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Interpretação e produção de texto 2013 1 SUMÁRIO Unidade I – A importância da Leitura....................................................03 Unidade II - As diferentes linguagens: verbal, não verbal......................09 Unidade III - Noções de texto: unidade de sentido...............................14 Unidade IV - Textos orais e escritos...................................................... 16 Unidade V - Estilos e gêneros discursivos: jornalístico, científico, técnico, literário, publicitário entre outros...............................................20 Unidade VI - Interpretação de textos diversos e de assuntos da atualidade.................................................................................................28 Unidade VII - Qualidades do texto: coerência, coesão, clareza, concisão e correção gramatical;..................................................................................35 Unidade VIII - Complemento gramatical................................................43 2 UNIDADE I: A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento Antigamente se acreditava que o conhecimento era transmitido, que passava de uma pessoa para outra. É claro que, por mais que se esforçasse, talvez nosso professor de Português não tivesse conseguido nos transmitir as regras da colocação pronominal. (Sabe aquele papo de próclise, mesóclise e ênclise? Não? Fique calmo, quase ninguém se lembra...) O caso é que fizemos a prova e tiramos a nota, mas hoje precisamos escrever uma carta comercial ou um artigo para a revista, mandar um e-mail, procuramos dentro de nós e... onde foi parar? Com certeza, não é um conhecimento disponível no presente. Não aprendemos de fato, pois uma das características da aprendizagem é ser aplicável: não apenas saber, mas poder usar o que se sabe. Agora, aquela música dos Incríveis... aquela você nunca mais esqueceu! Às vezes se pega cantarolando era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones. Gostando ou não gostando, ela ficou. Por que a música permaneceu e a mesóclise foi pro espaço? - Porque a música era fácil. – Alguém diz. Acontece que outras coisas eram muito mais fáceis e você esqueceu, como o telefone da sua cunhada, enquanto reteve inúmeros dados difíceis, como um vocabulário de centenas de palavras e expressões em Inglês. Mesmo sem entrar presentemente na relação entre memória e aspectos emocionais/sentimentais, ainda assim podemos entender o que acontece, com a ajuda de modernas teorias da aprendizagem. Elas consideram o conhecimento como sendo uma construção íntima de cada ser, uma elaboração da mente, construindo, desmontando e reconstruindo estruturas de pensamentos, sempre a partir do que percebeu e experimentou. Há, certamente, os fatores externos, as possíveis estimulações, que são recursos que podem despertar o interesse do aluno para um determinado tema, numa atitude de curiosidade e atenção. Mas a realidade é que ninguém controla o modo como o outro aprende, ou quando chegará a aprender o que pretende ensinar. A prova disso é que aprendemos muito com nossos pais (e não apenas do que esperavam que aprendêssemos!), mas há certas áreas em que eles nunca conseguiram modificar nosso jeito de pensar. E assim também acontece com as nossas crianças. Dizer que cada criança é um mundo parece clichê, mas é a mais pura verdade. Tudo o que ela já viveu, tudo o que já fez, descobriu, percebeu, intuiu e pensou; os filmes que assistiu, as conversas que ouviu, as histórias que leu; tudo participa do seu modo de ver o mundo e de aprender. Que conceitos adquiridos entram na formação de suas conclusões sobre as coisas? Nunca saberemos totalmente. Mas o que se sabe é que as informações e os exemplos a que se expõe sempre podem influenciá-la mais ou menos intensamente - o que é a porta de entrada, dos educadores, neste seu mundo tão particular. O que se pode fazer é criar um meio propício, é oferecer, à inteligência, a argamassa, o material de construção em quantidade e qualidade suficientes para que a criança construa suas estruturas de pensamento da melhor maneira, com o melhor tipo de informação e os melhores exemplos possíveis. E aqui chegamos à importância dos livros e da leitura neste processo. Ler é saber. O primeiro resultado da leitura é o aumento de conhecimento geral ou específico. Ler é trocar. Ler não é só receber. Ler é comparar as experiências próprias com as narradas pelo escritor, comparar o próprio ponto de vista com o dele, recriando ideias e revendo conceitos. Ler é dialogar. Quando lemos, estabelecemos um diálogo com a obra, compreendendo intenções do autor. Somos levados a fazer perguntas e procurar respostas. Ler é exercitar o discernimento. 3 Quando lemos, colocamo-nos de modo favorável ou não aos pontos de vista, pesamos argumentos e argumentamos dentro de nós mesmos, refletimos sobre opções dos personagens ou sobre as ideias defendidas pelo autor. Ler é ampliar a percepção. Ler é ser motivado à observação de aspectos da vida que antes nos passavam despercebidos. Ler bons livros é capacitar-se para ler a vida. Texto 2: Texto 3: A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) serviu para os fascistas, representados pelas Falanges de Francisco Franco (1892-1975), como uma preliminar da II Guerra Mundial. Às 16:40 horas do dia 26 de abril de 1937, os bombardeiros alemães Heinkel e Junker, da Legião Condor, foram testados durante três horas na destruição da cidade basca de Guernica, ao norte da Espanha. Cerca de 2500 pessoas foram mortas nesse que foi o primeiro ataque aéreo da história feito a uma localidade desmilitarizada. Ao todo, 600 mil pessoas morreram durante os três anos dessa guerra civil que contou com a ingerência estrangeira de 40 mil voluntários das Brigadas Internacionais, em apoio aos republicanos, e outros 60 mil que lutaram ao lado dos nacionalistas de Franco. O painel de Pablo Picasso havia sido encomendado pelo governo da República Espanhola em janeiro de 1937, mas os primeiros croquis de Guernica só começaram a ser feitos a primeiro de maio, em seu ateliê de Paris, sendo apresentado na Exposição Mundial de Paris, em junho. Muitos consideraram o quadro excessivamente abstrato e de difícil compreensão, mas o tom de denúncia era claro e só comparado com a fase negra de outro espanhol, Francisco Goya. ALFABETIZAÇÃO OU LETRAMENTO? LETRAMENTO: Resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. O estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais Observação importante: ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em 4 língua escrita e de decodificar a língua escrita; apropriar-se da escrita é tornar a escrita "própria", ou seja, é assumi-la como sua "propriedade”. Retomemos a grande diferença entre alfabetização e letramento, entre alfabetizado e letrado: um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita. Letramento definido num poema, uma estudante norte-americana, de origem asiática, Kate M. Chong, ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o em um poema: Texto 4: O QUE É LETRAMENTO? Letramento não é um gancho em que se penduracada som enunciado, não é treinamento repetitivo de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente O tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios, para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. 5 O poema mostra que letramento é muito mais que alfabetização. Ele expressa muito bem como o letramento é um estado, uma condição: o estado ou condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita desempenham na nossa vida. Enfim: letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita. ATIVIDADE: 1. Entre no poema de Kate e coloque mais 05 considerações suas do que é Letramento. 