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=== QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Como Medir para Melhorar EDA FERNANDES Copyright © 1996, by Casa da Qualidade Editora Ltda. Salvador: Rua Teófilo Braga, 02 — Pituba CEP 41810.300 — Tel/Fax: (71) 452-7045 / 451-2023 Atendimento ao cliente: 0800 717555 e-mau: casa_qualidade@uol.com.br Depósito Legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto N° 1.825, de 20 de dezembro de 1907 Direitos reservados e protegidos. Lei n° 5.988 de 14 de dezembro de 1973. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio, sem autorização prévia da editora por escrito. Autor(a): Eda Conte Fernandes Editor: Sérgio Almeida Coordenação Editorial: Deborah Moreira Editoração: Éder Jorge Santos Ayres Capa: Bahia Bureau Revisão: Linda Coutinho Impressão: Lis Gráfica Editora Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Fernandes, Eda Conte Qualidade de Vida no Trabalho / Eda Conte Fernandes — Salvador, BA: CASA DA QUALIDADE, 1996. ISBN 85-85651- l3-X 1. Administração de pessoal 2. Mudança organizacional 3. Qualidade de vida no trabalho 4. Satisfação no Trabalho 1. Título 95-3308 CDD- 658.31422 Índice para catálogo sistemático: 1. Qualidade de vida no trabalho: Administração de pessoal: Administração de empresas 658.31422 Apresentação Convidado a fazer a apresentação deste livro, restou-nos uma dúvida, sobre qual a ênfase a ser dada, sobre o que deveria ser explorado: o tema, a obra ou o autor. Em função da importância e da riqueza de todos os aspectos envolvidos, resolvemos exp’orar os três. Em primeiro lugar, o tema: Qualidade de Vida no Trabalho é, sem dúvida, uma preocupação crescente e fundamentada, de todas as empresas que buscam ser altamente competitivas, em mercados cada vez mais globalizados. Hoje, há uma unanimidade na certeza de que o homem é o principal elemento diferenciador, e o agente responsável pelo sucesso de todo e qualquer negócio. Aqui cabe a seguinte questão: se isto é verdade, como poderão as empresas ser bem sucedidas sem a satisfação dos seus funcionários? Será possível se obter a satisfação dos clientes, a partir de funcionários desmotivados e/ou insatisfeitos? Todas as organizações e os profissionais que têm visão de futuro já tem esta resposta de forma muito clara: Qualidade de Vida no Trabalho é uma questão de competitividade! Em segundo lugar, a obra: “Qualidade de Vida no Trabalho - Como medir para melhorar” é uma contribuição oportuna para as empresas. Não trata apenas de uma fundamentação do tema e “do que fazer”, mas principalmente, do “como fazer”. Mais que um livro, temos um livro-consultoria, escrito de forma simples e objetiva. Uma contribuição inédita! E, por último, a autora: Dra Eda Fernandes. Trata-se da maior autoridade brasileira no tema em questão, incluída entre as maiores do mundo. Nos últimos anos dedicou-se ao estudo e à criação de um método - “Auditoria Operacional de RH para Melhoria da Qualidade de Vida” - trabalho vencedor do primeiro Prêmio Ser Humano, concedido pela ABRH Nacional, em 1995. Após a aplicação bem-sucedida em empresas, com resultados extraordinários, a autora desenvolve, em parceria com a CETTA - fato aliás que nos deixa orgulhosos - um intenso trabalho de difusão desta metodologia por todo o país. Este é o lado técnico da autora. Quanto ao seu lado humano, bastam alguns minutos de contato com a Profa Eda para perceber que sua maneira de ser demonstra que Qualidade se faz principalmente com ações, com o próprio exemplo de ser, de viver. Fred Lima Diretor-Presidente CETTA Excelência Empresarial SUMÁRIO Apresentação. 11 Introdução. 13 Capítulo 1 - A Gestão da Qualidade Total e os Recursos Humanos. 21 1.1 O Desafio da Qualidade. 21 1.2 O Fator Humano como Diferenciador de Competitividade. 22 1.3 Qualidade e Participação. 24 1.4 Participação e Qualidade de Vida no Trabalho. 27 1.5 Impactos na Gestão dos Recursos Humanos. 30 Capítulo 2 - A Qualidade de Vida no Trabalho - de que se trata, afinal? 35 2.1 O Interesse por Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). 35 2.2 QVT - Uma Tentativa de Conceituação. 40 Capítulo 3 - Modelos e Fatores Determinantes de QVT. 47 Capítulo 4 - Etapas para Implantação de Programas de Qualidade de vida no Trabalho (QVT). 59 Capítulo 5 - QVT - Medindo para Melhorar - Como Fazer? 65 5.1 Auditoria Operacional de Recursos Humanos: Objetivos e Conceitos Básicos. 65 5.2 Auditoria Operacional de Recursos Humanos como Instrumento de Gestão. 68 5.3 O Processo de Auditoria: a Busca de uma Metodologia. 75 5.4 Guia para Auditoria de RH. 78 Capítulo 6 - Aplicação da Metodologia: Auditoria Operacional de Recursos Humanos - Relato de Caso. 83 6.1 Metodologia para Mensurar a Qualidade de Vida no Trabalho. 83 6.2 Análise e Interpretação dos Resultados. 89 6.2.1 Posicionamento Pessoal Sobre QVT. 90 6.2.2 Condições de Trabalho. 92 6.2.3 Avaliação Global dos Fatores de QVT. 96 6.2.4 Avaliação dos Fatores por Posto/Cargo. 98 6.2.5 Análise dos fatores Determinantes de QVT. 100 Considerações Finais. 103 Anexo 1 - Modelo da Pesquisa: Qualidade de Vida no Trabalho. 110 Anexo 2 - Roteiro Básico de Entrevista. 112 Bibliografia.117 INTRODUÇÃO “Não se pode falar em qualidade de produtos e serviços se aqueles que vão produzi-los não têm qualidade de vida no trabalho “. Eda Fernandes O texto deste livro trata, de modo especial, da qualidade de vida no trabalho, considerada indispensável à produtividade e à competitividade, cruciais à sobrevivência para toda e qualquer’ émpresa. Partindo-se desta convicção, mensurar os níveis de satisfação dos empregados sobre suas condições de trabalho é também uma questão-chave para o sucesso empresarial. Presentemente, mais do que nunca, observa-se uma movimentação intensa na busca de novas formas de gerir as empresas e seus recursos de toda ordem, principalmente os recursos humanos, visando aumentar sua rentabilidade. Muitas dessas tentativas, em termos do gerenciamento da força de trabalho, não são mais que paliativos e campanhas panfletárias ou estratégias patemalistas, não modificando em profundidade as práticas administrativas tradicionais, com reflexos pouco significativos nos resultados globais das organizações e menos ainda no que tange ao atendimento das necessidades e expectativas das pessoas. Esta tendência que pode ser observada em todos os países do mundo, indusive no Brasil, é decorrência da necessidade de atender-se a um mercado cada vez mais acirrado pela concorrência e, ao mesmo tempo, a tentativa de satisfazer consumidores cada vez mais exigentes. Em conseqüência, impõe-se a necessidade de um gerenciamento mais eficiente da força de trabalho 13 que, cada vez mais conscientizada e instruída, não aceita com facffidade trabalhar em condições pouco adequadas e satisfatórías. Assim sendo, discussões sobre Produtividade, Competitividade e Qualidade têm atraído a atenção de pesquisadores, profissionais de todas as áreas e, evidentemente, dos próprios empresários. Tal questão abre espaço para reflexões sobre novas formas de organização do trabalho e de implantação de tecnologias direcionadas para a Qualidade Total, exigindo maior comprometimento e participação por parte dos empregados, para a consecução de suas metas, refletindo-se no gerenciamento dos recursos humanos. Sabe-se que, em última análise, tais tendências são decorrentes dos avanços tecnológicos e da própria evolução da sociedade, levantando tópicos que estão na base da eficácia organizacional, como Democracia Industrial, Novas Formas de Organização do Trabalho, Qualidade Total de Vida no Trabalho e Qualidade Total, o que implica em profundas mudanças nas estratégias de gestão empresarial, demandando, em decorrência, mudanças no papel gerencial dos executivos e dirigentes das empresas, bem como no envolvimento dos próprios trabalhadores.De fato, tais mudanças, influenciadas pelas próprias mudanças sociais e culturais, afetando as exigências do consumidor, determinam conseqüentes alterações no processo produtivo em termos de tecnologia, equipamentos, materiais, métodos e organização do trabalho, mas que, sem dúvida, se refletem no gerenciamento do outro ator de processo produtivo: o trabalhador. Evidentemente, tais inovações exigirão novas posturas, novos comportamentos, novas concepções sobre a Gestão de Recursos Humanos. Neste sentido, Tsukamoto, consultor internacional, no que denomina a educação-chave da qualidade, destaca: “E impossível obter do cliente uma taxa de satisfação maior do que as apresentadas pelos funciondrios responsáveis pelo produto ou serviço oferecido. A insatisfação, a má- vontade, o desconforto e outras situações negativas para o trabalhador se incorporarão, de uma forma ou de outra, ao produto final, reduzindo o nível de satisfação do consumidor”. Logo, o conhecimento do nível de satisfação dos empregados é essencial como fonte motivadora, requerendo tecnologia 14 comportamental apropriada, tal como a que se propõe através da Metodologia designada por Auditoria Operacional de Recursos Humanos para a melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho. Esta é a principal contribuição deste livro. Assim sendo, propõe-se inicialmente uma reflexão sobre a influência determinante dos recursos humanos na produtividade, considerando-se diretrizes oriundas de consagrado referencial teórico, como vem sendo tratado por cientistas sociais (Mayo, Maslow, Herzberg, McGregor, McClelland, etc.) no que se refere à relação entre os níveis de satisfação das necessidades humanas e a produtividade empresarial. Da mesma forma, apoiando-se em conceitos modernos de autores sobre a Qualidade de Vida no Trabalho (Walton, Westley, Belanger, Werther, Davis, etc.) enfoca-se, ainda, a correlação entre a mobilização, a