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PATOLOGIA GERAL VETERINÁRIA PROF. PEDRO R. WERNER, MS, PhD Janeiro de 1997 INTRODUÇÃO A importância da patologia, principalmente da Patologia Geral, no contexto de um curso médico como a Medicina Veterinária pode ser comparado à importância da matemática na engenharia ou na física. Seu estudo constitui-se, juntamente com a anatomia e a fisiologia, num dos tripés básicos da Medicina Veterinária, sobre os quais o curso todo será estruturado. Este texto, ao qual se convencionou chamar de "Apostila", inicialmente foi criado para uso de estudantes no acompanhamento das aulas do Curso de Medicina Veterinária. Evidentemente, este texto é também uma ótima fonte de consulta para Médicos Veterinários que desejem revisar algum ponto de Patologia Básica. Contrariamente ao usual, na elaboração deste texto buscou-se dar ênfase maior aos aspectos macroscópicos das lesões, deixando os aspectos histológicos e citológicos em segundo plano, uma vez que somente raros Médicos Veterinários empregarão diretamente a histopatologia ou citologia como meio de diagnóstico. Enquanto existem laboratórios especializados para os exames e diagnósticos histopatológicos, a execução das necropsias é quase que sempre tarefa do médico veterinário de campo e, para isto, o estudante deve receber treinamento especial. Necropsiar animais, fazer a interpretação e o diagnóstico macroscópico de lesões e colher amostras para exames complementares fazem parte das rotinas de trabalho de todos aqueles profissionais que encaram a Medicina Veterinária com seriedade. 1. INTRODUÇÃO À PATOLOGIA ANIMAL CONCEITOS E DEFINIÇÕES Patologia é o estudo (logos) da doença (pathos). Como ciência, a patologia preocupa-se com o estudo das alterações estruturais e funcionais conseqüentes à injúria (agressão) às células, tecidos, órgãos e ao organismo como um todo. Tradicionalmente a patologia é dividida em geral e especial. Patologia geral- Estuda as alterações básicas e comuns a várias células, tecidos e órgãos das várias espécies animais frente às várias doenças, agrupadas didaticamente: Degeneração e morte celulares Distúrbios no crescimento e desenvolvimento das células Distúrbios circulatórios Inflamação e reparação Neoplasia, etc. Patologia especial- Estuda as alterações específicas de órgãos, sistemas e aparelhos, utilizando os conhecimentos adquiridos na patologia geral, principalmente no estudo das lesões e os mecanismos patogenéticos básicos. Na patologia estudam-se 4 aspectos fundamentais de uma doença: 1- Sua causa (agente etiológico) 2- A maneira e os mecanismos de seu desenvolvimento (patogenia). 3- As alterações estruturais, ou morfológicas, induzidas nas células, tecidos e órgãos. 4- As alterações funcionais conseqüentes às alterações morfológicas (conseqüências clínicas). Lesão- É a alteração conseqüente a uma doença e tanto pode ser morfológica quanto bioquímica (este último conceito é discutido por alguns). Do início do século passado até os anos 50, o estudo da patologia limitava-se às conseqüências morfológicas das doenças. Hoje em dia os mecanismos químicos, imunológicos e moleculares que, evidentemente, são os responsáveis pelas alterações morfológicas formam a base da patologia moderna. Da mesma maneira, o estudo da patogênese é um dos pontos principais da patologia. Patogênese refere-se à seqüência de eventos na resposta da célula e tecidos, ou de todo o organismo, ao estímulo, ou causa, desde a primeira até a última manifestação da doença. Virtualmente todas as formas de lesão iniciam-se com alterações moleculares em células, um conceito já posto em prática no século passado por Rudolf Wirchow, que é conhecido como "o pai da patologia moderna". DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE LESÕES Ao se deparar com uma suposta alteração, antes de tentar interpretá-la devemos responder a 4 questões: É normal? É um artefato? É uma alteração post-mortem? Ou é uma lesão (alteração patológica)? Toda lesão (alteração patológica) deve ser descrita e interpretada. Na descrição de uma lesão usaremos os seguintes parâmetros: -Localização- Onde? (Em que lugar, no pulmão, por exemplo). -Cor- Usar as cores básicas, ou as cores secundárias ou mesmo as terciárias (azul esverdeado, vermelho arroxeado, por exemplo). -Tamanho- Dar o tamanho em centímetros. Usar uma régua, ou marcar a lâmina da faca de necropsia a cada 0.5 cm, para medir. -Volume- Usar mililitros (ml) ou litros (l) para descrever. -Peso- Usar o peso real (se possível) ou o aproximado. -Forma- Usar formas facilmente identificáveis para comparar, como esférico, ovóide, plano, nodular, fusiforme, discóide, etc. -Consistência- A avaliação da consistência é importantíssima no pulmão, mamas, fígado e órgãos parenquimatosos em geral, e para descrever conteúdos (líquido, pastoso, gasoso, espumoso, semi-sólido, etc.). Compare: Macio (lábios), firme (nariz), duro (testa). -Número- Use números exatos de 01 a 10, ou 20. Além disso, informe quantas dezenas, ou centenas, aproximadamente, é claro. Extensão- Indique a porcentagem (%) do órgão afetada pelo processo em questão. -Conteúdo- Indique o aspecto, a consistência e o volume. -Odor- Como é impossível descrevê-lo, compare com algo conhecido. Lembre-se que, muitas vezes, o odor auxilia no diagnóstico. -Distribuição- Pode ser difusa (80 a 90%), focal, Multifocal, multifocal difusa, ou extensa localizada. A figura a seguir exibe as possíveis formas de distribuição de uma lesão no pulmão, por exemplo, uma pneumonia. FIGURA 1- FORMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE UMA LESÃO NO PULMÃO 1.3. - A Importância do Diagnóstico Todo Médico Veterinário deve ser, antes de tudo, um patologista. Seu principal papel é diagnosticar, tratar, controlar ou prevenir doenças de animais. O ponto principal neste exercício é o DIAGNOSTICO. A chave para o diagnóstico é a habilidade de reconhecer lesões no animal, durante o exame clínico ou durante a necropsia, e através deste reconhecimento chegar a conclusões racionais para o exercício da medicina. Igualmente importante é o estabelecimento de um PROGNOSTICO, que é uma previsão médica da evolução de um processo mórbido. 1.4. Tipos de diagnóstico O diagnóstico pode ser: Morfológico: Nomeia-se a alteração morfológica. Ex.: Enterite granulomatosa. Etiológico: o agente causador é citado. Ex.: Enterite granulomatosa por M. paratuberculosis. Definitivo: Nomeia-se a doença. Ex.: Doença de Johne. Presuntivo: É o diagnóstico provável, que depende de confirmação posterior e parte de uma suspeita. 1.5. Termos a serem revisados Obs.: Como parte deste capítulo, rever o significado de cada um dos seguintes termos: -Necropsia e biópsia -Lesão -Doença -Sinal e sintoma -Patogenia, diagnóstico e prognóstico -Rever todos os termos anatômicos que indicam posição em relação ao corpo do animal, como cranial, dorsal, ventral, sagital, segmentar, longitudinal, coronal, plantar, oral, aboral, etc., etc.... 2. ETIOLOGIA É o estudo das causas das doenças. Muitos empregam o termo, erradamente, como sinônimo de causa, quando o correto seria agente ou fator etiológico. O conhecimento da causa de uma doença é a base de um diagnóstico e de um tratamento e prognóstico corretos. As doenças devem-se a fatores predisponentes ou determinantes: FATORES PREDISPONENTES São aqueles que predispõem o organismo a determinadasdoenças. Esses fatores podem ser genéticos e próprios do indivíduo (intrínsecos), ou adquiridos, induzidos pelo meio ambiente (extrínsecos). INTRÍNSECOS Gênero, espécie e raça animais- Existem exemplos clássicos, como o fato de que cães são mais suscetíveis do que outras espécies animais a certos tipos de neoplasias, como o Mastocitoma, e entre os cães os da raça Boxer são os que mais comumente as apresentam. Família- Certas doenças são mais comuns em certas famílias, atingindo um grande número de indivíduos com graus de parentesco entre si. Idade- É verdade que a idade não mata ninguém. O indivíduo morre, isto sim, de doenças que acompanham a velhice. Existem doenças que são próprias da velhice, e doenças próprias da juventude. As neoplasias, em geral, atingem ou os indivíduos jovens ou os indivíduos velhos, sendo bem mais incomum seu aparecimento nas faixas etárias intermediárias. O mesmo é verdade para muitas outras doenças. Sexo- Os tumores mamários, por exemplo, não pensem que é uma exclusividade das fêmeas. Embora incomumente, eles ocorrem, sim, nos indivíduos do sexo masculino. Outros são específicos de um dos sexos, como os tumores das células de Sertoli nos machos, ou das células da granulosa nas fêmeas. Cor- Os cavalos de pelagem Tordilha, que são negros quando jovens, e brancos quando mais velhos, apresentam uma altíssima incidência de melanomas, principalmente na região do períneo. Diz-se que 100% dos cavalos tordilhos apresentariam melanomas caso fossem permitidos que vivessem o suficiente. EXTRÍNSECOS Nutrição- A má-nutrição, principalmente, predispõe o indivíduo a doenças. Uma dieta hipoproteica induz a uma imunodeficiência relativa, que além de uma doença, em si, faz com que o indivíduo adquirida uma série de doenças infecciosas. (Lembre-se que a nutrição é um fator determinante de doenças, também). Umidade e temperatura- Devido a fatores principalmente ligados ao "stress", indivíduos sob condições adversas de umidade e temperatura