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Representações da Morte resumo cap1-1

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Representações da Morte resumo cap1 da Kovacs ”Morte e Desenvolvimento Humano”)
A morte pode ser vista como parte do ciclo de vida, o fecho de uma história de vida. O ser humano desde sua infância torna-se consciente de sua morte e por isso ela vai influenciar seu desenvolvimento e seu estilo de vida de maneira profunda.
A morte tradicionalmente é objeto de estudo da religião e da filosofia. Mais recentemente, a partir da década de sessenta, torna-se objeto de estudos psicológicos e sociais.
	Segundo Lidz, pode-se considerar a morte a partir da busca de compreensão da vida de uma pessoa.
	 A Psicanálise tradicional considerou as preocupações com a morte como manifestações das ansiedades de separação ou de castração. E Freud ( 1920, 1933) a creditava que o instinto de morte – Tanatos – atrai as pessoas para a morte e para a cessação de toda a luta. Passou a considerar a luta entre Eros e Tanatos fundamental para entender o comportamento das pessoas.
	
Mudanças de atitudes para com a morte através do ciclo de vida de uma pessoa
A morte com significado e impacto diferentes sobre cada pessoa em diferentes períodos da vida:
crianças pequenas com mais ou menos 5 anos de idade para elas a morte tem a ver com a ansiedade de separação da mãe ou das figuras dos cuidadores. O medo da morte da mãe desperta nas crianças preocupações com a própria morte. É um medo de ficar isolado, desamparado. O alívio de tais ansiedades se dá pela crença na vida após a morte – uma possibilidade de reencontro.
O jovem que vai para a guerra, que é casado e ama a esposa o medo da morte se dá em função do temor de não reencontro com a amada.
A morte é temida em geral; “é a mulher da foice” , que corta a vida.
O medo da morte e sua superação instiga a bravura, a coragem nos homens;
O casamento e a paternidade vão determinar uma preocupação com a morte que transcende a si mesmo o que acontecerá ao cônjuge e aos filhos quando de sua morte; como também os pais podem dar sua vida pelos filhos. Ex: mulher que pela primeira vez sentiu o medo de morrer ou a consciência da morte quando deu à luz ao primeiro filho.
Apesar do sentido de auto-preservação, há homens decididos a ir ao combate e dar a vida pelo grupo; outros que vão à guerra, que consciente ou inconscientemente acreditam que o modo de viver tem prioridade sobre a própria vida; ex., os kamikase.
A atitude diante da morte se modifica com a idade; 
para os velhos ela se torna familiar; como vimos nas entrevistas as pessoas tem medo da rejeição na velhice, de perder a lucidez, de dar trabalho, de se tornarem um peso par os outros, de sofrimento mais do que de morrer. Há idosos que se cansam da vida e desejam sair fora de seu circuito da escolha da vida e da morte
	Somente os seres humanos têm consciência da própria morte e a opção de escolher entre viver ou morrer. “ Morrer, dormir. Dormir, talvez sonhar........(pg. 529 Lidz; Hamlet).
Há situações na vida das pessoas em que a morte pode se tornar tentadora vida com muito sofrimento; mortes de pessoas próximas e significativas.
As diferentes religiões dão significados diferentes para os sentidos de viver e da morte..
Influência da morte sobre as maneiras de viver
As atitudes religiosa ou filosófica que uma pessoa adota, são determinadas em parte pela cultura, pela educação e pela família, como também influenciada pela maior ou menor auto- confiança, ansiedade e segurança, esperança e pessimismo, passividade e agressividade, etc, estabelecidas nos primeiros anos de vida.
	 É universal o desejo de continuidade no futuro, sobretudo em sociedades mais individualistas. As pessoas procuram meios de “trapacear a morte” e algum modo de perpetuar-se seu nome, suas idéias, seu modo de fazer as coisas. As pessoas procuram deixar sua impressão tangível no mundo através do que constróem sejam as pirâmides ou pontes; alguns deixam filhos; outros deixam suas fantasias através de poesias e histórias; outros garantem sua lembrança na posteridade através de suas conquistas, descobertas, contribuições à Ciência, à música, ás Artes. Outras buscam imortalizar-se. Para Lidz “ o grão infinitesimal no Cosmos torna-se parte de um corpo visível e uma força significante”.
	As maneiras de procurar alguma aparência de imortalidade são diversas, mas o modo como os indivíduos lutam por ela nos ajudam a compreender aspectos de seu comportamento. Alguns proclamam em alto e bom som como desejam imortalizar-se ( se perpetuar), e outros praticamente ocultam isso de si mesmos e mesmo aqui tal desejo pode ser detectado por suas ações e por aquilo que mais prezam.
