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1 APOSTILA DE LÓGICA JURÍDICA. 2018 - 1 FACULDADES INTEGRADAS CAMPOS SALLES Prof. Dr. Fábio Cristiano de Moraes Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2776246209622746 2 Manual do aluno INTRODUÇÃO Toda e qualquer dificuldade que você tiver durante o curso (naturalmente apenas aquelas que têm relação com a sala de aula) deverá ser sanada, em primeiro lugar, com o professor. Sempre que houver qualquer problema em sala de aula não deixe de me procurar para conversarmos, pois só podemos construir um ensino superior de qualidade se estabelecermos uma relação de confiança e um diálogo sincero e franco entre professor e aluno. Estarei sempre aberto para ouvi-lo. Devo lhe advertir que nossas relações serão sempre mediadas pelos documentos institucionais. Dentre eles, o mais importante para nós, é o manual do aluno. Por isso, gostaria de destacar algumas partes do manual para lhe chamar atenção sobre estas regras. DA VERIFICAÇÃO DO RENDIMENTO ESCOLAR 2.1. Da sistemática de avaliação 2.1.1. A verificação do rendimento escolar, feita por disciplina, compreenderá a avaliação do aproveitamento e a apuração da assiduidade. 2.1.2. Na avaliação do aproveitamento deverá ser utilizado ao final de cada trimestre, no mínimo, um instrumento de avaliação elaborado pelo professor sob supervisão do Coordenador do Curso. 2.1.3. A frequência às aulas e demais atividades acadêmicas, permitida apenas a matriculados, é obrigatória. 2.1.4. A apuração e o registro de frequência e a atribuição de notas ao aluno são de responsabilidade exclusiva e indeclinável do professor. 2.1.5. A avaliação do desempenho escolar é feita por disciplina, incidindo sobre a frequência (mínima de 75%) e o aproveitamento. 2.1.6. A frequência às aulas e às demais atividades escolares é obrigatória, inexistindo o abono de faltas. 2.1.7. Nos diversos níveis de aferição do aproveitamento escolar, serão atribuídas notas na escala de 0 (zero) a 10 (dez), permitindo-se a fração de cinco décimos. 2.1.8. Os critérios de arredondamento das notas são os seguintes: notas trimestrais – a critério do professor; média semestral – será considerado apenas o primeiro dígito após a vírgula (décimo). 2.3. Do Cálculo da Média Semestral O cálculo da média é feito da seguinte forma: (Prova 1 + Prova 2 + pontos obtidos na Avaliação Multidisciplinar) dividido por 2 2.4. Da Promoção Será considerado aprovado na disciplina o aluno que obtiver nota de aproveitamento final do semestre igual ou superior a 6 (seis) e frequência mínima de 75% (setenta e cinco por cento). 3 2.5. Da Dependência 2.5.1. O aluno de curso de graduação que não tiver alcançado a frequência escolar mínima, ou a média final exigida, repetirá a disciplina sob regime de dependência. 2.5.2. O aluno aprovado em todas as disciplinas do período cursado é promovido ao semestre letivo seguinte, admitindo-se, ainda, a promoção para o período subsequente quando apresentar até 4 (quatro) disciplinas pendentes, independentemente do semestre letivo a que se refiram as dependências. 2.5.3. O aluno será considerado reprovado, ficando retido no semestre letivo para cursar somente as disciplinas em dependência, quando ultrapassar os limites dos itens acima. 2.5.4. Poderão organizar-se classes ou turmas especiais, sob regime de dependência, em período não necessariamente semestral desde que preservada a qualidade de ensino. 2.7. Das Provas Substitutivas 2.7.1. O aluno poderá requerer na Secretaria, no período estabelecido no Calendário Escolar, uma única prova substitutiva de cada disciplina, em lugar daquela(s) não efetuada(s), mediante pagamento da respectiva taxa. Existe a possibilidade de o aluno substituir a nota mais baixa do semestre. 2.7.2. O requerimento poderá ser feito por terceiros, desde que preenchido correta e totalmente. 2.7.3. O conteúdo das provas será estabelecido pelo professor e estas realizadas nas datas fixadas no Calendário Escolar. 2.7.4. Não haverá substitutivas das próprias substitutivas. 2.8. Da vista às Provas, da Revisão e alteração de notas. 2.8.1. É importante, do ponto de vista didático, o diálogo entre aluno e professor quanto aos resultados da verificação da aprendizagem. O pedido de revisão deverá ser formalizado quando esse diálogo, após mediação do Coordenador do Curso, se necessário, tornar impossível dirimir a dúvida levantada. 2.8.2. Assim, não sendo possível acordo sobre o questionado, o aluno poderá recorrer, por escrito, à Direção Geral das Faculdades. Para tanto, as argumentações deverão ser objetivas. Alegação de simples insatisfação do aluno com o resultado não ensejará curso à tramitação de requerimento de revisão de prova. Os motivos apontados deverão, exemplificativamente, enquadrar-se entre outras, as seguintes hipóteses: I. não coincidência entre a nota atribuída e o gabarito da correção; II. engano na identificação da autoria da prova; III. incoincidência entre resposta rejeitada pelo professor e explicação dada em sala de aula ou consignada em livro-texto; IV. tratamento diferente dado para respostas idênticas dadas por alunos da mesma turma. DA FREQUÊNCIA 3.1. Do Limite de Faltas O aluno que não obtiver, em qualquer disciplina, frequência mínima de 75% (setenta e cinco por cento), qualquer que seja a nota final de aproveitamento, será considerado reprovado.1 1 Disponível no site da faculdade. 4 Sobre a avaliação Como estudar. Estratégia e métodos Peço encarecidamente que leia mais uma vez estas regras que são fundamentais para vivência do aluno na faculdade. Nossas relações, embora cordiais, não poderão ser contrárias as normas estabelecidas nesta instituição. Entendo perfeitamente que não gostamos de ser avaliados, mas não existe atividade humana que não passe por verificação. A avaliação tem como finalidade, ao tomar o pulso da situação, dar um sinal de nossa caminhada até aquele momento. O seu resultado deverá nos reorientar para os objetivos, caso estejamos longe deles, ou confirmar o caminho traçado. Sendo assim, embora tenhamos um medo - em alguns casos até terror psicológico - não é possível desenvolver qualquer atividade sem avaliá-la, sob pena de insistirmos no erro. As nossas avaliações serão rigorosamente de acordo com calendário acadêmico. Por esta razão, as datas já estão previamente estabelecidas no início do ano. O conteúdo da avaliação será o trecho da apostila trabalhado até a véspera da prova. Nossa avaliação, será sempre individual e sem consulta. Nela, objetivo é demonstrar até que ponto se apropriou das discussões desenvolvidas em sala de aula. Muitos dos problemas de aprendizagem existentes entre os estudantes são explicados pela ausência ou pelo uso inadequado de métodos de estudo e pela inexistência de hábitos de trabalho que favoreçam a aprendizagem2. Além disso, muitos alunos manifestam atitudes negativas em face do estudo, uma enorme desmotivação para as atividades de estudo, dedicando-lhes muito pouco tempo. Existem 4 elementos que tornam a aprendizagem mais suave e prazerosa e, quando aprimorados, os frutos são colhidos mais rapidamente e os resultados logo aparecem. 1. Concentração: ter capacidade de concentração (atenção) é essencial para colher resultados. 2. Memória: é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações disponíveis no cérebro. 3. Leitura efetiva: o bom leitor manifesto espírito crítico perante aquilo que lê. A leituraefetiva é feita com a inteligência e não só com os olhos. 2 Todo crédito seja dado, por essas orientações, à Golois, que elaborou esse texto, com leves adaptações do professor. 5 4. Motivação: um estudante motivado concentra-se no trabalho e não se dispersa. Lembre-se sempre: “para que você está aqui?”; “saio da sua casa, para quê?” Alguns problemas de aprendizagem podem ser resolvidos com a utilização de estratégias e de métodos adequados. A estratégia e o método são indissociáveis. 1. Estratégia: envolve tudo que precede o estudo. Exemplo: elaboração de uma grade de estudos e escolha do local. 2. Método: é o “como estudar”. Exemplo: fazer resumo, gravar o áudio das aulas.... 