Buscar

DOENÇAS INFECCIOSAS DE FELINOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DOENÇAS INFECCIOSAS DE FELINOS
1. Peritonite infecciosa felina
1.1 Etiologia: O coronavírus felino (FCoV) é um RNA-vírus envelopado de fita simples, que pretence à família Coronaviridae. O FCoV pode sobreviver mais de 7 semanas em ambientes com baixa umidade, sendo transmitido indiretamente via fômites (como tigelas compartilhadas, brinquedos, roupas, caixa sanitária). No entanto, é um vírus frágil, podendo ser inativado à temperatura ambiente em 24 a 48 h e com uso de desinfetantes e detergentes rotineiros.
1.2 Epidemiologia: A infecção por coronavírus entre os felinos domésticos é comum, particularmente em gatos provenientes de abrigos e criadouros. Apesar da alta prevalência, apenas cerca 5 a 10% dos gatos infectados pelo FCoV desenvolvem PIF em condições de colônias. Essa porcentagem é ainda menor em gatos que vivem de maneira isolada. A idade é um fator de risco importante, considerando-se que cerca de 70% dos gatos que apresentam PIF têm menos de 1 ano. Entretanto, há relatos de PIF em felinos idosos (> 17 anos) e em animais imunocomprometidos. Fatores estressantes durante a infecção pelo FCoV, tais como procedimentos cirúrgicos, alterações no ambiente, coinfecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV) e da imunodeficiência felina (FIV), doenças infecciosas crônicas e desnutrição, podem predispor ao desenvolvimento da PIF. Portanto, o manejo do estresse e o controle de outras infecções em colônias de gatos são essenciais para o controle da PIF. Em criadouros, os filhotes normalmente são infectados logo no início da vida, geralmente após a 5a ou a 6a semana, quando as concentrações de anticorpos maternos diminuem. A mãe quase sempre é a fonte de infecção. As fezes são a maior fonte de FCoV, sendo o principal modo de transmissão a via orofecal. A infecção via saliva e aerossóis pode surgir em colônias, onde o compartilhamento de vasilhas de alimento e o grooming (autolimpeza) são comuns. Os gatos naturalmente infectados pelo FCoV passam a eliminar o vírus nas fezes em 1 semana, podendo se estender por períodos superiores a 10 meses. Muitos gatos o eliminam de modo intermitente e outros cronicamente, por anos ou por toda a vida, tornando-se uma fonte contínua de infecção e reinfecção. No felino com PIF, a excreção do vírus parece ser duradoura, porém em baixas concentrações.
1.3 Fisiopatogenia: A maioria dos felinos infectados pelo FCoV é assintomática ou demonstra sinais de gastrenterite branda. Apenas uma pequena proporção desenvolve PIF. Atualmente, sabe-se que o FIPV se desenvolve, espontaneamente, a partir do FECV (coronavírus entérico felino) nos gatos infectados. Logo, ambos são idênticos em relação às suas propriedades antigênicas, mas diferem no tocante à patogenicidade. A causa precisa da PIF ainda não está totalmente elucidada, mas há duas hipóteses principais. A primeira se baseia na ideia de que, em algumas circunstâncias, ocorre mutação genética no FCoV, favorecendo sua replicação em monócitos e macrófagos, o que parece ser o evento desencadeante da PIF. Logo, acredita-se que os gatos sejam primariamente infectados pela forma avirulenta do FCoV, que se replica nos enterócitos, podendo sofrer ou não a mutação genética que acarretaria PIF. A segunda hipótese fundamenta-se na ideia de que qualquer cepa de FCoV pode causar PIF, sendo a carga viral e a resposta imune do gato infectado fatores determinantes para o seu desenvolvimento ou não. Um sistema imune competente pode evitar a PIF quando da infecção por uma cepa de baixa virulência. No entanto, a predisposição genética ou a imunossupressão decorrente de estresse ou de outras doenças podem possibilitar que a PIF se instale, mesmo nos casos de cepas de baixa virulência.
A mutação que viabiliza a disseminação do FCoV pelo sistema monocítico fagocitário (SMF), juntamente com a variação da resposta imune individual, pode resultar em duas formas clínicas da PIF: a forma efusiva, caracterizada por polisserosites fibrinosas (p. ex., derrame abdominal e torácico) e vasculite; e a forma não efusiva, caracterizada por lesões granulomatosas em órgãos e de evolução lenta. Cerca de 80% dos casos de PIF são representados pela forma efusiva. O desenvolvimento ou não da PIF parece depender da força da resposta imune celular, que aparentemente é a única resposta imune eficiente contra a progressão da doença. Todas as formas de PIF são letais, e a progressão da doença pode advir de grave imunodepressão causada pela depleção de células T.
Acredita-se que a PIF se desenvolva a partir de uma mutação espontânea em uma região específica do FCoV. Essa mutação acarreta alterações nas estruturas da superfície do vírus, possibilitando que este seja fagocitado por macrófagos, ligando-se, posteriormente, aos ribossomos dessas células. Assim, o vírus mutado torna-se apto a se replicar no interior dos macrófagos. Esse é considerado o evento-chave na patogênese da PIF. Com a morte dos macrófagos infectados pelo FCoV mutante, não só os vírus são liberados, mas também substâncias quimiotáticas, incluindo complemento e mediadores inflamatórios. A fixação do complemento resulta na liberação de aminas vasoativas, que causam retração de células endoteliais, possibilitando a exsudação de proteínas plasmáticas. Daí o desenvolvimento de exsudatos ricos em proteínas na PIF. Sugeriu-se que gatos que apresentam boa resposta imune celular não desenvolvem PIF; em contrapartida, gatos que apresentam resposta predominantemente humoral têm maior probabilidade de desenvolver PIF. A eliminação das infecções naturais está associada à existência de anticorpos direcionados à proteína S do FCoV, sugerindo que, nestas, a resposta imune humoral tenha um papel na proteção do animal. No entanto, quanto mais forte a resposta imune humoral, maior é a depleção das células T, o que deixa a doença mais grave.
1.4 Manifestações clínicas: As manifestações clínicas da PIF são inespecíficas, em decorrência da distribuição variada das lesões piogranulomatosas e do surgimento de vasculite em diferentes órgãos e sistemas, como rins, fígado, pâncreas, olhos e sistema nervoso central (SNC). A peritonite infecciosa felina foi classificada, inicialmente, em formas efusiva e não efusiva, contribuindo para o reconhecimento de suas apresentações clínicas e seu diagnóstico. No entanto, há considerável sobreposição entre ambas as formas, sendo possível classificá-la em uma terceira, a forma mista. PIF efusiva é caracterizada por polisserosites fibrinosas (p. ex., pericardite, pleurite e peritonite), com efusões, febre, apatia, anorexia, distrição respiratória, perda de peso, icterícia e linfonodomegalia mesentérica. PIF não efusiva ou seca caracteriza-se por lesões granulomatosas em diferentes órgãos, febre, apatia, anorexia, alterações oculares, perda de peso, icterícia, linfonodomegalia mesentérica e alterações neurológicas, além de não haver derrames óbvios.
- Derrames: Muitos gatos com PIF desenvolvem evidentes derrames pleurais, pericárdicos e peritoneais, sendo a ascite a manifestação clínica mais óbvia da forma efusiva da doença. É importante ressaltar que menos de 50% dos gatos com derrames apresenta PIF. Em menor proporção, os casos de derrame se restringem ao tórax. Derrames pleurais geralmente acarretam dispneia ou taquipneia e, às vezes, posição ortopneica e cianose de mucosas.
