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F u n d a m e n to s e M e to d o lo g ia d o E n s in o E s p e c ia l Marileni O. de A. Passos Vívian de Camargo Bastos Walquíria O. Gomes Fu nd am en to s e M et od ol og ia d o En si no E sp ec ia l M ar ile ni O . d e A. P as so s, V ív ia n de C am ar go B as to s, W al qu íri a O. G om es Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial Curitiba 2011 Marileni O. de A. Passos Vívian de Camargo Bastos Walquíria O. Gomes FAEL Diretor Executivo Maurício Emerson Nunes Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos Diretor Administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Vívian de Camargo Bastos Coordenadora do Curso de Pedagogia EaD Ana Cristina Gipiela Pienta Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro EDITORA FAEL Coordenadora Geral Dinamara Pereira Machado Coordenador Editorial William Marlos da Costa Edição Ivana Valeria Gonçalves Revisão Thaisa Socher Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin Ilustração da Capa Cristian Crescencio Diagramação Sandro Niemicz Ilustrações Igor Santos Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424 Passos, Marileni O. de A.; Bastos, Vívian de Camargo; Gomes, Walquíria O. G633f Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial / Marileni O. de A. Passos, Vívian de Camargo Bastos, Walquíria O. Gomes. – Curitiba: Editora Fael, 2011. 158 p.: il. ISBN 85-64224-24-7 Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1. Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial. 2. Professores – Formação. I. Título. CDD 371.9 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. apresentação Ao ser convidada para fazer a apresentação desta obra, senti‑me enaltecida, pois, como formadora de professores há muitos anos, reco‑ nheço as dificuldades teóricas e práticas do tema. Para cumprir meu papel nesse momento, optei por utilizar dois caminhos: a leitura e a coleta de informações, que auxiliam os leitores no processo de formação continua‑ da. Como momento derradeiro, apresentarei aos apreciadores da filosofia inclusiva as autoras Marileni, Walquíria e Vívian que, juntas, construíram uma obra que contribuirá com a formação de docentes e, principalmente, com a disseminação da inclusão como característica social. O livro apresenta o percurso histórico na construção da filosofia inclusiva, buscando vencer o estigma preconceituoso de incapacidade do ser humano. O processo de construção histórica das políticas públicas e das mudanças de conceitos éticos e religiosos e da pluralidade dos povos e culturas estabeleceu novas formas de se compreender os seres humanos e suas características. Nesta obra, as autoras conseguiram percorrer as iniciativas legais de inclusão, propostas pela Lei de Dire‑ trizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 4.024/61, que, dentro do possível, instituiu a obrigatoriedade da inserção do aluno com deficiência no sistema geral de educação. O acesso e a permanência no sistema público se dá na asseguridade como direito constitucional na atual LDB. Entende‑se que novos cenários e novos desafios estão dando lugar a novas concepções de educação; no entanto, o processo inclusivo de‑ mandará a provisão de auxílios e serviços de apoio pedagógico espe‑ cializado. No livro, as autoras apresentam as principais patologias das deficiências mental/intelectual, física neuromotora, visual e auditiva, da surdocegueira, da superdotação e das altas habilidades e, ainda, desta‑ cam a importância da integração entre família e escola, como agentes inclusivos que ajudam na construção de uma sociedade ética e que res‑ peite as diferenças. apresentação Proceder à leitura de uma obra e, a partir dela, assumir os princípios apontados, implica, também, estender os conceitos de vida dos autores, que debruçaram momentos valorosos de suas vidas, compartilhando com os leitores suas experiências e conquistas. Nesse sentido, escolher as palavras para falar de Marileni, Walquíria e Vívian requer mostrar além do apresentado em seus currículos lattes, pois são profissionais da edu‑ cação que, há vários anos, batalham para a propagação da educação inclusiva, realizando palestras em diversos lugares do país, não abando‑ nando o ambiente da sala de aula e acreditando que a reflexão faz parte da formação continuada dos professores. Dinamara Pereira Machado* * Graduada em Letras pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), é Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Atuou como docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental, na década de 90 do século XX, e, desde 2000, desenvolve e atua em projetos na área de formação de professores. Atualmente é, também, coordenadora do curso de Letras das Faculdades Santa Cruz – Inove. apresentação apresentação Prefácio.........................................................................................7 1 Educação especial: sua história ...................................................9 2 Educação inclusiva .....................................................................23 3 Deficiência mental/intelectual e as características biopsicológicas .............................................55 4 Deficiência física neuromotora ..................................................69 5 Deficiência visual, deficiência auditiva e surdocegueira ...........85 6 Altas habilidades, superdotação e os transtornos globais do desenvolvimento ............................123 7 Família parceira da inclusão escolar .......................................145 Referências...............................................................................153 sumário sumário 7 prefácio prefácio O anseio por uma educação inclusiva, que possibilite a participação de todas as pessoas, indistintamente, na comunidade escolar, induziu o sistema educacional brasileiro a se organizar e instrumentalizar seus profissionais para receberem alunos com necessidades educacionais es‑ peciais em escolas regulares de ensino. Sendo assim, esta obra permite ao educador conhecer os recursos e as interlocuções pedagógicas que viabilizam a participação acadêmica de alunos que apresentam dificuldades de ordem cognitiva, intelectual, visual ou física neuromotora, surdez ou altas habilidades nos mesmos programas que são ofertados para alunos sem deficiências. Por meio de uma viagem que compreende a Idade Antiga até as recentes conquistas legais e sociais do movimento inclusivo, o primeiro capítulo mostra, brevemente, a trajetória histórica do processo inclusivo. O segundo capítulo, por sua vez, contempla os desafios de uma educação inclusiva. Os capítulos três, quatro, cinco e seis focalizam as áreas das deficiências. Por fim, o sétimo capítulo ilustra a importância da participa‑ ção da família no processo inclusivo. As autoras.* * Marileni O. de A. Passos é Mestre em Educação pela PUCPR e Especialista em Educação Especial pela FAFI (Palmas). Atua como professora em escola especializada na área intelectual, ministra disciplinas no ensino a distância pela FAEL e cursos presenciais de Pós‑graduação em diversas instituições da rede particular. Vívian de Camargo Bastos é graduada em Processamento de Dados pela UEPG e em Formação Pedagógica pela UTFPR, Especialista em Educação a Distância pela FAEL. Atua como coorde‑ nadora do Curso de Pedagogia EaD na FAEL. Walquíria O. Gomes é graduada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná, Especia‑ lista em Educação Especial pela UFPR, Mestre em Educação pela UFPR. Atua como docente nos cursos de Graduação e Pós‑graduação em instituições particulares. Atualmente, é chefe do Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná. 9 Mesmo com o desenvolvimento histórico da educação especial no Brasil, com as informações veiculadaspela mídia e com o crescimen- to da tecnologia e das ciências da saúde, que possibilitam uma melhor qualidade de vida para o ser humano, ainda há um número significati- vo de pessoas que não tem informação necessária sobre as implicações da deficiência. Isso as impede de ter acesso aos programas e cuidados com a prevenção, o que resulta na marginalização e segregação dessas pessoas, que ficam sem atendimento educacional e com problemas de convivência social. A filosofia inclusiva permitiu que os programas de educação es- pecial fossem reconhecidos como modalidade do ensino regular. Essa conquista histórica ainda está sendo implementada, mas já permite que pessoas com deficiências participem da comunidade escolar mais próxi- ma de sua residência com os mesmos direitos de outros alunos. O acesso à “escola de todos”, revela o avanço educacional que o país promove aos que não tiveram ingresso em idade própria, e busca em suas diretrizes educacionais o atendimento especializado na escola de ensino regular. No entanto, não se pode negar a contribuição que as entidades filantrópicas destinam para essa população, no que se refere ao atendimento educacional, clínico e terapêutico, assumindo, dessa forma, um compromisso social com essas pessoas. A deficiência no percurso histórico Por séculos a humanidade carregou um estigma preconceituoso de incapacidade das pessoas com deficiência, destinando-as ao isolamento Educação especial: sua história 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 10 social sem reconhecimento de humanidade e cidadania. Acreditava-se que as deficiências eram doenças e que, se não havia cura, então o ideal seria manter as pessoas portadoras de deficiência afastadas do convívio comunitário e, em muitas situações, da própria família. Durante a Idade Antiga eram exterminadas ou, se acreditassem que os deuses poderiam mostrar-se simpáticos a proteção dessas pesso- as, isolavam-nas em lugares seguros, porém, sem convívio social. Carvalho (1997, p. 15) resgata essa história ao descrever o postula- do romano da Antiguidade. Nós matamos os cães danados, porcos? Ferozes e indomáveis degolamos as ovelhas doentes, com medo que infectem o re- banho, asfixiamos os recém-nascidos mal constituídos, mes- mo as crianças se forem débeis mentais ou anormais, nós a afogamos, não se trata de ódio, mas da razão que nos convida a separar das partes sãs, aquelas que podem corrompê-las. O povo hebreu não aceitava a presença de pessoas com qualquer tipo de deficiência nas sinagogas, nem permitiam que essas pessoas recebessem comunhão. Os espartanos da antiga Roma tinham o direito garantido pela Lei das XII Tábuas a rejeitar ou matar filhos com deficiências. Aristóteles com sua influência sobre os atenienses beneficiou os deficientes sugerindo que tivessem direito a exercer atividades produti- vas, o que trouxe uma expectativa de convivência com outras pessoas. O movimento inclusivo teve origem durante a década de 90 do sécu- lo XX pela influência de movimentos e acordos internacionais como a Declaração Mundial de Educação para Todos, realizado na Tailândia em 1990, e pela Declaração de Salamanca promovida pela Unesco e pelo Go- verno da Espanha, em 1994. No Brasil, ganhou força com a implantação da Política Nacional de Educação Especial, em 1994, que foi confirmada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96) ao incluir artigos específicos para o atendimento educacional a pessoas com deficiência. Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 11 Dica de Filme O filme Os 300 de Esparta conta a história do Rei Leônidas mostrando o rigor da disciplina durante sua infância. Como introdução, a história é narrada por um orador que apresenta a filosofia espartana e como era conduzida a educação das crianças ditas “normais” e as com defi- ciências. Quando a criança sem deficiência atingia sete anos de idade, era tirada de sua família e iniciava um período de preparação que tinha como objetivo torná-lo cidadão e, para tanto, passava por um longo pe- ríodo de privações. Nesse cenário de rigor a criança com deficiência não tinha chance de sobre- viver e era lançada ao infortúnio e oferecida em sacrifício aos deuses. OS 300 de Esparta. Direção de Rudolph Maté. EUA: 20th Century Fox, 1962. 1 filme (144 min.). Dica de Filme Com o advento da idade média surge a igreja cristã, que conce- bia o homem como imagem e semelhança de Deus. Essa crença não aceitava que crianças “imperfeitas” pudessem ser filhos do criador e, por consequência, eram tidas à margem da raça humana por serem consideradas imorais ou pecadoras. Crianças com má formação eram isoladas, menosprezadas e estigmatizadas, chamadas de doentes, loucas, sem possibilidade de conviver com as demais. Influenciados pelo Cristianismo, alguns feudais criaram e man- tiveram casas de abrigo onde era ofertada assistência humanitária aos desfavorecidos. No segundo século da Idade Moderna, Henrique II criou um programa de assistência social e obrigou a população a pagar taxas púbicas objetivando manter os atendimentos a essas pessoas. No Renascentismo, a visão assistencialista perde espaço e inicia-se uma nova fase com a ideia de integração social. Os movimentos cultu- rais e intelectuais dessa época estimulam a ciência a pesquisar possíveis causas da deficiência dentro de um espírito humanístico, mas crítico e científico. Nessa época já se busca uma legislação capaz de amparar e ajudar a população com alguma deficiência. Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 12 As contribuições de Lock (considerado pai do Iluminismo) e Rousseau durante o final do século XVIII foram significativas para um enfoque educacional Não se educa a criança para Deus ou para a vida em sociedade, antes para si mesma, “viver é o que desejo ensinar-lhe”. Quan- do sair das minhas mãos, ele não será magistrado, soldado ou sacerdote, ele será, antes de tudo, um homem (ROUSSEAU apud ARANHA; MARTINS, 1995, p. 226). Esses pensadores originaram uma visão de educação, baseada na formação do indivíduo, sem a pretensão de escolarização ou formação acadêmica. O reconhecimento da pessoa como um ser que deve ser integrado socialmente, nessa época, ainda não considera a inclusão de pessoas com deficiências no sistema educacional, principalmen- te para as que apresentavam dificuldades significativas de aprendizagem. Outro marco importante na história aconteceu após a Revolução Francesa pela Decla- ração dos Direitos do Homem e do Cidadão1, que promulgou princípios de fraternidade, li- berdade e igualdade entre to- dos os povos. Ainda é possível encontrar esses princípios in- corporados nas constituições de alguns países. No final do século XIX e início do século XX, encontra- mos movimentos com tendên- cias integradoras que lutam para a inserção da pessoa com deficiência no mundo do trabalho. Po- rém, as ações em prol dessa causa ainda foram singelas, ao constatar que 1 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, criada pelo governo francês, foi inspirada na Revolução Americana de 1776 e sintetiza em 17 artigos os ideais libertários e liberais da Revolução Francesa. Esse documento proclama a liberdade e os direitos do homem pela primeira vez na história da humanidade. Em 1799, uma criança – que provavelmente por ter deficiência fora abandonada à morte nas florestas do sul da França – foi encontrada por alguns fazendeiros. Preocupados com o bem estar da criança, descobriram um médico, (...) Jean-Marc-Gaspard Itard, considerado pai da educação especial. O nome dado ao garoto por Itard foi Victor, (...). Jean Itard incubiu-se da educação de Victor e utilizou técnicas de desenho para ensiná-lo a falar algumas poucas palavras, andar na posição vertical, comer fazendo uso de pratos e talheres e interagir com outras pessoas. Muitas dessas técnicas ainda são aplicadas na educação especial (SMITH, 2008, p. 32). Saibamais Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 13 a produção era inferior aos demais e a marginalidade social se agravou diante desse quadro. No Brasil, segundo Anache (1994), a primeira proclamação oficial em prol da educação da pessoa com deficiência deve-se a Cornélio Fer- reira França, sendo posteriormente arquivada e tornada sem efeito. Pelo movimento denominado escolanovista durante a década de 20 do século XX, surgem educadores como Dewey, Decroly, Montes- sori, Antipoff que iniciaram estudos dentro da psicologia experimental criando métodos de aprendizagem, denominados concretos e ativos e que tinham a finalidade de ensinar com base no interesse e potenciali- dade da criança. Segundo Januzzi (apud PASSOS, 2007, p. 23), Como ponto de partida, Antipoff, defendeu e enfatizou o diag- nóstico para encaminhamento no ensino especializado. As bases educacionais consideravam os conceitos difundidos e aceitos no sistema escolar regular como: moralidade, disciplina, abandono social e lesão orgânica. Do professor era exigido embasamen- to teórico e conhecimento do diagnóstico para uma poste- rior metodologia que deveria ser prioritariamente individual. Antipoff complementa que “Assim sem ter o direito de pensar que a educação pode criar ou mesmo aumentar o potencial nas facul- dades inatas das crianças, temos a convicção de que o exercício racional e sistemático pode ‘or- ganizá-las” (JANUZZI, 1985, p. 91). A autora quis dizer que os conteúdos trabalhados com as crianças especiais não tinham a pretensão de estimular ou de- senvolver a inteligência, porém, os exercícios, a que denominou de treino sistemático, poderiam ajudar no processo de alfabetização. Esses movimentos, apesar de significativos para o avanço educa- cional especializado, buscavam enquadrar as crianças com deficiências em instituições especializadas, por entenderem que os mesmos não se A educadora italiana Maria Montessori, ins- pirada nos estudos de Séguin (médico fran- cês), trouxe contribuições significativas para a educação especial ao defender um ensino resultante de ações diretas pela utilização de materiais pedagógicos simples que exploram conceitos básicos,. Montessori entendia que o caminho do intelecto passa pelas mãos e a construção do conhecimento na criança é resultante de experiências práticas. Saiba mais Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 14 enquadravam nas normas de ordem e moral da sociedade. Em suma, a institucionalização poderia amenizar os “problemas” das classes co- muns e minimizariam a situação social dos considerados “deficientes” e impossibilitados de permanecerem no ensino regular. A primeira instituição especializada brasileira foi criada em 1926, em Canoas (RS), pelo Instituto Pestalozzi que após uma década ampliou seu atendimento no estado do Rio de Janeiro e logo após em São Paulo. Essas instituições ofertavam atendimento em regime interno e semi-interno para crianças e adolescentes que apresentavam deficiência intelectual. Na década de 50, do século XX, surge o Movimento Apaeano que, influenciado pela educação europeia defende também o atendimento de pessoas com deficiências no ensino comum. Contudo, esse movi- mento também contribuiu de forma extensiva na criação de institui- ções filantrópicas que pudessem abrigar os mais comprometidos pela oferta de atendimento especializado em todo o território brasileiro. Legislação contemporânea: um marco histórico na educação brasileira Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 4.024/61 sugeriu, em seu Artigo 88, que “dentro do possível” deve-se inserir o aluno com deficiência no sistema geral de educação. Aparen- temente, esse artigo mostra-se positivo quanto às iniciativas públicas em prol da filosofia inclusiva, no entanto, o texto mostrou-se vago pela ausên cia de ações diretas do Estado. Apesar de sua intenção, não houve oferta educacional no sistema público e a escolarização das pessoas conti- nuou ao encargo da filantropia em instituições especializadas. Em comentário à legislação, Mazzotta (1999, p. 68) esclarece [...] na expressão “sistema geral de educação” pode-se inter- pretar o termo “geral” com um sentido genérico, isto é en- volvendo situações diversas em condições variáveis, ou ainda, com um sentido de universal referindo-se à totalidade das situações. [...] Por outro lado, pode-se interpretar que, quan- do a educação de excepcionais não se enquadrar no sistema geral de educação, estará enquadrada em um sistema especial de educação. Nesse caso se entenderia que as ações educativas desenvolvidas em situações especiais estariam à margem do sistema escolar ou “sistema geral de educação”. Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 15 Com a intenção de realizar ajustes econômicos na educação e a reformulação do Ensino Superior publica-se, uma década após, a Lei n. 5.692/71 que também contempla diretamente o aluno com defici- ência, ao garantir sua matrícula no ensino público pelo Artigo 9º com o seguinte enunciado, Os alunos que apresentam deficiências físicas ou mentais, os que se encontram com atraso considerável quanto à idade re- gular de matrícula e superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação (BRASIL, 1971). Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional – Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, percebe-se uma evo- lução qualitativa para o ensino especial, ao preconizar em seu Artigo 24 a garantia da terminalidade educacional para esta modalidade. “Cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declaração de conclusão de séries e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as especificações cabíveis.” (BRASIL, 1996). Ainda, a Lei de Diretrizes e Bases n. 9.394/96 dedica todo o capítulo V à educação especial. Em seu Artigo 58 diz que o ensino especializado, enquanto modalidade da educação escolar, deve preferencialmente ocorrer na rede regular de ensino, o que não impede que esse atendimento seja ofer- tado em instituições especializadas, quando necessário (BRASIL, 1996). Essas garantias vislumbram legalmente a inserção da pessoa com deficiência no sistema público de ensino, no entanto, ainda observa-se que existem lacunas na legislação quanto ao acesso e permanência desse aluno, considerando as especificidades de cada deficiência que reque- rem adaptações curriculares, materiais específicos, apoio técnico e pro- fissionais especializados da educação. Mittler (2003, p. 25), ao se referir aos paradigmas do defeito moral ao modelo social de aprendizagem em que o “defeito” centra o problema na criança, ou seja, ela é o centro das dificuldades de aprendizagem, alerta que Este conceito de inclusão envolve um repensar da política e da prática e reflete um jeito de pensar fundamentalmente di- ferente sobre as origens da aprendizagem e as dificuldades de comportamentos [...] Estamos falando sobre uma mudança de ideia de “defeito” para um “modelo social” [...] O objeti- vo é auxiliar a criança a se encaixar no sistema educacional e beneficiá-la com o que a escola possa oferecer-lhe. Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 16 Para Mittler (2003), o objetivo da inclusão está, atualmente, no coração da política educacional e da política social. A garantia legal de acesso ao ensino regular não as- segura que todos tenham acesso a todas as oportunidades ofereci- das aos demais alunos. Para im- pedir ainda mais uma segregação e isolamento dentro do aparelho escolar, devem ser tomadas me- didas pedagógicas como currí- culos coerentes, agrupamentos de alunos que beneficiem a inte- gração de todos, práticas e opor- tunidades de esporte, recreação e lazer com a participação efetiva de alunos com deficiências, tudo isso sem constrangimento ou impedimento de sua realização. Tendências inclusivas para o mundo do trabalho O processo de inclusãodas pessoas com deficiência no mercado de trabalho, apesar do notável crescimento das últimas décadas, ainda é ig- norado, mal interpretado e questionado nas várias áreas sociais mesmo com políticas educacionais e trabalhistas existentes no País. O estigma de deficiências decorrentes de conceitos pré-concebidos estabelecidos historicamente e que acabaram culminando na educação pela via filan- trópica excluem a pessoa com deficiência do mercado de trabalho. Historicamente, a preocupação com o aproveitamento da mão de obra de pessoas com deficiência teve seu início ao final da Primeira Guerra Mundial, por iniciativa da Grã-Bretanha, ao criar programas de reabilitação que tinham como objetivo inserir socialmente seus solda- dos mutilados, bem como para readequá-los em atividades rentáveis. De igual forma, com o advento da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos também se obrigaram a criar, implementar e investir em programas de reabilitação de pessoas com deficiência, bem como empregar mulheres para suprir a carência de funcionários das fábricas, indústrias e comércios desfalcados pelos funcionários convocados pelas forças armadas de seus estados. Edouard Manet nasceu em Paris, em 1832. Seu pai desejava que ele seguisse a tradição da família e fosse advogado. Mesmo sob protes- tos, Manet tornou-se um dos mais famosos pintores impressionistas de seu tempo. Possi- velmente voltou-se para a arte em razão de suas dificuldades na escola. Um reitor consi- derou-o “débil”, outro se referiu a ele como distraído, não estudioso e medíocre. Saiba mais Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 17 O cenário deixado pela guerra contribuiu para a necessidade de habilitação e reabilitação de pessoas até então ociosas em decorrência de condições físicas, sensoriais (corresponde aos órgãos do sentido – visão, audição) e principalmente sociais. Dessa forma, os países envolvidos e destroçados pelos combates se empenharam em dinamizar as várias áreas da ciência como medicina, pedagogia, sociologia, engenharias e outras para se unirem e desenvolverem programas de atendimento clí- nico, terapêutico e educacional que dessem conta de promover a habi- litação dessas pessoas. Branden (1999, p. 110), ao destacar o trabalho como um meio de desenvolvimento pessoal, afirma que “o trabalho tem o potencial de ser uma espécie de disciplina espiritual”, e aponta o trabalho como referen- cial de autoestima. Para esse autor, o trabalho traz a realização humana, não se pode pensar em reabilitação ou habilitação, inclusão social, sem que as portas do emprego não se abram para essas pessoas, seria como correr para chegar a lugar algum. No entanto, quando um empregador contrata uma pessoa com deficiência exclusivamente para cumprir a Lei de Cotas, não quer dizer que está exercendo seu papel social, pois a cidadania consiste em aceitar as pessoas sem desigualdade, o que também não quer dizer que se deve ignorar a deficiência, como diria Aristóteles, “Não existe nada mais desigual do que tratar igualmente todos”. Exercer a cidadania requer um exercício de ver e buscar alternativas de colaboração, no sentido de propiciar condições para que as pessoas possam usar de lugares e situações comuns, adaptando e provendo meios para uma convivência sem constrangimentos. Conforme Tomazini (apud BATISTA et al., 1998, p. 9) Nossa parcela de contribuição para a exclusão aconteceu exa- tamente no momento em que, através dos diagnósticos, eti- quetamos esse indivíduo, o denominamos cliente, o inserimos no interior institucional especial. Pensar em trabalho para os portadores de deficiências não significa criar oficinas segrega- das ou treiná-los para uma opção qualquer. As instituições de ensino especializado em muitas situações tam- bém falham ao permitir que seus alunos permaneçam anos na esco- la, quando sua função dentro do movimento inclusivo deve visar à autonomia dessas pessoas. Outra situação que dificulta o ingresso ao Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 18 trabalho são as barreiras arquitetônicas e sociais que comprometem sua colocação e permanência no mercado formal e informal de trabalho. Conforme a Organização Internacional do Trabalho – OIT (apud BATISTA et al., 1998, p. 9), “os portadores de deficiência capazes de realizar trabalhos produtivos, devem ter direito ao emprego como qual- quer outro trabalhador”. Para que essa pessoa tenha sucesso em sua atividade laboral, a OIT recomenda que se deve buscar uma atividade economicamente rentável, que corresponda não tanto às deficiências do candidato, mas às suas aptidões e ao seu potencial. Batista et al. (1998), ao pensar no papel da instituição de ensino no processo de inserção da pessoa com deficiência na sociedade, por meio do trabalho, indica cinco funções básicas que as escolas deve- riam desempenhar. 1. Identificar potencialidades e interesses da pessoa com deficiên cia e oferecer programas de educação profissional. 2. Capacitar e atualizar os recursos humanos 3. Coordenar, inovar e promover programas e parcerias que possam garantir a qualidade da atividade a ser desenvolvida. 4. Sensibilizar e conscientizar a sociedade, principalmente os empre- gadores, no sentido de mostrar as potencialidades de trabalho da pessoa com deficiência. 