apresentam incidência maior de doenças. Esses fatores são muito importantes em grandes criações de animais para abate, principalmente suínos e aves. Caquexia- É a desnutrição extrema. Drogas e substâncias imunossupressoras- A terapia com drogas antineoplásicas ou corticosteróides induz a uma imunodeficiência. FATORES DETERMINANTES São aqueles que, diretamente, causam a doença: NUTRIÇÃO É um dos fatores muito importantes em Medicina Veterinária. Tanto pode ser um fator predisponente quanto um fator determinante de doenças. Como um fator determinante, os melhores exemplos são as deficiências em geral. Um exemplo clássico: Excesso de fósforo na alimentação causando hiperplasia das paratireóides, com todas as conseqüências que discutiremos futuramente. CAUSAS MECÂNICAS Produzem o trauma, ou lesão traumática, que é a lesão resultante de uma força mecânica. Esse tipo de lesão é estudado na traumatologia. (Cuidado. Muita gente chama de trauma a força que o produz). Outro emprego correto da palavra trauma é para designar a lesão psicológica resultante de um estímulo muito forte, o qual a mente não tem capacidade de superar. Neste caso dizemos trauma psíquico. (Como é extremamente importante o reconhecimento e a correta descrição das lesões observadas, faremos um pequeno parêntese aqui para estudar um pouco de traumatologia, ou, mais especificamente, os tipos de traumas) Contusão - É a lesão resultante do golpe contra um objeto não pontiagudo nem cortante. Neste caso a pele permanece íntegra (devido à sua elasticidade) e a lesão ocorre nos planos mais profundos, principalmente tecido subcutâneo e musculatura subjacente. Na necropsia só é evidente após a remoção da pele, principalmente em animais de pelagem espessa, como as ovelhas ou certas raças de cães, p.ex.. Abrasão - É a lesão resultante ao raspar-se uma região corporal contra uma superfície abrasiva, ou áspera. É extremamente comum em animais atropelados, ou animais pesados que, em decúbito, são arrastados num piso áspero. Incisão - É a lesão provocada por um instrumento cortante. Pode ser acidental ou cirúrgica e caracteriza-se pelos bordos regulares. Na sua avaliação e descrição é extremamente importante que se avalie a sua localização, posição, dimensões e profundidade (que planos ela atinge). Laceração - É o ferimento provocado pelo arrancamento, ou pela distensão excessiva de um determinado tecido ou região. Em certas situações pode receber o nome de ruptura, como é o caso no períneo, durante o parto, ou no fígado. Caracteriza-se pelos bordos irregulares e pelo aspecto grave. Perfuração - É o ferimento produzido por um objeto fino e pontiagudo. Um ferimento nessa situação pode ser penetrante (apenas penetra o tecido), perfurante (penetra e atravessa uma determinada estrutura), ou transfixante (penetra e atravessa os dois lados de uma estrutura: As duas paredes de um vaso, os dois lados do corpo, etc.). Ruptura - É o rompimento de uma estrutura devido a um estiramento excessivo. Ocorre em tendões, ligamentos, músculos, pele, etc. Fratura - É a solução de continuidade de um osso ou cartilagem. (Alguns usam esse termo para descrever a ruptura do fígado). Um tipo específico de fratura que merece consideração é a fratura em galho verde, uma fratura incompleta típica dos ossos descalcificados (durante a necropsia costuma-se isolar e fraturar uma costela para avaliar o grau de calcificação do esqueleto). As fraturas espontâneas, não traumáticas, são chamadas fraturas "patológicas", um termo mal empregado, mas de uso consagrado: São aquelas fraturas resultantes de doenças metabólicas ou neoplasias ósseas, os ossos fraturam sem causa aparente. Luxação - É a desarticulação de dois ossos. A luxação incompleta é chamada subluxação. Nem toda luxação é de origem traumática. Algumas doenças genéticas resultam em subluxação, ou até luxação, como é o caso da displasia coxo-femoral em cães. Diferenças na velocidade de crescimento de ossos paralelos, como o rádio e a ulna, resultam em subluxação da articulação do cotovelo. PRESSÃO LOCALIZADA A pressão localizada provoca diminuição no aporte sangüíneo e, como conseqüência, atrofia progressiva, ou mesmo morte das células da região. Um exemplo são as úlceras de decúbito (áreas de necrose da pele sobre proeminências ósseas conseqüentes ao decúbito prolongado). OBSTRUÇÃO É o bloqueio do fluxo do conteúdo de um órgão oco. A obstrução pode ser extra-mural, (compressão) quando resultante de uma compressão externa ao órgão tubular; mural (estenose), quando a fonte da obstrução localizar-se na parede do órgão, e luminal (obturação), quando a fonte de obstrução localizar-se na própria luz do órgão. DESLOCAMENTOS (OU PARATOPIAS) Um órgão pode deslocar-se de sua posição anatômica como resultado de uma série de fatores, como trauma, pressão de órgãos vizinhos, etc. Esses deslocamentos são classificados sob várias formas. A maioria dos deslocamentos recebe nomes apropriados: Torção - É a rotação de um órgão, ou parte dele, em torno do seu eixo longitudinal. Exemplos: Torção do estômago, de um lobo hepático ou pulmonar, do útero, etc. Vólvulo (ou volvo) - É a rotação de um órgão em torno do seu méson. No Vólvulo intestinal, o mesentério sofre uma torção. Intussuscepção - Ocorre quando uma parte do tubo digestivo invagina-se na parte imediatamente posterior, como numa manga de camisa que, ao arregaçar-se, inverte- se sobre ela mesma. Hérnia - É a passagem de uma ou mais vísceras, ou parte delas, através de um orifício natural ou não, de uma cavidade corporal para outra, natural ou neo-formada, ou parao meio exterior. A nomenclatura de uma hérnia é feita tomando-se por base o órgão herniado (conteúdo) (a palavra grega ou latina que o designa), somando-se a ela o sufixo cele mais o nome do local onde ocorreu (anel herniário). Assim, uma hérnia contendo parte do intestino e do útero, que ocorreu sobre o anel inguinal deve chamar-se entero-histerocele inguinal. Uma hérnia na região umbilical que contenha parte do epíplo é uma epiplocele umbilical. ESTRANGULAMENTO É o bloqueio do fluxo sanguíneo a uma região. Lembre-se que para que uma área morra por falta de suprimento sangüíneo basta haver bloqueio completo da drenagem venosa (se não há drenagem, chega um ponto em que não entra mais sangue arterial e...). É a conseqüência mais comum dos deslocamentos de vísceras. TEMPERATURA Variações extremas de temperatura provocam lesão: Hipertermia - Não confundir com a febre, que é uma resposta fisiológica. A hipertermia ocorre quando o organismo não consegue manter a temperatura corporal em função, ou seja, de uma geração interna de calor que exceda a capacidade de dissipação para o exterior (atividade muscular, tetania), ou ganho de temperatura a partir do meio externo (insolação). Acima de aproximadamente 42 C, cessa a atividade enzimática, havendo, inclusive, desnaturação de enzimas. Hipotermia - É muito mais comum do que se pensa. Animais recém-nascidos ainda não têm uma boa capacidade de termorregulação e morrem se não forem aquecidos. Ninhadas inteiras de leitões morrem assim. O mesmo ocorre com pintainhos. Animais anestesiados, ou inconscientes, ou imobilizados sobre mesas metálicas, principalmente se estiverem molhados, sofrem hipotermia, sendo muito comuns temperaturas corporais de 35 C, onde cessa a atividade metabólica. Queimaduras - É a desnaturação de proteínas como resultado da temperatura elevada. Segundo a sua severidade, as queimaduras externas classificam-se em: Primeiro grau- avermelhamento da pele. Segundo grau- destruição apenas da camada superficial da pele, com a formação de vesículas. Terceiro grau- destruição da pele, com comprometimento de estruturas mais profundas. Quarto grau- Carbonização. Congelamento - É praticamente inexistente no Brasil. PRESSÃO ATMOSFÉRICA É muito improvável a ocorrência de lesões conseqüentes à pressão atmosférica em Medicina Veterinária. Em medicina humana existe a embolia gasosa dos mergulhadores conseqüente a mudanças súbitas da pressão atmosférica durante a ascensão de mergulhos profundos. LUZ A radiação luminosa, principalmente pela luz ultravioleta (UV) produz uma série de alterações: Queimadura solar- Exposição da pele não protegida ao sol durante um tempo excessivo. Dermatite solar- É o resultado da exposição repetida da pele não protegida a UV. Comum no dorso do nariz ("collie nose"), nas orelhas dos gatos brancos. Fotossensibilização- Neste caso, a pele que normalmente era resistente aos raios UV torna-se sensível. Ocorre geralmente após a deposição na pele de um pigmento "fotodinâmico", que será estudado em aulas futuras. Neoplasias- A radiação UV é responsável por um grande número de neoplasias cutâneas, principalmente em regiões de pele clara desprovidas de pelo, como na vulva de bovinos, orelhas de gatos e ovelhas, nariz de cães, etc. ELETRICIDADE A passagem de corrente elétrica através do corpo provoca lesão de duas maneiras diretas: Queimaduras, conseqüentes ao aumento de temperatura local, ou distúrbios elétricos no coração, provocando parada cardíaca. OUTROS AGENTES ETIOLÓGICOS Outros fatores, como agentes químicos (tóxicos) e biológicos (parasitas, fungos, bactérias e vírus) serão estudados no ponto de "Injúria e Adaptações Celulares". 