participação e o comprometimento do pessoal com a qualidade de vida no trabalho, visando à consecução das metas da Qualidade, buscadas a todo custo pela maioria das empresas. Desta forma, cientes de que a capitalização dos recursos humanos é tão essencial quanto a dos demais recursos com que contam as empresas, senão o fundamental e mesmo o diferenciador de sucesso, justifica-se a relevância da Auditoria Operacional de Recursos Humanos, visando subsidiar a Gestão Estratégica dos Recursos Humanos, de modo a melhorar a qualidade de vida dos empregados, o que, sem dúvida, irá refletir- se na produtividade empresarial. Entretanto, a grande dificuldade reside no levantamento da percepção dos funcionários sobre a própria qualidade de vida no trabalho. E mais, em como mensurar os níveis de satisfação face à complexidade de variáveis que afetam o bem-estar deles, com reflexos no desempenho profissional. E nesta direção que a metodologia a ser apresentada representa uma ferramenta operacional que visa ao gerenciamento e monitoramento de itens de controle, com vistas à melhoria da qualidade de vida de uma determinada organização. Certa subjetividade, sem dúvida, pode envolver as opiniões de empregados, e seus pontos dë vista não corresponderem à realidade, viesando os dados coletados, invalidando a investigação, 15 uma vez que a metodologia utiliza sondagens de opinião interna, com base na expressão dos trabalhadores de uma dada população- alvo. Este, entretanto, é um risco de toda pesquisa de ordem social. Porém, técnicas adequadas, tanto de coleta de dados como de seu tratamento estatístico computadorizado, auxiliam a precisar a análise e a interpretação dos resultados, permitindo que a Auditoria Operacional de Recursos Humanos possa ser utilizada como valioso instrumento de gestão. Tem-se trabalhado na busca de uma metodologia que visa mensurar os níveis de satisfação dos empregados sobre suas condições de trabalho, pois “não se pode melhorar o que não se consegue medir”. Conhecer a percepção dos empregados sobre aspectos organizacionais, ambientais e comportamentais relativos à sua situação de trabalho, através de técnicas confiáveis e científicas, permite o monitoramento de melhorias contínuas, assim como se procede em termos dos programas de Qualidade Total. É rodar o PDCA - essencial ao aprimoramento de qualquer produto ou serviço - na área de Recursos Humanos. Assim, o cliente interno, tal qual o cliente externo, passa a orientar as ações corretivas e gerar diretrizes que vão subsidiar a gestão estratégica de RH. O objetivo principal é a satisfação dos empregados, que precisam ser mobilizados para as metas de qualidade em qualquer organização. E inquestionável que “são os homens que fazem a diferença”, pois se torna cada vez mais difícil dissociar sucesso empresarial do gerenciamento adequado das pessoas. A relação entre qualidade de vida no trabalho e produtividade originou-se de estudos e pesquisas acadêmicas que a autora vem desenvolvendo nos últimos dez anos, e que foram objeto de experiências de assessorias de RH realizadas em diversas empresas. O resultado foi uma metodologia que teve o aval da ABRH Nacional, que lheconferiu o prêmio Ser Humano em 1995 pelo case “Auditoria Operacional de RH para Melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)”. O trabalho foi considerado de aplicação viável, no sentido de avaliar os níveis de satisfação de uma determinada população. Em linhas gerais, a metodologia do trabalho baseia-se na premissa de que toda pessoa que faz, sabe. Quer dizer, todo trabalhador, funcionário ou executivo sabe do que precisa em todos os 16 sentidos (físico, instrumental, técnico, psicossocial, organizacional) para melhorar sua performance profissional. Sabe também quais são suas necessidades para desenvolver um trabalho melhor, e elevar a sua qualidade de vida dentro da organização, o que, sem dúvida, refletir-se-á em sua própria vida pessoal. Portanto, são eles que têm informações valiosas a oferecer à gerência de RH das empresas. Entretanto, não se pode sair “perguntando”, ou distribuindo questionários, ou instalando caixas de sugestões, para alavancar informações. Embora possam auxiliar até certo ponto, esses mecanismos não constituem um instrumental cientifico que sirva à coleta de dados confiáveis. O que uma auditoria de RH propõe é a utilização de uma metodologia cientifica, calcada em modelo analítico de investigação que, embora elaborado com base na literatura que trata dos conceitos e fatores de QVT, seja adaptado a uma determinada realidade empresarial. Em geral, participa do desenho do modelo uma equipe interdisciplinar, constituída por diretores, executivos, gerentes, supervisôres e técnicos de todas as áreas da empresa (Finanças, Higiene e Segurança, Recursos Humanos, Produção etc.), para posteriormente, a partir da análise e interpretação dos resultados, selecionar subsídios às políticas e estratégias que forem mais adequadas à mobilização e satisfação do pessoal. Assim sendo, as etapas de um projeto de auditoria operacional de QVI de forma bastante sintética, começam com a elaboração de um instrumento estruturado e construído de acordo com o modelo específico, com o qual os dados são coletados através do método de entrevistas face-a-face em profundidade, realizadas por entrevistadores treinados, abrangendo uma amostra representativa de natureza probabilistica da população segmentada por setor ou categoria funcional. A seguir, os depoimentos são tratados cientificamente, utilizando-se a técnica de análise de conteúdo, sendo codificados, o que permite a sua quantificação, revelando os níveis de satisfação dos empregados por fator, por setor, por sexo ou por qualquer outra variável de segmentação que se pretenda avaliar. Os dados assim organizados passam a constituir um arquivo-mestre que pode ser processado com a utilização de programascomputadorizados de fácil acesso, através de técnicas estatísticas, que podem ser: 17 a) univariadas, para geração de tabelas de freqüência relativa, análise descritiva e desvio-padrão; b) bivariadas, para o cruzamento de segmentos identificados, visando determinar diferenças ou associações significativas entre eles; c) multivariadas e, de modo especial, análise fatorial, visando avaliar a estrutura de intercorrelações existentes entre conjuntos de variáveis, de modo a reduzi-los, pelo estabelecimento de fatores determinantes da QVT de uma dada população, sem perda significativa de informação, facilitando o entendimento das causas da insatisfação dos empregados afetando sua produtividade. Desta forma, o objetivo deste livro é o de fornecer ao leitor conhecimentos teóricos e instrumentos baseados em estudos e pesquisas sobre Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), realizados nos últimos dez anos, ilustrando-os com relatos de experiências desenvolvidas em empresas brasileiras, esperando que possam servir de base e estímulo para novas pesquisas e, ao mesmo tempo, como orientar a implantação de Programas de Qualidade de Vida no Trabalho. O conteúdo deste livro está dividido em quatro capítulos, assim resumidos: o primeiro apresenta considerações sobre a determinante influência da adequada gestão dos recursos humanos no sucesso dos Programas de Qualidade Total nas empresas; o segundo ocupa-se do estado da arte no que tange à linha de pesquisa Qualidade de Vida no Trabalho, incluindo conceitos, definições, fatores e modelos resultantes de referencial teórico já consagrado na comunidade científica sobre o tema. O terceiro capítulo consta de uma síntese sobre Auditoria Operacional de Recursos Humanos, onde se faz uma breve explanação sobre seus objetivos e conceitos básicos, ao mesmo tempo que se encaminha a exposição da metodologia que vem sendo objeto de estudos no sentido de identificarem-se itens de controle que permitam monitorar melhorias contínuas em termos da qualidade de vida dos trabalhadores, adotando procedimentos semelhantes ao PDCA (Deming) também no gerenciamento de recursos humanos. Tal tentativa metodológica, passí 18 vel de aperfeiçoamento com o decorrer de novas experimentações, vem ao encontro da dificuldade de mensuração das contribuições da Area de RH para a produtividade global da empresa, essencial à sua maior credibilidade e prestígio junto à alta administração e demais gerências operativas das empresas. No quarto capítulo, com base em pesquisas e experiências de consultoria, exemplifica-se a metodologia para a mensuração dos níveis de satisfação dos empregados de certa população face aos fatores específicos intervenientes na sua Qualidade de Vida, com decorrentes implicações na produtividade e competitividade de determinada realidade empresarial, demonstrando os procedimentos de coleta e tratamento dos dados com base em um determinado Modelo Analítico, modelado a partir das necessidades reais de uma dada empresa, apenas a título de exemplo. O livro, antes de tudo, representa uma valiosa oportunidade para a autora reunir conhecimentos oriundos de estudos, pesquisas e experiências realizadas, e oferecer subsídios ao leitor para elaboração de projetos de intervenção nos termos de Auditoria Operacional de Recursos Humanos na busca da melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho, na empresa em que atua. Por último, apresentam-se a título de contribuição e acrescentam-se para o aprofundamento dos estudos, algumas considerações e implicações extraídas de experiências realizadas em termos de consultoria e pesquisas sobre a implantação de programas de QVT. Inclui-se ainda, ao final, uma bibliografia básica, assim como alguns instrumentos que podem ser utilizados como sugestão na coleta de dados. Acreditando ser esta a forma mais efetiva, a autora espera contribuir para ampliar a compreensão sobre a qualidade de vida no trabalho, algo bastante importante para a vida total do indivíduo, mas essencial às metas da Qualidade Total. Isto porque, um programa de melhoria da qualidade de vida no trabalho pode permitir reconciliar os objetivos dos indivíduos em situação de trabalho e os propostos pelas organizações. Este é um dos grandes desafios que a sociedade e as empresas precisam enfrentar às portas do ano 2000. 