2. Faça o jogo inverso e coloque 05 considerações do que não é Letramento, procure fazê-lo em tom semelhante ao do poema. Texto 5 : Poucos brasileiros entendem o que leem. Não passam de 25% segundo pesquisa recente do Ibope. Vale dizer que maioria da população mantém-se nos limites de uma deficiência instrumental que torna sombrio o prognóstico quanto ao futuro da nação. A leitura é um dos últimos recantos da liberdade intelectual. Quem lê cria tanto ou mais que o autor. Com a imaginação solta, o leitor elabora mentalmente os cenários, compõe o perfil dos personagens, interpreta diálogos, identifica afinidades pessoais e vive, a seu modo, o prazer e a infinitude das emoções potencialmente contidas no texto. Quem lê não recebe imagens prontas, coloridas, acabadas. Tem de construí-las pelo processo do entendimento e interpretação. Suas emoções não são pautadas pelas vinhetas da mídia eletrônica que padronizam as emoções do telespectador sempre passivo , para modelar a opinião pública que interessa aos produtores. O leitor nunca é passivo. Exercita, o tempo todo, os mecanismos psicodinâmicos que fundamentam, estruturam e aperfeiçoam a consciência. Por isso, desenvolve a criatividade, refina a percepção, aprimora o senso crítico e fica imune às manipulações que a comunicação pela imagem veicula como ingredientes de dominação. A leitura é problematizadora, induz à reflexão, suscita hipóteses, faz pensar. Já a comunicação pela imagem, ao ser utilizada como ferramenta de controle da opinião pública, é a negação do pensamento. Não passa de show visual cheio de efeitos especiais que despertam a sensação do fantástico, do extraordinário, do instantâneo e promovem a preguiça mental do expectador por meio do deslumbramento programado. E o deslumbrado não pensa, admira. Não critica, assimila. Não forma sua opinião, repete a que recebe. Não reage, absorve. Não cria, consome. Não resiste, deixa-se aculturar. Não se afirma, submete-se. Não por acaso, as sociedades menos desenvolvidas e mais dominadas são justamente as que menos leem. São aquelas que admitem o analfabetismo com naturalidade, se é que suas elites não o perpetuam deliberadamente. Aliás, um dos indicadores de desenvolvimento usados na atualidade é o número de televisores difundidos pelo país. Não é o número de livros publicados ou lidos pelo cidadão. Os grupos dominantes sabem muito bem que a palavra escrita é incontrolável e, portanto, libertadora, enquanto a imagem pode ser cientificamente editada para inibir a liberdade de pensamento. Nesse 6 sentido, a palavra pertence à sintaxe da revolução, enquanto a imagem é a fonte da ilusão conservadora. A Santa Inquisição não queimava apenas as bruxas e os hereges. Incinerava montanhas de livros em praça pública para que não fossem lidos. Da mesma forma, em nosso país, agentes dos governos militares invadiam casas de subversivos, apreendiam e destruíam livros cujos títulos e autores integravam a lista dos proscritos do regime. Os jornais escritos foram duramente censurados, quando não empastelados. Em vez de criarem escolas para alfabetização e estímulo à leitura, optaram pela rede de televisão concebida como monopólio destinado a subjugar o povo, impondo-lhe novos padrões de consumo e dependência externa. Nos primeiros momentos houve necessidade de recurso às tropas para sufocar a resistência das gerações ainda formadas pela leitura. Mas, com o passar dos anos, a estratégia de controle pela mídia eletrônica produziu os resultados projetados. As gerações educadas pelos shows domingueiros e pela Xuxa de todas as manhãs foram se distanciando do hábito de ler e se desinteressando da palavra, do pensamento crítico, do vernáculo. A invasão cultural não tardou a nos americanizar, transformando-nos em consumidores da Disney, da violência enlatada, ou dos Big-Macs que já têm o sabor dos novos tempos. A comunicação pela imagem eletrônica é a tropa de ocupação dos tempos modernos. Sua eficiência é indiscutível. O império mais violento da história da humanidade é mantido e ampliado por meio das imagens cuidadosamente montadas que nos chegam via satélite. O último recanto da liberdade intelectual vai sendo assim tomado de assalto pela ditadura eletrônica. O pensamento humano tornou-se prisioneiro de telas e cabos. Contudo, nos piores momentos de repressão, nunca se deixou de escrever e ler. Ainda que clandestinamente. E foi, quase sempre, na clandestinidade que se produziram os textos e leituras que transformaram a história do homem. O escritor e o leitor dos dias atuais não são espécies em extinção, mas militantes da resistência libertária empurrados para a clandestinidade. Vivem nas catacumbas do atual império, mantendo, com a palavra escrita e a leitura, a réstia de luz transformadora que emana do ato de pensar para iluminar os rumos do futuro. Dioclécio Campos Júnior (É médico, professor titular de pediatria da UnB e vice- presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria ) Texto 6 UMA HISTÓRIA DE LEITURA Profa. Ms. Ivani Vecina Abib _ Maria, apaga essa luz! Mas era difícil fechar o livro! Apagava a luz e acendia o lampião, pouco se importando se esse cúmplice da noite seria o delator da manhã. O rosto sonolento, sujo de fuligem denunciaria que apagara a luz, mas continuara lendo. Essa história de minha mãe sempre me encantou. E, mesmo sem a cumplicidade do lampião, eu também lia à noite. Muitas vezes, confesso, eram livros que Dona Célia, bibliotecária do colégio proibia: “ainda não é hora!”, dizia ela. E Júlio Ribeiro, Adelaide 7 Carraro eram substituídos por José de Alencar, Machado e tantos outros. A tudo isso se acrescente o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Alan Kardec que lia todas as noites, depois do jantar, para meus avós. E eu lia, cheia de importância, afinal “ela sabe ler tão bonito”, diziam eles orgulhosos da neta. Entretanto, foram tempos difíceis os da minha infância, não fui criada entre intelectuais, nem bibliotecas, mas descendente de imigrantes espanhóis que valorizavam acima de tudo o trabalho. O estudo nos era dado como um presente, aquilo que eles não puderam ter e por isso afirmavam orgulhosos: “fazemos questão de formar nossos filhos”. A época da minhainfância coincidiu com a construção de Brasília, foram anos difíceis. Meu pai, empreiteiro de obras, perdeu tudo o que possuía, pois o material de construção desapareceu do mercado e o que estava disponível era absurdamente caro e dessa forma, não conseguiu cumprir com os contratos assinados. Nossa vida mudou radicalmente, da casa própria onde morávamos, confortável e bonita, mudamos para uma casa velha que alugamos de um parente distante. Um dia, à noite, ouvi meus pais conversando e minha mãe falou com uma voz que eu nunca ouvira antes. Mostrava preocupação e lágrimas contidas: _Amanhã, não temos dinheiro nem para a mistura! Meu irmão e eu ouvimos tudo aquilo, do quarto ao lado, apesar da pouca idade, sentimos o peso da responsabilidade. Ele tomou a decisão e para isso precisava da minha ajuda. Abriria uma banca de revistas e livros usados. Foi nesse momento que a leitura entrou na minha vida. Enquanto meu irmão saía para comprar livros e revistas, eu tomava conta da banca e lia... lia e escondia aqueles que eu não tinha lido ainda, recusando-me a vendê-los. Perguntavam os fregueses: _Chegou novidade? Algum livro? Alguma revista nova? _Não, hoje nada, ainda... E, a irmãzinha mais nova sentada no caixote-esconderijo era a cúmplice que me ajudava a ocultar aquelas preciosidades, pois à noite, ao som da minha voz, dramatizava aquelas histórias, ela adormecia sonhando com o Pimpinela Escarlate, sua personagem favorita. Assim eram nossos dias, quando à tarde, contávamos o dinheiro das vendas, e este não era suficiente para as despesas, todos os olhos se voltavam para mim. _Desse jeito não dá! Primeiro você vende, depois, se der você lê. E eu respondia, indignada: _Mas, hoje, você vendeu aquele, e eu já tinha passado da metade, estava quase no final. _ A mistura é mais importante, diziam todos. E revoltada eu ia para o meu quarto, criava um final para as minhas histórias, princesas, heróis, bruxas, cujo destino eu determinava. Eles povoavam os meus sonhos e eu sempre lhes dava um final feliz, casava moças solitárias, premiava os bons e regenerava os maus. Um dia, à mesa do café, antes de irmos para a escola, minha mãe sorriu, estendeu sua mão e tocou a de meu pai com carinho e firmeza. Então falou: _ Esta situação que estamos vivendo logo vai passar. Tenham paciência... ela gosta de ler, ela vai ser professora... _ Menina, não apague essa luz! Sobre os textos lidos:Escreva em seu caderno o assunto de cada texto.Escolha dois textos e faça o seu comentário. 