3. ANOMALIAS NO DESENVOLVIMENTO GENERALIDADES Este capítulo engloba a teratologia, que é o estudo das malformações congênitas (teras = monstro que, por sua vez, vem de monstrare = mostrar, exibir). O conceito de “normal” é interessante. Normal é o indivíduo que mais se aproxima do padrão médio de sua espécie; é o indivíduo típico da espécie, ou médio. Tudo que se desvia do normal é uma anomalia. Uma malformação, por sua vez, é uma anomalia congênita mais severa do que aquele desvio aceitável como normal. CLASSIFICAÇÃO DAS MALFORMAÇÕES Existem 2 (ou 3) grandes grupos: Monstros (teras / terata) são Indivíduos profundamente modificados. São aqueles portadores de monstruosidades. Hemiterias - (hemiteras / hemiterata): são as deformações não muito severas, e são bastante comuns. Muitas das hemiterias manifestam-se somente muito após o desenvolvimento do indivíduo e são chamadas de anomalias tardias. CAUSAS DAS MALFORMAÇÕES Várias substâncias (drogas) e vírus têm sido identificados como capazes de provocar as malformações, mas, na grande maioria dos casos as causas são desconhecidas. Pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento, mas, principalmente as mais severas ocorrem geralmente nas primeiras semanas (embrião). MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS GENÉTICAS Algumas alterações resultam de alteração do código genético e, portanto, são possíveis de serem transmitidas à descendência do indivíduo. Genes letais - Algumas malformações são tão severas que não permitem a sobrevivência do embrião, que morre e é reabsorvido pelo útero. Outras permitem a sobrevivência do indivíduo apenas enquanto no útero, morrendo algum tempo após o nascimento. Por matarem o portador, esses genes são chamados de “letais”. Por não serem transmitidos à descendência, não têm importância econômica. Como exemplo pode-se citar a atresia da flexura pélvica do cólon, em cavalos. Genes não-letais- São mais importantes, pois a deformação pode ser transmitida à descendência. Exemplos: criptorquidia, hérnias, defeitos enzimáticos (neutropenia cíclica em cães Collie de cor cinza, porfirinemia em bovinos, etc.), defeitos zootécnicos (indivíduos que não seguem o padrão da raça). MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS ADQUIRIDAS Resultam de causas externas. Por não alterarem o código genético do indivíduo, não são hereditárias. Algumas causas dessas alterações são conhecidas como: Separação parcial dos envoltórios fetais, causando má-nutrição ou má-oxigenação. Pressão anormal sobre o feto. Produtos químicos, ou princípios ativos de certas plantas, como o Veratrum californicum (que produz severas deformações em ovelhas). Deficiências nutricionais. Infecções bacterianas e virais (Panleucopenia, BVD, etc.). Observação - O "Free-Martin" é uma malformação adquirida e, evidentemente não é hereditária. Conduto, a predisposição de gerar fetos gêmeos é. O “Free- Martin” ocorre porque, na gestação gemelar em bovinos, em 95% dos casos existe circulação comum (anastomoses) entre os dois fetos. Se os dois fetos forem de sexos diferentes, como os hormônios masculinos aparecem mais cedo, eles induzem no feto do sexo feminino um fenótipo masculino (hipoplasia dos órgãos genitais, vagina curta e estreita, clitóris grande, etc.). MONSTROS São indivíduos profundamente modificados, ou grotescos. Podem ser únicos (simples) ou duplos. Os monstros duplos são produtos de gestação gemelar e podem apresentar-se separados ou unidos. MONSTROS DUPLOS SEPARADOS Geralmente são assimétricos. Um é freqüentemente normal, chamado de autosita. O outro, deformado, (geralmente é menor) é chamado de parasita. Como esses monstros geralmente não têm coração (a circulação é garantida pelo autosita) recebem o nome de parasita (ou monstro) acardíaco. Exemplos: Parasita acormo (ausência de tronco). Parasita amorfo ("amorfo globoso"). MONSTROS DUPLOSUNIDOS (A duplicação geralmente é simétrica.) Duplicidade anterior: A união de congênita de dois indivíduos é indicada pelo sufixo “pago” adicionado á palavra que indica a região de união. Exemplos: Pigópago (unidos pela parte mais posterior do corpo, na região da cauda). Isquiópago (unidos pela pelve, até o umbigo). Isquiotoracópago (unidos desde a pelve até o tórax, podendo ser tetrabráquio, tribráquio, dibráquio; tetrapus, tripus, dipus. Estes termos referem-se, respectivamente, aos membros anteriores e posteriores). Outra forma de nomenclatura é indicar a multiplicidade da parte em questão, como dicéfalo (duas cabeças); diprosopo (duas faces, podendo ser, tetra, tri, ou dioftalmo; tetra, tri, ou dioto; di ou monostomo), e etc. Duplicidade posterior: Craniópago (unidos pelo crânio). Cefalotoracópago (unidos pela cabeça e tórax). Dipigo (dupla pelve). Duplicidade quase completa: Ocasionalmente o ponto de união entre os dois indivíduos é muito pequeno, permitindo, em alguns casos, a separação cirúrgica: Toracópagos (unidos apenas pelo tórax). Xifópago (união pequena, não necessariamente na apófise xifóide) ANOMALIAS DE MANIFESTAÇÃO TARDIA São aquelas que só se manifestam com o desenvolvimento do indivíduo. Não pertencem integralmente ao capítulo da Teratologia. Embora a causa seja congênita, a manifestação da anomalia só ocorre mais tarde. Algumas são de grande importância econômica. Muitas são hereditárias (genéticas) causadas por genes não-letais. Alguns exemplos são muito importantes em medicina veterinária: Criptorquidia- Ocorre em qualquer espécie animal. Causado por um gene recessivo autossômico. Quando a anomalia é unilateral o animal não é estéril. O cruzamento de dois recessivos portadores produz uma descendência na proporção (Mendell) de 1:2:1. Hérnia inguino-escrotal - Muito importante economicamente em suínos. Hérnia umbilical - Nem todos os casos são hereditários. Contudo, na dúvida, nenhum animal portador desta anomalia deve ser utilizado na reprodução. Obs. - Muitas anomalias, por não serem evidentes, passam despercebidas, como certos defeitos enzimáticos (metabólicos) que provocam, p. ex., as doenças de armazenamento, como a Manosidose, etc. HEMITERIAS Este capítulo trata do estudo das Hemiterias, deformações que, por não serem tão severas, não são classificadas como monstruosidades. Suas causas raramente são conhecidas. Geralmente ocorrem devido à morte ou lesão de algumas células embrionais, ou devido a fatores que alterem seu desenvolvimento normal, como infecções virais do embrião, certas drogas, produtos tóxicos ou radiações administradas à gestante durante o primeiro terço da gestação. AGENESIA É a ausência completa do órgão ou da parte considerada. Exemplos: Acrania. Anencefalia. Anotia. Amelia. Anuria (anuro = sem cauda). Atresia (Falta de abertura, ou de permeabilidade. APLASIA É o estágio subseqüente à agenesia. Encontra-se apenas um vestígio do órgão (aplasia = falta de desenvolvimento). Contudo, muitas vezes, casos de aplasia são classificados como agenesia. Assim, os mesmos exemplos mencionados acima podem aplicar-se aqui. Quando a aplasia atinge apenas uma porção de um órgão, recebe o nome de Aplasia segmentar (neste caso, um segmento do órgão é reduzido a um cordão de aspecto fibroso, sem luz). Exemplos: Aplasia segmentar do cólon, do útero, de túbulos seminíferos, etc. Observação - O termo aplasia pode também aplicado para indicar a tendência de um órgão em não se regenerar, ou formar novo tecido, como, por exemplo, anemia aplástica (que neste caso é reversível) indicando que a medula óssea não está se regenerando, tendo perdido sua capacidade de formar novos elementos sangüíneos. HIPOPLASIA Crescimento, ou desenvolvimento incompleto do órgão que não atinge seu tamanho normal. São alterações comuns e, às vezes, pouco perceptíveis. Existem exemplos clássicos em Medicina Veterinária, e cujas causas são perfeitamente conhecidas, como a hipoplasia do cerebelo em bovinos, causada pela infecção da mãe pelo vírus da BVD, ou em gatos, causada pelo vírus da panleucopenia. A irrigação inadequada, ou mesmo a inervação deficiente podem causar hipoplasia da região dependente. Outras causas são genéticas e os portadores podem transmitir a condição aos descendentes. Exemplos: hipognatia (braquignatia); focomelia; microftalmia FISSURAS NA LINHA MEDIANA Ocorre fusão incompleta dos folhetos embrionários, com diversos graus de severidade, ou extensão. Exemplos: craniosquise; palatosquise; gnatosquise; raquisquise ("spina bífida", esquistorraquis); esquistocormo (tórax); epispádia ou hipospádia. FUSÃO DE ÓRGÃOS PARES Órgãos que deveriam ser separados, apresentam-se unidos. Exemplos: Rim arcuato, ou em ferradura. Ciclopia. DESLOCAMENTO DE ÓRGÃOS Na realidade, não é um verdadeiro "deslocamento", e sim um desenvolvimento em local anômalo. São as ectopias congênitas. Exemplos: Dextrocardia; "ectopia cordis cervicalis"; heterodoxia (vísceras em posição anômala, mas simétrica; persistência do arco aórtico direito ("ductus arteriosus"). DESLOCAMENTO DE TECIDOS Ectopia, ou heterotopia, tissular, é a presença anormal de um tecido em alguma região diversa da original. Aquele tecido ectópico é morfologicamente e, às vezes, funcionalmente normal. São os coristomas. Exemplos: teratomas congênitos; cistos dermóides na córnea e conjuntiva; cistos dentígeros no osso temporal (eqüinos); coristoma adrenal no ovário de éguas; coristoma pancreático no estômago, etc. (não confundir com os hamartomas, que são a presença focal congênita de uma massa de tecido normal e em excesso, num órgão, assemelhando-se