	 A compreensão da mortalidade também influencia o padrão de vida provocando um desejo de lhe dar uma conclusão . O sentido de conclusão da vida pode envolver a finalização de um trabalho importante, por ex., Darcy Ribeiro que fugiu do hospital para terminar de escrever seu livro, que acabou sendo o penúltimo de sua obra; ou uma tarefa mais geral da vida, por ex., construir uma herança para os filhos ou completar uma investigação científica à qual se dedicou grande parte de sua vida. O sentido de conclusão também pode se referir a conseguir viver de modo tranqüilo os últimos anos de vida, numa atitude mais contemplativa e gozando os frutos dos esforços de toda uma vida, ou terminar conscientemente uma vida como se fosse uma novela.
	O sentido de mortalidade proporciona uma delimitação que dirige um indivíduo para objetivos específicos e limitados, contrariando a difusão de esforços desenfreados. A morte funciona como um lembrete às limitações de cada pessoa, contra as quais podem lutar mas com as quais acabam tendo que concordar. Pode-se dizer que a vida é provida com uma moldura pela morte.
	Para Lidz, a morte não influencia o modo como é seguido o curso da vida, mas ela empresta uma qualidade decisiva ao significado dos fatos, aguça nossa apreciação do transitório e da beleza que gostaríamos de deter. Talvez, sobretudo aumente o valor daqueles a quem amamos, por causa de sua mortalidade. Requer de cada um a disposição de arriscar-se à dor ao se lançar em um apego significante e de envolvimento afetivo com outra pessoa, mas também aumenta o valor de tais relacionamentos.
	 Para os que chegam à velhice avançada e adquiriram alguma sabedoria no processo, a morte muitas vezes assume um significado como a própria conseqüência da vida. Elas tiveram sua vez, agora é o momento dos outros tomarem seu lugar. Os idosos vão se sentindo cada vez mais solitários quando separados pela morte daqueles que lhes foram mais significativos. Assim, a morte já não é mais percebida como uma solidão final, mas como um final da solidão, ou porque acreditam que se reunirão às outras pessoas queridas, ou porque ela traz um fim à toda a experiência.
	Entretanto, na maior parte das circunstâncias, a maior parte das pessoas não deseja morrer, mas agarrar-se à vida como seu bem mais precioso. Pode-se ver como as pessoas em geral, se apegam à vida em situações de extremo sofrimento , enquanto houver a mínima esperança.
	 Então são os que jamais viveram os que têm mais medo de morrer, ou porque proibidos de experimentar a vida, ou porque não a viveram devido às suas limitações neuróticas( Lidz)
 “ Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz”. Clarice Lispector
Morte no Processo de Desenvolvimento Humano: a criança e o adolescente diante da morte
Inicialmente diferenciar perdas de luto.
Aberastury coloca 3 questões:
a criança tem uma representação da morte, como a expressa e que significado dá a ela?
Ela percebe o perigo da morte?
Percebe a morte de seus entes queridos?
As questões da origem da vida e da morte estão presentes na criança. Com relação à morte de alguém próximo a criança tem capacidade de observação do que acontece na família. Ex. de uma criança de quem a morte do avô foi ocultada, ela percebeu um clima/ambiente “esquisito” em casa.
Quando os adultos negamà criança a informação da morte ocorrida e dão a desculpa que querem proteger a criança,isto significa que eles têm dificuldade de lidar com a morte. Negar à criança a ocorrência da morte pode ocasionar reações que se manifestam via sintomas na criança. A criança poderá sentir-se desamparada e insegura fazendo-a sentir-se sozinha. O adulto deveria ajudar a criança a falar sobre sua dor, compartilhar com ela o falar e os sentimentos decorrentes desta perda, de modo a auxiliá-la a fazer o luto pela perda. Terapeutas psicanalíticos referem-se a crianças a quem a morte foi ocultada que em ludoterapia tais fatos aparecem em suas brincadeiras e jogos. Ex. esconde-esconde; e outros em que a morte é vivenciada enquanto separação. Esta é a primeira vivência de morte da criança, quando ela se vê separada da mãe, na ansiedade do 8o mês.
Negar a ela a morte pode desencadear sentimentos de falta de confiança nela ou então nos adultos.
Às vezes, quando a criança não consegue realizar a separação da pessoa perdida, para Aberastury isto pode gerar micro-suicídios. Como atos auto destrutivos em pequenos acidentes, quedas machucados e que podem passar desapercebidos pelos adultos.
Às vezes a criança pode sentir culpa pela morte do falecido e pode aparecer o desejo de se reunir ao falecido, como forma de reparar seus erros. Isto pode gerar sintomas como perturbações fisiológicas, dificuldades de alimentação ou distúrbios de relacionamento.