8 UNIDADE II – As diferentes linguagens: VERBAL E NÃO-VERBAL Texto 1: Texto 2: Os retirantes Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhos Vêm das terras secas e escuras; pedregulhos Doloridos como fagulhas de carvão aceso Candido Portinari Os corpos esqueléticos castigados pela fome de uma família desesperada que leva tudo o que possui para buscar uma vida melhor. Essa seria uma das possíveis definições a serem dadas a respeito da série Retirantes, pintada por Candido Portinari na década de 40. Porém, atrás das pinceladas que criam o quadro há uma pessoa como outra qualquer, que possui anseios, desejos e vontades. A acentuada força dramática da Série Retirantes nasceu das visões de Portinari ainda menino. Desde pequeno, assistia da janela de sua casa ao vaivém das sofridas famílias que fugiam da seca do Nordeste à procura de trabalho. Eram famílias inteiras em estado de grande pobreza, imagens que marcaram a vida do menino e do pintor. Ser humano sensível denunciou através do pincel a degradação de uma parcela significativa de homens e mulheres, brasileiros trabalhadores e sofredores. Por meio de sua arte, o artista consegue com uma abrangente visão crítica, fazer um documento visual da nossa realidade. Um grande artista plástico e uma bela denúncia aos problemas da seca, que estão presente até hoje no contexto brasileiro. Texto não-verbal: Para Platão & Fiorin, 2007, quando nos referimos a texto ou linguagem, pensamos sempre em textos verbais, ou seja, na capacidade humana ligada ao pensamento que se materializa numa determinada língua e se manifesta por meio de palavras. Há outras formas de linguagem, ao longo dos tempos, o homem tem 9 manifestado diferentes formas de se comunicar, por exemplo, por meio da pintura, da mímica, da dança, da música e outras mais. O homem ao fazer uso dessas atividades representa o mundo, exprime seus pensamentos, comunica-se, denuncia, chama a atenção em relação a determinado tópico e também é capaz de influenciar os outros. Os sentidos podem ser expressos de duas formas, tanto a linguagem verbal quanto a não verbal e, para isso, utilizam-se de signos. Porém, caro aluno, convém que se ressalte que os signos representativos da linguagem verbal e não verbal aparecem de forma diversa. Na linguagem verbal, os signos são constituídos de sons da língua, ao passo que na linguagem não verbal se exploram outros signos, como as formas, a cor, os gestos, os sons musicais etc. Esses signos, constitutivos das linguagens verbal e não verbal combinam-se entre si, de acordo com regras próprias e obedecem a mecanismos de organização que são próprios da linguagem que representam. Semelhanças e diferenças: A linguagem verbal é linear. Isto significa que seus signos e os sons que a constituem não se superpõem, ou seja, são pronunciados ou escritos um de cada vez, ou seja, eles se sucedem destacadamente um depois do outro no tempo da fala ou no espaço da linha escrita. Isto significa dizer que com isso é que cada signo e cada som são usados em momentos distintos, a linguagem não-verbal, ao contrário da linguagem verbal, vários signos podem ocorrer simultaneamente. É dessa forma que percebemos os sons musicais, os movimentos e a expressão da dança, as cores e os traços de um quadro e mesmo uma fotografia. Se na linguagem verbal é impossível conceber palavras encavaladas umas nas outras, na pintura e outras expressões artísticas, por exemplo, podem-se ter várias figuras ao mesmo tempo. . Em relação ao texto não-verbal, podemos dizer que a princípio é considerado predominantemente descritivo, pois representa uma realidade singular e concreta, num ponto estático do tempo. Pensemos, em uma foto. Somente uma foto pode ser descritiva, no sentido que nos apresenta nos descreve determinado evento realizado num espaço de tempo. Mas, a sucessão de fotos pode ser uma narrativa, como podemos observar nos quadrinhos do reizinho na imagem apresentada anteriormente. Podemos ainda interpretá-las a partir da nossa visão de mundo. No entanto há um limite para a interpretação de cada um, ela não pode chegar ao absurdo da extrapolação, o que descaracterizaria totalmente o texto. Vejamos a imagem abaixo: 10 Atualmente, há inúmeros recursos com relação à fotografia, propaganda, cinema, televisão, o que nos levar a crer que o texto não-verbal seja uma cópia fiel da realidade. Porém, como sabemos essa impressão não é verdadeira. Para citar exemplo da fotografia, observe a capa da revista Claudia com a atriz Taís Araújo. Sabemos também que esta atriz é linda, mesmo assim, o fotógrafo lançou mão de recursos tecnológicos disponíveis hoje, para alterar a realidade: o jogo de luz, o ângulo, o enquadramento etc. Bem, e os textos verbais, será que estes textos também devem ser interpretados ao pé da letra? Será que retratam fielmente a realidade? Para Platão & Fiorin, 2007, os textos verbais podem ser figurativos, ou seja, reproduzem elementos concretos, produzindo um efeito de realidade. Caro aluno, leia o texto abaixo, “O homem e a galinha”, de Ruth Rocha, www.portalimpacto.com.br e poderemos esclarecer o que na realidade o figurativo representa no texto. O homem e a galinhaRuth Rocha Era uma vez um homem que tinha uma galinha. Era uma galinha como as outras. Um dia a galinha botou um ovo de ouro. O homem ficou contente. Chamou a mulher: - Olha o ovo que a galinha botou. A mulher ficou contente: - Vamos ficar ricos! E a mulher começou a tratar bem da galinha. Todos os dias a mulher dava mingau para a galinha. Dava pão-de-ló, dava sorvete. E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro. Vai que o marido disse: - Pra que esse luxo com a galinha? Nunca vi galinha comer pão-de-ló... Muito menos sorvete! Então a mulher falou: - É, mas esta é diferente. Ela bota ovos de ouro! O marido não quis conversa: - Acaba com isso, mulher. Galinha come é farelo. Aí a mulher disse: - E se ela não botar mais ovos de ouro? - Bota sim! – o marido respondeu. A mulher todos os dias dava farelo à galinha. E a galinha botava um ovo de ouro. Vai que o marido disse: - Farelo está muito caro, mulher, um dinheirão! A galinha pode muito bem comer milho. 11 - E se ela não botar mais ovos de ouro? - Bota sim! – o marido respondeu. Aí a mulher começou a dar milho pra galinha. E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro. Vai que o marido disse: - Pra que esse luxo de dar milho para a galinha? Ela que cate o de-comer no quintal! - E se ela não botar mais ovos de ouro? – a mulher perguntou. - Bota sim! – o marido falou. E a mulher soltou a galinha no quintal. Ela catava sozinha a comida dela. Todos os dias a galinha botava um ovo de ouro. Um dia a galinha encontrou o portão aberto. Foi embora e não voltou mais. Dizem, eu não sei, que ela agora está numa casa onde tratam dela a pão-de-ló. Reflita: De que trata o texto? Estará a autora falando de galinha? Preocupada com a sua alimentação? Ou esses são elementos figurativos e se referem ao homem e às relações humanas? Quantos exemplos na nossa própria vida podem comparar ao descrito no texto? É disso que falamos em relação a elementos figurativos. Porém, há também textos que podem ser temáticos, aqueles que exploram temas abstratos. Vejamos como tratar o texto “O homem e a galinha” do ponto de vista temático. Muitas vezes o homem não se dá conta da importância que têm as pessoas em suas vidas, por vezes as exploram ou não lhes dão o devido valor. Mas, o tempo pode levar aquele que não é reconhecido ou que é explorado a ter seu valor reconhecido por outra pessoa. Só então, aquele que explorou verá o erro que cometeu. ►Textos não verbais: Os textos não-verbais podem também ser dominantemente figurativos (as fotos, a escultura clássica) ou não-figurativos e abstratos. Neste caso não pretendem simular elementos do mundo real. Caro aluno vejamos as especificidades da leitura de texto verbal e não-verbal. O texto verbal: a palavra e suas figuras: aliteração, rima, ritmo, assonância, a escolha lexical etc. Veja a poesia que concretiza uma Maria fumaça, tente perceber, caro aluno, a maneira como as palavras estão dispostas e a clara intenção dos autores em trazer a nossa lembrança o som, a imagem de um trem e o percurso que ele faz. 12 Trem de ferro (fragmento) Café com pão Tom Jobim e Manuel Bandeira Virgem Maria que foi isto maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Café com pão Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força. Vamos agora as especificidades do texto não verbal. As imagens que seguem são do genial Charles Chaplin, que provavelmente você conhece e também a sua personagem Carlitos. Essas imagens podem levá-lo ao contexto de sua época, mas também pode possibilitar que você faça outras comparações, que recorra ao seu arquivo mental, seu repertório e seu conhecimento de mundo. Dessa forma você já percebeu que podemos nesse texto não verbal fazer diferentes leituras, mas provavelmente elas terão algo em comum. 