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40 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II 5 FOLHA DE PAGAMENTO Trata-se de uma relação nominal dos funcionários de uma empresa, na qual estão registrados os valores referentes à remuneração de cada um em um determinado período de trabalho, compreendendo vencimentos, salários, comissões, gratificações, deduções, abatimentos, descontos previdenciários e sociais, valores brutos e valores líquidos dos recebimentos. O cálculo da folha de pagamento traduz-se na aplicação de conceitos que constarão aqui e também daqueles estudados nas disciplinas Direito Social e Direito Trabalhista. A fim de restringir o estudo da folha de pagamento, consideraremos apenas os cálculos de empregados mensalistas. A título de revisão, vejamos a seguir algumas definições: Observação A folha de pagamento é certamente um dos trabalhos que mais despertam atenção, seja porque lida diretamente com os trabalhadores, seja pelos valores normalmente elevados que movimenta. Por conta da legislação e da responsabilidade trabalhista, a folha de pagamento é personalizada para cada empresa e para cada funcionário, o que exige sofisticados sistemas de TI e supervisão constante de contadores. Há bancos que disputam acirradamente o privilégio de cuidar da folha de pagamentos de um cliente! 5.1 Salário É a contraprestação devida ao trabalhador pela prestação de seus serviços ao empregador, em decorrência do contrato de trabalho existente entre as partes. 5.2 Remuneração É a soma do salário contratual devido com outras vantagens e/ou adicionais percebidos pelo trabalhador, seja em dinheiro ou em utilidades, em decorrência do exercício de suas atividades. 41 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA Integram a remuneração Não integram a remuneração • Gorjetas • Comissões • Gratificações • Prêmios • Adicional de insalubridade • Adicional de periculosidade • Adicional noturno • Ajuda de custo, quando exceder 50% do salário do empregado • Diárias de viagem, quando excederem 50% do salário do empregado • Salário-utilidade, desde que habitual • Gratificações pagas sem habitualidade • Prêmios pagos sem habitualidade • Indenizações • Complementação de aposentadoria • Direitos autorais • Participação nos lucros • Prestações, in natura, quando eventuais, onerosas, destinadas à execução do trabalho. Ex.: refeição ou vale fornecido dentro do PAT e vale transporte. 5.3 Horas extras e jornada de trabalho Jornada de trabalho é o período no qual o empregado fica à disposição do empregador. Esse período é normalmente ajustado entre os contratantes. A jornada pode ser reduzida para algumas categorias, mas a jornada máxima estipulada pela Constituição Federal é de 8 horas diárias e 44 horas semanais (art. 7º, XIII, da CF). O legislador, contudo, não fixa a carga horária mensal, somente limita a diária (8 horas) e a semanal (44 horas). Assim, a partir dessas limitações, a carga horária mensal é determinada da seguinte forma: 44 horas semanais ÷ 6 dias = 7,3333333333 (que equivale a 7 horas e 20 minutos no relógio). 7,333333333 x 30 (dias do mês) = 219,99999999 = 220 horas mensais. Para os empregados mensalistas, sempre serão considerados 30 dias para cálculo de dias de trabalho por mês (art. 64, parágrafo único da CLT), mesmo que o mês tenha número superior ou inferior a 30. Aquilo que excede a jornada normal é considerado hora extraordinária. A Constituição Federal determinou em seu art. 7º, XVI, que as horas excedentes devem ser remuneradas por valor que seja, no mínimo, 50% superior ao da hora normal. Porém, de acordo com a categoria profissional, o percentual a ser aplicado para as horas extras pode variar, mas nunca será inferior a 50%. Exemplo: Salário hora normal = R$4,00 x 50% = R$2,00 R$4,00 + R$2,00 = R$6,00 Hora extra = R$6,00 3 A dízima 0,333333 é a equivalência em hora de 20 minutos, ou seja, são os décimos da hora normal, obtidos pela regra de três: 0,333333333 x 60 minutos = 19,9999999 que, arredondando, fica 20 minutos. 