1. A Estratégia a) Elaboração da Grade de Estudo O estudante deve conciliar trabalho, atividades de lazer, convívio familiar e outros com o tempo dedicado aos estudos. É necessário que se estabeleça uma escala de prioridades, fazendo uma gestão racional do tempo, dedicando a cada tarefa o tempo necessário. No início do processo, é aconselhável que se monte uma grade de estudos com o auxílio de EDUCADORES (pedagogos, psicólogos, professores e orientadores educacionais). Converse com o professor. b) Local de Estudo O ideal é que exista um local destinado apenas ao estudo. Deve-se identificar quais os estímulos do meio ambiente que podem contribuir para perturbar a sua atenção e, em seguida, imaginar estratégias para eliminá-los ou evitá-los. Deve-se organizar o seu local de estudo tendo em conta os seguintes aspectos: I. estudar num local agradável (mas não excessivamente confortável) e com boa iluminação; II. ter todo o material necessário nesse local (evita interrupções); III. retirar do local de trabalho (ou desligar) tudo aquilo que puder servir de distração (ipod, celular, TV, computador...); DESCONECTE DAS REDES SOCIAIS PELO TEMPO DO ESTUDO, POR FAVOR IV. não ficar irritado devido a barulhos suportáveis. 2. O Método A maior verdade que aprendi foi: “Todas as pessoas são capazes de aprender; o que difere uma pessoa da outra é como cada uma aprende.”. Métodos de estudos são técnicas que otimizam a aprendizagem, porém, variam de uma pessoa para outra. O ideal é cada pessoa criar seu próprio método de estudo. É muito importante que se pense sobre isso e que se reconsidere métodos que não estão sendo adequados. Um método eficiente de estudo desenvolvido durante a vida escolar será extremamente proveitoso durante toda a sua vida profissional. Existem diversos métodos de estudos consagrados ao longo dos anos, que podem ser úteis ou não para você. Todos esses métodos podem ser testados, modificados e aprimorados, de acordo com a sua necessidade e individualidade. I. Estudar fazendo resumo. 6 II. Estudar grifando as principais ideias. III. Estudar lendo em voz alta. IV. Estudar e pedir alguém para tomar a lição. V. Gravar o áudio das aulas e ouvi-las posteriormente. VI. Estudar em grupos. VII. Estudar escrevendo cópias do resumo. VIII. Estudar consultando várias fontes e comparando-as. IX. Outros. Muitas vezes, os alunos nos perguntam: “Professor, por onde e como devo começar para melhorar a minha aprendizagem?” Resposta: o ponto de partida é sempre a atitude na sala de aula. Contrato didático: das responsabilidades Deveres Direitos Tratar de forma cordial, afetiva e igualitária colegas, colaboradores e professores, buscando uma convivência harmoniosa. Receber tratamento cordial, afetivo e igualitário por parte do professor Cumprir com assiduidade e pontualidade todas as tarefas e práticas educacionais, além de frequentar as aulas, pontual e assiduamente, durante todo o ano letivo; Ser estimulado a expandir todo o seu potencial individual, sua autonomia, objetivando seu desenvolvimento emocional, social e intelectual; Zelar pela conservação e limpeza do prédio. Receber do professor recursos que o auxiliem na sua construção com sujeito criativo e pensante, fortalecendo os vínculos de relacionamento com professores. Honrar sempre o bom nome (quase secular) da faculdade; Ser avaliado, contínua e permanentemente, em diferentes aspectos e comportamentos, sempre com vista a seu melhor desempenho; Expressar-se por meio de atitudes e vocabulário condizente com as normas sociais e com o ambiente educacional; Expor suas dúvidas ao professor e receber os devidos esclarecimentos; Ocupa-se em sala de aula somente com as atividades inerentes ao ambiente. Por isso, durante as aulas, usar apenas em caso de extrema necessidade os aparelhos eletrônicos de pessoal; Estar em contato com propostas educativas que desenvolvam o saber pensar, valorizando o espírito cooperativo dentro do trabalho de equipe. Inscrever-se, na secretária da faculdade, para a prova de substitutiva, no período do calendário; Ter acesso à prova substitutivas, respeitando o prazo limite do calendário escolar. 7 Plano de Ensino O que você aprenderá neste curso? P lan o d e en sin o PLANO DE ENSINO IDENTIFICAÇÃO: Curso: Direito Disciplina – Lógica Jurídica Semestre - 1º semestre Docente: Prof. Dr. Fábio Cristiano de Moraes JUSTIFICATIVA: A Lógica Jurídica está circunscrita no horizonte das disciplinas propedêuticas, cuja contribuição é decisiva na construção de um sólido arcabouço teórico-analítico e para o enfrentamento das disciplinas posteriores do Direito, além do desenvolvimento da capacidade argumentativa escrita e oral do futuro jurista. OBJETIVOS: Considerações Introdutórias sobre Lógica. Conceitos Fundamentais de Lógica. As três leis do pensamento. Proposições Categóricas. Silogismos. Falácias de Relevância. Falácias de Ambiguidade. Interfaces entre a Lógica e o Direito. EMENTA DA DISCIPLINA: Considerações Introdutórias sobre Lógica. Conceitos Fundamentais de Lógica. As três leis do pensamento. Proposições Categóricas. Silogismos. Falácias de Relevância. Falácias de Ambiguidade. Interfaces entre a Lógica e o Direito.. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: Unidade 1 – Introdução à lógica 1. O que é Lógica? 2. Distinção entre lógica e retórica. Unidade 2 – O pensar correto 1. Princípios do pensamento. 2. Relação entre antecedentes e conseguintes 3. Erro de inferência: paralogismo vs falácia (algumas apenas) Unidade 3 – Silogismo 1. Verdade vs validade 2. Linguagem natural e formal. 3. Elementos fundamentais do Silogismo 4. Dedução e indução Unidade 4 – Regras de Inferência. 1. Modus ponens 2. Modus tollens Unidade 5 – Lógica e direito. 1. Argumentação Jurídica 2. Uso do silogismo e da inferência na elaboração de Petições. MODOS OPERACIONAIS: 8 Aulas expositivas, práticas, trabalhos em grupo, lista de exercícios. SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO: Prova, 70% do valor da média, mais listas de exercício e resolução de exercício no quadro, total destas atividades, 30% da média. Critérios de avaliação: - demonstrar compreensão e domínio das teorias da argumentação - aplicação prática da argumentação nos debates jurídicos - demonstrar habilidades e competências argumentativas, inclusive a capacidade de construir e desconstruir argumentos BIBLIOGRAFIA: Livros: 1 - COPI, Irwing. Introdução à Lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 2 - NASCIMENTO, Edmundo Dantès. Lógica Aplicada à Advocacia - Técnica de Persuasão. 6ª ed. São Paulo : Saraiva, 2013. 3 – ALVES, Alaôr Caffé. Lógica – Pensamento Formal e Argumentação. 5ª ed. – São Paulo: Quartier Latin, 2011. LIVROS, FILMES, PALESTRAS E EVENTOS PARA ATIVIDADES COMPLEMENTARES: Aula 01: Estruturas Lógicas [Blog dos Concursos],disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JZzQux7ckWc Aula 02: Exercícios de Estruturas Lógicas [Blog dos Concursos] disponível em https://www.youtube.com/watch?v=XaBTnly-_ds Aula 03: Tabela Verdade [Blog dos Concursos], disponível em https://www.youtube.com/watch?v=LbrmjS6hm2Q Aula 04: Exercício de Tabela Verdade [Blog dos Concursos], Aula 05: Equivalência Lógica [Blog dos Concursos], disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ggsPWSu9Yi8 Aula 06: Exercício de Equivalência Lógica [Blog dos Concursos], disponível em https://www.youtube.com/watch?v=enRNeX6bo5I Aula 07: Diagramas Lógicos – Blog dos Concursos, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=mIyeS-tSJ1M Aula 08: Resolução de questões sobre Diagramas Lógicos, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rrt0SZ5uV3c Aula 09: Negação de Proposição [Blog dos Concursos], disponível em https://www.youtube.com/watch?v=FFwAfAApxeI Aula 10: Exercício de "Negação de Proposição [ Blog dos Concursos], disponível em https://www.youtube.com/watch?v=-jEd8xxQNWw Aula 11: "Argumento", disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_KEtktd60M8 Aula 12: Resolução de questões sobre Argumento [Blog dos Concursos], disponível em https://www.youtube.com/watch?v=pGwNNd_pO7I Aula 13 Dá a César o que é de César, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=OcBPFExt5D8 Aula 14 Dá a Cesar o que é de César Resolução de questões, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=gOJtRF6eg6s DISTRIBUIÇÃO DO TEMPO Atividades para trabalhos domiciliares: São Paulo, 29 de janeiro de 2018 UNIDADE ATIVIDADES A SEREM REALIZADAS PELO ALUNO Para o 1° Bi Lista de Exercício do capítulo 1 (p. 43-48) do livro Introdução à lógica, de Paulo Roberto Margutti Pinto. Procurar o professor da disciplina para ter acesso ao material. Para o 2° Bi Lista de Exercício do capítulo 2 (p. 81-87) do livro Introdução à lógica, de Paulo Roberto Margutti Pinto. Procurar o professor da disciplina para ter acesso ao material. 9 Introdução à Lógica Saber pensar. In tro d u ção AMOR É UMA FALÁCIA Adaptação de um texto de Max Shulman Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto – era tudo isso – e acreditem - modesto. Tinha o cérebro poderoso como um motor de Fórmula 1, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - apenas 18 anos. Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Peter Johnson. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma vaca. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar-se a alguma idiotice só porque os outros a seguem, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez. Peter, no entanto, não pensava assim. Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: Apendicite! - Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico. - Marmota... - balbuciou ele. - Marmota? - disse eu interrompendo minha corrida. - Quero um casaco de pele de marmota - gemeu ele. Percebi que o seu problema não era físico, mas mental. - Por que você quer um casaco de pele de marmota? - Eu devia ter adivinhado - gritou ele, dando tapas na própria cabeça. - Devia ter adivinhado que esta moda ia voltar. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar um casaco de pele de marmota! - Quer dizer - perguntei incrédulo - que estão mesmo usando casacos de pele de marmota outra vez? - Todas as Pessoas Importantes da Universidade estão. Onde você tem andado? - Na biblioteca, lógico! - respondi, citando um lugar não muito frequentado pelas Pessoas Importantes da Universidade. Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto. - Preciso conseguir um casaco de pele de marmota. - Preciso! - Por que, Peter? Veja a coisa de maneira racional. Pense! Casacos de pele de marmota são anti- higiênicos. Soltam pêlos. Cheiram mal. Juntam ácaros. Juntam pó. São pesados, são feios, são... - Você não compreende - interrompeu ele com impaciência. - É o que todos estão usando. Você não quer andar na moda? - Não - respondi sinceramente. - Pois eu, sim! - declarou ele. - Daria tudo para ter um casaco de pele de marmota. Tudo! Aquele instrumento de precisão, meu poderoso cérebro, começou a funcionar a todo vapor. - Tudo? - perguntei, examinando seu rosto com os olhos semicerrados. - Tudo! - confirmou ele, em um tom dramático. 10 Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar um casaco de pele de marmota. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora esquecido dentro de um baú, no porão de nossa casa. E, também por acaso, Peter tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua pequena, Polly Stein. Eu há muito desejava Polly Stein. Apresso-me a esclarecer que meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvidas, despertava paixões. Era daquelas que decretavam feriado nacional por onde quer que passasse. Todos paravam para vê-la passar. Até mesmo (ou principalmente) as mulheres, se corroendo de inveja... mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais. Cursava eu o primeiro ano de Direito. Dali a algum tempo estaria me iniciando na profissão. Eu sabia muito bem a importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo minhas observações, eram quase sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly preenchia perfeitamente todos esses requisitos. Ela era linda. Graciosa também era. Por graciosa, quero dizer, cheia de graças sociais. Finíssima! Tinha o porte ereto, a naturalidade no andar e a elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. À mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no barzinho da escola comendo a especialidade da casa - um sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos. Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o oposto. Mas eu confiava que, sob minha tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos, valia a pena tentar. Afinal de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita. - Peter! - perguntei - você ama Polly Stein? - Acho-a uma boa garota - respondeu - mas não sei se chamaria isso de amor. Por quê? - Você - continuei - tem alguma espécie de arranjo formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um com o outro? - Não. Ficamos juntos, quase sempre, mas saímos os dois com outros também. Por quê? - Existe alguém - perguntei - algum outro homem de quem ela goste de maneira especial? - Que eu saiba, não. Por quê? - Fiz que sim, com a cabeça, satisfeito. - Em outras palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isto? - Acho que sim, bolas. Que papo estranho é esse? - Nada, nada - respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário. - Onde é que você vai? - quis saber Peter. - Passar o fim-de-semana em casa. Atirei algumas roupas dentro da mala. - Escute - disse Peter, apegando-se com força ao meu braço - em casa, será que você não poderia pedir dinheiro ao seu pai, e me emprestar para comprar um casaco de pelo de marmota? - Posso até fazer mais do queisso - respondi, piscando o olho misteriosamente. Volto na segunda. Fechei a mala e saí. O final de semana demorou a passar. Eu estava ansioso para encontrar Peter na segunda. - Olhe - disse a Peter, ao voltar na segunda-feira pela manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara em seu tempo de universidade. - Santo Pai! - exclamou Peter, com reverência. Mergulhou as mãos no pelo do casaco, e depois o rosto. - Santo Pai! - repetiu umas quinze ou vinte vezes. - Você gostaria de ficar com ele? - perguntei. - Sim, sim! - gritou ele, apertando a coisa sebosa contra o peito. Em seguida, seus olhos tomaram um ar precavido. - O que você quer em troca? 11 - A sua namorada - disse eu, não desperdiçando as palavras. - Polly? - sussurrou Peter, horrorizado. - Você quer a Polly? - Isto mesmo... Ele jogou o casaco para longe. - Nunca! - declarou resoluto. Dei de ombros. - OK. Se você não quer andar na moda, o problema é seu... Sentei numa cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Peter, com o rabo dos olhos. Aquele era um homem partido em dois. Primeiro olhava para o casaco, com a expressão de uma criança de rua à porta de um Mc Donalds. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois, voltava a olhar para o casaco, com uma expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois, virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o desejo aumentando, a resolução “despencando”. Finalmente não se virou mais; ficou olhando para o casaco com pura lascívia. O desejo falara mais alto. - Não é como se eu estivesse apaixonado por Polly - balbuciou. - ou mesmo a namorando, ou coisa parecida. - Isso mesmo - murmurei. - Afinal, Polly significa o que para mim, ou eu para ela? - Nada - respondi. - Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco, só isso... ficamos, às vezes. - Experimente o casaco - disse eu. Ele obedeceu. O casaco cobria as orelhas e caía até os sapatos. Ele parecia um monte de marmotas mortas. Pensando bem, não tinha jeito das marmotas estarem vivas. - Serve perfeitamente. - disse, contente. Levantei da cadeira e perguntei, estendendo a mão: - Negócio feito? - Feito - disse ele engolindo em seco e apertando a minha mão. Saí com Polly pela primeira vez na noite seguinte. O primeiro programa teria o caráter de uma pesquisa preparatória. Eu desejava avaliar o trabalho que me esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei- a para um jantar. - Puxa, que jantar bacana! - disse ela, quando saímos do restaurante. Fomos ao cinema. - Puxa, que filme bacana! - disse ela, quando saímos do cinema. Levei-a para casa. - Puxa, foi um programa bacana. - disse ela ao me desejar boa noite. Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A ignorância daquela moça parecia aterradora. E não seria o bastante apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento a que eu me propusera era simplesmente gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Peter. Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos, no olhar de inveja que ela despertava nos homens e mulheres quando “desfilava” pelos corredores da universidade, na maneira como entrava numa sala ou segurava uma faca e um garfo, e aí, decidi tentar novamente. Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece, que como estudante de Direito, eu frequentava na ocasião aulas de Filosofia e de Metodologia Científica, e, portanto, tinha tudo na ponta da língua. - Polly - disse eu, quando a fui buscar para o nosso segundo programa. Esta noite iremos até o parque conversar. - Oh, que bacana! - respondeu ela. Uma coisa deve ser dita em favor da moça: seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para tudo. Fomos até o parque, o local de encontros da Universidade, nos sentamos debaixo de um velho carvalho, e ela me olhou cheia de expectativa. - Sobre o que vamos conversar? - perguntou. - Sobre Lógica. Ela pensou durante alguns segundos e depois sentenciou: - Bacana! Bacana! 