19 1 A Gestão da Qualidade Total e os Recursos Humanos Eda Fernandes 1.1 - O DESAFIO DA QUALIDADE “Qualidade, Produtividade e Competitividade, um tripé buscado a todo custo pelas empresas do mundo inteiro, têm, na participação, sua pedra angular”. A busca da Qualidade é a tônica do momento, e mobiliza esforços de toda ordem nas empresas brasileiras, o que não deixa de trazer resultados positivos de uma certa forma. No entanto, “para obter um sucesso contínuo, a empresa tem de ser “expert” na busca de resultados (qualidade de produtos/serviços), na manutenção de um clima interno motivador e na abertura para a inovação e a flexibilidade (Paladini, 1994). Ou seja, difidilmente uma empresa que não dispensar o devido cuidado às dimensões essenciais que afetam aspectos comportamentais, terá pleno êxito no atendimento das metas propostas em termos de qualidade, produtividade e competitividade. A preocupação com o equilíbrio e a integração das dimensões tecnológicas, econômicas e sociais revela ser, no mínimo, uma atitude inteligente por parte dos dirigentes na implantação da Gestão da Qualidade Total, sob pena de fracassarem os programas por falta de sustentação em fatores-chave do processo. Na verdade, um estado de espírito e uma filosofia concreta calcados em determinados aspectos comportamentais, carac- 21 terizados de modo especial por uma liderança forte na vontade de implantação dos programas de Qualidade, e uma preocupação efetiva com a adesão de todo o pessoal, são essenciais ao sucesso. Para tanto, não bastam a boa intenção e a exortação por parte dos dirigentes e executivos para a mobilização do pessoal e comprometimento com as metas propostas. E imprescindível a competência gerencial na gestão das pessoas, sem a qual não se consegue atender às necessidades dos clientes internos e, por decorrência, dos clientes externos. De fato, o envolvimento dos funcionários não acontece ao acaso. Para se atingirem as metas organizacionais, é preciso difundir-se a responsabilidade pela Qualidade, base da produtividade e da competitividade. Esta adesão à responsabilidade, ao comprometimento com as metas da qualidade, exige, por sua vez, um estágio de desenvolvimento organizacional que a maioria das empresas, de um modo geral, não se empenhou em atingir. Desenvolvimento calcado, acima de tudo, na melhoria do próprio quadro funcional em termos de treinamento para a Qualidade, especificamente, e na atualização das chefias e gerências, e não apenas na aquisição de avançadas tecnologias, sofisticados equipamentos, melhorias nas instalações físicas e, mais recentemente, domínio das “ferramentas” da qualidade. E preciso dar condições às chefias para gerenciarem o processo voltado para a qualidade, incentivando a criatividade e a inovação, como também criando uma consciência básica de responsabilidade e de participação por parte dos empregados. Sabe-se que sete em cada 10 empresas que implantam programas de TQC, nos dois anos seguintes vêem fracassados tais programas. As razões apontadas têm sido ligadas ao fato de que as empresas trabalham mais em cima dos produtos e processos, não evoluindo simultaneamente também na gerência do pessoal em todos os níveis. Na realidade, a gestão da Qualidade Total se faz através das pessoas, em todos os níveis, sendo a gestão dos recursos humanos um dos fatores mais importantes do sucesso empresarial no que se refere à Qualidade. 1.2 O FATOR HUMANO COMO DIFERENCIADOR DE COMPETITIVIDADE Quandoas empresas voltam-se com sucesso para a qualidade, constata- se que houve uma mobilização, envolvendo desde a recepcionista, o faxineiro, o trabalhador, o técnico, os chefes, os 22 administradores e empregadores: todos sentem-se responsáveis pela qualidade. A totalidade das funções da empresa está envolvida numa estratégia que busca a “excelência “, entendida como a tendência ao aperfeiçoamento constante, como apregoa Whiteley (1992) na sua obra: “A empresa totalmente voltada para o cliente”. Neste sentido, as formas de organizar o trabalho tendo em vista o resultado final, são direcionadas para a mesma meta: a busca de melhorias contínuas do processo produtivo. Cada um, em seu nível, partilha da responsabilidade na Gestão da Qualidade Total, identificando disf unções, sugerindo medidas corretivas e inovações. Esta é a base dos princípios do TQC (Total Quality Control) que os Americanos e os Europeus e, mais recentemente, as empresas brasileiras se esforçam para pôr em prática. Tal estratégia, efetivamente, concorre para a melhoria da produtividade empresarial, mas exige muito mais de dirigentes e empregados. Isto porque, para tanto, é indispensável fazer-se apelo sistemático a todo um conjunto de técnicas e práticas que orientam o método da Qualidade Total, com ênfase nas noções de mensuração e controle. Por outro lado, é fundamental que todas as funções das empresas se empenhem na obtenção da Qualidade dos produtos e serviços, sob o firme comprometimento da alta administração e, sem dúvida, dos próprios empregados. Ou seja, não somente o setor de produção ou a equipe de coordenação da qualidade, mas igualmente as demais funções administrativas são chamadas a participar. Amplia-se, desta forma, o papel da Gestão dos Recursos Humanos, pois, no âmbito de cada posto de trabalho, todos os empregados são agentes da Qualidade, sem distinção de cargo ou nível hierárquico. Neste sentido, para a operacionalização dos fundamentos da Gestão da Qualidade Total, necessita-se, de um lado, como ressaltou-se, de um estado de espiríto específico tanto dos dirigentes como dos gerentes, supervisores e empregados, o que se pode designar como consciência básica para a Qualidade. Por outro lado, é preciso fazer-se apelo sistemático e quotidiano a toda uma bateria de técnicas e ferramentas de gerência (coleta de dados, diagramas de causa e efeito, diagrama de pareto, histograma, andlise de griíficos de controle), o que não dispensa um nível de preparação e treinamento de todos os envolvidos, em termos de um comportamento compatível com o espiríto da Qualidade, no decorrer de reuniões, nos grupos de trabalho, no controle de 23 indicadores e nas relações cliente-fornecedor internos, para o bom andamento do trabalho. Tais exigências enfatizam a assertiva de que o elemento humano é na verdade o fator diferenciador da competitividade empresarial. 1.3 QUALIDADE E PARTICIPAÇÃO Para facilitar o entendimento das reflexões que se deseja partilhar, é essencial a compreensão de conceitos implícitos na relação Qualidade e Participação. Mesmo sem a pretensão de esgotar o assunto, e partindo da convicção de que não se pode pensar em Programas de Qualidade sem calcá-los na participação dos empregados, e esta não é uma questão de persuasão, examinam-se a seguir algumas considerações sobre sua importância na produtividade. Muito se fala, atualmente, sobre Qualidade Total (QT), entendida como a vontade, a preocupação fixa da empresa em fazer produtos de qualidade ou prestar serviços de qualidade. Uma qualidade nem inferior nem extremamente superior, mas a qualidade necessária e suficiente. Autores têm identificado três direções ao se referir a este conceito: (a) a preocupação com toda a vida do produto, não só com sua concepção e fabricação; (b) as relações da empresa com o ambiente, incluindo a rede de diferentes interlocutores (concorrentes, fornecedores, distribuidores, clientes); (c) por último, mas não menos importante, a mobilização de todo o pessoal como ponto fundamental na estratégia de Qualidade Total. Esta última variável apresenta-se como foco central do questionamento deste tópico, que é o de analisar-se a difícil tarefa da participação de todos, em todos os escalões e em todas as etapas, nos projetos de Qualidade Total das empresas. É importante salientar que a participação nos processos decisivos que lhes dizem respeito, bem como ter informações em relação ao posto que ocupam, constituem-se em fatores mais freqüentemente mencionados pelos autores para elevar-se o nível de participação dos empregados. É bem verdade que as experiências sobre gestão participativa no Brasil têm sido divulgadas pela imprensa como exem- 24 plos a serem seguidos. Mas, para sair do discurso e passar ao nível prático, é imprescindível que a administração participativa vá além do simples bom-senso de gerentes mais esclarecidos. E preciso desenvolver competência gerencial para “ouvir os empregados”, pois, como afirma Toledo (1981): “as empresas só terão a ganhar se estimularem o espírito empreendedor e criativo de seus funciontírios “. Entretanto, pesquisas recentes têm demonstrado que poucas são as empresas que adotam sistemas para ouvir seu público interno, a não ser tentativas esporádicas orientadas para avaliar a repercussão de medidas ou benefícios, sem uma estratégia voltada para a melhoria da gestão das pessoas. A grande dificuldade das organizações está em trabalhar, de forma científica, a expressão participativa dos funcionários. Técnicas para se medir o grau de adesão ou satisfação dos trabalhadores, tais como sondagens de opinião interna com rigor técnico, são pouco utilizadas como instrumento de informação. E preciso, portanto, aperfeiçoamento constante na capacidade diagnóstica, a partir da coleta de dados quantitativos e qualitativos, com