada junto da teoria da criação, conforme o caso, pode propiciar uma solução adequada;
aos contratos atípicos mistos de tipo múltiplo tanto a teoria da combinação, quanto a teoria da criação pode trazer solução satisfatória, devendo-se escolher uma ou outra conforme o caso concreto;
em todos os casos, a teoria da analogia é útil, predominando o entendimento doutrinário de que a aplicação das regras dos tipos de referência sempre se dá por meio de uma raciocínio de analogia.
3.3.3 E se nenhuma das regras dos tipos de referência propiciar solução adequada?
Conforme MARINO (p. 27), deve-se recorrer às demais fontes de regulação, quais sejam:
(i) regras livremente estipuladas pelas partes, no exercício da sua autonomia privada;
(ii) regras e princípios gerais reguladores do negócio jurídico, das obrigações e dos contratos em geral;
(iii) aplicação do princípio da boa-fé objetiva;
(iv) usos (em função interpretativa e integrativa).
4. Classificação quanto à formação do contrato
4.1 Contratos formados por adesão
4.2 Contratos negociados (por meio de proposta e aceitação ou por declarações conjuntas)
4.3 Contratos consensuais
4.4 Contratos reais
4.5 Utilidade jurídica dessa classificação
Em sendo o contrato formado por adesão, aplica-se o disposto nos artigos 423 e 424, CC, sem prejuízo das disposições do CDC (Lei 8.078/90) quando a relação for de consumo.
Em sendo contrato negociado,
(i) formado por proposta e aceitação: aplica-se o disposto nos artigos 427 a 435, CC, sem prejuízo de dispositivos pertinentes do CDC, conforme o caso;
(ii) formado por declarações negociais conjuntas: assume especial relevância os princípios da confiança e da boa-fé objetiva, uma vez que as tratativas são intensificadas e, muitas vezes, vinculantes.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
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Em sendo o contrato consensual, poderá ser por adesão ou negociado, de qualquer forma centrando seu tratamento na questão do consentimento expressado;
Em sendo o contrato real, exceção que compreende alguns poucos tipos contratuais (mútuo, comodato e depósito), centra-se seu tratamento na tradição da coisa.
5. Classificação quanto à forma
5.1 Contratos não-solenes, “têm forma livre, podendo ser realizados [...] por qualquer forma considerada instrumento de exteriorização suficiente para tornar socialmente reconhecível o conteúdo do negócio jurídico”, MARINO, p. 30.
Exemplos: a maior parte das hipóteses de compra e venda de coisa móvel; prestação de serviço (por diarista, por médico etc.); transporte público etc.
A propósito, é bom lembrar do Código Civil...
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
5.2 Contratos solenes, aqueles cuja “forma é taxativamente fixada em lei, ou seja, é vinculada, constituindo elemento essencial do negócio
jurídico (forma ad substantian)”, MARINO, p. 30.
Exemplos:
(i) art. 108, CC
(ii) art. 541, CC
(iii) art. 819, CC
(iv) art. 807, CC
5.3 Utilidade jurídica dessa classificação
Definir as consequências da não observação da forma:
Se o contrato é não-solene, as principais consequências dizem respeito à prova do contrato ou sua interpretação, dependendo da forma (livre) escolhida;
Se o contrato é solene, a principal consequência é a INVALIDADE do contrato (art. 104, III c/c art. 166, IV, CC) ► hipótese de NULIDADE do negócio jurídico.
6. Classificação quanto ao fator tempo
6.1 Contratos de execução instantânea, “aqueles nos quais a execução (realização das prestações contratuais) dá-se de uma só vez e em uma única prestação”, embora admitida a divisão da prestação em parcelas. 
6.2 Contratos de duração, “cuja nota essencial diz com o fato de ao menos uma das prestações não se exaurir instantaneamente, demandando certo lapso temporal”
MARINO, p. 31.