5. Informar e conscientizar a pessoa com deficiência sobre seus direi- tos e deveres. Essa luta não pertence particularmente à educação, à família, à sociedade ou ao estado, a tarefa em promover a cidadania de pessoas com deficiências é de toda sociedade, para dessa forma construirmos uma comunidade justa e solidária. Conquistas legais para inserção no trabalho A conferência convocada em Genebra em 1o de junho de 1955 pelo Conselho de Administração do Secretariado do Trabalho em sua Recomendação n. 99 considera que, para atender as necessidades de emprego de pessoas com defi- ciências e para utilizar da melhor maneira possível os recursos de mão de obra, impõe-se o desenvolvimento e a restauração da Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 19 capacidade de trabalho de pessoas com deficiências combinando num processo contínuo e coordenada orientação médica, psico- lógica, social, educacional, treinamento profissional e serviços de emprego, inclusive acompanhamento (BRASIL, 1997, p. 26). Essa emenda é ratificada quase três décadas depois pela Recomen- dação n. 168, também em Genebra. Ao aplicá-la, assim como a Reco- mendação n. 99 de 1955 relativa à reabilitação profissional (pessoa com deficiência), os países membros devem considerar a finalidade da reabi- litação profissional, conforme definido na Recomendação 168: “capa- citar uma pessoa com deficiência em conseguir e manter um emprego conveniente e de nele progredir, favorecendo assim sua integração ou reintegração na sociedade” (BRASIL, 1997, p. 38). Essas recomendações são significativas quanto ao progresso sobre as necessidades em matéria de reabilitação e reorganização na legislação e no desempenho dos países membros da Organização Internacional do Trabalho. Enfatizando a reabilitação profissional e emprego das pessoas deficientes com a meta de atingir uma participação plena na sociedade, o Brasil, pelo Decreto n. 129/91, estabelece que o teor contido na Con- venção de Genebra “será executado e cumprido tão inteiramente como nela se contém” (PARANÁ, 1994, p. 196). Destaca-se a Convenção n. 111, de 25 de junho de 1958, que trata da discriminação do emprego e trabalho, e a Convenção n. 159, de 20 de junho de 1983, sobre a readaptação profissional e emprego das pessoas com deficiências, ratificadas pelo governo brasileiro em forma de leis, pro- mulgadas pelos Decretos n. 62.150/68 e 129/1991, respectivamente. Coerente com a visão social atual em que prevalecem as potenciali- dades sobre as limitações das pessoas com deficiências, a Carta Magna, no item VIII, Art. 37, preconiza a reserva de percentual dos cargos e empregos públicos federaisna administração direta, indireta e funda- cional. Esses dispositivos irradiam para as constituições estaduais e leis orgânicas municipais deste país. A Lei Federal n. 7.853/89, regulamentada pelo Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999, em seu Artigo 8º, incisos II e III, determi- na o apoio governamental à formação de acesso aos serviços concernentes, inclusive aos regulares voltados à formação profissional, empenho do poder público quanto ao surgimento e manutenção de empregos, Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 20 também, em tempo parcial destinados às pessoas com deficiên- cias que não tenham acesso aos cargos comuns; à promoção de ações eficazes que propiciem a inserção nos setores públicos e privados de pessoas com deficiências; à adoção de legislação específica e reserva de mercado de trabalho em favor dessas entidades de administração pública e no setor privado e que regulamente a organização de oficinas congêneres integradas ao mercado de trabalho e a situação das pessoas com deficiên- cias, constituindo crime obstar sem justa causa no acesso de alguém a um cargo público, por problemas de deficiência, ou negar, por motivos derivados de deficiência, emprego ou tra- balho (BRASIL, 1989b). Conforme a Lei Federal n. 8.213/91, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, em seu Art. 93, empresas com 100 ou mais empregados estão obrigadas a preencherem de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários da previdência reabilitados ou pessoas com deficiências habilitadas, nas seguintes proporções: até 200 empregados, 2%; de 201 a 500, 3%; de 501 a 1000, 4%; de 1001 em diante, 5%. A dispensa do trabalhador reabilitado ou do deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 dias só poderá acor- rer após a contratação de substituto de condição semelhante, cabendo ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social gerar estatística sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e habi- litados, fornecendo-a, quando solicitado, aos sindicatos ou entidades representativas dos empregados (BRASIL, 1991). A colocação no mercado dependerá de um estágio supervisionado amparado pela Instrução Normativa n. 5, de 30 de agosto de 1991, do Ministério do Trabalho e da Previdência Social/Secretaria Nacional do Trabalho. Esse documento permite aos empregadores a criação de pro- gramas de treinamento e qualificação dessas pessoas, em regime de trei- namento. Por essas medidas, empregadores e técnicos podem negociar junto aos órgãos especializados a colocação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, contratando, assim, sua mão de obra. Vale registrar, no âmbito da garantia dos direitos sociais das pes- soas com deficiências, a Lei n. 7.853/89, que dispõe sobre o apoio do Poder Público e seus órgãos em assegurar os direitos básicos da pessoa com deficiência. No entanto, verifica-se que, muitas vezes, as entidades têm enfrentado dificuldades para obter a liberação de documentos, o que pode inviabilizar seu pleno funcionamento. Capítulo 1 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 21 A Lei n. 9.867, dispõe sobre a criação e o funcionamento de cooperativas sociais, visando à integração social dos cidadãos, sendo que as mesmas devem ser constituídas com vantagem no mercado econômico. Por meio do trabalho, fundamentam-se no interesse ge- ral da comunidade em promover a pessoa humana e a integração social dos cidadãos, e incluem entre suas atividades a organização e a gestão de serviços sociossanitários e educativos e o desenvolvimen- to de atividades agrícolas, industriais, comerciais e de serviços. Na denominação e razão social das entidades é obrigatório o uso da ex- pressão “Cooperativa Social”, sendo aplicadas a elas todas as normas relativas ao setor em que operarem, desde que compatíveis com os objetivos dessa lei. No campo das leis internacionais, nacionais e locais, impõe-se o princípio da integração/inclusão inspirado na Declaração Univer- sal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução n. 217-A, da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezem- bro de 1948, a qual reivindica, nos Arts. 22 e 23, para cada homem o direito ao trabalho, protegendo sua dignidade e livre desenvolvimento da sua personalidade. O Brasil é detentor da legislação mais completa da Ibero-América, na área de apoio às pessoas com deficiência. Depoimento de uma pessoa com deficiência. “Nós trabalhamos porque precisamos do dinheiro para sobreviver. Mas, tam- bém, trabalhamos porque isso contribui para nossa dignidade, o nosso valor. O trabalho nos dá mais controle sobre nossa vida e nos conecta com ou- tras pessoas. Sinto-me realmente privilegiado em ser remunerado pelo que adoro fazer. Toda sociedade que exclui pessoas do trabalho por qualquer motivo – sua deficiência ou sua cor ou seu gênero – está destruindo a esperança e igno- rando talentos. Se fizermos isso, colocaremos em risco todo nosso futuro (WHITE apud BATISTA et al., 1998, p. 5).” Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 22 Da teoria para a prática Uma sociedade que seleciona seus membros por sua produtivida- de, também tem o dever de preparar os que apresentam dificuldades. Faz-se necessário a criação de mecanismos capazes de habilitar pessoas com deficiências para que não sejam marginalizadas por sua condição. Não se defende aqui um paternalismo assistencial, antes, busca-se valer seus direitos que lhes são próprios por serem capazes de exercer plena- mente sua cidadania. De que forma podemos contribuir para a socialização e ingresso de pessoas com deficiências no mercado de trabalho, sem nenhuma forma de discriminação? Síntese O movimento inclusivo é resultante de acordos e manifestações públicas da sociedade em prol dos direitos e deveres da pessoa com deficiência. No Brasil, é notória a contribuição da filantropia no aten- dimento à pessoa com deficiência, no entanto, ainda caminhamos para as adequações e adaptações necessárias no ensino regular para que a criança tenha acesso e permanência em estabelecimentos de ensino que ofertem educação regular. Outro avanço da educação especial está no reconhecimento edu- cacional enquanto modalidade do ensino regular. Essa conquista pro- move ao aluno que apresenta dificuldades individuais e que necessita de apoio especializado o direito de frequentar escolas próximas de sua comunidade e ainda obter o benefício da escola especial. O reconhecimento da importância do trabalho, enquanto ativi- dade vital ao ser humano, trouxe uma nova visão social para a pessoa com deficiência e estimulou os segmentos da sociedade a garantir legal- mente seu ingresso no mercado de trabalho, bem como alertou sobre o papel da família e escola para sua efetivação. 