13 UNIDADE III: NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO Considerações sobre texto. A revista Veja de 1º de junho de 1988, em matéria publicada nas páginas 90 e 91, traz uma reportagem sobre um caso de corrupção que envolvia, como suspeitos, membros ligados à administração do governo do Estado de São Paulo e dois cidadãos portugueses dispostos a lançar um novo tipo de jogo lotérico, designado pelo nome de “Raspadinha”. Entre os suspeitos figurava o nome de Otávio Ceccato, que, no momento, ocupava o cargo de Secretário de Indústria e Comércio e que negava a sua participação na negociata. O fragmento que vem a seguir, extraído da parte final da referida reportagem, relata a resposta de Ceccato aos jornalistas nos seguintes termos: Na sua posse como secretário de Indústria e Comércio, Ceccato, nervoso foi infeliz ao rebater as denúncias. “Como São Pedro, nego, nego, nego”, disse a um grupo de repórteres, referindo-se à conhecida passagem em que São Pedro negou conhecer Jesus Cristo três vezes na mesma noite. Esqueceu-se de que São Pedro naquele episódio, disse talvez a única mentira de sua vida. (Ano 20, 22:91.) Como se pode notar, a defesa do secretário foi infeliz e desastrosa, produzindo efeito contrário ao que tinha em mente. A citação, no caso, ao invés de inocentá-lo, acabou por comprometê-lo. Ao citar a passagem bíblica, o acusado esqueceu-se de que ela fez parte de um texto e, em qualquer texto, o significado das frases não é autônomo. Desse modo, não se pode isolar frase alguma do texto e tentar-lhe conferir o significado que se deseja. Primeira consideração: O texto não é um aglomerado de frases Observe agora o seguinte texto: No começo de 1981, um jovem de 25 anos chamado John Hinckey Jr. Entrou numa loja de armas de Dallas, no Texas, preencheu um formulário do governo com endereço falso e, poucos minutos depois, saiu com a Saturday Night Special – nome criado na década de 60 para chamar um tipo de revólver pequeno, barato e de baixa qualidade. Foi com essa arma que Hinckley, no dia 30 de março daquele ano, acertou uma bala no pulmão do presidente Ronald Reagan e outra na cabeça de seu porta-voz, James Brady. Reagan recuperou-se totalmente, mas Brady desde então está preso a uma cadeira de rodas. (...) Seguramente, por trás da notícia, existe, como pressuposto, um pronunciamento contra o risco de vender arma para qualquer pessoa indiscriminadamente. Para comprovar essa constatação, basta pensar que os fabricantes de revólveres, se pudessem, não permitiriam a veiculação dessa notícia. O exemplo escolhido deixa claro que qualquer texto, por mais objetivo e neutro que pareça, manifesta sempre um posicionamento frente a uma questão qualquer posta em debate. Segunda consideração: todo texto contém um pronunciamento dentro de um debate de escala mais ampla. 14 Conclusão: a) Uma boa leitura nunca pode basear-se em fragmentos isolados do texto, já que o significado das partes sempre é determinado pelo contexto dentro do qual se encaixam. b) Uma boa leitura nunca pode deixar de apreender o pronunciamento contido por trás do texto, já que sempre se produz um texto para marcar posição frente a uma questão qualquer. Leia o texto abaixo e considere as possíveis leituras: Urubus e sabiás - Rubem Alves "Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor eminício de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. — Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente... — Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás... MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá." O texto acima foi extraído do livro "Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 81. 15 UNIDADE IV: TEXTOS ORAIS E TEXTOS ESCRITOS Textos orais e textos escritos A interação pela linguagem materializa-se por meio de textos, sejam eles orais ou escritos. É relevante, no entanto, reconhecer que fala e escrita são duas modalidades de uso da língua que, embora se utilizem do mesmo sistema linguístico, possuem características próprias. As duas não têm as mesmas formas, a mesma gramática, nem os mesmos recursos expressivos. Para a compreensão dos problemas da expressão e da comunicação verbais, é necessário evidenciar essa distinção. Para dar início às suas reflexões, leia o texto de Millôr Fernandes, a seguir: A vaguidão específica “As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago específica.” (Richard Gehman) - Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. - Junto com as outras? - Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. - Sim senhora. Olha, o homem está aí. - Aquele de quando choveu? - Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. - Que é que você disse a ele? - Eu disse pra ele continuar. - Ele já começou? - Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. - É bom? - Mais ou menos. O outro parece mais capaz. - Você trouxe tudo pra cima? - Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera. - Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. - Está bem, vou ver como. FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. São Paulo, Círculo do Livro, 1976, p.77.) No texto, o autor revela ironia ao atribuir às mulheres o falar de modo vago e por meio de elipses. No entanto, tais características são próprias do texto oral, em que a interação face a face permite que os interlocutores, situados no mesmo tempo e espaço, preencham as lacunas ali existentes, já que ambos, ancorados em dados do contexto e no conhecimento partilhado que possuem, são capazes de compreender e produzir sentido ao que se diz. Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com textos orais do que com textos escritos. Todos os povos, indistintamente, têm ou tiveram uma tradição oral e relativamente poucos tiveram ou têm uma tradição escrita. 16 No entanto, isso não torna a oralidade mais importante que a escrita. Mesmo que a oralidade tenha uma primazia cronológica sobre a escrita, esta, por sua vez, adquire um valor social superior à oralidade. A escrita não pode ser tida como representação da fala. Em parte, porque a escrita não consegue reproduzir muitos dos fenômenos da oralidade, tais como a prosódia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos, entre outros. Ela apresenta, ainda, elementos significativos próprios, ausentes na fala, tais como o tamanho e o tipo de letras, cores e formatos, sinais de pontuação e elementos pictóricos, que operam como gestos, mímica e prosódia graficamente representadas. Observe a transcrição de um texto falado, retirado de uma aula de História Contemporânea, ministrada no Rio de Janeiro, no final de década de 70. Procure ler o texto seguinte como se você estivesse “ouvindo a aula”. ... nós vimos que ela assinala... como disse o colega aí,,, a elevação da sociedade burguesa... e capitalista... ora... pode-se já ver nisso... o que é uma revolução... uma revolução significa o quê? Uma mudança... de classe... em assumindo o poder... você vê por exemplo... a Revolução Francesa... o que ela significa? Nós vimos... você tem uma classe que sobe... e outra classe que desce... não é isso? A burguesia cresceu... ela ...a burguesia possuía... o poder... econômico... mas ela não tem prestígio social... nem poder político... então... através desse poder econômico da burguesia... que controlava o comércio... que tinha nas mãos a economia da França... tava nas mãos da classe burguesa... que crescera... desde o século quinze... com a Revolução Comercial... nós temos o crescimento da classe burguesa... essa burguesia quer... quer... o poder...ela quer o poder político... ela que o prestígio social... ela quer entrar em Versalhes... então nós vamos ver que através... de uma Revolução...ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso é uma revolução porque significa a ascensão de uma classe e a queda de outra... mas qual é a classe que cai? É a aristocracia... tanto que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso? (Dinah Callou (org.). A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro – materiais para seu estudo. Elocuções formais. Rio de Janeiro, Fujb, 1991, p. 104-105) É possível notar que o texto é bastante entrecortado e repetitivo, apresenta expressivas marcas de oralidade e progride apoiando-se em questões lançadas aos interlocutores, no caso, aos alunos. Isso não significa que o texto falado é, por sua natureza, absolutamente caótico e desestruturado. Ao contrário, ele tem uma estruturação que lhe é próprio, ditada pelas circunstâncias sócio-cognitivas de sua produção. No entanto, tais características, próprias do texto oral, são consideradas inapropriadas para o texto escrito. E por quê? Para entender essa questão, inicialmente, faz-se necessário observar a distinção entre essas duas modalidades de uso da língua, proposta por Marcuschi (2001:25). Para o autor a fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral. É caracterizada pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos, bem como os aspectos prosódicos e recursos expressivos como a gestualidade, os movimentos do corpo e a mímica. Já a escrita, por sua vez, seria um modo de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica, embora envolva também recursos de ordem pictórica e outros. 17 Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua tecnologia, por unidades alfabéticas (escrita alfabética), ideogramas (escrita ideográfica) ou unidades iconográficas. Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à fala. De modo geral, discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, na transmissão e recepção, nos meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados. Para Koch (2002), entre ascaracterísticas distintivas mais frequentemente apontadas entre as modalidades falada e escrita estão as seguintes: Fala Escrita 1. Contextualizada. 1. Descontextualizada. 2. Não-planejada. 2. Planejada. 