- Manifestações inespecíficas: Febres refratárias à antibioticoterapia, letargia, anorexia e perda de peso são alterações inespecíficas observadas em gatos com PIF; entretanto, em alguns casos, o animal pode se encontrar ativo e em boa condição corporal. Também é possível ocorrer icterícia, associada a derrames. A forma não efusiva da PIF costuma mostrar maior desafio diagnóstico: manifestações inespecíficas como pirexia, anorexia e letargia podem ser as únicas alterações, principalmente nos estágios iniciais da doença. Em geral, os órgãos abdominais são os mais afetados, podendo-se observar diarreia crônica e episódios eméticos, relacionados com o acometimento da parede do cólon ou da junção ileocecocólica. Algumasvezes, pode-se ver pneumonia piogranulomatosa difusa acarretando dispneia grave. Os rins também podem ser atingidos, resultando em renomegalia.
- Alterações oculares: Gatos com PIF não efusiva frequentemente apresentam lesões oculares, sendo as alterações retinianas as mais comuns. Ao exame oftalmoscópico, ocasionalmente notam-se coriorretinite, hemorragia e/ou descolamento da retina. A uveíte é uma manifestação comum entre os gatos com PIF não efusiva. Uveíte branda pode ser notada como alterações na coloração da íris. Discoria (distúrbios das pupilas) ou anisocoria secundária à inflamação da íris, perda repentina da visão e hifema também podem ocorrer.
- Alterações neurológicas: As manifestações neurológicas são encontradas em mais de 10% dos casos de PIF e refletem o acomentimento focal, multifocal ou difuso do encéfalo, da medula espinal e das meninges. As alterações neurológicas mais comuns são ataxia, nistagmo e convulsões. Hiperestesia, alterações comportamentais, tremores de intenção e déficits de nervos cranianos podem ser vistos. Se a lesão por PIF estiver nos nervos periféricos ou na medula espinal, podem-se verificar claudicação, ataxia progressiva, tetraparesia, hemiparesia ou paraparesia.
- Alterações cutâneas: caracterizadas por múltiplas lesões nodulares decorrentes de flebite dermal piogranulomatosa necrosante.
1.5 Diagnóstico: O diagnóstico definitivo da PIF ainda é um assunto complexo e controverso, por ser extremamente desafiador in vivo e por nem sempre ser possível
1.5.1 Hemograma: Pode haver leucopenia ou leucocitose por neutrofilia. Linfopenia comumente ocorre, no entanto, quando associada à neutrofilia, caracteriza o leucograma de estresse, geralmente comum em gatos e em diversas doenças. O diagnóstico de PIF é menos provável quado a contagem de linfócitos se encontra dentro do normal. Acredita-se haver correlação entre linfopenia e gravidade das manifestações clínicas: quanto maior a linfopenia (depleção das células T), mais grave é o quadro clínico. Anemia normocítica, normocrômica leve a moderada, regenerativa ou não, também é um achado comum e inespecífico. Trombocitopenia é comum em gatos com PIF, em virtude da coagulação intravascular disseminada, assim como o aumento dos produtos de degradação de fibrinogênio (PDF).
1.5.2 Perfil bioquímico: Um achado laboratorial comum em gatos com PIF é o aumento na concentração de proteína total sérica (> 7,8 g/dl), decorrente do aumento da produção de imunoglobulinas, principalmente de gamaglobulinas, o que leva à redução do valor da razão entre albumina e globulina. A concentração sérica de proteína total em gatos com PIF pode ser superior a 12 g/dl, mas este valor também pode ser encontrado em gatos com estomatite crônica grave, doença crônica do trato respiratório anterior, dirofilariose ou mieloma múltiplo. Em um estudo, encontrou-se hiperglobulinemia em cerca de 50% dos gatos com derrame e de 70% dos gatos sem derrame. A razão entre albumina e globulina tem alto valor diagnóstico, mais que a concentração sérica de proteína total ou de gamaglobulina, já que a queda dos níveis séricos de albumina pode se dever à redução em sua produção. A queda nos níveis de albumina e o aumento de globulinas parecem característicos da PIF. Determinou-se um valor de corte ideal, 0,8, para a razão albumina/globulina. Com valor menor que 0,8, a probabilidade de o gato ter PIF é alta (valor preditivo positivo de 92%); se o valor for maior, é provável que o gato não tenha PIF (valor preditivo negativo de 61%). A baixa concentração sérica de albumina quase sempre está associada à baixa produção hepática ou à perda proteica causada pela glomerulopatia secundária à deposição de imunocomplexos, ou pelo extravasamento de líquido rico em proteína decorrente de vasculites e de alterações granulomatosas no intestino. Hiperbilirrubinemia e icterícia costumam ser observadas em gatos com PIF e, provavelmente, devem-se aos altos níveis de fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), que inibe o transporte transmembrana dos pigmentos biliares. Sendo assim, o aumento do nível sérico de bilirrubina sem hemólise e sem elevação das enzimas hepáticas pode sugerir PIF.
1.5.3 Testes com líquido do derrame: O líquido resultante dos derrames em PIF mostra coloração amarelo-palha, citrina ou áurea e consistência viscosa. Além disso, apresenta alta quantidade de fibrina e densidade entre 1,017 e 1,047. Esse líquido é classificado, geralmente, como exsudato, uma vez que a concentração de proteína é alta (> 35 g/dl). No entanto, a concentração de células é baixa (< 1.000 células/ml), aproximando-se de um transudato modificado ou transudato puro. A razão albumina/globulina < 0,8 é altamente sugestiva de PIF. A citologia do derrame de gatos com PIF demonstra diferentes composições, mas frequente predominância de macrófagos e neutrófilos íntegros. Os diagnósticos diferenciais mais importantes em felinos com derrames incluem doença hepática inflamatória, linfoma, insuficiência cardíaca e peritonite ou pleurite bacteriana.
- Teste de Rivalta: Esse teste possibilita a diferenciação entre derrames por PIF e derrames por outras doenças. Não apenas a alta concentração de proteína, mas altas concentrações de fibrina e de mediadores inflamatórios levam à reação positiva. O teste de Rivalta tem alto valor preditivo positivo (86%) e valor preditivo negativo mais alto ainda (97%) para a PIF. Resultados positivos podem ocorrer em gatos com peritonite bacteriana ou linfoma. Esses derrames, no entanto, são facilmente diferenciáveis por exame macroscópico, citologia e/ou cultura bacteriana.
1.5.4 Testes LCR: A análise do líquido cefalorraquidiano só deve ser realizada nos gatos com alterações neurológicas. O LCR desses animais pode apresentar elevada concentração de proteína (50 a 350 mg/dl) e pleocitose (100 a 10.000 células nucleadas/ml), contendo principalmente neutrófilos, linfócitos e macrófagos, mas tais alterações são achados inespecíficos e muitos gatos podem ter LCR normal.
1.5.5 Anticorpos: Títulos muito altos podem ter certo valor diagnóstico, e aumentam a probabilidade de se tratar da enfermidade. A titulação de anticorpos, portanto, é indicada em gatos hígidos que tiveram contato com outros gatos suspeitos de eliminarem o FCoV; em colônias, com o objetivo de verificar a existência do vírus; na avaliação de um gato, antes de introduzi-lo em uma colônia ou antes de vaciná-lo; e na avaliação de filhotes, quando o desmame precoce for realizado.