23 Neste capítulo, destacaremos alguns contributos que emergem na educação inclusiva, voltados às implicações pedagógicas no Ensino Fun- damental, ou seja, ações que atendam às necessidades específicas das pes- soas com características diversificadas. Nessa compreensão, pautada pelo contexto do século XXI, entende-se que novos cenários, novos desafios estão dando lugar a novas concepções de educação sobre a vertente das transformações sociais e dos avanços científicos. Para tanto, é emergente refletir que o processo inclusivo demandará a provisão de auxílios e servi- ços de apoio pedagógico especializado. Nessa dimensão, o processo de in- clusão necessita de professores especializados para atender todos os alunos. Educação inclusiva: um olhar sobre as implicações pedagógicas no Ensino Fundamental Ressignificando as ações frente à educação inclusiva Para iniciar a discussão, é necessário entender que a filosofia inclusiva introduziu na educação novos conceitos, novas terminolo- gias e novas responsabilidades educacionais. Para tanto, convida os profissionais da educação, que direta ou indiretamente estão envolvidos com crianças, jovens e adultos que apresentamhistórico de necessida- des educacionais especiais, sejam elas temporárias ou permanentes, a participarem dessa leitura e de outras leituras inovadoras que venham ressignificar a tomada de consciência de sua ação docente e do estabe- lecimento de intervenções que integram todo o contexto educacional. Posto isso, elencamos os dispositivos legais que formalizam a educação inclusiva, bem como questões voltadas aos aspectos das adaptações Educação inclusiva 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 24 curricu lares com vistas aos Parâmetros Curriculares Nacionais e das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Especial. No entanto, convém ressaltar que não existe receita pronta para trabalhar com alunos que apresentam qualquer necessidade educacional especial. Assim sendo, sinalizamos e justificamos que o profissional da educação, compreendido nesse contexto, como professor especializado em educação especial, pedagogo, professor de apoio à comunicação al- ternativa, intérprete, guia intérprete, entre outros, deverão mediar o pro- cesso de ensino e aprendizagem baseados nas adaptações curriculares. O termo adaptações curriculares é uma resultante das novas estra- tégias educacionais voltadas à diversidade. Para se ter entendimento da educação inclusiva, é imprescindível co- nhecermos a ideia básica sobre os direitos humanos. Em tempos de uma sociedade contemporânea que perpassa o amadurecimento da democra- cia, o parágrafo inicial do Programa Nacional de Direitos Humanos, pu- blicado pelo Ministério da Justiça, em 1996, faz a seguinte menção: “Não há como conciliar democracia com as sérias injustiças sociais, com as formas variadas de exclusão e com as reiteradas violações aos direitos hu- manos que ocorrem em nosso país” (apud CARVALHO, 1998, p. 15). A partir disso, encontramos resposta na dissertação de Ross (1999), que afirma que a partir dos anos 70 do século XX, os modelos segregacio- nistas cedem lugar aos modelos da integração das pessoas com deficiência. Para esse pesquisador (1999, p. 64), O conceito de necessidades educacionais especiais desloca o ponto de referência para possibilidades de escolarização apre- sentadas por suas características diferenciais e necessidades específicas dos alunos, de um lado, e a capacidade de dar res- postas educativas apresentadas pela escola, de outro. Sob essa ótica, é importante entender que a inclusão do aluno com ne- cessidades especiais em classes comuns é vista como uma tendência dos sis- temas de ensino e de acordo com os dispositivos da LDB, Lei n. 9.394/96, o atendimento em classes e escolas especializadas somente deve ser ofer- tado quando for mais indicado para suprir a necessidades desse aluno. É importante mencionar que a inclusão dos alunos no Ensino Fundamental é regulamentada pela Constituição Federal de 1988, Art. 208, inciso III, fazendo parte da política governamental. Ainda Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 25 que aparentemente, apesar de todos os esforços e do perío- do relativamente longo, todos esses dispositivos legais que contextualizam-se em diretri- zes ainda não produziram a mudança necessária no contex- to educacional. Para tanto, os sistemas educacionais devem subsidiar as instituições de ensino, tanto em caráter estrutural e or- ganizacional, como pedagógico e social, para que se efetive essa ação de que todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educa- cionais especiais sejam matriculados em escolas regulares, de acordo com as especificidades. Atualmente, sob o discurso da educação inclusiva, para as pessoas que apresentam um histórico de necessidades especiais, foi criada uma política pública de acesso à educação, de responsabilidade da União, dos Estados e Distrito Federal e dos Municípios, para atingir uma con- dição que assegure seus direitos à educação. Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC (BRASIL, 2002, p. 17), os movimentos em prol da escola inclusiva evidenciam [...] grande impulso desde a década de 90 no que se refere à colocação de alunos com deficiência na rede regular de ensi- no e têm avançado aceleradamente em alguns países desen- volvidos, constatando-se que a inclusão bem-sucedida desses educandos requer um sistema educacional diferente do que atualmente disponível. Implicam a inserção de todos, sem distinção de condições linguísticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais, étni- cas, socioeconômicas ou outras e requer sistemas educacionais planejados e organizados que deem conta da diversidade dos alunos e ofereçam respostas adequadas às suas características e necessidade. Ainda sobre esse aspecto, Gomes (2005, p. 69-70) parte da premis- sa de que, didaticamente, pode-se abranger a política inclusiva em dois aspectos: o âmbito social e o educacional. No social, é o reconhecimento de que a pessoa com necessidades especiais é cidadã, tendo o direito de estar integrada na sociedade o mais plenamente possível. Cumpre-nos estabelecer um consenso sobre o sentido e o significado do vocá- bulo “diretrizes”. Segundo o dicionário, diretriz significa orientação, guia, rumo. É como o sentido de propor rumos para elaboração de currículo, projeto político- pedagógico e plano de ação docente. Saiba mais Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 26 Nessa perspectiva, tem-se Mazzotta (1998, p. 5), um dos teóricos mais conhecidos na educação especial, que diz haver a necessidade de rever a concepção sobre o portador de deficiência e o papel da escola, seja pelas pessoas individualmente, por grupos organizados, pelos serviços estrutu- rados, pelas campanhas de esclarecimento da população, etc. Ainda, é preciso redimensionar as diretrizes norteadoras da ação dos órgãos públi- cos, a partir da visão dinâmica das condições do portador de deficiência. Já no âmbito educacional, a pessoa tem direito tanto à adequação do espaço escolar quanto a acessibilidade de equipamentos e materiais pedagógicos, estendendo-se também a formação inicial e continuada com vistas a qualificação dos alunos, professores e demais profissio- nais envolvidos. Ainda, nessa trilha de pensamento, Mazzotta (1998, p. 6) funda- menta que [...] é oportuno ressaltar que um conjunto de indicações, de instruções coerentes e precisas se faz necessário para permitir que as ações educativas se desenvolvam de modo a preservar a organicidade e coerência do sistema escolar e, ao mesmo tem- po, assegurar ao professor as condições necessárias ao desen- volvimento de seu trabalho, de tal modo que o seu papel de educador não seja diminuído. À luz dessas concepções, é fundamental propor uma escola inclusi- va que esteja aberta à diversidade dos alunos, com disposição e compe- tência, de modo a articular uma comunidade participativa. Conforme Carvalho (2007, p. 34-35), Uma escola inclusiva não “prepara” para a vida. Ela é a pró- pria vida que flui devendo possibilitar, do ponto de vista po- lítico, ético e estético, o desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade crítica e construtiva dos alunos-cidadãos que nela estão, em qualquer das etapas do fluxo escolar ou das modalidades de atendimento educacional oferecidas. Para tanto, precisa ser prazerosa, adaptando-se às necessidades de cada aluno, promovendo a integração dos aprendizes entre si, com a cultura e demais objetos do conhecimento, oferecendo ensino-aprendizagem de boa qualidade para todos, com todos e para toda a vida. Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 27 A educação inclusiva tem como meta evitar que as diferenças se transformem em desigualdades para aprendizagem e para a participação. Dessa forma, todas as crianças de uma comunidade aprendem juntas, in- dependentemente de suas condições sociais, culturais e individuais. “Para incluir, basta ver no indivíduo sua essência, aceitar seus defeitos e diferen- ças e respeitar suas características próprias” (CORSI, 2001, p. 108). Ainda na esteira das reflexõessobre a educação inclusiva, esse autor destaca que toda pessoa tem o direito de pertencer a um grupo, a uma sociedade. E pertencer não é fazer parte ou estar inserido; é conviver e par- ticipar efetivamente. “À discriminação e o preconceito marcaram a perso- nalidade da sociedade e vem sendo transmitidas há muitas gerações, preci- samos estar conscientes e preparados para encarar as diferentes formas de sua manifestação e modificar esta postura.” (CORSI, 2001, p. 108). Avançando mais nessa linha de pensamento da educação inclusiva, busca-se Mantoan (2001, p. 2), a qual postula que [...] incluir significa muito mais do que simplesmente colocar juntas crianças ‘deficientes’ com crianças ‘normais’ em sala de aula. Trata-se de uma ‘mexida’ bem maior. [...] uma transfor- mação positiva e profunda, além de trazer noções básicas de respeito ao ser humano e de seus direitos fundamentais. Talvez esteja até muito aquém da inclusão, no momento em que se nega a diferença para facilitar a forma de trabalhar com o ensino. Ao conceito de escola inclusiva, é importante integrar os conceitos de escola para todos e escola de qualidade. Diante da pluralidade que é vivenciada a cada dia no âmbito escolar, no que tange ao processo inclusivo, faz-se necessário concretizarmos a escola para todos e a escola de qualidade que, muito mais do que incluir, deve integrar, tanto socialmente quanto em seu programa curricular, todas as crianças, jovens e adultos, sejam deficientes ou não deficientes. Segundo uma importante contribuição de Morin (2000, p. 14), a qual diz que: o ensino de qualidade envolve três variáveis, a saber; a pri- meira, que a instituição deve ser inovadora, aberta, dinâmica, Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 28 cujo projeto pedagógico seja coerente, aberto, participativo, com infraestrutura adequada e tecnologias de ponta acessíveis. A segunda envolve a questão dos docentes, os quais devem estar bem preparados seja intelectual, emocional e moralmen- te, bem