Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Crime impossível, crime doloso e crime culposo Do crime impossível Por definição do artigo 17 do Código Penal1 não será considerado punível o fato quando, por total ausência de condições do meio usado ou quando o objeto material do crime for absolutamente inconsistente e ineficaz para que o crime ocorra. É o chamado crime impossível, também chamado de quase-cri- me, tentativa inidônea, tentativa impossível ou tentativa inadequada. Em todos os casos do artigo 17, o agente se utiliza de meios e condições tendentes à prática de uma conduta inicialmente típica. Porém, os meios que utiliza ou a condição que emprega, ou até mesmo o “objeto” do tipo penal, são absolutamente imprestáveis. O crime impossível é, na realidade, uma conduta (ação ou omissão) do agente, que tem a intenção deliberada de praticar um crime qualquer. Não obstante sua intenção e sua vontade deliberada para a prática do crime fal- tam-lhe requisitos indispensáveis à sua conduta, que é exatamente o resul- tado desejado. Por mais que o agente tente, utilize os meios de que dispõe para a conse- cução do seu crime, não haverá possibilidade de alcançá-lo porque o objeto material do crime é impróprio ou o meio que buscou para alcançá-lo é ina- dequado. Tenta o agente, mas não há idoneidade em sua conduta. Se hou- vesse, ou se fosse relativa, haveria crime. Exemplo clássico da absoluta ineficácia do meio é aquele em que “A” quer matar “B”. “A” arma-se de revólver, encontra-se com “B”, saca a arma e dispara. Porém, percebe que não há qualquer bala no tambor do revólver. Não há condições de matar, embora fosse o desejo de “A”. Exemplo clássico da absoluta impropriedade do objeto é aquele em que “A” tenciona matar “B”, seu desafeto, e o vê deitado numa cama. “A” desfere diver- sas punhaladas em “B”, julgando tê-lo matado. Porém, o laudo de exame ne- 1 Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta im- propriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 53 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 54 Crime impossível, crime doloso e crime culposo croscópico realizado provará que “B” já estava morto antes do ataque de “A” em decorrência de um infarto fulminante. Logo, não é crime matar um morto. Absolutamente impróprio o objeto material do crime, que é a vida. É importante lembrar que o texto fala em ineficácia do meio e improprie- dade do objeto, ambos de maneira absoluta, ou seja, se as espécies mencio- nadas forem relativas haverá a tentativa punível. Teorias do crime impossível Há várias teorias que surgiram para classificar o quase-crime e sua punibi- lidade, discutindo-se acerca de sua necessária persecução criminal a fim de que situações, aparentemente desvinculadas do fato, pudessem ter ligação com o crime. São aceitas as seguintes: Teoria sintomática � , que diz que dever-se-ia aplicar pena no agente, em razão de sua periculosidade e indícios fortes e seguros de sua temi- bilidade penal. Com a Reforma Penal de 1984 a medida de segurança deixou de existir para os “perigosos” sendo a mesma aplicada aos inim- putáveis, nos termos do artigo 26 do Código Penal. Teoria subjetiva � , considera-se a finalidade buscada pelo agente na condução de seu ato, motivo pelo qual deveria ser condenado pela mesma pena aplicada à tentativa do crime. Não obstante a adoção da teoria finalista da ação pelo nosso Código Penal torna-se impossível a aplicação da mesma pena ao agente porque não foi afetado um bem jurídico. Portanto, não se pode confundir tentativa perfeita ou imper- feita com crime impossível. Pela � teoria objetiva não haveria necessidade de reprimir a conduta do agente, mesmo porque não existiram os elementos que compõem a tentativa e o bem jurídico não corre risco algum. No Brasil, até 1984, vigorou essa teoria, porém, a teoria objetiva tempe- rada, em face do anterior regime da medida de segurança. Atualmente, o Brasil adotou a teoria objetiva pura no sentido de que não é punível a conduta quando houver a absoluta impropriedade do objeto ou a ab- soluta ineficácia do meio, pois deixou de existir a medida de segurança para os agentes reconhecidamente perigosos. