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MPF - 2013
6/27/2014
6/27/2014
TRF4 - 2012
A C U R S O
ENFASE
6/27/2014
TRF4 - 2012
A C U R S O
ENFASE
Aula 01
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.
Sumário
Direito Internacional	1
Introito	1
Fontes	3
Tratados	4
Direito Internacional
Direito Internacional
Voluntarismo e Objetivismo	18
#
www.cursoenfase.com.br
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www.cursoenfase.com.br
Aula 01
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.
9 Orientações Gerais
1s.	Bibliografia para concursos públicos
Direito Internacional Público: Francisco Rezek ou Valério Oliveira Mazuoli.
Direito Internacional Privado: Nádia de Araújo
Introduction to International Criminal Law - Mohamed Cherif Bassiouni (não está traduzido para o português; recomendado para ao MPF, em virtude de Eugênio José Aragão, membro da banca, adotá-lo para confecção das questões).
2^.	Dicas
Atualmente, Direito Internacional, seja público, seja privado, tem sido cobrado com proporção considerável nos concursos, motivo por que deve ser estudado com afinco;
Quando nada se disser acerca do Direito Internacional, isto é, se é público ou privado, convenciona-se e conclui-se que está a falar-se do Direito Internacional Público;
Direito das Gentes é um meio, de verve pernóstica, de referir-se ao Direito Internacional.
Direito Internacional Público
Introito
É o conjunto de normas que regem as relações de direito público da sociedade internacional. Da conceituação extrai-se como pedra de toque o significado de 'sociedade internacional'.
Tendo em vista a formação histórica do estado nacional, as sociedades nacionais caracterizam-se por relações de coordenação (horizontais) e de subordinação (verticais), nas quais o Estado tem o monopólio do poder coercitivo.
Isso não ocorre nas sociedades internacionais, uma vez que, para a existência de estados soberanos, veda-se a existência de um ente supremo. Na teoria das relações internacionais, condensa-se tal raciocínio pelo axioma: "onde há soberania, não pode haver supremacia".
Portanto, a sociedade internacional diferencia-se, estruturalmente, das nacionais em razão, justamente, da inexistência de um ente supremo detentor de autoridade
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subordinante. Como repercussão prática dessa distinção surge o processo de aplicação forçada das normas jurídicas no plano internacional.
Lembremo-nos, nesse ponto, que as sociedades nacionais situam-se no plano da substituição no tocante à aplicação do direito. É dizer, antes de indivíduos exercerem seus arbítrios conforme lhes convêm para a solução de um conflito havido entre eles, o Estado substitui a ambos, realizando o enquadramento do imbróglio surgido ao ordenamento jurídico preexistente.
No plano internacional, as normas jurídicas aplicam-se mediante autotutela ou autocomposição.
Exemplo: retorsão econômica confeccionada pelo Brasil, após autorização da OMC, contra os Estados Unidos na ordem de bilhões de dólares em razão de subsídios concedidos pelo governo norte-americano a produtores de algodão.
Na situação posta sob análise, a Organização Mundial do Comércio não exerce poder jurisdicional. Ao revés, faz as vezes de corte arbitral. Autoriza o Brasil a realizar a retaliação econômica aos EUA, pois, no caso, entendeu que as medidas norte-americanas estavam em dissonância com as normas da própria OMC. Há, aqui, autocomposição (jurisdição arbitral dependente de prévio consentimento, concedida institucionalmente pelos Estados quando da adesão às regras da organização). Frise-se, em tempo, que a execução da decisão, contudo, ficará a cargo do Estado vencedor da controvérsia.
Poder-se-ia remeter o pensamento à Corte Internacional de Justiça. De alertar-se que esta somente exercerá jurisdição se os Estados anuírem a isso. Caso o Estado sucumbente não der cumprimento espontâneo ao julgado, o máximo a que se pode chegar é, por força do estatuto da ONU, se o Conselho de Segurança da ONU entender que esse descumprimento põe em risco a segurança e a paz internacionais, a incidência de medida coercitiva para o cumprimento desse julgado (espécie de protoexecutoriedade que, ainda, não aconteceu).
Tudo isso demonstra a diferença estrutural entre as sociedades nacionais e a internacional, o que não significa, contudo, que nesta última impere uma total anarquia. Avive-se não ser o descumprimento das normas que atestará a efetividade, ou não, do direito internacional. Tampouco, será a distinção de estrutura entre as sociedades nacionais e internacionais.
Daí, pode-se dizer que o direito internacional adapta-se à sociedade que pretende reger e consegue traduzir a medida possível de ordem num contexto de ausência de autoridade central subordinante. Entretanto, não se deve partir da premissa de inexistência de falta de obrigatoriedade do direito internacional, porquanto, exatamente em razão de
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diferenças entre as sociedades, seu sistema de coerção é peculiar, próprio se comparado ao direito interno.
Fontes
O caminho mais curto à fixação das fontes do direito internacional, por meio da qual ele exerce seu poder de coerção, é a leitura do artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.
Todos os estados membros da ONU fazem parte do Estatuto da Corte Internacional de Justiça. Contudo, nem todos aceitam sua jurisdição. Isso porque integrá-lo, implica não essa aquiescência jurisdicional, mas, sim, a possibilidade de eleição de juízes, a necessidade de contribuição para o orçamento, bem como o reconhecimento de sua legitimidade institucional.
Verbi gratia, o Brasil, posto que faça parte do estatuto da Corte, reserva-se ao direito de, diante de um caso concreto no qual seja demandado, escolher se irá querer a aplicação da jurisdição da Corte Internacional de Justiça. A Argentina, em contrapartida, subscreve uma cláusula facultativa do estatuto que lhe outorga jurisdição obrigatória, por meio da qual qualquer Estado que queira processá-la poderá fazê-lo, contanto que seja signatário da mesma cláusula.
As fontes do Direito Internacional são: (i) tratados; (ii) costumes e (iii) princípios gerais do direito.
Artigo 38
A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as controvérsias que sejam submetidas, deverá aplicar;
as convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
o costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito;
os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
as decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59.
A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes.
Fala-se, também no referido artigo 38, na doutrina publicista, nas decisões judiciais (jurisprudência) e na equidade (caso aos Estados convenha que ela seja utilizada).
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Entretanto, não se pode taxá-lasde fontes do Direito Internacional. Antes, consubstanciam- se em meios auxiliares de interpretação do Direito Internacional.
Modernamente, a doutrina assevera que certas decisões de organizações internacionais, bem como certos atos unilaterais de Estado podem, em certas circunstâncias, constituir-se em fontes do Direito Internacional.
Vaticina-se, nessa senda criativa, que o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, em que pese ter tido a pretensão, quando de seu nascedouro, de taxatividade, a bem da verdade, coetaneamente, mostra-se como numerus apertus (exemplificativo).
Tratados
a.	Conceito
Consistem em acordos formais entre dois ou mais sujeitos de direito internacional público, regidos por tal ramo do direito, com o escopo de criar de direitos e obrigações.
Inicialmente, cumpre destacar ser irrelevante, para o direito internacional, a variação terminológica de tratado, acordo, convenção, protocolo, estatuto, etc. Isso porque sua diferença primordial habita, essencialmente, no campo diplomático. Importante mesmo é conhecer a fundo os pressupostos que tornam determinado texto no acordo formal acima conceituado.
Sem embargo, de atentar-se que a declaração (exemplo: Declaração Universal dos Direitos Humanos) não se confunde com um tratado. A declaração é um enunciado de propósitos normativos. Cuida-se de documento parajurídico que se cria a partir da inexistência de um consenso, ou de falta de oportunidade, para a celebração de um tratado na mesma linha de conteúdo. Os Estados, então, redigem esse texto (declaração) com o fito de gerar uma preclusão política, ou seja, uma vedação ao retrocesso.
Imperioso lembrar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não se transmudou alquimicamente em um costume, porquanto manteve sua essência formal de declaração. Na verdade, criou-se em torno da aludida declaração um costume. Vaticina-se, portanto: a Declaração Universal dos Direitos Humanos não tem efeito vinculante.
b.	Análise do Conceito
(i)	Acordo Formal
Veda-se a confecção de tratado oral. O documento deve, pois, ser escrito. Muitas vezes, engendra-se uma analogia entre o direito dos tratados e o direito dos contratos, o
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que, nalgumas ocasiões, implica erro crasso. Assim o é porque, ao contrário do direito civil, em que se aceita a avença oral quando a lei não dispuser de modo diverso, no direito das gentes, somente existe tratado escrito. E isso é absoluto.
