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107 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Unidade IV Nesta unidade avançaremos para investigação de algumas análises sociológicas contemporâneas, considerando em específico a influência de dois grandes autores, Michel Foucault e Jürgen Habermas, e de suas perspectivas sociais críticas na construção dessas análises; para então apresentar e problematizar uma abordagem na área dos estudos sociológicos, dos estudos culturais, e também de seus possíveis cruzamentos com a educação e análises educacionais em contexto global, estabelecendo alguns pontos de diálogo com questões de gênero e questões raciais. 7 A Análise sociológicA contemporâneA dA educAção Com a consideração das unidades anteriores, em específico à terceira em que retomamos algumas das mais influentes visões sobre a educação durante a segunda metade do século XX, chegamos à conclusão geral de que a análise sociológica da educação pode ser dividida em dois grandes posicionamentos, a princípio, completamente distintos: primeiro, aqueles autores e contribuições teóricas que enxergam na educação e na escola a possibilidade de problematização e até correção das distorções e injustiças sociais provenientes do modo de produção e organização social capitalista, de classes; e segundo, aqueles que entendem a educação como mais um dispositivo reforçador desta lógica, principalmente ideologicamente, legitimador e reprodutor da mesmas desigualdades e injustiças sociais. Precisamos problematizar para compreender como esse debate, com esses importantes autores e matrizes teóricas, acabou influenciando as diversas pesquisas, de cunho sociológico, na área educacional. Como são mobilizados e, principalmente, como suas teorias e conceitos centrais modularam os métodos de pesquisa empírica, prática em campo. Dada a polaridade descrita anteriormente – entre os que enxergam um potencial transformador na educação e os que a entendem como mera reprodutora da ordem desigual dominante – parece que há uma escolha determinante de fundamentação teórica para pesquisas específicas na área educacional, tanto da maneira como recolher e interpretar os dados, como dos resultados analíticos. Poderíamos supor que aqueles pesquisadores e docentes preocupados em pesquisar nesta área, fundamentando suas propostas de análise em Althusser e Bourdieu, por exemplo, teriam um quadro dado, de saída, pela constatação da reprodução e por outro lado aqueles inspirados em Gramsci e Mannheim, um quadro distinto, apoiado na possibilidade de superação da ordem vigente pela educação. Temos, neste momento que nos perguntar: serão as teorias tão fortes capazes de influenciar decisivamente os resultados de uma pesquisa empírica? Serão estes autores e teorias irreconciliáveis por partirem de pressupostos distintos e chegarem a análises igualmente distintas? E nossas pesquisas e análises de Sociologia da Educação seriam completamente influenciadas, dadas nossas escolhas entre autores e teorias? Não seria a ordem correta e legítima da pesquisa, primeiro observar os dados depois utilizar as teorias para interpretá-los? Para assim não comprometê-los? Então, como montar uma metodologia 108 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV de pesquisa e análise, apoiada nos importantes autores já revisados, sem nos posicionarmos naquele debate, antes mesmo de analisar os dados? Essas últimas considerações em forma de perguntas podem nos orientar para não cometermos uma série de erros analíticos, mesmo partindo de uma boa compreensão dos autores e suas respectivas teorias. Temos que nos basear em seus escritos, mas não antes de considerarmos os dados e suas especificidades, caso contrário, teríamos as respostas antes mesmo da análise, seja da educação como reprodução, seja como transformação. Estaríamos invertendo a ordem da pesquisa e criando uma “miragem” analítica, forçando os dados a encaixarem-se nas teorias, ou seja, justificando os dados pela teoria, quando deveríamos realizar exatamente o oposto, justificar a teoria pelos dados. Com essa problematização em mente podemos passar para as considerações específicas dessa unidade, conhecer e compreender como foram absorvidas e transformadas em programas de pesquisa e, posteriormente, em análises sociológicas da educação, a fundamentação teórica nestes autores e também como foi possível conciliá-los. Para isso faremos uma breve revisão de como se desenvolveu o campo da Sociologia da Educação já no final do século XX, mais precisamente após a década de 1970 na Inglaterra, em que todos esses autores aqui citados já haviam desenvolvido suas visões sobre a educação e já estavam sendo incorporados para diagnósticos contemporâneos. Aos poucos conseguiremos também dimensionar o alcance dessas perspectivas para as análises sociológicas educacionais no Brasil. Com todos esses esforços teóricos incorporando o sistema educacional como campo de análise, surge, a partir dos anos de 1970, o que passou a ser denominado “nova Sociologia da Educação”. Uma abordagem bastante crítica, inicialmente consolidada na Inglaterra, mas que se estendeu para os Estados Unidos e também para o Brasil (PILETTI; PRAXEDES, 2010). Esta abordagem crítica voltou-se à discussão sobre educação, principalmente para as concepções de currículo e práticas pedagógicas, elas mesmas, como processos sociais. Essa perspectiva garantiu, de início, a possibilidade de incorporação dos autores e teorias aqui revisadas sem tomar partido em suas posições no debate reprodução versus transformação. Uma perspectiva distinta aberta à reflexão crítica sobre si mesma – uma reflexão ao mesmo tempo sobre o objeto, as escolas e os sistemas educacionais, e sobre o método e fundamentação teórica, estava sendo analisada, de maneira crítica pelo menos esses dois aspectos. Uma via interessante para começar a responder a nossas perguntas formuladas anteriormente. Essa “nova” abordagem deu forma a um igualmente novo programa de pesquisas em educação. A “nova Sociologia da Educação” propõe um novo programa, introduzindo novas preocupações teóricas e políticas na pesquisa educacional, para investigar o complexo processo em que a estruturação de uma sociedade – com desigualdades entre classes sociais e entre os dominantes do poder político e os dominados – influencia e é influenciada pela organização dos currículos, consideradas a seleção e legitimação dos saberes e as relações práticas dos agentes no processo escolar (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 109-110). 109 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação A “nova Sociologia da Educação“ tem como preocupação investigar como o processo de estruturação de uma sociedade influencia, por exemplo, a organização dos currículos escolares. E aí um aspecto fundamental, dialógico, de como a organização dos currículos influencia a estrutura e organização social. Essa formulação dupla invertendo os termos de pesquisa garante a superação da simplicidade causal, colocando ambos como causa e consequência, assegurando um tratamento crítico e complexo às questões ao mesmo tempo que prepara o terreno para o diálogo entre os autores. Na prática, essa perspectiva exigiu uma transformação metodológica, ou seja, uma mudança em como as pesquisas seriam realizadas. Uma contraposição “à tradição consolidada de pesquisas baseadas em enquetes para obtenção de dados para tratamento estatístico e descritivo” (PILETT; PRAXEDES, 2010, p. 109). Com o pressuposto crítico, herdado daqueles autores que já consideramos, de que o sistema educacionalé parte do processo social que indica como estamos organizados em sociedade e que a ciência, na área da humanidade, seja a sociologia, seja a educação, é igualmente influenciada por toda estrutura, esta metodologia deveria ser revisada e transformada. Figura 28 – Brasília, 28/02/2011 Na imagem anterior o técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Paulo Corbucci apresenta o Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre a área de educação. Temos no Brasil institutos consolidados como o IPEA fazendo pesquisas na área da educação, coletando e reunindo dados a serem analisado por especialistas da área. Exemplo de aplicação Considerando a revisão dos autores realizada até aqui e a problematização que a “nova Sociologia da Educação“ realiza quanto ao método e amplitude das pesquisas educacionais, será que podemos assumir que o IPEA assimila tais críticas? Como são discutidas as metodologias de coleta de dados em instituições como essa? Serão levados em consideração os debates da teoria sociológica da educação? Caso você ache que não sejam, não seriam distorcidas as análises educacionais sem uma problematização de cunho teórico-metodológica anterior? Como nós, estudantes e docentes, faríamos para conseguir aproveitar todo o extenso trabalho de coleta de dados na área da educação, por exemplo, a realizada pelo IPEA? 110 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Tomando como diagnóstico, desde Marx, de uma sociedade dividida em classes, entre proprietários e não proprietários dos meios de produção, em que os primeiros dominam os segundo a partir de uma série de dispositivos ideológicos e que no limite essa estrutura é condicionada pelas condições materiais de produção – somando as contribuições de Mannheim, Gramsci, Althusser e Bourdieu –, as pesquisas e seus objetos teriam primeiro que ser desconstruídos de maneira crítica, antes mesmo de começar a aplicar enquetes aos alunos e professores na expectativa de coletar dados suficientes para diagnosticar a sociedade a partir da escola. Antes teríamos que nos perguntar: quem são estes professores? Como se encaixam na estrutura de classes? Ou, pelo menos, como são as representações sobre sua própria colocação na estrutura de classe? Como são formados e influenciados pela estrutura dominante? Como montam os currículos? Como entendem e praticam a educação? Problematizarmos a hierarquia dentro do sistema educacional seria o primeiro passo para evitar as possíveis distorções de diagnósticos das análises que partem das enquetes imediatamente. Segundo Young (2000), um grande expoente dessa “nova” abordagem crítica: A “nova Sociologia da Educação” foi associada tanto à crítica do currículo acadêmico como método de dominação quanto ao apoio a tipos não hierárquicos de pedagogia, ao aprendizado centrado no estudante, em vez de centrado nas matérias, e à derrubada das barreiras entre o saber escolar e o não escolar (YOUNG, 2000, p. 67 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 110). A coleta de dados que antecede as análises prevê essa amplitude da educação formal e não formal, prevê também a própria crítica dos atores envolvidos, assim como a elaboração dos currículos. Caso contrário, os dados estariam somente reproduzindo essa estrutura não tratada e as análises seriam extremamente limitadas. Para Jean-Claude Forquin (1993), esse percurso consolida as ideias centrais da “nova Sociologia da Educação”, em suas próprias palavras: “o que caracteriza propriamente a abordagem da ‘nova sociologia’ é este novo olhar crítico e desconstrutor que ela põe sobre os saberes e sobre os conteúdos simbólicos veiculados pelo currículo” (FORQUIN, 1993, p. 85 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 110). Foi após a conferência da British Sociological Association, ocorrida em Durham, no próprio Reino Unido, que a nova perspectiva teórica para estudos educacionais passou a ser conhecida, graças aos trabalhos de pesquisadores como Basil Bernstein, Michael F. D. Young e o nosso já conhecido Pierre Bourdieu. Basil Bernstein (1924-2000), sociólogo britânico, é conhecido principalmente por sua contribuição na área da Sociologia da Educação. Sua formação acadêmica foi toda na University of London (Universidade de Londres), onde posteriormente assumiu a carreira de docente, lecionando na cadeira de Karl Mannheim, na Sociology of Education (Sociologia da Educação), no Institut of Education (Instituto de Educação). 111 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação saiba mais A principal publicação de Basil Bernstein na área da educação ainda não traduzida é: BERNSTEIN, B. Pedagogy, symbolic control and identity: theory, research, critique. London: Taylor & Francis, 1996. Que pode ser consultada de maneira comentada neste artigo: MORAIS, A. M.; NEVES, I. P. Basil Bernstein: uma antologia. Revista de Educação, X(2), p. 149-159, 2001. Disponível em: <http://www.infoamerica. org/documentos_pdf/bernstein11.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2014. Michael F. D. Young (1915-2002), um sociólogo também britânico, foi precursor na “nova Sociologia da Educação” com discussões centradas na seleção e transmissão do conhecimento escolar. Era professor emérito do Instituto de Educação da Universidade de Londres. saiba mais Algumas das mais importantes publicações de Michael F. D. Young já estão traduzidas para o português como: YOUNG, M. Para que servem as escolas? Educação & Sociedade, Campinas, v. 28, n. 101, set./dez. 2007. YOUNG, M. O futuro da educação em uma sociedade do conhecimento: o argumento radical em defesa de um currículo centrado em disciplinas. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 48, 2011. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/rbedu/v16n48/v16n48a05.