Prévia do material em texto
SEMANA 8: Cumprimento de sentença por obrigação de fazer, não fazer ou para entrega de coisa. Meios Executivos. Impugnação. CONTEÚDOS: 1 Regras para o cumprimento da sentença que imponha obrigação de fazer, não fazer ou para entrega de coisa. 2 A peça inaugural, o seu deferimento pelo Magistrado e a sequência do procedimento. 3 A impugnação e os temas que nela podem ser ventilados. 4 Os meios executivos que podem ser fixados para auxiliar no cumprimento da obrigação. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA Obrigação de fazer e não fazer 1. Regras para o cumprimento da sentença que imponha obrigação de fazer, não fazer ou para entrega de coisa Às três obrigações dá-se o nome de tutela específica, pois o que se busca é exatamente o cumprimento da obrigação. Entretanto, eventualmente, pode ser que não seja possível o cumprimento da obrigação, razão pela qual, nessa hipótese, a tutela específica será transformada em tutela substitutiva. O art. 497 do CPC trata das sentenças que julgam ações que tenham por objeto as obrigações de fazer ou de não fazer, dispondo que (i) o juiz está obrigado a conceder a tutela específica da obrigação como regra geral e, (ii) ao condenar o réu na obrigação, o juiz deverá determinar providências concretas que assegurem o adimplemento (tutela pelo resultado prático equivalente), valendo ressaltar que (iii) é possível a concessão de tutela provisória que, inclusive, poderá ser reforçada pela multa prevista no art. 537 do CPC ou através de qualquer outra medida adequada para a efetivação da tutela provisória, nos termos do art. 297 do CPC e, por fim, (iv) poderá ocorrer a conversão da tutela específica em tutela substitutiva, nos termos do art. 499 do CPC, que ocorrerá em duas hipóteses: (a) a requerimento do credor ou (b) quando a prestação específica se tornar impossível de ser cumprida OBS 1: Tutela específica preventiva (art. 497, parágrafo único, CPC). OBS 2: Quando for o caso de tutela provisória, o objetivo da demanda poderá ser alcançado ainda na fase de conhecimento, não havendo, sequer, a necessidade de se utilizar o procedimento previsto no art. 536 do CPC, limitando-se a sentença a confirmar aquilo que já se fez. Theodoro Jr. (2015:256) afirma que o devedor fica obrigado a realizar a prestação em favor do credor, que pode ser de caráter positivo, quando se tratar de obrigação de fazer (ação), ou de caráter negativo, quando se tratar de obrigação de não fazer (abstenção). A prestação de fazer pode ser fungível, quando puder ser realizada por qualquer pessoa, ou infungível, quando a prestação de fazer for personalíssima. Na obrigação de dar (ou de entrega de coisa), a prestação consiste na entrega ao credor de um bem corpóreo, seja para transferir-lhe a propriedade, seja para ceder-lhe a posse, seja para restituí-la. E, em caso de inadimplemento, cabível se torna o cumprimento de sentença para exigir a entrega da coisa (art. 498). 2. A peça inaugural, o seu deferimento pelo Magistrado e a sequência do procedimento Nos termos do art. 536 do CPC, quando o objeto da condenação for uma obrigação de fazer ou não fazer, far-se-á o cumprimento da sentença nos termos do referido artigo. Todavia, vale mencionar que o referido artigo não prevê especificamente um procedimento executivo, mas meios materiais de se fazer cumprir a obrigação (sentença ou decisão interlocutória) certificada no título judicial, quando não cumprido de forma espontânea. O início da fase de cumprimento de sentença de obrigação de fazer e não fazer, diferentemente da obrigação de pagar quantia certa, pode se dar de ofício, determinando o juiz as medidas executivas que entender necessárias à satisfação do direito do credor (§ 1º do art. 536 c/c art. 2º do CPC – princípio do impulso oficial). Entretanto, nada impede que o demandante requeira o início da fase de cumprimento de sentença através de simples petição. Convém ao juiz determinar um prazo para o cumprimento da obrigação, caso não tenha sido estipulado na sentença. E, determinado o prazo para cumprimento, deverá o demandado ser intimado para o cumprimento. Vencido o prazo para o cumprimento da obrigação, surgem duas possibilidades ao Exequente: (i) requerer a realização