1.5.6 Detecção Coronavírus em macrófagos: O coronavírus pode estar alojado sistemicamente em gatos sem PIF, mas somente existindo a doença haverá quantidades suficientes dele nos macrófagos para se obter coloração positiva. A detecção do vírus nessas células pode ser feita pela pesquisa de antígeno, utilizando a imunofluorescência nos macrófagos de derrames ou a imuno-histoquímica nos macrófagos de tecidos. A imunofluorescência apresenta valor preditivo positivo de 100%, o que significa que, caso seja positiva, há 100% de chance de o gato ter PIF, não ocorrendo falso-positivos. Infelizmente, o valor preditivo negativo não é alto (57%).
1.5.7 Histopatológico: Histopatologia é a técnica mais apropriada para se chegar ao diagnóstico definitivo da PIF. Por depender de métodos invasivos para a obtenção de amostras, sua realização in vivo não é recomendada.
1.6 Tratamento: Uma vez que a PIF se estabeleça, ela é fatal para a maioria dos gatos, por isso tanto o tratamento quanto a eutanásia devem ser considerados apenas após o esforço para se obter um diagnóstico definitivo. É importante ressaltar que todos os tratamentos até o presente têm como finalidade retardar a progressão da doença, não levando à cura. O tratamento de suporte objetiva evitar infecções oportunistas, com antibióticos de amplo espectro, promover melhor qualidade de vida e suprimir a resposta imune inflamatória e inapropriada, com doses altas de fármacos imunossupressores e anti-inflamatórios. A média de sobrevivência após o diagnóstico é de cerca de 10 dias. Os gatos quenão apresentam melhora em 3 dias raramente respondem a algum tratamento, e deve-se considerar a eutanásia.
1.7 Profilaxia: A prevenção da infecção pelo FCoV ainda não pode ser garantida por vacinação. Por isso, uma série de medidas deve ser tomada em conjunto, a fim de reduzir a manifestação do vírus e o risco de transmissão. Pode ser feito evitando-se colônias numerosas, mantendo-se pequenos grupos de animais por ambiente (cerca de três gatos bem adaptados), realizando-se higiene adequada e provendo-se acesso a uma área externa cercada e com grama ou terra, a fim de que possam enterrar suas fezes, o que reduz a taxa de sobrevivência do vírus. Se os gatos não tiverem acesso às áreas externas, deverão ser oferecidas caixas sanitárias em número suficiente, limpas com frequência e colocadas em ambientes afastados dos vasilhames de comida e água.
1.7.1 Criadouros e abrigos: Colônias grandes são situações de alto risco para transmissibilidade do FCoV e desenvolvimento de PIF. Para verificar se uma colônia é endêmica para FCoV, pode-se realizar a RT-PCR em amostras de fezes de três a quatro gatos, aleatoriamente. Uma vez comprovado o vírus na colônia, o manejo ideal seria a redução do número de animais por ambiente e a titulação de anticorpos de todos eles, com posterior isolamento daqueles que eliminam o vírus, detectados por RT-PCR de amostras pareadas de fezes (quatro amostras com intervalos de 3 semanas). Depois de 3 a 6 meses, uma nova titulação deve ser realizada, a fim de identificar aqueles que se tornaram sorologicamente negativos e reintroduzi-los na colônia. Os que permanecerem soropositivos deverão ter as fezes testadas novamente, 1 vez/semana, por 2 meses ou mais. Caso algum gato continue eliminando o vírus, este deverá ser removido da colônia.
1.7.2 Filhotes: Aqueles cuja mãe libera o vírus estarão protegidos até a 5a ou 6a semana de vida, quando deve ser feito o desmame precoce. Há autores que preconizam o isolamento da fêmea 2 a 3 semanas antes do parto, permanecendo em quarentena até a 4a ou 6a semana de vida dos filhotes, quando estes devem ser retirados da mãe e mantidos isolados do resto da colônia.
2. Rinotraqueíte viral felina – Herpesvírus
O FHV-1, juntamente à calicivirose felina e à bactéria Chlamydophilla felis, é um dos agentes etiológicos do chamado complexo respiratório felino. No entanto, determina doença clínica mais grave.
2.1 Transmissão: O FHV-1 é altamente contagioso, com rápida disseminação por agregados tais como gatis, hospitais e abrigos, apresentando infectividade de 100% em populações não imunizadas e filhotes. A transmissão do FHV-1 é horizontal, podendo ocorrer de maneira direta ou indireta, sendo a primeira a mais importante, pelo contato íntimo entre suscetível e gato infectado ou suas secreções. Grandes quantidades de partículas virais são eliminadas em secreções oronasais e oculares, principalmente durante a fase aguda da infecção, no contato dos animais suscetíveis com indivíduos infectados. A eliminação tem início 24 h após a infecção, persistindo um período de 1 a 3 semanas. As principais fontes de infecção são os animais com infecção aguda; contudo, a transmissão também pode se dar por animais clinicamente recuperados que se tornam portadores. A transmissão indireta por fômites como gaiolas, caixas de transporte, utensílios de alimentação e limpeza, toalhas, bebedouros e manipulação (tratadores, tosadores, veterinários, proprietários), é bem documentada. Entretanto, tal modalidade ocorre por curto período, uma vez que o agente é pouco resistente no meio externo. É característica dos a-herpes-vírus manterem-se latentes em indivíduos clinicamente curados. Isso determina a existência de portadores doentes ou sãos. Aproximadamente 80% dos gatos que sobrevivem à infecção se tornam portadores crônicos; entretanto, os episódios de eliminação viral detectável são intermitentes e referem-se à reativação da infecção.
2.2 Patogenia: A infecção natural pelo FHV-1 se dá pelas vias nasal, oral ou conjuntival. O agente replica se, preferencialmente, nas mucosas expostas ou semiexpostas que revestem o septo nasal e os turbinados, a nasofaringe, o palato mole, as tonsilas e a conjuntiva. A viremia é rara, uma vez que o vírus é termolábil, e sua replicação se restringe às áreas de menor temperatura do corpo, no caso o trato respiratório. O FHV-1 é um vírus citolítico, portanto determina necrose epitelial multifocal (24 a 48 h após o contato com o agente), com intensa infiltração neutrofílica e exsudação de fibrina, não sendo rara a oclusão das vias respiratórias por células necróticas e exsudatos. Nas fases iniciais da infecção, podem ser observadas inclusões nucleares. Lesões osteolíticas podem surgir nos turbinados e ser permanentes. A resolução clínica ocorre em um período entre 2 e 3 semanas. Infecções bacterianas secundárias em geral contribuem para qualquer estágio das doenças crônicas do trato respiratório anterior ou posterior induzidas, inicialmente, pelo FHV-1, agravando o quadro, inclusive por determinarem quadros de sinusite e pneumonia secundárias.
As oftalmopatias decorrem de dois mecanismos distintos: lesão viral direta citolítica (fase aguda da infecção) ou alterações imunomediadas (perpetuação). A replicação viral deflagra necrose corneana e, subsequentemente, ceratite superficial ou intersticial, que evolui para ceratite dendrítica ulcerativa. Várias úlceras podem coalescer em intervalo de 48 h, comprometendo camadas corneanas mais profundas e desencadeando ceratite estromal, muitas vezes com quadros oftalmológicos tão graves que incitam a perda do globo ocular.