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2014. Seguindo essa “nova” orientação crítica, surgiu uma nova hipótese sobre a relação professor aluno que se não encarada de maneira rigorosa, pois comprometeria todas as análises subsequentes: as representações que os professores têm dos alunos e de seu desempenho escolar. Que pode ser formulada como “a identidade escolar do aluno se estabelece a partir das expectativas do professor” (FORQUIN, 1993, p. 99 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 11). Vejam, que constatada essa possibilidade, sob a forma de uma hipótese crítica a ser testada com pesquisas empíricas toda a abordagem nas escolas teve de ser alterada, já que a educação – seja como reprodutora da ordem vigente, seja como potencial transformadora –, dependeria de uma revisão da formação dos professores e de sua relação com os alunos. Em outras palavras: 112 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Várias pesquisas foram realizadas para a investigação da hipótese de que, nos processos de interação entre professores e alunos, os procedimentos de aprendizagem são influenciados pelos preconceitos dos primeiros. Atuando talvez inconscientemente sobre os alunos, segundo parâmetros preconceituosos, os professores desenvolvem práticas pedagógicas que podem subestimar, ou, em alguns casos, superestimar as potencialidades dos educandos (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 111). As análises, ao incorporar de maneira problematizada as teorias formuladas neste mesmo século, ganham em crítica e precisão. Além de “[a nova sociologia] não constituir, com efeito, nem um conjunto monolítico, nem uma configuração imutável, mas ao contrário, uma corrente de pensamento amplamente aberta às influências exteriores [...] e capaz de reconceitualizações internas suficientemente profundas” (FORQUIN,1993, p. 118 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 112). Temos, portanto, uma perspectiva capaz de incorporar os autores sem “engessar” os diagnósticos. Dizendo de outra forma, considerando certas variáveis, as análises sociológicas educacionais do mesmo sistema de ensino, no mesmo contexto histórico, podem ser ao mesmo tempo reprodutivistas ou transformadoras. Dependendo da hipótese construída e das especificidades consideradas. Outro aspecto bastante distinto dessa “nova” perspectiva é a amplitude de aplicação de seus pressupostos às análises empíricas, segundo o próprio Michael Young (2000): “podemos aprender com a ‘nova Sociologia da Educação’ a investigar como os processos de seleção e de exclusão do conhecimento, tanto na sala de aula quanto na sociedade mais ampla” (YOUNG, 2000, p. 69 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 112). E, para termos ideia de alguns dos apontamentos alcançados pela abordagem, de acordo com Young (2000) ainda no final do século XX, no que diz respeito a análises educacionais sociológicas: As razões encontradas pela “nova Sociologia da Educação“ para o fracasso escolar envolviam uma crítica severa aos tipos de seleção e exame próprios dos currículos acadêmicos tradicionais, que visavam muito mais à manutenção de privilégios do que uma formação educacional adequada para todos os alunos. Também foram responsabilizadas pela legitimação da dominação social e exclusão das camadas populares a forma disciplinar e disciplinada de estudos estanques e hierarquizados promovidos pela educação escolar e a valorização das manifestações culturais das camadas dominantes, com a consequente desvalorização das culturas populares (YOUNG, 2000, p. 71-72 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 112). Temos, portanto, toda uma série de pressupostos incorporados pela consideração dos autores do século XX, transformando os métodos de pesquisa e, definitivamente, as análises do fim do século na área da educação. Observa-se uma nova tendência de reflexão sobre a educação que procura compreender as relações no espaço escolar, o papel do currículo na formação do indivíduo. Esta nova tendência não se restringe a refletir sobre o sentido social da aprendizagem escolar. Após esta breve revisão sobre a constituição de um novo programa de pesquisa sociológica da educação a partir das orientações da “nova Sociologia da Educação”, vamos retomar mais dois fundamentais autores e 113 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação teorias que completam nosso quadro de visões sobre a educação do século XX: Michel Foucault – a relação entre educação poder e disciplina; e Jürgen Habermas – a relação entre educação e ação comunicativa. 7.1 Foucault: educação, poder e disciplina Michel Foucault (1926-1984) filósofo francês consagrado pelas análises em psiquiatria, como em História da Loucura (1961) e A história da Sexualidade (1976), e também pelas contribuições que cruzam as áreas de direito e sociologia, como o conhecido Vigiar e Punir (1975), propõe uma nova perspectiva e interpretação da ordem social moderna, tece análises sociológicas sobre sua organização, e de maneira complementar aborda os temas da educação e escola. Sua perspectiva é baseada na relação entre a expansão do poder, da dominação dos indivíduos e da disciplina. A organização social moderna, a partir da perspectiva de Foucault, deve ser compreendida nesses termos, “por uma expansão ilimitada do poder e do exercício de uma dominação inelutável sobre os indivíduos” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 89). Para adicionarmos suas ideias ao nosso repertório de Sociologia da Educação, devemos desenvolver melhor nossa compreensão sobre a sua noção de poder, de dominação e disciplina, e para isso nos orientaremos por duas questões: primeiro, como o poder se expande, estabelece e é capaz de estruturar ou pelo menos reproduzir a organização social moderna? E, em segundo, qual é o espaço da escola e da educação nessas relações de poder? saiba mais Para saber mais sobre Michel Foucault, assista às videoaulas organizadas pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com professores universitários especialistas sobre o autor e sobre seus temas em debate: RAGO, M. (Org.). Dossiê: Foucault. Revista Aulas, Campinas, v. 3, n. 1, 2007. Disponível em: <www.unicamp.br/~aulas/revista_aulas/foucault/ foucault.htm>. Acesso em: 13 nov. 2014. Figura 29 – Michel Foucault 114 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV A noção de poder em Foucault, como nos adianta Piletti e Praxedes (2010), é uma formulação bastante distinta e própria, uma nova perspectiva sobre como o poder fundamenta a ordem social. O poder não é concebido como uma coisa ou substância material, nem é monopólio de estados e exércitos; constitui, sim, uma rede de relações de força que se difunde por todos os espaços da sociedade e se manifesta até nas situações mais íntimas de convivência entre os seres humanos (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 89). A partir desse trecho retiramos alguns elementos importantes para compreender sua noção de poder; não é material, não é monopólio do Estado nem do exército, é fundamentalmente definido pelas relações de força e se manifesta até nas situações mais íntimas, mesmo na dimensão privada das relações sociais. Como todos os autores que já revisamos aqui, assim como suas ideias centrais, a noção de poder para Foucault não é imediata e nem simples, uma definição direta de nada nos serviria, ainda sim esta noção é central para compreendermos sua forma de pensar e analisar a sociedade. Em um curso que ministrou no Collège de France em 1976, intitulado Genealogia e Poder o próprio Foucault nos apresenta algumas formulações que nos ajuda seguir apreendendo suas ideias centrais. A questão de todas estas genealogias é: o que é o poder, poder cuja irrupção, força, dimensão e absurdo apareceram concretamente nestes últimos quarenta anos, com o desmoronamento do nazismo e o recuo do stalinismo? O que é o poder, ou melhor [...] quais são, em seus mecanismos, em seus efeitos, em suas relações, os diversos dispositivos de poder que se exercem a níveis diferentes da sociedade, em domínios e com extensões tão variados? Creio que a questão poderia ser formulada assim: a análises do poder ou dos poderes pode ser, de uma maneira ou de outra, deduzida da economia? (FOUCAULT, 2007, p. 174). O próprio Foucault, nesse trecho, não nos dá uma definição de poder, já que esta necessariamente seria redutora da complexidade do fenômeno social, ao invés disso, multiplica as questões, nos oferecendo outros caminhos que se percorridos nos dariam uma noção do que se entende por poder. Pelas formulações anteriormente transcritas podemos inferir que o poder manifesta-se por meio de mecanismos, por toda sociedade, por diversos níveis e com diversas extensões. E definitivamente aponta que compreender esses mecanismos, seus efeitos e dispositivos mostra-se como um caminho fértil para chegarmos ao que entende por poder. Iniciando pelo questionamento da relação entre poder e a economia, as condições materiais de produção. lembrete Grande parte dos autores da segunda metade do século XX, ligados à área da sociologia, faz referência a Marx e às categorias marxistas. Neste caso, em que Foucault se questiona sobre qual é a importância da relação entre poder e economia, o diálogo é logo sugerido. Para Marx, categorias marxistas e autores que propõem diálogo retomar Unidade II e Unidade III. 115 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentosda sociologia da educação Neste mesmo curso aplicado na França, após esses questionamentos, Foucault faz uma brevíssima retomada sob duas perspectivas, dois conjuntos teóricos, importantes sobre o poder, a partir da genealogia do termo, da história da ideia, que vai problematizar, se contrapor e criar sua própria noção de poder. Primeiro retoma a noção de poder pela concepção jurídica ou liberal do poder político a partir de filósofos do século XVIII. [...] no caso da teoria jurídica clássica o poder é considerado como um direito de que se seria possuidor como de um bem e que se poderia, por conseguinte, transferir ou alienar, total ou parcialmente, por um ato jurídico ou um ato fundador de direito, que seria a ordem da cessão ou do contrato. O poder é o poder concreto que cada indivíduo detém e que cederia, total ou parcialmente, para constituir um poder político, uma soberania política. Neste conjunto teórico a que me refiro a constituição do poder político se faz segundo o modelo de uma operação jurídica que seria da ordem da troca contratual. Por conseguinte, analogia manifesta, que percorre toda a teoria, entre poder e os bens, o poder e a riqueza (FOUCAULT, 2007, p. 174). Após essas afirmações sobre a noção jurídica ou liberal de poder eminentemente político e sob a forma concreta, contratual de posse e transferência, nos apresenta a segunda concepção teórica histórica, a concepção marxista de poder. É nesta que encontramos lastro para aquela pergunta sobre a importância do vínculo entre poder e economia. Vejamos: No outro caso – concepção marxista geral do poder – nada disto é evidente; a concepção marxista trata de outra coisa, da funcionalidade econômica do poder. Funcionalidade econômica no sentido em que o poder teria essencialmente como papel manter relações de produção e reproduzir uma dominação de classe que o desenvolvimento e uma modalidade própria de apropriação das forças produtivas tornaram possível. O poder político teria neste caso encontrado na economia sua razão histórica (FOUCAULT, 2007, p. 174-175). Após relacionar a noção de poder à ideia de política e economia pela história das ideias, Foucault nos indica o problema a ser encarado e os caminhos que sua própria formulação irá tomar são diversos dessas outras duas recuperadas por ele, fechando assim nosso ponto de partida para compreender suas ideias. Dispomos da afirmação que o poder não se dá, não se troca nem se retoma, mas se exerce. Só existe como ação, como também da afirmação que o poder não é principalmente manutenção e reprodução das relações econômicas, mas acima de tudo uma relação de força. [...] o poder é essencialmente repressivo. O poder é o que reprime a natureza, os indivíduos, os instintos, uma classe. [...] Não será, então, que a analise do poder deveria ser essencialmente uma análise dos mecanismos de repressão? (FOUCAULT, 2007, p. 175). 