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Autores: Prof. Ranyere Deyler Trindade Prof. André Ricardo Ramos Colaboradoras: Profa. Valéria de Carvalho Profa. Marisa Rezende Bernardes Profa. Ana Carolina Bueno Borges Física Geral M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Professores conteudistas: Ranyere Deyler Trindade / André Ricardo Ramos Ranyere Deyler Trindade é doutorando em Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Mestre e graduado em Física pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Professor do Ensino Superior desde 2008, trabalhou na área de Física Estatística com ênfase em Simulação Computacional. Ainda com foco em Computação, atuou na área de Física da Matéria Condensada e Física Aplicada. Foi professor-assistido por dois anos e meio na Unicamp e atualmente é professor da UNIP, no ensino presencial e a distância. É autor de livros e publicações em anais de congressos, estando sempre envolvido com trabalhos na área de Matemática diretamente interligados à Física. André Ricardo Ramos é químico, bacharel e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atuou como professor em cursinhos e no ensino de jovens e adultos (EJA) lecionando química e física. Iniciou como professor do Ensino Superior em 2006 no ciclo básico dos cursos de engenharia da Universidade Paulista (UNIP), ministrando diversas disciplinas na área de Química, Física e Cálculo. Lecionou, ainda, Matemática Aplicada para o curso de Farmácia. Atuou em seu período de formação na área de desenvolvimento de catalisadores biológicos pela UFPR e realizou pesquisa para o desenvolvimento de sensores eletroquímicos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui também trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais, bem como publicação em revistas especializadas sobre estes assuntos. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T833f Trindade, Ranyere Deyler. Física geral. / Ranyere Deyler Trindade. – São Paulo: Editora Sol, 2014. 208 p. il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-014/14, ISSN 1517-9230. 1. Física. 2. Cinemática. 3. Princípios da dinâmica. I. Título. CDU 53 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Andréia Andrade M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Sumário Física Geral APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 FÍSICA: CONCEITO, GRANDEZAS E UNIDADES ........................................................................................9 1.1 Fenômenos .................................................................................................................................................9 1.2 Divisões da Física .................................................................................................................................. 10 1.3 Grandezas físicas .................................................................................................................................. 11 1.3.1 Tipos de grandezas ................................................................................................................................. 12 1.4 Unidades .................................................................................................................................................. 13 1.4.1 Sistemas de medidas ............................................................................................................................. 13 1.5 Algarismos significativos ................................................................................................................... 18 2 CINEMÁTICA ...................................................................................................................................................... 20 2.1 Móvel ......................................................................................................................................................... 21 2.2 Espaço ....................................................................................................................................................... 21 2.3 Referencial .............................................................................................................................................. 23 2.4 Deslocamento escalar ......................................................................................................................... 23 2.5 Velocidade ............................................................................................................................................... 25 2.5.1 Velocidade média .................................................................................................................................... 25 2.5.2 Velocidade escalar instantânea ......................................................................................................... 29 2.6 Movimento retilíneo uniforme ....................................................................................................... 32 2.6.1 Função horária do MRU ....................................................................................................................... 35 2.6.2 Gráficos do MRU ..................................................................................................................................... 39 2.6.3 Velocidade escalar relativa .................................................................................................................. 46 Unidade II 3 MOVIMENTO ACELERADO (CONTINUAÇÃO DA CINEMÁTICA) ...................................................... 54 3.1 Aceleração escalar ................................................................................................................................ 54 3.2 Classificação dos movimentos ........................................................................................................ 56 3.3 Movimento uniformemente variado (MUV) .............................................................................. 56 3.4 Queda livre .............................................................................................................................................75 3.5 Lançamento oblíquo ........................................................................................................................... 83 4 CINEMÁTICA VETORIAL E MOVIMENTO CIRCULAR ............................................................................ 88 4.1 Vetor deslocamento ............................................................................................................................ 88 4.2 Vetor velocidade ................................................................................................................................... 89 4.2.1 Vetor velocidade média ........................................................................................................................ 89 4.3 Aceleração vetorial .............................................................................................................................. 90 4.4 Movimento circular ............................................................................................................................. 92 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 4.4.1 Deslocamento angular.......................................................................................................................... 93 4.4.2 Velocidade angular ................................................................................................................................. 94 4.4.3 Aceleração angular ................................................................................................................................ 97 4.4.4 Período e frequência ............................................................................................................................ 98 4.4.5 Engrenagens ............................................................................................................................................ 