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Estudos Socioantropológicos UN ID AD E 4 O Mundo Globalizado Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 2Fo nt e : M o ca C re at iv e 4 T1 3 Unidade 04 O Mundo Globalizado Nesta Unidade consideraremos as transformações que emergem a partir da experiência socioeconômica advinda do contexto de globalização. Assim, temos como objetivos: Apresentar o conceito de globalização e suas implicações sociais; Desenvolver o debate sobre a inserção do Brasil no contexto da globalização, abordando a concepção de pós-modernidade e modernidade líquida que caminham e direcionam a sociedade atual para a construção da ideia de um mundo conectado, que cada vez mais tece as redes locais e constrói suas diferentes comunidades virtuais. Todas essas dinâmicas que resultam de intensas trocas econômicas, sociais e comunicacionais envolvem-se pelo real sentido da era da sociedade do conhecimento e da informação que os indivíduos vivenciam na atualidade e reforçam laços de necessárias interações e colaborações. Por isso, organizados em tópicos, estudaremos os seguintes assuntos: T1. A Inserção do Brasil no Contexto da Globalização. T2. Pós-modernidade ou a Modernidade Líquida. T3. Sociedade em Rede: localismos e comunidades virtuais. T4. A Sociedade do Conhecimento e da Informação. Vamos ao aprendizado? A Inserção do Brasil no Contexto da Globalização Em contextos de globalização, o Brasil também se desenvolve como um país que ingressa na era de um modelo econômico neoliberal, que se caracteriza pela mínima intervenção do Estado na economia. No entanto, tal situação não trouxe de fato a retirada do Brasil da condição de subdesenvolvimento e dependência econômica em que se encontrava. Segundo Fedrigo (2001), é importante considerar que as políticas de orientação neoliberal permitiram ao Brasil experimentar grandes mudanças, mas não foram suficientes para trazê-lo aos centros produtivos mais dinâmicos e posicioná-lo na rota do crescimento econômico e do desenvolvimento. A adoção do neoliberalismo possibilitou a abertura de capitais com presença forte de multinacionais no cenário empresarial e industrial brasileiro. Tal situação permitiu que essas empresas e indústrias buscassem mercados consumidores de suas matérias-primas e mão de obra barata. Fo n te : S in d ile x Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 4 O que leva a muitas oportunidades de empregos, no entanto, com ocorrência de trabalho precarizado, com jornadas extensas e muitas vezes mal remuneradas. A tendência do mundo produtivo neoliberal é diminuir custos de produção e desvencilhar-se dos impostos alfandegários. Para isso, elas adotavam a prática de elaborar o processo de produção em países de fora. No Brasil, realizavam apenas a montagem dos produtos, pois, a mão de obra por aqui, como país subdesenvolvido, apresentava-se muito mais barata. Neto (2012) nos mostra que as medidas neoliberais dos anos 90 no Brasil enfatizam o setor privado em prejuízo das políticas sociais públicas. Segundo ele, trata-se de transferir os recursos destinados à Seguridade Social para o Capital, havendo uma mercantilização da saúde e da previdência, que antes eram de responsabilidade do Estado. Enxerga-se também, em seu olhar, uma fragilização dos sindicatos, fragmentações na classe trabalhadora e ações conservadoras, como individualização, a filantropia, bem como práticas de voluntariado. Todas essas mudanças, para o autor, configuram as condições materiais para o capitalismo flexível no Brasil, o que traz à cena flexibilização, desregulamentação e privatização, próprias do avanço da globalização em si. Como consequências de todo esse processo, vemos que apesar da oferta de vagas de emprego e venda de produtos tecnológicos, há também uma intensa precarização das condições de trabalho, acompanhada de aguda concentração de renda. Fo nt e : N o ss a P o lít ic a 5 Unidade 04 O Mundo Globalizado Uma outra situação, presente também nesse contexto, vem a ser o aumento do desemprego. O Brasil exporta produtos e importa com facilidade, sendo participante ativo no mercado internacional, e quase sempre os produtos importados têm preços baixos em comparação com os brasileiros. Tal fato acarreta a falência de empresas nacionais, com forte impacto em nossa economia. Um ponto importante a ser debatido é que se amplia a informalidade, a chamada informalidade da globalização, como marca Noronha (2012), considerando esta como situações de informalização fomentadas por empresas e governos estaduais em processo de terceirização. Sem registro formal e também com formas de contratações variadas, como cooperativas, empreiteiras, agências de trabalho temporário, prestadoras de serviços e outros contratos atípicos, o Estado vai se retirando cada vez mais da regulação das relações capital-trabalho. Assim, o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro aprova a Lei da Terceirização, que libera a efetivação de Fo n te : I m p ro vi n g S al e s P e fo rm an ce O PROCESSO DE INFORMALIDADE COMO UMA REORGANIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO ASSALARIADO. Confira o artigo de Alegretti e Oliveira (2018), publicado na Folha de São Paulo, sobre o aval do STF à terceirização irrestrita. h t t p s : // w w w 1 . f o l h a . u o l . c o m . b r / mercado/2018/08/maioria-dos-ministros- do-supremo-da-aval-a-terceirizacao- irrestrita.shtml saiba mais? Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 6 contratos terceirizados de forma irrestrita. Mais um duro golpe da globalização e o cenário neoliberal, na luta de defesa dos trabalhadores em prol de seus direitos sociais conquistados historicamente. Outro ponto que compromete a inserção do Brasil no contexto da globalização são os empregos que passam a exigir demandas que os estrangeiros muitas vezes, mais bem qualificados, vêm para o Brasil para ocupá-las. Além disso, há uma valorização de produtos e da cultura norte- americana em detrimento da nacional. Pelos meios de comunicação de massa, começa a se constituir uma ideologia de mistificação dos produtos americanos. Assim, a cultura brasileira é posta em segundo plano e a americana supervalorizada, pois “vem de fora”, formando uma ideia de que o que é mais caro é melhor. Vejamos algumas vantagens e desvantagens da inserção do Brasil na globalização. Algumas vantagens da globalização • O produto importado que, acompanhado da globalização, ganha