116 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV O conceito central de sua obra, que nessas considerações anteriormente transcritas, em específico – “que a análise do poder deveria ser uma análise dos mecanismos de repressão” – aponta-nos como desenvolveu suas pesquisas. Poderíamos, adiantar-nos e perguntar: seria, portanto, a escola um mecanismo de repressão, que preenche o significado de poder para Foucault? Pergunta certeira, mas que para chegarmos lá e desenvolver seus desdobramentos precisamos ainda passar pelas ideias de dominação e disciplina. Para isso começamos com as “precauções metodológicas” formuladas pelo próprio autor, nos esclarecendo, exatamente como realizou seu programa de pesquisa sobre os mecanismos de repressão. [...] não se trata de analisar as formas regulamentares e legítimas do poder em seu centro, no que possam ser seus mecanismos gerais e efeitos constantes. Trata-se, ao contrário, de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações, lá onde ele se torna capilar; captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais [...] não analisar o poder no plano da intenção ou da decisão, não tentar abordá-lo pelo lado interno [...]; mas estudar o poder onde sua intenção está completamente investida em práticas reais e efetivas; estudar o poder em sua face externa, [...] onde ele se implanta e produz efeito. [...] não tomar o poder como um fenômeno de dominação maciço e homogêneo de um indivíduo sobre os outros, de um grupo sobre os outros, de uma classe sobre as outras; mas ter bem presente que o poder não é algo que se possa dividir entre aqueles que o possuem e o detêm exclusivamente e aqueles que não o possuem e lhe são submetidos. O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, algo que só funciona em cadeia. Nunca apropriado como riqueza ou bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os indivíduos não só circulam mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação; nunca são o alvo inerte ou consentido do poder, são sempre centros de transmissão. Em outros termos, o poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles (FOUCAULT, 2007, p. 182-185). Reunimos, portanto, elementos suficientes para nos aproximarmos da noção que Foucault desenvolve sobre o poder. Após essas considerações, podemos avançar para os outros conceitos centrais de sua teoria. Agora sabemos que sua concepção de poder não é nem apoiada nos filósofos do século XVIII – estritamente política, concreta e contratual; nem marxista – subordinada às condições materiais de produção e nem monopólio de uma classe. Poder como algo não homogêneo, fluido, estabelecido em redes, do micro ao macro passando pelos indivíduos que ora se posicionam com poder ora são dominado por ele. 117 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Figura 30 – Escola Municipal Professora Helena Lopes Abranches, Gardênia Azul Figura 31 – Penitenciária Brasília-DF A figura 30 ilustra a ação do Ministério Público ao fiscalizar as escolas públicas do país para averiguar as instalações e o atendimento às crianças. A figura 31 mostra o trabalho do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública em ação no Distrito Federal revisando as situações jurídicas da internas de um presídio. Exemplo de aplicação Considerando as ideias de M. Foucault sobre poder, dominação e disciplina, tratados nesta unidade, em específico sua expressão espacial nas escolas e presídios como mecanismos de controle – presentes em Vigiar e Punir – podemos analisar as imagens de maneira comparativa. Quais os elementos que parecem estar presentes nas duas fotografias, relativas à arquitetura e espaço das distintas instituições? As grades, as portas de aço e a construção dos espaços internos parecem refletir certa diretriz de organização social, é possível aproximar, nesse sentido escola e prisão? Como nos apropriar das reflexões de Foucault que – como vimos – estabelece relações gerais entre as instituições, especialmente no contexto francês, para uma análise do contexto brasileiro? 118 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Com essa construção temos iluminado o significado do título de um de seus escritos publicados no Brasil, Microfísica do Poder, e é apoiado nesses pressupostos que Foucault justifica todo seu programa de pesquisa voltado para os pequenos espaços em que parece possível compreender essa rede em funcionamento e chegar a apreender a dominação exercida pela sua expansão. Logo, temos que encarar outro conceito: o de dominação. Por dominação eu não entendo o fato de uma dominação global deum sobre os outros, ou de um grupo sobre o outro, mas as múltiplas formas de dominação que podem se exercer na sociedade. Portanto, não o rei em sua posição central, mas os súditos em suas relações recíprocas: não a soberania em seu edifício único, mas as múltiplas sujeições que existem e funcionam no interior do corpo social (FOUCAULT, 2007, p. 181). Temos neste trecho uma forte pista do significado percebido e construído por Foucault. Dominação múltipla, não concentrada e nem emanando exclusivamente do Estado, nem da classe dominante, mas dissolvida e transmitida por diversas vias no corpo social. Complementando essas características e significados com suas formulações de como entende a dominação burguesa na sociedade moderna, estabelecemos mais um sólido ponto de partida para continuar com a revisão de Foucault. Creio que é possível deduzir qualquer coisa do fenômeno geral da dominação da classe burguesa. O que faço é o inverso: examinar historicamente, partindo de baixo, a maneira como os mecanismos de controle puderam funcionar; por exemplo, quanto à exclusão da loucura ou à repressão e proibição da sexualidade, ver como, ao nível efetivo da família, da vizinhança, das células ou níveis mais elementares da sociedade, esses fenômenos de repressão ou exclusão se dotaram de instrumentos próprios, de uma lógica própria, responderam a determinadas necessidades; mostrar quais foram seus agentes e como estes mecanismos de poder, em dado momento, em uma conjuntura precisa e por meio de um determinado número de transformações começaram a se tornar economicamente vantajosos e politicamente úteis (FOUCAULT, 2007, p. 185) Após importantes diretrizes de como realiza suas análises sociológicas, e como está montada sua perspectiva social – historicamente “de baixo”, a partir dos mecanismos de poder funcionando em micro esferas sociais, segue afirmando sobre a dominação burguesa, ou pelo menos sua manifestação. Em outras palavras, a burguesia não se importa com os loucos; mas os procedimentos de exclusão dos loucos puseram em evidência e produziram, a partir do século XIX, novamente devido a determinadas transformações, um lucro político, eventualmente alguma utilidade econômica, que consolidaram o sistema e fizeram-no funcionar em conjunto. A burguesia não se interessa pelos loucos, mas pelo poder; não se interessa pela sexualidade infantil mas pelo sistema de poder que a controla; a burguesia 119 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação não se importa absolutamente com os delinquentes nem com sua punição ou reinserção social, que não têm muita importância do ponto de vista econômico, mas se interessa pelo conjunto de mecanismos que controlam, seguem, punem e reformam o delinquente (FOUCAULT, 2007, p. 186). Temos, considerando estas duas passagens, um importante aspecto do pensamento de Foucault, dada sua noção de poder: não homogêneo e nem monopólio de instituições e nem de uma classe específica; consequentemente as mesmas características para a dominação, sua leitura de interesses e manifestação da classe dominante é bastante distinta daqueles autores que vínhamos revisando, especialmente os de inspiração marxista. Foucault não entende a burguesia como interessada nos substratos e problemas sociais, senão na capacidade de controlá-los, no poder de controlá-los, e estes desenvolvem-se e tornam-se perceptíveis nas microescalas de convivência. Essa centralidade no foco do autor é que confere às suas ideias uma perspectiva original. A partir dela encontramos um novo mecanismo de funcionamento do poder, centralizado na dominação, já descrita, e igualmente na disciplina. É nesse sentido que analisa a escola e a educação. Esse “novo” mecanismo de poder, amplamente apoiado nas disciplinas como formas de dominação, atua efetivamente sobre o corpo dos indivíduos e expandindo-se para o corpo social. O corpo torna-se “alvo e objeto de poder, para a manipulação, a modelação, o treinamento e a submissão de maneira detalhada e sistemática” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 90). Esta análise, esta operação “microfísica” do poder sobre o corpo encontra-se, segundo Foucault, em uma série de instituições – colégios, escolas, hospitais, organizações militares e religiosas – que se assemelham pela prática. Para o autor “a disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos dóceis” (FOUCAULT, 2009, p. 131). Em outra passagem de um de seus cursos Foucault vai oferecendo-nos mais elementos, dando contorno a esse novo mecanismo e as formas disciplinares capazes de fomentar tal dominação. Este novo mecanismo de poder apoia-se mais nos corpos e seus atos do que na terra e seus produtos. É um mecanismo que permite extrair dos corpos tempo e trabalho mais do que bens e riqueza. É um tipo de poder que se exerce continuamente através da vigilância e não descontinuamente por meio de sistemas de taxas e obrigações distribuídas no tempo; que supõe mais um sistema minucioso de coerções materiais do que a existência física de um soberano (FOUCAULT, 2007, p. 187-188). Considerando suas palavras podemos reunir como disciplinas: o controle minucioso do tempo e da ocupação, seja do aluno, do paciente, do soldado ou mesmo do presidiário; o planejamento do espaço e condicionamento para sua ocupação ou, nas palavras do autor, “a distribuição dos indivíduos no espaço”. Logo começamos a aproximar a descrição de Foucault, das técnicas disciplinares, ao funcionamento das escolas contemporâneas. É pela heterogeneidade e multiplicidade das disciplinas que essa aproximação começa a tomar forma, segundo Foucault, as disciplinas são bastante investidas nos aparelhos que produzem saber e conhecimento, daí nosso diálogo explícito com os espaços educacionais. Em suas próprias palavras: 120 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Nas sociedades modernas, os poderes se exercem através e a partir do próprio jogo da heterogeneidade entre um direito público da soberania e o mecanismo polimorfo das disciplinas. O que não quer dizer que exista, de um lado, um sistema de direito, sábio e explícito – o da soberania – e de outro, as disciplinas obscuras e silenciosas trabalhando em profundidade, constituindo o subsolo da grande mecânica do poder. Na realidade as disciplinas têm o seu discurso. Elas são criadoras de aparelhos de saber e de múltiplos domínios de conhecimento. São extraordinariamente investidas ao nível dos aparelhos que produzem saber e conhecimento (FOUCAULT, 2007, p. 189). Foucault vem identificando esse novo mecanismo de poder e seu funcionamento microfísico nos corpos desde os séculos XVII e XVIII, nos conventos, nas máquinas de guerra, mas é na sociedade moderna que se generaliza por todo o corpo social e suas mais minuciosas formas. Segundo Piletti e Praxedes (2010), essa generalização fica evidente quando chega a produção industrial, “tornando a fábrica muito parecida com um convento ou uma fortaleza, na qual os vigilantes monitoram o ingresso dos trabalhadores individualmente [...] para prevenir a ociosidade e as agitações que diminuem o ritmo e a quantidade de produção” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 90). Observamos na sociedade moderna, a partir da perspectiva de Foucault, o completo cerceamento da coletividade, em que a disciplina torna-se um imperativo necessário para evitar que os indivíduos se associem e se solidarizem. “O controle da atividade também se torna ostensivo por meio da determinação de tarefas específicas a serem repetidas rotineiramente em determinado horário” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 91). As figuras a seguir mostram uma escola de Ensino Médio em Brasília testandochips no uniforme de 35 alunos. A ideia é monitorar os jovens, garantindo condições de segurança para a entrada e saída da escola: Figura 32 121 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Figura 33 Figura 34 Figura 35 122 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Exemplo de aplicação Neste caso brasileiro de monitoramento dos alunos, podemos encontrar elementos para aplicar uma análise sociológica educacional inspirada em Foucault? Como pensar criticamente a relação de controle, monitoramento e disciplina na escola e sua violência simbólica que garante certa ordenação conveniente à manutenção da ordem? Os chips nos uniformes indicam essa violência sobre o corpo e seu deslocamento, como nos apontou Foucault? É com a assustadora semelhança e comparação entre escola e presídio, desenvolvida em Vigiar e Punir, que Foucault nos deixa claro o funcionamento dessas disciplinas no ambiente escolar. A educação e a escola tornam-se aparelhos de adestramento e vigilância. Esta é a extensão e drasticidade de sua análise sociológica da educação. Todos aqueles elementos próprios da disciplina são encontrados na escola analisada por Foucault e também na maioria delas que encontramos em nosso contexto nacional contemporâneo. A vigilância hierárquica, que torna os subordinados visíveis para os superiores – o edifício, a arquitetura da escola é um espaço para vigiar, construída para possibilitar essa visão dos superiores, prevenindo-se a insubordinação e independência comportamental. As micropenalidades do tempo, da atividade, da maneira de ser, do discurso, do corpo e da sexualidade – punições por chegar atrasado, ausências e interrupções de tarefas; punições por desatenção, negligência e falta de zelo; punição por grosseria e desobediência; punição por tagarelice e insolência; punição por atitudes incorretas, postura inadequada e gestos não conformes; punição por imodéstia e indecência (FOUCAULT, 1999 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 92). O exagero de punições tornam a escola um forte mecanismo de dominação e repressão pelos mínimos detalhes disciplinadores, padronizando as condutas individuais a princípio no interior da instituição e posteriormente em outras instâncias sociais. Sobre a força da vigilância como meio de controle e disciplinamento dos corpos, Foucault formula o conceito de pan-óptico, referência direta à estrutura arquitetônica em formato de anel com uma torre central que permite visibilidade total, idealizada por Bentham no final do século XVIII. Conceito importante para a análise da instituição escolar. “Em uma instituição escolar voltada para o disciplinamento dos corpos, uma estrutura pan-óptica permitiria o professor vigiar as atividades dos alunos, visualizados individualmente graças à sua posição central a frente das mesas e cadeiras em uma sala de aula” (FOUCAULT, 1999, p. 170 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 93). saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o conceito: FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 37. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. 123 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação As constatações de Foucault sobre a escola não param por aí, todos os processos punitivos são complementados pelos exames dando forma completa a vigilância e ao poder nesta esfera social. É novamente em Vigiar e Punir que Foucault nos dá detalhes sobre como o exame, inclusive os escolares, completam a vigilância reforçando as hierarquias. “O exame inverte a economia da visibilidade no exercício do poder. [...] O exame faz também a individualidade entrar num campo documentário. [...] O exame, cercado de todas as suas técnicas documentárias, faz de cada indivíduo um ‘caso’” (FOUCAULT, 2009, p. 179-183). Nestas teses estão resumidas as capacidade disciplinares do exame que acabam completando a qualidade repressora da escola. Temos com a síntese de Piletti e Praxedes (2010) formulações suficientes para apreender seu significado. O exame pode medir as qualificações individuais e selecionar aqueles que receberão os estímulos positivos e negativos de modo legítimo, tanto no interior da instituição escolar ou prisional como exteriormente, sancionando o lugar que caberá a cada examinado, de acordo com seu desempenho. [...] a escola torna-se uma espécie de aparelho de exame ininterrupto que acompanha em todo o seu cumprimento a operação de ensino, submetendo os indivíduos à disciplina exigida pelos examinadores que detêm o controle sobre a situação do exame (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 92). Temos com a passagem de Foucault e dos comentadores Piletti e Praxedes a dimensão do processo de individuação na sociedade moderna, incluindo a escola como importante espaço nesse processo, que se efetiva por meio da disciplina que molda, adestra, seleciona, exclui, reprime, recalca, censura, abstrai, mascara e esconde, fabricando indivíduos úteis, “passivamente adaptados a uma sociedade disciplinar, e favorecendo os dirigentes e administradores” (PILETTI; PRAXEDES, 2010 p. 89). 7.2 Habermas: educação e ação comunicativa O filósofo alemão Jürgen Habermas, nascido em 1929, estudou Filosofia, História, Psicologia, Economia e Literatura alemã, a amplitude de seus estudos e sua capacidade analítica foi contemplada com uma carreira acadêmica irretocável, doutorando-se em 1954 e tornando-se livre-docente pela Universidade de Marburgo já em 1961. Neste mesmo período, entre 1956 e 1959, assumiu o cargo de assistente de pesquisa no Instituto para Pesquisas Sociais de Frankfurt, assim como o cargo de professor em Filosofia e Sociologia na Universidade de Frankfurt. Por conta desse vínculo com o conhecido Instituto de Frankfurt é visto como herdeiro da tradição sociológica desenvolvida por seus pesquisadores fundadores Horkheimer e Adorno (FREITAG; ROUANET, 1980, p. 9-11). Considerar Habermas herdeiro ou último representante da Escola de Frankfurt vai muito além de sua posição formal como pesquisador do Instituto – que, aliás, foi bastante tardia, nascido em 1929, seis anos após sua criação; distante, portanto, da geração de seus criadores, não partilhou de seu desenvolvimento nem da experiência de exílio (FREITAG; ROUANET, 1980, p. 09-11). A classificação de Habermas como teórico crítico de Frankfurt é ainda bastante polêmica e continua em debate tanto na Alemanha, quanto na França, nos Estados Unidos e também no Brasil entre os pesquisadores da chamada Teoria Crítica da Sociedade. O debate baseia-se principalmente no questionamento de como Habermas toma os elementos teóricos consolidados por Adorno 124 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV e Horkheimer como pressupostos e até que ponto os altera em suas próprias construções teóricas, consideradas por alguns críticos como mudanças suficientes para não classificá-lo como representante legítimo dessa perspectiva social. Seguir por esse caminho de análise dos estudos e teses de Habermas com o intuito de validar ou não sua classificação como representante legítimo da teoria crítica seria um enorme desvio de nossos objetivos enquanto estudantes e pesquisadores de Sociologia da Educação e da revisão de como as ideias do autor nos ajudam a pensar a escola e o sistema educacional. Seguiremos, necessariamente, outro caminho, entretanto, deixaremos marcada aqui essa possibilidade e para tanto duas fundamentais perguntas deveriam orientar esse caminho que não seguiremos: quaisos fundamentos e pressupostos da chamada teoria crítica ou escola de Frankfurt, principalmente, aqueles formulados por seus fundadores Adorno e Horkheimer? Quais formulações de Habermas aproximam-se destes fundamentos e quais se distanciam, e, de maneira complementar, como fundamentar esse diálogo de ideias, seja pela distância, seja pela proximidade? Considerando a fortuna crítica sobre a Escola de Frankfurt e a Teoria Crítica, mais especificamente, a descrição histórica do Instituto de Pesquisa Social realizada por Barbara Freitag (1990), foi a partir de uma semana de estudos marxistas em 1922 na Turíngia que surgiu a ideia de institucionalizar um grupo de trabalho para a documentação e teorização dos movimentos operários na Europa e em 1923 o Institut fuer Soziaforschung foi oficialmente criado. Seus primeiros colaboradores foram típicos socialistas de cátedra, orientados pelos princípios do trabalho acadêmico, rejeitados pela maioria dos marxistas da época que militavam pelos partidos. Seu primeiro diretor, Carl Gruenberg historiador e marxólogo de Viena, geriu a edição de um arquivo que procurava descrever, dentro da tradição marxista, as mudanças estruturais na organização do sistema capitalista, na relação capital-trabalho e nas lutas e movimentos operários. Entretanto, com a nomeação de Max Horkheimer para direção do Instituto em 1930, essa orientação mudou substancialmente. O Instituto passou a assumir as feições de um verdadeiro centro de pesquisa, preocupado com uma análise crítica dos problemas do capitalismo moderno que privilegiava claramente a superestrutura. Desta iniciativa que surgiram os trabalhos mais significativos e os nomes mais conhecidos como de Adorno, Marcuse, Benjamin e Habermas (FREITAG, 1990, p. 10-11). saiba mais Para uma visão geral e histórica do Instituto e da Teoria Crítica, leia: FREITAG, B. A teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990. Para uma visão igualmente geral, mas de um especialista brasileiro sobre o tema: NOBRE, M. A teoria crítica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 125 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação E ainda: ORTIZ, R. A escola de Frankfurt e a questão da cultura. Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS), São Paulo, n.1, v.1, jun. 1985. Disponível em: <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_01/rbcs01_05. htm>. Acesso em: 13 nov. 2014. Deixando tal polêmica de lado, podemos continuar com a consideração do autor, dando atenção específica ao seu fundamental conceito, sua ideia central: a ação comunicativa. E ao final do item aproximar essa ideia central à educação. Para tanto precisaremos contornar seus argumentos sobre as relações entre os sujeitos e o individualismo. Habermas possui uma densa reflexão filosófica sobre a importância da relação intersubjetiva entre os sujeitos, que na busca do entendimento por meio do diálogo, ações como a educativa, contribuiriam para socialização das novas gerações e mais importante para construção de identidades, padrões de convivência e solidariedade (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 97). O grande desafio, que enfrentaremos aqui, é desenvolver como esse diálogo pela solidariedade é possível a partir de um diagnóstico social completamente adverso. Habermas parte do diagnóstico social realizado pela Escola de Frankfurt, expresso, dentre outros escritos, na Dialética do Esclarecimento, de como a sociedade moderna dirigida para o consumo de massas atua para o desencantamento do mundo. A pergunta central da obra é: por que a humanidade, ao invés de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma nova espécie de barbárie? A partir da questão exposta, Adorno e Horkheimer desenvolvem uma ampla análise da sociedade de massas em que constatam: • o processo de racionalização na filosofia e na ciência leva a um mundo administrado; • o esclarecimento se converte em positivismo e ideologia; • o desenvolvimento tecnológico conduz a desagregação social, pois os avanços na esfera material são apropriados pelas classes dominantes; • no processo de socialização, os indivíduos são estimulados a se conformar com a ordem social; • a vida social passa a ter como centro o indivíduo e o individualismo em detrimento da vida comunitária; • a tradição passa a ser rejeitada de maneira sistemática pela busca da novidade; 126 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV • a destruição se tornou uma das principais alavancas da produção – economia baseada no desperdício que propicia a nova produção; • busca da satisfação imediata por meio do consumo (ADORNO; HORKHEIMER, 1985 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 98-99). Diante deste diagnóstico, completamente assumido por Habermas como ponto de partida, os indivíduos desenvolvem uma concepção instrumental da razão e se distanciam da possibilidade de emancipação, como sintetizado por Piletti e Praxedes (2010, p. 101): O mesmo indivíduo nascido no início da era moderna termina desintegrado pela pressão do geral dominante. Inseguro, em decorrência da crise de identidade e da perda de autonomia, ele se torna propenso a aderir acriticamente aos poderes instituídos e a se identificar com as instâncias coletivas que manipulam os seres humanos, o que prepara seu espírito para a indiferença, a insensibilidade diante da dor do outro. Vejam que, dado o mundo administrado, a perda de autonomia sem horizonte de retomada da emancipação configura uma ordem social que produz e reproduz a frieza, em que “cada indivíduo está mais preocupado em defender o proveito próprio antes de todos os demais” (ADORNO, 1999 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 101). Mesmo diante do diagnóstico exposto, Habermas defende que a formação das identidades dos indivíduos deve ser guiada por um “agir comunicativo”. Está aí o caminho que gera certo desconforto para os estudiosos da teoria crítica, seria possível, dado esse diagnóstico, uma saída pela ação comunicativa pensada por Habermas? Para começarmos desenvolver tal passagem argumentativa, precisamos reunir mais detalhes das ideias do autor. Habermas focaliza inicialmente a formação das identidades nos indivíduos, este é um processo não exclusivo do domínio pessoal, mas um processo social, “as identidades se formam nas relações sociais e dependem tanto da competência interativa do sujeito [...] como de sua capacidade reflexiva para decodificar como os atributos da própria identidade se relacionam com as identidades coletivas” (HABERMAS, 1983 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 102). E esse processo de desenvolvimento da identidade pode ser pensado como um processo de aprendizagem e talvez uma saída não reprodutora da individualidade, para o não condicionamento social do mundo administrado e da razão instrumental. O detalhamento desse desenvolvimento da identidade como aprendizagem começa a nos dar elementos para preencher o significado de ação comunicativa. Tal aprendizagem passa, necessariamente, segundo Habermas, por um conjunto de três competências: 1) linguística, necessária para os processos de comunicação; 2) cognitiva que nos propicia a busca dos conhecimentos necessários para a vida em sociedade; e 3) competência para a interação que possibilita a ação, a convivência com o outro e, enfim, a participação na vida social (HABERMAS, 1983 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 102). 127 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Figura 36 – Belo Horizonte – MG, Centro Cultural comunitário paraformação e expressão popular Luiz Estrela. Espaço onde ativistas discutem políticas públicas voltadas para a cultura Exemplo de aplicação Considerando os elementos que reunimos, por enquanto, sobre a ideia central de Habermas – a ação comunicativa – não seria o espaço público, as ruas, as praças, as escolas públicas, os centro culturais, como este em BH, espaços privilegiados para a ação comunicativa? Espaços de encontro, de convivência, de comunicação e, portanto, segundo seu desenvolvimento, para superação da individualidade e da razão instrumental? Não seriam os espaços públicos potencializadores da ação comunicativa? Mas o que vemos, como no exemplo do centro Luiz Estrela, são fechamentos e cercamentos desses espaços públicos para convivência. Em São Paulo não parece ser diferente, o discurso do medo retira as pessoas da rua, as praças ganham grades, câmeras e horários de funcionamento. Como esperar a ação comunicativa sem o espaço público? A realização de tais competências estabelece o diálogo entre a ação comunicativa e a formação de identidade: É a aprendizagem de convicções morais, de um saber prático e do agir comunicativo que possibilita o aprendizado e a prática da regulamentação consensual dos conflitos de ação, que, por sua vez, levam à integração social fundada na identidade do Eu e na identidade coletiva (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 103). É nessa relação intrincada entre ação, comunicação e interação social que ao mesmo tempo cria-se a identidade individual e coletiva, e, muito mais do que isso, escapa-se da racionalidade instrumental e constrói-se uma racionalidade consensual comunicativa. Pelo intermédio da linguagem como acordo intersubjetivo, visando o mútuo entendimento, surge um agir discursivo orientado para o acordo, que resulta de um processo de crítica e argumentação, tendo em vista a convivência (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 103). 