2.3 Manifestações clínicas: Os sintomas surgem após um período de incubação de 2 a 6 dias que, em alguns animais, pode ser prolongado (17 dias). Pode-se observar cura clínica em um período relativo entre 10 e 20 dias, e a maioria dos gatos tem manifestações clínicas por, no máximo, 2 semanas. A persistência de sintomas depois disso condiz com a cronicidade do processo. A associação a outros agentes tais como FCV, Chlamydophyla sp., Mycoplasma sp. ou Bordetella bronchiseptica é comum, e pode causar variações na apresentação sintomática da doença.
2.3.1 Forma aguda: Os sintomas iniciais gerais mais descritos em animais infectados pelo FHV-1 são febre (> 40°C), letargia e prostração, de aparecimento súbito. O acometimento respiratório é caracterizado principalmente por espirros, além de secreção nasal e tosse. Quadros oculares geralmente correlacionam-se a epífora, blefarospasmo e quemose. O paciente apresenta oscilações no apetite (disorexia), caracterizadas por hiporexia e anorexia. Caso também esteja comprometida a ingestão de água, pode-se observar desidratação.
- Sinais respiratórios: Inicialmente, o gato infectado pelo FHV-1 tem espirros esporádicos que, com a evolução da doença, tornam-se mais frequentes e paroxísticos. Quadros secretórios nasais de aspecto variável são característicos da infecção herpética respiratória em gatos. A secreção nasal de quadros não complicados por oportunistas mostra aspecto seroso a mucoso, ficando mucopurulento a purulento nos casos com infecções secundárias intensas e lesões de turbinados. O aumento da viscosidade desses exsudatos pode acarretar obliteração das cavidades nasais e narinas, com consequentes perda do olfato, alterações do apetite e respiração oral. Animais jovens e debilitados podem padecer de pneumonia viral primária. Pneumonias bacterianas secundárias e sepse também podem ser observadas em animais muito jovens ou imunocomprometidos.
- Sinais oculares: O acometimento conjuntival provoca hiperemia acentuada e quemose (edema conjuntival), com secreção oculonasal abundante, inicialmente serosa (lacrimejamento ou epífora), que pode ficar mucopurulenta, com a formação de crostas nas rimas palpebrais, que acabam por determinar seu selamento. Animais infectados pelo FHV-1 apresentam secreção ocular marcantemente mais intensa que aqueles infectados pelo FCV. A protrusão da terceira pálpebra é um sintoma bastante comum, em associação aosquadros oculares, que podem estar dissociados de doença respiratória. A perfuração da córnea complicada por infecção secundária e subsequente destruição do globo ocular atinge com mais frequência filhotes bem jovens (oftalmia neonatal). Pode, ainda, ocorrer cegueira, sem responsividade pupilar, devido a quadros de neurite óptica induzida pelo FHV-1, sem sinais de alterações retinianas à fundoscopia.
- Sinais dermatológicos: Alterações dermatológicas são raras, mas podem ser vistas durante a reativação, independentemente de sintomas respiratórios associados. Tais lesões se caracterizam por dermatite ulcerativa superficial em plano nasal, face, coxins, orelha externa e tronco. Consistem em vesículas, ulcerações e crostas, muitas vezes associadas a prurido.
- Sinais reprodutivos: Os abortamentos podem decorrer de infecção por vários a-herpes-vírus (como o canino), no entanto, parece que o FHV-1 não tem tal afinidade pelo trato reprodutivo.
- Outros: Em neonatos, o FHV-1 provoca quadros de encefalite e hepatite necrótica, caracterizando a chamada síndrome do definhamento do recém-nascido (choro contínuo, dificuldade de aleitamento, secreção nasal, desenvolvimento insatisfatório, dispneia e morte). Ulcerações oral e nasal são raras; no entanto, apesar de gatos com complexo respiratório grave ocasionalmente poderem apresentar glossite e estomatite associadas ao FHV-1, tais lesões são típicas da infecção pelo FCV.
2.4 Diagnóstico: Na prática, o diagnóstico da rinotraqueíte viral felina costuma ser presuntivo (clínico): a sintomatologia clínica condizente com quadros de rinite aguda, oftalmopatias conjuntivais e corneanas. Devem-se realizar anamnese completa e exame físico cuidadoso. É necessário proceder a uma avaliação oftalmológica completa, com os testes de Schirmmer (avaliação da produção de lágrima) e fluoresceína (pesquisa de soluções de continuidade na córnea). A confirmação do FHV-1 como agente etiológico pode ser obtida por testes de pesquisa de antígeno (imunofluorescência), pesquisa molecular (PCR) ou isolamento viral (em culturas de células felinas), a partir de material de orofaringe e conjuntivas. Para quadros oftalmológicos recomenda-se a PCR de material colhido por swab conjuntival. Podem-se fazer testes sorológicos (teste imunoenzimático ou ensaio imunoabsorvente ligado à enzima – ELISA), contudo muitas vezes ficam comprometidos pelos processos usuais de imunização (vacina).
2.5 Tratamento: O tratamento é, na maioria das vezes, direcionado às consequências da infecção por patógenos oportunistas, com base em suporte e antibioticoterapia, quando necessário.
2.5.1 Antibioticoterapia: Agentes antimicrobianos de amplo espectro são indicados aos casos de infecção secundária, caracterizados por secreções nasais mucopurulentas ou purulentas, a fim de evitar a cronicidade dos quadros de rinite. Os antibióticos mais recomendados são amoxicilina (associada ou não ao ácido clavulânico), cefalosporinas, doxiciclina, enrofloxacino, pradofloxacino ou sulfadiazina-trimetoprima. Doxiciclina é o fármaco de eleição para os casos suspeitos ou confirmados de associação entre Chlamydophila sp., Mycoplasma sp. ou Bordetella bronchiseptica.
2.5.2 Terapia antiviral
- L-lisina: Recomenda-se a L-lisina, aminoácido essencial que indisponibiliza a arginina, elemento fundamental à replicação do agente. Sua administração parece atenuar os sintomas e reduzir a eliminação viral, também prevenindo o recrudescimento dos sintomas.
- Interferon-a recombinante humano: O interferon-a, citocina com atividade antiviral, imunomoduladora e antiproliferativa, também pode ser utilizado como adjuvante no tratamento de gatos com doença herpética, na posologia de 30 UI/gato VO, a cada 24 h, contínua e indefinidamente. Em filhotes com doença aguda com risco de fatalidade, recomenda-se a administração subcutânea diária de 10.000 UI/kg, enquanto o animal permanecer em esquema hospitalar.
2.5.3 Fluidoterapia: Alguns animais podem ter desidratação variável em decorrência da não ingestão de alimentos ou água, em associação a perdas hídricas referentes a salivação e secreções oculonasais. Fluidos cristaloides salinos devem ser administrados por via subcutânea ou intravenosa, dependendo da volemia de cada paciente
2.5.4 Suporte nutricional: Orexígenos (diazepam, oxazepam e cipro-heptadina) são a primeira escolha em pacientes disoréxicos ou anoréxicos. Vitaminas (A, B e C) podem contribuir para o estímulo do apetite, particularmente a tiamina e a vitamina A. devem-se tentar a oferta de alimentos mais atraentes (odoríferos ou aquecidos) ou as técnicas de alimentação “amável” (na mão) ou forçada. A persistência de anorexia por período superior a 3 dias traz consigo a indicação de colocação de um tubo de alimentação enteral nasoesofágico, esofágico ou gástrico.