(ii) Entre dois ou mais sujeitos
Os Estados continuam a ser os sujeitos primários do Direito Internacional indubitavelmente. Nada obstante, desde o início do século XX, quando se consideravam como sujeitos os Estados, a Santa Sé e os beligerantes reconhecidos, as organizações internacionais1, as quais não são sinonímia de organismos internacionais, ganharam notável relevo. Passaram a ser, de regra, sujeitos de Direito Internacional.
Citam-se, também, a Santa Sé/Vaticano (embora não sejam a mesma coisa), os beligerantes e insurgentes reconhecidos, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e o indivíduo (pessoa humana)
• Indivíduo
Com efeito, a pessoa humana trata-se de um sujeito sui generis, haja vista que a personalidade no direito internacional público pressupõe a presença de duas capacidades, a saber, jus tractatum (capacidade de celebrar tratados) e jus legationis (capacidade de relacionar-se institucionalmente com outros sujeitos de direito internacional público, o que será válido, mutatis mutandi, para outros sujeitos) .[1: 	Os indivíduos, a essa época, eram dignos de ralos comentários, os quais se limitavam a dizer que eles não eram sujeitos, mas, sim, objetos do direito internacional.][2: 	Discute-se sobre se o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, efetivamente, detém essas capacidades. Sabe-se que, nalguma medida, ele as tem.]
E essa pessoa humana, malgrado não ter nenhuma dessas duas capacidades, que, por conta da evolução do direito internacional, ao qual se incorporou o direito internacional dos direitos humanos, transformou-se em sujeito pelo fato de ser protegida contra as oposições do Estado. E é pelo fato de a teoria não ter sido desenvolvida para abarcar o indivíduo que esse se transmudou em um sujeito sui generis.
Observação: obsta-se a que o indivíduo celebre tratados.
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• Estados
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Como dito, os Estados são os sujeitos primários do direito internacional. Seus elementos constitutivos são: [1] território; [2] povo; [3] governo com atributo da soberania.
Observação: a soberania é incluída, por alguns autores, como atributo do governo; por outros, como elemento.[3: O professor Marcelo Miller entende-a como atributo.]
A soberania não está perdida nas brumas do tempo. É, pois, um arranjo político- jurídico montado em determinado momento da história como uma opção de organização de um sistema de estados (como se a soberania tivesse uma certidão de nascimento).
Essa opção político-jurídica nasce na Europa do século XVII, quando da produção dos dois Tratados da Vestfália (de Münster e de Osnabrück), os quais corporificam tal opção ao final da Guerra dos Trinta Anos.
Por uma série de circunstâncias fáticas, surgem os Estados Nacionais, o que provoca a reação de dois focos de poder: a Santa Sé e o Sacro Império Romano-Germânico.
À época da Idade Média, a Igreja detinha muito poder, o qual, em parte, era exercido pelo fato de o próprio poder estar fragmentado. Daí, com o surgimento dos Estados Nacionais, a Santa Sé começou a perder seu poder. Como medida reativa de urgência, propalou que o poder secular estava submetido ao poder espiritual, que se exercia pelo papa, motivo pelo qual a ele se devia obediência.
Por sua vez, o Sacro Império Romano-Germânico externou que o Imperador era o sucessor jurídico de Roma, que, na antiguidade, tinha supremacia. E, dada essa sucessão, o Imperador reivindica a existência desse poder anteriormente exercido por Roma. Por isso, exigia subordinação dos Estados que começavam a se formar.
A Guerra dos Trinta Anos era, precipuamente, religiosa. Contudo, tinha um ideal político como pano de fundo, o qual se traduz pela resposta dos Estados que estavam se formando aos focos de resistência (Santa Sé e Império Romano-Germânico). Dessa feita, quando a Paz se realiza, de fato, a preocupação central dos vencedores foi a de não haver a subordinação de um Estado a outro.
Nesse contexto, criou-se a fórmula de poder segundo a qual cada Estado exercia seu poder sob determinado espaço e trataria aos demais, ainda que de menor poderio fossem, de maneira isonômica. Ninguém era A isso se chama soberania.
Visto isso, traz-se a lume o conceito de soberania: monopólio do poder coercitivo no plano interno (ausência de compartilhamento de poder jurídico) e submissão direta à ordem jurídica internacional no plano externo (inexistência de mediadores, tais como o papa ou o imperador).
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Essa fórmula da soberania é que se encontra na base de compreensão do funcionamento do direito internacional público tal como é conhecido hodiernamente.
Por fim, insta esclarecer que os Estados têm jus tractatum pleno. Isto é, podem celebrar tratados de qualquer matéria.
• Organizações internacionais
As organizações internacionais são um fenômeno relativamente recente na sociedade internacional. Traduzem o fenômenoassociativo dos Estados no plano internacional, pois, uma flexão de suas relações no plano externo consiste, justamente, em eles associarem-se institucionalmente. Outra forma de associação entre os Estados é o concerto, que se caracteriza como o ajuste de posições entre si.
A mudança do paradigma associativo dos concertos para as organizações internacionais ocorre no século XX, a partir de quando as tais começaram a proliferar exponencialmente (exemplo: MERCOSUL, ONU, OMC, OEA, etc.).
As organizações terão capacidade de celebrar tratados (jus tractatum) e de relacionar-se com outros sujeitos (jus legationis) na medida em que os estados-partes lhes reconhecerem tais capacidades no ato constitutivo.
O reconhecimento dessas capacidades pelos Estados é modulado conforme a natureza da organização. De regra, confere-lhe, minimamente, a capacidade para realização de um tratado, bem como para relacionar-se com um sujeito internacional (exemplo: Estado onde a organização vai sediar-se).Dica
Em provas, usualmente, pede-se ao candidato para dizer qual órgão é uma organização internacional. Recomenda-se o seguinte: caso na sigla apareça a letra 'O' (exemplo: OMC, OEA, UNESCO, etc.) seu significado será 'organização', que tem personalidade jurídica e, portanto, normalmente, será uma organização internacional. Nem todas as organizações internacionais, contudo, apresentam a letra 'O' (exemplo: União Européia (UE), MERCOSUL, FMI, Banco Mundial, etc.). Nada obstante, não é organização internacional G-20, Unicef (Fundo das Nações Unidas), entre outros.
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Os formatos das organizações internacionais são bastante fluidos, variáveis. Podem apresentar um viés clássico (ONU, OEA, UNESCO, OIT, etc.), o qual se baseia no sistema
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parlamentarista do Governo (assembléia, conselho e secretariado) e, normalmente, não se repete nas organizações mais modernas, tais como o MERCOSUL.
• Santa Sé
Morfologicamente, a Santa Sé consubstancia-se na união pessoal do Papa com a cúria romana (alta administração da Igreja Católica Apostólica Romana). Ela é bem mais antiga que o Vaticano e era responsável pela administração de vários feudos, os quais, ao desaparecerem com a unificação da Itália, implicaram seu desabrigo; é dizer, não tinha mais a Santa Sé onde se situar. Após muita insistência, realizou um acordo com Mussolini, que lhe deu um pedaço de Roma, hoje o Vaticano, revestindo-o de soberania.
Os Estados, de maneira geral, não têm uma função delimitada. O Vaticano, ao contrário é um estado de natureza funcional, qual seja, servir de base à Santa Sé. Fora da função para a qual foi criado, o Vaticano não tem qualquer autonomia.
Observaçãoi: a Santa Sé, por força de um costume, tem personalidade jurídica e é reputada como sujeito de direito internacional. Talvez isso se caracterize como o principal e mais eloquente costume, em direito internacional, de que se tem notícia.
Observação2: a Santa Sé pode, sim, celebrar tratados, aos quais se empresta a denominação de "concordata". O Brasil, por exemplo, tem uma concordata com a Santa Sé, prevendo a ministração de ensino religioso nas escolas públicas brasileiras.
Observação3: o Vaticano, também, tem a possibilidade de celebração de tratados, de maneira mais limitada, ressalve-se.
• Insurgentes e beligerantes
Franco desuso. Os últimos reconhecidos como tais foram os sandinistas da Nicarágua. Diferenciam-se entre si apenas pelo grau de estrutura que apresentarem, pois os beligerantes mostram-se mais estruturados em sua missão paramilitar de depor o governo legal de dado Estado.
[4: 	A Revolução Sandinista (em espanhol: Revolución Nicaragüense ou Revolución Popular Sandinista) refere-se ao processo ocorrido na Nicarágua entre 1979 e 1990, sob a égide da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) - assim chamada em memória do guerrilheiro Augusto César Sandino -, envolvendo a luta armada contra o regime ditatorial de Anastasio Somoza Debayle, a derrubada do ditador e os subsequentes esforços da FSLN para reformar a sociedade e a economia do país, mediante a instauração de um governo democrático progressista de esquerda ao longo daqueles onze anos.Disponível em:	<http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Sandinista>. Consultarealizada em 18.02.2014.]