42 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II A duração normal do trabalho poderá ser acrescida de duas horas, mediante acordo escrito entre empregado e empregador, ou mediante acordo coletivo ou convenção coletiva de trabalho, devendo obrigatoriamente o empregador pagar, pelo menos, mais 50% sobre a hora normal. Exemplo: Marcela, encarregada do setor financeiro, recebe salário mensal de $ 2.500,00. Durante o mês de janeiro de 20X8, fez 5 horas extras. O cálculo das horas extras efetuadas é feito da seguinte forma: Salário mensal: R$ 2.500,00 ÷ 220 horas = 12,00 x 50% = 6,00 12,00 + 6,00 = 18,00 Hora extra = R$ 18,00 x 5 horas = R$ 90,00 De acordo com a Lei nº 605/49, art. 7º, alínea “b”, com redação dada pela Lei nº 7.415, de 9 de dezembro de 1985 (DOU de 10-12-85), computam-se no cálculo do repouso semanal remunerado as horas extraordinárias habitualmente prestadas. Somam-se as horas extras prestadas e divide-se o resultado pelo número de dias trabalhados. Sobre o valor de R$ 90,00 a receber de horas extras prestadas no mês de janeiro de 20X8, Marcela receberá também o reflexo do DSR sobre essas horas extras: Hora extra = R$ 90,00 DSR = R$ 16,00 (R$ 90,00 ÷ 26 dias úteis x 4 domingos) Total a receber = R$ 106,00 5.4 Adicional de insalubridade O trabalho realizado em atividade que atente contra a saúde humana, acima dos limites toleráveis, é remunerado com adicional de 40%, 20% ou 10%, calculados sobre o salário mínimo, conforme a insalubridade seja classificada em grau máximo, médio ou mínimo. Os limites de tolerância da atividade agressiva são estabelecidos por relação do Ministério do Trabalho. A classificação do grau de insalubridade é feita por perícia técnica. 5.5 Adicional de periculosidade São perigosas as atividades que implicam “contato permanente com inflamáveis ou explosivos em condições de risco acentuado” (art. 193 da CLT). Também é reconhecida a periculosidade no setor de energia elétrica. 43 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA O adicional é de 30% sobre o salário básico, assim entendido aquele ainda não acrescido de outros adicionais. No caso dos eletricitários, o percentual é calculado sobre o salário efetivamente recebido. Observação Apenas e tão somente o que consta do art. 193 da CLT. Outros profissionais reclamam que também realizam um trabalho perigoso, mas devemos considerar apenas o que diz a lei. Seria interessante que houvesse uma atualização constante da relação de atividades perigosas, mas isso deve ser discutido no poder legislativo. 5.6 Décimo terceiro salário Seu valor corresponde a 1/12 da remuneração devida em dezembro, multiplicado pelos meses de serviço naquele ano. Para esse cálculo, a fração igual ou superior a 15 dias de trabalho será considerada como mês integral. Frações inferiores são desprezadas. Se extinto o contrato antes de dezembro, o empregado terá direito à gratificação proporcional aos meses trabalhados no ano e mais 1/12 referente ao aviso prévio trabalhado ou indenizado. A gratificação natalina é devida em todos os casos, com exceção de dispensa do empregado por justa causa. A verba deve ser paga em duas metades: a primeira entre os meses de fevereiro e novembro e a segundaaté o dia 20 de dezembro. 5.7 Salário-família Em que pese ao nome, salário-família não é salário. Trata-se de prestação previdenciária que é adiantada pelo empregador ao empregado com o salário. O salário-família, conforme EC 20/98, passou a ser devido apenas em razão dos dependentes do trabalhador de baixa renda, assim entendido aquele que recebe remuneração mensal de até R$ 752,12, para auxiliar no sustento dos filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. De acordo com a Portaria Interministerial nº 48, de 12 de fevereiro de 2009, o valor do salário- família, a partir de 1º/2/2009, é de R$ 25,66 por filho de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade, para quem ganha até R$ 500,41. Para o trabalhador que recebe de R$ 500,41 até R$ 752,12, o valor do salário-família por filho de até 14 anos de idade ou inválido de qualquer idade é de R$18,08. Têm direito ao salário-família os trabalhadores empregados e os avulsos. Os empregados domésticos, contribuintes individuais, segurados especiais e facultativos não recebem salário-família. Para concessão do salário-família, a Previdência Social não exige tempo mínimo de contribuição. 