128 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Vale destacar, novamente, que é um desenvolvimento analítico a partir do diagnóstico social e dos princípios da teoria crítica que acaba escapando de suas próprias determinações. Se para Adorno e Horkheimer vivemos num mundo em que não há a possibilidade de emancipação, a racionalidade instrumental generaliza-se para todas as dimensões sociais e humanas impedindo qualquer tipo de experiência. O agir comunicativo em Habermas parece possibilitar a superação de tais determinações que inviabilizariam a emancipação humana, a razão instrumental torna-se comunicacional e interativa. observação Vale observar, neste momento da retomada dos argumentos de Habermas, que um autor de sua relevância não formula uma única perspectiva sobre o fenômeno social. Apesar de enxergar toda essa potencialidade nas ações comunicativas, como forma de reabrir o caminho à emancipação, em diversos momentos de sua obra pondera para sua não ocorrência, algo como uma autorreflexão crítica. Como nas seguintes passagens: “Mas esse agir consensual pode não ocorrer em virtude da possibilidade de adaptação humana a tais condicionamentos sociais, pois esta se revela no agir racional, tendo em vista os fins dos agentes, ou seja, a busca de eficácia no emprego dos meios que levam a determinado fim almejado, de acordo com cálculo e previsão. [...] esse agir estratégico no qual se tenta influenciar as decisões dos outros, orientando-se tão somente para o próprio sucesso, fazendo da linguagem um meio para a dominação” (HABERMAS, 1983, p. 32, apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 103-104). Essa saída possível pela ação comunicativa, como já indicamos anteriormente no elencamento das competências que lhe dão forma, aproxima-se diretamente do processo de aprendizagem, transformando-se ela mesma um aprendizado, sugerindo um diálogo imediato com a educação. E é justamente esta sugestão que aproveitaremos neste momento. Sabemos, portanto, que para Habermas a identidade individual depende da existência de um grupo, uma identidade coletiva, não sendo possível a realização de uma expectativa identitária do “eu” sem a existência do “nós”. E que o ser social desenvolve-se junto ao conhecimento, à linguagem que permite a comunicação e à ação de interação (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 105). Esses pressupostos criam uma perspectiva do mundo contemporâneo em que a construção de identidades depende de um processo contínuo de aprendizagem e capacidade de reflexão conjunta, um vida social produzida e reproduzida nesses termos. É justamente neste ponto que aparece a fundamental importância da educação e da escola. Estas devem ter uma centralidade para incentivo da aprendizagem, o motor de todo esse processo descrito por Habermas. O sistema educacional e toda a atividade desenvolvida em seu âmbito, para conseguir assumir essa central função social, deve escapar àquela racionalidade instrumental, aos mecanismos de disciplina, coerção e reprodução da ordem dominante. Um exemplo dessa possibilidade configurando uma importante diretriz educacional para um mundo em que reina a racionalidade 129 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação comunicativa, o interesse comunicativo ao invés do instrumental técnico nos é colocado sobre uma análise do currículo escolar nos termos habermasianos: No que diz respeito à programação de um currículo escolar, Habermas considera que, na contemporaneidade, os currículos escolares devem atentar para essa necessidade de reflexibilidade, em vez de serem baseados em conhecimentos legitimados pelo costume e pela tradição. Assim, a educação escolar deverá contar com uma programação curricular que tenha como pressuposto a necessidade do diálogo baseado na argumentação livre e na reflexividade estabelecida entre os educadores, educandos e seus familiares (HABERMAS, 1983, p. 102 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 106). Observamos, portanto, a necessidade de diálogo entre os agentes no processo educativo, a interação horizontal para discussão dos objetivos e a forma pela qual serão realizadas as atividade para alcançá- los, chegando, pela ação comunicativa educacional, num consenso crítico, não mais apoiado na razão instrumental, distante, técnica, fria, sem reflexão, sem participação dos envolvidos. “De acordo com Habermas, o agir comunicativo pode proporcionar aos pais e professores a educação das novas gerações pela busca do consenso e das soluções dialogadas e pacíficas para os conflitos” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 106). Figura 37 – Manifestação em defesa da educação de qualidade para pessoas com deficiência auditiva, organizada pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS) Exemplo de aplicação Considerando o desenvolvimento das ideias de Habermas sobre a ação comunicacional e a sua estreita ligação com os processos educativos, como pensar a questão do acesso às escolas e universidades? Não seria um problema a não adequação de, por exemplo, deficientes auditivos? Como promover a convivência entre tais diferenças garantindo a possibilidade da ação comunicativa educativa? Para considerarmos a afirmação de Habermas sobre a “necessidade de diálogo entre os agentes no processo educativo, a interação horizontal para discussão dos objetivos e a forma pela qual serão realizadas as atividade para alcançá-los”, não precisaríamos, enquanto docentes, atender às reivindicações dos deficientes auditivos? 130 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV lembrete Por todo o curso a nossa perspectiva central na leitura e interpretação dos autores aqui revisados deve serconsiderada como uma aproximação entre educação e análise sociológica, nos garantindo a formação de um repertório de ideias próprias na área da Sociologia da Educação, fundamentais para nos tornarmos capazes de analisar e compreender a realidade social em que vivemos, especialmente durante o exercício da docência. Para tanto, temos, desde as unidades anteriores, que construir pontes de diálogos entre os autores iniciando pela compreensão da síntese de seus pensamentos e, posteriormente, atentando para mediações entre suas teorias, os seus respectivos contextos históricos e nosso próprio contexto nacional contemporâneo. Deste modo, ao final da leitura e do curso, teremos construído um sólido ponto de partida analítico. Com este item terminamos a retomada das visões da educação do século XX a partir da revisão autores específicos. Entretanto, ainda temos algumas escolas e temas de fundamental importância para completarmos nosso quadro analítico de Sociologia da Educação. Seguiremos, ainda que com uma atenção menor aos argumentos de cada autor, com um conjunto de ideias conhecidas como estudos culturais e pós-coloniais, além de temas centrais para educação como gênero e raça. Nestes últimos com uma atenção voltada ao contexto brasileiro contemporâneo. Completaremos assim nossos estudos e amplo repertório para análises sobre educação. 7.3 estudos culturais, pós-colonialismo e educação Os estudos culturais formam uma área interdisciplinar de pesquisa e também de intervenção política, surgida na Inglaterra nos anos 1960 a partir da criação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos na Universidade de Birmingham. Formada inicialmente por pesquisadores como Raymond William, Richard Hoggart, Stuart Hall e Edward Thompson. observação Raymond Williams (1921-1988) foi acadêmico e crítico do País de Gales no Reino Unido, sua obra trata de variados temas, política, literatura, cultura, sempre refletindo seu ponto de vista marxista. Teve um papel fundamental no movimento da Nova Esquerda e nos estudos culturais. Entre suas publicações destacam-se: Cultura e Sociedade (1958) e Politics and Letters (1961). Richard Hoggart (1918-2014) foi um acadêmico britânico que desenvolveu seus estudos e carreira pelo campo da Sociologia, Literatura Inglesa e estudos culturais, com ênfase na cultura popular britânica. Entre suas publicações destaca-se: Uses of Literacy: Aspects of Working Class Life (1957). 131 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Este programa de pesquisa e orientação política desdobrou-se nos Estados Unidos junto à vertente de pensamento pós-colonial, principalmente influenciado pelo trabalho de Edward Said, em específico a partir da publicação do livro Orientalismo: o Oriente como Invenção do Ocidente em 1978, desenvolvendo uma perspectiva social ampla a partir da hipótese de que as diferentes culturas relacionam-se pelo poder e dominação e que deveriam, como ponto de partida, ter essa relação completamente questionada e desconstruída. Assim toda a ideia de oriente e cultura africana, por exemplo, ganham novo fôlego enquanto expressão legítima abandonada em relação à abordagem que as considera inferior quando comparada a cultura europeia. Ao mesmo tempo, ao questionarem a relação de poder e dominação, do ponto de vista cultural, abrem-se novos caminhos de estudos e também intervenção política sobre a relação de dominação e exploração das camadas sociais, atravessando as organizações nacionais, já que abandonando a posição de colonizador, as relações sociais entre os povos e imigrantes, por exemplo, não passam imediatamente a serem orientadas pela igualdade, pelo contrário, mesmo sem a relação formal de colonização a sociabilidade ainda carrega seu peso e os temas nesse terreno multiplicam-se. E é justamente com a intenção de questionar e superar o “olhar colonizador” nas relações sociais que os estudos culturais e o pensamento pós-colonial desenvolvem suas ideias. saiba mais Edward Said (1935-2003) – intelectual palestino, crítico literário e militante pela causa palestina teve contribuição fundamental para o pensamento pós-colonial e estudos culturais a partir da publicação de: SAID, E. W. Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007. Todo o eurocentrismo, no que diz respeito à cultura, foi questionado por tal vertente de estudos, as reivindicações de universalidade europeia nas manifestações culturais inclusive na produção intelectual passam ser o grande problema a ser encarado e desfeito, já que, a partir da hipótese apresentada anteriormente, só apontam para uma relação de poder e dominação, em nada ajudam a compreender a sociedade e muito menos a oferecer parâmetros para consideração de outras expressões culturais, pelo contrário, criam uma miragem de superioridade, qualidade, impondo padrões que só reproduzem as relações coloniais, sem mesmo existir colônia, relação que pode ser chamada de “colonialismo intelectual”. observação Um exemplo claro desse tipo de colonialismo das ideias está presente nas universidades brasileiras onde se formam os professores que atuam por todo o país – a grande maioria das referências bibliográficas são europeias. Estudamos o mundo pela narrativa e literatura dos europeus, 132 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV inclusive a história das Américas, a história da África, quem nos formam são as perspectivas europeias. Onde estão os autores latino-americanos? Os africanos? Não seriam capazes de nos oferecer uma perspectiva sobre nossa própria história? A resposta é que eles existem, têm uma produção intelectual e cultural! E são extremamente capazes de nos formar. O que resta, como constatação para manutenção quase exclusiva de autores europeus, é a pura dominação, uma relação de poder nutrida por nós mesmos, que ao montarmos os currículos e cursos, já internalizamos essa relação desigual de poder, resquícios da colonização, e preferimos os autores europeus e norte americanos para nos ensinar, de maneira completamente acrítica. Os estudos culturais propõem justamente reflexões para alterar esse quadro de dominação intelectual. Podemos e devemos desconfiar de sua proposta já que seus autores são, novamente, europeus e norte americanos, mas suas propostas são autorreflexivas e parecem nos fornecer um ponto de partida distinto, sem a pretensão de universalizar seus conhecimentos para o mundo e que questiona a relação de poder e dominação de saída. Como seria a produção de conhecimento a partir desses pressupostos? Poderíamos nos perguntar se é possível pensar as relações sociais sem a consideração exclusiva da Europa como modelo? Não pertencentes aos estudos culturais, Adorno e Horkheirmer, aqueles autores fundadores do Instituto de Frankfurt e da Teoria Crítica, para pensar a sociedade, recuperados, em alguma medida, nesta mesma unidade na seção anterior pelas ideias de Habermas, já nos colocavam uma forma de pensar crítica, que questiona a Europa como modelo de sucesso na formação social. Quando Adorno questiona o resultado implacável do horror na Alemanha, com o nazismo e a exterminação de milhares de judeus, a partir do ponto de vista educacional expresso na seguinte formulação: como foi possível uma organização social, formada e educada com Goethe, com um sistema educacional