a uma neoplasia.) PERSISTÊNCIA DE ESTRUTURAS FETAIS Certas estruturas, normalmente presentes apenas no feto, deixam de desaparecer e persistem na vida pós-fetal. Exemplos: "foramen ovale" (ducto de Botal) entre os átrios cardíacos. Divertículo de Meckel. Persistência da lobulação fetal nos rins. Persistência dos canais de Wolff ou de Müller no ovário ou testículo, respectivamente. Persistência do úraco (permanece patente) FUSÃO (OU AMBIGÜIDADE) DOS CARACTERES SEXUAIS Presença de características anatômicas sexuais de ambos os sexos. Exemplos: Hermafroditismo (verdadeiro). Pseudohermafroditismo. "Free- martin” DESENVOLVIMENTO EXCESSIVO Certas partes são maiores em tamanho, ou em número. Quando maior em tamanho, recebem o prefixo macro ___. Quando maior em número, recebem o prefixo poli ____. Exemplos: Macroglossia. Macrocefalia. Polidactilia. Politelia (importante em vacas leiteiras). Poliodontia, etc. 4. INJÚRIA (AGRESSÃO) À CELULA (Conceitos, causas e mecanismos) CONCEITOS Homeostase- Estado de equilíbrio do organismo vivo em relação às suas várias funções e limitações. Adaptação- Novo estado de equilíbrio, diferente do normal, em resposta a estímulos fisiológicos excessivos ou a certos estímulos patológicos. Exemplos: Hipertrofia do coração no animal atleta ou no portador de uma insuficiência valvular; atrofia da musculatura da perna após obstrução parcial da artéria femoral. Injúria- Ocorre quando a capacidade adaptativa é excedida ou quando não exista uma resposta adaptativa possível. Até certo ponto é reversível. Quando este é ultrapassado, ocorre morte da célula. Exemplo: Se o suprimento sangüíneo do músculo cardíaco é interrompido por 15 minutos ocorre injúria (angina pectoris); se o fluxo for interrompido por mais de 20 minutos ocorre morte das células (infarto do miocárdio). CAUSAS DA INJÚRIA- HIPÓXIA OU ANÓXIA A mais comum. Pode ser classificada em: Anóxiaestagnante: Devido à diminuição do fluxo sangüíneo. Exemplos: Choque (colapso circulatório); insuficiência cardíaca. Anóxia anóxica: Devido à diminuição do oxigênio disponível. Exemplo: Insuficiência respiratória grave. Anóxia anêmica: Devido à diminuição da capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue. Exemplo: Anemia. AGENTES FÍSICOS Agentes mecânicos (trauma); temperatura; pressão; radiação; eletricidade. AGENTES QUÍMICOS (conceitos) Tóxico- Substância que altera ou destrói funções vitais. Sua ação depende sempre da quantidade empregada. Veneno- Substância que é tóxica mesmo em pequenas quantidades. Toxina- Substância tóxica de natureza proteica produzida por organismos vivos. Diferencia-se dos venenos químicos e dos alcalóides vegetais pelo seu alto peso molecular e por suas propriedades antigênicas. AGENTES INFECCIOSOS Prions ("proteinaceous infective particles"); vírus; rickettsias; bactérias; fungos; protozoários; metazoários. REAÇÕES IMUNOLÓGICAS Reação anafilática; doenças autoimunes. DISTÚRBIOS GENÉTICOS Malformações congênitas; defeitos metabólicos congênitos. DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS Falta ou excesso de nutrientes. Exemplo: falta de Ca, ou excesso de P. DEMANDA FISIOLÓGICA ALTERADA Inatividade; aumento da demanda; gestação; lactação MECANISMOS DA INJÚRIA CELULAR- LOCAL DE AÇÃO A célula pode sofrer danos em qualquer de 4 sistemas: a- Manutenção da integridade das membranas celulares. b- Respiração anaeróbia (fosforilação ativa e produção de ATP) c- Síntese enzimática e de proteínas. d- Preservação da integridade do genoma da célula. Observações: (1) Todos os sistemas são interdependentes e às vezes é difícil determinar o ponto de ação inicial do agente causador da injúria. (2) Alterações morfológicas reconhecíveis, especialmente à microscopia ótica (M.O.), aparecem só muito depois de alterações irreversíveis terem ocorrido. Exemplo: Apesar de que o miocárdio sofra danos irreversíveis após 20 a 30 minutos de privação de oxigênio, o infarto só é reconhecível 10 a 12 horas mais tarde. (3) Nem todos os agentes etiológicos têm seu local ou modo de ação perfeitamente conhecidos. Alguns sim, como o cianeto, que bloqueia a citocromo oxidase; o Clostridium perfringens, que produz fosfolipases que destroem a membrana celular; ou a deficiência de Selênio, que induz uma deficiência de peroxidase glutatiônica, o que permite uma peroxidação de membranas celulares em alguns tecidos. FORMAS DE INJÚRIA CELULAR São 4 as formas mais comuns de injúria celular: Isquemia e hipóxia; injúria por radicais livres; injúria por substâncias químicas e injúria causada por vírus. ISQUEMIA E HIPÓXIA (ANÓXIA) A deficiência de oxigênio age sobre a mitocôndria, produzindo diminuição na síntese de ATP. A falta de ATP tem 4 conseqüências básicas: Bloqueio da bomba de Na e K (tumefação celular) Glicólise anaeróbica, diminuindo o pH da célula, com liberação de enzimas lisossômicas e conseqüente autólise. Deslocamento de ribossomos, diminuindo a síntese de proteínas e conseqüente acúmulo intracelular de lipídios. Lesão da membrana celular, com extravasamento de enzimas intracelulares (CPK, LDH, GPT, etc.). Destas, estudaremos agora apenas a tumefação celular. As 3 outras conseqüências serão estudadas em capítulos posteriores. TUMEFAÇÃO CELULAR AGUDA É uma das mais precoces e comuns manifestações de injúria celular. Foi chamada por Virchow de "tumefação turva", termo que ainda é empregado por alguns patologistas (diz--se "turva" porque o tecido deixa de ser translúcido, tornando- se opaco. Esse efeito é mais bem observado na córnea). É causada pelo acúmulo intracelular de água devido a uma falha na "bomba" de Sódio e Potássio: O Na é mantido extracelularmente e o K intracelularmente à custa de energia (ATP). A falta de ATP faz com que o K saia da célula, e o Na entre, carregando consigo água, fazendo com que a célula aumente de tamanho (tumefação, ou edema celular). Aspecto macroscópico: Tumefação do órgão (perceptível pelo protraimento da superfície de corte); aumento de peso; turgidez e palidez. Aspecto microscópico: Aumento do volume das células (perceptível pelo estreitamento da luz de túbulos no rim, e de sinusóides no fígado); obliteração de estruturas intracelulares e vacuolação do citoplasma DEGENERAÇÃO HIDRÓPICA ("ESPONGIOSE") É um estágio mais avançado da tumefação celular. Ocorre principalmente em epitélios (urinário, mucosas, pele), endotélios, alvéolos pulmonares e túbulos renais. Representa o acúmulo intracelular de água em quantidades suficientes para serem visíveis em M.O. Os vacúolos representam o retículo endoplásmico distendido pela água. Aspecto macroscópico- Aumento de volume. Quando os vacúolos coalescem, aparecem as vesículas, como nas queimaduras, p. ex.. Aspecto microscópico- Vacuolação do citoplasma, geralmente em torno do núcleo ("degeneração balonosa"). Outras causas além da hipóxia causam esse tipo de degeneração: Infecção por vírus, calor e produtos químicos, etc. Em Med. Vet. um exemplo clássico é a sobrecarga do rumem por cabriolarão (milho moído). A fermentação produz excesso de ácido lático que causa degeneração hidrópica da mucosa do rumem. As vesículas formadas rompem-se, permitindo a entrada de bactérias, e a conseqüência é a formação de abscessos múltiplos no fígado INJÚRIA IRREVERSÍVEL Quando se diz que uma célula sofreu injúria irreversível, a célula foi lesada de tal maneira que não permite recuperação. A principal alteração é a lesão das membranas dos lisossomos e o extravasamento de suas enzimas (DNAases, RNAases, proteases, fosfatases, glucosidases e catepsinas) que causam a lise (autólise) da célula. As alterações nucleares são proeminentes e características e serão discutidas no capítulo que trata da Necrose. Devido à lesão da membrana celular, há extravasamento, para o plasma, de enzimas intracelulares próprias de cada tecido. Este fato é de muita importância diagnostica, pois o tecido lesado poderá ser indicado pela dosagem dessas enzimas no soro sangüíneo. A quantidade das enzimas extravasadas indica também a gravidade do processo. Exemplos: Fígado- Transaminase glutâmico-pirúvica (GTP); Trans. glutâmico-oxalacética (GOT). Coração- TGO; Trans. pirúvica (TP); Creatinina-Quinase (CK); Desidrogenase Lática (DHL). O ponto de "não-retorno" da injúria varia segundo o tecido, a espécie animal, o estado nutricional do paciente e o seu estado hormonal. Exemplos: O cérebro resiste apenas a 3 a 5 minutos de privação de oxigênio. O fígado resiste a 2 horas, e o coração a 15 a 20 minutos. INJÚRIA POR RADICAIS LIVRES Os radicais livres têm um elétron único, não pareado na órbita externa. Eles são extremamente reativos e instáveis, reagindo igualmente com compostos orgânicos ou inorgânicos. Sua participação em reações produz novos radicais livres. Eles ocorrem (são "iniciados") dentro das células após serem expostas a: a- Energia radiante (raios X, UV) b- Processos metabólicos oxidativos endógenos normais. c- Metabolismo enzimático de compostos tóxicos exógenos. Os radicais livres derivados do oxigênio são produzidos durante o metabolismo daquele gás, e os principais são: a- Superóxido- (O2 nascente) b- Peróxido de hidrogênio (H2O2) c- Íon oxidrila, ou hidroxila (OH+) No organismo animal existem algumas enzimas encarregadas de destruir esses radicais, que são a superóxido dismutase (O2 nascente ---> H2O2); a catalase (H2O2 ---> O2 + H2O) ea glutation peroxidase (OH- ---> 