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Existe um regime consuetudinário no direito internacional sobre direitos e deveres conferidos aos beligerantes, quando assim reconhecidos. O mesmo não existe em relação aos insurgentes. Aqui, haverá dependência do ato de reconhecimento, porquanto, o Estado que reconhece determinado grupo como insurgente deverá esclarecer para que finalidade fá-lo.
Como dito, está em claro desuso. Isso porque todos os grupos que podem aproximar- se da classificação como beligerantes/insurgentes não preenchem todos os requisitos. Poder-se-ia citar o ETA (organização que busca a independência do país Basco), contudo, uma vez que tem verve separatista, não se lhe empresta o caráter beligerante, haja vista seu intento não ser o de depor um governo legalmente constituído.
Pelo fato de lutarem contra o governo, os beligerantes/insurgentes são reconhecidos como sujeitos de direito internacional, pois, se no iter do debate mostrarem-se vitoriosos, responderão pelos atos do respectivo Estado no plano jurídico internacional.
No ponto, faz-se menção às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Não foram reconhecidas como beligerantes, embora o quisessem e preenchessem o pressuposto essencial de depor e querer ser o governo. Imagine-se, aqui, que, no curso dos confrontos, o governo colombiano perca várias batalhas, e os atos das FARC ultrapassem as fronteiras da Colômbia. É por força dessa possibilidade que o direito internacional concede aos beligerantes/insurgentes a natureza de sujeito no plano normativo internacional.
Observaçãoi: discute-se sobre se a OLP (Organização de Libertação da Palestina) e a ANP (Autoridade Nacional Palestina) são sujeitos de direito internacional. Inexiste resposta contundente a tal questionamento. No entanto, o professor Marcello Miller entende que a OLP, após as celebrações dos tratados de OSLO, aproximou-se bastante de ser caracterizada como tal.[5: 	É um conglomerado de partidos árabes.][6: 	Os acordos de Oslo foram uma série de acordos na cidade de Oslo na Noruega entre o governo de Israel e o Presidente da OLP, Yasser Arafat mediados pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Assinaram acordos que se comprometiam a unir esforços para a realização da paz entre os dois povos. Estes acordos previam o término dos conflitos, a abertura das negociações sobre os territórios ocupados, a retirada de Israel do sul do Líbano e a questão do status de Jerusalém.Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_paz_de_Oslo>. Consulta realizada em 18.02.2014.]
Observação^ os beligerantes, conquanto possam celebrar tratados e se relacionar com outros sujeitos de direito internacional público, sua capacidade é sensivelmente limitada, porquanto somente poderão acordar sobre questões de direito internacional que versem acerca de conflitos armados, sobretudo com Estados fronteiriços.
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(iii) Regidos pelo Direito Internacional Público
A Convenção de Viena de1969, da qual o Brasil se torna parte em 2009, funciona como um postulado norteador para os tratados que vierem a ser celebrados, os quais, ou estarão fundados nas diretrizes apontadas pela referida Convenção, ou se arrimarão no costume internacional sobre o direito dos tratados, que se baseia na Convenção, mas com ela não confunde.
(iv) Escopo de criar direitos e obrigações Isso resulta nalgumas classificações dos tratados.
• Tratado-lei & Tratado-contrato
É uma classificação cujas utilidade e propriedade têm dificuldade de aceitação pela doutrina. Nada obstante, é bastante mencionada no Brasil.
Tratado-contrato é aquele que estabelece uma relação comutativa entre os Estados- partes, nos moldes, por exemplo, de um tratado de extradição. Por sua vez, Tratado-lei revela-se como o tratado que irá estabelecer um regime jurídico comum aos Estados (exemplo: tratado de direitos humanos).
A problemática surge do fato de que todo tratado-contrato tem um componente de regime jurídico comum, ao passo que todo tratado-lei goza de uma certa comutatividade. Essa situação se agrava em virtude da esterilidade da classificação, porquanto não produz muito mais do que essas palavras.
Ressalva-se, topicamente, a posição do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual se reduziu o escopo de alcance da referida classificação e se entendeu que apenas os tratados-contrato, e não os tratados-lei, situar-se-iam em patamar superior à lei tributária interna para fins de concessão de isenções heterônomas.
TRIBUTÁRIO. ISENÇÃO DO AFRMM EM RELAÇÃO A MERCADORIAS IMPORTADAS SOB A ÉGIDE DO GATT. IMPOSSIBILIDADE.
O mandamento contido no artigo 98 do CTN não atribui ascendência às normas de direito internacional em detrimento do direito positivo interno, mas, ao revés, posiciona- as em nível idêntico, conferindo-lhes efeitos semelhantes.
O artigo 98 do CTN, ao preceituar que tratado ou convenção não são revogados por lei tributária interna, refere-se aos acordos firmados pelo Brasil a propósito de assuntos específicos e só é aplicável aos tratados de natureza contratual.
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Se o ato internacional não estabelecer, de forma expressa, a desobrigação de contribuições para a intervenção no domínio econômico, inexiste isenção pertinente ao AFRMM.
Recurso provido. Decisão unânime.
(REsp 196.560/RJ, Rel. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/03/1999, DJ 10/05/1999, p. 118)
• Tratados de vigência estática e tratados de vigência dinâmica
Tratados de vigência dinâmica são aqueles produzidos para manterem-se em vigor. Ou seja, não esgotarão sua vigência em determinado momento.
Exemplo: tratado de extradição.
Diversamente, os tratados de vigência estática são deveras mais limitados, porquanto somente se aplicarão a situações que se esgotem na sua celebração. Consolidam uma situação já existente.
Exemplo1: tratado de limites, o qual estabelece a divisa entre dois Estados; uma vez celebrado, não mais produzirá quaisquer efeitos para além do marco delimitador territorial.
Exemplo2: tratado de paz.
A eficácia prática da denúncia de um tratado de paz é a decretação da guerra. Todavia, há que se esclarecer que, sendo ela feita por chefe de Estado cujo desejo seja, tão- só, demonstrar seu desapreço pelo chefe de Estado que celebrou o referido tratado, a guerra não será um corolário da denúncia. Entretanto, se acompanhada de todo um discurso político, outra configuração se apresentará. Isso porque a guerra não é imanente à denúncia. Antes, é uma consequência para além dela.
Ademais, cite-se ainda a denúncia a um tratado de limites. Qual a repercussão prática? Nenhuma. As fronteiras estabelecidas, v.g., entre Brasil e Argentina, não retornarão ao status a quo.
c.	Celebração dos T ratados
Alguns autores utilizam-se da expressão treaty making power para referir-se ao poder de celebrar tratados. Todavia, com ele não se confunde. É que o treaty making power diz respeito, sim, à distribuição de competências para a celebração dos tratados. Ou seja, remete a quem dentro do Estado pode obrigar o Estado a celebrar um tratado, e não à própria capacidade em si.
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Nas democracias constitucionais, ordinariamente, a distribuição do poder de celebrar tratados faz-se entre o Legislativo e o Executivo. No Brasil, esse regime distributivo é bastante equilibrado, ao contrário do que ocorre com outros Estados nos quais disparidades são enxergadas.
Quando o ordenamento jurídico de um Estado envolve o Legislativo e o Executivo na celebração de um tratado, imperiosa a convergência de vontades. Daí, a ideia de que um Estado possa retirar-se do tratado pelo arbítrio de um só dos poderes que anuíram à sua celebração não deve soar estranha. Mutatis mutandis, é o que ocorre com o casamento, a sociedade empresária, etc.
Disso resulta a inexistência de celeuma se um dos poderes denunciar o tratado sem a aquiescência do outro (o que será melhor estudado posteriormente). Contudo, alerte-se que tal possibilidade é permeada por discussões em terras brasileiras.
(i) Fases
Compreendem a elaboração do tratado as seguintes fases: [1] firma; [2] aprovação do Legislativo; [3] ratificação e promulgação (como etapa complementar).
• Firma ou Assinatura [1]
Salvo previsão expressa no corpo do tratado, a assinatura não reflete a obrigação de o Estado aceita-lo. Antes, consubstancia-se numa disposição para submetê-lo à aprovação interna. Tem, pois, uma essência ad referendum (pendente de aprovação).
O detentor nato da competência para assinatura do tratado é o Presidente da República (art. 84, inciso VIII, CRFB). Também o são competentes: o Ministro das Relações Exteriores (por força de costume internacional); os embaixadores plenipotenciários (com os Estados nos quais representem o seu) e qualquer pessoa munida de carta de plenos poderes.
A assinatura enseja como obrigação para o Estado a abstenção, enquanto pendente de ratificação, da prática de atos que possam frustrar o objeto e a finalidade do tratado.