mais qualidade e o seu preço fica mais baixo; • A facilidade da comunicação é uma grande vantagem da globalização, pois hoje em dia podemos falar com pessoas em tempo real, por chamada de voz, vídeo e mensagens instantâneas. Alguns anos atrás a troca de informação era bem mais lenta, por e-mails e cartas, entre outros; • Os meios de transportes também elevaram a globalização. Devido à tecnologia, eles estão melhorando cada vez mais, atrelados em encurtar distâncias com conforto e qualidade de vida. Algumas desvantagens da globalização • Consumo excessivo, em que o surgimento de uma nova tecnologia faz com que você esteja sempre atrasado. Um exemplo é o celular, mesmo o seu ainda sendo bastante funcional, em poucos meses ele já fica desvalorizado, dando origem a um novo modelo lançado no mercado; • Maior competitividade por vagas de emprego; • Desemprego ocasionado por estrangeiros mais bem preparados. As empresas procuram melhores formações profissionais, o que torna cada dia mais difícil conseguir um bom emprego. Tais considerações sobre o Brasil, no contexto de globalização, nos fazem pensar que a sociedade se transforma e se moderniza, mas, ao mesmo tempo, deixa de considerar os aspectos humanos e as necessidadesde qualificação profissional, para o preparo educacional de seus trabalhadores. T2 Conheça os quatro principais estágios que subdividem a globalização no artigo “Fases da Globalização”, publicado por Rodolfo Pena, na Mundo Educação. https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/fases-globalizacao.htm saiba mais? 7 Unidade 04 O Mundo Globalizado Pós-Modernidade ou a Modernidade Líquida Bauman (1999), ao apresentar o conceito de globalização, destaca essa como um processo intensificado de trocas comerciais, culturais, sociais e políticas, que impactam diretamente nas formas de vida, costumes, tradições e valores, trazendo o reconhecimento de que todos estamos inseridos e imersos nesse caminho. O autor sinaliza que a globalização, ao mesmo tempo em que aproxima culturas e mundos diferentes, também exclui, discrimina e segrega espacialmente os indivíduos e grupos. Em seu olhar, os centros de produção de significado e valor são hoje extraterritoriais e emancipados de restrições locais. O mesmo não vem acontecendo em relação à condição humana, a qual esses valores e significados devem fornecer sentido. Um outro autor que discute a era da globalização vem a ser Giddens (1991), que mostra as transformações globais nas sociedades modernas a partir do seguinte raciocínio: Em condições de modernidade, uma quantidade cada vez maior de pessoas vive em circunstâncias nas quais instituições desencaixadas, ligando práticas locais a relações sociais globalizadas, organizam os aspectos principais da vida cotidiana. Fo nt e : S tu d io 9 Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 8 Com tal pensamento, Giddens define as características das sociedades modernas do ponto-de-vista das relações sociais que se travam entre os diferentes atores sociais. Ele toma como referência a organização social que existia nas sociedades pré-modernas, apontando quais as transformações que operam na construção do sujeito social e suas relações nas sociedades modernas. Ainda, para o autor, a sociedade moderna organiza-se em função do distanciamento tempo-espaço, querendo com isto dizer que antes, nas sociedades pré-modernas, as relações entre os indivíduos estavam pautadas nas referências locais. A própria explicação para os eventos que ali se processavam estava dada pelo conhecimento e interação cotidianos da organização das redes de confiança que era depositada nos laços de parentesco e alianças firmados. Já nas sociedades modernas, vemos, segundo ele, que essas construíram seu esquema de funcionamento social voltadas para uma relação de confiança dos indivíduos em sistemas abstratos, fichas simbólicas, que podem ser compreendidos e imersos no contexto do desenvolvimento do conhecimento técnico e científico. Em resumo, nas sociedades modernas, os indivíduos depositam as suas expectativas de continuidade da ordem social, e mesmo de sua existência, na relação de confiança que travam com o progresso dos sistemas simbólicos. Todo esse debate merece consideração especial, se vamos tratar do fenômeno da globalização em um nível mais simbólico, mais abstrato, nos interessa aqui compreender que alterações reais esse fenômeno proporciona no cotidiano dos indivíduos. Sob essa perspectiva, podemos elencar o seguinte questionamento: O que de fato podemos entender por esse processo que se cunhou denominar globalização? Para alcançar este conhecimento, precisamos situar as transformações econômicas ao longo do processo histórico e compreender o processo da internacionalização da economia ao nível mundial. No entanto, nossa pretensão é tentar compreender o conceito de globalização. Na obra a Globalização da Pobreza, Chossudovsky (1999) aponta que devemos começar refletindo simbolicamente o próprio conceito de globalização nos círculos acadêmicos e na sociedade como um todo, que apresenta desafios e grandes questionamentos por conta de seus desdobramentos na vida dos indivíduos. Com esta visão, voltamos a lembrar que todos nós estamos vivendo em um mundo globalizado, que se pretende ser sem fronteiras de produção e consumo, com novas formas de organização do trabalho, o que caracteriza o chamado: Desemprego estrutural, ou seja, aumento de produtividade e redução de mão-de-obra. 9 Unidade 04 O Mundo Globalizado Com tais transformações, muitas funções trabalhistas tornaram-se obsoletas e tenderam ou tendem a desaparecer. A economia cresceu, mas boa parte da população economicamente ativa vai ficando fora do mercado de trabalho. Essa vem a ser uma questão central do argumento de Chossudovsky (1999) sobre a globalização da pobreza, na qual ele trata que, desde o começo dos anos 80, os programas de “estabilização macroeconômica” e de “ajuste estrutural” impostos pelo FMI e pelo Banco Mundial aos países em desenvolvimento (como condição para a renegociação da dívida externa) têm levado milhões de pessoas ao empobrecimento. Podemos, então, começar a pensar quais seriam as mais notáveis consequências do processo de globalização apontadas por Chossudovsky (1999). A globalização da pobreza, conceito elaborado pelo autor, refere-se a um processo de empobrecimento global, o qual se manifestou no mundo em finais do século XX. Tal processo, de acordo com sua