igualitário, generalizado por todo o corpo social produzir tamanha barbaridade? Mesmo sem considerar e relativizar outras expressões culturais, não parece exagero afirmar que temos aí uma forte autocrítica europeia sobre seu sistema educacional como sendo o melhor e o superior, já que aAlemanha, antes considerada o modelo europeu para educação, terminou no terror do nazismo. saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto leia: ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. Os estudos culturais propõem uma abordagem politicamente engajada sobre os processos educacionais, com ponto de partida crítico disposto a rever as considerações antes já consolidadas como parâmetros indiscutíveis para a educação, buscando assim uma transformação social ampliada, considerando as especificidades de cada expressão cultural sem escalas de valor entre elas. Na área 133 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação educacional os estudos culturais pós-coloniais estimularam um amplo debate sobre o respeito, a diversidade e a diferença. Figura 38 – Campo Grande (MS) - lideranças indígenas participam de reunião com parlamentares e representantes dos fazendeiros, para discutir a situação dos índios guarani-kaiowá no estado Exemplo de aplicação É possível exemplificar a dominação cultural imposta pelo meio escolar. Nas aulas que indicam que o Brasil foi descoberto com a chegada de Pedro Álvares Cabral, silencia-se o que existia aqui antes de 1500. Quais eram as etnias indígenas? Quais eram os seus costumes? Como se configuravam suas crenças religiosas? E no contexto contemporâneo, como exemplificado pela imagem dos guarani-kaiowá, como são tratados as questões indígenas? Houve mudanças desde o período de colonização com relação à consideração das diferenças culturais? Temas como esses são silenciados nas escolas e também no mundo acadêmico que não produz pesquisas sobre o assunto. A proposta dos estudos culturais e pós-coloniais encontra, portanto, na área da educação grandes temas, e por aí se desenvolvem em ampla escala. É justamente nessa relação entre tais vertentes e a educação que concentraremos essa revisão. A perspectiva de partida, como adiantamos, é problematizar como a escola e a universidade servem à dominação. No caso brasileiro, a condição de ex-colônia europeia, as questões colocadas pela abordagem dos estudos culturais colocam uma série de desafios às práticas educacionais. Podemos considerar as seguintes problematizações formuladas por Tomaz Tadeu Silva (2002 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 116) em sua introdução às teorias do currículo, como um sólido ponto de partida: [...] Em que medida a educação escolar e os currículos não estão comprometidos com a herança colonial, possibilitando, assim, a manutenção do preconceito e da discriminação étnica e racial contra os negros e índios e contra os resultados de uma cultura híbrida que não se afina com as expectativas eurocêntricas? [...] Em que medida a noção de raça, forjada nos séculos XVIII e XIX pelo pensamento europeu, continua influindo na formação das identidades de alunos e educadores? 134 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV [...] Como os materiais didáticos, as narrativas literárias e os textos científicos e filosóficos continuam celebrando a soberania do sujeito imperial europeu? [...] Como as subjetividades de alunos e educadores de diferentes grupos étnicos e raciais são influenciadas pelos padrões culturais europeus? No limite, enfrentamos uma questão só, como sintetiza Giroux (1999): “Como podemos construir um discurso que elimine os efeitos do olhar colonizador enquanto ainda estamos sob sua influência?” (GIROUX, 1999, p. 32, apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 117). Essa influência ainda é sentida, pois está fundamentada, mesmo depois do fim da colonização, nos pressupostos do pensamento europeu por meio de oposições bipolares legitimando a dominação por um lado e, por outro, a exclusão. O pensamento bipolar se define por uma hierarquia entre dois polos, ou seja, não concebe a diferença sem hierarquização, estabelecendo como polo normativo e dominante as religiões cristãs e sua concepção de divino e de bem, complementadas por valores que mitificam a luz, a brancura, o lado direito, o masculino, como definidores de uma ordem que deve ser imposta aos praticantes das demais religiões, que representam o caos, a escuridão, a negrura, o lado esquerdo, o feminino, enfim, as pessoas sem poder nem propriedade (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 117). Mesmo com a reflexão apoiada no exemplo da religião, devemos ser capazes de tirar uma regra geral desse pensamento a partir do trecho “o pensamento bipolar não concebe a diferença sem hierarquização”. Está aí a máxima do pensamento europeu colonizador a ser combatido, que condensa todo o pano de fundo do funcionamento da dominação. Não há tolerância às diferenças, se elas são percebidas logo são colocadas em comparação, inferiorização ao modelo europeu. Tudo, portanto, que não é europeu é negativo e consequentemente é reprimido e marginalizado. observação Outros importantes membros fundadores da verte dos estudos culturais: Stuart Hall (1932-2014) – teórico jamaicano que desenvolveu sua carreira acadêmica no Reino Unido, especialmente dos debates sobre cultura e meios de comunicação, contribuindo decisivamente para a perspectiva dos estudos culturais. Entre suas publicações destaca-se: Cultutal Studies: Two Paradigms (1980). Edward Thompson (1924-1993) – historiador britânico de concepção teórica marxista, referência para aos autores dos estudos culturais. Na sua importante obra destacam-se: A Formação da Classe Operária Inglesa, e Costume em Comum: Estudo sobre Cultura Popular Tradicional. 135 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Essa forma de pensar do dominador está consolidada na maneira como nós “dominados” pensamos e fazemos a educação, a oposição binária ainda nos cria problemas e nos impede de encontrar uma solução em que as diferenças são respeitadas e a educação praticada de maneira mais democrática: Na ação educativa restringimos nossos juízos às maneiras de pensar permitidas pelas oposições como mente e corpo, teórico ou empírico, inteligível ou obscuro, consistente ou inconsistente, certo ou errado, bonito ou feio, aluno bom ou aluno ruim, decente ou indecente etc. Raciocinamos de maneira dicotômica e assim perdemos a capacidade de captar a diversidade do real nas representações que elaboramos sobre “nós” próprios, professores, e sobre os alunos, seus pais e a comunidade externa à escola, transformados em “outros” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 117-118). É justamente na direção oposta que aparece a possibilidade de uma educação democrática e crítica. Esta possibilidade está garantida pelas contribuições dos estudos culturais, entretanto, ainda não tomou forma. O que queremos dizer é que a crítica à dominação das ideias está realizada, mas ainda precisa ser incorporada para as práticas pedagógicas, pouquíssimos são os exemplos que seguem essa nova orientação, levando-nos a questionar se efetivamente fomos capazes de nos emanciparmos dos europeus. De qualquer forma podemos seguir contornando o que seria esta educação crítica e democrática, e orientar com precisão os pontos que ainda seguram a escola como uma instituição dependente e pouco formadora, senão de complexos de inferioridade e preconceitos. O primeiro ponto de uma escola democrática é a oposição àquela máxima do pensamento europeu anteriormente formulado: precisamos ser capazes de constatar as diferenças culturais, expressas nas diferentes visões de mundo sem hierarquizá-las, criando espaço para convivência entre identidades sociais e culturais múltiplas. Para tanto devemosseguir identificando e eliminando as relações assimétricas de poder e qualquer forma de privilégio baseada, por exemplo, em questões de gênero – quando o homem é preterido à mulher; de sexualidade – quando a heterossexualidade é cobrada como condição necessária para assumir qualquer posição dentro da escola; raça e etnia – a preferência por brancos ou ainda baseada na propriedade – quando o proprietário é privilegiado. Atentos a tais assimetrias podemos, como nos mostra Giroux (1999): [...] construir uma ética política de respeito às diferenças nas relações sociais dentro e fora da escola, sem preconceitos depreciativos, estereótipos negativos e sem discriminação de ninguém. O respeito à diferença se torna estratégico se tivermos como objetivo democratizar e melhorar a qualidade da vida pública (GIROUX, 1999, p. 41 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 119). Começamos, desta forma, a imaginar a escola como um espaço democrático. E a pedagogia é redimensionada, a partir da crítica e intervenção, como instrumento para luta contra a dominação e exclusão do “outro”. E é justamente essa dimensão ampliada da pedagogia na política que Giroux, 136 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV recuperada por Piletti e Praxedes (2010), que afirma ser necessária “a escola como um local de luta contra a hegemonia cultural dos grupos dominantes e como um local de expressão cultural e agregação política de grupos subalternos”; e a escola pública como “local de formação de unidade entre camadas populares constituídas por grupos discriminados pela economia competitiva capitalista e pelos valores eurocêntricos” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 119). Exemplo de aplicação Henry Giroux, pedagogo norte-americano, com estudos em educação pública, cultura, juventude e mídia, ficou conhecido por formular uma análise crítica da pedagogia, influenciado pela Escola de Frankfurt, particularmente por Jürgen Habermas. Deixamos, portanto, indicada uma possibilidade de diálogo entre os autores revisados nesta unidade: Para refletir: dadas as seções desta unidade, como podemos aproximar os dois autores – Giroux e Habermas – ou então as duas escolas de pensamento – estudos culturais e Escola de Frankfurt? Temos, portanto, com a revisão crítica e a abordagem educacional proposta pelos estudos culturais, o caminho aberto para superar o eurocentrismo, contestando toda e qualquer estrutura de poder. Há um importante conjunto de ideias para nosso repertório em Sociologia da Educação, nossas análises quando orientadas por tais ideias questionam os saberes consolidados pelas posições de poder e necessariamente devem transgredir as formas de conhecimento baseadas nessas relações sociais orientadas para repressão. 8 A educAção no contexto globAl e multiculturAl Desde a seção anterior, com a consideração dos estudos culturais e o pensamento pós-colonial, já apontávamos para uma mudança de diagnóstico na realidade educacional, já que, encontra-se inserida numa organização mundial que sofre profundas transformações na segunda metade do século XX. Por um lado temos a homogeneização da maneira como vivemos, das regras máximas sociais, nem mesmo Cuba oferece-nos um contraponto neste início de século XXI; por outro lado nossa sociedade contemporânea é culturalmente heterogênea, pois diferentes grupos humanos se encontram, convivem e também se chocam. Como pensar a educação neste contexto? Como levar em consideração as diferenças culturais, políticas, religiosas, étnicas, raciais e comportamentais, num contexto de mais encontro e convivência pelas regras da sociedade capitalista? A discussão sociológica da educação no contexto multicultural pode ser desenvolvida em paralelo a uma discussão economicista sobre o impacto da globalização nos sistemas educacionais e como estes estão se moldando para satisfazer as exigências da economia global. Neste caso devemos preservar a perspectiva crítica desenvolvida nas seções e unidades anteriores, questionando o que significa a ideia de globalização e em que medida reforça ou não as relações de poder na organização social vigente. Este conjunto de reflexões cruza duas áreas distintas: educação e economia – economia do 137 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação conhecimento é uma área de pesquisa dos cursos de economia que investiga o impacto do conhecimento científico tecnológico para o desenvolvimento econômico – a educação passou a significar fonte de desenvolvimento econômico dos países. As novas tecnologias estão mudando a percepção social sobre a educação e escolarização. Nesta seção reuniremos elementos para respondê-las, considerando em específico dois desdobramentos ou duas dimensões do problema – as questões de gênero e as questões de raça. Entretanto, como introdução aos temas, vamos à consideração de algumas formulações sobre a ideia de multiculturalismo: Representante dos estudos culturais, Stuart Hall formula alguns tipos de multiculturalismos presentes na sociedade contemporânea, multiplicando a maneira de abordar o tema os mesmo tempo que desmistifica o multiculturalismo como algo positivo e tolerante de saída, oferecendo-nos a possibilidade de seguir pensando criticamente. Para o autor, portanto, é possível identificar multiculturalismos: • conservador: os dominantes tentam assimilar as minorias diferentes às tradições e aos costumes da maioria; • liberal: os diferentes devem ser integrados como iguais na sociedade dominante. A cidadania deve ser universal e igualitária, mas no domínio privado os diferentes podem adotar práticas culturais específicas; • pluralista: os diferentes grupos devem viver separadamente, dentro de uma ordem política federativa; • comercial: a diferença entre os indivíduos