44 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II 5.8 Salário-maternidade A licença para as gestantes é de 120 dias, com direito à manutenção do emprego e ao salário- maternidade. A empresa paga o salário-maternidade, compensando-se depois nos recolhimentos ao INSS (Deduções FPAS). Cabe também licença-maternidade no caso de adoção. 5.9 Faltas ao trabalho Havendo falta não justificada, o empregador está autorizado a descontar do salário os valores referentes ao dia da ausência e ao do descanso semanal remunerado daquela semana. As causas de justificação são aquelas expressamente previstas no contrato de trabalho, na convenção coletiva, no regulamento da empresa e na lei. São consideradas faltas justificadas: 1. Até 2 dias consecutivos em caso de falecimento do cônjuge, ascendente ou descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua CTPS, viva sob sua dependência econômica (art. 473, I, da CLT). 2. Até 3 dias consecutivos em virtude de casamento (art. 473, II, CLT). 3. No caso de nascimento de filho, por 5 dias, na primeira semana (art. 473, III, c/c o art. 10 do ADCT da CF). 4. Por 1 dia, em cada 12 meses de trabalho, em caso de doação voluntária de sangue (art. 473, IV, CLT). 5. Até 2 dias para alistamento ou transferência eleitoral (art. 473, V, e art. 48 do Código Eleitoral). 6. Para cumprir as exigências do Serviço Militar Obrigatório (art. 473, VI). 7. Para realizar exame vestibular de ingresso em estabelecimento de ensino superior (art. 473, VII). 8. Pelo tempo que se fizer necessário quando tiver que comparecer a juízo (art. 473, VIII). 9. Pelo tempo que se fizer necessário quando, na qualidade de representante de entidade sindical, estiver participando de reunião oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro (art. 473, IX). 10. Por motivo de doença do empregado, comprovada por atestado médico, nos primeiros 15 dias. 11. Para servir como testemunha em juízo. 45 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA 12. Para servir como jurado. 13. Para comparecer à Justiça do Trabalho, quando necessário, como parte. 5.10 Descanso semanal remunerado A cada semana trabalhada é assegurado ao empregado um descanso remunerado de 24 horas consecutivas. O repouso semanal deverá coincidir com o domingo. Para a aquisição do direito ao DSR, é necessário que não haja falta injustificada durante a semana. Se houver, sobrevive o direito ao dia de descanso, mas haverá perda do direito à remuneração daquele dia. A remuneração do descanso semanal será a mesma de um dia normal de trabalho, incluídas as horas extras habitualmente prestadas. 5.11 Cálculo de horas extras 1º Definir o valor do salário-hora normal. Para o mensalista, o salário mensal deve ser dividido por 220, que é o número de horas da jornada mensal. 2º Definido o salário-hora normal, deve-se somar o adicional referente à hora extra e multiplicar pelo número de horas extras. Exemplo: Salário mensal = $ 1.100,00 Percentual para HE = 50% DSR = 05 domingos • 1.100,00/ 220h = 5,00 x 10 x 1,5 = $ 75,00 HE = 10:00 1.100,00 / 220h = 5,00 x 10 x 50% = $ 75,00 DSR = 75,00 /25 dias x 5 dias = $ 15,00 5.12 Férias Após cada período de 12 meses de trabalho, o empregado terá direito a um período de descanso que corresponderá a 30, 24, 18 ou 12 dias, conforme o número de faltas não justificadas durante o período aquisitivo de férias. 