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969
Decreto 7.030/2009
Artigo 18
Obrigação de Não Frustrar o Objeto e Finalidade de um Tratado antes de sua Entrada em
Vigor
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Um Estado é obrigado a abster-se da prática de atos que frustrariam o objeto e a finalidade de um tratado, quando:
tiver assinado ou trocado instrumentos constitutivos do tratado, sob reserva de ratificação, aceitação ou aprovação, enquanto não tiver manifestado sua intenção de não se tornar parte no tratado; ou
tiver expressado seu consentimento em obrigar-se pelo tratado no período que precede a entrada em vigor do tratado e com a condição de esta não ser indevidamente retardada.
• Aprovação do Legislativo [2]
No Brasil, faz-se por meio de decreto legislativo. De regra, ao Congresso Nacional é defeso alterar o texto do tratado. Faculta-se-lhe, tão-só, a aprovação com ressalvas, hipótese na qual o Presidente da República a elas deverá ser fiel, transformando-as em reservas, ou, caso as repute descabidas, abster-se da realização do tratado.
O decreto legislativo que aprova o tratado não é suficiente para conferir-lhe eficácia interna; não lhe dá publicidade. Assim o é porque o Presidente da República ainda não manifestou sua posição definitiva e, caso o Congresso lhe desse a eficácia pretendida, estaria a usurpar a competência do Chefe do Executivo.
Nota: tais decretos legislativos,é bom lembrar, não são atos normativos primários.
• Ratificação [3]
Muitos há, equivocadamente, entende que o decreto é forma pela qual se realiza ratificação. Esta, na verdade, consiste num ato internacional, por meio do qual o Chefe do Estado brasileiro manifesta perante seus pares (outros Chefes de Estado) sua adesão ao tratado.
Para rechaçar a ideia do decreto, basta pensar que os outros Chefes de Estado não leem o diário oficial da União. Disso resulta a necessidade de esse formato ratificador abarcar a todos de maneira generalizada, motivo pelo qual se socorre à previsão nesse sentido da Convenção de Viena.
A referida Convenção pontifica serem, essencialmente, três as formas de ratificação dos tratados, a saber: depósito do instrumento (aplica-se a tratados multilaterais), troca de instrumentos (tratados bilaterais) e notificação (incidente sobre ambas as espécies, embora, na prática, prepondere sobre os multilaterais).
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 Decreto 7.030/2009
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Artigo 16
Troca ou Depósito dos Instrumentos de Ratificação, Aceitação, Aprovação ou Adesão
A não ser que o tratado disponha diversamente, os instrumentos de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão estabelecem o consentimento de um Estado em obrigar-se por um tratado por ocasião:
da sua troca entre os Estados contratantes;
do seu depósito junto ao depositário; ou
da sua notificação aos Estados contratantes ou ao depositário, se assim for convencionado.
Nos tratados multilaterais, sempre se prevê um depositário, sendo certo que a ratificação será feita por cada um dos Estados que manifestou sua adesão e entregue a esse depositário.
A troca de instrumentos, eis que imanente aos bilaterais, consiste na troca de ratificação entre os responsáveis pela celebração dos tratados.
A notificação, por sua vez, cuida-se de método menos solene que os demais e realiza- se por meio de um mecanismo de comunicação bastante comum e cotidiano entre os Estados, qual seja, a nota diplomática.
UJ Reserva
Trata-se de um qualificativo do consentimento. Hodiernamente, os grandes tratados antipatizam-se com as reservas, proibindo-as ou limitando-as.
Em regra, o princípio geral da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados intenciona proibi-las. Entretanto, diante da amplitude das exceções, tal vedação cai por terra. Eis as exceções: (i) existência de previsão expressa; (ii) existência de admissão implícita (haverá quando o tratado, sem fazer referência expressa a uma reserva, trouxer num dispositivo a ideia contextual da reserva); (iii) quando o direito de reserva puder ser deduzido da natureza e finalidade do tratado (exemplifica-se com tratado sobre proteção ao meio ambiente, dispondo sobre vários mecanismos protetivos, em vários graus; embora não haja qualquer referência implícita, conclui-se pela possibilidade de reserva em razão de essa finalidade preconizada, dados seus pormenores, não poder ser aceita integralmente pelo Estado).
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 Decreto 7.030/2009
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Artigo 19
Formulação de Reservas
Um Estado pode, ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular uma reserva, a não ser que:
a reserva seja proibida pelo tratado;
o tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas reservas, entre as quais não figure a reserva em questão; ou
nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível com o objeto e a finalidade do tratado.
Em existindo controvérsias acerca da admissibilidade da reserva, compete a cada outro Estado manifestar-se sobre se entende lícita ou não a reserva. Os Estados que a entenderem ilícita terão duas alternativas, as quais declararão ao depositário do tratado: (i) não obstante reputando por ilícita a reserva, o Estado aceita a vigência do tratado, porém, nesse caso, se submeterá à reserva feita pelo outro. Ou seja, o dispositivo que foi objeto da reserva não será considerando vigente entre ele o Estado realizador da reserva; (ii) entende que a reserva atinge um dispositivo essencial do tratado, hipótese na qual declarará que o tratado não está em vigor entre ele e o Estado que fez a reserva.
Exemplo: tratado entre Brasil, EUA, China e Rússia. O Brasil fez reserva ao artigo 2°. A China entende-a lícita, ao passo que os EUA e a Rússia taxam-na de ilícita. Os EUA, todavia, relevam a reserva e, nesse contexto, o artigo 2° não valerá entre ele e o Brasil. A Rússia, diferentemente, caracteriza o artigo 2° como o epicentro jurídico do tratado e, assim, determina a não vigência do tratado entre ela e o Brasil.
• Promulgação [etapa complementar]
O Presidente da República, em havendo ratificado um tratado, promulga-o por meio de decreto. Isso não está positivado. É, portanto, um costume constitucional brasileiro, porquanto o viés do decreto é a veiculação do exercício do poder regulamentar.
CO Monismo & Dualismo
Trata-se de duas teorias, divergentes, acerca da maneira de o direito internacional relacionar-se com o interno.
Para o monismo, inexiste intersecção entre ambos, ou seja, nunca se tocam ou convergem ao mesmo plano. O direito internacional vige entre os Estados, ao passo que o direito interno vige no interior dos Estados. A contrario sensu, asseveram os dualistas que a
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única forma de uma norma internacional produzir efeitos no plano jurídico interno consiste em ela ser incorporada ao ordenamento interno. Assentam ser necessário que o Estado que tenha aderido e ratificado sua anuência ao tratado, em vez de, simplesmente, veicular o decreto com o conteúdo do tratado, promulgar uma lei com o conteúdo formal desse tratado, o qual, então, sofre uma verdadeira transformação. Dessume-se, pois, a essência formalista dos dualistas.
Os monistas, por sua vez, partem de uma premissa heurística diferente da dos dualistas (defensores da independência entre as fontes do direito internacional e do interno e, por conseguinte, das vigências). Afirmam ser o direito, enquanto fenômeno socionormativo, uno, de maneira que a incomunicabilidade por conta da fonte das normas é artificial, como ocorre com qualquer Estado federal, no qual existe unidade no ordenamento jurídico, em que pese a articulação de normas federais e estaduais. Advogam, pois, em favor da articulação harmônica entre o direito internacional o interno.
Opera-se uma cisão ideológica entre os monistas quanto ao conflito de normas internacionais e internas, o que, para os dualistas, é impossível de acontecer. Subdividem-se, conforme a solução para o conflito, em monistas internacionalistas, nacionalistas e moderados.
Atente-se para o fato de que é equivocado pensar que o monismo, com o fito de ser considerado verdadeiro, exigiria que o tratado produzisse efeitos no plano interno independente de qualquer ato-condição das autoridades do Estado. Não é esse o raciocínio correto. Assim, o decreto de promulgação é inteiramente compatível com o monismo.
Monistas e dualistas acordam acerca da seguinte premissa metodológica: se o juiz de um Estado puder resolver a lide que lhe é apresentada aplicando os dispositivos de um tratado internacional assim reconhecido, pode-se dizer que esse Estado é monista.
Dessa feita, é grosseiro, crasso, afirmar que, dada a complexidade do processo de aprovação dos tratados internacionais, o Brasil encampa a tese dodualismo moderado. O Brasil adota, na verdade, o monismo. A promulgação por decreto não transforma o tratado em norma interna, tanto assim que se o Presidente da República denunciar esse tratado, o decreto, acessório que é, seguirá a sorte do principal.
No monismo internacionalista, prevalece, sempre, a norma internacional, cujo lastro pensativo é a pirâmide de Kelsen. Os monistas nacionalistas pontificam não existir direito internacional, mas, sim, direito público externo, sendo aquele um apêndice desse último. No conflito entre tratado e lei interna, esta sempre prevalecerá, independente de sua hierarquia, haja vista ser o tratado um arranjo de conveniência do Estado signatário, que pode a qualquer momento exercer sua soberania e não mais se submeter a ele.