base na percepção dos próprios funcionários, de modo a subsidiar as ações estratégicas efetivamente significativas. Neste sentido, é bom lembrar que o contato direto e contínuo com essas operações fornece ao trabalhador elementos e informações que muitas vezes escapam ao próprio técnico ou supervisor. Também enfatiza a valorização estratégica da captação do seu conhecimento prático e criativo para a introdução de melhorias em suas atividades operativas, além de trazer-lhe grande satisfação o fato de participar, com suas idéias, da solução de problemas relativos à realização de seu próprio trabalho. Dar aos funcionários oportunidade de expressão e de participação nas decisões é, portanto, fundamental para a melhoria dos métodos de trabalho, dos produtos e da racionalização de custos. Mas é, acima de tudo, uma forma de reconhecimento da inteligência do funcionário, o que acaba se refletindo em sua qualidade de vida e na produtividade da organização, com ganhos para todos. Como se sabe, é praticamente impossível obter a satisfação do cliente quando dissociada da satisfação do empregado pois, “afinal, Qualidade é, antes de tudo, uma atitude. Quem faz e garante a qualidade são as pessoas, muito mais 25 do que os sistemas, as ferramentas e os métodos de trabalho”, como salientam Barçante e Castro (1995) em seu livro “Ouvindo a Voz do Cliente Interno”, enfatizando a necessidade de “transformar o funciondrio num parceiro”. Esta não é uma tarefa simples. O processo envolve a preparação de “gregos e troianos “, patrões e empregados. Para que a participação dos empregados alcance efetivamente seus objetivos, merecem reflexão questões como: de que modo “aguçar” o interesse do funcionário para participar e expressar suas idéias? Como treinar um chefe para aceitar sugestões e mostrar aos dirigentes que idéias que diminuem custos devem ser recompensadas? Como mostrar que a participação nos resultados, o inevitável passo seguinte, não é “uma faca de dois gumes”?Que os “resultados” podem ser, inclusive, prejuízos? Que a confiança é fundamental ao se analisarem lucros e perdas? Se essas questões, entre outras, forem respondidas e implementadas de modo adequado, já se terá dado um grande passo para elevar o nível de participação dos empregados. Entretanto, participação não é uma questão de persuasão ou exortação, nem fruto de campanhas panfletárias, mas de competência gerencial. Os conceitos sobre participação vêm sendo tratados na literatura, ressaltando os aspectos humanos e sociais do trabalho. Considera-se uma definição clara do que seja Participação, a de Turcotte, que a trata como “um sistema que permite aos empregados tomar parte na propriedade, nos lucros e, eventualmente, nas decisões da empresa”. O autor sugere que a participação pode ser econômica e social. E o modelo de Participação Total, e não apenas da já conhecida forma de obter melhores decisões rumo ao interesse da organização, a partir de sugestões dos empregados, sem a devida contrapartida. Como, por exemplo, a desejada participação na linha dos CCQs onde as melhorias advindas das idéias dos trabalhadores são rendosas para a empresa, com insignificante contrapartida para os empregados. A participação pode ser compreendida como todas as formas e meios pelos quais os membros de uma organização podem influenciar os destinos dessa organização. Neste sentido, participação define-se como “a influência por parte de indivíduos que se encontram abaixo do nível de direçao superior, em decisões ou 26 funções usualmente consideradas privativas da gerência ou dos proprietdrios da empresa “. (Motta, 1991) Tais considerações sobre a participação se fazem necessárias porque não se pode pensar em Qualidade sem envolvimento advindo do comprometimento de todos. Na verdade, são evidentes os desejos e as expectativas das pessoas por maior participação nas decisões que lhes dizem respeito na sua situação de trabalho, observando-se, ainda, uma crescente rejeição a posturas autoritárias, em decorrência de um momento histórico-social mais democrático, que deve refletir-se no estilo gerencial e nas estratégias e políticas de mobilização de pessoal. Aquelas empresas que se conscientizaram da necessidade de as pessoas participarem e serem ouvidas, têm buscado tecnologias adequadas para dar voz a uma classe trabalhadora mais informada, com novas expectativas sociais, nova escala de valores e novas e mais conscientes reivindicações e atitudes, aumentando, com tal postura, suas chances de sobrevivência e sucesso na implantação dos programas de Qualidade Total. Enfim, como resume Mendonça (1987), com base em autores como Shaskin (1984), Vroom e Deci (1979), sendo uma estratégia social, a participação é encarada com um vetor muito importante usado nas organizações, basicamente, para a formulação de objetivos, tomada de decisão, resolução de problemas e mudanças organizacionais. A participação, neste sentido, constitui-se numa abordagem gerencial amparada na motivação, centrada especialmente em técnicas de grupo, atribuindo-se à mesma um incremento de produtividade, desempenho e satisfação no trabalho, essenciais à eficácia das organizações. 1.4 PARTICIPAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO Na imprensa, nos livros especializados em gestão empresarial, nos congressos, nos seminários, os termos Qualidade e Participação são uma constante. Poucos, entretanto, são os que tratam de forma precisa das implicações da qualidade de vida no trabalho, oferecida pelas empresas; da repercussão nos níveis de satisfação dos empregados, e dos seus efeitos na participação deles. 27 A princípio, pode-se pensar que as exigências por melhor qualidade de vida refiram-se apenas à remuneração; mas é especialmente no que se refere à melhoria das condições de trabalho e na organização psicossocial que as mudanças demandarão um novo comportamento organizacional. É preciso atentar-se para uma gama de fatores que, quando presentes numa situação de trabalho, refletem-se na satisfação e e participação do indivíduo, mobilizando suas energias e atualizando seu potencial. Destaque-se que uma leitura apressada da teoria de Maslow poderia dar a impressão de que só o fato de participar já seria motivador para o trabalhador. No entanto, dificilmente um efetivo programa de Qualidade Total sustentar-se-ia apenas com o atendimento de necessidades a nível psicossocial. De fato, uma maior participação, como a demandada pela gestão da qualidade, implica em maiores esforços e energia da parte dos trabalhadores, bem como maior parcela de responsabilidade a assumir. E, como nem todos os trabalhadores possuem a mesma estrutura motivacional, o processo de mobilização implica em ampla relação de fatores que afetam sua qualidade de vida no trabalho. Verifica-se, assim, que se apenas fontes de ordem econômica são responsáveis pela adesão do pessoal às metas da qualidade e, acima de tudo, admitindo-se que em geral os recursos financeiros destinados ao pessoal são escassos, desprezar outras fontes não-econômicas de energização é restringir de modo fatal o potencial motivador das empresas, indispensável para elevar o nível de participação de seus empregados. A participação do pessoal, é preciso frisar, depois de passar por favoráveis condições de trabalho, deve, ainda, ser desenvolvida de forma progressiva, através de programas de ação estratégica que mobilizem os empregados em termos de organização grupal. Isto implica, evidentemente, em treinamento gerencial para coordenar grupos autônomos ou semi-autônomos, grupos de expressão, grupos de progresso, ou qualquer outra sistemática utilizada para mobilizar a energia e a inteligência dos trabalhadores, freqüentemente subestimadas pelos níveis hierárquicos superiores. Da mesma forma, cabe oferecer treinamento para os empregados de modo a obter sua participação, 28 pois, de modo geral, a inteligência prática dos empregados deve ser despertada por programas participativos, devido à sua grande importância na tomada de decisões a nível operacional nas empresas. Entretanto, na maioria das empresas, os empregados não estão habituados à participação, e, mesmo as chefias não estão preparadas para acolher a participação dos empregados. Participar, também se deve aprender, como todo processo. Assim sendo, trabalhando-se rigorosamente em cima do conceito de Qualidade, conclui-se que a participação do pessoal em todos os níveis tem um significado muito maior, em função não só das demandas de forma de gerenciamento mais democráticas decorrentes da democratização da própria sociedade, mas também com o objetivo de aperfeiçoar a Gestão da Qualidade Total. Coloca-se, então, a questão central: como atingir a tão desejada Participação, pedra angular da Qualidade, Produtividade e Competitividade? Ou seja, para sair do discurso e passar ao nível prático, é imprescindível que se vá além da simples constatação de que a participação é fator importante e que os trabalhadores, inteligentemente, participem dos processos viabilizando os programas de Qualidade Total nas empresas. Desta forma, é preciso que se busque o maior entendimento possível para responder a questões-chave, tais como: o que move o homem? o que mobiliza o indivíduo? o que o leva a envolver-se, comprometer-se, ou seja, que tipo de necessidades impulsiona sua participação? que fatores concorrem para a melhoria de sua qualidade de vida no trabalho, elevando o seu nível de satisfação e participação? Em termos teóricos, este assunto vem sendo objeto de estudos e pesquisas relacionados à Democracia Industrial e Humanização do Trabalho, pela linha de pesquisa “Qualidade de Vida no Trabalho (QVT)”, sendo que a aplicação de seus conceitos básicos, na prática, já é uma realidade em vários países do mundo. No