6.1 Contratos de execução instantânea Subdividem-se em
6.1.1 Execução imediata: “a prestação é realizada no momento da conclusão do acordo ou logo após”. 
Ex.: compra e venda à vista;
6.1.2 Execução diferida: “caracterizam-se pelo fato de ao menos uma das prestações ser efetuada em tempo posterior ao da conclusão do contrato”. 
Ex.: compra e venda com pagamento do preço (prestação) em parcelas.
MARINO, p. 31.
6.2 Contratos de duração subdividem-se em:
6.2.1 Execução continuada: contratos nos quais “a prestação (muitas vezes uma atividade) se prolonga no tempo, sem interrupção”. 
Ex.: contrato de trabalho, contrato de sociedade, contrato de distribuição.
6.2.2 Execução periódica (ou de trato sucessivo): aqueles nos quais “a prestação é realizada mediante repetições periódicas”.
Ex.: contratos de fornecimento ou de prestação de serviços com periodicidade fixa (de energia elétrica, telefonia, etc.) 
Conforme MARINO, p. 31.
6.3 Utilidade jurídica dessa classificação 
Nos contratos de execução instantânea, a sua extinção por resolução ou resilição, produz efeitos ex tunc (retornam as partes ao status quo ante);
Nos contratos de duração impõe-se o princípio da irretroatividade dos efeitos produzidos, e a sua extinção por resolução ou resilição operam ex nunc (“daqui por diante”). 
A revisão do contrato (por qualquer de seus fundamentos teóricos) e a resolução por onerosidade excessiva (art. 478, CC) aplicam-se aos contratos de execução instantânea diferida, e aos contratos de duração. 
7. Classificação quanto às prestações e sua reciprocidade
7.1 A lateralidade nos negócios jurídicos e nos contratos: critérios diversos
7.1.1 Lateralidade no NJ
É preciso ressaltar que o critério para estabelecer se o NJ é unilateral, bilateral ou plurilateral é a quantidade de agentes envolvidos, declarando a sua vontade (“declaração negocial”) que produzirá efeitos jurídicos conforme o NJ perpetrado. O contrato, por óbvio, é um NJ bilateral ou plurilateral.
7.1.2 Lateralidade no contrato
Já o critério que serve à classificação de um contrato como unilateral, bilateral ou plurilateral diz respeito aos efeitos jurídicos produzidos frente aos contratantes. 
7.2 Contrato unilateral
UNILATERAL é o contrato que estabelece obrigações para uma só das partes contratantes. A marca característica do contrato unilateral é a inexistência de dependência e correspectividade entre prestação e contraprestação; há prestação, que se coloca apenas em relação a um dos contratantes.
Exemplo: doação. 
7.3 Contrato bilateral
É BILATERAL o contrato no qual ambas as partes assumem prestações, uma frente a outra, ocupando concomitantemente a condição de credor e devedor, estabelecendo-se entre os contratantes prestação e contraprestação, direitos e deveres. 
Exemplo: contrato de compra e venda.
7.3.1 O problema do contrato bilateral imperfeito
São assim compreendidos aqueles “contratos que não geram, tipicamente, obrigações para ambas as partes, (classificando-se, a priori, como unilaterais), mas nos quais a bilateralidade de obrigações pode eventualmente surgir ao longo da execução” (MARINO, op. cit., p. 34). Isto é, são imperfeitos os contratos que iniciam unilaterais e que, ao longo de sua execução, se transformam em bilaterais. Essa classificação não é pacífica na doutrina.
 
Exemplos: doação modal ou com encargo; ou mandato que inicia gratuito, mas se torna oneroso.
7.4 Sinalagma contratual
Dizer que prestações são sinalagmáticas é dizer que prestação e contraprestação são correlatas, isto é, interdependentes. Ou, nas palavras de Mario Júlio de Almeida Costa, reconhecer “um nexo ou sinalagma, significando que a obrigação de cada uma das partes constitui a razão de ser da outra.” [Direito das obrigações, 9ª ed.., Coimbra: Almedina, 2004, p. 325-326.].