da prestação por terceiro, à custa do devedor, ou (ii) reclamar perdas e danos. Em caso de descumprimento da obrigação, “o executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando injustificadamente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo da sua responsabilização por crime de desobediência”. Na obrigação de entrega de coisa, (i) o juiz na sentença concederá a tutela específica, fixando prazo para cumprimento da obrigação (art. 498). (ii) Com o trânsito em julgado, o executado será intimado para cumprir a sua obrigação, no prazo estabelecido em sentença (art. 538, § 3º c/c art. 536, § 4º). (iii) Decorrido o prazo sem o cumprimento da obrigação, será expedido em favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse (art. 538). OBS: entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade (parágrafo único do art. 498). OBS: não encontrada a coisa a ser entregue, converter-se-á a obrigação em perdas e danos, na forma do art. 499. OBS: a existência de eventuais benfeitorias, deve ser alegada na fase de conhecimento, especificamente em contestação, de forma discriminada e com atribuição, sempre que possível e justificadamente, do valor respectivo (§ 5º do art. 917), conforme determina o art. 538, § 1º, sob pena de preclusão (ressalvada a possibilidade de se obter a reparação através de ação própria), o mesmo ocorrendo com o direito de retenção (art. 538, § 2º). 3. A impugnação e os temas que nela podem ser ventilados Aplicação do art. 525 do CPC, por força do § 4º do art. 536 do mesmo diploma legal. OBS 3: matérias alegáveis são aquelas previstas no § 1º do art. 525, a exceção de incorreção da penhora e da avaliação do bem penhorado (IV), bem como a prevista no § 1º do art. 537. 4. Os meios executivos que podem ser fixados para auxiliar no cumprimento da obrigação 5. Multa coercitiva (astreintes) Prevista no art. 537 do CPC, é medida de pressão psicológica, que poderá ser aplicada tanto na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, quanto na fase de cumprimento de sentença (execução). A periodicidade e o valor da multa podem ser modificados a qualquer tempo pelo juiz, inclusive de ofício, pois não se trata de verba que integra originariamente o crédito da parte, servindo de medida coercitiva. O STJ, inclusive, já se posicionou no sentido de que a multa não faz coisa julgada material, podendo, portanto, ser revista a qualquer momento, no caso de se revelar insuficiente ou excessiva, conforme dispõe o § 1º do art. 537, CPC. Logo, é possível que a multa possa ser aumentada ou reduzida, o que se justifica por circunstâncias supervenientes quando, por exemplo, o juiz entende que o valor fixado não está cumprindo o seu papel, qual seja, o de pressionar o devedor ao cumprimento da obrigação. Vale observar que, caso o juiz verifique a impossibilidade de cumprimento da tutela específica desde a prolação da sentença, não poderá manter na execução a exigência da multa, contudo, se a impossibilidade for superveniente a condenação a prestação, por culpa do devedor, a multa subsistirá até a data em que a prestação se tornou irrealizável, nos termos do art. 500 do CPC. Em se tratando de modificação ou exclusão da multa, dispõe o § 1º do art. 537do CPC que a multa vincenda pode ser alterada em seu valor ou periodicidade, quando o juiz observar que se tornou insuficiente ou excessiva (I) ou poderá excluir a multa, quando o executado demonstrar cumprimento parcial superveniente ou justa causa para o seu descumprimento. OBS 3: A ninguém é dado beneficiar-se da própria torpeza. OBS 4: a multa é restrita às obrigações fungíveis, diante do previsto no art. 247 do CC. OBS 5: é possível executarastreinte fixada em decisão de tutela provisória, conforme se depreende do § 3º do art. 537 do CPC, mas o levantamento da quantia somente ocorrerá após o trânsito em julgado e desde que favorável ao credor. O termo inicial de incidência da multa, nos termos do § 4º do art. 537, será desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado, e a configuração do descumprimento, dependerá, conforme entendimento sumulado do STJ (Enunciado nº 410), da prévia intimação do devedor a realizar a obrigação. OBS 6: Súmula 362 STJ. OBS 7: Não cabe juros de mora.