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04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 1/24 Introdução O período atual da história é dos mais complexos já experimentados pela sociedade humana. Vivemos um tempo nervoso, tenso. Somos cotidianamente pressionados para sermos mais produtivos no trabalho, para contribuirmos com a redução de custos das nossas empresas e para trabalharmos cada vez mais e mais rapidamente. Recebemos cargas de informação multimídia o tempo todo e por diversos veículos e canais simultâneos. Nossa vida está cercada de aparatos tecnológicos que requerem conhecimento para serem operados. Através deles interagimos com pessoas de quaisquer lugares do mundo. Cada vez precisamos 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 2/24 estudar mais, nos atualizarmos e, mesmo assim, percebemos que o que aprendemos se torna obsoleto muito rapidamente, exigindo-nos mais e mais esforços se quisermos preservar ou galgar posições no mercado global e competitivo dos dias atuais. Crises de todo o tipo povoam os noticiários, deixando-nos com a impressão de que o fim do mundo é iminente. Pessoas enlouquecem, ficam estressadas, buscam na religião e no misticismo o amparo de que precisam para se equilibrar neste mundo de constantes, rápidas e complexas transformações. Cada um escolhe seus caminhos. A construção do futuro está em nossas mãos, seja como indivíduos, seja como sociedade. Precisamos compreender a sociedade em transformação, de modo que possamos melhor nos situar dentro dela, e escolher caminhos de forma mais consistente, amparada em informações confiáveis e não apenas no senso comum, no conhecimento difuso, não sistematizado e cheio de preconceitos e desinformação, que nos chega aos ouvidos na rua ou nos meios de comunicação a todo o momento, por vezes nos induzindo ao erro; a nos movermos por instinto e não pela razão. Nunca antes foi tão importante compreender o ambiente em que estamos para nele sobrevivermos, projetarmos o futuro e construirmos o caminho que queremos trilhar, em direção às metas que nos são impostas ou que escolhemos perseguir. Muitas vezes aqueles entre nós que escolhem profissões técnicas, desdenham a importância das Ciências Sociais. Achamos que não é necessário entender o social para sobrevivermos num mercado de trabalho que nos demanda, cada vez mais, a hiper-especialização técnica. Tal como maus motoristas numa estrada escura, esquecemos de ligar o farol alto, e dirigimos olhando apenas para o espaço imediatamente à frente, iluminado pela luz abrangente, mas de curto alcance, que nos proporciona o farol baixo. O farol baixo é o conhecimento técnico, 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 3/24 aplicado e muito útil para a sobrevivência no dia a dia. O farol alto é a cultura geral e o conhecimento teórico, que nos são imprescindíveis para enxergarmos mais longe, para escolhermos caminhos. Os dois tipos de conhecimentos são úteis e necessários. No entanto, hoje em dia, quanto mais técnica e especializada é a atividade que exercemos, maior o risco de que novas descobertas científicas e tecnológicas tornem obsoleto o conhecimento que temos, levando consigo nossos postos de trabalho, nossa profissão até. Por isso, agora, mais do que nunca, é preciso buscarmos a cultura geral e o conhecimento teórico sobre a realidade complexa que nos cerca, para que possamos transformar o período de intensas e rápidas mudanças pelo qual estamos passando, em oportunidades para nosso crescimento, e não em ameaças à nossa sobrevivência, em função da nossa incompreensão sobre o que se passa a nossa volta, e de nossa incapacidade, daí decorrente, para perceber as oportunidades e tomarmos as decisões certas. A Tecnologia Mudando a Vida de Cada Um e de Todos As mudanças tecnológicas, ao longo da história, antecederam grandes mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais. As tecnologias interferem diretamente na forma com nós produzimos aquilo de que necessitamos para viver em sociedade. Sempre que desenvolvemos novas tecnologias para tornar mais eficiente a forma de produzirmos bens e realizarmos serviços ou melhorarmos nossas vidas, somos levados a reorganizar nossa maneira de trabalhar, e, com isso, terminamos mudando, também, nosso modo de vida. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 4/24 Domínio Público - fancycrave1 O desenvolvimento da tecnologia digital e a fusão da informática com as telecomunicações, associadas às tecnologias de automação que vem sendo implantas no mundo do trabalho e na vida cotidiana dos cidadãos contemporâneos, estão proporcionando o surgimento de uma realidade nova, infinitamente mais complexa do que a vigente na sociedade até então. O uso em escala comercial e em âmbito mundial de sistemas de transporte de grandes quantidades de mercadorias e passageiros, permitindo deslocamentos rápidos de um lado para outro do planeta, agrega-se a esse processo de transformação introduzindo mais complexidade às mudanças que estão ocorrendo nas relações sociais a partir do impacto dessa nova realidade sobre a vida individual e coletiva na sociedade contemporânea. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 5/24 O paradigma estruturador desse novo sistema é o das relações-rede. Desde que nos entendemos como sociedade desenvolvemos redes de relacionamento social. Temos redes de contatos profissionais, redes de amigos, redes de consumidores de certos produto e serviços. O estabelecimento dessas redes de relacionamento, portanto, já existiam antes do surgimento da base tecnológica da sociedade atual. No entanto, esse fenômeno foi ampliado em sua abrangência a partir do uso em escala das redes digitais de comunicação. Por relações-rede entendem-se relações sociais entre indivíduos e/ou grupos e organizações, estabelecidas tal como acontecem nas redes de computadores e na Internet. A ampliação da abrangência e do impacto das relações-rede pelo uso das redes de comunicação baseadas em tecnologia digital ocorre devido às características intrínsecas a essa tecnologia. O meio digital possibilita a ampliação em larga escala da quantidade de canais disponibilizados a usuários de perfis diversos. Permite, também, o uso do mesmo suporte para veiculação de informações em linguagem multimídia, isto é, através de arranjos múltiplos, combinando mensagens com dados, imagens, som e texto. Torna-se possível ainda, com a tecnologia digital, a interatividade e a multidirecionalidade da comunicação entre emissores e receptores; a intervenção do receptor sobre a mensagem recebida e sua reelaboração conforme a livre interpretação do receptor, que, assim, se converte em emissor. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 6/24 A rede digital cria, então, uma dimensão virtual de relacionamentos sociais e comunicacionais de novo tipo, pois, em função dessas características da tecnologia digital, estabelecem-se relações multidimensionais entre emissores-receptores e receptores-emissores no espaço intangível que vem sendo chamado de realidade virtual, ou de nuvem, como se define esse espaço virtual no qual se armazenam ou transitam as informações que jogamos para dentro das redes de computadores. Essa combinação de fatores, por sua vez, levou à multiplicação, em escala exponencial, das relações interativasentre indivíduos direta ou indiretamente conectados por esse sistema, influenciando, inclusive, o surgimento de novas relações-rede entre indivíduos. O conceito de relação-rede pressupõe que essas relações sociais de novo tipo, isto é, estabelecidas sob o impacto direto e indireto da tecnologia digital, vão, gradativamente, se sobrepondo ao paradigma das relações analógicas, sincrônicas, lineares, unidirecionais, 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 7/24 unidimensionais e verticais, típicas da matriz sistêmica da sociedade urbana e industrial. Trabalho e Consumo na Sociedade-Rede Todas as sociedades desenvolvem matrizes organizacionais que as caracterizam. As estruturas sociais, de produção ou de poder, possuem relação com a matriz tecnológica de cada sociedade. Dessa forma, quando a humanidade produzia de forma artesanal e predominava a agricultura, nossos valores culturais e formas de organização eram diferentes daqueles que estabelecemos como sociedade após o surgimento das fábricas, dos equipamentos mecânicos e das cidades. A matriz sistêmica da sociedade contemporânea é tecnológica e fortemente marcada pela presença das redes digitais. Numa sociedade cuja matriz sistêmica é baseada nas relações-rede, articuladas em escala mundial, a riqueza também circula nessa teia, na 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 8/24 velocidade do pensamento. As relações-rede revolucionaram os sistemas de comunicação e, simultaneamente, os métodos