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Personalidade e percepção: fatores que influenciam o comportamento do consumidor Renata Mateus Introdução A Psicologia nos ajuda a compreender os valores cognitivos, motivacionais e emocionais envolvidos no processo de compra. Nesta aula, entenderemos o que é personalidade, autocon- ceito e percepção, e como estes elementos influenciam o comportamento do consumidor. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • entender o que é personalidade e suas características; • analisar como a percepção influencia no comportamento do consumidor. 1 Definição de personalidade O entendimento da mente humana auxilia as organizações a desenvolverem estratégias efe- tivas de apresentação de seus produtos e serviços, tendo como objetivo aumentar a intenção de compra. Saiba que uma das teorias mais utilizadas para compreender o viés psicológico do con- sumo é a psicanálise, criada por Sigmund Freud. Para Freud, a mente humana é dividida em uma esfera consciente e outra inconsciente, sendo que o inconsciente influencia fortemente a outra parte (SOLOMON, 2016). Esta teoria é empregada pelo marketing, posto que os consumidores projetam seus desejos nos produtos ofertados, e a aquisi- ção destes produtos ocorre quando eles satisfazem os impulsos inconscientes. O marketing, portanto, deve saber criar estratégias adequadas, que despertem o desejo inconsciente dos consumidores. Entenda que a personalidade é definida como respostas consistentes a estímulos ambientais, sendo construída ao longo do tempo. Trata-se do padrão particular de organização de cada indivíduo, o que o torna único e diferente de todos. Podemos dizer que ela resulta de traços individuais que criam uma orientação geral para as situações vivenciadas (crenças, valores, cultura, aprendizado, entre outros). FIQUE ATENTO! Segundo Braghirolli (1995 apud Karsaklian, 2008), a Psicologia entende que perso- nalidade é o conjunto total das características de cada indivíduo, as quais, integra- das, ditam a forma como a pessoa reage normalmente ao estímulo do ambiente. Para Karsaklian (2008), a personalidade corresponde a uma característica do indivíduo que causa alguma impressão em outras pessoas. Portanto, cada ser humano possui uma personali- dade diferente, que influenciará seu comportamento de compra. 2 Características da personalidade Na teoria freudiana, a personalidade é o resultado final de forças que atuam no indivíduo, sendo que o funcionamento psíquico do ser humano adulto divide-se em: Id, Superego e Ego (SOLOMON, 2016). • Id – Totalmente inconsciente, opera de acordo com nossos desejos básicos de maximizar o prazer e evitar a dor, é regido pelo “princípio do prazer”. Ele é considerado egoísta e ilógico. Não se importa com as consequências, apenas busca a satisfação imediata e irrestrita. • Superego – Totalmente consciente, ele é o contraposto do Id, trazendo ao indivíduo todas as regras da sociedade, principalmente aquelas ensinadas pela família. Ele tra- balha para impedir que o Id atenda às suas necessidades, é regido pelo “princípio do dever”, a consciência moral. • Ego – Serve de mediador entre Id e Superego. É visto como um árbitro entre a tentação (Id) e a virtude (Superego). Ele tenta equilibrar essas forças opostas, por meio de opções aceitáveis do mundo externo que atendam ao Id e é regido pelo “princípio da realidade”. Figura 1 – Características da personalidade Consciente Pré-consciente Inconsciente Fonte: Crystal Eye Studio/Shutterstock.com (Adaptado). EXEMPLO Imagine que você está tomando um café, numa lanchonete, e, na mesa ao lado, há uma pessoa comendo uma porção de pão de queijo, o que desperta em você a vontade de comer. O Id faria com que você agisse por impulso e pegasse um pão de queijo, mesmo não sendo correto. Aí entra o Superego trazendo todas as regras da sociedade em que você vive. Por último, o Ego mostra que não é necessário pegar o pão de queijo da mesa ao lado, pois você pode comprar uma porção. A pergunta que normalmente fazemos é: “Como aplicar esse conhecimento no comporta- mento do consumidor?” Para Solomon (2016, p. 260), essa teoria “salienta a provável importância dos motivos inconscientes que orientam nossas compras”. Os consumidores não necessaria- mente sabem dizer o que os motiva quando escolhem determinado produto. Além disso, a teoria freudiana evidencia a possibilidade de o Ego utilizar de simbolismos para conseguir conciliar as exigências do Id e as proibições do Superego. Assim, o consumidor canaliza seus desejos inaceitáveis para possibilidades aceitáveis, escolhendo produtos que tra- duzam essa negociação interna. SAIBA MAIS! No vídeo do canal Philos, a psicanalista Lucila Faerchtein fala sobre os conceitos de Id, Ego, e Superego. Confira em: <https://www.youtube.com/watch?v=NAOtHDksToM>. 3 Visão de autoconceito Solomon (2016) apresenta o autoconceito como sendo um resumo das crenças de um indiví- duo sobre os próprios atributos, ou seja, de como ele avalia suas características. EXEMPLO Quando um indivíduo avalia que é melhor desempenhando seu papel de pai que seu papel de chefe. Pense no autoconceito como uma forma organizada das percepções do próprio eu que são admissíveis à conscientização. Trata-se de uma estrutura complexa, intimamente relacionada ao comportamento do consumidor. FIQUE ATENTO! O que pensamos sobre nós mesmos? Esta pergunta acaba gerando conflitos inter- nos para que o consumidor consiga construir seu autoconceito. Nesse sentido, o autoconceito congrega algumas ideias. • O eu real: maneira que penso que sou. • O eu ideal: maneira que aspiro ser. • O eu em contexto: maneira como me vejo em cenários diferentes. • O eu estendido: maneira como me vejo incorporado em objetos/artefatos que assu- mem uma importância. Por exemplo, quando uso alguma roupa de marca ou compro algum carro que me representa. Há também algumas características do autoconceito que estão