12 - A Lógica - comecei, limpando a garganta - é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o que vamos abordar hoje. - Bacana! - exclamou ela, batendo as palmas de alegria, com a mesma expressão de perspicácia que se esperaria de uma foca diante da possibilidade de ganhar um peixe. Fiz uma careta de desânimo, mas segui em frente, com coragem. - Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter. - Vamos - animou-se ela, piscando os olhos com animação. - Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar. - Eu estou de acordo - disse Polly, fervorosamente. - Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o corpo e tudo. - Polly - disse eu, com ternura - esse argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas têm ordens de seus médicos para não se exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom pra maioria das pessoas. Senão, está se cometendo um Dicto Simpliciter. Compreendeu? - Não - confessou ela. - Mas isto é bacana. Quero mais. Quero mais! Fala! Fala! - Será melhor se você parar de puxar a manga do meu casaco - disse eu e, quando ela parou, continuei... - Em seguida, abordaremos uma falácia muito comum chamada Generalização Apressada. Ouça com atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Peter Johnson não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na Universidade sabe falar francês. - É mesmo? - espantou-se Polly.- Ninguém? Nem uma pessoa? Reprimi a minha impaciência... - É uma falácia, Polly. Essa generalização foi feita de maneira apressada. Não há exemplos suficientes para justificar essa conclusão. Ela sorriu, encantadora... mas que cara de retardada - pensei. - Você conhece outras falácias? - perguntou ela, animada. - Isto é até melhor do que dançar! - Esforcei-me por conter uma onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com aquela moça. Absolutamente nada! Mas não sou outra coisa senão persistente. Quase teimoso. Continuei ... - A seguir, vem o Post-Hoc. Ouça: não vamos levar Bill conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto, começa a chover. - Eu conheço uma pessoa exatamente assim. - exclamou Polly. Uma moça da minha cidade, Eula Becker. Nunca falha. Toda a vez que ela vai junto a um piquenique... - Polly, interrompi com energia. – Isso é uma falácia. Não é Eula Becker que causa a chuva. Ela não tem nada a ver com a chuva. Você estará incorrendo em Post-Hoc se puser a culpa na Eula Becker. - Nunca mais farei isso. - prometeu ela contrita. - você está bravo comigo? - Não, Polly. - suspirei - não estou bravo. Talvez fosse mais fácil ensinar Lógica a um chimpanzé – pensei... - Então conte outra falácia – pediu Polly. - Muito bem. Vamos experimentar as Premissas Contraditórias. Se Deus pode fazer qualquer coisa, então pode criar uma pedra tão pesada que Ele mesmo não conseguirá levantar! - É claro. - respondeu ela imediatamente. - Mas, se Ele pode fazer tudo, então Ele também pode levantar a pedra - exclamei. - É mesmo - disse ela pensativa. - Bem, então, acho que Ele não pode fazer a tal pedra. - Mas Ele pode fazer tudo - lembrei-lhe. Ela coçou sua cabeça linda e vazia. Aquele cérebro poderia ser vendido como “Zero Quilômetros”... jamais fora usado! - Estou confusa - admitiu. 13 - É claro que está. Quando as premissas de um argumentose contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível. Compreendeu? - Não – mas conte outra destas histórias bacanas. Estou adorando! - disse Polly entusiasmada. Consultei o relógio. - Acho melhor pararmos por aqui. Levarei você para casa, e lá você pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã à noite. Depositei-a no dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente bacana, e voltei completamente desanimado para o meu quarto. Peter roncava sobre sua cama, com o casaco de pele de marmota encolhido a seus pés como um enorme animal cabeludo. Por alguns segundos, brinquei com a idéia de acordá-lo e dizer que podia ter sua namorada de volta. Era evidente que meu projeto estava condenado ao fracasso. Aquela moça tinha, simplesmente, uma cabeça totalmente à prova de lógica. Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido, que era a mente de Polly, algumas “brasas” de inteligência ainda estivessem vivas? Talvez, de alguma maneira, eu ainda conseguisse abaná-las até que flamejassem... As perspectivas não eram das mais animadoras, mas acabei decidindo e tentei outra vez. Sentado sob o mesmo carvalho, na noite seguinte, disse: - Nossa primeira falácia desta noite se chama Ad Misericordiam. Ela estremeceu de emoção. - Ouça com atenção - comecei. - Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais são as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e seis filhos em casa, que a mulher é aleijada, as crianças não têm o que comer, não têm o que vestir, nem o que calçar, a casa não tem camas, não há carvão no porão e o inverno se aproxima. Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de Polly. - Isso é horrível, horrível! – soluçou, quase chorando. - É horrível - concordei - mas não é argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre suas qualificações. Em vez disso, tentou despertar a sua compaixão. Cometeu a falácia do Ad Misericordiam. Compreendeu? - Você tem um lenço? - pediu ela, entre soluços. Dei-lhe o lenço e fiz o possível para não gritar de desespero, enquanto ela enxugava os olhos. - A seguir - disse, controlando o tom da minha voz - discutiremos a Falsa Analogia. Eis um exemplo: deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante as provas. Afinal, os cirurgiões levam radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas e projetos que os orientam na construção de uma casa. Por que, então, não deixar que os alunos recorram a seus livros durante uma prova? - Pois olhe - disse ela entusiasmada - esta é a idéia mais bacana que eu já ouvi na minha vida! Você é um gênio! - Polly - disse eu com impaciência - o argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo testes para ver o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas. Não tem jeito de comparar uma situação com a outra, entendeu? - Continuo achando a ideia bacana. - disse Polly. - Bolas! - murmurei. E prossegui, persistente (fazendo uma meia careta) . A seguir, tentaremos a falácia Hipótese Contrária ao Fato. - Ah! Essa parece ser boa - foi a reação de Polly. 14 - Ouça: se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda3, nós hoje não saberíamos da existência do elemento químico Rádio. Graças a essa descoberta, hoje sabemos o que é radioatividade! - É mesmo, é mesmo! Brilhante! - concordou Polly, sacudindo vigorosamente a cabeça. - Você viu o filme? Eu fiquei louca com aquele filme. Aquele ator, o Walter Pidgeon4 é tão bacana! Ele me fez vibrar! - Se você conseguir esquecer o Sr. Pidgeon por alguns minutos - disse eu friamente - gostaria de lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie poderia ter descoberto o Rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa poderia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese baseada no acaso e tirar dela qualquer conclusão lógica. - Eles deveriam botar o Walter Pidgeon em mais filmes - disse Polly. Eu quase não o vejo no cinema. Ele é lindo! A impaciência voltou a me torturar. Como um ser humano pode ser tão ignorante? – pensei. Mais uma tentativa! - decidi. Mas só mais uma. A última! Há um limite ao que um homem pode suportar. - A próxima falácia é chamada Envenenar o Poço. - Que bonitinho! - deliciou-se Polly. - Dois homens vão começar um debate. O primeiro se levanta e diz: "Meu oponente é um mentiroso conhecido. Não é possível acreditar numa só palavra do que ele disser". Agora, Polly, pense bem. O que está errado? Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência - o primeiro que eu vira - surgiu em seus olhos. - Não é justo! - disse ela com indignação – Isso não é nada justo. Que chance tem o segundo homem se o primeiro diz que é um mentiroso, antes mesmo dele começar a falar? - Exato! - gritei exultante. - Cem por cento exato! Não é justo. O primeiro homem envenenou o poço antes que os outros pudessem beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar... Polly, estou orgulhoso de você! - Ora - murmurou ela, ruborizando de prazer. - Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos repassar tudo que aprendemos até agora. - Vamos lá - disse ela, com um abano distraído de mão. Animado pela descoberta de que Polly não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo que dissera até ali. Sem parar, citei exemplos, apontei falhas, martelei “lógica” sem dar tréguas. Era como cavar um túnel. A princípio, apenas trabalho, suor e escuridão. Não tinha ideia de quando veria a luz, ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, cavouquei até com as unhas, e finalmente fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se alargando até que, finalmente, o sol jorrou para dentro do túnel, clareando tudo. Polly finalmente parecia ter sido apresentada ao “conhecimento”. Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher digna de mim. Somente agora ela estava apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões, uma mãe adequada para meus filhos privilegiados. 3 Descoberta por Antoine Henri Becquerel, a pechblenda é uma variedade, provavelmente impura, de uraninita. Dela é retirado o urânio, que é constituinte de muitas rochas. É extraído do minério, purificado e concentrado sob a forma de um sal de cor amarela 4 Walter Pidgeon Davis (23 de setembro de 1897 - 25 de setembro de 1984) foi um ator canadense que viveu a maior parte de sua vida adulta nos Estados Unidos. Ele estrelou muitos filmes, incluindo Blossoms in the Dust, Mrs. Parkington, The Bad and the Beautiful, Forbidden Planet, Advise and Consent e Funny Girl. No cinema viveu ainda o papel de Almirante Nelson, do SS Seaview, em Voyage to the Bottom of the Sea. 15 Não se deve deduzir que eu não sentisse amor pela moça. Muito pelo contrário. Na mitologia grega, Pigmalião5 amava a mulher perfeita que moldara para si; eu também amava a minha doce Polly, que moldei com o suor do meu conhecimento. Decidi comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de mudar nossas relações, de acadêmicas para românticas. - Polly - disse eu, na próxima vez em que nos sentamos sob aquele mesmo carvalho – hoje não falaremos de falácias.- Puxa! - disse ela, desapontada. - Minha querida - prossegui, favorecendo-a com um sorriso - hoje é a sexta noite em que estamos juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom par. - Generalização Apressada - exclamou ela alegremente. - Perdão - disse eu. - Generalização Apressada - repetiu ela. - Como é que você pode dizer que formamos um bom par baseado em apenas cinco encontros? Dei uma risada, divertido. Aquela criança adorável aprendera bem suas lições. - Minha querida - disse eu, dando um tapinha tolerante em sua mão – cinco encontros são o bastante. Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não. - Falsa Analogia - disse Polly prontamente - Eu não sou um bolo, sou uma pessoa. Não se pode comparar duas situações completamente diferentes e chegar à uma conclusão análoga! Dei outra risada, mas agora já não tão divertida. Essa criança adorável talvez tivesse aprendido sua lição bem até demais. Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto meu cérebro privilegiado selecionava as palavras adequadas. Depois comecei: - Polly, eu a amo. Você é tudo no mundo para mim... é a lua e as estrelas... as constelações no firmamento. Por favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei a comida, vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios... Pronto! - pensei, está liquidado o assunto. Agora ela cai em meus braços! - Ad Misericordiam - disse Polly. Cerrei os dentes. Eu não era mais o Pigmalião da mitologia; era o Dr. Frankenstein, e o monstro que eu havia criado me tinha pela garganta. Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava me invadir. Era preciso manter a calma a qualquer preço. - Bem, Polly - disse eu, forçando um sorriso. - não há dúvidas que você aprendeu bem as falácias. - Aprendi mesmo - respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor. - E quem foi que as ensinou a você, Polly? - Foi você. - Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida? Se não fosse por mim, você nunca saberia o que é uma falácia... - Hipótese Contrária ao Fato - disse ela sem pestanejar. Eu poderia descobrir através de outra pessoa, ou até mesmo sozinha, algum dia. Não se pode tirar conclusões definitivas baseadas em acasos. Enxuguei o suor do rosto, já lívido – o desespero afigurava-se nítido em meus olhos. 5 Pigmaleão, na mitologia grega, foi um rei da ilha de Chipre, que, segundo Ovídio, poeta romano contemporâneo de Augusto, Pigmaleão era um escultor e rei de Chipre que se apaixonou por uma estátua que esculpira ao tentar reproduzir a mulher ideal. Na verdade ele havia decidido viver em celibato na Ilha por não concordar com a atitude libertina das mulheres dali, que haviam dado fama à mesma como lugar de cortesãs. Segundo Higino, Busíris, filho de Netuno, era seu irmão. A terra de Busíris, no Egito, estava sofrendo com a fome após nove anos de seca, e o rei chamou adivinhos da Grécia. Thrasius, filho de Pigmaleão, anunciou que a chuva chegaria se um estrangeiro fosse sacrificado, e provou suas palavras quando ele mesmo foi sacrificado. A deusa Afrodite, apiedando-se dele e atendendo a um pedido seu, não encontrando na ilha uma mulher que chegasse aos pés da que Pigmaleão esculpira, em beleza e pudor, transformou a estátua numa mulher de carne e osso, com quem Pigmaleão casou-se e, nove meses depois, teve uma filha chamada Pafos, que deu nome à ilha. 16 Discutindo o texto. Para saber mais… - Polly - insisti, com voz rouca - você não deve levar tudo ao pé da letra. Estas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver com a vida. - Dicto Simpliciter. - brincou ela, sacudindo o dedo na minha direção. Quer que eu diga o porquê? Foi o bastante! Levantei-me num salto, berrando como um touro indomável. - Você vai ou não vai me namorar? - trovejei. - Não, eu não vou - respondeu ela. - Por que não? – exigi uma resposta. - Porque hoje à tarde prometi a Peter Johnson que seria a namorada dele. Quase caí para trás, fulminado por tamanha infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de apertar a minha mão! - Aquele rato! - gritei chutando a grama. - Você não pode sair com ele, Polly. É um mentiroso. Um traidor. Um rato. - Envenenar o Poço - disse Polly. E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia. Com uma admirável demonstração de força de vontade, modulei minha voz. - Muito bem - disse. Você é uma lógica. Vamos olhar as coisas de maneira lógica então. Como pode preferir Peter Johnson? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um homem com o futuro assegurado. E veja Peter: um maluco, um boa-vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. Você pode me dar uma única razão lógica para namorar Peter Johnson? - Posso, sim. - declarou Polly. - Ele usa um casaco de pele de marmota. FIM 1. Quais foram as falácias que Polly aprendeu? 2. Quais outros exemplos de falácia? 3. Quais delas você comete com mais frequência? 4. Quais delas você mais ouve? 5. O que a lógica pode nos ensinar/ou ajudar? Vídeos. 1. Argumentum ad hominem - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) Link: https://www.youtube.com/watch?v=AjYAU3ZH45o 2. Falácia do Falso Dilema (ou da Falsa Dicotomia) - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) Link: https://www.youtube.com/watch?v=DtGAX6LJplw 3. Falácia do Verdadeiro Escocês - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=mGh7E1k7OzI 4. Falácias Indutivas - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=d76ippdSkyQ 5. Falácias Causais - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=zbq1GY_Ad5M 17 6. Apelo à autoridade - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=Bw93i5cJVW8 7. Falácia do Espantalho - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=FH9qwQiPefM 8. Falácia Naturalista - Falácias Argumentativas - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=G7NZl0eIfGU 9. Argumentum ad antiquitatem e Argumentum ad novitatem - Prof. Túlio Vianna (Direito UFMG) https://www.youtube.com/watch?v=Vfp-Sgse-AY 10. Apelo à pobreza e Apelo à misericórdia - Falácias Argumentativas Prof. Túlio Vianna https://www.youtube.com/watch?v=BFGe8AjzWlI 11. Argumentação sem Falácias - Prof. Túlio Vianna (Direito - UFMG) link https://www.youtube.com/watch?v=NReSH70GP0Y Ver lista de exercício sobre falácia. 