Brasil, porém,embora algumas empresas se preocupem especialmente com a questão de participação dos funcionários, infelizmente o discurso se distancia, e muito, do que se observa em termos de suas condições de trabalho. Assim, 29 freqüentemente ouve-se dizer que a produtividade do trabalhador brasileiro é muito baixa. Poucos são os que falam, no entanto, sobre um fator essencial para o incremento dessa mesma produtividade: a qualidade de vida no trabalho. Por outro lado, não são poucos os autores e mesmo executivos e dirigentes que percebem a importância da qualidade de vida no trabalho como a base da Qualidade Total, considerada a mola-mestra da competitividade empresarial. Por tais razões, no próximo capftulo, trata-se especifica- mente do tema Qualidade de Vida no Trabalho - QVT - com maior profundidade, bem como para posterior embasamento teórico à metodologia proposta no capítulo seguinte sobre a Auditoria Operacional de Recursos Humanos para a melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho. 1.5 IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS As teorias de Qualidade Total têm, entre outros méritos, o de ter atualizado os pressupostos do sistema sócio-técnico, em função de uma gestão sócio-econômica das empresas, vindo a valorizar aspectos sociais com maior empenho, destacando de modo especial a importância da participação e do envolvimento de todos em relação às metas da qualidade. Constatam-se esforços do sistema produtivo que, de certa maneira, gerenciava suas áreas de forma independente, passando a orientar-se em função dos princípios básicos da teoria da unidade dos esforços de produção. Tal direcionamento demonstrou a importância de juntarem-se as pontas de esforços que corriam paralelamente, direcionados pela engenharia de produção e pela gestão dos recursos humanos, obedecendo a diretrizes comuns em função de uma integração indispensável à consecução de seus objetivos. Neste sentido, os profissionais de RH que tradicionalmente ocupavam-se com “o lado humano da empresa”, tornam-se responsáveis pela otimização do fator humano em termos de sua contribuição aos resultados globais das organizações. Nas empresas que se destacam por uma gestão mais avançada, parece chegar ao fim a era em que “problemas de pessoas são com o Departamento de Pessoal, e problemas de produção são com o Gerente 30 de Linha”. É fundamental que os gerentes de recursos humanos não se atenham à adoção de uma postura cartorial, preocupados apenas com aspectos legais; mas atuem voltados para os resultados globais da organização, numa postura pró-ativa e estratégica. Evidentemente que tal posicionamento implica num maior preparo, bem como numa visão mais generalista e estratégica por parte dos executivos de RH. Por outro lado, amplia-se, em conseqüência, a complexidade da Administração de Recursos Humanos, que deve exercer uma função política e estratégica na gestão empresarial, sendo uma responsabilidade de todas as chefias, em todos os níveis e em todas as áreas operativas. Ou seja, que cada gerente exerça, além de sua função especializada, a função de gerenciamento dos recursos humanos de sua área de atuação. Assim, a Area de RH deve, sem dúvida, contribuir de modo efetivo em termos de disseminar informações, delinear políticas e estratégias flexíveis, de forma a subsidiar situações diferenciadas, decorrentes do próprio ritmo acelerado das mudanças sociais e tecnológicas, orientando-se de acordo com a célebre frase “todo gerente é também um gerente de recursos humanos”. Assim sendo, se os programas de Qualidade Total têm no fator humano um diferencial de competitividade, faz-se necessário que as habilidades gerenciais de todo o quadro funcional sejam enriquecidas para fazer face às novas demandas da moderna visão de Gestão dos Recursos Humanos. Este é o maior desafio que se apresenta aos gerentes de RH das empresas, como agentes de mudanças nas organizações. Por outro lado, uma vez que o espaço organizacional dos trabalhadores, para uma participação mais efetiva, deva ser ampliado, é essencial que os mesmos estejam treinados, qualificados e satisfeitos para integrarem-se às metas da Qualidade, constituindo-se também este um grande desafio, pois não se tem notícia de uma empresa competitiva com um pessoal mal-qualificado, insatisfeito e desmobilizado. Entretanto, o que se observa é um certo descompasso entre as técnicas e ferramentas utilizadas, ou às vezes apenas propaladas, para a implantação da Qualidade Total pelas gerências operativas e a “mesmice” das práticas tradicionais adotadas no que concerne ao gerenciamento dos recursos humanos, resultando no fracasso da implantação de tais programas nas empresas. 31 Está mais do que na hora de os profissionais de RH demonstrar que podem contribuir com seus conhecimentos técnicos sobre os aspectos comportamentais junto às áreas operativas, adotando tecnologias facilitadoras do envolvimento e da participação dos empregados, e adequação das chefias em termos de seu relacionamento com os mesmos, sem no entanto dedicarem-se à adoção de estratégias e abordagens copiados de outros países, sem o devido aculturamento e abandonadas a seguir por outra moda de gestão. No caso do TQC (Total Quality Control) não se fugiu a tal postura no que se refere à difusão das ferramentas da qualidade para o trabalhador brasileiro. Neste sentido, julga-se interessante repetir algumas colocações, extremamente apropriadas, feitas por Sérgio W. Hillesheim, presidente da World Federation of Personal Management Associations, no II Encontro sobre Qualidade e Produtividade em Recursos Humanos, referindo-se às modas administrativas. Segundo ele, “nós somos uma espécie de macacos e gostamos muito de imitar os modismos de outras culturas. Adoramos importar, principalmente expressões cunhadas que são internacionalmente conhecidas, e fazer de conta que implantamos isso aqui dentro, como se fôssemos muitos modernos e atualizados” (Bento Gonçalves, 1993). Entretanto, é permitido completar que o mal não está na sua utilização, o que reflete uma atualização profissional -, mas na forma apressada com que se tenta implantar tais tecnologias, sem o devido aculturamento à nossa realidade, e sem o domínio aprofundado do referencial teórico. E mais, sem atentar para o estágio organizacional em que se encontra a empresa, redundando em tentativas “modernas” que, após o desgaste de recursos de toda ordem, são abandonadas simplesmente à espera de outro modismo. Isto não significa, entretanto, que as empresas não devam acompanhar os avanços da ciência administrativa quando sua situação o permitir; mas tendo o cuidado de preparar, treinar e qualificar seus recursos humanos para a implantação das novas tecnologias, sendo esta uma excelente oportunidade para os executivos de RH ampliarem seu espaço organizacional e se posicionarem hierarquicamente em nível elevado nas empresas. 32 Saliente-se que na preparação dos recursos humanos, no que se refere aos Programas voltados para a Qualidade, não basta o treinamento específico em termos do conjunto de ferramentas gerenciais da qualidade (Diagramas de Afinidades, Arvore, Relação, Matriz de Dados, etc.) ou de ferramentas técnicas da Qualidade (Estratificação, Gráficos, Folha de Verificação, Cartas de Controle, etc.) sem uma efetiva atenção ao crescimento do ser humano, pois os empregados dificilmente assumirão a postura que se faz necessária para o sucesso de tais programas, se não houver uma preocupação holística com seu gerenciamento. Ou seja, para que procedimentos como “Brainstorming”, Programa 5S, Método 5W1H, MASP - Método de Análise e Solução de Problemas, etc. possam ser operacionalizados, é essencial que as estratégias de treinamento desenvolvidas pelas empresas apóiem-se no conceito de que as pessoas devem fazer tarefas de valoragregado mais elevado do que executar, confiar, obedecer, repetir, etc., e que passem a opinar, organizar, mostrar, inovar, etc., o que sugere uma preparação e um treinamento compatíveis, aliados a uma maior valorização e maximização do seu potencial. Ou seja, é preciso treinar para a Qualidade, e não apenas os processos que melhorem a qualidade dos produtos. Como bem coloca Boog (1991): “o modelo Taylorista, que ainda tem forte influência em muitas de nossas empresas, assume o trabalhador com motivações meramente econômicas, e necessitando de rígida supervisão e cargos estreitos. Ou seja, um trabalhador que não pensa “. Em realidade, ao mesmo tempo que os dirigentes esperam dos trabalhadores uma contribuição inteligente e engajada, esquecem-se de que todo ser humano tem outras necessidades e potencialidades que, se atendidas e trabalhadas, podem trazer valiosos ganhos econômicos e comportamentais para ambos os lados. Cabe salientar, como destacam Bjur & Caravantes (1995), que “o treinamento é bom, se auxiliar o indivíduo a estar melhor preparado para viabilizar os objetivos organizacionais “. De acordo com os referidos autores, esta é uma visão que se apóia na racionalidade funcional e que, de acordo com esta lógica, o treinamento será sempre a primeira vítima dos cortes orçamentários em momentos de crise. No entanto, tendo em vista os programas de Qualidade, deve-se cada vez mais reconhecer a importância do treinamento como qualquer outro investimento. 33 Neste sentido, a gerência de RH das empresas tem um papel importantíssimo no desenvolvimento de atividades que visem formar a base de sustentação dos Programas de Qualidade, permitindo a manutenção do processo de melhorias contínuas através da educação e do treinamento do pessoal, e, de modo especial, um papel de agente de mudanças e formador da consciência básica da Qualidade a ser vivenciada em todos os níveis da empresa. E a melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho, como apoio aos Programas de Qualidade Total, é a grande contribuição que deverá oferecer às empresas. No entanto, se ficar à margem dos movimentos evolucionistas experimentados pelas demais gerências voltadas tecnicamente para a competitividade, deixará de desempenhar um papel organizacional estratégico muito importante e que será ocupado por profissionais de outras áreas. 