3. Redundante. 3. Condensada. 4. Fragmentada. 4. Não-fragmentada. 5. Incompleta. 5. Completa. 6. Pouco elaborada. 6. Elaborada. 7. Predominância de frases curtas, simples ou coordenadas. 7. Predominância de frases complexas, com subordinação abundante. 8. Pouco uso de passivas. 8. Emprego frequente de passivas. 9. Pouca densidade informacional. 9. Densidade informacional. 10. Poucas nominalizações. 10. Abundância de nominalizações. 11. Menor densidade lexical. 11. Maior densidade lexical. Vamos esclarecer passo a passo essas diferenças entre a fala e a escrita, lembrando sempre que a linguagem escrita e a oral não são modalidades prontas, estanques, estão em constante evolução. Mas não se pode desconsiderar as particularidades de cada uma. A oralidade possui recursos diferentes da escrita, como veremos a seguir. É certo que ninguém escreve exatamente como fala, são processos diferentes em condições de produção diferentes. Devemos ter em mente que aspectos como: o contexto, o assunto tratado e a intenção de quem produz o texto, seja ele oral ou escrito são diferentes, mas ambas, oralidade e escrita são parte da linguagem humana e da necessidade de comunicação que acompanha o homem desde sua origem. 1.Contextualizada/descontextualizada: durante a conversa existe um contexto que é do conhecimento do falante, eles se entendem até mesmo pelo olhar, quanto à escrita, se esta não for clara o leitor provavelmente não entenderá o que o autor quis dizer. 2.Não planejada/planejada: a fala tem a característica da espontaneidade, de poder dizer novamente se algo ficou ambíguo ou mal entendido. Quanto à escrita, precisa ser planejada, pode se fazer a reescrita caso algum enunciado não fique claro, pois, depois que o texto está nas mãos do leitor é impossível desfazer o que foi escrito, salvo pelas ERRATAS que muitas vezes vemos em trabalhos, revistas ou jornais. 3.Redundante/condensada: na oralidade um fato comum é a ênfase que muitas vezes leva os falantes à repetição. Porém, na escrita, o texto precisa ser mais enxuto, não deve ser repetitivo e as idéias necessariamente expostas com clareza. 4.Fragmentada/não fragmentada: a oralidade se caracteriza por frases entrecortadas, espaçamentos entre as ideias, a escrita exige uma linearidade textual e o uso dos sinais de pontuação, como as reticências, exclamações para passar para o leitor a intenção do seu texto. 18 5.Incompleta/completa: a fala pode ser muitas vezes incompleta pela própria cumplicidade que existe entre os falantes, muitas vezes sem dizer eles sabem o que seu interlocutor está pensando. Quanto à escrita, já sabemos da necessidade da clareza na exposição das ideias e do dos fatos. 6.Pouco elaborada/elaborada: devido ao caráter informal da fala, esta não necessita de excessivos cuidados com a norma culta da língua, salvo em situações de formalidade como: palestra, discurso, entre outras. A escrita deve, obrigatoriamente seguir a norma culta, a gramática, porém existem situações como cartas familiares, bilhetes que podem abrir mão da formalidade. 7.Predominância de frases curtas, simples ou coordenadas/predominância de frases complexas, com subordinação abundante: na oralidade predomina o período coordenado pois possui como característica uma ordenação de idéias sem muita inversão das orações, diferente do que acontece no período subordinado. 8.Pouco uso de passivas/emprego frequente de passivas: a voz usada na oralidade tem a predominância dos tempos simples da voz ativa enquanto que os tempos compostos, usos de auxiliares são características mais comuns na voz passiva e, portanto, mais freqüentes na escrita. 9.Pouca densidade informacional/densidade informacional: como já foi explicado, o que caracteriza a oralidade é o seu caráter informal e o fato de os interlocutores partilharem o conhecimento, enfim, saberem do que estão falando. Já a escrita precisa ser densa no que diz respeito às informações, porque não existe a situação face a face da oralidade, na escrita o seu interlocutor está distante e você muitas vezes não o conhece. 10.Poucas nominalizações/abundância de nominalização: a ocorrência da nominalização se dá no vocabulário, é comum na escrita não repetir palavras ou estruturas sintáticas, fato que na oralidade se dá com muita frequência. 11.Menor densidade lexical/maior densidade lexical: na oralidade, praticamente, não existe a preocupação da variedade do vocabulário, porém, devemos lembrar sempre do grau de formalidade que envolve a conversação. Na escrita existe uma preocupação com o vocabulário variado e conservador, também, dependendo do grau de formalidade do texto. Façamos agora, caro aluno, uma reflexão. Essas diferenças nem sempre distinguem as duas modalidades. Isso porque se verifica, por exemplo, que há textos escritos muito próximos ao da fala conversacional (bilhetes, recados, cartas familiares, por exemplo), e textos falados que mais se aproximam da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais, entre outros). Atualmente, pode-se conceber o texto oral e o escrito como atividades interativas e complementares no contexto das práticas culturais e sociais. Nesse sentido, a oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas linguísticos distintos. Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialetais. Cabe lembrar, finalmente, que em situações de interação face a face, o locutor que detém a palavra não é o único responsável pelo seu discurso. Trata-se, como bem mostra Marcuschi (1986), de uma atividade de co-produção discursiva, visto que os interlocutores estão juntamente empenhados na produção do texto. 19 UNIDADE V: Estilos e gêneros discursivos: jornalístico, científico, técnico, literário, publicitário entre outros; TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS 1.TEXTO NARRATIVO O texto narrativo é o mais conhecido e universalmente apreciado – todos ouvimos histórias, contamos histórias, conhecemos romances e novelas, livros policiais e de aventura. Pense nos textos narrativos mais usados nos primeiros anos da escola – a história do Pequeno Polegar, Branca de Neve, da Emília no Sítio do Picapau Amarelo, a fábula do Lobo e o Cordeiro ou ainda a lenda sobre a origem da lua, das estrelas ou da mandioca. O texto narrativo pode ser literário ou não-literário. Ele é literário quando se aproxima da função expressiva – embora o valor literário do texto possa ser maior ou menor. Mas um texto narrativo também pode ser não literário, como no caso de notícias, cartas pessoais, bilhetes etc. O texto deixa de ser literário quando se aproxima da função informativa. 1.1 Gênero Conto Tradicional Os contos tradicionais, ou populares, são antigos gêneros literários orais, de origem popular. Eles não têm autores, pois surgiram de pessoas comuns e foram contados ou recontados por pessoas diversas, em lugares e épocas diferentes. Estrutura: Situação inicial: Era umavez... o conto tradicional apresenta o personagem principal (herói) e o conflito que esse personagem vai viver na história. Conflito: os problemas ou dificuldades a serem superados. Enredo: o personagem precisa vencer obstáculos e enfrentar situações de perigo para conseguir resolver o conflito. Tendência à magia: para resolver o conflito, o personagem esbarra com elementos mágicos, representados por fadas madrinhas, varinhas de condão, maçãs envenenadas,etc. Desfecho: E viveram felizes para sempre... O Conto Tradicional deve: - ser de tradição oral (não tem autor); - tratar de temas universais; - apresentar tempo e lugar indeterminados; - ter um herói (ou heroína) que enfrenta perigos; - ter um final feliz. 1.2 Gênero Conto de Fadas A palavra “fada” é originária do latim “fatum”, que por sua vez vem do grego e significa “coisa que brilha”. A característica mais importante das fadas é o encantamento. Foi esse encantamento que transformou os contos populares em um tipo de texto pertencente ao reino maravilhoso. Isto é, o conto de fadas é um tipo de conto 20 popular, porém com características predominantemente fantásticas, que rompem com o real e utilizam elementos mágicos. Estrutura Espaço: as situações reproduzidas nessas narrativas acontecem num espaço regido por leis sobrenaturais, comumente bosques e florestas. Tempo: o tempo é irrelevante, pois tudo acontece de repente e a duração dos acontecimentos não é medida. Personagens: esse é um mundo dos seres maravilhosos: fadas, anões, magos, bruxas, gigantes, gênios, duendes e outros criados pela imaginação e atribuído à natureza. Enredo: os conflitos são provocados por uma intenção maldosa contra uma pessoa de bem e só se resolvem pelo encantamento. Desfecho: no final da história, a virtude triunfa e o ser malévolo é impiedosamente castigado. Assim, tudo termina num final feliz. A diferença entre os contos populares, é que, nos contos de fadas, a solução do conflito é provocada por uma ação mágica. O Conto de Fadas deve: - ser de tradição oral (não tem autor); - tratar de temas universais; - acontecer num espaço regido por leis sobrenaturais; - apresentar tempo indeterminado; - ter um herói (ou heroína) que enfrenta seres malévolos; - ter um final feliz. 