O sinalagma pode ser genético ou funcional.
7.4.1 Sinalagma genético
Será genético “Quando esse nexo se refere ao momento da celebração do contrato, quer dizer, só surge a obrigação de um dos contratantes se surgir a do outro”. Exemplo dado por Mario Júlio é de um contrato pelo qual A se compromete a praticar fato ilícito mediante retribuição de B, como a prestação que recai sobre A é inválida, obviamente não “nascerá” a contraprestação de B. 
7.4.2 Sinalagma funcional
Funcional é o sinalagma pelo qual “a reciprocidade ou contrapartida das prestações se manifesta e [se] releva durante a vida do contrato, designadamente quanto à simultaneidade do cumprimento, ou seja, a execução por uma das partes encontra-se condicionada à execução pela outra.”. São exemplos de contratos com sinalagma funcional os contratos de locação, cujas prestação e contraprestação são interdependentes ao longo da execução do contrato (o locatário paga o aluguel todo mês porque todo mês dispõe do imóvel). O mesmo se dá em contratos de trabalho. 
7.4.3 Observações quanto aos contratos sinalagmáticos
MARINO chama atenção ao fato de que se tem compreendido por contratos bilaterais os contratos que, para além de haver prestação e contraprestação de parte a parte contratante, há correspectividade e interdependência, ou reciprocidade entre prestação e contraprestação. Assim, quando a doutrina refere bilaterais, normalmente pressupõe a perspectiva sinalagmática do contrato. 
7.5 Contrato plurilateral
Fruto da contribuição de Tulio Ascarelli, ao defender concepção contratualista das sociedades empresariais. 
Essa categoria se expressa nas seguintes e principais peculiaridades. 
Em primeiro lugar, na possível participação de mais de duas partes, o que não é o mesmo que dizer “dois contratantes ou mais”. Um contrato de compra e venda pode ter mais de um comprador e mais de um vendedor, e por isso se pode dizer que há mais de dois contratantes, mas ainda será um contrato que envolve duas partes. No contrato de sociedade há uma verdadeira pluralidade de partes, pode haver cinco, dez ou cem sócios, diz Ascarelli, os quais corresponderam a cinco, dez ou cem partes, sendo impossível a sua divisão em duas partes ou dois grupos.
7.5 Contrato plurilateral (continuação)
A consequência prática dessa perspectiva está na segunda peculiaridade do contrato plurilateral: todas as partes desta subespécie de contrato são titulares de direitos e obrigações – como sói ocorrer a todos os contratos –, mas esses direitos e obrigações não se colocam de uma parte frente à outra, e sim de cada uma das partes para com todas. Esta característica do contrato plurilateral está intimamente ligada a outra, de fundamental relevância: “À pluralidade corresponde a circunstância de que os interêsses contrastantes das várias partes devem ser unificados por meio de uma finalidade comum; os contratos plurilaterais aparecem como contratos com comunhão de fim”. A representação geométrica de um contrato plurilateral se dá pela disposição das partes em círculo. (BLANCO ALVAREZ, op. cit., p. 27.)
7.5 Contrato plurilateral (continuação)
A finalidade comum, que expressa a essencialidade da colaboração entre as partes,
se dá em vista do objetivo pelo qual a sociedade foi constituída, evidenciando que o contrato plurilateral tem uma função instrumental, sendo tal função também outro aspecto peculiar dessa categoria. [...] Essa atividade ulterior é o fim último, o escopo, o objetivo do contrato que viabiliza a sociedade. Cumprindo a sua função instrumental, o contrato plurilateral regula a utilização dos bens a que se refere e articula os direitos e deveres das partes, ao longo da vida do contrato de sociedade, buscando o alcance do fim colimado. Mas se deixa de ser cumprida essa função, o contrato perde seu sentido, e a dissolução da sociedade se impõe como consequência. (BLANCO ALVAREZ, op. cit., p. 27)
7.6 Utilidade jurídica dessa classificação (unilateral, bilateral e plurilateral)
Se unilateral, aplicam-se as disposições dos artigos 114, 136, 137, 392, 1ª parte, 480, CC, sem prejuízo de outras atinentes à matéria contratual geral. NÃO se aplica, todavia, os arts. 476 e 477, CC. Por entendimento doutrinário, não se aplicam as disposições pertinentes ao art. 475, CC.