34 2 A Qualidade de Vida no Trabalho - de que se trata, afinal? A organiza ço do trabalho constitui o objeto principal das tentativas de melhoria da Qualidade de Vida no Trabalho “. Maurice Boisvert 2.1 O INTERESSE POR QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO (QVT) A ciência comportamental, tratando especificamente de aspectos ligados ao bem-estar das pessoas em situação de trabalho, orienta-se por uma linha de pesquisa - já consideravelmente desenvolvida por pesquisadores como Bergeron (1982), Boisvert (1980), Werther e Davis (1983), Oldham e Hackaman (1970), Westley (1979), Guest (1979), Walton (1975), entre outros, em alguns países da Europa, Canadá e nos Estados Unidos - conhecida como “Qualidade de Vida no Trabalho” - QVT. O foco central da investigação visa ao questionamento das formas a serem adotadas para que “os cargos se mostrem mais produtivos e satisfatórios, com vantagem para as pessoas e organizações, mediante a reformula ção do desenho de cargos e postos de trabalho”. (Walton, 1975) A tecnologia de QVT (Qualidade de Vida no Trabalho) pode ser utilizada para que as organizações renovem suas formas de organização no trabalho, de modo que, ao mesmo tempo em que se eleve o nível de satisfação do pessoal, se eleve também a pro- 35 dutividade das empresas, como resultado de maior participação dos empregados nos processos relacionados ao seu trabalho. O conceito de QVT é, de certa forma, abrangente, e precisa ser definido com clareza, uma vez que, como enfatizam Wether e Davis (1983), os cargos/postos de trabalho representam não apenas uma fonte de renda para os trabalhadores, mas também um meio de satisfazerem suas necessidades de toda ordem, com reflexos evidentemente em sua qualidade de vida. Mesmo em países onde tais estudos se encontram bastante desenvolvidos, como nos Estados Unidos (Quality of Working Life - QWL), Canadá e França (Qualité de la Vie au Travail - QVT) e de modo especial na Suécia, onde esta linha de pesquisas alcançou considerável desenvolvimento, “tal expressão não apresenta consenso em sua definição”. (Belanger, 1983) Justifica-se a preocupação com o conceito de QVT porque certas atividades empresariais, atribuindo-se o título de programas de QVT, constituem-se apenas em esquemas de manipulação, baseados em abordagens simplistas e míopes relativamente ao comportamento humano nas organizações, motivando críticas a movimentos orientados por esta linha de trabalho como sendo mais um “modismo” da área de Recursos Humanos. Por outro lado, constata-se que o simples uso da expressão “qualidade de vida” induz à imediata associação com melhorias nas condições físicas e de instalações, atendimento a reivindicações salariais, redução da jornada de trabalho e outras medidas do gênero que, sem dúvida, têm implicação de custos adicionais. Como decorrência natural de tais inferências, surgem as barreiras opondo-se à implantação de programas de QVT, como algo que acarretará despesas às empresas. Na verdade, porém, são as reformulações a nível do trabalho em si que constituem o objetivo principal das ações implicadas na Qualidade de Vida no Trabalho (QVT), visando garantir maior eficácia e produtividade e, ao mesmo tempo, o atendimento das necessidades básicas dos trabalhadores. Assim sendo, quando adequadamente proposto, um programa de QVT tem como meta “gerar uma organização mais humanizada, na qual o trabalho envolve, simultaneamente, relativo grau de respon- 36 sabilidade e de autonomia a nível do cargo, recebimento de recursos de “feedback” sobre o desempenho, com tarefas adequadas, variedade, enriquecimento do trabalho e com ênfase no desenvolvimento pessoal do indivíduo.” (Walton, 1973) É evidente que nem todos os problemas de produtividade das empresas, e que nem todo tipo de insatisfação do empregado, em qualquer nível, podem ser resolvidos pela tecnologia da QVT. Entretanto, sua aplicação conduz, sem dúvida, a melhores desempenhos, ao mesmo tempo que evita maiores desperdícios, reduzindo os custos operacionais. Isto porque os programas de Qualidade Total exigem pessoas que “saibam fazer”; sendo assim, mas acima de tudo que “queiram fazer” mais e melhor, precisam contar com empregados satisfeitos. Ou seja, mais do que nunca as empresas têm que ser competitivas, e para tal têm que se preocupar com as pessoas, porque é através do comprometimento das pessoas com as propostas da empresa que os resultados serão atingidos com sucesso. Sob este ponto de vista, a melhor qualidade de vida dos trabalhadores é o alicerce para a implantação da Gestão da Qualidade Total, porque a participação é fundamental para o sucesso de tais programas, como já foi salientado anteriormente neste livro. No entanto, o que se observa por parte das empresas é um certo exagero relativo aos aspectos técnicos orientados para a qualidade do processo produtivo em si, esquecendo-se de investir nas pessoas. Destaque-se que Qualidade Total só se faz através das pessoas. São as pessoas que conseguem atualizar os projetos da empresa. E, somente atendendo às necessidades das pessoas e as desenvolvendo, maximizando as suas potencialidades, é que a empresa também se desenvolverá, atingindo suas metas. Verifica- se que, quando ocorre desequilíbrio entre os investimentos tecnológicos em detrimento dos cuidados com o fator humano, o desempenho do cliente interno, que é o empregado, fica comprometido pelos baixos níveis de satisfação, afetando o atendimento às exigências do clienteexterno, inviabilizando as estratégias voltadas para a melhoria da qualidade dos produtos e serviços. 37 Vale destacar que esses problemas não são verificados apenas em empresas brasileiras, como revela Junqueira (1994): “70% dos programas de qualidade de empresas americanas fracassam, apesar de substanciais investimentos em treinamento e desenvolvimento de pessoal, como também na área de treinamento gerencial”. No caminho da excelência, a qualidade é um ponto que está na metade do caminho. Na sua opinião, “excelência é ultrapassar a expectativa dos clientes e, para isso, é preciso saber o que os clientes querem”. Observa-se que tal preocupação já é encarada com seriedade em relação ao cliente externo, através de pesquisas de mercado. O ponto fraco reside na escuta ao cliente interno. Recente pesquisa realizada pela FIERG (1995) revelou que, de 120 empresas que adotam Programas de Qualidade, 55% não adotam nenhum sistema para ouvir sugestões dos funcionários, e 65% delas não pesquisam o nível de satisfação dos funcionários. Como se sabe, em termos de Qualidade, o cliente, o consumidor, é o rei. Então, assumindo-se tal enfoque igualmente em termos do funcionário, do cliente interno, precisa-se saber quais são suas expectativas, necessidades e exigências, ou seja, quais são os fatores intervenientes na sua Qualidade de Vida, o que, com certeza, irá afetar seu nível de satisfação, refletindo-se em produtividade. Um depoimento valioso, neste sentido, é transcrito na íntegra, por sintonizar perfeitamente com as idéias expressas acima. Na opinião de Cleo Carneiro - “Qualidade de Vida no Trabalho é ouvir as pessoas e utilizar ao máximo sua potencialidade. Ouvir é procurar saber o que as pessoas sentem, o que as pessoas querem, o que as pessoas pensam... e utilizar ao máximo sua potencialidade é desenvolver as pessoas, e procurar criar condições para que as pessoas, em se desenvolvendo, consigam desenvolver a empresa “. Apesar de toda a badalação em cima das novas tecnologias de produção, ferramentas da Qualidade, etc., é fato facilmente constatado que mais e mais os trabalhadores se queixam de uma maior rotina de trabalho, de uma subutilização de suas potencialidades e talentos, e de condições de trabalho inadequadas. Estes problemas ligados à insatisfação no trabalho têm conseqüências que geram um aumento do absenteísmo, uma diminuição do rendimento, uma rotatividade de mão-de-obra mais elevada, 38 reclamações e greves mais numerosas, tendo um efeito marcante sobre a saúde mental e física dos trabalhadores, e, em decorrência, na rentabilidade empresarial. Além disso, é importante salientar que a questão da produtividade e da eficiência organizacional como metas essenciais à sobrevivência das empresas, tem trazido conseqüências nem sempre adequadas para o bem-estar dos trabalhadores. Os efeitos da “apregoada” administração científica, que ainda hoje impera na maioria das empresas, calcada na especialização de tarefas, hierarquias ligadas, padronização da mão-de- obra, representam aspectos de caráter negativo, como o isolamento do trabalhador no seu posto, a não-identificação com o produto final, o que causa falta de qualidade, rotatividade, absenteísmo, alienação, falta de envolvimento e outros tantos aspectos que devem ser repensados pelos administradores. Isto porque, com o advento da busca incessante pela Qualidade, verifica-se que os executivos trabalham bastante em cima dos produtos / serviços que na verdade melhoraram e muito, mas não se observa o mesmo empenho nas questões ligadas ao gerenciamento do pessoal. A tais questionamentos podem-se acrescentar as pressões que apareceram mais recentemente, notadamente oriundas das demandas por maior participação e comprometimento por parte dos trabalhadores, visando atender às metas dos programas de qualidade implantados em grande parte das empresas. Entretanto, não se pode esperar qualidade no desempenho de pessoas que carecem de qualidade em seu próprio trabalho. A conceituação de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) como uma linha de investigação que se orienta em função do “Detaylorisme” (Walton, 1974), no sentido de resgatar valores humanísticos e ambientais negligenciados pelas sociedades industrializadas em favor do avanço tecnológico e do crescimento econômico, vem ao encontro de tais preocupações, com apoio em dois pontos básicos: a produtividade e melhores condições de trabalho. Um maior embasamento no referencial teórico que trata do tema na literatura especializada, em que seus conceitos e fatores já constituem um corpo de conhecimentos bastante reconhecido na comunidade científica, poderá auxiliar no desenvolvimento de Programas de Qualidade de Vida 39 no Trabalho como suporte essencial aos Programas de Qualidade Total. Por tal razão, apresentam-se a seguir alguns conceitos básicos sobre Qualidade de Vida no Trabalho. 