46 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Não serão consideradas faltas as ausências legais previstas no art. 473 da CLT e as abonadas pela empresa, previstas no art. 131 da CLT. A remuneração dos dias de férias será aquela correspondente aos dias de gozo, acrescida dos adicionais a que o empregado tenha direito. Sobre essa remuneração soma-se 1/3 determinado pela Constituição Federal (art. 7º, XVII). Exemplo: Elenice recebe salário mensal de R$ 2.385,00. A empresa lhe concederá férias referentes ao período aquisitivo de 1º/11/20X7 a 31/10/20X8, e seu período de gozo será de 1º/10/20X9 a 30/10/20X9. Não possui dependentes. A remuneração base para fins de cálculo de férias é de R$ 2.385,00. Retenções Valor da remuneração de férias: R$ 2.395,00 Acréscimo de 1/3 R$ 799,00 Total da remuneração R$ 3.194,00 INSS de 11% s/ 3.194,00 R$ 352,00 IRRF R$ 159,00* Total de descontos R$ 511,00 Líquido a receber: R$ 2.683,00 * Cálculo do IRRF sobre férias = R$ 3.194,00 - R$ 352,00 (INSS) = R$ 2.842,00 x 15% (alíquota – vide tabela) = R$ 427,00 – R$ 268,84 (parcela a deduzir). O pagamento da remuneração das férias será efetuado até dois dias antes do início do respectivo período. Saiba mais A CLT é a legislação que rege as leis do trabalho no Brasil e foi promulgada pelo Presidente Getúlio Vargas em um momento muito tumultuado da história brasileira. Conheça um pouco desse ambiente político e da vida pessoal do Presidente Getúlio Vargas no filme: GETÚLIO. Direção de João Jardim. Brasil: Globo Filmes, 2013. 100 min. 47 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA 6 RESPONSABILIDADE PELO RECOLHIMENTO DO INSS, IRRF E CONTRIBUIÇÃO SINDICAL DO EMPREGADO A responsabilidade da retenção e do recolhimento tanto dos encargos sociais quanto dos tributos oriundos das remunerações aos empregados será sempre do empregador. E este, por sua vez, atenderá a legislação em vigor quanto às alíquotas e bases de cálculos. Sendo assim, para fins didáticos, não vemos a necessidade de atualizarmos as tabelas fornecidas pelo órgão competente; porém, deixamos registrados que tais tabelas sofrem alterações anualmente, e o caro aluno, futuro profissional de contabilidade, terá como uma das missões manter-se atualizado em todos os aspectos legais. O empregador calculará e descontará do funcionário o valor do INSS e IRRF devido conforme as tabelas progressivas abaixo: INSS Salário de contribuição Alíquota Até R$ 965,67 8,00% De R$ 965,68 a R$ 1.609,45 9,00% De R$1.609,46 até R$ 3.218,90 11,00% Há um limite máximo para o desconto do INSS. Quando o empregado ganharum valor superior ao limite máximo (teto), só se poderá descontar-lhe do salário o limite estabelecido. Conforme a tabela acima, o teto é de R$ 3.218,90, sendo o valor máximo de desconto de INSS igual a R$ 354,08. O limite máximo aplica-se apenas ao empregado segurado. A empresa recolhe a contribuição previdenciária sobre o total da folha de salários. IRRF Base de cálculo Alíquota Parcela a deduzir Até R$ 1.434,59 - Isento De R$ 1.434,60 até R$ 2.150,00 7,5% R$ 107,59 De R$ 2.150,01 até R$ 2.866,70 15% R$ 268,84 De R$ 2.866,71 até R$ 3.582,00 22,5% R$ 483,84 Acima de R$ 3.582,00 27,5% R$ 662,94 48 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Observação As tabelas de Imposto de Renda e INSS estão sempre sendo modificadas, as que estão neste livro-texto são apenas para demonstração, acompanhe sempre pelo Diário Oficial quais são as tabelas em vigor. Deduções: • R$ 144,20 por dependente; • pensão alimentícia integral; • contribuição ao INSS; • aposentado com 65 anos ou mais tem direito a uma dedução extra de R$ 1.434,59 no benefício recebido da previdência pública ou privada. O não recolhimento das respectivas guias dos tributos citados acima caracteriza apropriação indébita do empregador, que fica sujeito às penas cominadas no Código Penal. 6.1 sociais por parte do empregador A folha de pagamento de uma empresa onera sua carga tributária em uma média de 36,8%. São encargos sociais da empresa: • FGTS: corresponde a 8% da remuneração do empregado; • INSS: corresponde a 20% sobre a remuneração do empregado e de seus administradores que recebem Pró-labore; • SAT: corresponde ao Seguro de Acidente do Trabalho; • Terceiros: contribuição devida, por lei, a terceiros, como SESI, SESC, SENAI. O empregador deverá calcular e recolher em sua guia de INSS o valor correspondente, geralmente de 20% ou 22,5%, de acordo com o enquadramento da atividade da empresa no Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS), sobre o rendimento bruto de seus empregados e administradores que recebem Pró-labore. Ainda sobre os rendimentos dos trabalhadores, deverá calcular um percentual