reflexão, pode ser marcado pelo colapso dos sistemas produtivos nos países em desenvolvimento, a falência das instituições nacionais e a desintegração dos programas de saúde e educação. Em outras palavras, o poder de compra interno decaiu, a fome eclodiu, hospitais e escolas foram fechados, entre outras coisas. Chossudovsky (1999) coloca em xeque a perspectiva de que o aumento do potencial e da capacidade dos sistemas econômicos em produzir bens e serviços correspondem à redução dos níveis de pobreza mundial. Segundo ele, a nova ordem econômica internacional alimenta a pobreza humana e leva cada vez mais ao barateamento da mão-de-obra do trabalhador, ao aumentar as taxas de desemprego e diminuir os salários dos trabalhadores urbanos e campesinos. Ainda para ele, a questão do desemprego com a globalização vem se mostrando crucial, pois tanto os países desenvolvidos quanto os em desenvolvimento têm assistido ao fenômeno chamado de internacionalização do desemprego. Fo nt e : a m az o n aw s Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 10 O autor, ao pensar a reestruturação econômica dada pela globalização, também está atento às profundas divisões que se criam entre nacionalidades, classes sociais e grupos étnicos. A fragmentação do mercado de trabalho, de acordo com ele, leva a intensas divisões de classes sociais entre trabalhadores brancos e negros, jovens e velhos, empregados em tempo total, empregados em tempo parcial e desempregados. Mas o que está sendo produzido neste novo sistema? Segundo Chossudovsky (1999), o que está ocorrendo é uma estagnação nos setores de produção de bens e serviços de primeira necessidade, e um redirecionamento da produção para bens econômicos de luxo. Além disso, há muitas especulações financeiras em transações fraudulentas, que podem levar a crises nos mercados financeiros mundiais. Assim, podemos começar a entender onde está o embrião da chamada globalização da pobreza suscitada pelo autor. Se os salários estão sofrendo sensíveis reduções e não existem empregos para absorver o grande exército de reserva de mão-de-obra, que se forma nesse contexto, e se vem se direcionando a produção para bens de consumo de luxo, temos, portanto, aí, um impasse consolidado: Não há emprego, não há salário, não pode haver potencial de consumo. Chossudovsky (1999) aponta que essa é uma das contradições centrais da globalização, ou seja, os mercados mundiais têm uma ilimitada capacidade de produzir e limitada capacidade de consumir. Nos paísesem desenvolvimento, diz o autor, filiais de indústrias que produziam para abastecer o mercado interno são eliminadas em contexto da globalização. O setor informal, que historicamente se colocou como uma importante saída e mesmo uma fonte de criação de empregos, vai sendo destruído aos poucos como resultado da liberação das importações. A reestruturação da economia mundial, orientada pelas instituições financeiras, sediadas em Washington, vai arruinando a economia dos países em desenvolvimento, já que nega o desenvolvimento individual desses países, bem como a possibilidade de construção de uma economia nacional. A internacionalização da política macroeconômica transforma países em territórios econômicos abertos e economias nacionais em “reservas” de trabalho barato e recursos naturais. Além disso, o aparelho estatal apresenta-se desestabilizado, a indústria voltada para o mercado interno é destruída, as empresas nacionais abrem falência, as leis que regulam o salário mínimo tendem a ser eliminadas, bem como os investimentos em programas sociais. 11 Unidade 04 O Mundo Globalizado Finalizando seus argumentos, Chossudovsky (1999) nos leva a considerar um aspecto importante no que se refere ao papel do intelectual formado nas universidades, nas mais diferentes correntes econômicas. Esse intelectual, segundo ele, está muito conduzido a justificar essa nova ordem econômica entendida como global e neoliberal (que busca cada vez mais mercados fornecedores de mão-de-obra barata e mercados consumidores). O questionamento que o autor estabelece é exatamente acerca da falta de perspectiva crítica desses estudiosos, principalmente os de Terceiro Mundo, que acabam por levar adiante discursos moralizadores e éticos sobre “desenvolvimento sustentável” e “diminuição da pobreza”, que a partir do desenvolvimento da reestruturação econômica global seriam práticas positivas para os países em desenvolvimento. Tal compromisso implica em um escamoteamento das relações reais entre as questões políticas referentes à pobreza, à proteção ao meio ambiente e aos direitos sociais das mulheres. As discussões até aqui representam o contexto de desdobramento do conceito de globalização para a compreensão do mundo pós-moderno que vivemos. Tal compreensão inicia-se com a ideia de que a pós-modernidade nasce ESQUEMA ANALÍTICO DA REESTRUTURAÇÃO METROPOLITANA Fonte: Soares (2015 baseado em MATTOS, 1999). Assista ao vídeo de Zygmunt Bauman sobre o mundo pós-moderno e o mal-estar na civilização https://www.youtube.com/watch?v=I_VJFr0Ale8 saiba mais? Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 12 com a reflexão do mal-estar, deixada pelos modelos sociais e econômicos, os quais devem ser superados. Assim, essa ideia de ser pós (pós-industrial, pós-estruturalismo, pós-fordismo, pós-comunismo, pós-marxismo, pós- hierárquico, pós-liberalismo, pós-imperialismo, pós-urbano, pós-capitalismo) pode ser consolidada pela busca da renovação. A pós-modernidade traz à cena a lógica cultural que valoriza o relativismo e edifica uma configuração de traços sociais, que levam a um movimento de descontinuidade da condição moderna: mudanças dos sistemas produtivos e crise do trabalho; crise da historicidade e do individualismo; e força da cultura narcisista de massa. Algumas características desse período histórico e social datado do final do século XX são: • Domínio de consciências e pensamentos pelas mídias eletrônicas; • Colonização do universo dos indivíduos pelo mercado; • Consumo como a grande estrela da satisfação pessoal; • Pluralidade cultural; • Polaridade social, construída por distanciamentos e pela forma como é feita a distribuição da renda; • Crise das metanarrativas, tais como, as que nasceram com a Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade; • Descontinuidade da condição moderna. 