e grupos deve ser resolvida nas relações de mercado e no consumo privado, sem que sejam questionadas as desigualdades de poder e riqueza; • corporativo (público ou privado): a diferença deve ser administrada, de modo que os interesses culturais e econômicos das minorias subalternas não incomodem os interesses dos dominantes; • crítico: questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política, as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. Apoia movimentos de resistência e de rebelião dos dominados (HALL, 2003 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 121-122). Dentre tantas possibilidades, devemos lembrar que, para se aproximar de uma realidade escolar democrática ou que, pelo menos, tem esse valor como objetivo último, deve-se reunir as diferenças 138 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV sem hierarquizá-las e sem reforçar as estruturas de poder. Apesar de sabermos que tais tipos se cruzam na sociedade, inclusive na escola, devemos orientar as práticas educacionais para longe da exclusão, respeitando a diversidade e as diferenças, resolvendo os conflitos sem violência nem mesmo simbólica. Na condição de analistas da educação, a consideração de todas essas formas de multiculturalismo nos distancia da ingenuidade e preparam o terreno para crítica social educacional e ainda para superação das relações de poder, apontando para um ambiente igualitário. Podemos agora avançar para as especificidades de dois temas centrais da relação multicultural nos ambientes culturais e observar como são estabelecidas as bases para um pensamento crítico quando tratamos de diferenças de gênero e de raça. 8.1 A questão de gênero e a educação As visões críticas sobre a educação concentraram-seinicialmente, como vimos nas unidades anteriores, na análise da dinâmica de classe tanto no processo de reprodução das desigualdades sociais como para sua potencial transformação. Entretanto, “a crescente visibilidade do movimento feminista forçou as perspectivas críticas em educação a concederem importância crescente ao papel do gênero na produção da desigualdade” (SILVA, 1999, p. 91). observação A palavra “gênero”, como conceito, tem uma história recente, foi utilizada pela primeira vez num sentido próximo do atual pelo biólogo John Money em 1955, precisamente para dar conta dos aspectos sociais dos sexos. Antes disso, a palavra “gênero” estava restrita à gramática, para designar a qualidade dos substantivos. “Gênero” opõe-se, pois, a “sexo”, enquanto este último termo fica reservado aos aspectos biológicos da identidade sexual, o termo “gênero” refere-se aos aspectos socialmente construídos do processo de identificação social (SILVA, 1999). A questão de gênero não era considerada um tema importante na área educacional até meados dos anos de 1970. Até então os estudiosos da área identificavam que as formas de socialização das mulheres no ambiente escolar as colocavam sistematicamente em posição de desvantagem sobre os homens. Entretanto, o feminismo vinha mostrando que as linhas do poder da sociedade estão estruturadas não apenas pelo capitalismo, mas também pelo patriarcado. E de acordo com a perspectiva feminista, “há uma profunda desigualdade dividindo homens e mulheres, com os primeiros apropriando-se de uma parte gritadamente desproporcional dos recursos materiais e simbólicos da sociedade. Essa repartição desigual estende-se, obviamente, à educação e ao currículo” (SILVA, 1999, p. 91-92). É justamente essa relação, da desigualdade social entre mulheres e homens – de gênero e a educação que vamos ressaltar nesta seção. De maneira geral, seguindo a análise sociológica educacional centrada na classe – a análise de gênero concentrou-se inicialmente na questão de acesso. E logo ficou evidente que o nível de educação das mulheres, em muitos países, sobretudo naqueles como o Brasil situados na periferia do capitalismo, era mais baixo quando comparado aos homens (SILVA, 1999). A análise 139 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação estendeu o diagnóstico encontrando currículos desiguais: disciplinas voltadas exclusivamente aos homens e outras às mulheres; carreiras e profissões igualmente divididas. Os estereótipos sobre os papéis de homens e mulheres, por exemplo, as mulheres ocupando cadeiras de estudos para enfermagem enquanto os homens para medicina – manifestadamente tipos “inferiores” de carreiras tidas como femininas – na sociedade se manifestavam no sistema escolar com um sistema de educação diferenciada. Como afirma Giddens “as escolas consideravam tarefa sua preparar as meninas para a vida de responsabilidades familiares e os meninos para o emprego e para o futuro” (GIDDENS, 2012, p. 187) O modelo tradicional de educação diferenciada entre homens e mulheres (neste caso meninos e meninas) foi identificado por alguns pesquisadores como responsável pelo baixo desempenho das meninas, já que os estereótipos já haviam sido internalizados pelos próprios professores e professoras que de maneira inconsciente nutriam expectativas distintas de meninos e meninas. Como nos indica Silva (1999), a análise dos estereótipos de gênero já prenunciava aquilo que se poderia chamar de segunda fase da análise sociológica educacional apoiada no gênero. A ênfase desloca- se do acesso para o “o quê” do acesso, ou seja, o motivo, a experiência e o interesse das mulheres ao entrarem nas instituições ainda marcadas pelo monopólio masculino, precisavam de uma análise crítica. No limite o mundo social estruturado para privilégio masculino, com forte expressão nas instituições responsáveis pela formação e produção de conhecimento, precisava ser revisto. Figura 39 – Rio de Janeiro – Mulheres fazem ato na Praia de Copacabana contra violência e a favor da igualdade de gênero Exemplo de aplicação A violência contra mulher é uma constante nos debates feministas e entre aqueles que discutem gênero. Como, seguindo os argumentos aqui apresentados, podemos interpretar tais manifestações? Como refletir criticamente sobre a Lei Maria da Penha em nosso contexto nacional? Sua existência é um avanço e conquista feminina para denúncia de abusos, mas também o indicador de uma triste realidade, como interpretar essas contradições? 140 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV A perspectiva feminista implica uma verdadeira reviravolta na forma de produção do conhecimento, sendo possível afirmar, nas análises educacionais, uma pedagogia feminista. Segundo Silva (1999) tal perspectiva é uma ampliação da teoria marxista de que a epistemologia, ou a Teoria do Conhecimento, é sempre uma questão de posição – não se trata de acesso, mas de perspectiva: dependendo de onde estou socialmente situado conheço certas coisas e não outras. E, “na medida em que reflete a epistemologia dominante, o currículo existente é claramente masculino” (SILVA, 1999, p. 94). A solução não seria incorporar, numa tentativa precária de equilibrar ou inverter, a experiência feminina aos temas escolares e universitários, mas seria desejável que todas as pessoas cultivassem características que normalmente são consideradas como pertencendo a apensa um dos gêneros“ (SILVA, 1999, p. 95). As intervenções políticas feministas, inclusive na educação, são distintas das raciais; como propostas pelo movimento negro, estas são afirmativas, propõem ação de “incorporação privilegiada”, dado o quadro histórico de extremo preconceito, aos negros. O movimento feminista, no geral, entende que não deveria haver diferenças entre gêneros, assim os currículos não deveriam privilegiar experiências masculinas ou femininas, mas experiências variadas. É claro que os posicionamentos feministas não são homogêneos, assim como os movimentos ligados as questões raciais, ainda assim é possível refletir sobre essa diferença de forma geral. saiba mais Para as diferentes vertentes do feminismo, seja como movimento político ampliado, seja ligado à educação, passando até por questões contemporâneas como o “vagão exclusivo para mulheres no metrô de São Paulo”, sempre a partir da perspectiva feminista, veja: DOSSIÊ: feminismo. 2014. Disponível em: <http://passapalavra. info/2014/07/97829>. Acesso em: 17 nov. 2014. A questão de gênero, apesar de estar intimamente ligada às discussões feministas e ao estudo das mulheres, deve ter como principal questão orientadora: como a formação da masculinidade está ligada à posição privilegiada de poder que os homens detêm na sociedade? Ou ainda: como certas características sociais indesejáveis, do ponto de vista de uma sociedade justa e igualitária, como a violência, a dominação e o controle estão ligadas à formação da masculinidade? Em termos educacionais poderíamos formular: como o currículo educacional está ligado à formação desta masculinidade? Que conexões existem entre as formas como o currículo produz e reproduz essa masculinidade e as formas de violência, controle e dominação que caracterizam o mundo? 141 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Figura 40 – São Paulo – membros do movimento feminista criticam proposta de vagão de metrô exclusivo para mulheres Exemplo de aplicação Os argumentos aqui apresentados apontam para um desequilíbrio de forças sociais entreos gêneros, em que o homem acaba abusando de certas posições sociais. Esta realidade é sentida no cotidiano pelas mulheres, e no caso do uso do transporte público isto fica mais uma vez evidente. Vários são os casos de abusos sexuais e assédios registrados diariamente numa cidade como São Paulo. Então, como analisar criticamente esta proposta do governo? Separar homens e mulheres parece resolver de imediato o problema do abuso? Ou postergar uma questão mais profunda de desigualdade? Os Estudos da Mulher (Women’s Studies) é uma conhecida área de estudos desenvolvida, sobretudo nos Estados Unidos, preocupada com uma “pedagogia feminista”. Independente do desenvolvimento das questões de gênero que retomamos neste item, esta área de estudos, localizada exclusivamente no Ensino Superior e orientada para prática pedagógica universitária, procurou desenvolver formas de ensino que refletissem os valores feministas, oferecendo um contraponto às práticas pedagógicas tradicionais, identificadas como masculinas e patriarcais. Priorizando a construção de ambientes de aprendizagem coletivos, comunitários e cooperativos. saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre o assunto, leia: GORE, J. M. Controversias entre las pedagogias: discursos críticos y feministas como regímenes de verdad. Madri: Morata, 1996. SILVA, T. T. Documentos e identidades: uma introdução às teorias do currículo. São Paulo: Autêntica, 1999. 142 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Figura 41 Outra questão constante no debate feminista e de gênero é a não criminalização do aborto, como uma maneira de garantir certos direitos da mulher sobre seu corpo e independência sobre sua vida. Um debate complicado e polêmico, pois envolve o embate com os valores cristãos e por isso dificilmente realizado de maneira crítica pelos governantes que sentem medo de perder o voto da maioria cristã ao incentivar o debate. Temos, por isso, um importante tema a ser desenvolvido nas escolas. Como pensar a questão do aborto em relação aos argumentos aqui apresentados sobre o debate de gênero? Como se evidencia a dominação masculina nesse caso? Como se posicionam as feministas? saiba mais Sobre a questão do aborto, em específico sobre a legislação acerca do aborto de anencéfalos, assista a: UMA HISTÓRIA Severina. Dir. Eliane Brum e Débora Diniz. Brasil: Imagenslivres, 2005. 23 minutos. 8.2 A questão racial e a educação escolar brasileira Dado o multiculturalismo de nossa sociedade contemporânea, em específico nosso contexto nacional, torna-se imperativo darmos atenção aos problemas provocados pelas relações interétnicas e raciais na educação escolar brasileira. Devemos, para tanto, seguir dois grupos de questionamentos distintos buscando um diálogo entre a teoria e a prática nesses temas: primeiro, quais possibilidades teóricas para o tratamento das questões raciais temos em nosso repertório de Sociologia da Educação? E segundo, o que deve ou não orientar as atividades educacionais desde o Ensino Infantil ao Médio, considerando a escola como um espaço público, baseando-nos numa perspectiva crítica e igualitária sobre as questões raciais? 143 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Sabemos que historicamente os privilégios e as estruturas de poder pendem para uma minoria branca e masculina; e no contexto brasileiro não é diferente, nosso passado escravista ainda ecoa em manifestações de preconceitos e os negros, infelizmente, continuam sofrendo com tal condição. No espaço escolar tais relações não são diferentes, já que “não basta a presença física dos negros na escola para se dizer que são respeitados” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 129). saiba mais Para a multiplicidade cultural como desafio no ensino e aprendizagem, assista ao filme: ENTRE os muros da escola. Dir. Laurent Cantet. França: Haut et Court, 2008. 128 minutos. Para um quadro completo da atuação do movimento negro dentro das escolas brasileiras: DOMINGUES, P. O recinto sagrado: educação e antirracismo no Brasil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 138, set/dez. 2009. Disponível em: <httpwww.