2.2 QVT - UMA TENTATIVA DE CONCEITUAÇÃO Considerando-se “Qualidade de Vida no Trabalho” um tema novo na literatura nacional, justifica-se a inclusão, neste texto, de alguns aspectos relativos ao referencial teórico que embasa a tecnologia de QVT - Qualidade de Vida no Trabalho. Apesar de a preocupação voltada para organizar o trabalho ter sido uma constante desde o advento da administração científica, só recentemente as empresas vêm-se preocupando com a satisfação do trabalhador na execução de suas tarefas, como requisito para atingirem altos índices de produtividade. Historicamente, atribui-se a Eric Trist (1975) e seus colaboradores que desenvolveram estudos no Tavistock Institute, em 1950, em termos de uma abordagem sócio-técnica em relação à organização do trabalho, a origem da denominação Qualidade de Vida no Trabalho - QVT, para designar experiências calcadas na relação indivíduo-trabalho- organização, com base na análise e reestruturação da tarefa, com o objetivo de tornar a vida dos trabalhadores menos penosa. Na década de 60, nos Estados Unidos, um maior incremento às preocupações com a Qualidade de Vida no Trabalho ocorreu, impulsionado pela criação da “l\Jational Comission on Produtivity”, que teve como função analisar as causas da baixa produtividade nas indústrias americanas, seguindo-se a criação pelo congresso do “National Center for Prõdutivity and Quality of Working Lfe”, com a função de realizar estudos e servir de laboratório sobre a produtividade e a qualidade de vida do trabalhador. (Huse e Cumrnings, 1985) É preciso dizer-se, entretanto, que, quanto à expressão “qualidade de vida no trabalho “, considerando-se exaustiva revisão bibliográfica sobre o tema, não se pode atribuir uma definição consensual. O conceito engloba, além de atos legislativos que protegem o trabalhador, o atendimento a necessidades e aspirações humanas, calcado na idéia de humanização do trabalho e na responsabilidade social da empresa. 40 Retrospectivamente, apesar do incremento nos anos 60, como registra Rodrigues (1991) “a crise energética e a alta inflação que acometeram as grandes potências do ocidente, e em particular os Estados Unidos, no início dos anos 70, desaceleraram e mudaram os rumos da QVT”. No entanto, observou-se um interesse renovado por QVT ao final da década de 70, quando do surgimento de forte competição nos mercados internacionais, com a participação especial do Japão e a divulgação de técnicas japonesas de administração nas organizações do ocidente, fazendo com que os americanos questionassem seu modelo de gestão empresarial e começassem a “reconhecer que talvez outros países estivessem fazendo algum tipo de gerenciamento diferente, que pudesse ter relação com sua eficdcia” (Nadler &. Lawler,1983). Tudo leva a crer que o advento dos Programas de Qualidade Total tenha igualmente despertado o interesse por QVT no Brasil, exatamenteem função da globalização do mercado em termos de uma maior abertura para a importação de produtos estrangeiros. É possível, também, atribuir-se a preocupação crescente com QVT à maior conscientização dos trabalhadores e ao aumento das responsabilidades sociais da empresa, conforme a opinião de autores como Huse & Cummings (1985). Tais autores relacionam países como a França, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Canadá, Holanda e Itália como os que adotam em suas organizações a tecnologia e a filosofia de QVT visando atender às necessidades psicossociais dos trabalhadores, elevando seus níveis de satisfação no trabalho. Igualmente, um trabalho bastante significativo de Nadier e Lawler (1983) examina QVT ao longo do tempo, já que ela passou por diferentes concepções, conforme pode-se verificar: 41 Quadro 1 - Evolução do Conceito de QVT (Nadier e Lawler, 1983) CONCEPÇÕES evolutivas CARACTERÍSTICAS ou visão 1 - QVT como uma variável (1959 a 1972) Reação do indivíduo ao trabalho. Era investigado como melhorar a qualidade de vida no trabalho para o indivíduo. 2 - QVT como uma abordagem (1969 a 1974) O foco era o indivíduo antes do resultado organizacional; mas, ao mesmo tempo, tendia a trazer melhorias tanto ao empregado como à direção. 3 - QVT como um método (1972 a 1975) Um conjunto de abordagens, métodos ou técnicas para me lhorar o ambiente de trabalho e tornar o trabalho mais produtivo e mais satisfatório. QVT era visto como sinônimo de grupos autônomos de trabalho, enriquecimento de cargo ou desenho de novas plantas com integração social e técnica. 4 - QVT como um movimento (1975 a 1980) Declaração ideológica sobre a natureza do trabalho e as relações dos trabalhadores com a organização. Os termos - administração participativa e democracia industrial - eram freqüentemente ditos como ideais do movimento de QVT. 5 - QVT como tudo (1979 a 1982) Como panacéia contra a competição estrangeira, problemas de qualidade, baixas taxas de produtividade, problemas de queixas e outros problemas organizacionais. 6 - QVT como nada (futuro) No caso de alguns projetos de QVT fracassarem no futuro, não passará de apenas um “modismo” passageiro. Tais conceituações diferenciadas sobre QVT exigem um esforço no sentido de aprofundar a revisão da literatura, para clarificar o conceito, uma vez que não se pode trabalhar com algo que não se sabe exatamente do que se trata, ou seja, o primeiro passo para a implantação de uma programa de QVT é saber do que se trata, através da revisão da literatura especializada sobre o tema. Inicialmente, devem-se destacar, por sua grande significação, os estudos desenvolvidos pelo Grupo de “Qualité de la Vie au Travail” da Ecole des Hautes Etudes Commerciales de Montrèal, constituído de professores da escola, e coordenados por Maurice Boisvert, que publicaram uma das obras mais importantes sobre o tema, intitulada: “La qualité de la vie au travail: regards sur l’expérience québécoise”, (1980). Quatro aspectos da qualidade de vida no trabalho, originalmente distinguidos por Boisvert e Thériault (1978), serviram de ponto de referência aos estudos e pesquisas do grupo HEC. O trabalho em si se constitui 42 na dimensão central, em torno da qual articulam-se os outros três: a participação, o ambiente de trabalho e as questões de remuneração direta ou indireta. A revisão da literatura sobre o tema mostra que, embora os autores apresentem enfoques diferentes ao conceituar a expressão “Qualidade de Vida no Trabalho”, algo que parece comum a todos - a meta principal de tal abordagem - volta-se para a conciliação dos interesses dos indivíduos e das organizações, ou seja, ao mesmo tempo que melhora a satisfação do trabalhador, melhora a produtividade da empresa. Tal reflexão é importante porque, como aponta Aquino (1980), “quando o trabalhador não se sente integrado e aceito em seu ambiente de trabalho, tende a cuidar, primeiramente, de seus interesses particulares e, se sobrar tempo, trabalhar pela empresa “. Este, sem dúvida, é um comportamento que definitivamente não é desejável se considerarmos a importância de seu comprometimento no processo produtivo orientado nos termos da Gestão da Qualidade Total. Quirino e Xavier (1986) enfatizam, da mesma forma, a importância do grau em que os funcionários são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais para a obtenção de uma melhor qualidade de vida no trabalho, através de suas realizações na empresa. Neste sentido, autores como Faune e Dubin (1975) associam QVT aos atributos do projeto do cargo ocupado pelo indivíduo em termos do “nível de autonomia, oportunidade para cria tividade e reconhecimento pela realização do trabalho”, que promoveriam o atendimento de necessidades pessoais. Destaque-se, ainda, a definição de Bergeron (1982), particularmente interessante por sua abrangência, segundo a qual QVT consiste “na aplicação concreta de uma filosofia humanista pela introdução de métodos participativos, visando modificar um ou vários aspectos do meio-ambiente de trabalho, a fim de criar uma nova situação mais favorável à satisfação dos empregados e à produtividade da empresa “. De acordo com Walton (1975), a expressão Qualidade de Vida no Trabalho tem sido usada para designar uma preocupação com o resgate de “valores humanísticos e ambien tais, que 43 vêm sendo negligenciados em favor do avanço tecnológico, da produtividade e do crescimento econômico”, sem sugerir uma volta às antigas práticas de trabalho, alerta para os efeitos da automação na qualidade de vida dos trabalhadores. É importante frisar que, embora a qualidade de vida dependa, evidentemente, de condições de trabalho favoráveis, há outros aspectos que podem tornar os cargos mais satisfatórios, refletindo-se indiretamente na produtividade, e que independem de elevação do custo