13 Unidade 04 O Mundo Globalizado Lyotard (1986) indica que a pós-modernidade pode ser considerada como a culminação de seu descontentamento longamente expresso com os princípios da modernidade. Para ele, esse conceito expressa uma reação contra o que se percebe como doenças da modernidade, do que constitui uma construção positiva original construída em torno de novas noções e visões. Em seu olhar, percebemos um individualismo extremado e de múltiplas identidades fragmentadas. Ele indica que a noção de grupo social e de coletivo são desconstruídas. O mundo pós-moderno para Lyotard (1986) é um mundo de possibilidades diversas com combinações e recombinações constantemente em fluxo. A diferença infindável funda-se na lógica do antidiferenciacionismo que caracteriza o pensamento e a ação. Com isso, vemos que a pós-modernidade tem predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, procurando direcionar que o mundo está menor a partir do avanço da tecnologia. Reforça-se um mundo virtual, imagem, som e texto em uma velocidade voraz. Hall (2000), ao abordar a questão da identidade do sujeito em contextos de pós-modernidade, afirma que há uma “fragmentação” do sujeito e de sua identidade cultural, o que afeta diretamente a identidade nacional construída na modernidade. Para ele, uma cultura nacional vive entre passado e futuro, ora se dirigindo ao passado e suas glórias, ora tentando avançar em direção à modernidade. As identidades estão sendo descentradas, passando por um processo complexo. O que mostra é que a identidade dos povos e nações se encontra fragmentada, plural. Modernidade Líquida Bauman (2001), ao estudar o contexto da pós-modernidade, procura definir o termo “modernidade líquida” para considerar a fluidez das relações no mundo contemporâneo. Ele usa este conceito para estabelecer o conjunto de relações e dinâmicas que se apresentam no mundo contemporâneo e que se diferenciam das que se estabeleceram no mundo anterior, que ele chama de “modernidade sólida”. Pois, segundo ele, há fixidez nas relações sociais entre sujeitos e instituições sociais, construção do sentimento de nacionalismo, como ponto de apoio da formação da identidade do sujeito neste contexto. Nesse sentido, o autor procura demonstrar que ao chegar à modernidade líquida, a estrutura social montada em torno da relativa fixidez moderna dilui-se. As relações modificam-se, tornam-se voláteis na medida em que os referenciais de categorização dissolvem-se. Ocorre a individualização do mundo, em que o sujeito agora se encontra “livre”, em certos pontos, para A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz comenta sobre a identidade nos dias de hoje e todos os seus personagens, que decorrem da sociabilização humana. Confira abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=rbg8NyUxCic saiba mais? Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 14 ser o que conseguir ser mediante suas próprias forças. A liquidez presente nas reflexões de Bauman (2001) significa a inconstância e incerteza que a falta de pontos de referência socialmente estabelecidos e generalizadores agora nos traz. Modernidade Líquida • Mobilidade e fluidez. • Instituições e mentalidades adaptam-se a novos contextos e demandas em rearranjos velozes. • Sem compromisso com permanência ou durabilidade. Exemplos: carreira e relacionamento. O que vemos, assim, é que o pós-moderno significa pluralidades de mundos reais que podem estar coexistindo, conflitando e até, interpenetrando-se. Não há, nesse sentido, uma concepção de totalidade. Foca, assim, uma ideia de convivência entre códigos e vivências, um reconhecer do outro em sua heterogeneidade que está posta na realidade do contemporâneo, mas que busca sua legitimidade de forma permanente. Não há uma identidade social fixa, mas sim, a possibilidade de ser muitos em diferentes contextos, o que pode confundir a ideia do fortalecimento do eu. A identidade é construída no jogodas relações sociais e acionam-se diferentes papéis para diferentes momentos sociais. Essa forma de olhar o mundo a partir da individualização, da não fixação de fronteiras e do redimensionamento entre o local e o global, com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, nos mostram novas configurações sociais em que pesam a própria construção de teias de relacionamentos reais e virtuais. Nascem, assim, as redes de comunicação virtual, em uma realidade na qual os sujeitos apresentam identidades fragmentadas e que não têm certeza dos próximos acontecimentos para o futuro. T3 Fo nt e : F re e p ik 15 Unidade 04 O Mundo Globalizado Sociedade em Rede: localismos e comunidades virtuais Castells (1999) elaborou o conceito de sociedade informacional, global e em rede, para significar uma nova forma de economia, que surgiu em escala global no final do século XX, seguindo a revolução tecnológica da informação, e oferecendo a base material necessária para sua criação. Segundo ele, a emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas, possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo. A reflexão de Castells (1999) conduz nosso olhar para o fato de que as redes de interação, ao serem multiplicadas pelo avanço da ciência e tecnologia em si mesmos, estão criando cada vez mais novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo, sendo moldadas por ela. Sua forma de descrever a sociedade em rede foi criada e moldada a partir da busca da lucratividade pelas empresas e a mobilização das nações a favor da competitividade. Assim, a sociedade em rede introduziu novos arranjos variáveis na nova relação entre a tecnologia e a produtividade. A conexão às redes sociais em um mundo virtual é a forma de interação que superou outras, que foram preponderantes em séculos e décadas anteriores: as cartas, o telefone e até mesmo, mais recentemente, os e-mails e chats. Conjugadas às tecnologias móveis dos celulares e aos diversos aplicativos hoje disponíveis, não é de estranhar que jovens e tecnologias sejam inseparáveis. Fo nt e : f p b la sd e p ra d o Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 16 Para Castells (2002, p. 498), as redes, que dão forma atualmente às relações sociais, “são instrumentos apropriados para: a economia capitalista baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada; para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução e reconstrução contínuas”. O autor ainda afirma que a informação é essencial para a construção do conhecimento, que associada à tecnologia é a propulsora dessa nova sociedade, que ele chama de pós-industrial. A promessa