2.5.5 Temperatura: A elevação da temperatura corporal e ambiental favorece a recuperação, pois o agente é termolábil. Recomendam-se sistemas de aquecimento tais como colchões térmicos, incubadoras ou sistemas adaptados de disponibilização de calor.
2.5.6 Vias respiratórias: Recomenda-se a remoção de crostas ou exsudatos que obliterem as narinas 3 vezes/dia, tomando-se o cuidado de utilizar produtos protetores como vaselina ou glicerina, para evitar escoriações da superfície nasal. Animais com quadros secretórios mais acentuados podem ser submetidos a nebulizadores ou vaporizadores, na tentativa de umidificar as vias respiratórias. Apesar de controversa, a técnica de expor o paciente a vapores de banho é bem aceita por vários autores. Os descongestionantes intranasais mais indicados são as preparações pediátricas de fenilefrina, neossinefrina e oximetazolina, recomendando-se 1 gota por narina, no máximo por 2 dias. A instilação de cloreto de sódio a 0,9% também apresenta efeito satisfatório, pois promove espirros, com subsequente expulsão das placas secretórias presentes na cavidade nasal.
2.5.7 Tratamento oftalmológico: A limpeza ocular, pelo menos 3 vezes/dia, é bastante importante. Para tanto, recomenda-se água filtrada ou fervida, ou solução fisiológica. É prudente recomendar a colocação de colar elisabetano, para evitar traumas ao olho, devido ao prurido ou dor.
- Antibióticos tópicos: A administração de colírios antibióticos, sem associação a corticosteroides, é a base do tratamento das conjuntivites com infecção secundária. Para tanto, tetraciclina, cloranfenicol, quinolonas (ofloxacino, ciprofloxacino, gatifloxacino) e tobramicina são as bases mais recomendadas, 4 a 6 vezes/dia.
- Antiinflamatórios tópicos: Corticosteroides (dexametasona e prednisolona) só devem ser prescritos para oftalmopatias não caracterizadas por ceratite ulcerativa. Havendo úlceras de córnea ou impossibilidade de se realizar o teste de fluoresceína, antiinflamatórios não esteroidais tópicos como o dicofenaco e o cetorolaco são excelentes opções, ministrados 2 a 4 vezes/dia.
- Antivirais tópicos: A administração de antivirais tópicos (Quadro 96.3) é de fundamental importância para a evolução dos processos corneanos, sugerindo-se idoxurudina, vidarabina, trifluridina, cidofovir, interferon-a ou interferon-v felino.
2.6 Profilaxia: Sabe-se que a vacinação por si só não garante plena prevenção contra a infecção (apenas contra o desenvolvimento de doença herpética grave), apesar de os imunógenos garantirem a síntese de altos títulos de anticorpos neutralizantes. Assim, faz-se necessária uma conjunção de ações como programas estratégicos de vacinação, correção do manejo higiênico-sanitário, minimização da densidade populacional, identificação e isolamento de animais portadores.
3. Calicivírus
3.1 Epidemiologia: O calicivírus é um das principais causas de doença aguda do trato respiratório anterior e da cavidade oral em gatos. O calicivírus é bastante difundido por toda a população felina e a prevalência geralmente é proporcional ao número de gatos na habitação, sendo as mais altas prevalências observadas em locais onde habitam grandes grupos de gatos. Na população felina, o calicivírus é encontradotanto em animais agudamente infectados quanto em gatos clinicamente recuperados, denominados portadores. Este estado de portador assintomático é de fundamental importância para a epidemiologia do calicivírus. A duração desse estado é variável e pode-se estender meses a anos.
O vírus é eliminado principalmente pelas secreções orais e nasais, e a infecção costuma ocorrer pelo contato direto com elas. O vírus também pode ser encontrado em sangue, fezes e urina de gatos infectados. A transmissão indireta pode acontecer, especialmente em ambientes confinados, onde as secreções podem contaminar gaiolas, comedouros, bebedouros, materiais de limpeza e as pessoas. A resposta imune tem impacto limitado na infecção pelo calicivírus. Está claro que imunidade preexistente, adquirida naturalmente pelos anticorpos maternos ou artificialmente por meio de vacinação, pode reduzir ou eliminar as manifestações clínicas de posterior infecção pelo calicivírus. Contudo, a imunidade preexistente não previne infecção e esses animais podem se tornar portadores, os quais têm um papel importante na epidemiologia do vírus.
3.2 Patogenese: Os gatos podem se infectar com o FCV pelas vias nasal, oral e conjuntival. O vírus normalmente se replica nos tecidos respiratórios e orais, quase sempre na orofaringe. No entanto, algumas cepas têm patogenicidade e tropismo tecidual diferentes, de modo que o calicivírus já foi encontrado em tecidos viscerais, fezes e urina. Há viremia 3 a 4 dias após a infecção. O FCV induz necrose das células epiteliais e formação de vesículas, tipicamente nas margens da língua, mas também em outros locais. A ruptura dessas vesículas, pela necrose do epitélio, produz ulcerações na cavidade oral, um dos principais achados clínicos da calicivirose. Concomitantemente à ruptura, há infiltração de neutrófilos na derme das regiões afetadas. Essas lesões geralmente se resolvem em 2 a 3 semanas. Lesões pulmonares são mais raras e se iniciam com alveolite focal, que leva a áreas de pneumonia exsudativa aguda e, então, ao desenvolvimento de pneumonia intersticial proliferativa. Os tecidos articulares também podem ser acometidos, com o calicivírus causando sinovite aguda, espessamento da membrana sinovial e aumento da quantidade de líquido sinovial nas articulações e, por consequência, claudicação.
Na calicivirose sistêmica há vasculite disseminada e envolvimento de múltiplos órgãos. As lesões observadas incluem edema subcutâneo, ulcerações orais e na pele, especialmente em pinas, narinas e coxins, pneumonia broncointersticial e necrose hepática, esplênica e pancreática. O antígeno viral já foi detectado em pele, mucosa nasal, pulmões, pâncreas e células endoteliais da derme. A patogênese da calicivirose sistêmica ainda é incerta; acredita-se que componentes imunomediados e/ou virais estejam implicados, além de fatores ambientais e de manejo. Assim, acredita-se que mutações no genoma viral possam ser as responsáveis por esse fenótipo altamente virulento.
3.3 Manifestações clínicas: Devido ao grande número de diferentes cepas de calicivírus, uma variedade de manifestações clínicas pode ser observada. Dentre elas, as mais comuns são ulcerações orais e manifestações de doença do trato respiratório anterior, como espirros, secreção nasal e ocular. Estes sintomas surgem após um período de incubação de 2 a 10 dias e são vistos principalmente em filhotes. As ulcerações na cavidade oral podem causar sialorreia e anorexia, e são mais frequentes na língua. Geralmente há resolução dessas lesões depois de alguns dias. Febre também pode ser uma das manifestações. Como aproximadamente 85% dos gatos com estomatite crônica aparentam ser portadores crônicos do calicivírus, este fato pode ser um pré-requisito para a indução da estomatite crônica em tais indivíduos. Além disso, embora a faucite aguda já tenha sido reproduzida experimentalmente, ainda não foi possível induzir experimentalmente a doença crônica. Portanto, é provável que estejam envolvidos outros fatores não associados ao calicivírus, incluindo outros patógenos e fatores relacionados com o hospedeiro. Há, ainda, um quadro de claudicação aguda e transitória, que pode aparecer com a infecção ou após vacinação pelo calicivírus, e ser acompanhado de febre. Em infecções naturais, esse quadro surge dias a semanas depois das manifestações orais e respiratórias.