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Crime impossível, crime doloso e crime culposo 55 Crime putativo O crime putativo, também chamado de crime imaginário ou crime de ensaio, é aquele crime em que o agente imagina que está praticando uma conduta típica, mas, em verdade, o fato típico só existe na sua imaginação. Houve um erro de interpretação do agente, que se supõe um delinquente quando não o é, naquele caso. Exemplo típico é o caso de “A” imaginar-se praticando um crime de inces- to com sua irmã “B”, maior e capaz. Porém, não existe tal dispositivo em nossa legislação penal. Há o exemplo do agente que, tendo direito a uma parte da herança de seu pai, subtrai para si uma quantidade de bens, imaginando-se larápio. Porém, descobre-se que o mesmo tinha direito exatamente àquela quantia subtraída. Há a exclusão de ilicitude nos termos do artigo 156, §2.º, do Código Penal. Por todos esses fatos percebe-se que o agente efetivamente praticou uma conduta, imaginando ser essa conduta criminosa. Ocorre que, em realidade, havia uma má interpretação das normas legais puníveis, havendo um “erro”. Não há dispositivo penal sobre o crime putativo. Crime putativo provocado ou crime provocado Chama-se crime provocado ou crime putativo provocado quando o agente é induzido, carregado, provocado, a praticar uma conduta típica, mas, em verdade, já existiu uma preparação anterior tornando-se impossível a reali- zação do resultado esperado pelo agente. Cumpre diferenciar o crime provo- cado do crime esperado. O crime é provocado quando o agente, embora deliberado na prática da conduta, é induzido e levado a provocar a conduta típica como se fosse real. Porém, o resultado de sua conduta não se concretiza porque já existia uma predisposição para que o resultado efetivamente não se configurasse. Exem- plo: a polícia deixa um veículo apreciado pelo gatuno no seu local desejado e diversos policiais à paisana no derredor do local, apenas esperando o mo- mento em que o agente vai subtraí-lo. Ao adentrar no veículo, soando um dispositivo previamente instalado pela polícia, fica o mesmo trancado no automóvel, sem condições de fugir, sendo autuado em “flagrante”. Flagran- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 56 Crime impossível, crime doloso e crime culposo te inexistente. Pela Súmula 145, do Supremo Tribunal Federal, não existe o crime no caso de preparação do flagrante por parte da polícia. Já o crime esperado se dá quando a polícia sabe que o agente é delinquen- te e está praticando condutas ou na iminência de praticá-las. Assim, procura aguardar o momento em que o agente irá agir para prendê-lo. A polícia não teve qualquer outra participação na conduta criminosa do agente, apenas aguardou o momento oportuno para que o mesmo praticasse sua delibera- da e prévia ação, conseguindo prendê-lo. Aqui o flagrante é certo. Não se pode confundir com o crime exaurido, principalmente quando a vítima ainda quer uma prova maior da corrupção ativa do agente público. Nesse caso, filma o momento em que entrega o dinheiro ao sujeito. Nesse caso já existiu a consumação do crime no momento em que o agente pediu a “propina”, sendo a entrega do dinheiro mero exaurimento do crime que não interfere na persecução do primeiro crime. Crime doloso e crime culposo A definição geral de ambos encontram-se nos artigos 18 e 19 do Código Penal Brasileiro, mas que devem ser analisados separadamente2. Do crime doloso O conceito de dolo é integrantedo elemento subjetivo do tipo penal, adotado pelo Código Penal. É que, em certos tipos penais não basta apenas que exista o dolo, há necessidade de se saber a verdadeira carga subjetiva da conduta, a fim de saber a extensão da finalidade da conduta do agente. Havendo intenção, há o dolo. Diante disso, a conduta passa a ser dolosa, fa- lando-se, então, em ação ou omissão dolosa. É o dolo a mais grave forma de culpabilidade, pois se trata da manifes- tação da vontade do agente de desejar o resultado ou assumir o risco de produzi-lo. É a constituição do elemento subjetivo do tipo penal. Sobre o dolo surgiram diversas teorias destacando-se: Pela � teoria da representação o dolo seria a representação subjetiva da previsão do resultado danoso, sendo este considerado como possível. 2 Art. 18. Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II - culposo, quando o agente deu causa ao re- sultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Crime impossível, crime doloso e crime culposo 57 Pela � teoria do consentimento (volição) o dolo exigiria um consentimen- to prévio tendente a causar um resultado danoso, devendo este ser considerado, também, como possível. Não há necessidade do agente querer o resultado, basta que dê sua aquiescência para a realização do resultado. Pela � teoria da probabilidade (cognição) o dolo estaria presente na sim- ples probabilidade de sua ocorrência, não mais na possibilidade de vir a ocorrer o evento danoso. Pela � teoria da vontade o dolo é a intenção mais ou menos perfeita de praticar um fato que se conhece contrário à lei. Pela teoria da vontade, em realidade o dolo é mesmo a intenção dirigida para um determina- do resultado, consciente o agente da natureza do fato e sua vontade destinada a causá-lo. O nosso Código Penal adotou a teoria da vontade na primeira parte do artigo 18, inciso I (quis o resultado) e a teoria do assentimento na segunda parte do mesmo artigo (assumiu o risco de produzi-lo). Elementos do dolo São elementos do dolo: Consciência, que é o conhecimento do fato e que constitui a ação tí- � pica, sendo o elemento cognitivo ou intelectual, ou seja, a consciência da realização dos elementos objetivos do tipo penal; Vontade, que é o elemento volitivo, intencional, desejo incondiciona- � do à realização dos elementos objetivos do tipo penal. É a intenção e a vontade de praticar a conduta descrita no tipo. Assim, o dolo é composto de duas fases distintas, sendo a primeira o ob- jetivo que o agente pretende alcançar, aliado aos meios empregados e às con- sequências de sua atuação. Há duas situações nessa primeira fase da condu- ta: uma interna – que é o pensamento do agente. Ex.: propor-se a matar um inimigo (fim). A outra é externa, quando seleciona os meios para realizar essa finalidade (escolhe uma determinada arma, por exemplo). A segunda fase é a exteriorização da conduta, ou seja, é a realização da atividade. Ex.: o agente pensou em liquidar seu desafeto e agora passa a agredi-lo. Como já escolheu a arma, desfere tiros contra a vítima. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 58 Crime impossível, crime doloso e crime culposo Espécies de dolo A doutrina distingue as formas de dolo: Dolo � direto ou determinado, quando estiver presente na ação ou omis- são do agente a intenção, a vontade, o querer o resultado, o desejar que, de sua ação ou omissão, exista um resultado esperado. É a inten- ção que move a conduta. No matar alguém, por exemplo, a intenção é matar, sendo assim o dolo é determinado, direto. Dolo � indeterminado ou indireto, quando o elemento volitivo da condu- ta não se dirige a um resultado certo e esperado. Dolo será � alternativo quando, existindo uma conduta, o agente pouco se importa com qual dos resultados venha a alcançar. O exemplo clás- sico é do agente que se dirige ao seu desafeto e desfere tiros contra ele, pouco se importando com o resultado alcançado. Para ele, tanto faz a morte como a lesão corporal. O fim alcançado é o dano à pessoa de seu desafeto. Dolo � eventual, quando o agente assume o risco de produzir o resul- tado, ou seja, sabendo ele que o resultado de sua conduta pode oca- sionar dano, com ele pouco se importa, acabando por, efetivamente, causá-lo. É uma equiparação legal do artigo 18, II, 2.ª parte. Com relação ao dolo eventual prevalece no nosso Direito Penal a teoria do assentimento, pois o agente tem a consciência exata de sua condu- ta, sabe que dela advirá um resultado, mesmo assim, voluntariamente, prossegue nessa conduta, produzindo efetivamente o resultado. Há uma linha divisória tênue entre o dolo eventual e a culpa conscien- te, pois enquanto no dolo eventual o agente sabe da possibilidade da ocorrência de um resultado, preferindo arriscar-se a produzi-lo, ao in- vés de renunciar à ação, na culpa consciente, ao contrário, o agente não admite a existência de resultado, repelindo-o, embora inconsidera- damente, e empreende a ação na esperança ou persuasão de que este não ocorrerá. Dolo � de dano é aquele em que o agente deseja atuar para causar um dano a outrem, podendo esse dano ser eventual ou diretamente vol- tado