referente ao Risco de Acidente do Trabalho – RAT, que, conforme o grau de risco ao qual estão submetidos seus trabalhadores, poderá variar entre 1%, 2% e 3% (leve, médio e alto, respectivamente). Trata-se de 49 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA seguro obrigatório, instituído por lei, mediante uma contribuição adicional a cargo exclusivo da empresa, que se destina à cobertura de eventos resultantes de acidente do trabalho. Finalmente, sobre os rendimentos dos trabalhadores, o empregador deverá aplicar um percentual de 0,2 a 7,7 a título de contribuição para terceiros (vide tabela FPAS). Esse percentual varia conforme a atividade da empresa. São considerados terceiros beneficiados por tais contribuições da empresa o SESI, SESC, SENAI, SEBRAE, INCRA. 6.1.1 Vale-transporte O empregado, ao ser admitido, deverá assinar declaração informando se utilizará ou não o vale-transporte. Ainda que o empregado não queira ser beneficiário do vale-transporte, deverá a empresa possuir tal declaração como meio de prova de que a opção foi do empregado e não que a empresa não quis fornecê-lo, evitando-se desse modo transtornos no âmbito da fiscalização, como também de reclamações trabalhistas, em que seja postulado o pagamento referente às despesas com transporte. Na declaração, constará o endereço, o número de conduções utilizadas diariamente e o transporte utilizado, devendo ser atualizada anualmente ou sempre que ocorrerem alterações. O vale-transporte constitui benefício que o empregador antecipará ao trabalhador para utilização efetiva em deslocamento residência-trabalho e vice-versa, devendo ser fornecido por meio de recibo. Não estão obrigados à concessão do vale-transporte os empregadores que proporcionam por meios próprios ou contratados, adequados ao transporte coletivo, o deslocamento residência- trabalho e vice-versa de seus empregados. Contudo, quando o transporte fornecido pelo empregador não cobrir integralmente os trajetos dos empregados, a empresa é obrigada a fornecer o vale-transporte para a cobertura dos segmentos não abrangidos pelo referido serviço. O vale-transporte será custeado: a) pelo beneficiário, na parcela equivalente a 6% de seu salário básico ou vencimento, excluídos quaisquer adicionais ou vantagens e, b) pelo empregador, no que exceder à parcela descontada do empregado. A empresa, portanto, poderá descontar do empregado, mensalmente, o equivalente a 6% de seu salário-base quando conceder-lhe o vale-transporte. Exemplos: 1. Um empregado recebe salário mensal de R$ 600,00 e utiliza quatro conduções diárias, sendo o valor unitário da passagem de R$ 2,30. Durante o mês de fevereiro, trabalhou 22 dias. Logo, Despesa com transporte = R$ 2,30 (valor do transporte) x 4 (conduções diárias) = R$ 9,20. R$ 9,20 x 22 (dias trabalhados) = R$ 202,40 (total da condução do mês de fevereiro). 50 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Desconto do empregado = R$ 600,00 (salário mensal) x 6% = R$ 36,00 Parte custeada pelo empregador = R$ 202,40 – R$ 36,00 = R$166,40 2. Um empregado recebe salário mensal de R$ 3.200,00 e utiliza duas conduções diárias de valor unitário R$ 2,30. Durante o mês de fevereiro, trabalhou 22 dias. Logo, Despesa com transporte = R$ 2,30 (valor do transporte) x 2 (conduções diárias) = R$ 4,60. R$ 4,60 x 22 (dias trabalhados) = R$ 101,20 (total da condução do mês de fevereiro). Desconto do empregado = R$ 3.200,00 (salário mensal) x 6% = R$ 192,00 Neste caso, como os 6% do salário do empregado é superior ao seu gasto com transporte, o empregado sofrerá desconto de R$ 101,20. O empregador não terá, portanto, custo com o vale-transporte desse funcionário. Não poderá o empregador descontar o equivalente a 6% do salário desse funcionário. 