99 4.5 Movimento Circular Uniforme (MCU)........................................................................................101 4.6 Movimento Circular Uniformemente Variado (MCUV) .......................................................105 4.6.1 Aceleração centrípeta .........................................................................................................................105 4.6.2 Aceleração tangencial .........................................................................................................................107 4.6.3 Função horária do MCUV ..................................................................................................................107 Unidade III 5 PRINCÍPIOS DA DINÂMICA ........................................................................................................................117 5.1 Força ........................................................................................................................................................118 5.1.1 Tipos de força .........................................................................................................................................118 5.2 Sistema inercial ..................................................................................................................................118 5.3 Equilíbrio ................................................................................................................................................118 5.4 Primeira Lei de Newton (Princípio da Inércia) ........................................................................119 5.5 Segunda Lei de Newton ...................................................................................................................119 5.5.1 Soma vetorial ........................................................................................................................................121 5.5.2 Força peso ............................................................................................................................................... 130 5.5.3 Força normal ...........................................................................................................................................131 5.6 Terceira Lei de Newton .....................................................................................................................133 6 APLICAÇÕES GERAIS DAS LEIS DE NEWTON ......................................................................................137 6.1 Força de tração (T)..............................................................................................................................137 6.1.1 Polias ideais ........................................................................................................................................... 138 6.2 Força de atrito .....................................................................................................................................143 6.2.1 Tipos de forças de atrito ................................................................................................................... 144 6.3 Força elástica (Lei de Hooke) .........................................................................................................151 6.4 Plano inclinado ....................................................................................................................................154 6.4.1 Plano inclinado sem atrito ............................................................................................................... 154 6.4.2 Plano inclinado com atrito .............................................................................................................. 159 6.5 Força centrípeta ..................................................................................................................................162 Unidade IV 7 ENERGIA E LEIS DA CONSERVAÇÃO ......................................................................................................174 7.1 Forças constantes e trabalho unidimensional ........................................................................174 7.2 Unidades de medida do trabalho ...............................................................................................176 7.3 Trabalho de uma força variável ....................................................................................................180 7.4 Energia ....................................................................................................................................................183 7.4.1 Energia cinética e sua relação com o trabalho ........................................................................ 183 8 ENERGIA POTENCIAL E ENERGIA MECÂNICA ....................................................................................187 8.1 Energia potencial gravitacional e sua relação com o trabalho .......................................187 8.2 Energia potencial elástica ...............................................................................................................190 8.3 Energia mecânica e conservação de energia ..........................................................................191 7 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 APRESENTAÇÃO A disciplina Física Geral contempla em seu conteúdo programático vários aspectos da Mecânica Clássica, a saber: • medidas e unidades; • movimento em uma dimensão; • queda livre e lançamento na vertical; • dinâmica da partícula; • os princípios de conservação. Para abordar tais assuntos, apresentaremos um material teórico sucinto que não tem a pretensão de grandes inovações, mas, sim, de apresentar – de maneira clara e sistemática – o conteúdo previsto. Esta disciplina, diferentemente das demais matérias do curso,caracteriza-se por ser bastante envolvente, permitindo ao aluno rápida inserção em seu conteúdo, principalmente por focar um dos ramos da Física mais tradicionalmente estudados nos colégios de Ensino Médio: a Mecânica Clássica. Não temos a pretensão de desenvolver especialistas em Física, pois não se trata de uma licenciatura nessa área. Objetivamos, isso sim, trazer conhecimento suficiente que permita ao futuro professor o domínio de ferramentas matemáticas, além de um2amplo espectro de aplicações que visem ao enriquecimento de suas aulas. É nosso objetivo que, ao se capacitar nesta disciplina, o futuro docente domine plenamente tratamentos gráficos, algébricos, trigonométricos etc. e, com isso, esteja apto a responder aos questionamentos dos alunos. Saiba mais Vale a pena ler os artigos produzidos pela Revista Brasileira de Ensino de Física. Além de trazerem conteúdos básicos, auxiliam os docentes na inclusão de aulas experimentais, mesmo que sejam demonstrativas, no caso de a escola não possuir um laboratório específico. REVISTA Brasileira de Ensino de Física. Disponível em: <http://www. sbfisica.org.br/rbef/ojs/index.php/rbef>. Acesso em: 12 dez. 2013. Como objetivos específicos desta disciplina, espera-se que você adquira conhecimentos sobre: • como se representam grandezas físicas; 8 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 • o que são algarismos significativos; • o que representa uma medida; • Sistema Internacional de Unidades; • conversões de unidades. INTRODUÇÃO A Física está presente em tudo o que fazemos. Quando andamos, subimos as escadas, andamos em um automóvel, pisamos no freio ou no acelerador etc. Muitas vezes, percebemos certos fenômenos físicos e até os quantificamos. Quando estamos viajando, normalmente fazemos as contas de quanto tempo levará para completarmos tal percurso. Ao fazermos isso, estamos utilizando as teorias de Cinemática, mas muitos nem imaginam do que se trata. Muitas vezes, o problema começa quando é colocado no papel. Sendo assim, o aluno deve ter a cabeça aberta e buscar uma relação de tudo o que é ensinado aqui com algo do dia a dia. De fato, frequentemente ao longo deste livro-texto apontaremos tal relação. Aqui, por tratarmos da Dinâmica, muitas das teorias estarão diretamente ligadas com nosso cotidiano, mais do que qualquer outra parte da Física. O aluno deve usar isso a seu favor para facilitar o entendimento do conteúdo ensinado. Esperamos que, ao final deste curso, você saiba relacionar o conceito de Cinemática e energia com seu dia a dia, pois dessa forma não se tratará de um ensinamento momentâneo, descartado semanas depois. 9 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Unidade I 1 FÍSICA: CONCEITO, GRANDEZAS E UNIDADES Por séculos, o homem, na busca pelo conhecimento, observou fenômenos e elaborou teorias para explicá-los. A ciência que nos permite explicar os fenômenos naturais é chamada de Física. Os primeiros homens que buscavam explicar os fenômenos naturais, em sua maioria, não eram físicos, mas filósofos – como Aristóteles, um dos pioneiros na observação e criação de teorias físicas de que se tem registro. Mesmo que a maioria tenha se mostrado ineficaz, serviram como pontapé inicial para a Física. O nome “Física” vem do grego physiké, que significa natureza. Saiba mais Para conhecer um pouco mais sobre a história e os principais acontecimentos da Física, acesse o link a seguir: HISTÓRIA da Física – Resumo. [s.d.]