Recentemente, uma cepa mais virulenta do calicivírus surgiu e tem sido associada a surtos com alta mortalidade e a uma nova variedade de manifestações clínicas. A doença foi denominada inicialmente febre hemorrágica e, atualmente, calicivirose sistêmica felina. Nesses casos, o período de incubação em hospitais e clínicas veterinárias é de 1 a 5 dias e, no ambiente domiciliar, pode se estender até 12 dias. Diferentemente da forma típica, essa doença é mais grave em animais adultos que em filhotes e apresenta taxas de mortalidade de até 67%. Além das manifestações de doença do trato respiratório superior, os gatos afetados têm graus variados de pirexia, edema cutâneo, principalmente em membros e cabeça, dermatite ulcerativa, anorexia e icterícia. Lesões crostosas, úlceras e alopecia podem ser observadas especialmente em focinho, pinas, lábios, coxins e região periocular. Pode haver sinais de comprometimento do trato gastrintestinal, como êmese e diarreia. Alguns animais apresentam distrição respiratória grave devido a edema pulmonar ou derrame pleural. Tromboembolia e coagulopatia causados por coagulação intravascular disseminada podem se manifestar, em geral na fase mais tardia da infecção, por petéquias, equimoses e epistaxe. Icterícia e dispneia têm sido associadas a um prognóstico mau.
3.4 Diagnóstico: O diagnóstico de calicivirose felina pode ser baseado apenas nas manifestações clínicas. Para sua confirmação, sugere-se o isolamento viral em cultura de células felinas, imunofluorescência, ensaio imunoenzimático indireto (ELISA) ou reação em cadeia pela polimerase com transcriptase reversa (RT-PCR) em swabs conjuntivais ou de orofaringe. A sorologia não costuma ser útil para o diagnóstico de infecção pelo FCV, pela existência de anticorpos vacinais. A calicivirose sistêmica é diagnosticada com base nas manifestações clínicas, na alta contagiosidade e mortalidade e no isolamento da mesma cepa de FCV do sangue de diversos gatos doentes.
Os achados clinicopatológicos da calicivirose por cepas não virulentas em geral são inespecíficos, com neutrofilia e hiperglobulinemia. Em contrapartida, a calicivirose sistêmica pode resultar em graves alterações clinicopatológicas, refletindo o dano a múltiplos órgãos.
3.5 Tratamento: O tratamento da calicivirose felina é sintomático. Os antibióticos de amplo espectro devem ser administrados a gatos com doença grave e suspeita de infecção bacteriana ou a critério do médico-veterinário, para evitar potenciais complicações associadas à infecção bacteriana secundária. É fundamental que o antibiótico escolhido tenha boa penetração no trato respiratório e na mucosa oral. A limpeza das secreções nasais também é importante e deve ser feita diversas vezes/dia, com solução fisiológica. Fármacos com efeito mucolítico e nebulização com solução salina podem auxiliar no tratamento.
A alimentação é extremamente importante. Muitos gatos doentes não comem, devido a pirexia, úlceras orais e perda do olfato pela congestão nasal. Desse modo, eles devem ser encorajados a se alimentar com oferecimento de alimentos palatáveis e com forte aroma. O alimento pode, ainda, ser aquecido para aumentar seu odor. Em alguns casos, o uso de estimulantes do apetite, como a cipro-heptadina ou o diazepam, pode ser benéfico. Caso a anorexia se torne prolongada, indica-se a colocação de um tubo esofágico ou gástrico para nutrição enteral. 
Animais gravemente afetados podem necessitar de fluidoterapia para correção de desequilíbrios hidreletrolíticos e acidobásicos. A maioria dos antivirais usados em medicina veterinária somente inibe a replicação de vírus DNA ou retrovírus. E, embora alguns antivirais de amplo espectro,como a ribavirina, sejam efetivos contra o FCV em culturas celulares, eles são muito tóxicos para utilização nos animais. O tratamento para estomatite crônica ainda é controverso e as opções recomendadas são limpeza dentária e antibióticos, corticosteroides ou fármacos imunossupressores (clorambucila, ciclosporina, talidomida) e extração total dos dentes. Gatos com a forma sistêmica da calicivirose devem ser mantidos em isolamento e receber terapia de suporte intensiva, à base de fluidoterapia e antibióticos.
3.6 Profilaxia: A principal forma de controle da calicivirose é a vacinação. São consideradas seguras e efetivas para reduzir ou prevenir as manifestações respiratórias e orais clássicas, mas não protegem contra a infecção e o desenvolvimento do estado de portador. Gatos recuperados da calicivirose provavelmente não estejam imunes para o resto da vida, em especial contra cepas diferentes. Desse modo, a vacinação desses animais também é recomendada, mesmo em áreas endêmicas para o calicivírus. O manejo do ambiente também é fundamental, visto que o FCV pode persistir no ambiente cerca de 1 mês. Desinfetantes eficientes incluem hipoclorito de sódio a 5% na diluição de 1:32 de água, peroximonossulfato de potássio e dióxido de cloro.
4. Leucemia viral felina (FeLV)
4.1 Epidemiologia: A doença ocorre independentemente de sexo ou raça dos animais, apesar da menor ocorrência em gatos puros de raça, já que estes animais permanecem mais tempo no interior do domicílio. A incidência é maior em animais que se situam na faixa etária entre 1 a 5 anos e em locais de grande densidade de felinos, como os gatis e abrigos. O contágio decorre do íntimo contato dos animais (lambeduras, cuidados mútuos com os pêlos, uso em comum de vasilhas sanitárias e fômites de água e alimentos) entre felinos doentes e portadores assintomáticos. A transmissão horizontal é a mais comum. Ocorre principalmente pela saliva, já que a concentração do vírus na saliva é maior que no plasma. A transmissão por fluídos como urina, fezes, leite e plasma, iatrogênica e por pulgas também devem ser consideradas. A transmissão via transplacentária e pelo leite podem ocorrer em fêmeas prenhes e, caso os neonatos não sejam infectados via intrauterina ou pelo leite materno, o contagio pode ocorrer pela gata durante os cuidados de limpeza e higiene.
4.2 Fisiopatogenia: De maneira semelhante aos demais retrovírus, ao penetrar na célula o vírus da FeLV induz à transcrição reversa. As cópias de DNA viral (provírus) migram para o núcleo e se incorporam ao DNA cromossômico da célula do hospedeiro. O provírus integrado à célula é transmitido às células-filhas juntamente com outros genes. O provírus codifica para RNA - mensageiro, iniciando a produção de novo RNA viral no citoplasma da célula infectada. Ocorre ainda a síntese ativa de proteínas virais que podem ser encontradas no interior das células infectadas ou no plasma sanguíneo. A saída dos vírions não determina a morte da célula e, portanto, existe a contínua produção de proteínas virais e vírions, o que determina a viremia persistente. O vírus tem predileção por tecidos de alto metabolismo, que contém células em constante divisão. Outro fator que assegura a continuidade de produção dos retrovírus oncogênicos é a capacidade de estimular a replicação das células em que o provírus está integrado, que assegura a continuidade da produção. Entretanto, este mecanismo pode induzir ao câncer e a morte do hospedeiro.