Se bilateral, aplicam-se as disposições pertinentes aos artigos 392, 2ª parte, 475, 476 e 477, CC, sem prejuízo de outras atinentes à matéria contratual geral. 
Se plurilateral, a aplicação de qualquer dispositivo legal ou solução jurídica deve levar em conta a finalidade comum que marca tal contrato.
7.7 Todo contrato unilateral é gratuito e todo bilateral é oneroso?
É comum haver confusão entre unilateralidade e gratuidade, e, portanto, a compreensão de que todo contrato unilateral é necessariamente gratuito, como também é comum pensar que bilateralidade tem a ver com onerosidade. 
Contudo, para Antunes Varela [Direito das obrigações], nem sempre há correspondência entre unilateralidade – gratuidade ou bilateralidade – onerosidade. 
Para bem compreender a questão, é preciso compreender o que é oneroso e o que é gratuito.
8. Classificação quanto ao fluxo patrimonial
8.1 CONTRATOS ONEROSOS “são aqueles em que a prestação de cada uma das partes é realizada a título oneroso, isto é, a título de sacrifício patrimonial (também chamado ônus econômico) suportado para receber uma vantagem”, sem se confundir com a “correspectividade de prestações”. (MARINO, op. cit., p. 38).
Exemplos: compra e venda; locação de imóvel residencial urbano; prestação de serviços etc..
8.2 CONTRATOS GRATUITOS “são aqueles em que um dos contratantes realiza prestação a título gratuito, ou seja, sem receber vantagem alguma.
Exemplos: doação, comodato ou outra espécie contratual a título gratuito (advocacia pro bono).
Para MARINO, os contratos gratuitos podem ser subdivididos em 8.2.1 Contratos interessados e 8.2.2 Contratos desinteressados. 
8.2 Contratos gratuitos (continuação)
8.2.1 Contrato [gratuito] interessado: o contrato é realizado por interesse econômico. Em si, ele é gratuito para uma das partes, mas tem por objetivo futuro contrato oneroso. 
Exemplos: transporte para atrair presença de turistas, ou envio de periódicos por cortesia.	
8.2.2 Contrato [gratuito] desinteressado: é o contrato realizado por pura deliberalidade e com a clara intenção de beneficiar o outro contratante.
Exemplos: doação, comodato etc..
8.3 Utilidade jurídica dessa classificação (gratuito ou oneroso)
A tutela do adquirente a título gratuito é menor em comparação ao adquirente a título oneroso;
A responsabilidade de quem realiza a prestação gratuitamente é menor;
Inaplicabilidade dos dispositivos pertinentes aos vícios redibitórios e à evicção frente aos contratos gratuitos.
São aplicáveis aos gratuitos, também chamados de “benéficos”, as disposições dos artigos 114, 136, 137, 295, 2ª parte, 392, 1ª parte, 480, CC. 
São aplicáveis aos onerosos tudo quanto não há ressalva de aplicabilidade exclusiva dos gratuitos. 
8.4 Retomando a questão 7.7: unilateralidade – gratuidade e bilateralidade – onerosidade.
Para Antunes Varela é possível um contrato ser: 
 unilateral, mas oneroso. Exemplo do autor: mútuo retribuído, no qual se estipula obrigações apenas ao mutuário, e por isso unilateral, mas há uma atribuição patrimonial em favor do mutuário que parte do mutuante, expressando a equivalência entre os proveitos econômicos de parte a parte. OU
Bilateral, mas gratuito. Exemplo do autor: doação modal ou com encargo. ATENÇÃO: compreender assim significa reconhecer o encargo como uma contraprestação!