. Disponível em: <http:// fisicasemmisterios.webnode.com.br/products/historia-da-fisica-resumo/>. Acesso em: 27 nov. 2013. 1.1 Fenômenos Damos o nome de “fenômenos” quando observamos algum tipo de transformação. É comum classificá-los em físicos e químicos, sendo: • fenômenos físicos são aqueles em que não há alteração na natureza dos corpos. Exemplo: quando a água passa do estado líquido para o estado físico. Apesar de ter havido uma mudança de fase, sua composição molecular continua sendo a mesma; • fenômenos químicos são aqueles em que há algum tipo de alteração na natureza dos corpos. Exemplo: um metal que se enferruja. O metal sofre oxidação, ou seja, uma reação química com o oxigênio do ar ou da água em contato com ele. 10 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I 1.2 Divisões da Física Com o passar do tempo, o estudo da Física atingiu uma magnitude inimaginável, e fez-se necessária uma divisão baseada no tipo de fenômeno ou do tamanho da matéria estudada. Inicialmente, até o começo do século XX, havia apenas a Física clássica, que trata do estudo de propriedades da matéria em escala macroscópica. Pode ser dividida em: • Mecânica: estudo da interação e do movimento de corpos. As grandezas fundamentais da mecânica são força, massa, aceleração, velocidade, posição e tempo – falaremos sobre isso com mais detalhes adiante. A mecânica ainda pode ser subdividida em: — Cinemática: estudo do movimento dos corpos sem levar em consideração a causa do movimento. — Dinâmica: estudo do movimento dos corpos e da causa do movimento (das forças de interação entre os corpos). — Estática: estudo de sistemas sob ação de forças que se equilibram. • Termologia: estudo dos fenômenos térmicos, em outras palavras, é o estudo do calor. Podemos subdividi-la em: — Termometria: estudo da temperatura e das escalas termométricas. — Calorimetria: estudo das trocas de energia entre dois sistemas quando se dão na forma de calor. — Estática: estudo da dilatação dos materiais com a variação de temperatura. — Termodinâmica: estudo das relações entre calor, temperatura, trabalho e energia. • Óptica: estudo da luz e outras radiações eletromagnéticas. Pode ser subdividida em: — Óptica geométrica: estudo dos fenômenos luminosos do ponto de vista geométrico, baseado na noção de um feixe de luz. — Óptica ondulatória: estudo da luz considerando-a uma onda plana. — Óptica eletromagnética: estudo da luz considerando-a uma onda eletromagnética. • Ondulatória: estudo das ondas e suas propriedades. • Eletricidade: estudo dos fenômenos resultantes da presença e do fluxo de carga elétrica. Pode ainda ser subdividida em: 11 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL — Eletrostática: estudo das propriedades de cargas elétricas em repouso. — Eletrodinâmica: estudo das propriedades e do comportamento de fenômenos envolvendo cargas elétricas em movimento. — Eletromagnetismo: estudo da relação entre os campos elétricos e magnético. Um aluno de Matemática pode se perguntar: por que estudamos Física em nosso curso? Além da resposta óbvia – sua importância como disciplina de exatas –, devemos nos lembrar de que a evolução da Matemática também está associada historicamente à da Física. O cálculo diferencial e integral foi desenvolvido, simultaneamente, por Leibniz e Newton. Por que Newton precisou de uma ferramenta tão poderosa quanto o cálculo? Em nosso material didático, procuraremos apresentar alguns exemplos que o motivaram a desenvolver o cálculo. Mas, para falar de Física, precisamos antes pensar em medidas, ou medições. Se um professor de Física perguntar quanto tempo você leva de sua casa até o trabalho, você deverá responder “x minutos”. Ou seja, dará como resposta um valor numérico seguido de uma noção da escala de medida que você está usando. Estará fornecendo a resposta de uma grandeza física. 1.3 Grandezas físicas Definimoscomo uma grandeza física tudo aquilo que pode ser medido e a ele serem associados um valor numérico e uma unidade. Expressamos toda grandeza física como sendo o produto do seu valor numérico medido por sua unidade, ou seja: X = |X| . [X] Grandeza Medida Unidade A seguir, o valor de algumas grandezas constantes da natureza. Constante gravitacional: G m kg s = × ⋅ −6 67384 10 11 3 2, Carga elétrica elementar: e C= × −1602 10 9, Número de Avogadro: N molA = × −6 02 1023 1, 12 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Diferentemente da Matemática, uma medida ou um número só faz sentido na Física se vier acompanhado de sua unidade. Se não houver unidade em uma placa na estrada com o número 60, por exemplo, somos incapazes de dizer com certeza o que ela representa. Pode ser que a velocidade máxima seja 60 km/h ou que a cidade mais próxima se encontre a 60 km dali. Em problemas físicos envolvendo diversas grandezas, é de extrema importância analisar a unidade final obtida como forma de verificar se ela corresponde à grandeza desejada. Se você pretende obter o tempo total de algum acontecimento, mas no final a unidade que restou foi uma unidade de distância, alguma coisa foi feita errada, e o aluno pode usar isso a seu favor na resolução do problema. 1.3.1 Tipos de grandezas As grandezas físicas podem ser classificadas em dois diferentes tipos: • Grandezas vetoriais: são grandezas físicas que, para serem representadas, precisam de módulo, direção e sentido, ou seja, apenas o valor medido não é o suficiente para que possamos representá-las. Os exemplos mais comuns, e amplamente utilizados na mecânica, são: velocidade, deslocamento, aceleração e força. Quando vamos representar uma força, devemos ser capazes de dizer a magnitude dessa força (o módulo), a direção em que está sendo aplicada e o sentido. 2N 10N F1 F2 Figura 1 Na figura, a força F1 possui uma magnitude de 10 newtons, está na direção horizontal e seu sentido é para a direita, ou leste. Já a força F2 possui magnitude de 2N, direção vertical e sentido para cima, ou norte. Reparem que, se deixamos de dar uma das três descrições da força, sua representação fica incompleta. Assim como força, posição, velocidade e aceleração também necessitam das três descrições para serem representadas. • Grandezas escalares: diferentemente das grandezas vetoriais, as grandezas escalares não possuem direção e sentido. Dessa forma, são representadas apenas com um valor numérico. Na mecânica, os exemplos mais comuns de grandezas escalares são a massa e o tempo. Quando falamos que um objeto tem uma massa igual a 5 kg, não precisamos de mais nada para representar sua massa – o 13 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL valor em si é o suficiente para entendermos. O mesmo vale para o tempo. Quando dizemos que se passaram dez minutos, não precisamos dizer mais nada. Observação É importante observar que, no caso das grandezas escalares, não se trata de uma opção representar ou não a direção e o sentido. Para que a grandeza seja caracterizada como escalar, temos que reconhecer ser impossível dar uma direção e um sentido para ela. 1.4 Unidades Para podermos representar corretamente uma grandeza, devemos conhecer bem sua unidade e decidir qual sistema de unidades usaremos. 1.4.1 Sistemas de medidas Os dois sistemas de medidas mais usados atualmente são o métrico e o imperial, quase em desuso na maioria dos países do mundo, sendo os EUA um dos únicos lugares que ainda o utilizam. O sistema métrico, por sua vez, é utilizado por mais de 90% dos países ao redor do mundo, pois é mais eficiente e de conversões mais simples. Nele, a relação entre as medidas se dá por múltiplos de 10. Para cada múltiplo, temos uma letra correspondente, e o aluno deve se habituar a elas. Veja a seguir um quadro com os dados mais utilizados em nosso curso: Quadro 1 – Relação de um símbolo a cada múltiplo de 10 Tera T 1012 Giga G 109 Mega M 106 Quilo k 103 Deci d 10-1 Centi c 10-2 Mili m 10-3 Micro μ 10-6 Nano n 10-9 Pico p 10-12 14 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Observação Os números estão escritos como múltiplos de 10 com uma notação denominada “notação científica”. Nela, escrevemos o número na forma: a n×10 onde 1 10≤ < ∈ a n Z Exemplo de aplicação Escreva os seguintes números em notação científica: a) 12 300 000 b) 0, 000072 Solução: a) Para colocar em notação científica, temos de deslocar a vírgula. O número de casas a serem deslocadas é a potência (ou seja, o expoente) da base 10. Quando deslocamos a vírgula para a esquerda, a potência é positiva. 