remunerados e num ambiente propício ao acompa- nhamento e orientação dos alunos. A terceira diz respeito aos próprios alunos, os quais devem estar motivados e preparados e com possibilidades de gerenciamento pessoal e grupal. A sociedade inclusiva e a escola inclusiva congregam com respon- sabilidade as simpatias dos pais, dos educadores e da sociedade em ge- ral. A questão da formação de professores é comentada por Werneck (1997, p. 61) o professor do ensino básico é a principal figura da sociedade inclusiva. Ainda enfatiza, que os cursos e as universidades que formam professores devem ter como ponto de honra cons- cientizá-los, de que alunos com deficiência são responsabilida- de de todos os educadores, e não apenas do profissional que se interessa por educação especial. Barbosa apud Gomes (2005) situa a falta de informação e conhe- cimento que educadores e administradores têm em respeito da reali- dade social e cultural, como também do processo de desenvolvimento cognitivo-afetivo das crianças atendidas pelas escolas, afirmando que conhecer seus alunos, suas capacidades, também implica não ignorar as dificuldades para se pensar em uma resposta educativa, que contemple cada aluno em especial e a todos por consequência. Stainback e Stainback (1999, p. 219) pontuam: O ensino denominado pelo professor, a ênfase na competição e não na colaboração entre os alunos, o enfoque no desenvol- vimento acadêmico em vez de desenvolvimento da compe- tência social, o ensino segregado e os currículos baseados no aproveitamento são todos exemplos de práticas educacionais que virão a ser consideradas arcaicas, neste século. Nessa concepção, Gomes (2005, p. 78) afirma que há uma busca para se reverter a situação de exclusão e discri- minação, em diversos pontos do mundo, os quais mobilizaram movimentos em favor de que toda criança tem direito f undamental à educação e, principalmente, com a possibili- dade de atingir e manter um nível adequado de aprendizagem. Gomes (2005, p. 78) menciona, ainda, que “toda criança tem características próprias, voltadas a interesses, habilidades e necessidades Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 29 de aprendizagem que são únicas”. Formaliza também, que “os siste- mas e programas de ensino devem adotar a implementação de ações significativas ao processo de aprendizagem, voltadas às características e necessidades que os alunos demandam”. Destaca-se que, na década de 90 do século XX, inúmeras e sig- nificativas têm sido as reflexões acerca da educação escolar voltada à prática inclusiva, que vem alicerçada em leis, acordos e conferências mundiais: Constituição Federal do Brasil (1988), Educação para Todos, em Jomtien (1990), Declaração de Salamanca (1994), Declaração de Guatemala (1990), Diretrizes e Bases da Educação Especial (2001). Nessa perspectiva, faz-se necessário apresentar algumas contribuições tratadas em documentos que formalizam as ações da educação inclusiva. Em 1990, na Tailândia, na Conferência Mundial de Jomtien, de Educação para Todos, destacaram-se alguns objetivos, com implicações diretas para a educação especial, dentre eles: o estabelecimento de metas claras para aumentar o número de crianças na escola, assegurando a sua permanência por um tempo que possibilite obter um real benefício da sua escola- rização, e reformas educacionais que propiciem serviços que correspondam às necessidades de seus alunos, das famílias e das comunidades locais. Como consequência, a educação es- pecial passa a estar incluída dentro da perspectiva de educação para todos, surgindo um novo conceito, desta vez, amplo, o de necessidades educativas especiais (SANTOS, 1996, p. 12). A partir da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, a qual versa a respeito do acesso e qualidade na educação, realizada entre 7 e 10 de junho de 1994, em Salamanca, na Espanha, onde também foi tecida a Declaração de Salamanca e a Linha de Ação, que formaliza o entendimento da escola inclusiva: [...] o princípio fundamental que rege as escolas integradoras é de que todas as crianças, sempre que possível, devem aprender jun- tas, independentemente de suas dificuldades ou diferenças. As escolas integradoras devem reconhecer as diferentes necessidades de seus alunos e a elas atender; adaptar-se aos diferentes estilos e ritmos de aprendizagem das crianças e assegurar um ensino de qualidade por meio de um adequado programa de estudos, de boa organização escolar, criteriosa organizada dos recursos e entrosamento com suas comunidades (BRASIL, 1994, p. 23). Dos estudos de Carvalho (2007, p. 145) extraímos a contribui- ção referente a esse dispositivo: “Dispomos de um documento oficial Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 30 contendo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Edu- cação Básica, decorrente do Parecer CNE/CEB n. 17 de 2001 e que inspirou a Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001”. No intuito de expandir o entendimento desse documento, salien- ta-se que é de cunho político-científico que tem em vista orientar, res- significar e subsidiar as ações de trabalho aos profissionais da educação, saúde, ação social e trabalho. Nesse sentido, concebe-se que a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional – Lei n. 9.394/96, também garante e reforça a matrí- cula, sem discriminação de turnos, a todas as pessoas com necessidades educacionais especiais. Essa, por sua vez, tem como objetivo integrar equipes de todos os níveis e graus de ensino com as equipes de educação especial, em todas as esferas de dependências administrativas e pedagó- gicas do sistema educativo, desenvolvendo ações integradoras nas áreas de ação social, educação, saúde e trabalho. Nos Artigos 58 e 59, referentes à educação especial, infere para efeitos dessa lei que essa é uma modalidade de educação escolar ofere- cida, preferencialmente, na rede regular de ensino, apoiando-as no sen- tido de criar condiçõesde integração e conscientização da necessidade escolar dessas crianças (BRASIL, 1996). ReflitaReflita No início da história da humanidade, os seres animalescos, indiferen- ciados, que mal sabiam andar, que se comunicavam com grunhidos, como mostra Jean-Jacques Annaud (1976) no filme A guerra do fogo, dividiram-se em tribos numa tentativa de iniciar uma dife- renciação. Aqueles que possuíam mais pelos no corpo faziam par- te de um grupo mais agressivo e mais ousado, enquanto aqueles que descobriram o fogo, acidentalmente, formavam outro grupo, um pouco mais humanizado. Dica: entendemos que somos diferentes uns dos outros, para tanto, sugere-se que o leitor assista esse filme, no intuito de contextualizar seu entendimento com vistas ao processo de inclusão. Agora atenção: a expressão necessidades especiais foi legalizada no Art. 58 da LDB n. 9.394/96, em seu Capítulo V, que trata do alunado Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 31 da educação especial. Considerando-se que a nova LDB fundamenta todo um movimento em prol de uma escola inclusiva – uma escola de boa qualidade para todos –, a expressão tornou-se mais abrangente, aplicando-se não só aos alunos com deficiências como a todos aqueles “excluídos” por diversas razões. ReflitaReflita Já na Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001, o Art. 5 deixa clara essa abrangência, na medida em que se consideram como educan- dos com necessidades especiais todos os que, durante o pro- cesso educacional, apresentam dificuldades de aprendizagem vinculadas, ou não, a uma cau- sa orgânica específica; os que apresentam dificuldades de co- municação e sinalização dife- renciadas dos demais alunos e os de altas habilidades Pensando na inclusão escolar, a partir de uma conscientização sobre as complexas e abrangentes mudanças que exigem práti- cas éticas e sociais adequadas e decorrentes de profundas ressig- nificações. A luz desse pensamento foi proposto a substituição dos seguintes termos: “excepcional”, “deficiente”,“portador de deficiência”, “pessoa com deficiência” e outros, pela expressão “necessidades especiais”, o qual objetiva com isso a substitui- ção do paradigma reducionista atrelado a estes indivíduos an- teriormente. (BRASIL, 2001, p. 70) Serviços de apoio pedagógico especializado A inclusão de crianças com deficiências físicas, sensoriais, inte- lectuais e comportamentais vem sendo operacionalizada a partir da inserção destas em salas de aula comuns ou, excepcionalmente, em salas de recursos multifuncionais, existentes nas escolas de educação básica, estaduais e municipais. O processo inclusivo nas salas de aula comuns viabiliza-se mediante “os serviços de apoio pedagógico especializado”, conforme preconizado É relevante mencionar o significado adotado às expressões “pessoa portadora de deficiência” e “pessoa com necessidades especiais”. A “pessoa portadora de deficiência” configura a pessoa que carrega (porta, possui) uma deficiên cia, já a “pessoa com necessidades especiais” eviden- cia a responsabilidade social de prever e prover meios e condições de satisfazê-las. Saiba mais Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 32 pelas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001, p. 50). De acordo com a legislação vigente, infere-se que os “serviços de apoio pedagógico especializado” exercem as seguintes funções: ● Nas classes comuns – atender “as necessidades educacionais especiais dos alunos durante o processo de ensino e aprendi- zagem” (BRASIL, 2001, p. 50). ● Nas salas de recursos – suplementar (no caso dos superdo- tados) e complementar em relação aos demais alunos o aten- dimento educacional realizado em classes comuns da rede regular de ensino. ● Na itinerância – prestar orientação e supervisão pedagógica periódica, por meio de visitas às escolas de modo a atender aos alunos em situação de deficiências. ● Professores/intérpretes – apoiar alunos surdos, cegos e ou- tros com acentuados comprometimentos de comunicação e sinalização. Cabe destacar o caráter transitório das salas de recursos, que podem ser criadas extraordinariamente, conforme o que preconiza o Capítulo 2 da LDBEN, nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Bá‑ sica, bem como os Referenciais e Parâmetros Curriculares Nacionais, de modo a atender aos alunos que apresentem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou condições de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos e demandem subsídio e apoio intensos. O texto da lei menciona claramente que esse “lócus” se destina a cegos, surdos, quadros de transtornos globais do desenvolvimento2, de síndromes, quadros psicológicos, neurológicos, psiquiátricos e alu- 2 Expressão proposta pela CID‑10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças), para referenciar crianças e adolescentes, também identificadas como com autismo ou psi‑ cose infantil, que apresentam alterações qualitativas nas interações sociais recíprocas, nas modalidades de comunicação e um repertório de interesses e atividades restrito, estereo‑ tipado e repetitivo (CID‑10, 1993). Visando à leitura mais fluida do texto, utilizou‑se os termos transtornos globais do desenvolvimento, autismo e psicose infantil alternadamente. Anteriormente, esses termos eram conhecidos como condutas típicas. Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 33 nos que apresentam casos graves de deficiência intelectual3 ou múlti- pla. Para esse último, assegura-se aos alunos o atendimento em classes especiais (BRASIL, 2001, p. 50): ● professores especializados em educação especial; ● organização de classes por necessidades educacionais especiais apresentadas, sem agrupar alunos com diferentes tipos de de- ficiências; ● equipamentos e materiais específicos; ● adaptações de acesso ao currículo e adaptações nos elementos curriculares; ● atividades da vida autônoma e social no turno inverso, quan- do necessário. Salas de recursos multifuncionais são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para alunos com ne- cessidades educacionais especiais, por meio do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidian- do-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar ( BRASIL, 2006). No tocante ao atendimento educacional especializado, poderá ocor- rer excepcionalmente fora do espaço escolar, com a devida garantia de certificação de frequência, em dois ambientes distintos (BRASIL, 2001): ● Classes hospitalares – destinado à educação de alunos im- possibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique em internação hospitalar ou atendi- mento ambulatorial. ● Atendimento domiciliar – viabilizar atendimento educacional especializado a alunos que, em decorrência de tratamento de saúde, necessitem de permanência prolongada em domicílio. 3 O termo deficiência mental deixa de ser utilizado por entender que a área responsável pela aprendizagem é o intelecto, sendo que as demais áreas podem estar preservadas, per‑ mitindo ao sujeito desenvolver outras habilidades no tocante a atividades laborais, convívio social, autonomia e independência. Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 34 Diante do exposto, tem-se o desdobramento prático e o atendi- mento educacional especializado no Brasil, por meio de alguns indi- cadores do quadro de referência e dos apoios previstos na legislação educacional brasileira. Esses, por sua vez, podem ser representados pela metáfora da cascata, proposta pelo Relatório Copex, de 1976: _________________________________________________ Nível 1 Aula regular com professor regular, primeiro responsável pela prevenção, identificação, avaliação e correção de dificuldades menores do aluno. ------------------------------------------------------------------------- Nível 2 Aularegular com serviços de assistência ao professor regular. ------------------------------------------------------------------ Nível 3 Aula regular com serviços de assistência ao professor regular e à criança. -------------------------------------------------------------- Nível 4 Aula regular com participação da criança em sala de aula de apoio. -------------------------------------------------------- Nível 5 Aula especial na escola regular com participação nas atividades gerais da escola. -------------------------------------------------- Nível 6 Escola especial. ---------------------------------------------- Nível 7 Ensino a domicílio. ------------------------------------------ Nível 8 Ensino em instituição/hospital._________________________ Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 35 A leitura desses indicadores correspondem a cinco variantes que priorizam o atendimento a crianças especiais em escolas regulares, ca- bendo certa restrição nos últimos três segmentos: escola especial, ensi- no domiciliar e classe hospitalar. Vamos entender e aprender um pouco mais sobre educação inclusiva? Acessando o portal do MEC no endereço eletrônico <http://portal.mec.gov. br/>, na seção da Secretaria de Educação Especial, você irá encontrar vários links relacionados a esse assunto. Outra indicação interessante é o artigo “Interdisciplinaridade e trans- tornos globais do desenvolvimento: uma perspectiva de análise”, de Maria Eloisa Famá D´Antino, da Universidade Presbiteriana. Para aces- sar o artigo é só entrar no site: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/ Graduacao/CCBS/Pos-Graduacao/Docs/Cadernos/Caderno_vol_8/7_ INTERDISCIPLINARIDADE_E_TRANSTORNOS_GLOBAIS_DO_DE- SENVOLVIMENTO_UMA_PERSPECTIVA_DE_ANALISE.pdf>.. Adaptação curricular na perspectiva das necessidades educacionais especiais O Ministério da Educação postula que o processo de construção da educação inclusiva se constitui numa tarefa de sensibilização para a mudança de paradigma, envolvendo ações junto à população, à admi- nistração pública nas diferentes instâncias do poder, assim como todos os profissionais envolvidos em todas as esferas de atuação, estenden- do-se às famílias e à escola. Nesse sentido, a recomendação inclusiva está diretamente ligada a novos conceitos, a novas terminologias e também a novas responsabili- dades educacionais. Diante disso, entende-se por adaptações curricula- res estratégias educacionais que contemplem a diversidade. Sob esta ótica, a escola é o espaço que sofre o impacto das inter-re- lações pessoais e grupais no que tange às questões étnicas/raciais, de orientação sexual, de gênero, de classe, religiosas, entre outros. Sendo Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 36 assim, é necessário iniciar o combate às diferenças antropológicas e culturais. É nesse contexto que se deve buscar a aproximação máxima entre as pessoas, independentemente de suas características biopsicos- sociais apresentadas. ReflitaReflita Os desafios apresentados pelas diferenças humanas é o grande questionamento que se interpõe à educação contemporânea. Partindo desse pressuposto, como podemos vencer esses desafios? ReflitaReflita Considerando a proposta curricular dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que traz na sua estrutura a preocupação com a “educação de massa”, sem perder de vista as preocupações com as particularidades da aprendizagem, que diferem de uma para outra criança. O Ministério da Educação, ao adotar a concepção de “adaptações curriculares”, não se preocupou em elaborar uma proposta localizada a partir da engenharia de currículo. No entanto, para compreender as estruturas de tais propostas, nos obrigamos a buscar explicações na lite- ratura internacional que alavanca a proposta de adaptações curriculares no cenário brasileiro, destacando-se, entre outros, os estudos realizados por Giné e Ruiz (COLL, 1995, p. 298-301), Torres Gonzáles (2002, p. 127-188) e Manjoan, Gil e Garrido (BAUTISTA, 1997, p. 13). Ao incorporar o ideário da educação inclusiva, o Ministério de Edu- cação, no que tange às necessidades educativas especiais, ressignificou os termos empregados por Blanco (1999), adotando no contexto da educa- ção brasileira os termos adaptações de pequeno e grande porte, manten- do em algumas publicações oficiais os termos sugeridos por essa autora. O documento original dos Parâmetros Curriculares Nacio- nais – adaptações curriculares (1999) esclarece que essas são chamadas de adaptações curriculares significativas, mantendo- se a denominação utilizada na Espanha. Considerando que o vocábulo “significativo” em espanhol tem um significado diferente do que tem em português (vide Aurélio), optou-se Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 37 por adotar “de grande porte” por melhor descrever o que se pretende. Ainda nesse documento, está contemplado que as adaptações curriculares não significativas com vistas da deno- minação utilizada na Espanha. Considerando que “não signi- ficativo”, em português, tem um significado diferente do que tem no espanhol, referindo-se a algo que “não significa”, que “não expressa (o significado) com clareza”, optou-se pela utili- zação do termo adaptações curriculares de pequeno porte, por considerar que descreve melhor a natureza do fenômeno em questão (BRASIL, 2000, p. 9). Assim, as adaptações de pequeno porte são categorizadas em or- ganizativas de agrupamentos – didática e do espaço. No que se refere aos objetivos e conteúdos, esses devem priorizar o conteúdo propriamente dito, sem perder de vista os objetivos ou até mesmo a eliminação de conteúdos secundários. Já as questões avaliati- vas envolvem adaptação e modificação de técnicas e instrumentos. Em se tratando dos procedimentos didáticos e das atividades, devem prever a modificação de procedimentos, assim como a introdução de ati- vidades e materiais pedagógicos complementares que venham subsidiar os diversos níveis de aprendizagem. Quanto à temporalidade, determina os objetivos e os conteúdos previstos