Judith Martins-Costa discorda, afirmando que todo contrato oneroso é bilateral! 
8.5 Conjugando onerosidade, gratuidade e terceiro
É possível, ainda, que um contrato seja gratuito para uma das partes, mas oneroso para outras. É o caso dos contratos a favor de terceiro, mais expressivamente os de garantia em favor de terceiro. Há uma correspectividade e, portanto, onerosidade entre A e o Banco, gratuitamente em favor do crédito de um terceiro (B).
8.6 Utilidade jurídica dessa classificação
Compreendendo-se a necessária correspondência entre unilateralidade e gratuidade de um lado, e bilateralidade e onerosidade de outro, é possível aplicar aos gratuitos toda a matéria pertinente aos unilaterais; e aos onerosos, a matéria pertinente aos bilaterais. 
9. Subclassificação dos contratos onerosos (comutativos e aleatórios)
Os contratos onerosos podem ser subclassificados, segundo a equivalência entre a vantagem de uma parte e o sacrifício de outra e a distribuição do risco contratual, em:
9.1 Contratos aleatórios
9.2 Contratos comutativos
9.1 Contratos aleatórios
“São aqueles em que uma ou ambas as partes assumem o risco de que a prestação não se realize ou se realize defeituosamente (do ponto de vista quantitativo ou qualitativo)” (MARINO, op. cit., p. 41). Regulam-se principalmente pelos arts. 458 a 461, CC.
Pode haver:
9.1.1 contratos naturalmente aleatórios. O risco da inexistência de uma das prestações é inerente a tais contratos. Ex.: jogo e aposta.
9.1.2 contratos naturalmente comutativos transformados em aleatórios. Em razão da vontade das partes, há incerteza quanto a uma das prestações. Ex.: compra e venda de safra futura.
9.2 Contratos comutativos
São o oposto dos aleatórios; não há incerteza quanto a um ou ambas as prestações; nenhuma das partes assume risco desproporcional à contrapartida esperada. 
Exemplos: compra e venda; locação de imóvel; etc.. A maior parte dos contratos típicos e atípicos são comutativos.
9.3 Utilidade jurídica dessa classificação
Em primeiro lugar, é preciso ressalvar que nem todos os ordenamentos jurídicos romano-germânicos preveem a categoria dos contratos aleatórios (por exemplo, Alemanha), ou, ainda, se preveem, não dispensam tratamento sistematizado (como na Itália). 
Tradicionalmente, a doutrina costuma negar aos contratos aleatórios a aplicabilidade dos seguintes institutos: lesão, vício redibitório, eviccção, resolução por onerosidade excessiva, resolução por inadimplemento. 
9.3.1 Inutilidade prática dessa classificação?
Na esteira dos estudos do direito italiano, é preciso verificar: (1) o risco efetivamente assumido; e (2) a conduta das partes contratantes. Há casos em que não se pode excluir a aplicabilidade dos institutos jurídicos geralmente inaplicáveis aos contratos aleatórios.
Junqueira de Azevedo, por exemplo, sustenta aplicabilidade da lesão aos contratos aleatórios;
Ver Enunciados 366 e, mais especialmente, 440, das Jornadas de Direito Civil: “é possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos aleatórios, desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato” 
9.3.2 Controvérsia entre perspectiva comercialista e civilista
Os juristas que integraram a I Jornada de Direito Comercial, sob coordenação de Fabio Ulhoa Coelho (que defende abertamente o projeto de Código Comercial em tramitação no legislativo nacional), redigiram o Enunciado 35:
“Não haverá revisão ou resolução dos contratos de derivativos por imprevisibilidade e onerosidade excessiva (arts. 317 e 478 a 480, Código Civil).”