Após a infecção inicial, que comumente ocorre pela via oronasal, o vírus se replica nas células mononucleares (linfócitos e macrófagos) das tonsilas e tecido linfóide faringeano. Em animais imunocompetentes, a replicação viral cessa por efeito da resposta imune celular e humoral, e o vírus é completamente eliminado do organismo. A maioria dos gatos conseguem eliminar o efeito da primo-infecção pelo microorganismo. Estes gatos não manifestam a doença sistemicamente. Em animais em que a resposta imune não é adequada, o vírus é carreado para os linfonodos locais da cabeça e pescoço, nos quais a replicação é amplificada nos centros foliculares desses linfonodos nos linfócitos B. A viremia ocorre entre dois a doze dias após a infecção, e o vírus é disseminado para a medula óssea, timo, baço, trato gastrintestinal, linfonodos e glândula salivar. O primeiro episódio de viremia é caracterizado por febre e linfadenomegalia (hiperplasia linfocítica). Nos animais em que a viremia cessa entre 3 a 6 semanas, recebem a denominação de viremia transitória. No entanto, durante este período, o animal excreta o vírus. Os animais que conseguem eliminar o vírus antes da medula óssea ser infectada, podem não desenvolver a doença. Após três semanas de viremia, as células da medula óssea são acometidas e afetam a produção das células hematopoiéticas. Em seguida, o animal não consegue mais eliminar o vírus do organismo, mesmo que a viremia cesse, já que a informação de replicação do provírus está presente nas células precursoras linfocíticas, granulocíticas e megacariócitos.
Os eventos seguintes da replicação dependem da amplificação do vírus nos precursores ativos, nas células em mitose da medula óssea, nas criptas da mucosa intestinal e nos centros foliculares dos linfonodos, além da restrição do vírus à resposta imune antiviral. A habilidade do sistema imune para impedir a progressão determina a severidade da doença. A viremia pode cessar e o animal permanece em estado de latência, podendo reativar espontaneamente ou quando há imunossupressão. Ocasionalmente a viremia pode persistir e o animal desenvolve a doença clínica. glândulas salivares e da vesícula urinária, embora não manifestem sinais clínicos degenerativas. O mecanismo da ocogênese nesta retrovirose é justificado pela inserção do DNA viral próximo a um oncogene (myc), resultando numa proliferação incontrolada desta célula (clone), devido a ativação e superexpressão deste gene.
4.3 Manifestações clínicas: Clinicamente os animais apresentam mucosas pálidas, dispnéia, letargia, anorexia, emagrecimento progressivo, linfadenopatia, febre, gengivite, estomatite, uveíte, enterite (diarréia), abscessos que não cicatrizam. Também são observadas alterações neurológicas como anisocariose, ataxia, tetraparesia, fraqueza, mudanças de comportamento e incontinência urinária. A diminuição da imunidade pela infecção persistente com o vírus da FeLV gera anemia arregenerativa, neutropenia, trombocitopenia, macrocitose, macroplaquetas, aplasia ou hipoplasia da medula óssea, mielodisplasia (síndrome pré leucêmica) e atrofia tímica. São observados também distúrbios reprodutivos como infertilidade, morte fetal e abortamentos, glomerulonefrite e poliartrite por deposição de imunocomplexos. As manifestações neoplásicas são mais comuns nos linfomas mediastinais, além das formas extranodais, leucemia linfóide, granulocíticas, megacariocíticas e eritroleucemia.
4.4 Diagnóstico: O diagnóstico do FeLV é realizado pela sintomatologia clínica e por testes laboratoriais. Os animais que se recuperaram da doença apresentam anticorpos neutralizantes e podem ser diagnosticados por técnicas de imunofluorescência indireta (IFI) e ELISA. O ELISA é um teste de triagem, prático e de alta sensibilidade. O teste de IFI (imunofluorescência indireta) detecta a proteína p27 dentro de leucócitos. É considerado teste confirmatório e apresenta alta especificidade. Os testes moleculares como o teste de PCR tem sido utilizado no diagnóstico recentemente e tem mostrado alta especificidade. Animais que apresentam o vírus latente são positivos para o PCR na medula óssea ou células do sangue periférico. Os animais portadores imunes acusam reação positiva para PCR e ELISA em amostras de soro. Os gatos com viremia persistente são positivos para todos os testes, com exceção dos que utilizam anticorpos neutralizantes. Outros métodos auxiliares ao diagnóstico são o aspirado de medula óssea, que possibilita avaliação de displasia medular e análise de fluido pleural que contém linfoblastos em fluido com altoteor protéico e alta contagem de células totais.
4.5 Tratamento: O tratamento para animais positivos para FeLV e com sinais clínicos da doença é realizado com drogas antivirais que possuem efeito sobre o vírus, além de fármacos imunomoduladores que promovem resposta imunoprotetora pela estimulação dos linfócitos T e da ativação de macrófagos. O antiviral mais utilizado é o AZT (zidoviduna 3´-azido2´, 3´-desoxitimiidina). Este fármaco inibe a transcriptase reversa, impedindo a conversão de RNA viral em DNA. Quando administrado na dose de 5mg/kg por VO ou SC, a cada doze horas, os efeitos colaterais são mínimos. Produz melhora do estado clínico e imunológico, com aumento da razão CD4/CD8 e da qualidade de vida, além de aumentar a expectativa de vida. Diminui também a viremia e a infecção da medula óssea se administrado logo após a exposição viral.
O uso de drogas imunomoduladoras no tratamento é justificado pelo efeito benéfico na função imunológica comprometida, permitindo ao paciente controlar a carga viral e se recuperar das síndromes clínicas associadas. Interferon recombinante, Staphylococcus proteína A, Propionibacterium acnes, acemannan e a dietilcarbamazina são exemplos de fármacos imunomoduladores utilizados na terapia da doença. O Interferon é de uso humano e apresenta os melhores resultados. Em altas doses tem efeito antiviral e em baixas doses possui efeito imunomodulador, aumentando a atividade dos linfócitos T, macrófagos, células “natural killer” e liberação de citocinas. Deve ser administrado na dose de 15 a 30UI/gato por VO, a cada 24 horas.
O tratamento de suporte também é realizado visando conter infecções secundárias e oportunistas, além de minimizar os efeitos da desidratação, anemia e desnutrição. A predinisolona estimula o apetite e reduz o tamanho das massas linfomatosas . No entanto, doses imunossupressoras podem ser prejudiciais.
4.6 Profilaxia: Os gatos infectados pelo FeLV devem ser mantidos no interior de suas residências, em ambiente limpos, tranquilos e bem ventilado. Recomenda-se dieta rica em nutrientes, balanceada e completa, reduzindo o impacto de infecções secundárias de origem bacteriana e parasitaria. A melhor forma de prevenção contra a infecção é diminuir a exposição dos animais, identificando e segregando os positivos, além de promover a limpeza dos ambientes com desinfetantes comuns. Para o controle de colônias (gatis) deve se remover todos os animais. Os contactantes devem ser sorologicamente testados e evitar introduzir animais novos até retestar todos os animais.
A vacinação também é preconizada com vacinas inativadas do vírus completo, de recombinação genética ou subunidades protéicas, derivadas de células infectadas pelo vírus da FeLV. A primo-vacinação é recomendada em animais com pelo menos oito semanas, e o reforço com intervalo de 3 a 4 semanas. A revacinação deve ser anual. A sobrevida de animais FeLV positivos assintomáticos é de dois a três anos. O prognóstico piora com a co-infecção com doenças relacionadas ao FeLV. Cerca de 80% dos gatos persistentemente virêmicos morrem por doenças associadas e pela neoplasia 20 %.