de gestão da produção. A sincronização e a massificação das mercadorias padronizadas pelo método da especialização do trabalho na linha de montagem, típicas da produção industrial, foram convertidas em assincronia, aleatoriedade e segmentação da produção e do consumo da produção automatizada e seus métodos revolucionários de gestão. Do mundo do trabalho e do consumo, essas relações influenciaram as relações sociais propriamente ditas, alterando comportamentos, atitudes, a visão de mundo, os valores e as formas de convívio entre pessoas e grupos sociais, em escala local e global, especialmente a partir da conexão digital entre usuários domésticos através da televisão e da Internet. Em seguida, a mobilidade da telefonia celular e dos computadores portáteis possibilitou a conexão 24 horas que registra taxas de crescimento impressionantes no mundo todo. Comportamento Social na Sociedade-Rede 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 9/24 Creative Commons - Joseph Ferris III O impacto da comunicação estabelecida através desses meios, em escala global, muda o comportamento social dos milhões de usuários dessas tecnologias; influenciando as relações sociais, políticas, econômicas e culturais individuais e coletivas; substituindo, em velocidade e abrangência impressionantes, a comunicação e o comportamento de massas, típico da matriz industrial, que se baseava na oferta de enormes quantidades de produtos iguais para consumo de massas. No mundo das comunicações a lógica era a da emissão de uma só mensagem-mercadoria de cada vez, para milhões de pessoas, através de canais padronizados e unidirecionais de comunicação e distribuição. Os canais de televisão aberta os quais transmitem a mesma programação, ao mesmo tempo, para milhões de pessoas em todo o país, são o exemplo típico dessa lógica. Inicialmente, os analistas que estudavam a globalização das comunicações em redes imaginavam que disso resultaria a homogeneização da cultura mundial e o desaparecimento das diferenças pela padronização do consumo de produtos das marcas globais. O erro dessas análises estava na aplicação da ótica da massificação industrial do passado, à análise de uma sociedade e de uma economia que não é mais industrial, mas sim, pós-industrial. Esses estudiosos ignoravam o efeito da compressão – ou supressão – da relação tempo-espaço sobre os processos sociais; da interatividade, da multidirecionalidade e da multidimensionalidade das relações que se estabelecem entre os indivíduos conectados em rede. Essas tecnologias induziram à desmassificação da produção, à segmentação do consumo e do comportamento dos consumidores e do tecido social, e o surgimento da economia simbólica provocada pela desmaterialização da riqueza. A desmaterialização decorre da produção e/ou agregação de valor aos produtos pela imagem que dele fazem os consumidores em função do valor simbólico das marcas 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 10/24 midiatizadas. Os produtos e as mensagens, hoje, são segmentados, quase personalizados. A produção se dirige para grupos de consumidores e receptores de mensagens cada vez mais diversos e específicos. Dessa forma, a ampliação em escala das relações-rede para além do comportamento de consumo transborda para as novas formas de conexão entre indivíduos, grupos, organizações, empresas, setores ou regiões do mundo, convertendo-se em nova matriz social sistêmica. O Poder do Conhecimento na Sociedade-Rede A lógica desse novo sistema social, por sua vez, requer novas teorias e sistemas conceituais que os expliquem, pois não é possível compreender a natureza e o sentido dessas mudanças a partir das teorias do passado. O uso dessas tecnologias requer usuários dotados de conhecimento, capacidade criativa e inteligência, características que, em tese, estão disponíveis a quaisquer indivíduos. Através da educação e da pesquisa científica torna-se possível a qualquer indivíduo, empresa ou nação, a obtenção dos mesmos conhecimentos que seus competidores têm numa economia aberta e numa sociedade livre. A riqueza e o poder, nessa sociedade, “procurarão” àqueles que souberem enxergar as oportunidades e se anteciparem aos seus concorrentes na disputa pela ponta da produção de novos conhecimentos. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 11/24 Em função disso, as tecnologias de produção, o acesso às redes de comunicação digital e de transporte intermodal, a disponibilidade de fontes renováveis de energia e o posicionamento geográfico em relação aos mercados de consumo do planeta tornaram-se estratégicos para que produtos e serviços cheguem mais rápido aos compradores e fornecedores. Nesse novo mercado da competição global aberta, um grupo limitado de corporações transnacionais concentra a liderança dos mercados de computação, de telecomunicações, de biotecnologia e da química fina; e outras do gênero, todas elas áreas que requerem altos investimentos em pesquisa e produção de conhecimentos novos, mas geram valor agregado e muita riqueza. A velocidade das empresas da ponta mais avançada desse sistema impõe seu ritmo aos seus fornecedores, e, como consequência, à economia mundial como um todo. Agilidade, flexibilidade, inteligência, criatividade, credibilidade, iniciativa e autonomia são imprescindíveis num sistema com essas características (TOFFLER, 1990, p. 421). Na competição econômica a riqueza se desloca rapidamente para os bolsos dos fornecedores que conseguem atender seus clientes no momento e da forma demandadas. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 12/24 Creative Commons - Mike Schmid A capacidade de pesquisar, selecionar, classificar, analisar e interpretar informações e convertê-las em conhecimento tornou-se um produto-serviço de alto valor agregado nesse sistema. O sistema, por sua vez, é alimentado e realimentado por usuários que injetam na rede o capital simbólico, intangível, resultante de suas inteligências e capacidades criativas interagentes, num processo que cresce em velocidade e volume exponenciais, movimentando uma gigantesca rede de relações sociais, políticas, econômicas e culturais. Volumes incomensuráveis de mensagens-mercadorias, em formatos multimídia, trafegam pelo planeta na velocidade do pensamento e são absorvidas, em geral, de forma não percebida, por bilhões de pessoas. Muitas dessas pessoas se convertem em reprodutores ou mesmo 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 13/24 criadores de mais riqueza através da transformação dessas mercadorias-mensagens em novas fontes de riqueza intangível. Nesse processo, influenciam-se a percepção do mundo, e os sentidos absorvem, processam e decodificam esses estímulos, convertendo-os em atitudes, comportamentos e novas relações-rede que realimentam o processo numa espiral sem fim. As novas pesquisas sociais sobre o impacto desses fenômenos revelam que o bombardeio das mensagens desse complexo sistema de comunicações transforma o psiquismo de indivíduos e comunidades, na medida em que são interligadas como polos situados em pontos distantes uns dos outros. Sem a conexão em rede em escala global, esses indivíduos sequer tomariam conhecimento da existência desse “outro”. Mudanças profundas nas identidades sociais e individuais dos receptores das mensagens multimídia em circulação no sistema estão sendo constatadas em todos os cantos do planeta, para muito além das primeiras leituras desse processo, que viam 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 14/24 apenas massificação e padronização global das identidades culturais e individuais. Mudança Cultural e Mudança Social da Sociedade-Rede A comunicação on-line em temo real comprime o tempo-espaço, alterando a percepção que as pessoas têm da realidade. Sociedades situadas em extremos distantes do mundo, com histórias e culturas distintas, tempos, estágios e ritmos diferentes de desenvolvimento sofrem o impacto das informações que circulam em alta velocidade pelos canais que transportam, de um lado para outro do planeta, o novo capital simbólico. Mudam modos de vida, percepções e expectativas que os indivíduos e comunidades alimentam sobre o futuro. O tecido cultural e social tradicional é permanentemente 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 15/24 trespassado por essas informações, fazendo com que o local não tenha mais identidade “objetiva” fora de sua relação com o global. Sob essas circunstâncias, desestabilizam-se as estruturas e a lógica de funcionamento do sistema social, gerando crises e conflitos sociais, políticos e econômicos nunca antes observados com a forma e a escala com que se apresentam. Assumimos a condição de civilização humana a partir do momento em que abandonamos o uso da violência bruta para resolver conflitos e criamos organizações e regras de convivência