da Era da Informação representa o desencadeamento de uma capacidade produtiva jamais vista, mediante o poder da mente: Penso, logo produzo. Com isso, temos tempo disponível para fazer experiência com a espiritualidade e oportunidade de harmonização com a natureza sem sacrificar o bem-estar material de nossos filhos. Todavia, para o autor, há enorme defasagem entre nosso excesso de desenvolvimento tecnológico e subdesenvolvimento social. Nossa economia, sociedade e cultura são construídas com base em interesses, valores, instituições e sistemas de representações que, em termos gerais, limitam a criatividade coletiva, confiscam a colheita da tecnologia da informação e desviam nossa energia para o confronto autodestrutivo. Aprendizagem em Rede O mundo está conectado em rede. Assim, a própria dimensão da aprendizagem torna-se possível pela mediação das redes sociais. Vygotsky (1989) demonstra que a aprendizagem se faz em rede a partir da interação e das relações praticadas nos diversos ambientes sociais. A linguagem, capacidade específica do ser humano, é a via de saída das aquisições cognitivas adquiridas ao longo de um processo de aculturação. Com a emergência do mundo pós-moderno e a presença do virtual nas sociedades e vidas das pessoas como um constante, vemos a necessidade de destacar também como a educação e a formação dos sujeitos sociais para inserir-se nesse universo vem acontecendo. Sobre essa questão da aprendizagem em rede e por meio das interações virtuais, Siemens (2004) apresenta a teoria do Conectivismo, na qual percebemos como se desenvolvem tendências para a aprendizagem. Confira abaixo uma estratégia de aprendizagem em rede apresentada pela professora e pesquisadora Ana Lúcia Guimarães (2017): http://proceeding.ciki.ufsc.br/index.php/ciki/article/view/291/141 saiba mais? 17 Unidade 04 O Mundo Globalizado • Muitos aprendizes vão se mover por uma variedade de áreas diferentes, possivelmente sem relação uma com as outras, durante o curso de suas vidas. • A aprendizagem informal é um aspecto significativo de nossa experiência de aprendizagem. A aprendizagem agora, ocorre de várias maneiras – por meio de comunidades de prática, redes pessoais e através da conclusão de tarefas relacionadas ao trabalho. • A aprendizagem é um processo contínuo, durando por toda a vida. • Aprendizagem e atividades relacionadas ao trabalho não são mais separadas. Em muitas situações, são as mesmas. • A tecnologia está reestruturando nossos cérebros. As ferramentas que usamos definem e moldam nosso modo de pensar. • A organização e o indivíduo são ambos organismos que aprendem. O aumento da atenção à gestão do conhecimento ressalta a necessidade de uma teoria que tente explicar a ligação entre a aprendizagem individual e organizacional. • Muitos dos processos anteriormente tratados pelas teorias de aprendizagem (especialmente no processamento cognitivo de informações) agora podem ser descarregados para ou suportados pela tecnologia. • Saber como e saber o que está sendo suplementado pelo saber onde (o conhecimento de onde encontrar o conhecimento que se necessita). Vantagens Sobre a aprendizagem que pode ocorrer com as redes sociais, destacamos o uso delas para obter informação, acompanhar notícias de interesse, aprender, ensinar, conectar pessoas e se conectar a elas rapidamente, possibilitando uma troca e um contato rápido, coisa que pessoalmente ou por telefone seria muito complexo, uma vez que este tipo de contato requer outro padrão de comunicação. Na rede social essa conexão é mais fácil, por não ser real time, a pessoa irá te responder no momento em que estiver disponível, além disso, com a possibilidade de verificar amigos e interesses em comum, fica muito mais fácil descobrir a melhor maneira de conseguir contato com uma determinada pessoa ou empresa. É a possibilidade de se conectar e expandir seu mundo na direção que quiser. Não existe mais impedimento, você pode descobrir rapidamente quem é o gerente de marketing de uma empresa e propor uma parceria, por exemplo. Entenda como a comunicação mediada pela internet cria espaços virtuais que estabelecem relações pela aglutinação de um grupo de indivíduos com interesses comuns que trocam experiências e informações. Confira no link abaixo: https://www.youtube.com/watch?v=Xm_7RdifX0c saiba mais? Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 18 Desvantagens Como ponto negativo da rede social, podemos falar da falta de qualidade no conteúdo gerado e do entretenimento em pequenas doses, inesgotáveis, ou seja, a pessoa entra em um ciclo de ver vídeos e fotos seguidas, e acaba perdendo horas com isso. Além disso, há um imenso encantamento com a fama própria, todos viraram celebridade, e postam suas vidas particulares como se estivessem editando uma matéria sobre si mesmos, em revista de fofoca, esquecendo que na internet nenhum conteúdo é apagável. Tais debatessobre estarmos todos e todas em um mundo no qual perdemos a relação entre o local e o global, as aprendizagens e trocas comunicacionais nos dão outras oportunidades de concepção de espaço, territorialidade e proximidade. Assim são descontruídos conceitos de localidade e apresentados conceitos de cibercultura e comunidades virtuais. Para Lévy (1998), o conceito de Cibercultura se prende à ideia de uma suposta cultura do ciberespaço, que resultaria da interconexão mundial dos computadores. Gómez (2012) aponta que todos podem ser docentes e aprendizes em uma comunidade que se apresenta como local e global, onde há uma profunda interação entre sujeito e conhecimento. O autor infere que devemos celebrar a inovação, a resolução de problemas, e experimentação, a criatividade, a autoexpressão e o trabalho em equipe, pois tais mudanças oferecem condições apropriadas para a aprendizagem, desenvolvendo cada sujeito na sua forma de aprender e tornando-o capaz de intervir na transformação da sociedade em que vive. Fo nt e : L év y (1 9 9 9 ) 19 Unidade 04 O Mundo Globalizado Cibercultura é a cultura que emerge a partir da introdução do computador e de outras ferramentas tecnológicas, possibilitando a comunicação virtual, a indústria do entretenimento e o desenvolvimento do comércio eletrônico. Enfim, é uma cultura fundada com as relações virtuais. Sobre as comunidades virtuais, Rheingold (1996) identificou a existência de “contratos sociais entre grupos humanos – imensamente mais sofisticados, embora informais” – que nos permitem agir como