5. Imunodeficiência viral felina (FIV)
5.1 Epidemiologia: O vírus da FIV infecta os felinos domésticos da maioria dos países do mundo, investigações em diversos países demonstraram que os gatos machos e adultos constituem o maior risco para infecção, particularmente com idade superior a seis anos, de livre acesso ao ambiente externo, ou seja, gatos que tendem a apresentar comportamento agressivo. O vírus está presente na saliva, soro, plasma, e liquido cérebro-espinhal dos gatos infectados. Pode ser transmitido por inoculação intravenosa, subcutânea ou intraperitoneal. O principal modo de transmissão ocorre pela inoculação parenteral do vírus pela saliva ou sangue por meio de mordedura ou feridas secundárias a disputas de territórios ou fêmeas no cio. Os gatos disseminam grande quantidade de partículas virais pela saliva. A transmissão transplacentária, apesar de infreqüente pode ocorrer em gatas prenhes agudamente infectadas. Em uma mesma ninhada podem nascer animais infectados e animais não infectados, embora os animais sadios possam se infectar pela ingestão de colostro ou pela saliva nos cuidados maternos.
5.2 Fisiopatogenia: O vírus apresenta tropismo celular pelos linfócitos T-helper com marcadores de superfície para antígenos CD4 a semelhança do HIV, mas também infecta células negativas para determinante antigênico CD4, células renais felinas, linfócitos CD8, astrócitos, monócitos, macrófagos e células dendríticas. Esta ampla capacidade de infecção explica a virulência para diversos tipos celulares. A fusão do vírus com a célula é realizada pela glicoproteína env da membrana viral. Após a inoculação do vírus, ocorre a replicação nas células alvos dos tecidos linfóides como timo, baço, linfonodos, e glândulas salivares. Ocorre também difusão dos vírus em células mononucleares (linfócitos, monócitos e macrófagos) de órgãos como medula óssea, fígado, trato intestinal, cérebro e rins. Após a replicação ocorre vigorosa resposta imune humoral. São produzidos anticorpos contra várias proteínas da FIV, especialmente aquelas situadas no envelope e no capsídeo viral. Também ocorre resposta imune celular não específica (linfócitos T CD8). A resposta não é efetiva e, portanto, os vírus continuam a se replicar mesmo em baixas concentrações na circulação.
5.3 Manifestações clínicas: Após a infecção pelo vírus da FIV os gatos apresentam sinais decorrentes da ação direta do vírus nas células ou como consequência da síndrome da imunodeficiência, potencializada por infecções oportunistas. Os sinais clínicos podem ser divididos em diversos estágios. Em geral são descritos três estágios clínicos: fase aguda, assintomática e terminal. 
A fase aguda ocorre cerca de 6 a 8 semanas após a infecção. Durante esta fase os sinais se prolongam por vários dias ou semanas. No início são inespecíficos e incluem febre, depressão disfunção gastrintestinal, estomatite e linfadenopatia periférica. Sugere-se que nesta fase os animais também possam apresentar dermatite, conjuntivite, doenças respiratórias enterite aguda e doenças mieloproliferativas. Entretanto, alguns animais podem passam por esta fase sem sinais clínicos. Os achados laboratoriais revelam leucopenia por neutropenia e, por vezes, anemia. Nesta fase as taxas de CD4 e CD8 estão normais. Os animais podem permanecer assintomáticos por vários anos. Nesta fase ocorre diminuição dos linfócitos, inclusive do CD4 e aumento das células.
Nos estágios mais avançados da doença, os sinais refletem infecções oportunistas, neoplasias ou a síndrome de definhamento generalizado. Os sinais terminais são caracterizados por linfoadenopatia generalizada, anorexia, emagrecimento progressivo, febre, doenças crônicas dermatológicas, respiratórias e entéricas como diarréia persistente, gengivite e estomatite. Nos estágios finais, é comum encontrar doença bucal ou dentária profunda, como úlceras e necrose, neoplasias como linfoma de células B e leucemias, insuficiência renal, doença neurológica, e debilidade geral, à semelhança da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) em humanos, que é progressiva e fatal. Poucos felinos progridem para esta fase (cerca de 10%) que perdura poucas semanas ou meses nos animais acometidos.
5.4 Diagnóstico: O diagnóstico de rotina recomendado na FIV é a detecção de anticorpos séricos frente às proteínas do vírus (gp120). Os anticorpos são formados poucas semanas após a infecção. A técnica mais utilizada é o ELISA. Porém esta técnica pode apresentar resultados falsos negativos, em animais no início da infecção ou no estágio terminal da doença, quando os níveis de anticorpos circulantes são baixos. Outras técnicas como a Imunofluorescência indireta (IFA) ou Western blotting (WB) também são utilizadas na detecção de anticorpos e são mais específicas que o ELISA. A técnica de Western blotting é considerada o “teste ouro” para o diagnóstico da FIV. Animais com sinais clínicos,mas sorologicamente negativos devem ser retestados após 60 dias. A técnica de PCR identifica o vírus nos linfócitos T ativados ou no plasma em até duas semanas após a infecção.
5.5 Tratamento: O tratamento da FIV em felinos é de suporte, direcionado geralmente às manifestações clínicas das infecções oportunistas. No geral, os gatos acometidos recebem antimicrobianos, fluido terapia, transfusões sanguíneas, dietas de elevada densidade calórica e esteróides anabólicos em casos de perda de peso. O uso de corticóides (prednisolona ou metilpredinisolona) em baixas doses parece surtir resultado nos casos de pirexia, inapetência e gengivite/estomatite quando houver falha no tratamento convencional. A metilpredinisolona pode ser usada em sinais neurológicos. A eritropoetina humana também é usada em gatos anêmicos, na dose de 100UI/Kg, SC a cada 48 horas, até atingir o volume globular desejável.
O PMEA ([9-(2-fosfonometoxietil) adenina]) e o PMPA ([(S)-9-(3-fluoro-2-fosfonilmetioxipropil) adenina] administrados na dose de 2,5mg/Kg a cada 12 horas, são utilizados como antivirais no tratamento da FIV. São inibidores da transcriptase reversa assim como o AZT. O PMEA induz maior aumento no número de células T CD4 comparativamente ao PMPA. No entanto o PMPA apresenta efeito mais pronunciado no decréscimo dos níveis de vírus circulantes. O uso prolongado dos análogos de nucleosídeo pode gerar resistência viral a estes fármacos. Os fármacos antivirais diminuem os sinais clínicos, melhoram os parâmetros imunológicos e podem retardar a progressão da doença, mas são incapazes de impedir ou eliminar a infecção. O inteferon recombinate humano apresenta efeito antiviral em altas doses e efeito a imunomodulador em baixas doses. Deve ser administrado na dose de 15 a 30UI/gato, VO, a cada 24 horas, em semanas alteradas, ou diariamente até que o animal se recupere clinicamente. Ao longo do tratamento, os gatos infectados por FIV devem ser mantidos no interior de suas residências, em ambientes limpos, tranquilo e bem ventilado, com dieta balanceada e rica em nutrientes.
5.6 Profilaxia: A eficácia da vacinação é estimada em 82%. No entanto, dificulta a distinção entre anticorpos produzidos pela vacina ou por animais infectados. Outra forma de prevenção contra a infecção é o controle sanitário de animais recém adquiridos nos gatis, utilizando testes sorológicos.

Outros materiais