18 Unidade 1 = Lógica clássica O que vamos estudar? Ló gica C lássica NESTA SEÇÃO: • A diferencia entre lógica e retórica • A finalidade da lógica • O que é um termo • O que é a extensão e compressão de um termo • O que é uma proposição • Silogismo • Diagrama de Venn. Primeiros passos, mas afinal o que é logica? Desde suas origens na Grécia Antiga, especialmente de Aristóteles (384-322 a.C.) em diante, a lógica tornou-se um dos campos mais férteis do pensamento humano, particularmente da filosofia. Em sua longa história e nas múltiplas modalidades em que se desenvolveu, sempre foi bem claro seu objetivo: fornecer subsídios para a produção de um bom raciocínio. Por raciocínio, entende-se tanto uma atividade mental quanto o produto dessa atividade. Esse, por sua vez, pode ser analisado sob muitos ângulos:o psicólogo poderá estudar o papel das emoções sobre um determinado raciocínio; o sociólogo considerará as influências do meio; o criminólogo levará em conta as circunstâncias que o favoreceram na prática de um ato criminoso etc. Apesar de todas estas possibilidades, o raciocínio é estudado de modo muito especial no âmbito da lógica. Para ela, pouco importam os contextos psicológico, econômico, político, religioso, ideológico, jurídico ou de qualquer outra esfera que constituam o “ambiente do raciocínio”. Ao lógico, não interessa se o raciocínio teve esta ou aquela motivação, se respeita ou não a moral social, se teve influências das emoções ou não, se está de acordo com uma doutrina religiosa ou não, se foi produzido por uma pessoa embriagada ou sóbria. Tome nota: O lógico considera a sua forma. Ao considerar a forma, ele investiga a coerência do raciocínio, as relações entre as premissas e a conclusão, em suma, sua obediência a algumas regras apropriadas ao modo como foi formulado etc. 19 Lógica formar e Lógica material A lógica é a ciência do raciocínio. A lógica se dedica ao estudo dos conceitos de prova e verdade. Um dos objetivos da lógica é determinar se a argumentação utilizada por alguém para se chegar a uma certa conclusão é válida ou não. A lógica tem sido utilizada em todos as áreas da ciência: exatas, biológicas e humanas. É de uso comum por parte do matemático, do cientista da computação, do engenheiro, do advogado, do biólogo, do historiador, etc... Uma boa definição poderia ser: Desde Aristóteles, seu primeiro grande organizador, os estudos da lógica orientaram-se em duas direções principais: a da lógica formal, também chamada de “lógica menor” e a da lógica material, também conhecida como “lógica maior”. A lógica formal preocupa-se com a correção formal do pensamento. Para esse campo de estudos da lógica, o conteúdo ou a matéria do raciocínio tem uma importância relativa. A preocupação sempre será com a sua forma. A forma é respeitada quando se preenchem as exigências de coerência interna, mesmo que as conclusões possam ser absurdas do ponto de vista material (conteúdo). Nem sempre um raciocínio formalmente correto corresponde àquilo que chamamos de realidade dos fatos. No entanto, o erro não está no seu aspecto formal e, sim, na sua matéria. Por exemplo, partindo das premissas que: (1) todos os brasileiros são europeus e que (2) Pedro é brasileiro, formalmente, chegar-se-á à conclusão lógica que Irving Copi (1917-2002) “A lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto” 20 Raciocínio e Argumentação (3) Pedro é europeu. Materialmente, este é um raciocínio falso porque a experiência nos diz que a premissa é falsa. No entanto, formalmente, é um raciocínio válido, porque a conclusão é adequada às premissas. É nesse sentido que se costuma dizer que o computador é falho, já que, na maioria dos casos, processa formalmente informações nele previamente inseridas, mas não tem a capacidade de verificar o valor empírico de tais informações. Já, a lógica material preocupa-se com a aplicação das operações do pensamento à realidade, de acordo com a natureza ou matéria do objeto em questão. Nesse caso, interessa que o raciocínio não só seja formalmente correto, mas que também respeite a matéria, ou seja, que o seu conteúdo corresponda à natureza do objeto a que se refere. Neste caso, trata-se da correspondência entre pensamento e realidade. Assim sendo, do ponto de vista lógico, costuma-se falar de dois tipos de verdade: a verdade formal e a verdade material. A verdade formal diz respeito, somente e tão-somente, à forma do discurso; já a verdade material tem a ver com a forma do discurso e as suas relações com a matéria ou o conteúdo do próprio discurso. Se houver coerência, no primeiro caso, e coerência e correspondência, no segundo, tem-se a verdade. Em seu conjunto, a lógica investiga as regras adequadas à produção de um raciocínio válido, por meio do qual visa-se à consecução da verdade, seja ela formal ou material. Relacionando a lógica com a prática, pode- se dizer que é importante que se obtenha não somente uma verdade formal, mas, também, uma verdade que corresponda à experiência. Que seja, portanto, materialmente válida. A conexão entre os princípios formais da lógica e o conteúdo de seus raciocínios pode ser denominada de “lógica informal”. Trata-se de uma lógica aplicada ao plano existencial, à vida quotidiana. Três são as principais operações do intelecto humano: a simples apreensão, os juízos e o raciocínio. A simples apreensão consiste na captação direta (através dos sentidos, da intuição racional, da imaginação etc) de uma realidade sobre a qual forma-se uma ideia ou conceito (p. ex., de um objeto material, ideal, sobrenatural etc) que, por sua vez, recebe uma denominação (as palavras ou termos, p. ex.: “mesa”, “três” e “arcanjo”). O juízo é ato pelo qual os conceitos ou ideias são ligadas ou separadas dando origem à emissão de um “julgamento” (falso ou verdadeiro) sobre a realidade, mediante proposições orais ou escritas. Por exemplo: “Há três arcanjos sobre a mesa da sala”. O raciocínio, por fim, consiste no “arranjo” intelectual dos juízos ou proposições, ordenando adequadamente os conteúdos da consciência. No raciocínio, parte-se de premissas para se chegar a conclusões que devem ser adequadas. Procedendo dessa forma, adquirem-se conhecimentos novos e defende-se ou aprofunda-se o que já se conhece. Para tanto, a cada passo, é preciso preencher os requisitos da coerência e do rigor. Por exemplo: “Se os três arcanjos estão sobre a mesa da sala, não estão sobre a mesa da varanda” Quando os raciocínios são organizados com técnica e arte e expostos de forma tal a convencer a plateia, o leitor ou qualquer interlocutor tem-se a argumentação. Assim, a atividade argumentativa envolve o interesse da persuasão. Argumentar é o núcleo principal da retórica, considerada a arte de convencer mediante o discurso. Partindo do pressuposto de que as pessoas pensam aquilo que querem, de acordo com as circunstâncias da vida e as decisões pessoais (subjetividade), um argumento conseguirá atingir mais facilmente a meta da persuasão 21 Inferências Lógicas caso as ideias propostas se assentem em boas razões, capazes de mexer com as convicções daquele a quem se tenta convencer. Muitas vezes, julga-se que estão sendo usadas como bom argumento opiniões que, na verdade, não passam de preconceitos pessoais, de modismos, de egoísmo ou de outras formas de desconhecimento. Mesmo assim, a habilidade no argumentar, associada à desatenção ou à ignorância de quem ouve, acaba, muitas vezes, por lograr a persuasão. Pode-se, então, falar de dois tipos de argumentação: boa ou má, consistente/sólida ou inconsistente/frágil, lógica ou ilógica, coerente ou incoerente, válida ou não-válida, fraca ou forte etc. De qualquer modo, argumentar não implica, necessariamente, manter-se num plano distante da existência humana, desprezando sentimentos e motivações pessoais. Pode-se argumentar bem sem, necessariamente, descartar as emoções, como no caso de convencer o aluno a se esforçar nos estudos diante da perspectiva de férias mais tranquilas. Enfim, argumentar corretamente (sem armar ciladas para o interlocutor) é apresentar boas razões para o debate, sustentar adequadamente um diálogo, promovendo a dinamização do pensamento. Tudo isso pressupõe um clima democrático. Cabe à lógica a tarefa de indicar os caminhos para um raciocínio válido, visando à verdade. Contudo, só faz sentido falarde verdade ou falsidade quando entram em jogo asserções nas quais se declara algo, emitindo- se um juízo de realidade. Existem, então, dois tipos de frases: as assertivas e as não assertivas, que também podem ser chamadas de proposições ou juízos. Nas frases assertivas afirma-se algo, como nos exemplos: “a raiz quadrada de 9 é 3” ou “o sol brilha à noite”. Já, nas frases não assertivas, não entram em jogo o falso e o verdadeiro, e, por isso, elas não têm “valor de verdade”. É o caso das interrogações ou das frases que expressam estados emocionais difusos, valores vivenciados subjetivamente ou ordens. A frase “toque a bola”, por exemplo, não é falsa nem verdadeira, por não se tratar de uma asserção (juízo). As frases declaratórias ou assertivas podem ser combinadas de modo a levarem a conclusões consequentes, constituindo raciocínios válidos. Veja-se o exemplo: (1) Não há crime sem uma lei que o defina; (2) não há uma lei que defina matar ET’s como crime; (3) logo, não é crime matar ET’s. Ao serem ligadas estas assertivas, na mente do interlocutor, vão sendo criadas as condições lógicas adequadas à conclusão do raciocínio. Esse processo, que muitas vezes permite que a conclusão seja antecipada sem que ainda sejam emitidas todas as proposições do raciocínio, chama-se inferência. O ponto de partida de um raciocínio (as premissas) deve levar a conclusões óbvias. Também não são frases assertiva 1) frases interrogativas: “Qual é o seu nome?” 2) frases exclamativas: “Que linda é essa mulher!” 