frente às diferenças apresentadas. Por outro lado, as adaptações de grande porte dizem respeito ao currículo, o qual deve contemplar as necessidades específicas dos alunos como forma de evitar exclusão educacional. Para tanto, fazem parte dessas características os elementos curricu- lares e as modalidades adaptativas com vistas à eliminação e/ou intro- dução de objetivos, conteúdos, métodos e recursos específicos, assim como a eliminação e/ou introdução de adaptações e modificações de critérios de avaliação, promoção e prolongamento do tempo de perma- nência na mesma série. Segundo Gomes (2005), a elaboração das adaptações curriculares de grande porte está diretamente ligada àqueles professores que es- tão comprometidos com as ideias de educação para todos, com os que trabalham com as necessidades educacionais especiais e com os que defendem a inclusão. Nesse âmbito, concebe-se que as adaptações curriculares de grande porte consistem num processo a ser desenvolvido no contexto escolar, Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 38 visando remover as barreiras de aprendizagem apresentadas pelos alu- nos com necessidades educacionais especiais. Sendo assim, Carvalho (1999, p. 11) elucida que: para remover as barreiras, há que examinar todas as variá- veis do processo educativo escolar, envolvendo as pessoas, o ambiente físico os recursos financeiros e materiais, os graus de participação da família e da comunidade e o projeto cur- ricular adotado. Remover barreiras à aprendizagem é considerar todos os alunos como se- res em processo de crescimento e de desenvolvimento, que experimentarão a aprendizagem escolar como desagradável, como uma verdadeira barrei- ra se estiverem desmotivados, se não encontrarem sentido e significado para o que lhes ensinam na escola. Mas será extremamente agradável se a prática pedagógica estiver centrada no sucesso da aprendizagem de todos (CARVALHO, 2004, p. 61). Acertadamente, Sánchez e Romeu (1996, p. 69) afirmam que: O professor requer uma série de estratégias organizativas e metodológicas em sala de aula. Estratégias capazes de guiar sua intervenção desde os processos reflexivos, que facilitem a construção de uma escola onde se favoreça a aprendizagem dos alunos como uma reinterpretação do conhecimento e não como uma mera transmissão da cultura. Nessa perspectiva, entende-se que a aprendizagem de qualquer aluno implica, para o professor, saber o que é o processo de aprendi- zagem e do como ele se dá. Igualmente é importante conhecer sobre o processo de desenvolvimento humano em suas diversas facetas, exami- nando suas relações com a aprendizagem. Gomes ainda destaca a importância da leitura crítica dos Parâme‑ tros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999), sem desconsiderar sua con- tribuição. No entanto, pode-se perceber que no texto completo apenas tangencia o que há de específico – de especial – nas necessidades educa- cionais de alguns desses alunos, o que dessa forma, além de reproduzir a nossa dificuldade cultural de confronto com as múltiplas deficiências, Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 39 restringe a possibilidade de produção. Nesse sentido, concebe-se que as práticas educativas e de conhecimentos são especialmente frutíferas para a superação das dificuldades apresentadas. Diante dessa realidade social, as adaptações se organizam na inte- ração da dicotomia entre o individual e o social, entre as necessidades do educando e as respostas que devem ser frente a elas organizadas. Ou seja, nesse cenário, as necessidades são apenas dos alunos e as respostas são da escola, e não de que as necessidades de resposta/pergunta se for- jam, nas quais o confronto entre limites e condições de ação, entre os poderes e saberes, entre os diferentes papéis vividos por cada indivíduo, nada tem de harmonioso. A luz da leitura não critica os Parâmetros Curriculares Nacionais, pode-se conduzir à equivocada hipótese de que, na escola, o que pla- nejamos acontece como planejamos; que as orientações sugeridas as- seguram a implementação do projeto político-pedagógico. Assevera-se que embora os PCN façam alusão ao caráter subjetivo das práticas educativas, o protagonismo atribuído às “adaptações curriculares” en- fatiza que as estratégias tornam-se mais importantes que os princípios que as justificam. Diante da pluralidade apresentada a cada dia no contexto escolar, deve-se refletir sobre o que, por que, para quem, quando e como ensi- nar, pode-se ainda superar a dimensão instrumental do currículo e ele passa a ser mais que um instrumento de apoio no processo educativo. Portanto, o currículo, mais que ponte entre a teoria e a prática, é síntese desses aspectos, síntese que se efetiva nas formas como se organizam as relações/práticas educativas na escola. Diante de tal experiência, acreditamos que nesse processo de en- sinar e aprender fazemos viva a proposta curricular que construímos e/ ou assumimos como nossa. Essas relações de ensino e aprendizagem nos transformam e se transformam, assim as formas de sua organização não estão estagnadas. O currículo, por sua vez, se desenvolve, se trans- forma, enfim, existe nessas práticas. Nesses termos, a flexibilidade lhe é intrínseca. O currículo não apenas indica o que, como, e quando ensi- nar e avaliar, mas nos ressignifica em nossas ações, na medida em que (re)produz a cultura escolar que, em sua essência, nos constitui como sujeitos, com saberes, papéis e funções específicas. Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 40 Conforme já previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais, as adaptações curriculares realizam-se em três níveis (BRASIL, 1999): 1. No âmbito do projeto político-pedagógico – organização esco- lar e serviços de apoio possibilitam: ● flexibilização de critérios e procedimentos pedagógicos, le- vando em conta a diversidade dos alunos; ● diversificação de técnicas, procedimentos e estratégias de ensino; ● avaliação de contextos que interferem no processo pedagógico; ● identificação e avaliação de alunos com possíveis necessidades educacionais especiais; ● elaboração de documentos informativos elucidativos para a comunidade; ● definição de objetivos gerais, levando em conta a diversidade dos alunos; ● priorização, sequenciação e eliminação de objetivos para aten- der às diferenças individuais. 2. No âmbito da sala de aula – destinam-se à programação da classe. Visam à real participação do aluno e sua aprendizagem. 3. No âmbito individual – focalizam a atuação do professor na avaliação e no atendimento do aluno. Consideram seu nível de competência curricular e os fatores que interferem no processo de ensino-aprendizagem. Alguns aspectos devem ser previamente considerados para se iden- tificar a necessidade de utilização das adaptações curriculares, em qual- quer nível: a) a real necessidade; b) a avaliação do nível de competência curricular do aluno, tendo como referência o currículo regular; c) seu caráter processual, permitindo alterações constantes e graduais nas tomadas de decisão. Capítulo 2 Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial 41 Sendo assim, as adaptações curriculares incidem sobre diferentes elementos curriculares. Já em relação ao acesso à aprendizagem, consi- dera-se a relevância dos seguintes aspectos: ● condições físicas, ambientais e materiais para o aluno; ● melhores níveis de comunicação e interação com as pessoas na comunidade escolar; ● condições de participação do aluno nas atividades escolares; ● mobiliário específico necessário; ● equipamentos e recursos materiais específicos necessários; ● materiais de uso comum em sala de aula; ● sistemas de comunicação alternativos para os alunos impedi- dos de comunicação oral e escrita. Quanto ao processo avaliativo, é fruto da aplicação de adaptações curriculares, diante disso, considera-se: ● atitudes e expectativas em relação ao aluno em diferentes contextos: ● sistemas de apoio ao aluno e à família; ● engajamento e participação social do aluno; ● condições socioeconômicas; ● dinâmica familiar. No tocante aos aspectos que dizem respeito à avaliação e progressão escolar do aluno na série, etapa, ciclo ou outros níveis, cabe inferir que: ● possibilidades de o aluno ter acesso às situações escolares e com menor necessidade de apoio especial; ● valorização de sua permanência com os colegas e grupos que favoreçam o seu desenvolvimento, comunicação, autonomia e aprendizagem; ● competência curricular, no que se refere à possibilidade de atin- gir aos critérios de avaliação previstos no currículo adaptado; ● efeito emocional da promoção ou da retenção para o aluno e sua família. Fundamentos e Metodologia do Ensino Especial FAEL 42 A reflexão mencionada exige que as mudanças se efetivem pri- meiramente em uma tomada de consciência dos educadores, os quais precisam conceber a capacidade de aprender dos alunos para, então, transformarem as ações pedagógicas. Com isso, espera-se que cada educador encontre uma maneira de tri- lhar sua caminhada, com vistas de transformar a sua prática metodológica. Nas palavras de González (2002, p. 162) [...] as adaptações curriculares relacionam-se com afirmações conceituais que fundamentam a necessidade de um currículo comum, geral, como resposta curricular à diversidade e respei- to às diferenças individuais. Essas adaptações podem ser con- sideradas como resposta adequada ao conceito de necessidades educativas especiais e ao reconhecimento, numa sociedade democrática, dos princípios de igualdade e diversidade. Considera-se, ainda, que ações que atendam às necessidades espe- cíficas das pessoas com características diversificadas envolvem o ensino individualizado e os recursos necessários de âmbito material, metodoló- gico, humano, os quais vão sendo postos a funcionar frente às necessi- dades educativas do grupo ou individuais.