6.1.2 Alimentação A alimentação constitui benefício que pode ser concedido por liberalidade da empresa ou por determinação contida no documento coletivo do sindicato representativo da respectiva categoria profissional, havendo ainda possibilidade de a empresa, para assegurá-la a seus empregados, valer-se das normas que regulamentam o Programa de Alimentação ao Trabalhador (PAT). A empresa pode conceder o benefício da alimentação por ato de sua vontade. Assim, a cesta básica, o vale-refeição ou o valealimentação se caracterizará como verba de natureza salarial, integrando a remuneração do empregado para todos os efeitos legais. Por outro lado, caso a alimentação seja concedida por imposição de convenção ou acordo coletivo, deverá a empresa observar rigorosamente o estabelecido no documento. A integração ou não ao salário do valor correspondente à alimentação dependerá, única e exclusivamente, de como ocorreu o fornecimento do benefício ao empregado. Se por liberalidade da empresa ou por imposição de documento coletivo de trabalho, sem a aprovação ou em desacordo com as normas estabelecidas pelo PAT, esse benefício integrará a remuneração do empregado para todos os efeitos da legislação trabalhista, inclusive para fins de incidência de encargos sociais (INSS, FGTS e IRF). Se, por outro lado, a concessão da alimentação se der por intermédio do PAT, seu valor não integrará a remuneração do trabalhador para qualquer efeito legal, sendo irrelevante a forma pela qual o benefício é concedido, se a título gratuito ou a preço subsidiado.Quanto à possibilidade de desconto da alimentação do trabalhador, a Lei nº 8.860/94 autorizou ao empregador descontar até o limite de 20% do salário dos empregados beneficiados. 51 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA 6.2 Contribuição sindical dos empregados Os empregadores ficam obrigados a descontar, na folha de pagamento do mês de março de cada ano, a contribuição sindical de um dia de trabalho de todos os empregados. O recolhimento da contribuição sindical referente aos empregados será efetuado no mês de abril de cada ano aos seus respectivos sindicatos. No ato da admissão de qualquer empregado, o empregador deverá exigir a apresentação da prova de quitação da contribuição sindical do corrente ano. Os empregados que não estiverem trabalhando no mês destinado ao desconto da contribuição sindical serão descontados no primeiro mês subsequente ao do início do trabalho. Exemplo: funcionário admitido em maio (e que não esteve empregado durante o corrente ano) deverá sofrer o desconto sindical no mês de junho. Exceção à regra é o caso do funcionário admitido em janeiro; sua contribuição sindical será descontada não no mês subsequente ao de sua admissão (fevereiro) e sim no mês de março. Exercício resolvido Calcule e contabilize a folha de pagamento do mês de junho/2008, considerando as informações abaixo: Funcionários Salário mensal Dependentes Anézio Batista $ 850,00 0 Edvaldo Oliveira $ 900,00 0 Genivaldo Silva $ 1.544,00 0 José Cândido $ 1.268,00 2 Administradores Fernanda Santos $ 1.195,00 Lourdes Santos $ 2.497,00 SAT = Médio risco Terceiros = 5,8% INSS Salário de contribuição Alíquota Até R$ 1040,22 8,00% De R$ 1040,22 a R$ 1.733,70 9,00% De R$ 1.733,70 até R$ 3.467,40 11,00% 52 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II IRRF Base de cálculo Alíquota Parcela a deduzir Até R$ 1.499,15 - Isento De R$ 1.499,15 até R$ 2.246,75 7,5% R$ 112,43 De R$ 2.246,75 até R$ 2.995,70 15% R$ 280,94 De R$ 2.995,70 até R$ 3.743,19 22,5% R$ 505,62 Acima de R$ 3.743,19 27,5% R$ 692,78 Deduções: • R$ 150,69 por dependente; • pensão alimentícia integral; • contribuição ao INSS; • aposentado com 65 anos ou mais tem direito a uma dedução extra de R$ 1.499,59 no benefício recebido da previdência pública ou privada. Resolução Lembrete O Cálculo da Folha de Pagamento deve ser feito sempre de forma individualizada, para cada funcionário. Não é possível realizar um cálculo coletivo, por mais homogêneo que seja o corpo funcional. Anézio Salário = R$ 850,00 INSS = R$ 850,00 x 8% = R$ 68,00 Líquido a receber = R$ 850,00 (-) R$ 68,00 = R$ 782,00 FGTS = R$ 850,00 x 8% = R$ 68,00 Edvaldo Salário = R$ 900,00 INSS = R$ 900,00 x 8% = R$ 72,00 Líquido a receber = R$ 900,00 (-) R$ 72,00 = R$ 828,00 FGTS = R$ 900,00 x 8% = R$ 72,00 Genivaldo Salário = R$ 1.544,00 INSS = R$ 1.544,00 x 9% = R$ 138,96 Líquido a receber = R$ 1.544,00 (-) R$ 138,96 = R$ 1.405,04 FGTS = R$ 1.544,00 x 8% = R$ 