relacionadas a estes “eus”. Acompanhe! Transcedência: permite que o consumidor transcenda sua existência como ser biológico e atribua significados únicos às suas posses. “Somos o que temos”, ou seja, suas posses ditam o que eles são, onde estão e para aonde querem ir. Portanto, levá-lo ao passado, às suas lembranças é um forte apelo publicitário para ativar esse “eu”. Automonitoramento: o consumidor possui diversas expectativas e se adapta a cada uma delas conforme a situação, ativando seu “eu” no contexto. Vale ressaltar a atenção a comparações sociais como sugestões para a autoexpressão adequada. O baixo automonitoramento do consu- midor o leva a tomar decisões por suas próprias disposições, sentimentos e interesses, sofrendo poucas influências de ações de marketing, por exemplo. Já o elevado automonitoramento pelo consumidor, deixa-o mais receptivo a sugestões e apelos que refletem a imagem do que ele se empenha em ser em situações sociais. Fantasia: o sonho do consumidor, isto é, o que ele aspira ser. A estratégia, nesse caso, é mis- turar o real com o ideal, mostrando que os sonhos podem ser possíveis. Presentear-se: é o reconhecimento por parte do consumidor de um merecimento próprio. O “eu mereço”. Figura 2 – Autoconceito O Eu ideal O Eu real O Eu em contexto O Eu estendido • Transcedência • Automonitoramento • Fantasia • Presentear-se Fonte: elaborado pela autora, 2016. Para Karsaklian (2008), o autoconceito passa a ser o status da compra de um produto, que, por sua vez, torna-se um elemento da personalidade que o consumidor atribui a si mesmo. 4 Características da percepção É o processo pelo qual a pessoa seleciona, organiza e interpreta as informações recebidas do ambiente, as sensações. Para Solomon (2016), as sensações são as respostas imediatas dos receptores sensoriais, como olhos, ouvidos,nariz, boca, dedos e pele, a estímulos básicos como luz, cores, sons, odores e texturas. Figura 3 – Sensações versus percepções Fonte: Dusan Petkovic/Shutterstock.com SAIBA MAIS! Veja como as lojas apostam nos sentidos para criar a experiência de compra. Acesse: <http://varejo.espm.br/5228/lojas-apostam-nos-sentidos-e-criam-experiencia-de- compra>. O consumidor absorve os estímulos externos de diversas formas, e dão início ao processo perceptivo, podendo gerar uma experiência sensorial interna. O processo de compra inicia com a identificação de uma necessidade, a partir da qual o indivíduo é motivado a agir. A percepção que se tem desta situação é o que influenciará a ação. FIQUE ATENTO! Deve-se levar em consideração que o consumidor traz o aprendizado que acumulou durante a vida para sua tomada de decisão. Karsaklian (2008) define percepção como um processo dinâmico em que o consumidor atri- bui significados a matérias brutas procedentes do ambiente. Para que se tenha uma percepção, é preciso que haja a sucessão de três fases: exposição a uma informação; atenção; e decodificação. A percepção depende também da relação dos estímulos físicos com o ambiente e das con- dições interiores da pessoa. As organizações podem agir a partir desta lógica para despertar uma percepção positiva no consumidor. Figura 4 – Como percebemos? Estímulos sensoriais • Imagens • Sons • Odores • Gostos • Texturas São estímulos externos Receptores sensoriais • Olhos • Ouvidos • Nariz • Boca • Pele Percebemos o mundo Nossa visão da realidade Interpretação (significado) Exposição Atenção Fonte: adaptado de SAMARA & MORSCH, 2005. Para que o processo de interpretação da informação funcione, a percepção possui algu- mas características. • Subjetiva: os consumidores se apropriam de determinados elementos e constroem suas realidades. • Seletiva: o consumidor filtra as informações recebidas, processando apenas aquilo que lhe interessa. As empresas expõem diversas propagandas e informações sobre os pro- dutos, mas o consumidor processa apenas algumas. • Simplificadora: o consumidor é incapaz de processar todos os dados que percebe. Todas as informações que têm a atenção do consumidor são complexas, porém ape- nas algumas serão percebidas. • Limitada no tempo: é necessário que o consumidor memorize, caso contrário, a infor- mação é logo esquecida. • Cumulativa: o consumidor compreende melhor quando combina os dados com infor- mações já armazenadas anteriormente. Ele se baseia em várias informações e somente após conciliar propagandas, opiniões de terceiros e examinar a imagem do produto é que, cumulativamente, formula uma impressão final. A escolha, a compra e a utilização de um produto são etapas de um processo psicológico, ao passo que a percepção é como o indivíduo vê o mundo. O consumidor valoriza um produto de acordo com suas expectativas e não pelas evidências que ele apresenta. Tais expectativas, em conformidade com os estímulos presentes no cotidiano, é que definem padrões de comportamento de consumo. Fechamento Chegamos ao final do conteúdo, que abordou a motivação como fator de influência no com- portamento do consumidor. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • entender o conceito de personalidade e suas características; • analisar como a percepção influencia no comportamento do consumidor. Referências CANAL PHILOS. Sigmund Freud: Id, Ego, e Superego com Lucila Faerchtein. YouTube, 26 abr. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NAOtHDksToM>. Acesso em: 30 nov. 2016. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin L. Administração de marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Aurélio. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. SOLOMON, Michael R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016. SPARVOLI, Raphael. Lojas apostam nos sentidos e criam experiência de compra, 11 set. 2012. Núcleo de Varejo ESPM. Disponível em: <http://varejo.espm.br/5228/lojas-apostam-nos-sentidos- -e-criam-experiencia-de-compra >. Acesso em: 30 nov. 2016.
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