12 300 000,0 = 1, 230 000 0 x 10n ⇒ 1,23 x 107 n = 7 b) A vírgula ficará entre 7 e 2; sendo assim, temos de deslocar a vírgula para a direita; portanto, a potência será positiva: 0,000072 = 7,2 x 10n ⇒ 7,2 x 10-5 n = 5 Uma vez definido o sistema como sendo métrico, devemos ter um tipo padrão de medida para cada grandeza. Esse padrão se dá pelas medidas do chamado SI (Sistema Internacional). Quando medimos uma grandeza, o que fazemos na verdade é compará-la com alguma outra medida do mesmo tipo. É necessário ter uma referência inicial, as outras medidas são obtidas comparando proporcionalmente com a referência. 15 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Saiba mais Para saber mais sobre a origem do metro, do quilograma e do litro, leia o texto a seguir, que mostra resumidamente como foi a convenção utilizada para que eles assumissem o valor que possuem hoje. FUJITA, L. Como foram calculados o metro, o litro e o quilo? [s.d.]. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-foram- calculados-o-metro-o-litro-e-o-quilo>. Acesso em: 27 nov. 2013. Logo, se sabemos a distância relativa a, por exemplo, 1 metro, ao medirmos uma distância diferente, o que fazemos então é comparar essa medida para ver quantos metros ela corresponde. Isso se dá para qualquer grandeza. A seguir, as unidades das principais grandezas físicas que utilizaremos em nosso curso. • Tempo: no Sistema Internacional (SI), a unidade de tempo é o segundo (s), mas podemos lidar com diferentes unidades. Veja o quadro: Quadro 2 Nome Hora Minuto Segundo Símbolo h min s O tempo é uma das poucas grandezas em que a relação entre suas unidades não se dá por uma potência de 10. A seguir, algumas regras de conversão: 1 min = 60 s 1 h = 60 min = 3.600 s 1 dia = 24 h 1 semana = 7 dias 1 mês = 30 dias • Comprimento: no Sistema Internacional (SI), a unidade de comprimento é o metro (m), mas podemos lidar com diferentes unidades que, nesse caso, obedecerão ao Quadro 1. Vejamos a seguir as principais: 16 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Quadro 3 Nome Quilômetro Metro Centímetro Milímetro Micrometro Símbolo km m cm Mm μm De acordo com o Quadro 1, a relação entre cada medida se dá por uma potência de 10. Temos, então: 1 m = 10² cm = 10³ mm; 1 km = 10³ m. Para saber o inverso, basta mudarmos o sinal da potência, ou seja: 1 mm = 10-3 m 1cm = 10-2 m 1m =10-3 km • Massa: no Sistema Internacional (SI), a unidade de massa é o kg. No entanto, podemos lidar com diferentes unidades que também obedecerão (com exceção da tonelada) ao Quadro 1. Vejamos a seguir as principais: Quadro 4 Nome Tonelada Quilograma Grama Miligrama Símbolo t kg g mg Temos, então, as relações de conversão: 1 kg = 10³ g 1 g = 10³ mg 1 t = 10³ kg E as inversas: 1 g = 10-³ kg 1 mg = 10-³ g 1 kg = 10-³ t 17 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Observação Repare que, nesse caso, a unidade do Sistema Internacional não é a referência g, e sim 10³ g, ou kg. Assim, não se deve associar sempre a unidade referência como sendo a do Sistema Internacional, pois nem sempre isso será verdade. Observem também que o que seria mg recebeu o nome de “tonelada”. Exemplos de aplicação 1) Quantas horas, minutos e segundos há em 17,56 h? Solução: Separando a parte inteira da parte decimal: 17,56 h = 17 h + 0,56 h Transformando 0,56 h em minutos: 0,56 * 60 = 33,6 min Separando a parte inteira da parte decimal: 33,6 min = 33 min + 0,6 min Transformando 0,6 min em segundos: 0,6 * 60 = 36 s Portanto: 17,56 h = 17 h 33 min 36 s 2) Quantas canetas de 12 cm de comprimento são necessárias, no mínimo, para cobrir a distância Terra-Sol, de 1,5x108 km? Solução: O número de canetas (n) é a razão entre a distância Terra-Sol e o comprimento da caneta: n x km cm x cmkm cm x= = = 15 10 12 15 10 10 12 13 10 8 8 5 12, , * , Precisaremos, então, de 1,3 x 1012 caneta, ou seja, aproximadamente 1 trilhão de canetas. 18 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I 1.5 Algarismos significativos Quando fazemos uma medida, o resultado que temos é um valor aproximado do valor real. Essa aproximação irá depender do instrumento que estamos utilizando para fazer a medida, mais especificamente da precisão desse instrumento. Não faz sentido falar em um padrão para um número de casas decimais para se representar uma medida. Isso depende do que estamos interessados em medir. Se estivermos, por exemplo, medindo a nossa massa, uma precisão de até 100 gramas é mais que suficiente – por isso, normalmente, nas balanças das farmácias as medidas são de 100 em 100 gramas. Se quisermos medir, no entanto, um objeto mais leve, que seja da ordem de 50 gramas, não fará sentido utilizarmos uma balança de farmácia, fazendo-se necessário o uso de uma com maior precisão. Assim, quando representamos uma medida, devemos levar em consideração a precisão do instrumento. Não faria sentido, por exemplo, representar a medida da nossa massa como sendo 60,1523452 kg. Visto que a precisão da balança é de 100 g, seria o suficiente representá-la como 60,2 kg (arredondando). Precisamos definir, então, os chamados algarismos significativos (AS), que nos darão uma ideia de como representar uma medida. Como já vimos, é necessário ter uma ideia da precisão que, definida, nos dará uma base de quantas casas devemos utilizar em nossa representação da medida. Os algarismos significativos são todos os algarismos, contados da esquerda para a direita, a partir do primeiro não nulo. Logo: 57,462 – Possui 5 AS último AS (casa da incerteza) primeiro AS 0,0023 – Possui 2 AS último AS (o erro do instrumento/estatístico encontra-se nessa casa) primeiro AS 0,00230 – Possui 3 AS último AS (diferente do anterior, onde o 3 era dúvida; aqui ele é certeza, e a dúvida é o zero) primeiro AS Repare: mesmo que matematicamente os números 0,0023 e 0,00230 sejam iguais, tratando-se de uma medida, eles possuem a diferença de uma casa de precisão. No primeiro (0,0023), o instrumento possui um erro que se encontra na 4ª casa decimal – por exemplo, 0,0002. Isso quer dizer que essa medida, na verdade, seria 0,0023 ± 0,0002. Logo, como o erro está na 4ª casa, não há porque representar 19 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL a medida com 5 casas, já que a 5ª casa não faria o menor sentido. Já no segundo (0,00230), o instrumento possui um erro que se encontra na 5ª casa decimal – por exemplo, 0,0001. Logo, nesse caso, a medida pode ser representada com 5 casas: 0,00230 ± 0,0001. O erro do instrumento é que dirá, então, com quantas casas devemos representar nossa medida. Primeiro, temos de saber com quantos algarismos significativos representaremos o erro. O mais comum é com apenas um algarismo significativo. Já o erro instrumental é normalmente definido de duas maneiras: • Instrumento analógico: o erro é a metade da menor divisão. Se pegarmos como exemplo a régua milimetrada, sua menor divisão é de 1 mm; portanto, o erro seria de 0,5 mm. Considerando então apenas o erro instrumental, se aferimos dessa régua uma medida que resultou em 14,5 cm, a representaríamos da seguinte forma: (14,50 ± 0,05) cm Ou, então: (145,0 ± 0,5) mm • Instrumento digital: o erro equivale exatamente à menor divisão. Em uma balança digital de farmácia, que normalmente tem sua menor divisão como sendo 100 g, o erro seria exatamente 100 g. Considerando, então, uma pessoa que, ao medir sua massa nessa balança, viu que tinha 60,4 kg, a forma de representar isso seria: (60,4 ± 0,1) kg ou, em gramas: (604 ± 1)x10³ g Esta última forma deve ser olhada com atenção. Por que a colocamos em notação científica? A resposta para isso vem do fato que definimos que o erro deve ter apenas um algarismo significativo; logo, se escrevêssemos (604000 ± 100) g, o erro estaria com três algarismos significativos (100 possui 3 AS). Para eliminar isso, precisamos deixá-lo em forma de notação científica. Escrito dessa forma, o 10³ não conta como AS. Exemplos de aplicação 1) Ao medir o comprimento de um objeto, usou-se uma regra milimetrada que possui uma incerteza de 0,5 mm, um paquímetro de incerteza de 0,05 mm e um micrômetro de incerteza igual a 0,005 mm. Em todos os casos, a medida foi exatamente 2 mm. Represente com o número certo de casas decimais a medida para cada instrumento em mm e cm. 20 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Solução: Com a régua, a medida deve ser: (2,0 ±0,5) mm (0,20 ± 0,05) cm Com o paquímetro: (2,00 ±0,05) mm (0,200 ± 0,005) cm Com o micrômetro: (2,000 ±0,005) mm (0,2000 ± 0,0005) cm 2) A precisão de uma balança digital é de 50 g. Uma medida resultou em 5,55 kg. Represente essa medida com seu respectivo intervalo de dúvida em kg e em g. Solução: Como foi definido antes, o erro de um instrumento digital é sua própria precisão. Portanto, teremos, em kg: (5,55 ± 0,05) kg Em gramas, surge o problema do erro (50 g) ter dois algarismos significativos. Temos, então, de deixá-lo com apenas um. 50g = 5x10¹ g Temos de fazer o mesmo para o valor da medida, tirar 10¹ em evidência: 5,55 kg = 5550 g = 555x10¹ g Finalmente: (555 ± 5)x10¹ g 2 CINEMÁTICA Como já foi colocado, a cinemática é uma subdivisão da mecânica que trata do movimento dos corpos sem se preocupar com a causa dos movimentos, ou seja, não são estudadas as forças de interação entre os corpos. 