1.3 Gênero Fábula As fábulas pertencem ao grupo de histórias criadas pela tradição oral – junto com os contos de fadas, lendas e mitos. As fábulas são histórias curtas, geralmente utilizam o diálogo entre os personagens. Os personagens geralmente são animais. Toda fábula tem uma moral. ESTRUTURA Histórias curtas: há um só conflito; isso resulta numa narrativa concisa e sóbria. Diálogo: no que se refere à linguagem, a fábula é objetiva. Daí ter pouca descrição e muito diálogo. Personagens: os animais são usados como personagens. Eles representam virtudes, defeitos e características dos seres humanos. Moral: as fábulas terminam sempre com a apresentação de uma moral, que resume a ideia principal da história. A Fábula deve: - tratar de temas universais; - ser uma história curta; - ter animais como personagens (que simbolizem virtudes humanas); - ter o predomínio de diálogos; - terminar com uma moral (geralmente na forma de um provérbio). A fábula é das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o da própria linguagem. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta 21 francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais da fábula. No Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no Sítio do Picapau Amarelo. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo 1.4 Gênero Lenda A característica das lendas é a mistura entre algo real - um acontecimento sobre a vida de uma pessoa ou de um povo – e o fantástico, uma explicação fantasiosa, milagrosa ou imaginária usada para explicar e valorizar o fato ou personagem da lenda. ESTRUTURA Tradição oral: por isso tem autor desconhecido. Tempo: geralmente, não fazem referência a um tempo, exceto para situar o contexto (gregos, fundação de Roma, povos indígenas). Histórias curtas: escritas em linguagem direta e simples. Personagem: diferentemente do conto popular e da fábula, os seres humanos são os protagonista. Enredo: o ponto central de interesse é o caráter explicativo – o que se quer contar sobre uma pessoa, animal ou fenômeno – e qual a natureza a explicação. A lenda sempre está relacionada a algo real – origem da mandioca, do trovão etc. A Lenda deve ser: - de tradição oral (não tem autor); - uma história curta; - explicativa (explicar a origem das coisas); - contada com linguagem simples e direta. 1.5 Gênero Mitos Brasileiros A palavra mito significa crença. Mas não se trata de qualquer crença. Trata-se de uma crença usada para entender e explicar o mundo, o que acontece na natureza. E, geralmente, são explicações baseadas em eventos sobrenaturais ou seres extraterrenos, como deuses, pessoas ou animais com poderes mágicos. ESTRUTURA Tradição oral: por isso tem autor desconhecido. Tempo: não fazem referência a um tempo. Histórias curtas: escritas em linguagem direta e simples. Personagem: o ponto central de interesse é o personagem em si, que se reveste de importância, pois mostra a imaginação popular e sua criatividade no que se refere à criação da ficção. Enredo: diferentemente de outras narrativas tradicionais de origem oral, esses textos destacam personagens fantásticos, dotados de poderes sobrenaturais para o bem ou para o mal, que despertem medo nas pessoas; não raro, esses seres desempenham um papel importante na natureza. O Mito deve: - ser de tradição oral (não tem autor); - ter seres fantásticos com poderes sobrenaturais; - ser uma história curta; - descrever os personagens; - ter personagens que desperte medo nas pessoas; - ter linguagem simples e direta. 22 1.6 Gênero Conto Moderno O conto – contar uma história – é a forma mais tradicional e popular de escrita. Há vários tipos de conto. Uma forma é classificá-los em modernos e tradicionais. Os contos modernos, ou literários, começaram a ser escritos a partir do século XIV. Essa tendência começou com um escritor chamado Boccaccio, que escreveu os contos de Decamerão. Diferentemente dos contos tradicionais, o conto moderno tem um autor, não é fruto da imaginação coletiva, a linguagem é própria do autor e o estilo varia de acordo com o autor. ESTRUTURA Personagens: são, em geral, em número reduzido e suas características são pouco detalhadas. Conflito: é o motivo pelo qual o(s) personagem(s) encontra(m)-se em determinada situação. Ambiente: nesse gênero, a história costuma acontecer num ambiente único. O Conto Moderno deve ter: - um autor; - um narrador na 1ª ou 2ª pessoa; - curta duração (ser uma história pequena); - uma linguagem econômica; - poucos personagens; - o predomínio de diálogos. 1.7 Gênero Crônica A popularização da crônica como gênero literário é relativamente recente no Brasil. Data da segunda metade do século XIX. ESTRUTURA A crônica possui características gerais de um texto narrativo, mas tem características próprias: Introdução: por ser inspirada em acontecimentos reais, a crônica apresenta uma situação do cotidiano, que passadespercebida pelo cidadão comum. Enredo: muitas crônicas exploram bastante o humor, mas um tipo de humor baseado em situações banais, porém tensas. Há sempre um conflito, uma situação embaraçosa, inesperada que cria uma perplexidade na pessoa envolvida. Desfecho: a crônica termina, em geral, com um final surpreendente. Narrador: normalmente, a crônica é narrada na 1ª pessoa, ou seja, a história é contada por algum personagem. A crônica deve ter; - um autor; - curta duração; - poucos personagens; - uma situação real do cotidiano; - um narrador na 1ª pessoa (na maioria das vezes); - uma linguagem econômica, situada entre a linguagem oral e literária; - linguagem mesclada de seriedade, crítica e humor; - um final surpreendente. Exemplo de crônica: 23 Para Que Ninguém A Quisesse. Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos. Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E evitava sair. Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras. Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela. Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos. Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido em uma gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda. (Colasanti, Marina. Para que ninguém a quisesse. In: Contos de Amor Rasgados, Rio de Janeiro, Rocco, 1986. p. 111-2.) 2- TEXTO INFORMATIVO. Um texto informativo fornece informações, fatos e dados a respeito de um determinado assunto. Eles nos dão informações a respeito de aspectos da vida ou do mundo. Textos informativos são essenciais para desenvolvermos o conhecimento das coisas, do mundo, das disciplinas científicas, dos assuntos tratados na escola. 2.1- Gênero Definição Definições constituem um dos tipos de conhecimento mais importantes no currículo escolar. É por meio de conceitos precisos que o aluno pode adquirir novos conhecimentos, estabelecer relações entre diversos objetos ou conceitos. Definir é dizer as características essenciais e específicas de alguma coisa, de modo que a torne inconfundível com outra. Uma definição pode ser: - Dizer o que é; - Descrever (dizer como é); - Dizer a função; - Sinônimo; - Antônimo. 2.2- Gênero Descrição A descrição constitui tarefa entre as mais importantes no contexto escolar e também em nosso cotidiano. ESTRUTURA Espacial: os elementos são organizados no espaço. Por tanto é necessário usar locuções que indicam a localização: ao lado, abaixo, acima etc. Temporal: os elementos são organizados no tempo. Assim é muito comum utilizar termos como: primeiro, segundo, depois etc. Uma Descrição deve ter: 24 - uma organização espacial ou temporal; - uma linguagem com: substantivos precisos; muitos adjetivos. 2.3 – Gênero Informativo: Todo texto é informativo, pois sempre informa alguma coisa ao leitor. Contudo, há um gênero de texto que é mais especificamente voltado para o objetivo de informar com precisão. O texto informativo apresenta muitas e variadas informações sobre um objeto, um acontecimento ou aspecto da realidade. Distinções Importantes: Texto Informativo e texto instrucional: a diferença básica entre esses dois gêneros está no objetivo. Enquanto um tem por objetivo informar o outro vai além: informa e ensina. Texto informativo e notícia: a diferença básica entre esses dois gêneros está em que a notícia é um relato de fatos e acontecimentos atuais, de interesse e importância para a comunidade e fácil de ser compreendido pelo público. Texto informativo e texto de ficção: a diferença básica entre esses dois gêneros está no fato de o texto informativo ter estreita relação com a realidade, enquanto os de ficção não têm esse compromisso. Texto informativo e texto descritivo: no texto informativo há informações sobre os vários aspectos do objeto ou acontecimento, ao passo que no texto descritivo a ênfase é na apresentação do COMO é um objeto, pessoa ou paisagem. Um texto Informativo deve ter: - um conteúdo bem organizado; - uma organização cronológica, lógica ou por importância; - uma linguagem clara e precisa; - gráficos, ilustrações e referências relevantes; - vocabulário de acordo com o público a que se destina; - informações sobre o quê, quem, quando, onde, como e por quê. 3- TEXTO PERSUASIVO. Textos persuasivos, também chamados de argumentativos, são muito comuns em nosso dia a dia. O texto persuasivo é aquele cuja intenção é persuadir, ou seja, convencer. 