123,52 53 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA José Salário = R$ 1.268,00 INSS = R$ 1.268,00 x 9% = R$ 114,12 Líquido a receber = R$ 1.268,00 (-) R$ 114,12 = R$ 1.153,88 FGTS = R$ 1.268,00 x 8% = R$ 101,44 Lembrete O funcionário José Cândido tem dois dependentes, mas neste caso não deve receber o salário-família que é restrito a funcionários que recebem menos de R$ 752,14 e tem filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. Fernanda Pró-labore = R$ 1.195,00 INSS = R$ 1.195,00 x 11% = R$ 131,45 Líquido a receber = R$ 1.195,00 (-) R$ 131,45 = R$ 1.063,55 Lourdes Pró-labore = R$ 2.497,00 INSS = R$ 2.497,00 x 11% = R$ 274,67 IRRF = 2.497,00 (-) R$ 274,67 = R$ 2.222,33 x 7,5% = R$ 166,67 (-) R$ 112,43 = IRRF de R$ 54,24 Líquido a receber = R$ 2.497,00 (-) R$ 274,67 (-) R$ 54,24 = R$ 2.168,09 Resumo Salários = R$ 4.562,00 INSS = R$ 393,08 Pró-labore = R$ 3.692,00 INSS = R$ 406,12 INSS s/ segurados = R$ 393,08+ R$ 406,12 = R$ 799,20 INSS empresa = R$ 4.562,00 + R$ 3.692,00 = R$ 8.254,00 x 20% = R$ 1.650,80 SAT = R$ 4.562,00 x 2% = R$ 91,24 Terceiros = R$ 4.562,00 x 5,8% = R$ 264,60 INSS a recolher = R$ 2.805,84 FGTS = R$ 4.562,00 x 8% = R$ 364,96 54 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Observação Esta é a hora! Caso você sinta dificuldades em definir e entender por que as contas estão a débito e a crédito, ou seja, o “mecanismo” das partidas dobradas, entre em contato com os tutores, simule os lançamentos contábeis passo a passo no caderno. É tempo de estudar! Contabilização D – Despesas de salários R$ 4.562,00 C – Salários a pagar R$ 4.562,00 D – Salários a pagar R$ 393,08 C – INSS a recolher R$ 393,08 D – INSS R$ 2.006,64 C – INSS a recolher R$ 2.006,64 D – Pró-labore R$ 3.692,00 C – Pró-labore a pagar R$ 3.692,00 D – Pró-labore a pagar R$ 406,12 C – INSS a recolher R$ 406,12 D – FGTS R$ 364,96 C- FGTS a recolher R$ 364,96 Saiba mais Conheça as motivações e um pouco da história da Consolidação das Leis do Trabalho em: DOLME, D. Vargas criou Justiça do Trabalho para administrar tensão entre patrão e empregado. Última instância (Especial 70 anos da Justiça do Trabalho), 1 maio 2011. Disponível em: <http://ultimainstancia.uol.com.br/justica-do- trabalho/vargas-criou-justica-do-trabalho-para-manter-tensao-entre-patrao- e-empregado-sob-controle/>. Acesso em: 25 jul. 2014. BULLA, B. Aos 93 anos, criador da CLT continua na ativa. Última instância (Especial 70 anos da Justiça do Trabalho), 1 maio 2011. Disponível em: <http://ultimainstancia.uol.com.br/justica-do-trabalho/aos-93-anos- criador-da-clt-continua-na-ativa/>. Acesso em: 25 jul. 2014. 55 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA Resumo Nesta unidade estudamos o que talvez seja um dos tópicos mais “sensíveis” para o profissional de contabilidade. É “sensível” porque envolve um complexo, intricado e vasto arcabouço jurídico das relações trabalhistas da CLT; abrange altos valores e, também, não podemos nos esquecer, em muitos aspectos a CLT está desatualizada em relação ao que seria necessário para uma economia moderna. Observe aqui com especial atenção o quanto o contador está no centro de interesses divergentes. Precisa ao mesmo tempo atender a legislação, os interesses dos empregadores, dos trabalhadores e dos anseios da própria sociedade por uma economia moderna e punjante. Não é fácil conciliar tudo isso. Contudo, há um procedimento! Você aprendeu exatamente como é esse procedimento que com algumas modificações será sempre o que você estudou aqui. Aprendemos então o quanto é importante as ciências jurídicas para a contabilidade, e mais do que simplesmente aplicar a lei, saber entender e agir de forma interdisciplinar. A expectativa é a de que neste momento você tenha desenvolvido condições de lidar eficazmente e eficientemente com o tópico folha de pagamento. Muito importante: observe que também aqui nesta unidade há partidas dobradas com naturalidade, e volto a dizer que caso esteja sentindo dificuldades com o débito e crédito, não deixe de entrar emcontato com os tutores. Agora, convido-o(a) a ir para a unidade III deste livro, onde você irá estudar a Demonstração do Valor Adicionado. Vamos lá! Exercícios Questão 1. A constituição das provisões para férias, décimo terceiro salário e dividendos propostos é uma conduta profissional que atende a qual princípio contábil? A) Competência. B) Consistência. 