agentes inteligentes uns para os outros. Assim, nos apresentou o conceito de inteligência coletiva, em que se constroem saberes em grupo, para o benefício de cada indivíduo, pertencente àquele grupo. Para ele, as comunidades virtuais são constituídas por diferentes profissionais que constroem diretamente o conhecimento, fornecendo informação específica, com opinião especializada. Funciona como uma enciclopédia viva, dinâmica, auxiliando os membros da comunidade a lidar com a abundância de informações e com a filtragem das mesmas. Uma comunidade virtual é uma rede social em que cada um dos membros proporciona o conhecimento para a rede. Dessa forma, podemos considerar que hoje o local é onde você está e de onde você consegue acessar a virtualidade, para estabelecer uma relação que possibilite seu aprendizado ou atualização das informações, que possa promover contatos com pessoas que conhece, que não conhece, mas que deseja conhecer. Enfim, o desenvolvimento de um mundo que não demanda a presença física e a localidade fixa para criar contratos, trocas e contatos sociais. Com o desenvolvimento das ferramentas tecnológicas, podemos acessar recursos de qualquer lugar do mundo. Não existe, portanto, a dependência direta de livros ou de buscas de informações pela internet. O conhecimento é construído socialmente, as trocas de saberes mediante a internet estão cada vez mais vivas e presentes nas escolas e em todas as residências e espaços públicos e privados. Fo nt e : s u ce su rs .o rg .b r T4 Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 20 As escolas também iniciam preparando conteúdos, metodologias e professores para ingressarem nas novas formas de ensinar e aprender na era digital. Assim, não podemos deixar de abordar a educação a distância (EaD) e seus avanços em tempos atuais. Vianney et al. (1998) nos mostram que os objetivos gerais da EaD se referem à democratização do acesso à educação, a capacidade de oferecer uma educação autônoma e relacionada à experiência a promoção e o incentivo de um ensino inovador, de qualidade, que colabora também para redução de custos. Para Zanoto (2009), a EaD pressupõe o princípio do aprender fazendo e o fazer consciente e crítico. Segundo ele, significa uma forma de educar sistemática e organizadamente, que estabelece a comunicação por via dupla, onde professor e aluno comunicam-se, interagem e possibilitam a formação do conhecimento. Piletti (2000) também ao abordar o tema, infere que a educação deve ser entendida como um processo de âmbito universal, ao qual todo ser humano está sujeito, não sendo estático nem determinístico, mas variando de acordo com a sociedade em que o indivíduo está inserido. Assim, em contextos de EaD, as transformações no mundo do trabalho, a busca de formação de profissionais, para um mercado de ocupações e profissões futuras, o conhecimento e a preparação dos sujeitos sociais encontram nesse modelo educacional perspectivas de inovação e empreendedorismo. A Sociedade do Conhecimento e da Informação A partir do olhar de que as sociedades avançam levando em conta sentidos e significados, construídos para organizar sua vida cotidiana, suas necessidades econômicas e culturais locais, devemos considerar como a cultura dos indivíduos pós-modernos está sendo recriada através da vida digital, com novos saberes na sociedade do conhecimento. A sociedade contemporânea tem como grande característica o papel que o conhecimento ocupa. Não estamos falando somente do fato de que informação é poder e que quem tem mais informação tem mais poder, estamos falando mesmo na posse e decodificação desta informação ao ponto de ser transformada e processada como conhecimento. A transformação da informação em conhecimento é de real importância em tempos contemporâneos. 21 Unidade 04 O Mundo Globalizado Temos muita necessidade em definir a relação tempo-espaço em que estamos situados contextualmente, porque temos que admitir que a presença da virtualidade vem colaborando para a promoção de informação e conhecimento na vida social e cultural dos diferentes povos do planeta. Isso é um fato consumado, por isso, a necessidade de traçar e estabelecer aprendizados e relações processuais que ajudem os sujeitos sociais a se moverem nesta órbita de rápidas e constantes transformações. Mas, há de se perguntar: se a cultura já não é algo dinâmico, que sempre está em adaptação e redefinição, então, por que tanto se tem falado de vivermos a sociedade do conhecimento e a era da cibercultura se suas bases já vinham sendo desenhadas ao longo de sucessivas redefinições socioeconômicas e políticas historicamente arrumadas? No final dos anos 70 do século XX, Popper (1978) mostrava que a realidade deveria ser muito mais percebida como um sistema instável do que como uma nuvem. Uma sociedade que se pauta no incerto, no duvidoso, no preparar-se para o que tiver que acontecer. Sociedade do conhecimento é também sociedade das possibilidades e da concepção de que informação e conhecimento são circuláveis para todos os cantos do planeta e que o investimento na capacidade que a tecnologia pode oferecer para este fim é uma certeza absoluta. Bauman (1997) chama de modernidade líquida, como vimos, a fase humana em que os atores de seu tempo vivem mudando em um curto espaço, o que deixa pouca possibilidade de consolidação de rotinas e hábitos. Com estas considerações, vemos que Lévy (1998) enfatiza o momento em que vivemos, no qual a gestão do conhecimento exige das pessoas responsabilidade e criatividade, pois elas devem ser educadas e preparadas para atuarem com pensamento crítico. Não somente consumindo informações prontas, mas sendo capazes de encontrar a informação que buscam e também gerar informações para serem consumidas em escala mundial. Lévy (1998), ao abordar o tema dos rumos da sociedade contemporânea, observa as transformações que se processam no savoir-faire, mostrando que devemos estar atentos a compartilhar valores e aprendizados em redes de inovação. Pois, para ele, as nações e sociedades precisam aprender a navegar no espaço do saber. Fo nt e : b lo g sp o t Estudos Socioantropológicos Graduação| UNISUAM 22 Castells (1999), embora aponte que a tecnologia é a sociedade em tempos atuais, chama a atenção para que não se reduza a compreensão da sociedade apenas por suas ferramentas tecnológicas. Ele considera que a tecnologia é um dos pilares mais importantes do desenvolvimento social, por isso, devemos