3.1- Folheto: Os folhetos são usados para apresentar uma ideia, convencer alguém sobre alguma coisa, para levar as pessoas a mudar de atitude ou comportamento sobre hábitos de higiene, prevenção de doenças etc. ou para decidir onde passar as férias. Um Folheto deve ter: - um público alvo bem definido; - um objetivo bem definido (convencer alguém de algo); - um formato próprio (pequeno, muitas vezes dobrável); - uma linguagem que ajuda a convencer, persuadir; - se possível ou adequado: figuras e ilustrações. 3.2 – Anúncio: Um anúncio é um texto que utiliza palavras, imagens, música, recursos audiovisuais e efeitos sonoros e luminosos para atrair o consumidor, comunicando-lhe a existência, as qualidades e os supostos ou reais benefícios de um determinado produto ou serviço. Um Anúncio deve ter: - um público alvo bem definido; - um objetivo bem definido (convencer alguém de algo); - um slogan; 25 - uma linguagem atrativa, que ajuda a convencer, persuadir; - uma linguagem adequada ao público alvo; - ilustrações: desenhos ou fotos. 4- TEXTO DE PROCEDIMENTO. Um texto de procedimento explica como proceder, como fazer. O texto de procedimento é um texto com função diretiva, ele tem uma intenção comunicativa clara: dizer o que fazer e orientar sobre a maneira de fazer algo, realizar uma determinada tarefa. 4.1- Gênero Formulários; Formulários são textos destinados a recolher e armazenar informações específicas. Um Formulário deve: - recolher e armazenar informações; - ter um roteiro a ser seguido; - ter campo a serem preenchidos; - ter uma linguagem clara e precisa; - ser esquemático, com as informações bem organizadas. 4.2 – Gênero Instruções: Instruções, orientações, modos de uso, bulas, receitas, regras e procedimentos – esses são alguns dos muitos exemplos do gênero “instruções”. Uma Instrução deve ter: - ordenação passo a passo; - uma linguagem clara e precisa; - verbos no infinitivo ou imperativo; - um formato organizado em tópicos; - às vezes, outras informações: material necessário, descrição do objeto. A instrução para JOGOS deve ter: - objetivo, regras, descrição do material, número e tipo de participantes. 4.3 – Gênero Normas e Combinados:Normas e combinados são um tipo de regra, pois determinam princípios a serem seguidos em situações específicas. Todos eles têm a função de regular o funcionamento de alguma coisa ou as atitudes de alguém. As Normas e Combinados devem ter: - Caráter regulador; - Linguagem: clara e objetiva; genérica, que possa abarcar o maior número de situações. 5 – TIPO POESIA. A poesia é o tipo mais elaborado de textos literários. E também a mais difícil de ser incluída em qualquer tipologia de classificação. Em tudo pode haver poesia – num bilhete, numa carta, num acróstico, numa descrição, ou até mesmo numa foto, expressão facial ou num gesto. O poema é apenas uma das formas de expressão da poesia. 5.1 – Poema: O poema é considerado a semente de toda a literatura, ou seja, tudo indica que a literatura começou em forma de poema; pois é o gênero mais antigo de que se tem notícia. ESTRUTURA Verso: cada linha do poema. Dependendo do número de sílabas métricas, os versos recebem nomes especiais, como por exemplo, os versos de cinco sílabas métricas, conhecidos como redondilhas menores, ou os de sete, conhecidos 26 como redondilhas maiores, ou ainda os de doze sílabas, os famosos alexandrinos. Estrofe: cada bloco dos versos. Forma fixa: dependendo do número e do tipo de estrofes, os poemas recebem nomes especiais. O soneto é a forma fixa mais conhecida, na língua portuguesa foi imortalizado por Camões. O soneto é um poema cuja forma consiste em dois quartetos e dois tercetos, nessa ordem. Mas além dos sonetos, houve muitas composições de forma fixa que fizeram grande sucesso durante longo tempo, são exemplos: acalantos, acrósticos, baladas etc. Métrica: o número de sílabas métricas de cada linha ou verso obedece a algumas regras. Rima: recurso que consiste em usar palavras que terminam de forma semelhante, quase sempre no final dos versos. As rimas podem ser paralelas, quando aparecem seguidas (geralmente em versos seguidos) ou intercaladas, quando aparecem alternadas com outras rimas. Exemplo de poesia: Soneto do amor total Amo-te tanto meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade. Amo-te enfim, num calmo amor prestante E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim, muito e amiúde É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. (Vinícius de Moraes) Texto extraído e adaptado do livro: Usando textos na sala de aula: Tipos e Gêneros textuais – João Batista Araújo e Oliveira; Juliana Cabral Junqueira de Castro. 27 UNIDADE VI: Interpretação de textos diversos e de assuntos da atualidade; As questões a seguir são retiradas do ENADE 2008 e 2006. QUESTÃO 1 O escritor Machado de Assis (1839-1908), cujo centenário de morte está sendo celebrado no presente ano, retratou na sua obra de ficção as grandes transformações políticas que aconteceram no Brasil nas últimas décadas do século XIX. O fragmento do romance Esaú e Jacó, a seguir transcrito, reflete o clima político-social vivido naquela época. Podia ter sido mais turbulento. Conspiração houve, decerto, mas uma barricada não faria mal. Seja como for, venceu-se a campanha. (...) Deodoro é uma bela figura. (...) Enquanto a cabeça de Paulo ia formulando essas ideias, a de Pedro ia pensando o contrário; chamava o movimento um crime. — Um crime e um disparate, além de ingratidão; o imperador devia ter pegado os principais cabeças e mandá-los executar. ASSIS, Machado de, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, Esaú e Jacó In Obra completa 1979. v. 1, cap. LXVII (Fragmento Os personagens a seguir estão presentes no imaginário brasileiro, como símbolos da Pátria. I. Disponível em: www.morcegolivre.vet.br II. III. IV. LAGO, Pedro Corrêa do; BANDEIRA, Júlio. Debret e o Brasil: Obra completa 1816- 1831. Rio de Janeiro: Capivara, 2007, p. 78. V. LAGO, Pedro Corrêa do; BANDEIRA, Júlio. Debret e o Brasil: Obra completa 1816- 1831. Rio de Janeiro: Capivara, 2007, p. 78. 28 QUESTÃO 2 CIDADÃS DE SEGUNDA CLASSE? As melhores leis a favor das mulheres de cada país-membro da União Européia estão sendo reunidas por especialistas. O objetivo é compor uma legislação continental capaz de contemplar temas que vão da contracepção à equidade salarial, da prostituição à aposentadoria. Contudo, uma legislação que assegure a inclusão social das cidadãs deve contemplar outros temas, além dos citados. São dois os temas mais específicos para essa legislação: A aborto e violência doméstica. B cotas raciais e assédio moral. C educação moral e trabalho. D estupro e imigração clandestina. E liberdade de expressão e divórcio. QUESTÃO 3 O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), talvez o pensador moderno mais incômodo e provocativo, influenciou várias gerações e movimentos artísticos. O Expressionismo, que teve forte influência desse filósofo, contribuiu para o pensamento contrário ao racionalismo moderno e ao trabalho mecânico, através do embate entre a razão e a fantasia. As obras desse movimento deixam de priorizar o padrão de beleza tradicional para enfocar a instabilidade da vida, marcada por angústia, dor, inadequação do artista diante da realidade. Das obras a seguir, a que reflete esse enfoque artístico é: a) Homem idoso na poltrona Rembrandt van Rijn – Louvre, Paris. Disponível em: http://www.allposters.com B) Figura e borboleta Milton Dacosta Disponível em: http://www.unesp.br C) O grito – Edvard Munch – Museu Munch, Oslo Disponível em: http://members.cox.net D) Menino mordido por um lagarto Michelangelo Merisi (Caravaggio) National Gallery, Londres Disponível em: http://vr.theatre.ntu.edu.tw E) Abaporu – Tarsila do Amaral Disponível em: http://tarsiladoamaral.com.br QUESTÃO 4: INDICADORES DE FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL Observando os dados fornecidos no quadro, percebe-se: (A) um avanço nos índices gerais da educação no País, graças ao investimento aplicado nas escolas. (B) um crescimento do Ensino Médio, com índices superiores aos de países com esenvolvimento semelhante. (C) um aumento da evasão escolar, devido à necessidade de inserção profissional no mercado de trabalho. (D) um incremento do tempo médio de formação, sustentado pelo índice de aprovação no Ensino Fundamental. (E) uma melhoria na qualificação da força de trabalho, incentivada pelo aumento da escolaridade média. QUESTÃO 5 O tema que domina os fragmentos poéticos abaixo é o mar. Identifique, entre eles, aquele que mais se aproxima do quadro de Pancetti. (A) Os homens e as mulheres adormecidos na praia que nuvens procuram agarrar? (MELO NETO, João Cabral de. Marinha.Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1985.p. 14.) (B) Um barco singra o peito rosado do mar. A manhã sacode as ondas e os coqueiros. (ESPÍNOLA, Adriano. Pesca. Beira-sol. Rio de Janeiro: TopBooks, 1997. p. 13.) (C) Na melancolia de teus olhos Eu sinto a noite se inclinar E ouço as cantigas antigas Do mar. (MORAES,Vinícius de.Mar Antologia poética.25 ed. Rio de Janeiro:José Olympio,1984.p. 93.) (D) E olhamos a ilha assinalada pelo gosto de abril que o mar trazia e galgamos nosso sonosobre a areia num barco só de vento e maresia. (SECCHIN, Antônio Carlos. A ilha. Todos os ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. p. 148.) (E) As ondas vêm deitar-se no estertor da praia larga... No vento a vir do mar ouvem-se avisos naufragados... Cabeças coroadas de algas magras e de estrados... Gargantas engolindo grossos goles de água amarga... (BUENO, Alexei. Maresia. Poesia reunida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. p. 19.) QUESTÃO 6 Tendo em vista a construção da idéia de nação no Brasil, o argumento da personagem expressa: (A) a afirmação da identidade regional. (B) a fragilização do multiculturalismo global. (C) o ressurgimento do fundamentalismo local. (D) o esfacelamento da unidade do território nacional. (E) o fortalecimento do separatismo estadual. QUESTÃO 7 A formação da consciência ética, baseada na promoção dos valores éticos, envolve a identificação de alguns conceitos como: “consciência moral”, “senso moral”, “juízo de fato” e “juízo de valor”. A esse respeito, leia os quadros a seguir: Quadro I - Situação Helena está na fila de um banco, quando, de repente, um indivíduo, atrás na fila, se sente mal. Devido à experiência com seu marido cardíaco, tem a impressão de que o homem está tendo um enfarto. Em sua bolsa há uma cartela com medicamento que poderia evitar o perigo de acontecer o pior. Helena pensa: “Não sou médica devo ou não devo medicar o doente? Caso não seja problema cardíaco o que acho difícil ele poderia piorar? Piorando, alguém poderá dizer que foi por minha causa uma curiosa que tem a pretensão de agir como médica. Dou ou não dou o remédio?Oque fazer?” Quadro II - Afirmativas 1-O “senso moral” relaciona-se à maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos semelhantes, nosso comportamento, a conduta e a ação de outras pessoas segundo ideias como as de justiça e injustiça, certo e errado. 2-A “consciência moral” refere-se a avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. Qual afirmativa e respectiva razão fazem uma associação mais adequada com a situação presentada? (A) Afirmativa 1- porque o “senso moral” se manifesta como consequência da “consciência moral”, que revela sentimentos associados às situações da vida. (B) Afirmativa 1- porque o “senso moral” pressupõe um “juízo de fato”, que é um ato normativo enunciador de normas segundo critérios de correto e incorreto. (C) Afirmativa 1- porque o “senso moral” revela a indignação diante de fatos que julgamos ter feito errado provocando sofrimento alheio. (D) Afirmativa 2- porque a “consciência moral” se manifesta na capacidade de deliberar diante de alternativas possíveis que são avaliadas segundo valores éticos. (E) Afirmativa 2- porque a “consciência moral” indica um “juízo de valor” que define o que as coisas são, como são e por que são. QUESTÃO 8 Samba do Approach Venha provar meu brunch Saiba que eu tenho approach Na hora do lunch Eu ando de ferryboat Eu tenho savoir-faire Meu temperamento é light Minha casa é hi-tech Toda hora rola um insight Já fui fã do Jethro Tull Hoje me amarro no Slash Minha vida agora é cool Meu passado é que foi trash Fica ligada no link Que eu vou confessar, my love Depois do décimo drink Só um bom e velho engov Eu tirei o meu green card E fui pra Miami Beach Posso não ser pop star Mas já sou um nouveau riche Eu tenho sex-appeal Saca só meu background Veloz como Damon Hill Tenaz como Fittipaldi Não dispenso um happy end Quero jogar no dream team De dia um macho man E de noite uma drag queen. (Zeca Baleiro) I - “(...) Assim, nenhum verbo importado é defectivo ou simplesmente irregular, e todos são da primeira conjugação e se conjugam como os verbos regulares da classe.” (POSSENTI, Sírio. Revista Língua. Ano I, n.3, 2006.) II - “O estrangeirismo lexical é válido quando há incorporação de informação nova, que não existia em português.” (SECCHIN, Antonio Carlos. Revista Língua, Ano I, n.3, 2006.) III - “O problema do empréstimo linguístico não se resolve com atitudes reacionárias, com estabelecer barreiras ou cordões de isolamento à entrada de palavras e expressões de outros idiomas. Resolve-se com o dinamismo cultural, com o gênio inventivo do povo. Povo que não forja cultura dispensa-se de criar palavras com energia irradiadora e tem de conformar-se, queiram ou não queiram os seus gramáticos, à condição de mero usuário de criações alheias.” (CUNHA, Celso. A língua portuguesa e a realidade brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1972.) IV - “Para cada palavra estrangeira que adotamos, deixa-se de criar ou desaparece uma já existente.” (PILLA, Éda Heloisa. Os neologismos do português e a face social da língua. Porto Alegre: AGE, 2002.) O Samba do Approach, de autoria do maranhense Zeca Baleiro, ironiza a mania brasileira de ter especial apego a palavras e a modismos estrangeiros. As assertivas que se confirmam na letra da música são, apenas, (A) I e II. (B) I e III. (C) II e III. (D) II e IV. (E) III e IV. UNIDADE VII; Qualidades do texto: coerência, coesão, clareza, concisão e correção gramatical; COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS1 INTRODUÇÃO Nos quadrinhos acima, imagens e palavras são articuladas para compor a unidade do texto. O leitor percebe que: 1) as imagens completam o sentido das palavras e vice-versa; 2) há uma sequência do primeiro para o segundo quadrinho; 3) propõe-se um conceito de família partilhado por muitas pessoas. Trata-se de um texto misto - com imagens e palavras - que apresenta continuida- de de sentido: a primeira colocação, "ser pai é... é.., será completada pelo quadrinho final, em que o conceito de paternidade se traduz tanto pela fala da personagem, "...é ser feliz", quanto pela imagem do pai com os filhos no colo, envoltos em pequenos co- rações, num cenário doméstico em que a mãe, com expressão feliz, contempla o carinho entre os membros da família. Para compreender uma história em quadrinhos, ou HQ, o leitor tem de saber ler e entender o que está escrito nos balões e, ao mesmo tempo, compreender a relação do texto com as imagens. Além disso, deve ter um repertório ou conhecimento de mundo que o leve a compreender as situações retratadas - no caso acima, um conceito de família. Como qualquer texto, a HQ deve apresentar lógica interna e coerência. A coe- rência consiste na continuidade de sentido do texto, ou seja, para haver coerência, o assunto tratado deve ser conduzido do início ao fim de modo progressivo, dando unidade ao conjunto. A coerência não depende apenas do texto, mas também da in- teração entre texto, autor e leitor, isto é, do conhecimento de mundo compartilhado entre os interlocutores. Alguns textos mesclam tipos diversos de linguagem, como as histórias em quadrinhos, enquanto outros são compostos apenas por palavras: os textos verbais. O texto verbal pode ser oral ou escrito e ter um ou mais de um autor. Mistos ou verbais, os textos circulam em um contexto envolvendo interlocutores em permanente interação, que travam um "diálogo' Esse diálogo pode ocorrer tanto entre interlocutores que vivenciam algo no mesmo momento, por exemplo, conversam sobre um filme a que acabaram de assistir; como também entre interlocutores situados em momentos 1 Texto extraído de GOLDSTEIN, Norma, LOUZADA, Maria Silvia e IVAMOTO, Regina. O texto sem mistério: leitura e escrita na universidade. 2010. São Paulo: Editora Ática, p 19 e ss – com adaptações. Destina-se exclusivamente para fins didáticos. diferentes, por exemplo, alguém que lê um livro (no momento presente) escrito por um autor do passado. Levando em conta essa interação entre os interlocutores, fala-se em discurso,
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