2 H2O + GSSG). EXEMPLOS DE INJÚRIAS POR RADICAIS LIVRES: Certas substâncias tóxicas Inflamação Irradiação ionizante - luz UV Intoxicação por oxigênio e ozônio Envelhecimento Aterosclerose (?) Carcinogênese (?) (NOTA: A eliminação de micróbios pelos fagócitos também é feita por meio de radicais livres) INJÚRIA POR SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS Substâncias químicas agem por duas formas: a) Ou combinando-se diretamente e bloqueando campos chaves do metabolismo celular. Exemplos: O Cloreto de mercúrio combina-se com grupos sulfurados da membrana celular, aumentando a permeabilidade da mesma e inibindo o transporte ATPase-dependente da mesma. O Cianeto é um asfixiante intracelular, bloqueando uma enzima da cadeia respiratória da mitocôndria, a citocromo-oxidase. b) O composto em si é biologicamente inativo, mas é convertido em metabólitos que são tóxicos. Estes agem diretamente na célula como descrito acima, ou então produzem radicais livres que são os responsáveis pela lesão. Exemplos: O tetracloreto de carbono (CCl4) é tóxico devido à liberação de um radical ativo, extremamente tóxico, pelas enzimas do sistema de oxidase de função mista (MFO) que metabolizam o CCl4. (Este produto é utilizado nas lavagens a seco) INJÚRIA POR VÍRUS Vírus que causam alterações nas células são de dois tipos: VÍRUS CITOLÍTICO/CITOPÁTICOS Lesam a célula através de duas formas: (a) Efeito citopático direto, onde as partículas virais replicando intracelularmente interferem com algum aspecto do metabolismo celular, ou (b): Indução de uma resposta imunológica contra os antígenos celulares alterados pelo vírus. VÍRUS ONCOGÊNICOS Estimulam a replicação celular e a formação de tumores. Um grande número de vírus já demonstraram serem oncogênicos em animais, desde anfíbios até primatas. (No homem ainda não foi demonstrada inequivocamente a oncogênese viral. Existem apenas suspeitas de que algumas formas de neoplasia são causadas por vírus.) 5. ACUMULAÇÕES INTRACELULARES Sob certas condições, substâncias acumulam-se no núcleo ou no citoplasma das células. Essas substâncias pertencem a 3 categorias: Constituinte celular normal - Uma substância normal é produzida, mas a velocidade do metabolismo é insuficiente para removê-la. Ex.: Lipídios, proteínas, carboidratos. Substância anormal - Produto de metabolismo anormal. Substância endógena que se acumula por não poder ser metabolizada devido à falta de uma enzima específica � Defeito genético congênito � Doença de "armazenamento". Substância anormal exógena, impossível de ser metabolizada ou removida. Ex.: carvão, asbestos, sílica, pigmentos de tatuagem. Como geralmente essa substância tem cor, são chamadas genericamente "pigmentos exógenos". Deve-se levar em conta, contudo, que a maioria dos pigmentos encontrados no corpo são de origem endógena e seu acúmulo pode não ser patológico. LIPÍDIOS (TRANSFORMAÇÃO GORDUROSA) O acúmulo de lipídios em células que não os adipócitos é chamado de "transformação gordurosa". O termo "degeneração gordurosa" é empregado por muitos, mas erroneamente, uma vez que não se trata de uma degeneração e sim um processo metabólico e, por isso, ele deve ser evitado. Ocorre em todos os órgãos que metabolizam lipídios, ou que os utilizam como fonte de energia. Ocorre no coração, rins, músculos e, sobretudo no fígado. Neste órgão o fenômeno é mais estudado. PATOGÊNESE Embora um agente etiológico possa agir em mais de um local, existem 4 mecanismos básicos na patogênese da transformação gordurosa do fígado: Excesso de ácidos graxos livres: dieta, lipólise excessiva (stress, jejum, principalmente em animais grandes e obesos, com exigência metabólica aumentada, como na gestação; obesidade em bovinos (síndrome da "vaca gorda"). Excesso de esterificação de ácidos graxos para triglicerídeos: álcool. Deficiências de aminoácidos lipotrópicos (colina, metionina, lisina e cistina). Hipóxia Substâncias e plantas tóxicas: hepatotoxinas, como a aflatoxina e os alcalóides pirrolizidínicos (Senecio sp); Deficiência proteínica ou calórica: inanição, diabetes, prenhez gemelar na ovelha (etiologia?) MORFOLOGIA ASPECTO MACROSCÓPICO Fígado aumentado, amarelado e friável (este quadro é característico!) ASPECTO MICROSCÓPICO Vacúolos, adipocitoidose, cistos gordurosos (conseqüentes à ruptura de hepatócitos e à coalescência de vacúolos gordurosos) DEMONSTRAÇÃO Colorações especiais, como o Sudan IV ou o Oil Red O (coloração laranja ou vermelho) INFILTRAÇÃO (PARENQUIMATOSA) GORDUROSA. A infiltração gordurosa refere-se ao acúmulo de adipócitos no estroma de órgãos parenquimatosos. As células do estroma sofrem metaplasia adipocítica. Este processo não tem nada a ver com a transformação gordurosa. Ocorrem no coração, músculos esqueléticos, tendões, músculos, etc. Os adipócitos separam, mas não danificam, a não ser por eventual atrofia por compressão, as células parenquimatosas. PROTEÍNA O excesso de proteína intracelular (visível na M.O.) ocorre principalmente em: 1- Epitélio dos túbulos contornados proximais renais durante as doenças renais que provocam proteinúria. As células tubulares fazem reabsorção por pinocitose e a proteína aparece como gotículas hialinas no citoplasma das células epiteliais. 2. Células plasmáticas (plasmócitos) engajadas na produção ativa de imunoglobulinas. Quando em excesso, os plasmócitos adquirem um aspecto arredondado, com o citoplasma intensamente eosinofílico (corpúsculos de Russel). GLICOGÊNIO O glicogênio acumula-se sempre que haja glicemia alta e prolongada, ou um distúrbio no metabolismo da glicose ou glicogênio, como no diabetes ou na glicogenose. PIGMENTOS Pigmentos são substâncias providas de cor própria que se localizam nos tecidos. Podem ser exógenos ou endógenos. PIGMENTOS EXÓGENOS CARVÃO É o mais comum dos pigmentos que, quando inalado produz a antracose (é uma pneumoconiose - rever o termo). As partículas de carvão são fagocitadas por macrófagos alveolares que, se não eliminados com o muco, fixam-se no estroma pulmonar ou são transportados pelos linfáticos aos L.N. traqueobronquiais. Outra forma em que o carvão é encontrado nos tecidos é nas tatuagens, utilizadas para identificar animais (na face interna da coxa, em cães; na orelha, em suínos; ou na parte interna do lábio inferior, em eqüinos). Morfologia: Coloração cinza nos tecidos, ou nos pulmões e linfonodos traqueobronquiais. Ao microscópio vêem-se grânulos negros nos macrófagos. SÍLICA E ASBESTO Não são pigmentos literalmente. Também induzem duas importantes pneumoconioses. Nestas (silicose e asbestose, respectivamente) ocorre fibrose grave dos pulmões ou então, como na última, neoplasia nas pleuras (mesotelioma). A sílica só é possível ser visualizada utilizando-se luz polarizada. O asbesto aparece como fibras alongadas, de cor pardacenta e em forma de baqueta de tambor. TATUAGENS Da mesma maneira que com o carvão, outras substâncias são utilizadas para fazer tatuagens. O carvão é empregado sob a forma da tinta da China, ou Nanquim. O ferrocianeto férrico (azul da Prússia) dá cor azul. O sulfeto de Hg (cinábrio) dá a cor vermelha. PIGMENTOS ENDÓGENOS Incluem-se aqui a lipofuscina, a melanina e certos pigmentos derivados da hemoglobina. LIPOFUSCINA É o chamado "pigmento de uso". Representa o resultado de injúrias antigas devidas a radicais livres ou peroxidação de lipídios. São os "corpúsculos residuais" resultantes de fagolisossomos (lisossomo + vacúolo fagocítico),ou vacúolos autofágicos. Esse pigmento pode ser observado no fígado, coração, intestino e outros órgãos de pacientes velhos ou caquéticos. O pigmento tem coloração marrom (fucus = marrom) e os órgãos que o apresentam têm essa coloração ("atrofia marrom" do coração; "síndrome do intestino marrom" em cães velhos). Microscopicamente, a lipofuscina aparece como grânulos marrons no citoplasma das células. Nos miócitos localizam-se nos pólos do núcleo. A lipofuscina não produz danos nas células. Como é resultado da peroxidação, a vitamina E retarda o processo (esta é a razão do emprego generalizado desta vitamina nos medicamentos ditos rejuvenescedores ou preventivos do envelhecimento precoce). Conseqüentemente, na deficiência da vitamina E, ocorre aumento de lipofuscina nos tecidos. Em gatos e minks (arminho) submetidos a uma dieta rica em peixe, ou óleo de peixe, especialmente se rancificado, (excesso de ácidos graxos insaturados) e com deficiência de vit. E, apresentam uma doença que se caracteriza por grande quantidade desse pigmento, neste caso o ceróide ("yellow-fat disease"; esteatite). MELANINA É o pigmento responsável pela pigmentação da pele e anexos e das mucosas. Na realidade é um pigmento marrom, embora "melas" signifique negro. Pode depositar-se também em locais inusitados, como nas meninges e na íntima de grandes vasos, como em certas raças de ovelhas ou de cães. Neste caso, esses depósitos de melanina recebem o nome de melanose. Patologicamente, a melanina ocorre nos melanomas, nevos e em casos de acantose nigricans, entre outros. A ausência de melanina ocorre no albinismo (deficiência de tirosinase, ou DOPA-oxidase) e no leucoderma). (Rever os termos melanócitos, melanóforos e melanossomos) DERIVADOS DA HEMOGLOBINA Hemoglobina (Hb) é o pigmento responsável pelo transporte de oxigênio pelos eritrócitos. Uma vez as hemácias rompidas, esse pigmento atinge o plasma ou os tecidos (rever os termos hemoglobinemia e hemoglobinúria). Hb oxidada (vermelho vivo) característica do sangue oxigenado, ou arterial. Hb reduzida (violeta, ou negra) presente no sangue venoso ou nas hemorragias digestivas. Carboxihemoglobina (vermelho vivo) presente na intoxicação por CO (comparativamente a Hb tem 200 vezes mais afinidade pelo CO do que pelo O2). Metahemoglobina (cor chocolate) é o óxido de Hb (fora do eritrócito) presente nos envenenamentos por nitritos, nitratos, cloratos, sulfatos, cobre e alguns compostos orgânicos. Sulfometahemoglobina (cor azul ou negra), sua presença é chamada de pseudomelanose, uma alteração resultante da ação de gases sulfurosos, liberados por bactérias saprófitas, sobre a Hb liberada de eritrócitos lisados. Hematina ácida (cor negra) resulta da ação de ácidos sobre a Hb liberada de eritrócitos lisados. Vários tipos de hematina ácida são encontrados: hematina formalina- pigmento de formol resultante da ação do ac + Hb hematina hidroclórica- hemorragias gástricas (HCL + Hb). pigmento da Fascíola (F. magna)- Trematoda do fígado de ruminantes, que produz pigmento negro rico em hematina. Hemossiderina e Bilirrubina São dois dos mais importantes pigmentos de origem hemoglobínica, e por isso serão discutidos com mais detalhes. Ambos resultam da destruição de eritrócitos. (Após esse período o eritrócito é destruído no SRE, ou SFM, liberando a Hb) HEMOSSIDERINA A hemossiderina é um pigmento marrom-dourado, granular ou cristalino. É formada por micelas de ferritina (forma de armazenamento normal de Fe no organismo animal) A hemossiderina torna-se aparente sempre que haja excesso de Fe, local ou sistêmico. Sua presença acima das quantidades esperadas em um determinado local chama-se hemossiderose, que nada mais é que um grande número de macrófagos contendo hemossiderina ("hemossiderócitos" ou "siderócitos"). Essa alteração comumente está presente em: BAÇO- Indica excesso de lise de eritrócitos (A.I.E.; hematozoários; transfusões, etc.). CICLO VITAL DO ERITRÓCITO (em dias) CÃO 120 GATO 70 CAVALO 145 VACA 160 HOMEM 120±20 PULMÃO- Congestão pulmonar crônica (insuficiência esquerda do coração). HEMORRAGIAS ANTIGAS- O melhor exemplo de hemossiderose localizada é a contusão (hematoma subcutâneo), cuja seqüência de alterações de cores durante sua resolução reflete os pigmentos formados: Inicia-se com o vermelho azulado dos eritrócitos e, a seguir, várias tonalidades de azul, à medida que os eritrócitos desaparecem e os pigmentos hemoglobínicos se instalam (azul amarelado ou esverdeado → marrom esverdeado → marrom): biliverdina → bilirrubina→ hemossiderina. A hemossiderose não é uma lesão em si, mas o resultado de uma lesão antiga, e não causa dano às células vizinhas aos macrófagos contendo hemossiderina. HEMOCROMATOSE- É a deposição de ferro na pele de pacientes com cirrose hepática ou lesão pancreática na diabetes melito. Demonstração histológica do ferro (diferenciação de pigmentos): Faz-se pela reação do azul da Prússia, que tanto pode ser empregado na macroscopia quanto na microscopia: Ferrocianeto de K (incolor) + íons Fe ⇒ ... ⇒ ferrocianeto férrico (azul, insolúvel) Essa reação é empregada para diferenciar, por exemplo, hemossiderina de melanina, ou de lipofuscina. BILIRRUBINA É o mais importante pigmento da bile. É formado a partir da hemoglobina, mas não contém ferro. Sua formação e excreção ocorrem através do fígado e são essenciais à vida. Em situações onde há excesso de produção ou impossibilidade de excreção, a bilirrubina acumula-se nos tecidos, dando-lhes uma coloração amarelada (icterícia). Esta pode ser observada em todo o corpo, mas é mais evidente no próprio fígado e nos rins, devido à maior concentração do pigmento nesses locais. Nos rins provoca uma degeneração, a nefrose colêmica. Icterícia É o acúmulo de bilirrubina (colestase) nos tecidos (acima de 3mg/dl de soro). Dependendo da causa, pode ser pré-hepático ou hepático (dependendo se o tipo de bilirrubina acumulada nos tecidos é conjugada ou não). Tipos de icterícia A- Hemolítico: Qualquer agente que cause hemólise e que a quantidade de bilirrubina liberada exceda a capacidade de conjugação e eliminação do fígado. Há um excesso de bilirrubina não-conjugada (indireta p/ Van der Berg). Exemplos: Piroplasmose ou anaplasmose Leptospirose Anemia infecciosa eqüina (AIE) Envenenamento por ricina ou saponina Ofidismo Hemorragias internas Transfusão Icterus neonatorum B- Tóxico- Substâncias tóxicas atuando nos hepatócitos e impedindo o metabolismo da bilirrubina. C- Obstrutivo- Obstrução do fluxo normal da bile. Neste caso a bilirru- bina (conjugada) não atinge o intestino. Exemplos: 1-Tumefação dos hepatócitos como conseqüência de tóxicos. 2-Obstrução por parasitas (Fascíolas ou Ascaris) 3-Cirrose (⇒ contração ⇒obstrução) 4-Colangites 5-Cálculos 6-Neoplasias periductais 7-Duodenite (obstrução da papila duodenal) NOTAS IMPORTANTES 1- A lesão hepática em herbívoros, além da icterícia (que é apenas um sinal) provoca a deposição na pele de FILOERITRINA (um subproduto do metabolismo da clorofila). A filoeritrina é uma potente substância fotodinâmica (rever o termo) e provoca fotossensilibilização. Qualquer herbívoro com colestase não hemolítica de alguns dias de duração, e que tenha ingerido abundante "verde" e seja mantido no sol, apresentará as lesões de pele. 2- A porfirina é uma substância também originária da hemoglobina e também provoca fotossensibilização em animais com defeito enzimáticocongênito (deficiência de uroporfirinogenio sintetase) 3- Certas plantas possuem um pigmento fotodinâmico próprio que induz diretamente a fotossensibilização (não são metabolizados, depositando-se diretamente na pele), como o trigo sarraceno, que possui o pigmento fagopirina (de cor vermelho fluorescente). 4- Certos pigmentos de origem vegetal podem depositar-se nos tecidos, mas sem conseqüências patológicas, como é o caso de derivados do caroteno (carota = cenoura), alterando a cor dos tecidos. (É administrado às aves para dar uma cor "saudável" ou de "caipira" aos frangos de corte e aos ovos) 6. MORTE CELULAR - NECROSE A morte celular só pode ser reconhecida após a célula sofrer uma série de alterações morfológicas denominadas necrose. Portanto, a definição de necrose é “a soma das alterações morfológicas que ocorrem após a morte de células num tecido ou órgão vivos”. Note que a necrose só torna-se evidente algum tempo após a morte da célula. Os termos necrose e morte celular não são sinônimos: Embora a necrose indique que um tecido está morto, um tecido morto pode não exibir necrose CAUSAS DA NECROSE A necrose ocorre devido a dois processos simultâneos: a- Digestão enzimática da célula (autólise ou heterólise) b- Desnaturação (coagulação) de proteínas devido ao pH ASPECTO MACROSCÓPICO O reconhecimento macroscópico de uma área necrótica é mais difícil do que possa parecer. Contudo, uma vez instalada, a necrose possui algumas características morfológicas que auxiliam no diagnóstico: a- Palidez- No fígado e no pulmão pode não estar presente devido à dupla circulação desses órgãos b- Perda de resistência - (Friável) c- Zona de demarcação- Formada por um halo de hiperemia circundando a região necrótica. É o mais seguro dos sinais da necrose, mas demora de 2 a 3 dias para aparecer. ASPECTO MICROSCÓPICO- As alterações podem ser vistas no citoplasma ou no núcleo. ALTERAÇÕES CITOPLASMÁTICAS- a- Eosinofilia- As proteínas desnaturadas do citoplasma têm grande afinidade pela eosina (corante histológico). b- Maior densidade ótica- Devido à perda de glicogênio, a célula parece mais densa. c- Vacuolação do citoplasma- Devido à digestão das organelas e acúmulo intracitoplasmático de água. e- Calcificação- O Ca move-se para dentro da célula (calcificação distrófica). ALTERAÇÕES NUCLEARES São mais fáceis de serem notadas e indicam, sem sombra de dúvida de que a célula está morta (ver figura 6.1) a- Picnose- Núcleo condensado numa massa escura, arredondada, homogênea e menor que o núcleo normal. b- Cariorrexe- Fragmentação do núcleo. c- Cariólise- Dissolução da cromatina, deixando uma imagem "fantasma" do núcleo. e- Ausência do núcleo- O núcleo da célula desaparece após 2 dias. FIGURA 6.1- Alterações nucleares que se observam na necrose e que comprovam a morte do núcleo NECROBIOSE E APOPTOSE Necrobiose é a morte de células como parte do processo fisiológico normal, como a morte e descamação da pele, da mucosa do endométrio e do tubo digestivo. Apoptose (caducidade) é sinônimo de necrobiose. O termo é mais empregado para designar células mortas que ocasionalmente são encontradas no interior de tecidos normais. Essas células aparecem como corpúsculos arredondados intensamente eosinofílicos (Corpúsculos de Councilman). TIPOS DE NECROSE Dependendo do balanço entre autólise, coagulação de proteínas e calcificação, a necrose pode apresentar-se de diferentes maneiras, os chamados "tipos de necrose". Embora todos indiquem morte celular prévia, podem indicar também a causa da morte daquelas células. NECROSE DE COAGULAÇÃO (OU COAGULATIVA) É a mais comum. Os núcleos geralmente desaparecem, mas a forma celular é preservada permitindo reconhecer a arquitetura tecidual. Posteriormente a área necrótica é liquefeita e removida por seqüestração. A causa mais comum é a isquemia é ocorre em órgãos como o fígado, rim e coração (infarto). Um tipo