considerar que o Estado e a sociedade existem a partir da planificação da tecnologia. O autor ainda indica que os destinos e a evolução das nações dependerão da condição de habilidade delas para dominarem as tecnologias da informação e comunicação. Nesse formato, o Estado tem papel significativo para manusear e desenvolver políticas de implementação das tecnologias da informação e comunicação. Também Ntambue (2005) refere-se que uma sociedade deve primar por distribuir todos os esforços nela desenvolvidos, considerando que o poder que o conhecimento tem hoje deve atravessar os diferentes segmentos sociais de forma que todos desfrutem destas benesses. Vemos que estar vivendo na era da informação, conhecimento, tecnologia e cibercultura nos suscitam algumas características fundamentais: a de compreensões sobre habilidades e competências que os sujeitos sociais devem possuir ou desenvolver para conseguirem lidar com estas dinâmicas de convívio social. Para entender a relação entre sociedade do conhecimento e globalização é preciso considerar que Bauman (1999) defende que a globalização, ao mesmo tempo em que aproxima culturas e mundos diferentes, também exclui e segrega espacialmente os indivíduos e grupos. Segundo ele, os centros de produção de significado e valor são hoje extraterritoriais e emancipados de restrições locais, o que, em seu olhar, não acontece em relação à condição humana, a qual esses valores e significados devem dar sentido. Todo esse distanciamento tempo-espaço sugerido pelos autores pode ser encurtado na medida em que a sociedade do conhecimento institui novos valores e práticas sociais com a aplicação das tecnologias que permitem a concretização dessa realidade. Unidade 04 O Mundo Globalizado 23 Nesse sentido, a Internet e suas mais diferentes formas de comunicação e aplicação redefinem culturas e ressignificam identidades sociais. Para Nagel (2002), o conceito de sociedade do conhecimento vem a ser uma expressão advinda do meio empresarial, para dar conta dos investimentos racionais planejados para o mundo globalizado no que se refere ao impacto do avanço científico e tecnológico, e traz de imediato facilidades e transtornos por meio das redes de comunicação digital. Com isso, vemos que a própria empresa tem o interesse em investir em uma sociedade das tecnologias digitais. A sociedade do conhecimento, sob essa ótica, aponta ao mundo do trabalho atual para uma perspectiva inserida em uma reflexão própria ao darwinismo social do início do século XIX. Analisa a sociedade a partir da ideia de que conforme as sociedades vão evoluir, vão alcançar o progresso científico, os indivíduos que sobreviverão a esse avanço serão “os mais fortes, os mais adaptáveis”. Aqueles que forem capazes de perceber e internalizar valores de uma educação continuada, de uma aprendizagem ao longo da vida. Portanto, a sociedade do conhecimento institui uma corrida para alcançar o pódio, que entendemos ser “um lugar ao sol” no mundo capitalista global, conforme nos apontam os autores apresentados. De uma forma mais direta, segundo esse olhar, não basta ao indivíduo buscar aumentar seu grau de escolaridade por meio da incessante busca de credenciais para auferir os lucros da era da informação, é preciso mais que isso para “manter-se vivo” nessa sociedade. É preciso saber assimilar que as atividades em destaque são aquelas que se voltam para a produção e distribuição de informação e conhecimento, isto é, entender as necessidades da sociedade atual, fazendo uma leitura do código de barras correspondente às novas exigências desse mundo em edificação. Fo nt e : i h ac .u fb a Think tanks são instituições que procuram fazer a ponte entre o conhecimento específico e as políticas públicas, por meio de pesquisas aplicadas aos problemas da sociedade. Confira mais sobre Think tanks no vídeo “O que são Think Tanks?” no link abaixo: h t t p s : // w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=Cs5o7IazYhQ Design Thinking é a forma de pensar do designer, mas por que isso é importante para as empresas? Porque, o designer é crítico e criativo, está sempre olhando para os problemas como oportunidades, construindo variedades de soluções para aquele problema. Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 24 Olhando mais de perto essas características, conseguiremos refletir sobre as habilidades e competências para transitar na realidade atual. Esse contexto possibilita a abertura da vida das pessoas à cultura e suas vertentes criativas, de maneira que ideias e conhecimentos circulam, mesmo que sejam diferentes ou tradicionais, cujas misturas dão os novos ares da inovação. Assim, torna- se uma sociedade baseada no capital humano, na capacidade que o capital intelectual possui de criar e forjar novas informações e realidades. Sobre o aspecto da preparação dos indivíduos para acompanharem tais demandas e transformações sociais, é importante destacar que os sujeitos sociais valorizam a esfera do pensar para marcar suas diferenças educacionais. Em alguns países surgem os think thaks, grupos ou centros de pensamento para discussão e geração de ideias, conforme nos mostra Lucci (2000), o que emerge uma geração que começa a ser formada a partir da aprendizagem do design thinking, com a ideia de projetar soluções inovadoras, de forma rápida, responsável e eficiente. Inaugura-se assim, a era do pensar coletivo para a aprendizagem colaborativa, com fins de produzir respostas sustentáveis. Como sociedade da informação, temos também que pontuar o que nos diz Kurz (2002), que destaca o verdadeiro significado de “informação”. Em seu olhar, deve-se considerar sociedade da informação em um sentido mais amplo, ligado também a procedimentos mecânicos, isto é, tudo aquilo que faz parte do nosso cotidiano, como, por exemplo, o som da buzina, a mensagem automática da próxima estação do metrô, a campainha de um despertador, o panorama do noticiário na TV, o alto-falante do supermercado, entre outros. Diante disso, o autor ressalta que informação é tudo aquilo que nos traz um dado. A ideia de estarmos vivendo a era da sociedade da informação deve ser compreendida a partir da velocidade com que sabemos dos fatos e ainda divulgamos para outras pessoas, a partir das trocas trazidas pelas possibilidades da comunicação via Internet. No entanto, devemos entender que a informação, por ser um dado, gera poder para quem a possui e manipula, mas sobretudo ela também pode ser apenas