21 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Veremos mais adiante que, para haver uma aceleração, é necessárioa força resultante sobre o objeto ser diferente de zero. Entretanto, nesse momento, não estaremos interessados nessa força, apenas na aceleração produzida por meio dela. Conhecendo a aceleração, poderemos elaborar as funções que descrevem a velocidade e a posição do objeto em cada instante. Para começarmos a estudar cinemática, precisamos introduzir alguns conceitos básicos. Vamos entender o conceito de móvel, de espaço, de deslocamento e de velocidade média e instantânea. 2.1 Móvel O foco da cinemática é o que em Física chamamos de móvel. Ele é o corpo cujo movimento é descrito. Dependendo de suas dimensões e do fenômeno estudado, o móvel pode ser classificado como: • Ponto material: corpo de dimensões desprezíveis dentro do fenômeno; pode ser chamado também de partícula. • Corpo extenso: corpo cujas dimensões não podem ser desprezadas dentro do fenômeno. Exemplos: • Um navio é considerado um ponto material em uma viagem pelo Oceano Atlântico, mas é tido como um corpo extenso do ponto de vista de qualquer passageiro a bordo. • Um prédio pode ser considerado como corpo extenso por alguém dentro ou próximo a ele. Por outro lado, em uma foto de satélite a longa distância seria considerado um ponto material. 2.2 Espaço Quando se deseja saber qual é a localização de um corpo, costuma-se determinar a distância que o separa de algo tomado como referência. A posição do corpo C, na figura a seguir, varia de acordo com o ponto de referência: 6 5 4 3 2 1 0 -2 -1 0 1 2 3 R C P Figura 2 22 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Quadro 5 Posição do corpo C em relação a um ponto de referência Distância Referência 2 m P 5 m R O valor da distância, portanto, muda conforme a escolha do ponto de referência, que definiremos como origem dos espaços. Isso é muito relevante, pois nem sempre precisamos escolher como referência o “zero” absoluto da escala. É importante entender o significado de dois termos: • Trajetória: existem várias definições válidas para trajetória. As mais comumente usadas são o conjunto de todas as posições que podem ser ocupadas por um móvel durante seu movimento e o caminho percorrido por um móvel em relação a um referencial adotado. Independentemente da definição utilizada, é importante saber que a trajetória é sempre orientada. • Espaço: valor algébrico da distância medida sobre a trajetória entre o móvel e a origem (0 = ponto de referência). Assim, o espaço (s) dá a posição em que está o móvel num determinado instante (t). Os valores dos espaços não indicam distâncias percorridas. Para o caso da trajetória a seguir, temos os seguintes valores para os espaços envolvidos: -10 C; -20 O A; 10 B; 20 Figura 3 Quadro 6 Posição dos móveis em relação a 0 Móvel Espaço A SA = 10 km B SB = 20 km C SC = -20 km 23 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Note que, nesse mesmo exemplo, se quiséssemos responder quanto o móvel andou para se deslocar de B até C, teríamos de responder 40 km. Isso nos dá a exata noção da diferença entre posição e distância (continuaremos a explorar essa ideia mais adiante). 2.3 Referencial Ao longo da disciplina, estaremos nos referindo a um móvel como estando em repouso ou em movimento. No entanto, podemos encontrar problemas com essas afirmações. Considere, por exemplo, uma pessoa dentro de um trem em movimento. Para outra pessoa que também se encontra no trem, a primeira estará em repouso, mas para uma terceira pessoa do lado de fora do trem, ela estará em movimento. Logo, ao definir se um móvel está em repouso ou em movimento, devemos indicar o referencial que estamos considerando, pois, como vimos, um móvel pode estar em repouso para um referencial, mas em movimento para outro. É comum adotar um referencial padrão, de forma que fique implícito quando dissermos que um móvel se encontra em repouso ou em movimento. Como veremos mais adiante, a Terra é um bom candidato para esse referencial padrão, mas com uma ressalva. Para entender o porquê dessa ressalva, temos de entender a definição dos dois tipos diferentes de referenciais: inerciais e não inerciais. O estudante deverá, a partir de agora, tomar muito cuidado ao adotar um referencial, pois, dependendo da escolha, as leis da Dinâmica passam a não ser mais válidas. A seguir, a descrição de cada referencial. • Referenciais inerciais: trata-se de referenciais que não estão acelerados, ou seja, é um referencial que não está sujeito a forças e, portanto, encontra-se parado ou com velocidade linear constante. A Terra se move ao redor do Sol com uma velocidade constante. No entanto, esse movimento não é linear retilíneo, já que ela dá voltas ao redor do Sol; além disso, a Terra realiza também um movimento de rotação, no qual gira ao redor do seu eixo. Entenderemos mais adiante exatamente o que acontece, mas o fato de ela estar girando faz aparecer uma aceleração, chamada de “aceleração centrípeta”, o que faria com que a Terra, teoricamente, não pudesse vir a ser um referencial inercial. No entanto, essa aceleração centrípeta é tão pequena que, com ótima aproximação, a Terra pode ser considerada um referencial inercial. Logo, nesta disciplina estaremos utilizando a Terra como nosso referencial inercial padrão. • Referenciais não inerciais: trata-se de referenciais que estejam acelerados, ou seja, que a força resultante sobre ele seja diferente de zero. Os efeitos “estranhos” desse tipo de referencial podem ser facilmente vistos quando estamos dentro de um carro que sofre uma aceleração ou uma desaceleração. Como todos nós já reparamos, inúmeras vezes somos “empurrados” para a frente ou para trás quando estamos em um carro em movimento. Para quem está dentro do carro, essas forças não fazem sentido, são “invisíveis”. Isso acontece exatamente por se tratar de um referencial não inercial, em que as leis da Dinâmica, em grande parte, não são mais válidas. 2.4 Deslocamento escalar Vamos definir agora o deslocamento escalar, que é de grande importância na cinemática. Trata-se de um deslocamento que leva em consideração apenas o ponto final e o ponto inicial. 24 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Expressamos, matematicamente, o deslocamento escalar como a diferença algébrica (o sinal deve ser considerado) entre o espaço final (Sf) e o espaço inicial (S0). Ou seja: ∆s = sf - si Exemplo: um móvel parte do ponto A, vai até o ponto B e então retorna até o ponto C. -100 -50 0 50 100 150 200 A C B s(m) No deslocamento AB, temos: ∆ ∆ ∆ S S S S S AB B A AB AB = − = − − = 150 100 250 ( ) m Agora, de B para C: ∆ ∆ ∆ S S S S S BC C B AB AB = − = − = − 100 150 50 ( ) m Logo, o deslocamento total (resultante) será: ∆ ∆ ∆ S S S S S AC AB B AC AC = − = + − = 250 50 200 ( ) m No entanto, percebam que, se fizermos direto o deslocamento de A para C, obteremos o mesmo resultado: ∆ ∆ ∆ S S S S S AC C A AC AC = − = − − = 100 100 200 ( ) m Isso prova, então, que não basta pegarmos o ponto de partida e de chegada para determinarmos o deslocamento escalar. Não interessa por onde ele passou no meio do caminho. 25 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - Dia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Podemos definir também a distância total percorrida, que se trata da soma dos valores absolutos de cada deslocamento parcial. Representamos da seguinte maneira: d S S Sn= + +…+∆ ∆ ∆1 2 onde: S = Posição do móvel. ∆S = Diferença entre as posições finais e iniciais do móvel. d = Distância total percorrida pelo móvel. Observação O aluno não deve confundir o conceito de deslocamento com o de distância total percorrida. No exemplo anterior, o deslocamento foi de 200 m, mas a distância total percorrida foi de 300 m. É importante notar a distinção entre os dois conceitos, uma vez que será de grande importância mais adiante no entendimento dos cálculos de velocidade. 