especial de necrose de coagulação é a necrose de Zenker, que ocorre no músculo estriado em certas situações especiais como na deficiência de vitamina E ou de Selênio. NECROSE DE LIQUEFAÇÃO (OU COLIQUATIVA) Resulta de enzimas hidrolíticas potentes. É típica do SNC ("derrame") e em abscessos e outros processos supurativos (atenção: não em aves) onde ocorre associação de autólise, heterólise e enzimas bacterianas. NECROSE DO TECIDO ADIPOSO (ESTEATONECROSE) Ocorre devido à ação de lipases sobre triglicerídeos, liberando ácidos graxos livres que se combinam com Ca, K, ou Na formando sabões ("saponificação") de aspecto granular e levemente basofílico ao microscópio. Como causas, geralmente são as lesões do pâncreas, trauma em massas adiposas ou, mais raramente, de forma espontânea no tecido adiposo intra- abdominal de bovinos (causa: nutrição? isquemia?) NECROSE DE CASEIFICAÇÃO Ocorre uma combinação de necrose coagulativa e coliquativa. O tecido necrótico tem aspecto pastoso, friável, branco-acinzentado (caseus = queijo) e levemente granular. É típico da lesão tuberculosa (Mycobacterium tuberculosis); da linfoadenite caseosa dos caprinos e ovinos (Corinebacterium pseudotuberculosis) e dos abscessos em geral nas aves. (Lembrem-se sempre: O pus nas aves não é líquido) NECROSE GANGRENOSA (OU GANGRENA) É a necrose (de qualquer tipo) seguida da invasão da área por bactérias saprófitas (putrefação). Ocorre nos tecidos que têm contacto com o meio exterior, como a pele, pulmões, intestinos e mamas. Existem dois tipos de gangrena: a- Gangrena seca- Há pequena invasão de bactérias devido à pouca disponibilidade de umidade. É seca devido à drenagem fácil ou à evaporação. Ocorre na pele ou nas extremidade. b- Gangrena úmida- Ao contrário da seca, ha abundante exsudação de líquido, produção de gás (bolhas), hemorragia, edema e cianose. É muito grave e comumente fatal. Causas mais comuns: Intestino: estrangulamento Pulmão: aspiração de material estranho Mama: Infecção por Staphylococcus sp ou Streptococcus sp. SEQÜESTRAÇÃO Seqüestro é uma área necrótica separada do tecido sadio por uma zona de inflamação (linha ou zona de demarcação) e que permanece como uma massa compacta sendo liquefeita e absorvida a partir da periferia. Esse processo de eliminação da área necrótica é a seqüestração. Ocorre após infartos no rim, em fragmentos ósseos (esquírolas) após fraturas, ou em áreas necróticas no pulmão e na massa muscular. 6.1. MORTE SOMÁTICA - ALTERAÇÕES "POST-MORTEM" As alterações que ocorrem após a morte somática podem ser (e são!) confundidas com lesões e dificultam a interpretação destas, seja mascarando- as, ou seja, assemelhando-se a elas. Contudo, o ponto onde se considera um indivíduo como "morto" é motivo de debate. Convencionou-se considerar-se a morte do sistema nervoso central (SNC) como o ponto que define a morte, porém, quando ocorre a morte do SNC, ainda existem outros tecidos no organismo que continuam vivos por um tempo maior. Além disso, a velocidade e a intensidade das alterações conseqüentes à morte variam entre os tecidos e dependem de muitos fatores. Fatores que influenciam a velocidade e a intensidade da ocorrência das alterações "post-mortem". a- Temperatura ambiente (diretamente proporcional) b- Temperatura corporal (diretamente proporcional) c- Tamanho corporal (diretamente proporcional, em função da velocidade de perda de temperatura) d- Isolamento térmico - pêlos, penas, gordura - (diretamente proporcional, também em função da temperatura) e- Estado nutricional (inversamente proporcional devido à maior capacidadedas células de pacientes bem nutridos em gerar energia intracelularmente - ATP) f- Espécie animal (a velocidade de alterações "post-mortem" varia segundo a espécie, em função de seu isolamento térmico, porte, flora intestinal e temperatura corporal) g- Órgão ou tecido considerado (é diretamente proporcional ao metabolismo do tecido em questão. O sistema nervoso central é o mais rápido e o tecido conjuntivo fibroso, de tendões p. ex., é o mais lento) AUTÓLISE "POST-MORTEM" Autólise é a autodigestão das células pelas enzimas contidas em suas organelas (lisossomos) e que são liberadas como conseqüência da anóxia difusa total que se segue à paralisação das funções cardiorrespiratórias ou da supressão da irrigação sanguínea em uma região. É a mais importante das alterações "post-mortem". Ocorre em qualquer tecido e assemelha-se à necrose de coagulação. A velocidade e o grau de autólise varia segundo a necessidade de O2 (metabolismo) de cada tecido (no osso, na pele e no tendão ocorre lentamente; no SNC e na adrenal ocorre rapidamente). A refrigeração apenas retarda a autólise por diminuir o ritmo metabólico do tecido. A fixação a impede. FIXAÇÃO Um fixador é qualquer substância química utilizada para preservar e firmar (fixar) um tecido, permitindo seu exame posterior. O fixador mais comumente utilizado é a solução de formalina a 10%. Formalina é a solução aquosa do Aldeído fórmico (HCOH) a 37-40%. A solução fixadora é obtida pela adição de 10 ml de formalina a 90 ml de água, formando, portanto, uma solução de formalina a 10% (não de HCOH. Este, na realidade, estará a 3,7-4,0%) A formalina age pela remoção de moléculas de água ligadas às moléculas orgânicas, principalmente proteínas e ácidos nucleicos. A solução de formalina não é estável. Quando exposta ao oxigênio, decompõe-se em ácido fórmico que é um péssimo fixador e reage com a hemoglobina liberada de hemácias produzindo um pigmento que atrapalha a avaliação histológica. Essa decomposição é evitada usando-se uma solução tamponada em pH neutro. É a seguinte a fórmula para se fazer formalina tamponada: Formalina (37-40%....................................... 100,0 ml Fosfato de Na monobásico .............................. 4,0 g Fosfato de Na dibásico .................................... 6,5 g Água destilada ............................................. 900,0 ml (Esta solução tem o pH neutro e mantém-se estável por um ano. Deve ser descartada após esse tempo.) OBS.: Para a fixação de cérebros (devem ser fixados inteiros) usa-se a formalina a 20%. Existem outros fixadores, como os de Carnoy, de Zenker, de Michell, de Bouin, etc., que são utilizados em situações especiais, mas que não serão dis- cutidos aqui. "RIGOR MORTIS" É o enrijecimento dos músculos causado pelo decréscimo dos níveis intracelulares de ATP (o relaxamento dos músculos, após a contração, requer energia). Animais bem nutridos, com maior concentração intracelular de glicogênio demoram mais a apresentá-lo devido à ressíntese de ATP. Assim, é mais intenso e precoce em animais mal-nutridos ou cansados, e em músculos mais ativos, como os da nuca e o miocárdio. "ALGOR MORTIS" É o esfriamento do cadáver (algor = frio). Sua velocidade varia segundo a espécie, o tamanho ou o isolamento térmico do cadáver, a temperatura ambiente, etc. Sua importância relaciona-se à instalação da autólise, que é diretamente proporcional à temperatura corporal. "LIVOR MORTIS" É a palidez (livor = palidez) resultante da descida do sangue às regiões inferiores do corpo. Esta alteração não é importante, a não ser que ela depende da congestão hipostática, discutida a seguir. CONGESTÃO HIPOSTÁTICA É a concentração de sangue nos vasos das partes inferiores, devido à gravidade (é uma conseqüência do "livor mortis", e vice-versa). Freqüentemente é confundida com alterações patológicas, como a inflamação, principalmente nos pulmões e na mama. (O acúmulo de sangue observado na inflamação recebe o nome de hiperemia, e não de “congestão ativa” como dizem muitos.) OBS.: A compressão de vísceras associada à congestão hipostática produz efeitos interessantes. O fígado, p.ex., pode mostrar a "impressão" das costelas ou de alças intestinais vizinhas. Às vezes essa alteração é de grande valor diagnóstico, como no caso da "linha de timpanismo" observada no esôfago de ruminantes que morreram como conseqüência de timpanismo agudo do rúmen. COAGULAÇÃO DO SANGUE O sangue coagula-se no interior de vasos e nas câmaras cardíacas algum tempo após a morte. Esses coágulos devem ser diferenciados dos trombos, que são coágulos que ocorreram antes da morte ("ante-mortem"). Dois tipos de coágulos podem ocorrer: a- Coágulo cruórico- O mais comum, com coloração e aspecto de geléia de amora, mais ou menos firme e não aderente, moldando exatamente a cavidade que o contém. b- Coágulo lardáceo (lardum = toucinho)- Têm o aspecto de gordura de galinha. Ocorre devido à hemossedimentação acelerada resultante do aumento da agregação eritrocitária, ou ao retardamento da coagulação. Os cavalos, devido à formação mais comum de "rouleaux" de hemácias, apresentam essa alteração mais freqüentemente que outras espécies. ALTERAÇÕES NA COR DE ÓRGÃOS a- Embebição por hemoglobina- Ocorre difusão para os tecidos da hemoglobina liberada pela lise dos eritrócitos e manifesta-se pela cor rosa- púrpura nos tecidos. É mais evidente nas paredes das grandes artérias e é particularmente notável em fetos abortados. b- Embebição por bile- Após a morte a vesícula biliar e o duodeno perdem a capacidade de reter os pigmentos biliares, os quais se difundem nos tecidos vizinhos, corando-os de marrom amarelado. c- Pseudomelanose- A combinação de sulfeto de enxofre liberado por bactérias de putrefação com o ferro da hemoglobina de eritrócitos lisados