56 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II C) Continuidade. D) Entidade. E) Prudência. Resposta correta: alternativa A. Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: o princípio da competência estabelece que os efeitos das transações são efetivamente reconhecidos nos períodos a que se referem, sem guardar, obrigatoriamente, relação direta com os respectivos momentos de recebimentos ou pagamentos. No parágrafo único da Resolução CFC nº 750/1993, alterado pela Resolução CFC nº 1.282/2010, é considerado que esse princípio admite a simultaneidade do confronto entre as receitas e as despesas que lhes são relacionadas. As provisões indicadas na questão atribuem os efeitos das receitas e das despesas ao exercício/ período contábil a que se referem, registrando as pendências de futuros recebimentos ou pagamentos de caixa. Os salários devidos, por exemplo, pelos trabalhos dos funcionários no último mês do exercício social (dezembro) são acrescidos às despesas desse período, restando a provisão de seu pagamento para os primeiros dias do mês imediatamente posterior (janeiro). B) Alternativa incorreta. Justificativa: o princípio da consistência considera que a entidade deve ser mantida de tal sorte que os usuários de suas demonstrações contábeis possam julgar sua tendência com o menor grau possível de dificuldade. As preocupações relacionadas com o cumprimento desse princípio não estão relacionadas com as providências sobre as respectivas receitas e despesas. C) Alternativa incorreta. Justificativa: o princípio da continuidade estabelece que a entidade normalmente tem “vida” indeterminada, independentemente da existência de seus fundadores ou participantes. Deve-se ressaltar que há situações que podem não ocorrer exatamente de acordo com essa premissa. As preocupações relacionadas com o cumprimento desse princípio não estão relacionadas com as providências sobre as respectivas receitas e despesas. 57 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a CONTABILIDADE FINANCEIRA D) Alternativa incorreta. Justificativa: segundo o princípio da entidade, o patrimônio é objeto da contabilidade. Esse princípio estabelece a autonomia patrimonial, diferenciando um patrimônio particular dentre os patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, a um conjunto de pessoas, a uma sociedade ou instituição, com ou sem fins lucrativos. E) Alternativa incorreta. Justificativa: o princípio da prudência estabelece que deve ser utilizado o menor valor quando se tratar de elementos do ativo e o maior para os do passivo, nos casos em que existam alternativas que possam quantificar de forma válida as mudanças de patrimônio (indicado no caput do art. 10 da Resolução CFC nº 7 750/93). As preocupações relacionadas com o cumprimento desse princípio não estão relacionadas com as providências sobre as respectivas receitas e despesas. Questão 2. Um empregado foi registrado em 16 de janeiro de X6 e demitido em 30 de setembro do mesmo ano, com dispensa de aviso prévio pelo empregador. Considerando-se que a empresa antecipa 50% do 13º salário para todos os seus empregados, no dia 30 de junho de cada ano, a rescisão contratual do empregado foi composta por quais parcelas? A) Aviso prévio igual a 30 dias trabalhados, 9/12 de férias, 4/12 de 13º salário, 40% de multa do FGTS. B) Aviso prévio proporcional aos meses trabalhados, férias e 13º no valor do último salário, 40% de multa do FGTS. C) Saldo de salário, aviso prévio indenizado, 9/12 de férias indenizadas + 1/3 sobre férias, 3/12 de 13º salário, 40% de multa do FGTS. D) Saldo de salário, aviso prévio indenizado, 10/12 de férias + 1/3 sobre férias, 4/12 de 13º salário, 40% de multa do FGTS. E) Saldo de salário, férias de igual valor do último salário, metade do 13º salário, 40% de multa do FGTS. Resolução desta questão na plataforma.