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Trata-se de duas visões perceptivelmente radicais. O monismo temperado parte da premissa de que o Estado é livre para cunhar seu ordenamento jurídico de modo a conferir ao conflito entre norma internacional e norma interna qualquer solução que lhe aprouver. Isso porque, caso desse critério adotado pelo Estado resulte na preterição da norma internacional, essa preterição que redundará numa negativa de vigência da norma internacional sempre poderá ser conduzida ao plano internacional por meio de uma controvérsia suscitada pelos sujeitos de direito internacional e, no plano internacional ao qual tenha sido conduzida, essa controvérsia poderá restaurar a vigência da norma internacional.
Exemplo: tratado de extradição celebrado entre Brasil e Alemanha. Imagine-se que o mesmo, nalgum dispositivo, contrarie nossa Constituição, justamente no qual a Alemanha se baseia para requerer a extradição. O juízo natural para o julgamento da extradição, a saber, o Supremo Tribunal Federal, denega a extradição.
Na situação sob análise, os posicionamentos evidenciam-se da seguinte forma:
	DENEGAÇÃO DA EXTRADIÇÃO PELO STF CUJO PEDIDO BASEOU-SE EM DISPOSITIVO, PRESENTE EM TRATADO INTERNACIONAL DO QUAL O BRASIL É SIGNATÁRIO, CONTRÁRIO À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
	(i) Monista internacionalista
	Decisão absurda
	(ii) Monista nacionalista
	Decisão óbvia
	(iii) Monista moderado
	Decisão correta. Porque, se a Alemanha quiser, poderá responsabilizar internacionalmente o Brasil por descumprir o tratado. E no foro internacional (judiciário ou diplomático) no qual a responsabilidade brasileira vier a ser discutida, não poderá o representante do Brasil contra- argumentar as alegações tedescas com lastro na decisão do STF. A Alemanha pode obter no plano internacional a restauração da vigência do aludido dispositivo. E se isso ocorrer também será reputado por correto pelo monismo moderado.
Coetaneamente, os países da Common Law, genericamente, são dualistas, salvo os Estados Unidos, os quais adotam um dualismo moderado, no qual a norma do tratado pode
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produzir efeito no plano interno se a redação dela evidentemente demonstrar que sua finalidade foi a de produzir efeitos na ordem jurídica interna. Nessa hipótese, terá de ser incorporada ao regramento norte-americano por meio de uma lei.
No Estado que siga o monismo moderado, quando o STF, v.g., nega vigência a um tratado por contrariar a Constituição, tal ato se caracteriza como um ato de exegese do ordenamento interno.
Observação: parte da doutrina, sobretudo na USP, sob influência de João Grandino Rodas, sugeriu que nosso procedimento de aprovação dos tratados traduzisse um dualismo moderado. Sob a ótica do professor Marcelo Miller é pensamento equivocado.
Voluntarismo e Objetivismo
Existem duas grandes teorias acerca da formação (normogênese) do direito internacional público.
A teoria clássica, voluntarista, afirma que o direito internacional público forma-se, apenas, pelo consentimento dos Estados, de sorte que não pode haver obrigação imposta a um Estado sem que, de alguma forma, ele a aceite.
Tal concepção vem sofrendo modificações. Hoje, por exemplo, a ideia de delegação de soberania encontra-se na base de funcionamento da União Europeia. Nesse diapasão, a partir do instante em que o funcionamento do direito internacional público deu sinais de um arrefecimento em sua imbricação com o conceito de soberania, exsurge uma segunda teoria, a do objetivismo.
Para o objetivismo, o direito internacional público surge como resposta objetiva da sociedade internacional às necessidades de normatização. Conquanto seja difícil visualizar essa assertiva numa perspectiva holística, uma vez que, no relacionamento diuturno entre os Estados, o voluntarismo é deveras latente, pode-se enxergar um exemplo do objetivismo na figura jurídica do jus cogens.
A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados prevê que constitui norma imperativa de direito internacional toda aquela que, aceita e reconhecida pela comunidade dos Estados em seu conjunto, não admite derrogação, senão por outra norma de mesma natureza.
Assemelha-se à norma de ordem pública havida no plano interno. Em princípio, é irracional falar em norma imperativa no âmbito de uma sociedade de soberanos. Contudo, dadas as mudanças dessa sociedade, passou-se a comportar uma dimensão de interesse público.
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Nesse cenário, hoje, várias normas (proteção de direitos humanos, manutenção da paz e segurança internacionais, etc.), reconhecidamente, têm a verve de norma imperativa de direito público internacional.
Assim não é inteiramente correto afirmar que o voluntarismo é o paradigma inteiramente dominante quanto à produção das normas de direito internacional público.
Com isso, percebe-se que o plano jurídico internacional, ao comportar normas de caráter imperativo, as quais desse modo foram reputadas por um consenso informal progressiva da comunidade dos Estados em seu conjunto, sofre influxos, em sua normogênese, do objetivismo (também chamado de sociologismo).
Infere-se, portanto, que tanto voluntarismo, quanto objetivismo, tem sua parcela de importância na formação das normas de direito internacional público.
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Sumário
 Fontes do Direito Internacional	1
Tratados	1
Extinção	1
Costume	4
Princípios Gerais de Direito das Nações Civilizadas	4
Demais fontes	5
 Privilégios e Imunidades	6
Imunidades diplomáticas	6
Espécies	7
Imunidades consulares	9
Imunidades Estatais em sentido estrito	10
Imunidades de organizações internacionais 	 12
Direito Internacional
Direito Internacional
Imunidades de chefes de Estado	13
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Fontes Direito Internacional Público
Tratados
O Supremo Tribunal Federal, sem ser claro quanto à teoria adotada pelo Brasil (há manifestações antigas da Corte falando sobre o dualismo moderado; outras, mais antigas ainda, asseveram a encampação do monismo em nosso país), pratica o monismo moderado. Isso porque, essencialmente, admite confronto entre tratado (que, para a Corte, produz efeitos na ordem jurídica interna brasileira) elei.
De modo reiterado, o Pretório Excelso tem entendido que, no plano interno, o tratado tem 'posição hierárquica' equivalente à de lei ordinária. Por consistir em norma internacional, o tratado não está, no plano da validade, inserido no ordenamento interno. Antes, produz efeitos no plano interno, ao que se dá o nome de eficácia.
Nesse contexto, uma lei ordinária posterior que seja contrária ao tratado não o revoga. A bem da verdade, suspende-lhe os efeitos. Assim o é porquanto o tratado foi celebrado entre países (e a mesma força que o introduz o retira). Dessa forma, para haver extinção, imperiosa a ocorrência de uma das maneiras extintivas determinadas como tais pelo direito internacional público.
De igual modo, tratado posterior incompatível com lei ordinária não revoga; suspende-lhe a eficácia. Tanto assim que, se anos mais tarde o Brasil deixar de ser signatário do aludido acordo, a lei ordinária, outrora suspensa, volta a produzir efeitos (recobra a eficácia). Inexiste falar em repristinação, eis que a lei nunca foi revogada.
Por esses motivos, o STF, ao fazer o controle concentrado de constitucionalidade dos tratados, a rigor, não toma como objeto de controle o tratado em si mesmo. Ao revés, utiliza como objeto o decreto promulgador. Não se trata de um erro técnico da Corte, uma vez que é consabida a impossibilidade, em regra, de ter como objeto de controle de constitucionalidade um decreto. Antes, cuida-se de raciocínio segundo o qual: se o tratado é incompatível com a Constituição da República brasileira, o decreto presidencial responsável por sua promulgação e internalização também o é, de maneira que, em ocorrendo a incompatibilidade com a Carta Magna, basta exercer tal juízo sobre o decreto e, automaticamente, o tratado perde sua eficácia no ordenamento jurídico endógeno.
Extinção
A Convenção de Viena de 1969 sobre o Direito dos Tratados estabelece os modos pelos quais serão eles extintos, a saber, o termo (uma vez implementado, está extinto o tratado) e a decisão ab-rogatória (silente o tratado, tal decisão será tomada pela totalidade
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dos Estados signatários, ou, em havendo previsão em sentido contrário, conforme as disposições estabelecidas pela maioria absoluta, por exemplo).