produz o sulfeto férrico, de cor negro azulado. Dependendo da quantidade de sulfeto férrico e outros pigmentos de origem hemática, podem ocorrer coloração verde, cinza, púrpura ou negra. É observada mais comumente em áreas relacionadas com alças intestinais, ou em áreas onde ocorreu proliferação de bactérias saprófitas, como na gangrena. DISTENSÃO, DESLOCAMENTO E RUPTURA DE VÍSCERAS Devido ao acúmulo de ingesta, de gás e à manipulação do cadáver, pode haver simulações de torções, vólvulos, invaginações e hérnias. Da mesma maneira, vísceras podem romper-se após a morte. Diferenciação entre deslocamentos "ante-mortem" e "post- mortem": Pela presença de alterações vasculares e circulatórias, bem como a presença de fibrina e aderências nas de ocorrência "ante-mortem". Diferenciação entre rupturas "ante-mortem" e "post-mortem": Pela presença de hemorragia, de fibrina ou de peritonite nos casos ocorridos "ante-mortem". Nestes casos também, o conteúdo extravazado da víscera rompida estará espalhado por toda a cavidade. PUTREFAÇÃO A putrefação normalmente não é confundida com alterações patológicas, a não ser em casos excepcionais, como nos casos de gangrena e nos de infecções por bactérias anaeróbicas produtoras de gás, geralmente Clostridium sp. Na putrefação, como nas doenças mencionadas, ocorre produção de gás no interior s tecidos que se manifesta pela presença de pequenas bolhas (enfizema). A ocorrência de enfizema de putrefação não é uniforme em todos os tecidos, sendo mais comum no fígado, nos rins e nos pulmões. O enfizema "ante-mortem" pode ocorrer também como conseqüência de outras causas que não por infecção por bactérias produtoras de gás. As causas mais comuns são as perfurações da traquéia, do tórax, ou de certos ferimentos cutâneos, como na região próxima à virilha. (Nestesferimentos, a movimentação do animal faz com que a pele atue como um fole, aspirando ar e impelindo-o para o tecido subcutâneo.) 7. ADAPTAÇÕES CELULARES À INJÚRIA Dependendo do tipo de estimulo ou de injúria, as células tentam adaptar- se, sofrendo certas modificações morfológicas ou funcionais ("bioquímicas") que as permitam sobreviver ou manter suas funções frente à nova situação. ATROFIA Refere-se à diminuição do tamanho de um órgão, ou de uma célula, após ter atingido seu desenvolvimento normal. Pode atingir todo o órgão, ou parte do mesmo, um pequeno grupo de células, ou mesmo apenas uma célula. Ocorre sob duas formas: Quantitativa - o número de células diminui Qualitativa - o tamanho das células diminui ASPECTO MACROSCÓPICO: a- Cápsula enrugada. b- Peso, ou tamanho menor - Pese ou meça o órgão. Para compensar a variação de tamanho do animal, faça a relação entre o peso do órgão e o peso corporal, ou o peso do cérebro, e utilize esse valor como medida de avaliação. Órgãos pares podem ser comparados entre si. ASPECTO MICROSCÓPICO: a- diminuição do número ou diâmetro das células. b- Ondulação da cápsula. (Compare com áreas normais do mesmo órgão) CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS ÓRGÃOS: Rim: Aumento do número de glomérulos visíveis em cada campo microscópico. (Lembre-se que o rim do animal jovem também tem um número aparentemente maior de corpúsculos renais) Baço: Aparente aumento de trabéculas, da mesma maneira que no rim. Músculo: Perda do sarcoplasma, restando sarcolema e endomísio, que é similar ao tecido conjuntivo fibroso. Fígado: Estreitamento dos cordões de hepatócitos. CAUSAS DA ATROFIA Inanição - Atinge quase todo o organismo, exceto ossos e o sistema nervoso central. Durante a inanição, existe uma seqüência pré-determinada de utilização das reservas do organismo, que se dá na seguinte ordem: Glicogênio --> tecido adiposo -> músculos -> parênquima de glândulas. O diagnóstico da inanição durante a necropsia é feito pela constatação de atrofia serosa da gordura. Irrigação sanguínea deficiente - Exemplo: Congestão passiva crônica do fígado. Inervação deficiente - É uma lesão clássica da musculatura após lesão nervosa - Exemplo: Compressão ou secção de um nervo. Desuso - Conseqüente à imobilização (tratamento de fraturas) ou, por exemplo, numa glândula, à obstrução do ducto excretor. Compressão - A compressão de uma região durante longos períodos induz atrofia. Por exemplo, em tumores que se expandem lentamente, os tecidos vizinhos atrofiam-se. Distúrbios endócrinos - A atrofia que ocorre aqui é, na realidade, conseqüente ao desuso. Na deficiência hormonal, as funções hormônio- dependentes são paralisadas, daí o desuso. Exemplos: Atrofia da tireóide por falta de TSH: atrofia da suprarrenal por falta de ACTH; atrofia (iatrogênica) da suprarrenal por administração de corticosteróide. INVOLUÇÃO É a diminuição do tamanho de um órgão como resultado de um processo fisiológico normal. Pode ser cíclica e ocorre após a cessação do estímulo. Exemplos: Involução do corpo lúteo; involução do útero; involução das mamas. HIPERTROFIA É o aumento de um órgão, ou tecido, devido ao aumento do tamanho (não do número) de suas células. Existe aumento de RNA, enquanto a quantidade de DNA permanece estável. Sua principal e única causa é o aumento da demanda funcional do órgão. CLASSIFICAÇÃO DA HIPERTROFIA (SEGUNDO A CAUSA) Compensatória, ou vicariante - Ocorre para compensar a falta de um órgão par, por exemplo. O rim remanescente sempre se hipertrofia após excisão do seu par. Funcional - Aumento da massa muscular. A massa muscular de um cavalos de corridas é muito maior do que a de um cavalo de montaria de passeio. Fisiológica - Útero, na gestação. HIPERPLASIA É o aumento de um órgão, ou tecido, devido ao aumento do número (não do tamanho) de suas células. Neste caso, tanto o RNA quanto o DNA estão aumentados. Macroscopicamente é difícil de ser diferenciado de hipertrofia. Pode ser difusa, atingindo todo o órgão, como a tireóide em caso de bócio, ou focal (ou nodular) que ocorre no baço, fígado, pâncreas, córtex da suprarrenal, gl. mamária, etc., onde apenas áreas limitadas de um órgão ou tecidos são atingidos. BASES TEÓRICAS DA HIPERTROFIA E DA HIPERPLASIA A capacidade, ou a definição se um órgão sofrerá hipertrofia ou hiperplasia depende da capacidade ou não do seu parênquima em formar novas unidades funcionais. Depende, portanto, se suas células são lábeis, estáveis ou permanentes (esta classificação será vista com mais detalhes no capítulo 10 - "Reparação"). Os tecidos constituídos por células estáveis são incapazes de multiplicar e, conseqüentemente, não apresentam hiperplasia. Caso sua demanda funcional seja aumentada, eles compensam através de hipertrofia. Por outro lado, os tecidos cujas células sejam capazes de se multiplicar, embora possam apresentar ambos os processos, geralmente sofrem hiperplasia em resposta ao aumento da demanda. O quadro a seguir representa as idades em que alguns tecidos perdem a capacidade de se multiplicar. Os dados referem-se ao homem, mas podem se adaptados aos animais. Quadro 1- CAPACIDADE DE REGENERAÇÃO DOS TECIDOS Tecido Idade Neurônios 3-4 meses de gestação músculo esquelético 5 m. gestação músculo cardíaco 9 m. gestação alvéolos pulmonares 8 a 9 m. idade folículos Ovarianos 50 anos hepatócitos, células da tireóide, cél. endócrinas, cél. sanguíneas, etc. mais de 90 anos de idade METAPLASIA É a transformação de um tecido maduro em outro da mesma linhagem celular. É como se o tecido se transformasse em outro mais resistente a fim de enfrentar uma agressão. METAPLASIA EPITELIAL- Ocorre nos epitélios. Exemplos: O epitélio cúbico dos brônquios, como resultado de irritação crônica (fumaça) transforma-se em epitélio pavimentoso (metaplasia pavimentosa, ou escamosa) METAPLASIA MESENQUIMAL- Ocorre no tecido conjuntivo. Muitas vezes é um processo fisiológico, como na formação do tecido ósseo, ou na consolidação de uma fratura, onde o tecido conjuntivo fibroso sofre metaplasia para tecido mixomatoso, a seguir para cartilagem e, finalmente, para osso. Ocorre o mesmo em certas neoplasias, como no tumor misto de mama em cadelas. DISPLASIA Dos crescimentos não neoplásicos, a displasia é o mais irregular, sendo considerada sempre uma lesão pré-neoplásica. As células proliferam sem uniformidade e o tecido perde sua arquitetura normal. Histologicamente nota-se também uma perda das propriedades tintoriais normais. Contudo, ao contrário da neoplasia, uma vez cessado o estímulo que a provocou, regride e desaparece. a evolução de uma lesão como essa geralmente é a seguinte: Displasia ⇒ carcinoma "in situ" ⇒ carcinoma NEOPLASIA O crescimento neoplásico é aquele que não cessa uma vez cessado o estímulo que o provocou, continuando indefinidamente e não respondendo aos mecanismos normais de limitação de crescimento impostos pelo organismo. Na neoplasia as células perdem a diferenciação, isto é, tornam-se indiferenciadas. Diferenciação é a propriedade das células serem diferentes das demais do organismo, sendo características de um determinado tecido e conseqüentemente, sendo capazes de exercer uma função. Ao tornarem-se indiferenciadas, elas perdem a identificação com o tecido que deu origem à neoplasia. Quanto mais indiferenciada, mais grave (maligna) é a neoplasia. Anaplasia é o grau máximo de indiferenciação celular. Uma neoplasia com células anaplásicas é sempre maligna. A neoplasia, por ser muito importante, será estudada
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