para o resultado. O dano não tem a mesma significação que pre- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Crime impossível, crime doloso e crime culposo 59 juízo, frise-se. O dano poderá ser à pessoa ou ao bem móvel, como é o caso da subtração, como é o caso do estelionato, ou mesmo do homi- cídio, onde o agente quer produzir um dano à vida. D � olo de perigo é diverso, a intenção do agente não se destina ao maior mal, que é o dano, contentando-se o agente somente com a exposição ao perigo. É o caso, por exemplo, dos crimes previstos nos artigos 132, 133 etc. Não quer o agente um mal maior, basta a ocorrência do perigo para que o agente com ele veja encerrada sua conduta, assumindo o risco da produção de um resultado ou produzindo-o dolosamente. Dolo genérico � é aquele em que o agente simplesmente realiza a condu- ta descrita na tipificação penal, sem indagar qualquer outro elemento que componha o tipo penal. A vontade do agente encontra-se previs- ta na própria conduta, como está previsto na tipificação do homicídio, “matar alguém”, não especificando a norma qualquer outro elemento para a composição do tipo. A grande maioria dos tipos penais prevê a forma genérica de dolo. Dolo específico � , ao contrário, exige, além da conduta, um especial fim de agir, uma finalidade voltada para a consecução do resultado, pre- vista pelo agente no momento da realização do crime. Assim, no crime de perigo de contágio de moléstia grave, descrito no artigo 131, só existirá o delito se cometido com o fim de transmitir a doença. Entretan- to, atualmente os doutrinadores afirmam não mais existir esse tipo de dolo, não obstante descrito nos diversos tipos penais. Dolo geral � ou erro sucessivo é aquele em que o agente pratica nova ação, após já ter realizado uma outra conduta, sendo que a primeira conduta já havia produzido um evento lesivo. Porém, a segunda é que causou o evento desejado pelo agente. Ex.: “A” imagina ter matado “B”, em razão de ter desferido golpes de faca. Em seguida, joga “B” num rio, sendo que o exame necroscópico irá constatar que o crime de homicí- dio deu-se em razão do afogamento,não em razão das facadas. Do crime culposo O legislador pátrio não fez uma definição própria da culpa, descrevendo somente suas modalidades. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 60 Crime impossível, crime doloso e crime culposo Cuidaremos da culpa em sentido estrito (strictu sensu). Ao contrário do que existe nos crimes dolosos, onde se faz o processo de adequação típica da conduta, no delito culposo não há essa possibilidade, eis que o crime cul- poso não descreve a conduta. Define-se somente com o jargão “se o crime é culposo”, sem descrição da intenção do agente ou da sua vontade. Por isso, se diz que os crimes culposos são tipos penais abertos. Na aferição do cuidado objetivo, deve-se atentar para o cuidado comum, do homem com discernimento e prudência, aquele cuidado que todo o homem comum (homus medium) deve ter. Chama-se esse cuidado objetivo exigível ao homem médio de previsibi- lidade objetiva. Além dessa previsibilidade objetiva, há também que se con- siderar a capacitação do agente para a não realização do resultado. Essa é a previsibilidade subjetiva, que é a capacidade do agente de poder responder pelo resultado, em razão de suas aptidões pessoais e, dentro dessa capacita- ção, a possibilidade de prever o resultado como possível. Assim, o crime culposo é a falta de previsibilidade subjetiva do agente em relação à previsibilidade objetiva do homem médio. Elementos do tipo culposo O crime culposo se compõe de cinco elementos: Conduta humana voluntária � , ação ou omissão do agente, não se questionando a vontade; apenas a conduta é um fator integrante da forma como o sujeito agiu. Não observância do dever de cuidado � , que é comum a qualquer ho- mem, conscientemente sabedor da obrigação de não causar dano a ter- ceiros. O legislador se contenta com a falta de dever de cuidado objetivo. Resultado involuntário � , consiste no fato de que o agente não dese- ja que o resultado lesivo aconteça, havendo a modificação do mundo exterior. Previsibilidade objetiva � eis que todo homem mediano sabe da pos- sibilidade da existência de um perigo com a conduta descuidada, des- de que tenha discernimento suficiente, compreendendo o seu ato. Tipicidade � , que é a descrição do fato como infração penal. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Crime impossível, crime doloso e crime culposo 61 Das modalidades da culpa Chamam-se modalidades de culpa as formas como o crime culposo é co- metido, estando explicitamente declaradas no artigo 18, inciso II, do Código Penal: imprudência, negligência e imperícia. A imprudência consiste na ação do agente que atua precipitadamente, sem consideração, sem cautelas, deixando de usar os poderes que tinha para inibir a ação. É, geralmente, uma ação positiva. Por exemplo, o sujeito que continua na marcha de seu veículo, mesmo vendo uma pessoa saindo à rua para galgar o passeio público do outro lado. O exemplo típico é o sujeito que resolve limpar uma arma na proximidade de outras pessoas, vindo a disparar a arma contra uma delas. A negligência é inércia psíquica, a falta de cautela necessária exigida para que o resultado não se realize. É a displicência, a indiferença, a falta de reali- zação de outra conduta que, se fosse feita, impediria o resultado. É negativa. Exemplos típicos são os do agente que abre uma valeta na rua e deixa de sinalizá-la, vindo alguém a cair na mesma e o do agente que deixa o veículo estacionado sem acionar o comando de freio adequadamente. A imperícia é a falta de aptidão ou de conhecimentos técnicos no exer- cício de sua profissão ou arte, ou a falta de experiência ou o desleixo na realização de sua condição profissional, provocando o resultado, quando o agente se dispõe a fazê-la, mesmo sendo carecedor de conhecimento técnico, teórico ou prático para tanto, ou, ainda, fazendo-o sem se louvar desses conhecimentos. Ex.: o médico que não tem conhecimento apurado sobre cirurgia e assim mesmo a faz; o motorista profissional que não conse- gue manter-se no leito carroçável da pista de rolamento, permitindo que, por sua imperícia, o veículo saia da pista e capote etc. Nada impede que, num mesmo tipo culposo, exista a conjugação de mo- dalidades de culpa, como a imprudência e a negligência, a imprudência e a imperícia, a imperícia e a negligência, ou todas ao mesmo tempo. Questões para debates 1. Diferencie os tipos de dolo que existem. 2. Descreva o que é um crime impossível. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 62 Crime impossível, crime doloso e crime culposo 3. Quais são as teorias sobre o crime impossível? 4. O que é um crime putativo? 5. Diferencie as modalidades de culpa. 6. Por que se diz que o crime culposo é um tipo penal aberto? Atividade de aplicação 1. (FCC) Entre os elementos do crime doloso não se inclui a: a) consciência do resultado. b) noção da conduta. c) imprudência, a imperícia e a negligência. d) consciência do nexo causal entre conduta e resultado. e) vontade de praticar a conduta e alcançar o resultado. Dica de estudo Sempre lembrar das diversas modalidades de dolo e de culpa existentes no sistema penal. O crime impossível é verdadeiro “balão de ensaio”. Referências FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1986. GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1958. HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de Ja- neiro: Forense, 1953. JESUS, Damasio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Crime impossível, crime doloso e crime culposo 63 MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1963. MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller, 1997. MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2008. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral, arts. 1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal – Parte General. Buenos Aires: Ediar, 1977. Gabarito – Questões para debates 1. São tipos de dolo os seguintes: dolo direto ou determinado, quando es- tiver presente na ação ou omissão do agente a intenção, a vontade, o querer o resultado, o desejar que, de sua ação ou omissão, exista um re- sultado esperado. Dolo indeterminado ou indireto é quando o elemento volitivo da conduta não se dirige a um resultado certo e esperado. Dolo alternativo é quando, existindo uma conduta, o agente pouco se impor- ta com qual dos resultados venha a alcançar. Dolo eventual é quando o agente