2.5 Velocidade A velocidade assume um papel de grande importância na cinemática e será um dos nossos principais alvos de estudo. Como já estamos acostumados a ouvir no nosso cotidiano, ela é a razão entre espaço e tempo. Entretanto, podemos definir dois tipos de velocidade. A primeira leva em conta apenas o deslocamento dividido pelo tempo total do percurso, é chamada de velocidade média. A segunda, chamada de velocidade instantânea, nos dá a velocidade para cada instante de tempo. Veremos a seguir as principais características de cada uma. 2.5.1 Velocidade média Como já foi definido, a velocidade média considera apenas o deslocamento escalar do móvel. Portanto, não importa se o móvel deu voltas ou se ele parou no meio do percurso, o que consideramos é apenas o deslocamento dividido pelo tempo total. Se ele se encontrava, inicialmente, na posição S0 e no instante t0 e, no seu ponto de chegada, ele se encontra na posição Sf e no instante tf, então teremos a velocidade média como sendo: v S t S S t tm f f = = − − ∆ ∆ 0 0 26 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Observação Um relógio que marca 6 h indica que o instante é t = 6 h; se for medido o tempo a partir daí até o instante t = 8 h, terá decorrido um intervalo de tempo ∆t = 2 h; portanto, os conceitos de instante (t) e de intervalo de tempo (∆t) são diferentes. Exemplo de aplicação Um atleta, numa prova de 100 metros rasos, termina o percurso em 10 segundos. Determine sua velocidade média em m/s e em km/h. Solução: Da equação v S t S S t tm f f = = − − ∆ ∆ 0 0 , teremos: v S t v m s m m = = = ∆ ∆ 100 10 10 / Para passar para km/h, basta fazer a conversão das unidades: v m s km h v m h v km h m m m = = = ⋅ = − − 10 10 10 1 3600 3600 10 36 3 2 Observação É interessante, para não perder muito tempo com conversões, lembrar sempre da conversão mais utilizada, que é a de m/s para km/h e vice-versa. Dá para notar facilmente, do exemplo anterior, que nada mais fizemos, ao passar de m/s para km/h, do que multiplicar por 3,6. Sendo assim, para fazer a transformação inversa, basta dividirmos por 3,6: 27 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL m s km h km h m s → → × → → ÷ , , 3 6 3 6 Para não ter dúvidas a respeito de quando multiplicar e quando dividir, apenas lembre-se de que em km/h o valor sempre tem de ser maior. Então, caso você chegue a um valor em m/s maior do que em km/h, é porque foi feita a conversão errada. Exemplo de aplicação 1) Um carro parte de uma cidade que se encontra no quilômetro 20 de uma rodovia em direção a outra cidade que se encontra no quilômetro 100. Os primeiros 30 quilômetros, o automóvel percorre em quinze minutos. Em seguida, o motorista para por dez minutos em um posto para abastecer, permanecendo ali por mais meia hora até chegar ao seu destino. Determine a velocidade média do automóvel nos primeiros 30 quilômetros e nos últimos quilômetros, assim como a velocidade média total do percurso. Solução: No problema, temos que S0 = 20 km e t0 = 0 (quando não é dado, podemos considerar como sendo zero o tempo inicial). Ao percorrer os primeiros 30 quilômetros, a posição final será Sf = 50 km. O tempo que ele levou foi de 15 min = 1/4 h. Logo: v S t v km h m m = = − − = = ∆ ∆ 50 20 1 4 0 30 1 4 120 / / / Ao percorrer os últimos 50 quilômetros, a posição inicial será S0 = 50 km e a final Sf = 100 km. O tempo que ele levou foi 1/2 h: v S t v km h m m = = − = = ∆ ∆ 100 50 1 2 50 1 2 100 / / / Para calcular a velocidade média total, devemos considerar apenas a posição inicial e a final e o tempo total percorrido. 28 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Temos que a posição inicial é S0 = 20 km e a final é Sf = 100 km. O tempo total percorrido foi de quinze minutos (1/4 h), o primeiro trecho, mais dez minutos (1/6 h) parado no posto e mais meia hora no último trecho. Logo: t t t total total total = + + = + + = 1 4 1 6 1 2 3 2 6 12 11 12 h Portanto: v S t v v km h m m m = = − = = ≅ ∆ ∆ 100 20 11 12 80 11 12 960 11 87 3 / / , / Reparem que mesmo o tempo parado teve de ser levado em conta no cálculo da velocidade média. Portanto, a velocidade média total leva em conta todo o tempo levado no percurso, não importando como ele foi gasto. 2) Um automóvel percorre um trecho de 200 quilômetros. Nos primeiros 60 quilômetros, por ser estrada de chão, a velocidade média foi de apenas 40 km/h. Depois, já em uma estrada melhor, ele percorre mais 80 quilômetros, agora com uma velocidade média de 80 km/h. Por fim, no resto do percurso ele consegue atingir uma velocidade média de 120 km/h. Sendo assim, determine a velocidade média total do percurso. Solução: Como já foi dito, para calcular a velocidade média total, precisamos do tempo total do percurso, o que não foi dado no problema. Mas, por meio da velocidade média e do espaço percorrido em cada trecho, podemos encontrar também o tempo percorrido em cada trecho. 1º trecho: v S t t t h m1 1 1 1 1 40 60 60 40 15 = = = = ∆ ∆ ∆ ∆ , 29 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL 2º trecho: v S t t t h m2 2 2 2 2 80 80 80 80 1 = = = = ∆ ∆ ∆ ∆ 3º trecho: Como ele já percorreu 60 quilômetros no primeiro trecho e 80 quilômetros no segundo, no terceiro ele tem de percorrer 60 quilômetros para completar os 200 quilômetros. Logo: v S t t t h m3 3 3 3 3 120 60 60 120 0 5 = = = = ∆ ∆ ∆ ∆ , Sendo assim, o tempo total percorrido foi: ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ t t t t t t h total total total = + + = + + = 1 2 3 15 1 0 5 3 , , A velocidade média total será: v S t v v km h m total total m m = = ≅ ∆ ∆ 200 3 66 7, / 2.5.2 Velocidade escalar instantânea A velocidade instantânea, diferentemente da velocidade média, não trata do deslocamento total e do tempo total do percurso, mas sim de um deslocamento pequeno durante um intervalo de tempo 30 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I bem pequeno. Emoutras palavras, o intervalo de tempo tende a zero (∆t → =0). Essa velocidade, que representaremos apenas por v, é exatamente a velocidade medida no velocímetro de um carro. No velocímetro, a velocidade é instantânea e pode mudar de um segundo para o outro caso haja aceleração ou desaceleração. No curso de Matemática, é importante olhar a cinemática pelo ponto de vista do cálculo para não se tornar algo que os alunos simplesmente venham a decorar. Sendo assim, como definimos agora, a velocidade instantânea aparecerá ao aplicarmos um limite, ou seja: v S tt = →lim∆ ∆ ∆0 Dessa equação, lembrando da definição de derivada, teremos que a velocidade instantânea trata-se da derivada da posição em relação ao tempo: v dS dt = No Sistema Internacional (SI), a unidade de velocidade é o m/s, mas ainda podemos ter a velocidade dada em km/h, cm/s, km/s etc. Da equação anterior, podemos isolar o S: dS dt= ⋅v Integrando dos dois lados, S Sf f dS dt S S dt 0 0 0 0 ∫ ∫ ∫ = ⋅ − = ⋅ t tf t tf v v Se consideramos Sf como sendo a posição instantânea da partícula, ou seja, S(t), teremos: S t dt( ) = ⋅ +∫ t t v S 0 0 onde S0 faz o papel da constante de integração, que nesse caso equivale sempre à posição inicial do móvel. 31 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Exemplos de aplicação 1) Um objeto realiza um movimento unidimensional, de forma que seu movimento é restrito apenas ao eixo x. A sua função horária no SI é dada como: x t t t( ) = + −10 8 6 2 2, Sendo assim, determine a velocidade do objeto passados dois segundos após o início do movimento. Solução: Sabemos que, se a função horária é dada no SI, a posição x é dada em metros e o tempo t é dado em segundos. Temos, então, de encontrar a velocidade instantânea da partícula e depois substituir o tempo dado. Da equação v dS dt = , temos: v dS dt dx dt v t d dt t t = = = + −( )( ) ,10 8 6 2 2 Derivando, temos: v(t) = 10 -8,6t Substituindo, então, o tempo t = 2s, teremos: v(2) = 8,6 - 4 . 2 v(2) = 0,6 m/s 2) Uma partícula que se move no eixo x tem a função de velocidade dada, no SI, por: v(t) = 10 - 8,6 Sabendo que no instante inicial a partícula se encontrava na origem, determine a função posição da partícula e sua posição depois de dois segundos. Solução: Neste problema, temos a função velocidade e estamos interessados na função posição. Para isso, usaremos a equação a seguir, ou seja, teremos de integrar a função da velocidade para encontrarmos a função posição. 