10. Classificação
quanto ao elemento pessoal
Em atenção ao elemento pessoal (ou subjetivo), podemos classificar os contratos em:
10.1 PERSONALÍSSIMOS: “são aqueles em que a consideração da pessoa do contratante é, para o outro, motivo determinante de sua conclusão.” Exemplos: mandato, empreitada, sociedade, contrato de trabalho etc..
10.2 NÃO-PERSONALÍSSIMOS. Ao contrário dos personalíssimos, a pessoa do parceiro contratual não é motivo determinante para a contratação. Exemplo: compra e venda de uma lata de coca-cola. 
10.3 Utilidade jurídica dessa classificação 
Como regra, aplica-se:
a) infungibilidade das prestações (247, CC);
b) impossibilidade de execução específica (249, CC);
c) impossibilidade de ceder a posição contratual ou realizar subcontrato;
d) anulabilidade por erro quanto à pessoa (139, II, CC);
e) extinção do contrato pela morte do contratante (ver, por exemplo, art. 626, CC).
11. Classificação quanto ao critério empresarialidade
11.1 CONTRATOS EMPRESARIAIS são aqueles assim caracterizados em razão: (i) da qualidade das partes; (ii) do objeto; (iii) do contexto em que operam; (iv) da insensibilidade às questões pessoais do empresário. A tais contratos NÃO se aplicam as disposições do CDC, por exemplo. 
11.2 CONTRATOS NÃO-EMPRESARIAIS (ou “contratos existenciais”, como refere Junqueira de Azevedo): todos os contratos que dizem respeito à subsistência do indivíduo, tais como, contratos de trabalho, consumo, locação imóvel residencial, fornecimento energia elétrica etc.. 
11.3 Utilidade jurídica dessa classificação
Os contratos empresariais devem ser interpretados a partir de algumas premissas (não absolutas): (1) igualdade formal e material entre as partes, e consequente equilíbrio entre as prestações; (2) conhecimento técnico ou profissional a respeito do objeto do contrato; (3) expertise empresarial quanto à finalidade do contrato; (4) acentuado dever de diligência; (5) domínio dos usos mercantis atinentes ao objeto do contrato e sua finalidade.
Ver FORGIONI, Paula. A interpretação dos negócios empresariais no novo Código Civil Brasileiro. Revista de Direito Mercantil Industrial, Econômico e Financeiro, v. 42, 2003, pp. 7-38. Ver também MARTINS-COSTA, Judith. O exercício jurídico disfuncional e os contratos interempresariais. Revista do Advogado (São Paulo), v. 96, 2008, pp. 48-58.
12. Classificação quanto à função econômico-social
12.1 O que é função econômico-social (Emilio Betti): a finalidade jurídica e econômica para a qual se volta o contrato, finalidade essa reconhecida socialmente, relacionada ao exercício da autonomia privada e tipificadora do negócio jurídico.
12.2 Espécies
12.2.1 Contratos que instrumentalizam relações patrimoniais familiares (ex.: pacto antenupcial)
12.2.2 Contratos de troca (ex.: compra e venda)
12.2.3 Contratos de colaboração ou cooperação (ex.: comissão, agência, distribuição, sociedade, parceria etc.)
12.2.4 Contratos de prevenção de riscos ou previdência (ex.: previdência privada, seguro, constituição de renda)
12. Classificação quanto à função econômico-social (continuação)
12.2.5 Contratos de conservação (ex.: depósito)
12.2.6 Contratos de crédito ou bancários (ex.: conta corrente com ou sem limite de crédito, cartão de crédito, mútuos etc..)
12.2.7 Contratos que constituem direito reais de gozo (ex.: constituição de usufruto, uso, habitação ou servidão)
12.2.8 Contratos de garantia
A) garantia real: penhor, anticrese ou hipoteca
B) garantia pessoal: fiança.
12.3 Utilidade jurídica dessa classificação
Ao identificarmos a função econômico-social do contrato podemos encontrar e aplicar as disposições pertinentes ao seu tipo, ou, em sendo atípico, facilitamos o trabalho de aplicação de uma das teorias pertinentes aos contratos atípicos.

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