efêmera e infecunda, caso não tenhamos uma utilidade, uma percepção de transformá-la em conhecimento, pois informação e conhecimento são conceitos diferentes, mas que podem ser complementares. Entenda um pouco mais sobre o que é informação no vídeo “Sociedade da Informação: benefícios, angustias e possibilidades”. https://www.youtube.com/watch?v=YcCFZUlqBNc&t=12s saiba mais? 25 Unidade 04 O Mundo Globalizado Historicamente, foi ao longo do século XX que as mudanças em relação ao armazenamento e disseminação das informações alcançaram maior rigor, muito por conta das guerras mundiais, da expansão industrial, da dinâmica trazida pela globalização e sem dúvida, pelo crescimento, investimento e amplitude das tecnologias da informação e comunicação. Existem autores que sinalizam a passagem de uma ideia de sociedade da informação para sociedade da comunicação, levando em conta as trocas comunicacionais diárias e necessárias das pessoas. Gonçalves (2009) destaca o fato de quea maioria das atividades realizadas nos espaços virtuais são de comunicação, as pessoas vêm usando cada vez mais esses espaços para este fim. Muitas têm até produzido e compartilhado informações falsas, conhecidas como Fake News, resultando em prejuízos a outras pessoas, por não analisar o conteúdo antes de compartilhar É extremamente importante checar a fonte das notícias e informes antes compartilhá-las. Já Drucker (1993) procura mostrar que o conhecimento, mais do que o capital ou trabalho, é recurso econômico mais importante da sociedade pós-capitalista, ou sociedade do conhecimento, e que a informação aparece como sendo cada vez mais o ponto crucial para o sucesso e desenvolvimento de empresas. A Universidade Del Mar, ao realizar estudos sobre qual a importância do conhecimento no século XXI, indica que o conhecimento é o recurso mais significativo das sociedades atuais e os trabalhadores de conhecimento serão a grande maioria da força de trabalho. Ela ainda procurou demonstrar quais as principais características dessa sociedade: 1. Ausência de fronteiras - porque o conhecimento se desloca com menos esforço até do que o dinheiro; 2. Mobilidade para cima - disponível para todos por meio de uma educação formal facilmente adquirida; 3. Potencial para o fracasso, assim como para o sucesso - Qualquer um pode adquirir os ‘meios de produção’, isto é, o conhecimento exigido para a tarefa, mas nem todos podem vencer (SHINYASHIKI, 2016) Estudos Socioantropológicos Graduação | UNISUAM 26 Tais reflexões nos remetem ao fato de que o trabalhador do conhecimento será o que hoje se chama de inovador, aquele que sai em busca de respostas para problemas sociais ou individuais. Aquele que transforma a informação em um dado de pesquisa e este em conhecimento. Conhecimento é poder e, portanto, é a grande moeda de ouro destes tempos atuais. Por outro lado, é um mundo que exclui e segrega aqueles que não possuem as devidas credenciais, que vão desde o acesso à tecnologia até as dificuldades de leitura e interpretação de dados e produção de saberes críticos, para usufruir das benesses de valorização deste conhecimento. Assim, vemos que quem não sabe interagir e colaborar nesta sociedade do conhecimento, isto é, quem não troca informações e não resolve problemas em grupo, fica sem espaço para pertencer e atuar neste mercado contemporâneo do conhecimento. Sociedade da Informação Acesso democratizado, universal, global e total à informação e ao conhecimento, pelos meios de comunicação e equipamentos eletrônicos. A Internet inaugura uma nova sociedade chamada Sociedade da Informação. Sociedade do Conhecimento Produziu-se a partir das redes sociais, das interações e colaborações, entre os indivíduos membros. São pessoas discutindo questões, refletindo sobre elas, ensinando e aprendendo, umas com as outras, em todas as áreas de conhecimento. Com estas informações, vemos que a educação, sociedade e os grupos sociais primam cada vez mais por valores que passam pelas ideias de interatividade, colaboração e inovação. No século XXI, a interação é a palavra mais destacada, pois, o que de mais valoroso se tem a trocar é a capacidade de interação e colaboração dos indivíduos. Fo nt e : e ro sd ig ita l 27 Unidade 04 O Mundo Globalizado A educação dos indivíduos, para se incluírem nesse novo modelo de sociedade, passa pelo entendimento de que escola e tecnologias digitais estreitam cada vez mais sua parceria para a formação do projeto de indivíduo que atende ao desenho de mundo aqui apresentado. O indivíduo precisa estudar sempre, com formação continuada, e não se colocar em uma posição de que está pronto. Para isso, utiliza-se das interações nas redes sociais não apenas como aquele que consome, mas que também, atua como participante de diferentes grupos de estudos da área de atuação profissional que se inclui. Desenvolver o hábito de construir uma imagem positiva de si mesmo, para se apresentar no mundo virtual, também é uma grande recomendação, com a ideia de que precisamos ser vistos de forma a dar uma conotação de que é alguém capaz de agregar, bem como de criar, promover o outro e se promover. Além disso, saber ouvir e experimentar a vivência e troca colaborativa, sem omitir sua opinião, e deixar de ser protagonista nas situações que demandam proatividade e criatividade são atitudes recomendadas. A omissão é um fator a ser excluído de qualquer valorização nesta sociedade. Conclusão Procuramos demonstrar como os impactos que as transformações trazidas pela globalização e a configuração da sociedade pós-moderna colaboram para uma percepção de que os indivíduos estão vivendo experiências múltiplas e fragmentadas, buscando a satisfação de seus desejos e a felicidade. Felicidade é poder de consumo. Consumir também é conectar-se com o sentido das trocas via Internet, seja pelas redes sociais ou pelas formas como se constroem modelos de interação e colaboração, que sinalizam a inserção das pessoas na sociedade do conhecimento e informação. Assim, é possível ter educação e trabalho voltados para o uso das tecnologias digitais. Surgem, portanto, novas formas de ensinar e aprender, mas todas elas levam à compreensão da necessidade de transformar informação em conhecimento. A palavra adaptação indica que os indivíduos precisam se preparar para consumir e produzir conteúdo e trocas na sociedade digital. Referências: ALEGRETTI, Laís; OLIVEIRA, Filipe. 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