32 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I S t dt( ) = ⋅ +∫ t t v S 0 0 Porém, como no instante inicial a partícula se encontrava na origem, temos que S0 = 0. Também consideraremos o instante inicial como sendo t = 0. Logo: S t dt S t t dt S t S t ( ) = ⋅ ( ) = − ⋅ ( ) = − ( ) = − ∫ ∫ 0 0 2 10 8 6 10 8 6 2 10 4 t t v t t t ( , ) , ,33 2t Para t = 2s, temos: S S S m 2 10 2 4 3 2 2 20 17 2 2 2 8 2( ) = ⋅ − ⋅ ( ) = − ( ) = , , , 2.6 Movimento retilíneo uniforme Vamos começar o estudo dos movimentos com aquele de representação mais simples: o movimento uniforme. Esse movimento caracteriza-se pela constância da velocidade. Nele, a aceleração é sempre nula e, portanto, a velocidade permanece sempre a mesma. O movimento uniforme pode ser retilíneo ou curvilíneo, como veremos adiante. A velocidade é um vetor; então, no movimento retilíneo, o módulo e a direção permanecem iguais, podendo haver apenas mudança no sentido, ao passo que no curvilíneo apenas o módulo permanece o mesmo. Neste tópico, iremos focar apenas no estudo do movimento retilíneo uniforme (MRU). No movimento uniforme, a velocidade média coincide com a velocidade instantânea, o que é lógico, pois não há alteração dela. Assim: v v S t dS dtm = = = ∆ ∆ 33 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Quando a trajetória do móvel em MU (movimento uniforme) é uma reta, temos o que chamamos de movimento retilíneo uniforme (MRU). Nesse caso, o módulo da velocidade e sua direção permanecem sempre os mesmos; porém o objeto pode ir para frente ou para trás, ou seja, seu sentido não precisa necessariamente ser sempre o mesmo. Podemos, então, classificar o MRU em dois tipos de movimento: • Movimento progressivo: movimento com sentido que coincide com o da trajetória (V > 0 e ∆S > 0). • Movimento retrógrado: movimento com sentido que não coincide com o da trajetória (V < 0 e ∆S < 0). Observação Uma velocidade negativa significa simplesmente que o móvel está se movendo em um sentido negativo do eixo adotado. Por exemplo: em uma estrada há placas indicando a quilometragem a cada 1 ou 2 quilômetros. Se você está vendo os números nas placas aumentarem à medida que o tempo passa, então sua velocidade é positiva naquela trajetória; mas, se estiver vendo os números diminuírem, a velocidade é negativa. Nos movimentos uniformes progressivos, o deslocamento (∆s) e a distância percorrida (d) coincidem. Nos movimentos uniformes retrógrados, o deslocamento é negativo, mas seu valor absoluto coincide com o da distância percorrida. Portanto, no MU: d = |∆s| Como podemos relacionar a velocidade ao espaço percorrido, teremos: v S t S v t S v t = = = ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ Logo: d = |v|∆t 34 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Exemplo de aplicação Quanto tempo leva um caminhão grande, de 100 m de comprimento, para atravessar um semáforo a 18 km/h e quanto tempo leva para atravessar um túnel de 1 km a uma velocidade de 33 km/h? Solução: No primeiro caso, o caminhão só atravessará completamente o sinal quando a parte de trás também tiver atravessado – logo, apenas após percorrer seu comprimento, que é de 100 m. Sendo assim, como o tempo será curto, é melhor deixar o resultado em segundos, e teremos de passar 18 km/h para m/s. Como já vimos, basta dividir por 3,6, da seguinte maneira: v m s= = 18 3 6 5 , / Logo: ∆ ∆ t d t = = = v s 100 5 20 Agora, no segundo caso, para atravessar o túnel completamente, ele terá de percorrer o comprimento do túnel mais seu comprimento. Logo: d = 1000 + 100 = 1100m = 1,1km Nesse caso, deixaremos em km para a conta dar exata. ∆t = 11 33 , Simplificando: ∆t h= 1 30 Multiplicando por 3600, teremos o tempo em segundos: ∆t s min= ⋅ = =1 30 3600 120 2 35 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL 2.6.1 Função horária do MRU Vamos agora deduzir a função horária do movimento retilíneo uniforme. Podemos fazer de duas formas: por meio do cálculo diferencial integral ou de um modo mais direto (vamos apresentar as duas formas). Isso é possível por conta da constância da velocidade, o que leva à equação v v S t dS dtm = = = ∆ ∆ . Vamos primeiro deduzir utilizando a forma mais simples. Para isso, partimos de: v S t v S S t t = = − − ∆ ∆ 0 0 A não ser que seja requerido no exercício, partiremos sempre de t0 = 0. Logo: S S v t S S v t − = ⋅ = + ⋅ 0 0 A equação anterior se tratada equação horária do MRU. Para deduzir utilizando o cálculo diferencial integral, partimos do fato de que a velocidade é constante. Portanto, utilizando a equação a seguir, teremos: S t dt( ) = ⋅ +∫ 0 0 t v S No entanto, como a velocidade é constante, podemos tirá-la para fora da integral. Ficamos, então, com: S t dt S t ( ) = ⋅ + ( ) = ⋅ + ∫v S v t S t 0 0 0 que é exatamente igual à equação S S v t= + ⋅0 . 36 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Observação É importante que o aluno não trate a equação S S v t= + ⋅0 , assim como outras equações horárias que encontraremos mais para frente, como algo que ele precisa “decorar”. O aluno, principalmente do curso de Matemática, deve ser capaz de entender que todas as equações podem ser facilmente deduzidas por meio do cálculo diferencial integral partindo simplesmente de uma informação inicial. Se ele já se acostumar a trabalhar dessa maneira, não terá problemas no futuro com qual equação deve utilizar. Exemplos de aplicação 1) Uma partícula move-se segundo a função horária S = 15 - 4t, na qual o espaço e o tempo estão com unidades no SI. Determine a posição inicial da partícula, sua velocidade escalar e, em seguida, a posição da partícula passados 10 segundos. Por fim, determine o instante no qual a partícula passa pela origem dos espaços. Solução: Para determinar a posição inicial e a velocidade escalar, basta compararmos a função horária dada com a equação S S v t= + ⋅0 . Coloquemos uma embaixo da outra: S S v t S = + ⋅ = − 0 15 4t Comparando as duas, vemos que o termo constante equivale à posição inicial e o termo que acompanha o tempo (inclusive o sinal) equivale à velocidade escalar. Logo: S m v m s 0 15 4 = = − / Antes de prosseguir, vamos interpretar novamente o valor negativo encontrado da velocidade. Lembremos que o sinal negativo da velocidade indica que ela está se movendo no sentido negativo do eixo das posições, ou seja, o valor correspondente à posição da partícula está diminuindo com o tempo. No exemplo, a posição encontra-se inicialmente na posição correspondente a S = 15 m. Com o passar do tempo, a posição da partícula tende a diminuir até que ela passa pela origem (S = 0) e, a partir daí, a posição começa a assumir valores negativos. Vamos substituir t = 10 s para saber qual a posição da partícula depois desse intervalo de tempo: S S = − ⋅ = − 15 4 10 25m 37 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Ou seja, depois de 10 segundos, a partícula já passou pela origem e percorreu mais 25 metros na direção negativa do eixo. Para encontrar quanto tempo leva para a partícula passar pela origem, simplesmente faremos S = 0. Logo: 0 15 4 15 4 3 75 = − = = t t , s Assim, em t = 3,75 segundos, a partícula encontra-se exatamente na origem das posições. 2) Um automóvel parte da origem dos espaços a uma velocidade de 60 km/h. Depois de 10 minutos, um segundo automóvel parte, também da origem, a uma velocidade de 100 km/h. Determine quanto tempo o segundo automóvel leva para alcançar o primeiro e quantos quilômetros tiveram de ser percorridos para que ele o alcançasse. Solução: Há várias maneiras de resolver este problema. A mais simples, para não trabalhar com tempo inicial diferente de zero, é saber a posição do segundo automóvel passados os 10 minutos. Depois disso, podemos montar a função horária de cada carro. Consideremos 10 minutos como sendo 1/6 de uma hora. Logo: v S t S v t S km = = = ⋅ = ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ 60 1 6 10 Quando o segundo carro começa a se mover, o primeiro estará na posição 10 km. Montemos, então, a função horária de cada um deles, considerando o instante inicial aquele que o segundo automóvel começa a se mover. Nesse caso, a posição inicial do primeiro carro é S0 = 10 km e a posição inicial do segundo carro é S0 = 0. Assim: 1º carro: S t1 10 60= + 2º carro: S t2 100= Agora, queremos o instante em que o segundo automóvel alcança o primeiro. Quando isso ocorre, os dois estarão ocupando a mesma posição, e basta fazermos com que a posição dos dois seja a mesma, ou seja: S S t t 1 2 10 60 100 = + = 38 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Isolando o tempo, teremos: 40 10 1 4 15 t t = = =h min Portanto, levará 15 minutos para que o segundo automóvel alcance o primeiro. Para saber a posição, basta substituir esse tempo em qualquer uma das duas funções horárias, pois, como vimos, nesse instante as duas são iguais. É preferível escolher a mais simples: S t S S 2 2 2 100 100 1 4 25 = = ⋅ = km 3) Dois automóveis movem-se em direções opostas, o primeiro a 80 km/h e o segundo, a 120 km/h. O primeiro encontra-se no quilômetro 20 da rodovia e o segundo no quilômetro 240. Determine o tempo que levará para que os dois se cruzem e a posição do encontro. Solução: Este problema difere-se do anterior pelo fato de que os dois automóveis estão se movendo em direções opostas e, portanto, terão velocidades com sinais diferentes. Como já definimos, o movimento oposto ao crescimento da quilometragem possuirá velocidade negativa. Nesse caso, o segundo automóvel é que se move na direção contrária ao aumento dos números da rodovia, pois ele vem do quilômetro 240 em direção ao automóvel que se encontra no quilômetro 20. Assim, sua velocidade será negativa. Teremos, então: 1º carro: S t1 20 80= + 2º carro: S t2 240 120= − Agora, da mesma forma, o ponto de encontro se dará quando a posição dos dois for a mesma, ou seja: S S t t 1 2 20 80 240 120 = + = − Isolando o tempo, teremos: 200 220 11 66 t t = = =, h min 39 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Portanto, os dois se cruzarão após 66 minutos. Para achar a posição, novamente basta substituir em uma das funções horárias: S t S S 1 1 1 20 80 20 80 11 108 = + = + ⋅ = , km Perceba que esse número é a posição da rodovia em que eles se encontram, não quer dizer que eles percorreram 108 quilômetros, e sim que se encontraram no quilômetro 108 da rodovia. É fácil ver que o primeiro carro, como partiu do quilômetro 20, percorreu 88 quilômetros, ao passo que o segundo, que vinha do quilômetro 240, percorreu 132 quilômetros. 