A decisão ab-rogatória pode ser tácita (celebração de outro tratado pelos mesmos Estados com incompatibilidade lógico-jurídica com o primeiro; exemplo: Tratado de Montevidéu de 1980 que instituiu a ALADI em substituição à ALALC) ou expressa.[7: O Tratado de Montevidéu 1980, que instituiu a ALADI, substituiu o Tratado assinado em 18 de fevereiro de 1960, pelo qual havia sido criada a ALALC (Associação Latino-Americana de Livre-Comércio). Com essa substituição foi estabelecido um novo ordenamento jurídico operacional para dar continuidade ao processo de integração, que foi complementado com as resoluções adotadas na mesma data pelo Conselho de Ministros das Relações Exteriores da ALALC.Ambos os Tratados coincidiam nos seus objetivos e tinham como meta final o estabelecimento, a longo prazo, de um mercado comum latino-americano. Sinal dessa sintonia foi a continuidade que se refletiu em duas das decisões adotadas pelo Conselho de Ministros. A primeira delas fazia referência à revisão das concessões outorgadas nos diversos mecanismos de desgravação tarifária do Tratado de Montevidéu 1960, a fim de incorporá-las ao novo esquema, e a segunda, à revisão e adequação das normas vigentes na estrutura jurídica da ALALC.Apesar dessa continuidade, o Tratado de Montevidéu 1980 introduziu profundas mudanças na orientação do processo e na concepção de sua operação. Primeiro, o programa de liberalização comercial multilateral e seus mecanismos auxiliares, que visavam aperfeiçoar uma zona de livre-comércio, foram substituídos por uma área de preferências econômicas integrada por um conjunto de mecanismos que abrange uma preferência tarifária regional, acordos de alcance regional e acordos de alcance parcial. Esses instrumentos oferecem múltiplas opções operacionais aos países-membros, cuja convergência permitirá avançar para etapas superiores de integração econômica.Segundo, o caráter basicamente comercial do Tratado de Montevidéu 1960 foi substituído pela coexistência de três funções básicas da nova associação: a promoção e regulamentação do comércio recíproco, a complementação econômica e o desenvolvimento de ações de cooperação econômica que levem à ampliação dos mercados.Terceiro, a pesar de que o Tratado de Montevidéu 1960 reconhecesse um estatuto especial para os países de menor desenvolvimento econômico relativo, o novo esquema incorporou, como um dos eixos fundamentais de ação da ALADI, um sistema integral de apoio em seu favor e reconheceu expressamente uma categoria de países de desenvolvimento intermediário, a fim de determinar tratamentos diferenciais nos diferentes mecanismos e normas. Por outro lado, em comparação com a ALALC, a ALADI é uma instituição mais aberta, pois, além de possibilitar a adesão ao Tratado que a institui, permite a participação de países não-membros em ações parciais com os países- membros, bem como a participação da associação como instituição nos movimentos de cooperação horizontal entre países em vias de desenvolvimento.O novo Tratado de Montevidéu 1980 estabelece, ainda, cinco princípios básicos: o pluralismo, a convergência, a flexibilidade, os tratamentos diferenciais e a multiplicidade, que contrastam com as características unitárias do programa de liberalização do comércio, eixo do Tratado de Montevidéu de 1960, e com seus princípios básicos de multilateralização e reciprocidade.Finalmente, a nova etapa iniciada pelo processo de integração com a criação da ALADI caracterizou-se por assimilar, em um esquema pragmático, a heterogeneidade da região e canalizar institucionalmente a vocação integracionista de seus países-membros, em um marco flexível que, sem compromissos quantitativos preestabelecidos, contém todos os elementos para que o esquema possa evoluir para níveis superiores de integração econômica e alcançar o objetivo de um mercado comum latino-americano.Disponível em:<http://www.aladi.org/nsfaladi/preguntasfrecuentes.nsf/009c98144e0151fb03256ebe005e795d/cf2ded02ef8e4a6c03256ed100613e5d?OpenDocument>]
Para além, tem-se a impossibilidade superveniente do tratado como causa de extinção.
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A Convenção de Viena de 1969 admite a cláusula rebus sic standibus como causa de extinção de tratado. Também o faz em relação a superveniência de jus cogens. Isto é, se em relação ao objeto do tratado se formar normas imperativas em sentido contrário, o referido tratado será extinto.
Exemplo: tratado que conferisse determinado tratamento a minorias étnicas de alguns países. Anos após sua celebração, entendeu-se que esse tratamento era discriminatório e ofendia os direitos humanos. Houve formação de jus cogens em sentido contrário e, por isso, o tratado será extinto.
• Denúncia
Tem o poder de extinguir os tratados bilaterais e é o ato pelo qual o Estado manifesta a vontade de exonerar-se do tratado, ao que se denomina, nos tratados multilaterais, de retirada.
Salvo previsão em sentido contrário, a denúncia é eficaz 12 (doze) meses após sua realização.[8: Nota do monitor: existe a possibilidade de esses prazos serem superiores (normalmente, nos tratados que digam respeito ao meio ambiente) ou inferiores aos doze meses.]
> É necessária autorização do Congresso Nacional para o Presidente da República denunciar um tratado?
R. Aqui habita uma tormentosa questão para a doutrina. Mesmo o STF ainda não julgou em definitivo aADI manejada sobre o tema. O caso diz respeito à Convenção n° 158 da OIT, ratificada e denunciada pelo Brasil no ano de 1996. À época, o Presidente da República, seguindo uma tradição já enraizada, denunciou o tratado sem pedir autorização ao Congresso Nacional. Como consequência, ajuizou-se a ADI 1625, cujo objeto foi o Decreto promulgador que veiculou a denúncia, na qual se afirmou que a denúncia não seguira o procedimento constitucional adequado, na medida em que não fora precedida de autorização do Congresso Nacional. Houve votos divergentes pelos ministros Maurício Correia (acolhe a pretensão) e Nelson Jobim (não acolhe).[9: Nota do monitor: recomenda-se a leitura do voto-vista de Joaquim Barbosa disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStfArquivo/anexo/adi1625JB.pdf]
O último voto proferido no julgamento, que o foi pelo ministro Joaquim Barbosa, dá mostras de que funcionará como vetor de solução à prolação do decisum. Disse que, quando se cuidar de tratado de direitos humanos, a aprovação do Congresso Nacional se fará necessária, haja vista que esses tratados são celebrados com a finalidade precípua de
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modificar a ordem jurídica interna (o que pode estar presente, ou não, no corpo dos demais tratados) e complementarmente manobrar a condução da política externa.
Nota: nos dizeres do professor Marcello Miller, a solução apresentada pelo Ministro Joaquim Barbosa mostrou-se a mais equilibrada.
Costume
Possui um componente material (prática) e um psiconormativo (opinio juris/convicção jurídica). Até a segunda metade do século XX, o costume era mais relevante do que os tratados como fonte do direito internacional público. Posteriormente, com o surgimento da codificação do direito internacional público, assim entendida como a transposição de grandes matérias para grandes tratados, perde o costume sua importância. Malgrado isso, ainda possui bastante relevância, v.g., no tema responsabilidade internacional dos Estados, no qual inexiste uma codificação, e no tema sucessão de Estados, em que há muitos vazios de codificação.
A priori, insta aclarar que não há hierarquia entre as fontes. Força nisso, de dizer-se que o tratado pode vir a cair em desuso, e ser derrogado, por costume de surgimento posterior em sentido diferente.
A Corte Internacional de Justiça já decidiu que a prática reiterada no direito internacional público não precisa ser demonstrada com o mesmo rigor do direito interno. Fala-se, ademais, em sede doutrinária, embora haja alguma controvérsia sobre isso, em costume instantâneo.
Assentou a Corte, na verdade, que, na hipótese de se disseminar na sociedade internacional determinada convicção jurídica com muita intensidade, de maneira que os Estados passem a observar, em sua prática diplomática, essa convicção, modifica-se a idéia de reiteração da prática no tempo para reiteração prática no espaço.
Exemplifica-se com o caso dos testes nucleares no pacífico sul. Explanou a Corte, in obiter dictum, que a visão da sociedade internacional transmudara-se radicalmente acerca dos testes nucleares, de sorte que se afigurava plausível falar em costume sobre a matéria (exemplo: proibição da realização de testes nucleares na superfície).
Os vetores de aferição da reiteração da prática que se pretende reputar por costume internacional se consubstanciarão nas legislações, nas práticas diplomáticas, no discurso de política externa, nas posições políticas dos Estados. É dizer, a prática de conduta do Estado no plano internacional.
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Princípios Gerais de Direito das Nações Civilizadas
Essa expressão foi positivada no artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça com o fito de permitir aos aplicadores de direito internacional público formassem o seu corpo de princípios não com base em um ou outro sistema jurídico; mas, sim, com base nos grandes sistemas jurídicos que havia ou possa haver. Atualmente, por exemplo, revela- se plausível a existência de princípios tanto do sistema romano-germânico quanto do Common Law.
Nota: em virtude de ainda não ter realizado sua própria revolução pós-positivista, como já ocorreu no direito interno, o direito internacional não confere uma importância demasiada aos princípios.