3) frases imperativas: “Estude mais.” 4) frases optativas: “Deus te acompanhe.” 5) frases sem verbo: “O caderno de Maria.” 22 Exercício de fixação 6) sentenças abertas (o valor lógico da sentença depende do valor (do nome) atribuído a variável): “x é maior que 2”; “x+y = 10”; “Z é a capital do Chile”. As frases assertivas são chamadas de proposições. Diga qual destas frases são proposições. Frase: Proposição: Sim ou Não. a.) O Chile e o Brasil. b.) Emerson é professor. c.) Ela é professora. d.) O Brasil foi campeão de futebol em 1982 e.) Que legal! f.) 5 x 4 = 20 g.) 4 x 2 + 1 > 4 h.) (-2)3 > 4 i.) O Brasil perdeu o título j.) X + Y é maior do que 7. k.) Que horas são? l.) Aquela mulher é linda. m.) O Brasil ganhou 5 medalhas de ouro em Atlanta n.) - 4 - 3 = 7 o.) 4 x 2 + 1 < 9 p.) (-2)3 < 4 23 Termo e conceito Princípios Lógicos Para que a validade de um raciocínio seja preservada, é fundamental que se respeite uma exigência básica: as palavras empregadas na sua construção não podem sofrer modificações de significado. Observe-se o exemplo: Os jaguares são quadrúpedes; Meu carro é um Jaguar logo, meu carro é um quadrúpede. O termo “jaguar” sofreu uma alteração de significado ao longo do raciocínio, por isso, não tem validade. Quando pensamos e comunicamos os nossos pensamentos aos outros, empregamos palavras tais como “animal”, “lei”, “mulher rica”, “crime”, “cadeira”, “furto” etc. Do ponto de vista da lógica, tais palavras são classificadas como termos, que são palavras acompanhadas de conceitos. Assim sendo, o termo é o signo linguístico, falado ou escrito, referido a um conceito, que é o ato mental correspondente ao signo. Desse modo, quando se emprega, por exemplo, o termo “mulher rica”, tende-se a pensar no conjunto das mulheres às quais se aplica esse conceito, procurando apreender uma nota característica comum a todos os elementos do conjunto, de acordo com a ‘intencionalidade’ presente no ato mental. Como resultado, a expressão “mulher rica” pode ser tratada como dois termos: pode ser uma pessoa do sexo feminino cujos bens materiais ou financeiros estão acima da média ou aquela cuja trajetória existencial destaca-se pela bondade, virtude, afetividade e equilíbrio. Para que não se obstrua a coerência do raciocínio, é preciso que fique bem claro, em função do contexto ou de uma manifestação de quem emite o juízo, o significado dos termos empregados no discurso. Existem alguns princípios tidos como conditio sine qua non6 para que a coerência do raciocínio, em absoluto, possa ocorrer. Podem ser entendidos como princípios que se referem tanto à realidade das coisas (plano ontológico), quanto ao pensamento (plano lógico), ou seja, se as coisas em geral devem respeitar tais princípios, assim também o pensamento deve respeitá-los. São eles: a) Princípio da identidade, pelo qual se delimita a realidade de um ser. Trata-se de conceituar logicamente qual é a identidade de algo a que se está fazendo referência. Uma vez conceituada uma certa coisa, 6 Sine qua non ou conditio sine qua non é uma expressão que se originou do termo legal em latim que pode ser traduzido como “sem a/o qual não pode ser”. Refere-se a uma ação cuja condição ou ingrediente é indispensável e essencial. 24 Construção do Silogismo Exercício de fixação seu conceito deve manter-se ao longo do raciocínio. Por exemplo, se estou falando de um homem chamado Pedro, não posso estar me referindo a Antônio. b) Princípio da não-contradição. Se algo é aquilo que é, não pode ser outra coisa, sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo. Por exemplo, se o brasileiro João está doente agora, não está são, ainda que, daqui a pouco possa vir a curar-se, embora, enquanto João, ele seja brasileiro, doente ou são; c) Princípio da exclusão do terceiro termo. Entre o falso e o verdadeiro não há meio termo, ou é falso ou é verdadeiro. Ou está chovendo ou não está, não é possível um terceiro termo: está meio chovendo ou coisa parecida. A lógica clássica e a lógica matemática aceitam os três princípios como suas pedras angulares, no entanto, mais recentemente, Lukasiewicz e outros pensadores desenvolveram sistemas lógicos sem o princípio do terceiro excluído, admitindo valor lógico não somente ao falso e ao verdadeiro, como também ao indeterminado. Ver lista de exercício sobre os princípios do pensamento. A estrutura básica do silogismo consiste na determinação de uma premissa maior (ponto de partida), de uma premissa menor (termo médio) e de uma conclusão, inferida a partir da premissa menor. Em outras palavras, o silogismo sai de uma premissa maior, progride através da premissa menor e infere, necessariamente, uma conclusão adequada. Eis um exemplo de silogismo: Estruturação de uma proposição categórica: S é P. o Uma proposição é qualquer sentença declarativa da qual se possa declarar sua validade ou falsidade, conforme vimos acima. o O ‘S’, a via de regra, remete ao sujeito; ao passo que o P se liga ao predicado. ▪ Ex: ‘Getúlio suicidou-se’ pode ser expresso na forma padrão (S é P) assim: ‘Getúlio é um ser que se suicidou’. S = Getúlio; P = se suicidou. Todos os atos que ferem a lei são puníveis (Premissa Maior) A concussão é um ato que fere a lei (Premissa Menor) Logo, a concussão é punível (Conclusão) 25 Identifique os sujeitos e predicados das proposições abaixo Exemplo: João é baiano João = Sujeito (S); Baiano = Predicado (P) S é P. Marcela encontrou seu relógio quebrado Os alunos pareciam entediados Os atletas estão atrasados João morreu Os olhos não estavam bem fechados. Que horas são? A lógica possui apenas 4 formas lógicas (tipos de proposições categóricas): o 1) Universal afirmativa (A): Todo S é P. o 2) Universal negativa (E): Nenhum S é P. o 3) Particular afirmativa (I): Algum S é P. 26Diagrama de Veen Ver lista de exercício sobre tipos de proposições Exercício de fixação o 4) Particular negativa (O): Algum S não é P. Diagramas de Venn (método de representação espacial e de decisão para a silogística categórica): 27 Quadrado das Oposições 1. considerando o diagrama acima, pinte as frases abaixo. Exemplo: João Morreu Alguns filósofos são professores Nenhum filósofo é professor Todo brasileiro é artista. Algum obeso não sabe nadar Todo C é B Alguns professores são filósofos • Quadrado de oposições (relações lógicas sistematizadas na Idade Média): ▪ 28 Teoria do Silogismo Ver lista de exercício sobre inferência. O quadrado de oposição ajuda a negar corretamente proposições das quatro formas dadas. Por exemplo, a negação de uma universal afirmativa (A) é uma particular negativa (O) e não uma universal negativa (E), como pode parecer a alguns. ▪ Ex: a negação de A (“Toda verdade é relativa”) é O (“Alguma verdade não é relativa”) e não E (“Nenhuma verdade é relativa”). ▪ Ex2: Para negar ‘Todo mineiro é atleticano’, que por sinal é falsa, precisamos de pelo menos um indivíduo que seja mineiro e não seja atleticano, isto é, precisamos afirmar a sentença ‘Algum mineiro não é atleticano’, que de fato é uma sentença verdadeira. Note que a negação não é a sentença ‘Nenhum mineiro é atleticano’, que também é falsa. Note que, se uma sentença é falsa sua negação deve ser verdadeira. • Com o quadro de oposição podemos mais facilmente inferir a verdade ou falsidade de algumas proposições: ▪ O quadrado de oposições permite também perceber que as afirmações subalternas podem ser ambas verdadeiras, ainda que, intuitivamente, tendamos a considerar a afirmação particular falsa. Por exemplo, dado que “Todos os homens são mortais”, é correto afirmar que “Alguns homens são mortais”, assim como é verdadeiro afirmar que há 4 pessoas na sala quando há 10 (o que se quer dizer é que há pelo menos alguns homens mortais ou 4 pessoas na sala). ▪ Isso é contra-intuitivo, pois contraria uma máxima conversacional segundo a qual se deve transmitir toda a informação disponível (e se eu sei que todos os homens são mortais, é enganador dizer que alguns homens são mortais, pois o interlocutor pressupõe que alguns homens não são mortais – pressuposição esta que não é logicamente válida). A palavra silogismo provém de súllogos (reunir, interconectar palavras ao raciocinar). Argumentos mais elaborados podem ser sempre decompostos em diversos silogismos. O silogismo é composto de 3 proposições categóricas: 29 o Proposição categórica: formada por um quantificador (todo, nenhum, algum), seguido de um termo, uma cópula (é, não é) e outro termo. o Estrutura do silogismo: Premissa Maior (P), Premissa Menor (p) e Conclusão (c) - onde 3 termos, Maior (T), Médio (M) e Menor (t), são compostos 2 a 2. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio. o Importante notar que a premissa maior não é definida em função da posição que ocupa, mas sim como a premissa que contém o termo maior (que, por definição, é o termo predicado da conclusão). O mesmo ocorre com a premissa menor, que é definida por conter o termo menor (o termo sujeito da conclusão). Aristóteles conseguiu com bastante sucesso determinar as formas válidas de silogismo. Existem 256 tipos de silogismos, sendo 24 coerentes e 19 válidos (o resto é falácia). o Alguns exemplos: • Silogismo A – A – A • Todo crente em Deus merece ser salvo • Os cristãos são crentes em Deus. • Os cristãos merecem ser salvos. • Silogismo E – A – E • Nenhum santo comete pecado. • Todos os ateus cometem pecados. • Nenhum ateu é santo. • Silogismo A – A – I • Os cristãos são justos. • Os cristãos são seres humanos. • Há seres humanos que são justos. • Silogismo E – I – O • Nenhum santo é pecador. • Alguns pecadores são ateus. • Alguns ateus não são santos. 30 Como pintar o diagrama de Venn Para que um argumento em forma silogística seja válido, ele deve obedecer a um conjunto de regras mais ou menos intuitivas, que são as seguintes (cf. MARGUTTI, Breve Resumo das Regras do Silogismo Aristotélico): Método de decisão para a silogística categórica: Para verificar se um silogismo é ou não válido mediante o método dos diagramas de Venn, é necessário representar ambas as premissas em um diagrama, o que se faz por meio de 3 círculos que se interceptam, cada qual representando um dos termos (maior, menor e médio) presentes nas premissas. Tomemos então as seguintes classes: S: termo menor P: termo maior M: termo médio o Ex1: Para diagramar a proposição “Todo M é P”, sombreamos toda a parte de M que não se sobreponha a P (não está contida em P, o que inclui as áreas S-PM e -S-PM). Ou seja: o Para diagramar a proposição “Todo S é M”, sombreamos toda a parte de S que não se sobreponha a M (não está contida em M, o que inclui as áreas S-P-M e SP-M). Ou seja: 31 o Agora, podemos diagramar as duas proposições ao mesmo tempo, ou seja: “Todo M é P” e “Todo S é M”, o que dá: o Este diagrama acima representa espacialmente o silogismo AAA: Todo M é P. Todo S é M. Logo, todo S é P. o Ex2: Para representar um silogismo com uma premissa particular. Seja: Todos os artistas são egoístas. Alguns artistas são pobres. Logo, alguns pobres são egoístas. Começa-se representado a premissa universal (Todos os artistas são egoístas) e depois inserimos um x para diagramar a premissa particular (Alguns artistas são pobres). Assim, temos: o 32 Exercício de fixação 1. Para cada uma das seguintes formas lógicas, apresente uma proposição categórica que exiba essa forma e mostre a sua representação por meio dos diagramas de Venn: 1. Algum S não é P. 2. Algum S é P. 3. Todos os S são P. 4. Nenhum S é P. 2. Para cada uma das proposições abaixo: 1) classifique-as, informando qual seu tipo de proposição categórica; 2) reescreva-as na expressão canônica, caso ainda não estejam; 3) assinale o termo sujeito e o predicado de cada uma: Exemplo 33 1. Tudo o que é fruto do livre-arbítrio humano foi criado por Deus. i. A: Universal afirmativa ii. Expressão canônica: Todo fruto do livre-arbítrio humano é criado por Deus. iii. Termo sujeito: fruto do livre-arbítrio humano iv. Termo predicado: criado por Deus 2. Nenhum mal é fruto do livre-arbítrio humano. i. ____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 3. Algumas proposições são particulares afirmativas. i. ____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. ____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 4. Algumas proposições não são particulares afirmativas.i. _____________________________________________________________________________ ii. ____________________________________________________________________________ iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 5. Nem tudo o que brilha é ouro. i. _____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 34 6. Há animais peludos que não mordem. i. _____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 7. Há atos de liberdade vis. i. _____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 8. Se um deus for desumano, não é divino. i. _____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 9. Só há ações éticas não egoístas. i. _____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ iii. ____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 10. As baleias são animais mamíferos. i. _____________________________________________________________________________ ii. _____________________________________________________________________________ 35 iii. _____________________________________________________________________________ iv. _____________________________________________________________________________ 3. Formule a negação das sentenças abaixo: (use as expressões canônicas - não vale colocar não é o caso que no início das sentenças!!! OBS: a consulta ao quadrado de oposições pode auxiliar nessa tarefa) 1. Nenhum filósofo é grego. ________________________________________________________________________________ 2. Alguns filósofos não são holandeses. ________________________________________________________________________________ 3. Todo brasileiro é fanático por futebol. ________________________________________________________________________________ 4. Existem mamíferos aquáticos. ________________________________________________________________________________ 5. Existe pelo menos uma bicicleta de três rodas. ________________________________________________________________________________ 6. Filósofos são bons matemáticos. ________________________________________________________________________________ 7. Somente os bons matemáticos são filósofos. ________________________________________________________________________________ 8. Toda forma de racismo é moralmente condenável. ________________________________________________________________________________ 9. Algumas guerras são justas. ________________________________________________________________________________ 10. Nenhuma revolução pode ser justificada. ________________________________________________________________________________ 11. Algumas ações socialmente aprovadas não são moralmente corretas. 36 ________________________________________________________________________________ 12. Nenhum aborto é moralmente justificável. ________________________________________________________________________________ 13. Alguns abortos não são moralmente justificáveis. ________________________________________________________________________________ 14. Nada decidido em assembleia pode ser revogado. ________________________________________________________________________________ 4. Para cada um dos silogismos abaixo: 1) colocar em sua forma típica, indicando seu termo médio, maior e menor e indicando qual a premissa maior e menor; 2) representá-los por meio de diagramas de Venn; 3) dizer se são válidos ou não: Exemplo: 1. Todos os barcos que andam debaixo d’água são submarinos. Portanto, nenhum submarino é barco de recreio, visto que os barcos de recreio não andam debaixo d’água. i. Termo médio: anda debaixo d’água. ii. Termo Maior: barco de recreio iii. Termo menor: submarino iv. Tipo de silogismo: E – A – E 1. Problema: submarino aparece na premissa com extensão particular e na conclusão de forma universal (desrespeita a regra 2, que dita que os termos maior e menor nunca devem ter maior extensão na conclusão do que nas premissas). 2. Alguns reformadores são fanáticos, assim como alguns idealistas são fanáticos, visto que todos os reformadores são idealistas. 37 Unidade II – Tabela verdade Bloco de Anotações de Relatório U n id ad e II O ue O que você aprenderá? • Modus tollens • Modus Pones
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