não violenta. O espaço das funções de mediação social – antes exclusivamente exercidas por instituições, organizações e leis –, está sendo invadido pelas novas relações de mediação simbólica, geradas a partir do sistema de comunicações em redes digitais, que influenciam o comportamento, a percepção do mundo e as relações sociais de novo tipo que emergem e se impõe na mesma proporção em que cresce o acesso da população mundial aos novos meios de comunicação-relação rede. As mensagens lançadas às redes de comunicação influenciam comportamento, reproduzem valores, moldam nossos modos de vida. Mudança Política na Sociedade-Rede Nesse contexto de crise do sistema de regras e instituições em descompasso com a dinâmica das mudanças, a disputa pelo poder e pela influência sobre consumidores e cidadãos-eleitores também é invadida pelas relações-rede, desestruturando partidos políticos e organizações sociais e políticas tradicionais. A relação entre líderes e liderados, governantes e governados, vendedores e consumidores, não é mais apenas direta, mas sim, cada vez mais mediada pelos sistemas de comunicação digital em rede. A ferramenta estratégica desse novo mercado é a produção e veiculação de mensagens em todos os meios, seja na mídia de massas (TV, rádio, imprensa), remanescente, mas que incorpora a interatividade digital; 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 16/24 seja na mídia segmentada dos novos canais-rede (Internet, computação e telefonia móvel). Essa nova realidade que acontece em escala mundial e conecta todas as regiões e indivíduos do planeta através de redes digitais, abala as estruturas do poder e suas instituições, exigindo um novo tipo de Estado, que incorpore a lógica das redes, o “Estado-rede”, em experimentação e crise na Europa unificada de hoje. As relações-rede, como já dito, são aleatórias, assincrônicas, multidirecionais, interativas, não lineares, fragmentadas e sugerem níveis de complexidades que sequer se podem imaginar hoje quando essa realidade ainda é muito recente. Poder Simbólico na Sociedade-Rede Nesse novo sistema social a produção e a veiculação de mensagens envolve relações de poder. O uso estratégico das redes de comunicação por agentes sociais, econômicos e políticos, visando influenciar condutas e atitudes políticas, sociais e/ou de consumo, tornou-se parte do novo jogo do poder econômico e político no mudo. Antes se falava em sindicatos poderosos, partidos poderosos, empresas poderosas, hoje se fala em polos de poder distribuídos pelo tecido social, envolvendo ONGs, movimentos sociais, religiões, mídia, dentre outras forças em operação na cena do poder nacional e internacional. Entender como funcionam esses polos de poder e como se estabelecem as relações de poder numa sociedade que se articula em redes é condição para enxergar e aproveitar oportunidades e escapar da condição de vítima ingênua do jogo de interesses alheios. Autores que estudam essa problemática desenvolveram um modelo sistêmico para explicar de forma esquemática e sintética o que chamam de circuitos culturais, esse modelo descreve a forma como circulam as trocas simbólicas no ambiente das relações-rede. O diagrama contém cinco pontos que representam momentos do processo de circulação dos símbolos no circuito. São eles: a produção 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 17/24 (ou reprodução), o consumo, a regulação, a representação e a identidade. A produção decorre de ações de conversão de algo, material ou não, num produto simbólico distinto daquilo do que lhe deu origem. Isto é capital simbólico, ou produção de riqueza de novo tipo. O consumo desse “produto” acontece quando o mesmo é gasto ou usado, isto é, quando o produto simbólico influencia atitudes e/ou expectativas e vontades dos receptores como reação ao estímulo induzido pelo impacto do bem simbólico sobre seus sentidos. O momento da representação nesse processo de circulação é resultado da associação dos sentidos e da percepção do receptor ao bem simbólico. Os artefatos simbólicos resultam de imagens ou representações projetadas pelos seus produtores-emissores do bem- mensagem, com o objetivo de captar a identificação dos receptores, e, com isso, estimular o consumo, o apoio político, ou a formação de comunidadesreais ou virtuais, quando ocorrem por geração espontânea de usuários movidos por relações não pragmáticas, como as