Demais fontes
Consistem em 'certas decisões de organismos internacionais' e 'certos atos unilaterais dos Estados'.
• Certas decisões de orgnanizações internacionais
Debruçando-se sobre a Organização das Nações Unidas, percebe-se que ela publica resoluções de grande alcance normativo (exemplo: embargo econômico sobre determinado país). Daí, indaga-se acerca da natureza jurídica dessa decisão. E isso é feito em clara oposição a uma tese anterior, aparentemente, simplista demais, segundo a qual, quando uma organização internacional toma uma decisão, normativa ou não, no exercício de seu mandato (não se fala em competência), a fonte de obrigatoriedade dessa decisão seria o próprio tratado constitutivo da organização que preveria esse mandato.
Taxou-se tal raciocínio de hipócrita. Porque haveria ocasiões em que o tratado preveria a possibilidade de a Organização tomar decisões para tutelar a paz e a segurança internacionais (no caso da ONU) e, a pretexto disso, ela cria um tribunal ou impõe um embargo.
Responde-se à indagação acima exposto com o seguinte: essas decisões que, por assim dizer, maximizam o mandato das organizações internacionais seriam fontes heterônomas do direito internacional. As resoluções da ONU, por exemplo, logicamente, criam direitos e obrigações, cujo suporte normativo é o mandato da organização, sem o qual não conseguiriam criá-los.
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• Certos atos unilaterais dos Estados
Falar-se em 'atos unilaterais dos Estados' significa dizer que esses atos criariam direitos para terceiros Estados, motivo pelo qual o Estado criador tem de ser coerente. Explique-se, o Estado não fica preso a seu ato em todo e qualquer caso. Mas, a depender da forma do ato, não poderá ele fazer uma aplicação seletiva do mesmo.
Exemplo: imagine-se que o Brasil permita a navegação dos rios internos a terceiros Estados. Enquanto esse ato estiver em vigor, veda-se ao Brasil a produção de entraves pontuais à Argentina, sem, primeiro, modificar o ato.
Há um caso (caso Ihlen) da jurisprudência da antiga Corte Permanente de Justiça Internacional, antecedente da Corte Internacional de Justiça. Houve uma controvérsia entre Noruega e Dinamarca sobre a Groelândia. O Ministro das Relações Exteriores de um dos Estados (Noruega) prometeu, numa interlocução diplomática formal, que a Noruega não mais manifestaria nenhuma pretensão acerca da Groelândia. Mais tarde, o próprio ministro desdisse-se, e a Dinamarca cobrou a valia da primeira promessa. Instada a manifestar-se, a Corte decidiu que pela vinculação do Estado norueguês à promessa confeccionada.
Privilégios e Imunidades
Imunidades diplomáticas
No Brasil, o indivíduo que queira integrar o serviço exterior prestará concurso para diplomata, oficial de chancelaria ou assistente de chancelaria, estrutura essa que se assemelha, tomando como referencial comparativo o Judiciário, à de Juiz, analista e técnico.
O servidor diplomático pode ser designado para servir em uma embaixada ou em um consulado. Hodiernamente, o Brasil não mais possui legações (junto com as embaixadas, é espécie do gênero missão diplomática). A última delas, na África doSul, foi elevada à condição de embaixada nos idos de 1980.
Observação: avive-se que consulado não é espécie do gênero missão diplomático. Antes, é espécie do gênero repartição consular (consulado geral, consulado e vice- consulado).
Pois bem.
Situação1: agente que tenha sido credenciado para desempenhar funções junto a um governo estrangeiro, em uma missão diplomática, como membro do pessoal diplomático dessa missão, atrairá as imunidades diplomáticas.
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O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais.
Situaçã02: agente que tenha sido credenciado para desempenhar funções consulares junto a um governo estrangeiro, como membro do pessoal consular em uma repartição consular, atrairá as imunidades consulares.
Observação: essas imunidades são atraídas independentemente do que aconteça no direito administrativo do Estado onde o indivíduo fez concurso.
Exemplo: cônsul-geral adjunto da Venezuela estaciona seu veículo em local proibido no Rio de Janeiro. Não poderá socorrer-se às imunidades diplomáticas (mais amplas que as consulares), porquanto, embora no seu Estado tenha feito concurso para uma carreira que se intitula carreira diplomática, para o direito internacional público ele ostenta a condição de cônsul, para cujas funções foi credenciado.
As imunidades diplomáticas prevêem-se na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. Têm bastante amplitude e são reconhecidas/outorgadas calcadas na idéia ratione personae. Isso significa não estarem estritamente vinculadas ao exercício da função, por conta de duas premissas: [1-] o caráter simbólico-representativo da função diplomática; [2-] a dificuldade de acertamento da prática de uma atividade diplomática, em razão de suas peculiaridades. Por exemplo, nalgumas ocasiões um agente diplomático estará numa recepção, comendo e bebendo, simplesmente, por força de uma ordem. Em tal situação, autoridades judiciárias e/ou policiais terão sensíveis dificuldades para enxergar, a priori, essa conduta como uma atividade diplomática. Eis o motivo pelo qual as imunidades diplomáticas não estão vinculadas, aprioristicamente, ao exercício da função pública.
Espécies
Cindem-se em: (i) imunidades em benefício do agente; (ii) imunidades em benefício da missão. A bem da verdade, as imunidades pertencem ao Estado, e por isso é que se fala "em benefício de", haja vista não pertencerem nem ao agente, nem à missão (que sequer tem personalidade jurídica, pois, cuida-se, apenas, de um órgão).
(i) Imunidades em benefício do agente
Compreendem: imunidade de jurisdição penal plena (não há exceções!); imunidade de jurisdição civil deveras ampla, com apenas três pontuais exceções; inviolabilidade pessoal (não pode ser preso em flagrante, conduzido até uma UPJ, obrigado a prestar depoimento, etc.); isenções tributárias e aduaneiras, cujo núcleo essencial, malgrado diversas exceções, é sensivelmente confortável (exemplo: isenção de todos os tributos pessoais; é-lhe permitido importar, com toda a isenção, todos os bens necessários a guarnecer sua residência).
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(ii) Imunidades em benefício da missão
Compreendem: a inviolabilidade do lugar de exercício da missão (as autoridades do Estado acreditado não podem entrar lá sem expressa autorização do embaixador; isso não significa que esse local é extraterritorial); inviolabilidade das comunicações; inviolabilidade dos arquivos.
Observaçãoi: as inviolabilidades de lugar e de arquivos permanecem ainda que haja ruptura das relações diplomáticas.
Observação2: na hipótese de ocorrer um crime permanente ou habitual dentro do local da missão diplomática, restariam vedados interceptações telefônicas, mandados de busca e apreensão, etc. Porém, poderia a autoridade competente do Estado proceder à oitiva, na qualidade de testemunhas, de brasileiros contratados para ali trabalhar.
Observação3: a famigerada mala diplomática é inviolável porque se imiscui na ideia de inviolabilidade das comunicações. Todavia, ressalte-se que a mala do diplomata, que com aquela não se confunde, pode, sim, ser aberta e revistada se houver sérios motivos para fazê-lo, contanto que na presença do agente diplomático.
Pois bem.
A Convenção de Viena de 1961, ao mesmo tempo em que prevê essa série de imunidades, estabelece a obrigatoriedade de o agente diplomático respeitar o regramento do Estado onde esteja servido. Não o fazendo, comete um ilícito internacional. Ao violar o direito diplomático, às sanções desse se sujeita. A primeira delas é a possibilidade de o agente responder em seu próprio Estado. Ademais, é viável que o Estado acreditante renuncie à imunidade do agente diplomático, bem como que o Estado acreditado declare o diplomata persona non grata (não é sinonímia de expulsão), o que enseja a necessidade de o Estado acreditante retirá-lo em tempo exíguo. Caso isso não ocorra, o Estado acreditado pode descredenciá-lo, contexto no qual perderá as imunidades.
Saliente-se que se está a falar em 'imunidades jurisdicionais', o que demonstra sua natureza processual.
Exemplo: agente diplomático comete crime em terras brasileiras. O Estado acreditante ao qual pertence renuncia à sua imunidade, e o agente constitui advogado brasileiro para defendê-lo.
Nessa hipótese, obsta-se a que se argumente com base em eventual retroação da lei penal, uma vez que, à época dos fatos, o agente estava acobertado pelo manto protetor das
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imunidades. A lei penal, diga-se, incidiu plenamente sobre a conduta do agente, contudo possuía ele imunidade de jurisdição (processo); não, imunidade à lei material.
Imunidades consulares
Consignadas na Convenção de Viena de 1963 sobre Relações Consulares. Têm espectro mais limitado, porquanto a função consular não tem caráter representativo. Traduz a ideia de um posto avançado da administração público de um Estado. Conquanto seu leque de funções esteja em clara ascensão, assemelha-se, e muito, o consulado a um cartório.