2.6.2 Gráficos do MRU Já aprendemos a representar os espaços em função do tempo de duas maneiras: a partir da equação horária e por meio da tabela do espaço em função do tempo. Em nenhum desses casos, a forma da trajetória seguida pelo móvel é mostrada. Independentemente dessas duas maneiras de representar os espaços em função do tempo, podemos introduzir uma terceira maneira: o diagrama s x t. Frequentemente, utilizamos na Física diagramas nos quais relações entre duas grandezas são mostradas graficamente. Costuma-se dizer que um gráfico fala por si só, além de carregar todas as informações que precisamos. Para esboçar um gráfico s x t a partir da função horária, basta calcular valores do espaço para alguns instantes convenientes. Se o movimento for uniforme, bastam apenas dois valores do espaço com os respectivos tempos, determinando dois pontos, pois o gráfico de uma função do 1º grau é uma reta. Cateto adjacente s t ∆t ∆s θ Cateto oposto Figura 4Nesse caso, vemos que a tangente do ângulo θ vale: tg S t θ( ) = ∆ ∆ 40 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Mas vimos que isso é exatamente a velocidade escalar da partícula. Portanto: v = tg(θ) Lembremos, porém, do estudo de uma função do segundo grau, em que a tangente é exatamente o coeficiente angular da reta. Logo, em um gráfico de s x t, a velocidade é exatamente o coeficiente angular da reta. Isso já estava claro olhando para a função horária: S S v t= + ⋅0 Nesse caso, vemos também que a posição inicial S0 é exatamente o ponto onde a reta cruza o eixo S, ou seja, o coeficiente linear da reta. Podemos também encontrar o ponto onde a reta cruza o eixo t, ou seja, quando S = 0. 0 0 0 = + ⋅ = − S v t t S v Esse ponto só faz sentido se S0 < 0 ou se v < 0. Se ambos forem > 0 ou < 0, o resultado seria um tempo negativo, que não tem significado físico. Seria algo antes do início do movimento. Vejamos agora alguns exemplos de diagramas s x t e façamos uma análise em cada um deles: Exemplo: 60 30 0 -30 0 5 10 15 20 t (s) s ( m ) Figura 5 Nesse caso, vemos que a posição inicial do móvel, que é o ponto onde a reta cruza o eixo S, é S0 = – 30 m. Para saber o valor da velocidade, basta pegar outro ponto que esteja visível no gráfico. Podemos ver claramente o ponto onde a reta cruza o eixo t, que se dá em t = 5 s; logo, para S = 0, t = 5. Temos, então: S = -30 + vt 0 = -30 +v . 5 v = 6m/s 41 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Assim, a função horária será: S = -30 + 6t Exemplo: t (s) s ( m ) 50 1 2 3 4 6 150 100 50 0 -50 -100 Figura 6 Nesse caso, temos cinco etapas diferentes nessa curva. De 0 a 1 s, como se trata de uma reta, o móvel moveu-se com velocidade constante e positiva (pois a posição está aumentando). De 1 a 2 s, o móvel permanece na mesma posição; portanto, a velocidade é zero. De 2 a 3 s, temos uma reta decrescente; logo, como a posição está diminuindo, temos uma velocidade negativa. De 3 a 4 s, o móvel também permanece parado. E, de 4 a 5 s, novamente temos uma velocidade negativa. Ocorreu o seguinte: o móvel saiu da sua posição inicial em 50 m, dirigiu-se até a posição 100 m, ficou 1 segundo parado e começou a voltar, parando novamente por 1 segundo na origem. Depois, continuou voltando. Vamos montar as cinco funções horárias diferentes desse gráfico: De 0 a 1 s: v S S t t v S t S vt = − − = − − = +→ 0 0 0 1 50 0 50 Para achar a velocidade, precisamos de mais um ponto no gráfico. Temos que, para t = 1 s, S = 100 m. Logo: 100 50 1 50 = + ⋅ = v v m s/ 42 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Portanto: S = 50 + 50t De 1 a 2 s: v = =→ 0 1001 2S De 2 a 3 s: v S S t t v S t S v t = − − = − − = + − 0 0 100 2 100 2( ) Para achar a velocidade, peguemos o ponto t = 3, S = 0. Logo: 0 100 3 2 100 = + − = − v v m s ( ) / Portanto: S t S t S t 2 3 2 3 2 3 100 100 2 100 100 200 300 100 → → → = − − = − + = − ( ) É importante dar o significado do “300” encontrado na função horária S2→3. Vemos claramente que o móvel não sai da posição inicial 300 m no gráfico; então, por que aparece esse valor? Bem, esse valor nada mais é que uma “extrapolação” da reta que vai do 2 até o 3 s. Se continuarmos desenhando a reta para cima, ela irá cruzar o eixo S em 300 m; porém isso não apresentará nenhum problema, já que deixamos bem claro que essa função horária só é válida para t = 2 s até t = 3 s. De 3 a 4 s: v = =→ 0 03 4S 43 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL De 4 a 5 s: v S S t t v S t S v t = − − = − − = − 0 0 0 4 4( ) Para achar a velocidade, peguemos o ponto t = 5, S = – 50. Logo: − = + − = − = − 50 100 5 2 3 150 50 v v v m s ( ) / Portanto: S t S t 4 5 4 5 50 4 200 50 → → = − − = − ( ) Aqui também podemos ver que o 200 é uma extrapolação da reta, mas que não apresentará problemas, pois essa função horária só é válida de 4 até 5 segundos. Outro diagrama que devemos estudar é o diagrama v x t, que no caso do MU é bastante simples, pois, como a velocidade é constante, o gráfico também nada mais será do que uma reta constante. Os gráficos, porém, podem assumir duas formas diferentes: t t vv v > 0 v < 0 MU progressivo MU retrógrado Figura 7 44 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I Se pegarmos um intervalo de tempo, temos o seguinte: V V t t1 t2 Figura 8 A área da região cinza será: A v t t v t= −( ) =2 1 ∆ Entretanto, lembremos de que o deslocamento escalar entre dois instantes é dado por: ∆ ∆S v t= Podemos, portanto, tirar o deslocamento escalar simplesmente calculando a área embaixo da curva v x t. O sinal, porém, deve ser levado em consideração. Apesar de não existir área negativa, se a velocidade for negativa, teremos de pegar o valor correspondente ao negativo da área. A ideia do deslocamento como sendo a área embaixo da curva v x t fica mais clara quando utilizamos a equação a seguir: S t dt( ) = ⋅ +∫ t t v S 0 0 e colocamos na forma: ∆S dt= ⋅∫ t t v 0 Se lembrarmos do cálculo diferencial integral, vemos que a integral é área embaixo da curva – nesse caso, de v em função de t –, o que corrobora os resultados. 45 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 FÍSICA GERAL Exemplo de aplicação Determine a velocidade escalar média, no intervalo de 0 a 10 s, do movimento dado pelo seguinte gráfico: 30 15 0 -15 0 2 4 6 8 10 t(s) v( m /s ) Figura 9 Solução: Para resolver um problema de velocidade média total, precisamos do tempo total, que nós já temos como sendo 10 s, e do deslocamento total. Para achar o deslocamento total, devemos encontrar o deslocamento de cada etapa do gráfico. A forma mais simples de fazer isso é encontrando a área embaixo de cada pedaço e somando (mantendo o sinal) cada um. Temos, então: De 0 a 2s: A = ⋅ =15 2 30m v > 0, então: ∆S0 2 30→ = m De 2 a 4s: A S = =→ 0 02 4∆ De 4 a 8s: A = ⋅ − =15 8 4 60( ) m v < 0, então: ∆S4 8 60→ = − m ou seja, ele voltou 60 metros. 46 M AT - R ev isã o: A nd re ia /L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 7/ 01 /1 4 Unidade I De 8 a 10s: A = ⋅ − =30 10 8 60( ) m v > 0, então: ∆S8 10 60→ = m Logo, o deslocamento total será: ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ ∆ S S S S S S S total total tot = + + + = + + −( ) + → → → →0 2 2 4 4 8 8 10 30 0 60 60 aal = 30m Logo, a velocidade média total será: v v v m s m m m = = = ∆ ∆ S t total total 30 10 3 / 2.6.3 Velocidade escalar relativa É a diferença algébrica entre as velocidades escalares dos móveis