No caso da morte de um irmão podem ocorrer sentimentos de onipotência ou faze-la sentir-se obrigada a preencher o lugar deste irmão.
Flores pesquisa crianças com doenças terminais e verifica:
Temores diante da morte aparecem como sensação de aniquilamento; medo da morte, medo de sofrimento.
Pesquisa sobre representações da morte:
crianças até 5 anos: 
morte percebida como um sono, como uma separação temporária e gradual, que é reversível. Não é universal. Coisas do mundo animado ou não, orgânico e inorgânico.
dos 5 aos 9 anos a morte é personificada como alguém, uma pessoa que vem busca-la a criança já tem respostas lógicas de causalidade para ela a morte já percebida como irreversível.
Dos dez anos em diante período das operações formais morte percebida como irreversível e universal. A morte já é um conceito processo relativo ao corpo.
O adolescente percebe conceitualmente a morte como definitiva e universal, mas emocionalmente está longe disso, pois funciona de modo onipotente, está no auge da vida e se crê imortal. Assim, desenvolve atividade que muitas vezes leva ao limite desafiando a própria morte.
Processos de separação, perdas e luto (resumo cap. 9 da Kovács “Morte e Desenvolvimento Humano. S. Paulo, Casa do Psicólogo)
Raimbault (1979) - o enlutado tem que desidentificar-se do falecido e fazer o desinvestimento da libido do objeto perdido. O luto termina quando o enlutado fez um significado interno da pessoa perdida e esta ausência pode ser preenchida por novas relações.
Segundo o autor para a realização do luto :
 desligamento dos sentimentos em relação ao morto;
 aceitação da morte inevitável;
 encontrar substituto para a libido.
 No luto normal ocorrem: 
raiva
desânimo
desinteresse pelo mundo externo
é um teste de realidade.
Para Bowlby o luto é um conjunto de reações diante da morte:
-1a. fase: negação da morte ; choque , que pode se manifestar sob a forma de reações agressivas “raiva de Deus”, “raiva da vida”, ou de desespero.
-2a.fase: desejo de retorno da pessoa perdida. Há dois processos contraditórios: por um lado a realidade da perda, com todos os sentimentos que a acompanham, e por outro a esperança do reencontro. Enquanto permanecer a raiva é porque a perda não foi aceita.
-3a fase: desorganização e desespero a constatação de que a perda foi realmente definitiva geralmente é acompanhada por profunda tristeza, podendo surgir a sensação que nada mais tem valor, às vezes aparecendo um desejo de morte pois a vida sem o outro perdeu o sentido.Podem ocorrer atuações como se desfazer rapidamente das roupas e coisas do morto.
-4a fase: Reorganização na própria vida fase de aceitação da perda e a constatação que nova vida precisa ser começada. Alguns precisam desenvolver novas tarefas e habilidades que o falecido realizava. A saudade e a tristeza podem estar presentes tornando o processo de luto gradual e nunca totalmente concluído (pg.153).
Em algumas fases do processo podem ocorrer identificações com o falecido, i.é., o enlutado se percebe fazendo coisas que o falecido fazia ou gostava. Se tais aspectos não se tornarem compulsivos farão parte do luto normal.
O relacionamento que houve entre o falecido e o enlutado dificultará o processo de luto se ele tiver sido carregado de hostilidade, ressentimento ou mágoa, pois geralmente podem manter o enlutado com muita culpa.O processo de luto implicará na modificação do mundo interno e suas representações porque mudou o mundo externo.
O luto patológico é quando a pessoa sente que lhe foi “metade arrancada de mim”.
No luto o mundo ficou vazio. Na melancolia o enlutado sente que seu ego esvaziou.
Luto na melancolia o desinvestimento da libido sobre o objeto perdido é investido internamente enquanto vazio, de modo que o indivíduo fica cheio de vazio.Aqui ocorre diminuição profunda da auto-estima, um empobrecimento do Ego. Para Freud, no luto o mundo se torna vazio, na melancolia é o ego, um ego desprezível, que deve ser punido, por ex., com sintomas de insônia e anorexia.Ocorre uma identificação do ego com o objeto abandonado. Para Freud “uma sombra caiu sobre o Ego e uma perda objetal se transforma na perda do Ego”.
Nos processos de separação, desquite, os sentimentos de amor e ódio se alternam. Este ódio que será dirigido ao outro é um processo de vingança contra o objeto perdido.
A sublimação e a busca de novas atividades são formas de lidar com a dor.
No processo normal de luto o sujeito reintrojeta e reinstala a pessoa perdida.
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