A faceta de assistência no exterior é a mais evidente, de maneira que os consulados de vários países promovem o repatriamento dos nacionais desvalidos (exemplo: brasileiro que esteja na miséria em Portugal, onde já virou até mendigo). Registre-se a necessidade do reembolso da União, tão logo esse brasileiro chegue ao Brasil.
Os atos compreendidos no exercício da função consular caracterizam-se como atos administrativos, de discernimento e visualização mais fáceis que os materializados no exercício da função diplomática. Isso, somado ao fato de a função consular não ter caráter representativo, permitiu ao direito internacional criar um rol consideravelmente mais limitado de imunidades. Impera a ideia de imunidades ligadas ao exercício da função.
Daí, tem-se a imunidade de jurisdição, penal e civil, para os funcionários consulares pelos atos praticados no exercício da função. Idêntico raciocínio aplica-se à inviolabilidade. No entanto, fora do exercício da função o agente consular pode ser preso, processado, obrigado a depor como testemunha, etc.
Sem embargo, tendo em vista a noção de cortesia internacional, criaram-se algumas prerrogativas. Por exemplo, a Convenção prevê que o cônsul seja preso, contanto que por crime grave e de maneira que sua segregação não importe prejuízo ao exercício da função consular.
Exemplo: agente consular sobre o qual pende juízo negativo o suficiente de que ele esteja praticando crimes. A Polícia Federal monta uma operação para prendê-lo. Terão o juiz federale/ou o Ministério Público Federal de tomar as cautelas necessárias para que o cumprimento desse mandado de prisão não importe em prejuízo para as funções consulares. Ou seja, não será efetuado dentro da repartição consular, nem dentro do horário de serviço.
Outrossim, o funcionário consular pode ser obrigado a depor como testemunha, de modo a não prejudicar o desempenho de seu trabalho na repartição. Entende o professor Marcello Miller coerente a aplicação extensiva da prerrogativa de ajuste/agendamento para sua oitiva em dia e horário adequados.
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As isenções tributárias e aduaneiras são as mesmas dos agentes diplomáticos.
Observação: normalmente, em provas, as questões costumam versar sobre as imunidades consulares.
CO Imagine-se a seguinte situação: agente consular recebe a notícia de que nacional seu está retido na área internacional do aeroporto internacional do Rio de Janeiro, algemado ao braço de uma cadeira, há mais de 6 (seis) horas, sem que lhe tenha sido oferecida água ou comida. O agente consular, então, procede ao local, onde é interpelado por um policial federal, o qual lhe diz que não poderá ver o referido indivíduo. Nesse momento, o agente consular força a passagem, chegando a entrar em vias de fato com o policial federal. Admite-se que o agente consular tenha praticado alguma infração penal?
R. Resposta negativa se impõe, haja vista que o mencionado agente consular estava em claro exercício de suas funções, cujo arrimo é a própria Convenção de Viena, a qual aponta a prestação de assistência a seus nacionais. Por lógico, tal situação deverá ser examinada com muita cautela, pois, caso o aludido agente, antes de qualquer manifestação do policial federal, proferisse diversos xingamentos injustificadamente, estaria a cometer, em tese, crime de desacato ou contra a honra, conforme o caso concreto.
O regime da renúncia e da declaração de persona non grata (próprio das imunidades diplomáticas) também incide nas imunidades consulares com a denominação de "pessoa inaceitável". Todavia, sua utilização é mais limitada, na medida em que, por ato praticado fora do exercício da função, o cônsul poderá responder no Estado acreditado.
Imunidades Estatais em sentido estrito
Diz-se "em sentido estrito" porque as imunidades diplomáticas e consulares também pertencem ao Estado. Aqui, cogita-se da hipótese de um Estado estrangeiro responder no Judiciário brasileiro por um ilícito e/ou dano a ele imputado.
Nos anos 1960, predominava o brocardo par in parem no habet judicium (não há jurisdição entre iguais/um estado não julga o outro). Cuidava-se, pois, de consectário lógico da soberania. Pensamento notadamente vestfaliano.
Nada obstante, a observância desse axioma engendrava injustiças gravíssimas.
Exemplo: imagine-se que um carro oficial da embaixada alemã, por grosseira imprudência do motorista, atropelasse e lesionasse um pedestre em terras brasileiras. Por motivos desconhecidos, a Alemanha recusa-se a indenizá-lo extrajudicialmente.
Força no aforismo suso exposto, a solução para a vítima, in casu, era socorrer-se ao Judiciário tedesco.
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Exatamente por isso, os Estados começam a reagir contra esse princípio/costume (digladia-se a doutrina sobre sua natureza; o professor Marcelo Miller entende-o como princípio na origem que, em virtude de reiterada prática por pelo menos dois séculos, transmudou-se em costume).
Disso resulta que, em 1972, alguns Estados europeus celebram a Convenção da Basileia sobre imunidades estatais. Tal convenção intenciona fragmentar o rigorismo do costume sob questão, ao positivar uma regra de competência internacional, segundo a qual, quando um Estado celebrar com um particular um contrato em outro Estado ou que deva ser executado em outro Estado, o Judiciário desse outro Estado também poderá conhecer das causas relativas ao contrato.
Impera, no ponto, certa confusão conceitual, eis que a celeuma ora falada em momento algum adveio das regras processuais de competência. Ao revés, radicava-se nas regras de direito material.
A resposta mais adequada a essa problemática tem seu nascedouro nos Estados Unidos, que, em 1976, edita a Lei das imunidades estrangeiras soberanas, a qual assenta que o Estado estrangeiro não responderá no Judiciário americano pelos atos que pratique no exercício de seu poder de império; entretanto, responderá por seus atos de gestão.
Exemplo: embaixador francês que, durante uma entrevista no Jornal Nacional, critique asperamente autoridades brasileiras por causa dos atrasos nos preparativos para a Copa do Mundo. Incide o manto protetor da imunidade.
Vários países, sobremaneira da Common Law, mas também da Civil Law, emularam a solução engendrada pelos norte-americanos. Inclusive o Brasil.
Em nosso ordenamento pátrio, inexiste um diploma legal sobre a matéria. Há, tão-só, uma linhagem jurisprudencial no Supremo Tribunal Federal, com o caso Genny versus República Democrática Alemã, julgado no ano de 1989.
Tratava-se de reclamação trabalhista, cuja inicial foi distribuída sob a égide da Constituição de 1967/69 na justiça federal, na qual o marido de Genny, depois por ela sucedido em razão do falecimento, pleiteava verbas rescisórias da extinta Alemanha Oriental por ter trabalhado numa embaixada daquele país em São Paulo.
O Ministro Relator Sidney Sanches, ao debruçar-se sobre o artigo 114 da recém- promulgada Constituição de 1988, votou pela ausência de imunidade dos entes externos no tocante às causas de natureza trabalhista.
O Ministro Francisco Rezek, no voto-vista, corrige essa distorção interpretativa feita pelo Ministro Sanches. Pontua que, em razão de vários países terem legislado no sentido de mitigar as imunidades e alguns Estados europeus fazerem parte, inclusive, de convenção
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nesse mesmo diapasão, é de concluir-se que houve uma mudança no costume par in parem non habet judicium. Desse modo, as imunidades apenas incidiriam sobre os atos estatais praticados com o poder de império.[10: Nota do monitor: recomenda-se a leitura do excelente artigo de Claudieni Moser, intitulado de "Imunidade de Jurisdição do Estado estrangeiro: a questão da (ir)responsabilidade da União pelo pagamento do débito judicial trabalhista". Disponível em:<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2678>]
Observação: entendeu o STF, por meio de voto do ministro Celso de Mello, que a imunidade de execução é diferente da imunidade de jurisdição (para o processo de conhecimento). Mesmo tendo essa última sido mitigada, aquela primeira continuaria com mais amplitude, cuja mitigação dar-se-ia apenas na hipótese em que o Estado estrangeiro renunciasse à imunidade ou na hipótese de haver bens do Estado desafetados à função diplomática e/ou consular; nesse caso existe intangibilidade prevista nas Convenções de 1961e1963.
O raciocínio desenvolvido pelo Ministro apresenta o seguinte formato: sua visão é correta, porém o caminho que propõe é tortuoso. A bem da verdade, não está a reconhecer a imunidade; afirma, só, a impossibilidade de execução dos Estados estrangeiros.
Bastava ao Ministro pontificar que a imunidade de execução segue a sorte da imunidade de jurisdição, de modo que se essa fosse mitigada, aquela restaria igualmente arrefecida. Necessário observar, contudo, as hipóteses previstas em Convenções de intangibilidade de bens.

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