assume o risco de produzir o resultado, ou seja, sabendo ele que o resultado de sua conduta pode ocasionar dano, com ele pouco se impor- ta, acabando por, efetivamente, causá-lo. Dolo de dano é aquele em que o agente deseja atuar para causar um dano a outrem, podendo esse dano ser eventual ou diretamente voltado para o resultado. Dolo de perigo é diverso, a intenção do agente não se destina ao maior mal, que é o dano, contentando-se o agente somente com a exposição ao perigo. Dolo ge- nérico é aquele em que o agente simplesmente realiza a conduta descrita na tipificação penal, sem se indagar mais qualquer outro elemento que componha o tipo penal. Dolo específico, ao revés, exige, além da condu- ta, um especial fim de agir, uma finalidade voltada para a consecução do resultado, prevista pelo agente no momento da realizaçãodo crime. Dolo geral ou erro sucessivo é aquele em que o agente pratica nova ação, após já ter realizado uma outra conduta, sendo que a primeira conduta já havia produzido um evento lesivo. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 64 Crime impossível, crime doloso e crime culposo 2. Crime impossível é o “quase-crime”, “tentativa inidônea”, “tentativa im- possível” ou “tentativa inadequada”, e se dá quando o agente tem a inten- ção deliberada de praticar um crime qualquer, mas lhe faltam requisitos indispensáveis à conduta, que é exatamente o resultado desejado. Por mais que o agente tente, utilize os meios de que dispõe para a consecu- ção do seu crime, não haverá possibilidade de alcançá-lo, ou porque o objeto material do crime é impróprio ou o meio que buscou para alcançá- lo é inadequado. 3. As teorias sobre o crime impossível são as seguintes: a) Sintomática no sentido de que dever-se-ia aplicar pena no agente, em razão de sua pe- riculosidade e indícios fortes e seguros de sua temibilidade penal. b) Teoria subjetiva, que se tem em mente a finalidade buscada pelo agen- te na condução de seu ato. c) Teoria objetiva, que diz que não have- ria necessidade de reprimir a conduta do agente, pois não existiram os elementos que compõem a tentativa e o bem jurídico não corre risco algum. No Brasil, até 1984, vigorou essa teoria, porém, a teoria objetiva temperada, em face do anterior regime da medida de segurança, mo- dificando para a teoria objetiva pura no sentido de que não é punível a conduta quando houver a absoluta impropriedade do objeto ou a ab- soluta ineficácia do meio, pois deixou de existir a medida de segurança para os agentes reconhecidamente perigosos. 4. O crime putativo é um “crime imaginário” ou “crime de ensaio”, ou seja, é aquele crime em que o agente imagina que está praticando uma conduta típica, mas, em verdade, o fato típico só existe na sua imaginação. Houve um erro de interpretação do agente, que se supõe um delinquente quan- do não o é, naquele caso. 5. As modalidades de culpa são as seguintes: a) Imprudência consiste na ação do agente que atua precipitadamente, sem consideração, sem cau- telas, deixando de usar os poderes que tinha para inibir a ação. É, geral- mente, uma ação positiva. b) Negligência é inércia psíquica, a falta de cau- tela necessária exigida para que o resultado não se realize. É a displicência, a indiferença, a falta de realização de outra conduta que, se fosse feita, impediria o resultado. É negativa. c) Imperícia é a falta de aptidão ou de conhecimentos técnicos no exercício de sua profissão ou arte, ou a falta de experiência ou o desleixo na realização de sua condição profissional, Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Crime impossível, crime doloso e crime culposo 65 provocando o resultado, quando o agente se dispõe a fazê-la, mesmo sen- do carecedor de conhecimento técnico, teórico ou prático para tanto, ou, ainda, fazendo-o, sendo que o faz sem se louvar desses conhecimentos. 6. Se diz que o crime culposo é um tipo penal aberto porque depende da descrição da modalidade da culpa em que o agente tenha ocorrido para a configuração do delito, não bastando, como no crime doloso, mera des- crição do fato típico. É necessário esclarecer de que forma agiu culposa- mente o agente que se acusa. Gabarito – Atividade de aplicação 1. C Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
Compartilhar