operacional com pessoal ou instalações. São fatores organizacionais, ambientais e comportamentais que, tecnicamente bem administrados e corretamente combinados, influenciam o projeto dos cargos, elevando o nível de satisfação e a produtividade. Como definem tal conceito, Werther & Davis (1983), “esforços para melhorar a qualidade de vida procuram tornar os cargos mais produtivos e satisfatórios”. Para complementar a conceituação, cite-se a definição de Nadler e Lawler (1983): “qualidade de vida no trabalho é vista como uma maneira de pensar a respeito das pessoas, do trabalho e das organizações”. Tais autores apontam dois focos importantes no que chamam uma definição operacional concreta de QVT: (1) uma preocupação com o impacto do trabalho sobre as pessoas, assim como na eficiência das organizações, e (2) a idéia de participar na resolução de problemas e decisões organizacionais. Como se pode depreender para a maioria dos autores, a Qualidade de Vida no Trabalho como linha de pesquisa orienta-se em direção a melhorias na eficácia organizacional, tendo como pré-requisito a satisfação do indivíduo através da participação nas decisões, bem como de condições favoráveis em seu trabalho. Em termos gerais, conclui-se que tecnologia de QVT refere-se a esforços no sentido de melhorar ou humanizar a situação de trabalho, orientados por soluções mais adequadas que visem à reformulação do desenho dos cargos, tornando-os mais produtivos em termos de empresa e mais satisfatórios para os executores. Tal proposta vem ao encontro da visão de que em todo o processo produtivo dois atores são importantes para as metas da p qualidade: o consumidor (cliente externo) e o produtor (cliente ran interno). Nas estratégias empresariais, o primeiro é sempre enfatizado; é evidente a preocupação das empresas com o cliente exter- 44 no, o rei, não se verificando o mesmo esforço relativamente à satisfação dos clientesinternos, os empregados, os que produzem. De uma forma mais específica, Nadier & Lawler (1983) identificaram tipos de atividades como representativos dos esforços de QVT, tais como: (1) resolução participativa dos problemas, (2) reestruturação do trabalho, (3) inovação do sistema de recompensas, (4) melhoria do meio-ambiente de trabalho. Por sua vez, Kolodny e outros (1979) indicam que a expressão “Qualidade de Vida no Trabalho” pode ser usada para designar experiências de humariização do trabalho, sob dois aspectos importantes: • a reestruturação do cargo ou a reformulação dos postos individuais de trabalho; • a estruturação de grupos de trabalho autogerenciados ou semi-autônomos, onde a reformulação dos cargos do grupo de trabalho implica em dar às pessoas um certo grau de participação. Por outro lado, pode-se deduzir pela revisão da literatura que os elementos-chave de QVT apóiam-se especialmente em quatro pontos: a) Resolução de problemas envolvendo os membros da organização em todos os níveis (participação, sugestões, inovações, etc.). b) Reestruturação da natureza básica do trabalho (enriquecimento de tarefas, redesenho de cargos, rotação de funções, grupos autônomos ou semi-autônomos, etc.). c) Inovações no sistema de recompensas (remunerações financeiras e não-financeiras). d) Melhorias no ambiente de trabalho (clima, cultura, meio-ambiente físico, aspectos ergonômicos, assistenciais). Deve-se colocar que os estudos e as pesquisas realizadas por esta autora, ao longo dos últimos anos sobre o assunto, levaram a uma tentativa de conceituação de QVT como “a gestão dinâmica e contingencial de fatores físicos, tecnológicos e sócio-psicológicos que afetam a cultura e renovam o clima organizacional, refletindo-se no 45 bem-estar do trabalhador e na produtividade das empresas” (Fernandes, 1990). Para um maior entendimento desta conceituação, explicite-se que QVT deve ser considerada como uma gestão dinâmica porque as organizações e as pessoas mudam constantemente; e é contingencial porque depende da realidade de cada empresa no contexto em que está inserida. Além disso, pouco resolve atentar-se apenas para fatores físicos, pois aspectos sociológicos e psicológicos interferem igualmente na satisfação dos indivíduos em situação de trabalho; sem deixar de considerar os aspectos tecnológicos da organ’: ação do próprio trabalho que, em conjunto, afetam a cultura e interferem no clima organizacional com reflexos na produtividade e na satisfação dos empregados. Desta forma, conclui-se que existem fatores intervenientes na qualidade de vida das pessoas quando em situação de trabalho e que, dependendo do seu competente gerenciamento, proporcionarão condições favoráveis imprescindíveis ao melhor desempenho e produtividade. Com base na literatura, analisamse a seguir os fatores, critérios e indicadores considerados pelos autores como determinantes na qualidade de vida no trabalho por atenderem às necessidades humanas de um modo geral. Este é o ponto de partida para qualquer programa de QVT. 46 3 Modelos e Fatores Determinantes de QVT Uma das dificuldades para investigar a qualidade de vida nas organizações reside na “diversidade das preferências humanas e diferenças individuais dos valores pessoais e o grau de importância que cada trabalhador dci às suas necessidades, implicando provavelmente em denotado custo operacional” (Quirino e Xavier, 1986). Pode-se começar com o estudo de autores clássicos, como Maslow (1954) e Herzberg (1968), que se ocuparam com os fatores motivacionais ligados às necessidades humanas, com reflexos no desempenho e na auto-realização do indivíduo como se ilustra no Quadro 2. Quadro 2 - Esquema Clássico de Necessidades NECESSIDADES HUMANAS Maslow / Herzberg MOTIVADORES (MAXIMIZAÇÃO DAS HABILIDADES E DO POTENCIAL) FATORES DE MANUTENÇÃO 47 Por ser um esquema bastante conhecido, o texto ocupa-se, de forma mais aprofundada, com outros modelos que identifiquem fatores presentes numa determinada situação de trabalho, que sirvam de critérios mais específicos e indicadores de qualidade de vida. Autores como Walton (1973), Lippit (1978), Westley (1979), Belanger (1973), Werther & Davis (1983), Hackaman & Oldham (1975), entre outros, estruturaram modelos que identificam fatores determinantes da QVT nas organizações. Em artigo que pode ser considerado clássico por ter fornecido um modelo de análise de experimentos importantes sobre a qualidade de vida do trabalho, Walton (1973) propõe oito categorias conceituais, incluindo critérios de QVT, ilustrados no Quadro 3. CRITÉRIOS INDICADORES DE QVT 1 - COMPENSAÇÃO JUSTA eqüidade interna e externa E ADEQUADA justiça na compensação partilha dos ganhos de produtividade proporcionalidade entre salários 2 - CONDIÇÕES DE TRABALHO jornada de trabalho razoável ambiente físico seguro e saudável ausência de insalubridade 3- USO E DESENVOLVIMENTO DE CAPACIDADES autonomia autocontrole relativo qualidades múltiplas informações sobre o processo total do trabalho 4 - OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO E SEGURANÇA possibilidade de carreira crescimento pessoal perspectiva de avanço salarial segurança de emprego 5 - INTEGRAÇÃO SOCIAL NA ORGANIZAÇAO ausência de preconceitos igualdade mobilidade relacionamento senso comunitário 6 - CONSTITUCIONALISMO direitos de proteção do trabalhador privacidade pessoal liberdade de expressão tratamento imparcial direitos trabalhistas 7- O TRABALHO E O ESPAÇO TOTAL DE VIDA papel balanceado no trabalho estabilidade de horários poucas mudanças geográficas tempo para lazer cfa famflia 8 - RELEVÂNCIA SOCIAL DO TRABALHO NA VIDA imagem da empresa responsabilidade social da empresa responsabilidade pelos produtos praticas de emprego Quadro 3 - Categorias Conceituais de Qualidade de Vida no Trabalho - QVT 48 Operacionalmente os termos do modelo de WALTON (1973) podem ser definidos da seguinte forma: 1 - Compensação Justa e Adequada: categoria que visa mensurar a Qualidade de Vida no Trabalho em relação à remuneração recebida pelo trabalho realizado, desdobrando-se em três critérios: a) Remuneração adequada: remuneração necessária para o empregado viver dignamente dentro das necessidades pessoais e dos padrões culturais, sociais e econômicos da sociedade em que vive. b) Eqüidade interna: eqüidade na remuneração entre outros membros de uma mesma organização. c) Eqüidade externa: eqüidade na remuneração em relação a outros profissionais no mercado de trabalho. 2 - Condições de Trabalho: categoria que mede a Qualidade de Vida no Trabalho em relação às condições existentes no local de trabalho, apresentando os seguintes critérios: a) Jornada de trabalho: número de horas trabalhadas, previstas ou não pela legislação, e sua relação com as tarefas desempenhadas. b) Carga de trabalho: quantidade de trabalho executados em um turno de trabalho. c) Ambiente fisico: local de trabalho e suas condições de bem- estar (conforto) e organização para o desempenho do trabalho. d) Material e equipamento: quantidade e qualidade de material disponível para a execução do trabalho. e) Ambiente sauddvel: local de trabalho e suas condições de segurança e de saúde em relação aos riscos de injúria ou de doenças. J) Estresse: quantidade percebida de estresse a que o profissional é submetido na sua jornada de trabalho. 49 3 - Uso e Desenvolvimento de Capacidades: categoria que visa à mensuração da Qualidade de Vida no Trabalho em relação às oportunidades que o empregado tem de aplicar, no seu dia-a-dia, seu saber e suas aptidões profissionais. Entre os critérios, destacam-se os seguintes: a) Autonomia: medida permitida, ao indivíduo, de liberdade substancial, independência e descrição na programação e execução de seu trabalho. b) Significado da tarefa: relevância da tarefa desempenhada na
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