produzidas por agentes políticos ou de mercado. Os receptores, ao seu tempo, identificam-se ou não com a representação contida na mensagem, interpretam os códigos simbólicos que recebem e os leem de formas aleatórias e imprevisíveis, recriando-as e repondo-as em circulação, conferindo- lhes novas “embalagens”. A identificação, ou identidade, corresponde 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 18/24 à forma como os sujeitos se posicionam em relação às representações em circulação no mercado de bens simbólicos. Assim, os produtores- emissores tentam captar a identificação dos receptores com suas mensagens, conforme sua capacidade de seduzir o público com suas mensagens. Os pontos-momento do processo se relacionam em quaisquer sentidos e direções, sem obediência a qualquer lógica ou rotina, estabelecendo relações de interdependência e influência recíprocas. Cada ponto, no entanto, difere dos demais pela forma como se liga aos outros. Qualquer lugar pode servir de entrada e saída do circuito. Representação Tridimensional do Circuito da Cultura A malha desse circuito envolve os indivíduos numa tempestade de signos permanente e intensa. O sujeito social contemporâneo assimila os significados produzidos pelas representações lançadas na rede e atribui sentidos às suas percepções e experiências. O indivíduo se localiza no espaço-tempo através das referências que o cercam e sente-se psicologicamente seguro ao construir um conjunto de referências simbólicas que lhe garantem estabilidade emocional, na medida em que se identifica com as representações correspondentes às suas expectativas e desejos. Suas expectativas e desejos, no entanto, também nascem sob influência dos estímulos recebidos pelo bombardeio de símbolos a que esse indivíduo é submetido por estar exposto ao ambiente social simbólico que o diagrama representa graficamente. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 19/24 A eficácia dos bens simbólicos como mensagens indutoras de comportamentos pode ser medida por sua capacidade de influenciar indivíduos pela identificação com os significados e as representações construídas. Vejamos um exemplo desse mecanismo operando na área do marketing viral. No ano de 2012 a Coca Cola lançou uma campanha publicitária a partir das redes sociais. O nome da campanha era “Descubra sua Coca Cola”. A campanha consistia em disponibilizar aos usuários do Facebook, por exemplo, a possibilidade de substituir a marca Coca Cola Zero, na latinha de refrigerante, pelo seu nome ou pelo nome de outra pessoa. Entrando na página da campanha no Facebook, o usuário clicava num aplicativo que substituía a marca por seu nome. Após executar essa operação o aplicativo publicava na rede social um banner da latinha com seu nome impresso no lugar da marca. O slogan da campanha era “Quanto mais Coca Cola melhor”. Esse slogan, portanto, passava a conter nome impresso na lata em substituição. Em consequência, se o nome do usuário fosse João, o 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 20/24 slogan se convertia em “Quanto mais João melhor”. Demais elementos gráficos e visuais da latinha e do anúncio permaneciam idênticos no banner, de modo a conectar a mensagem pessoal do usuário com a identidade visual da Coca Cola. Amigos do usuário que se identificou com a brincadeira passavam a curtir e compartilhar a latinha-banner e, em seguida, faziam a sua, criando uma teia viral de difusão gratuita da marca Coca Cola no Facebook. Não tardou a surgir iniciativas paralelas de usuários da Internet, satirizando a campanha e publicando banners análogos com mensagens tais como: “Quanto mais água melhor”, impresso numa latinha sem rótulo sob fundo branco. Ou, “Quanto mais Skol melhor”, impresso sobre a latinha de cerveja. Outra mensagem que circulou na rede ironizava a campanha com um banner contendo um “X” sobre a latinha e contendo o slogan “Quanto menos marketing viral no Facebook melhor”. Inúmeras outras iniciativas similares se reproduziram pela rede e, não obstante o recado crítico, todas induziam o usuário que visse esses banners em suas páginas, a se lembrar da campanha da Coca Cola. 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 21/24 A etapa seguinte da campanha consistiu de lançar às prateleiras dos supermercados os produtos Coca Cola com nomes de pessoas impressos no lugar da marca no rótulo da embalagem do refrigerante. Ao deparar-se com a gôndola de refrigerantes no supermercado, os consumidores passavam a procurar embalagens com seu nome, alavancando as vendas. Das redes sociais a campanha invadiu as telas da televisão, massificando-a e ampliando a busca pela página da Coca Cola no Facebook, por consumidores ávidos para carimbar seu nome na latinha virtual. Esse exemplo é emblemático de um processo que ocorre em profusão na sociedade simbólica em que vivemos, envolvendo indivíduos nas suas relações sociais reais e virtuais. Trata-se de uma campanha de marketing comercial. No entanto o fenômeno não se limita às campanhas de marketing concebidas e produzidas por empresas sofisticadas. Em escalas distintas, esse processo se reproduz e multiplica em dimensões exponenciais, o tempo todo, no mundo todo. A aceitação e a conversão das mensagens recebidas em atitudes por parte dos receptores é da livre escolha de quem opta por aderir às representações postas em circulação no sistema pelos construtores- emissores de mensagens. As posições de jogo assumidas pelos indivíduos traduzem-se em identidades individuais ou grupais, e, em escala coletiva, podem ser assumidas por grupos sociais, comunidades regionais ou nacionais. A percepção da realidade pelos indivíduos contemporâneos confere centralidade aos mecanismos de produção de representação e construção de identificações, pois os criadores de significados e representações, dessa forma, assumem a posição de jogo de “protagonistas” da história numa sociedade supersimbólica. O sistema cultural, e, dentro dele a comunicação, numa sociedade com essas características, adquire a função de motor fundamental das dinâmicas sociais. O sociólogo alemão Max Weber, premonitório, anteviu a influência dos fatores subjetivos sobre a ação social humana muito antes da invenção 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 22/24 da televisão. Na obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” , Weber mostra que o protestantismo – representação simbólica de natureza religiosa, teria exercido função importante na formação do espírito empreendedor dos empresários alemães. Na sociedade simbólica das relações-rede, o poder igualmente assume contornos simbólicos, pois as disputas políticas também são travadas através das relações de mediação social no contexto dos circuitos da cultura. A disputa pelo poder econômico e político, portanto, também é uma guerra simbólica. Suas armas, dentre outras, são as tecnologias do marketing e da comunicação multimídia. Precisamos compreender a sociedade em transformação • As mudanças tecnológicas, ao longo da história, antecederam grandes mudanças econômicas, sociais, políticas e culturais. • O paradigma estruturador desse novo sistema é o das relações-rede • Por relações-rede, entendem-se relações sociais entre indivíduos e/ou grupose organizações, estabelecidas tal como acontecem nas redes de computadores e na internet. • O meio digital possibilita a ampliação em larga escala da quantidade de canais disponibilizados a usuários de perfis diversos • Torna-se possível ainda, com a tecnologia digital, a interatividade e a multidirecionalidade da comunicação entre emissores e receptores • Nesse novo mercado da competição global aberta, um grupo limitado de corporações transnacionais concentra a liderança dos mercados de computação, de telecomunicações, de biotecnologia e da química fina; 04/04/2019 2. Redes Sociais na Era Digital file:///C:/Users/Admin/AppData/Local/Temp/Rar$EXa0.768/SOCIEDADE_E_CONTEMPORANEIDADE_990102/aula_2.html 23/24 • A capacidade de pesquisar, selecionar, classificar, analisar e interpretar informações e convertê-las em conhecimento tornou-se um produto-serviço de alto valor agregado nesse sistema; • A comunicação on-line em temo real comprime o tempo-espaço, alterando a percepção que as pessoas têm da realidade • Assumimos a condição de civilização humana a partir do momento em que abandonamos o uso da violência bruta para resolver conflitos e criamos organizações e regras de convivência não violenta; • Cinco pontos que representam momentos do processo circulação dos símbolos no circuito. São eles: a produção (ou reprodução); o consumo; a regulação; a representação e a identidade CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GAXIE. D. Le cens caché. Inégalités culturelles et ségreation politique. 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