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 15742009000300014&lang=p>. Acesso em 17 nov. 2014. Segundo os mesmo educadores: Os negros formam um contingente de aproximadamente 50% da população brasileira que hoje tem acesso à escolarização, mas as suas origens, história, cultura, por ignorância, preconceito ou má-fé, não são tratadas adequadamente nos currículos, nas concepções e práticas dos educadores (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 129). Para começar a buscar teorias que nos ajudem a compreender e enfrentar esse quadro desanimador, é preciso problematizar o conceito de raça. O termo utilizado para classificação dos seres humanos de maneira, no mínimo, problemática já que aponta para hierarquização, adquire outro conjunto de significados nas ciências sociais, distante de uma característica natural, o termo assume o significado de uma “classificação social utilizada para designar indivíduos e grupos sociais com base em algum critério arbitrário escolhido, como a aparência ou a cor da pele, por exemplo” (GUIMARÃES, 1999 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 130). 144 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV observação Não podemos nos esquecer da história, pois no Brasil, desde a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI e dos demais imigrantes europeus nos séculos seguintes, as relações sociais foram fortemente marcadas pelo preconceito e intolerância em relação aos moradores naturais, os índios (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 130). Temos aí marcada em nossa história a gênese da diferenciação racial, que se desdobra e consolida contra os negros e seus descendentes. Como sabemos, a classificação social pela cor da pele reproduzia as relações sociais de preconceito e intolerância com os descendentes diretos e indiretos dos grupos de negros escravos, trazidos de várias regiões da África logo após a colonização. Criada a diferença, agravada pelas ideias etnocêntricas, o racismo contra os negros ainda persiste nas relações sociais brasileiras contemporâneas. O racismo ganha força quando associado a outras diferenciações sociais, não deixando dúvidas de que ainda vivemos em uma sociedade que não aceita brancos e negros de maneira igualitária. [...] podemos considerar os critérios de diferenciação próprios das sociedades modernas, como renda, propriedade, escolarização, prestígio das ocupações, caráter manual ou intelectual do trabalho, forma e valor da remuneração, local de trabalho, posição na divisão social do trabalho, participação nas instâncias estatais de poder e estilo de vida, com maior ou menor acesso aos bens de consumo. Alguém tem dúvida de que, [...], vamos encontrar os indivíduos considerados negros como os mais suscetíveis de se alojarem nas piores posições? (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 131-132). Figura 42 – Débora Marçal, da Cia da Arte Negra de São Paulo participa da palestra Territórios Negros, Fontes de Sabedoria Ancestral no Festival Latinidades 2014 145 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Exemplo de aplicação Considerando os argumentos reunidos nesta seção, como analisar criticamente a presença do movimento negro no Brasil? E as políticas públicas de promoção de eventos com espaços destinados exclusivamente para suas expressões e manifestaçõesculturais? Como contextualizá-los, criticamente, sabendo que no cotidiano ainda são tratados de maneira diferente, que poucos ainda acessam, por exemplo, postos de trabalho no governo? E ainda, como aproximar as discussões de gênero, em especial a condição da mulher no mercado de trabalho e as questões raciais? E também não há dúvidas de que este problema, dito racial, encontra-se dentro das escolas brasileiras. Se por um lado, como afirmamos anteriormente, os negros têm acesso ao ensino público, cerca de 50% da população, estes lideram as lista de repetência, evasão, conflitos e violência na escola. E se partimos da diferenciação racial em si, e não do tratamento diferenciado dado a esses estudantes para analisar esses dados, estaríamos reproduzindo as relações preconceituosas e legitimando um problema histórico-social da sociedade brasileira. lembrete Temos um arcabouço teórico, construído desde as unidades anteriores, para analisar as questões raciais na escola de maneira crítica. Sabemos que a escola muitas vezes reproduz a ideologia dominante e as estruturas de poder – segundo as visões de Althusser e Bourdieu –, que em seus espaços e atividades a violência simbólica é sempre presente, seja na relação entre professor e aluno, seja na relação aluno e aluno – lembremos de Foucault. As questões de gênero e raça não podem deixar de ser tratadas de maneira crítica em análises de Sociologia da Educação. Seguindo a indicação de nossos autores educadores aqui privilegiados para essa revisão temática, Piletti e Praxedes (2010), já é possível reunir uma série de estudos e pesquisas educacionais apontando que o racismo contra alunos considerados negros interfere diretamente no desempenho escolar. Com a consideração breve de alguns aspectos já desenvolvidos nesse sentido, podemos completar as possibilidades teóricas de abordagem sobre o tema. Um desses estudos – realizado por Albernaz, Ferreira e Franco pela Universidade Católica do Rio de Janeiro – ganhou visibilidade ao ser citado no jornal Folha de São Paulo. Pelos dados do próprio Ministério da Educação jovens negros tiveram significativa baixa de desempenho quando comparados a jovens brancos de mesma condição socioeconômica (GÓIS, 2003 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 133). Sugerindo-nos a conclusão imediata de que as condições sócio-econômicas não são os únicos critérios responsáveis pela baixa no desempenho escolar, jogando luz às relações sociais construídas dentro da escola. 146 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV saiba mais GÓIS, A. Preconceito afeta desempenho na escola. Folha de S. Paulo, Cotidiano, São Paulo, p. 5, maio 2003. Disponível em: <http://www1.folha. uol.com.br/fsp/cotidian/ff1805200309.htm>. Acesso em: 24 nov. 2014. Outro indicador de que as relações escolares devem ser analisadas sob o foco do racismo e criticamente interpretadas é a necessidade de cotas raciais para o Ensino Superior. Há um duplo fracasso, na superação das relações de preconceito historicamente presentes na sociedade brasileira e no ambiente escolar, incapaz de garantir igualdade de condições para todos os jovens. Um novo currículo que contemple as diferentes identidades presentes na escola brasileira deve ser oriundo de processos de negociação pública efetivamente traduzidos em política públicas e ações afirmativas (PILETTI; PRAXEDES, 2010). saiba mais Para saber mais sobre a política de cotas e outras medidas públicas de ação afirmativas, leia, em sua versão regulada: PUBLICADO decreto que regulamenta a Lei de Cotas. Portal Brasil, jul. 2014. Disponível em: <www.brasil.gov.br/educacao/2012/10/publicado- decreto-que-regulamenta-a-lei-de-cotas>. Acesso em: 24 nov. 2014. Ou um artigo com uma análise do caso da ação afirmativa de cotas na Universidade Federal da Bahia: QUEIROZ, D. M.; SANTOS, J. T. dos. Sistema de cotas: um debate. Dos dados à manutenção de privilégios e de poder. Educação e Sociedade, Campinas, v. 27, n. 96, out. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/ scielo.php?pid=S0101-73302006000300005&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 nov. 2014. Portanto, a Sociologia da Educação deve ser capaz de oferecer uma fundamentação teórica para analisar e buscar soluções aos problemas empíricos dos processos pedagógicos mencionados. Como ponto de partida é preciso: [...] reconhecer que na escola existem alunos e educadores com origens diversas, do ponto de vista religioso, étnico, de gênero, de orientação sexual e de classe, e que nenhum grupo humano tem o monopólio da beleza, da inteligência, da racionalidade (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 137). 147 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Considerando tais afirmações, os temas escolares tratados pela nossa perspectiva de Sociologia da Educação devem girar em torno da relação da formação dos currículos e dos processos educativos efetivos aplicados no cotidiano; do relacionamento entre agentes dentro da escola, entre alunos entre si, entre alunos e educadores e entre educadores; da representação dos educadores sobre os diferentes alunos; e das representações dos alunos sobre eles mesmos dentro do espaço escolar etc. Temos, portanto, revisadas diversas teorias sobre a escola, identificados alguns problemas específicos ao tema racial e ao contexto nacional e, por fim, uma série de entradas temáticas para sua abordagem a partir da Sociologia da Educação. saiba mais Para uma proposta audiovisual da diferença cultural e racial entre brancos e negros, em específico entre europeus e africanos, assista a: EU, um negro. Dir. Jean Rouch. França: Les Films de la Pléiade,1958. 70min. Por fim, é importante ressaltar que ao longo deste curso buscamos colocar em evidência as principais visões sobre o papel da educação. Foi possível perceber que não existe um enfoque único sobre a questão. A educação é um tema fundamental na Sociologia, pois podemos perceber, ao longo deste curso, que o ato de educar pode ser o caminho para a transformação da sociedade ou a base para a conservação da ordem existente. Lembre-se das questões colocadas na apresentação: educar é conservar? Ou revolucionar? Educar é tirar a venda dos olhos ou impedir que o excesso de luz nos deixe cegos? Educar é preparar para a vida? Para qual vida? Observe que a resposta requer uma visão ampla das engrenagens de funcionamento da sociedade atual, depende do olhar sobre o mundo e dos objetivos que nos levam a agir como educadores. Podemos ver que a educação é uma questão política, econômica, social e cultural complexa. Logo, o debate educacional é o debate sobre os próprios rumos da sociedade. saiba mais Atualmente a internet é um excelente meio de pesquisa sobre Sociologia da Educação, mas cuidado, a internet possui muitos textos sem qualidade, por isto é importante consultar materiais de fontes seguras. Recomendo alguns sites: Ministério da Educação: <http://portal.mec.gov.br>; Ação Educativa: <www.acaoeducativa.org.br>; Observatório da Educação: <www.observatoriodaeducacao.org.br>. 148 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV Exemplo de aplicação Não deixe de ler as principais obras dos sociólogos ao longo do texto, pois a leitura de um comentador não substitui a leitura direta na fonte. Priorizem a leitura dos livros da bibliografia básica do curso. resumo Nesta unidade avançamos para investigação de algumas análises sociológicas contemporâneas, considerando em específico a influência de dois grandes autores, Michel Foucault e Jürgen Habermas, e de suasperspectivas sociais críticas na construção dessas análises. E apresentamos e problematizamos uma abordagem e área de estudos sociológicos, os estudos culturais, e também os seus possíveis cruzamentos com a educação e análises educacionais em contexto global, estabelecendo alguns pontos de diálogo com questões de gênero e racial. Com a consideração de algumas das mais influentes visões sobre a educação durante a segunda metade do século XX, chegamos à conclusão geral de que a análise sociológica da educação pode ser dividida em dois grandes posicionamentos, a princípio completamente distintos: primeiro aqueles autores e contribuições teóricas que enxergam na educação e na escola a possibilidade de problematização e até correção das distorções e injustiças sociais provenientes do modo de produção e organização social capitalista, de classes; e segundo aqueles que entendem a educação como mais um dispositivo reforçador desta lógica, legitimador e reprodutor da mesmas desigualdades e injustiças sociais, principalmente ideologicamente. Com todos esses esforços teóricos voltados ou pelo menos incorporando o sistema educacional como campo de análise, surge a partir dos anos de 1970 o que passou a ser denominado “nova Sociologia da Educação”. Uma abordagem bastante crítica, inicialmente consolidada na Inglaterra, mas que se estendeu para os Estados Unidos e também para o Brasil. Esta abordagem crítica voltou-se, na discussão sobre educação, principalmente para as concepções de currículo e práticas pedagógicas, elas mesmas como processos sociais. Essa perspectiva garantiu, de início, a possibilidade de incorporação dos autores e teorias aqui revisadas sem tomar partido em suas posições no debate reprodução versus transformação. Uma perspectiva distinta já que aberta à reflexão crítica sobre si mesma – uma reflexão ao mesmo tempo sobre o objeto, as escolas e os sistemas educacionais e sobre o método e fundamentação teórica estavam sendo analisados de maneira crítica, pelo menos esses dois aspectos. 149 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Considerando especificamente os autores revisados: Michel Foucault (1926-1984), filósofo francês que se destaca pelas análises em psiquiatria, como em História da Loucura (1961) e A História da Sexualidade (1976), e também pelas contribuições que cruzam as áreas de direito e sociologia, como o conhecido Vigiar e Punir (1975), que propõe uma nova perspectiva e interpretação da ordem social moderna, tece análises sociológicas sobre sua organização, e de maneira complementar aborda os temas da educação e escola. Sua perspectiva é baseada na relação entre a expansão do poder, da dominação dos indivíduos e da disciplina. Sabemos que sua concepção de poder não é nem apoiada nos filósofos do século XVIII – estritamente política, concreta e contratual; nem marxista – subordinada às condições materiais de produção e nem monopólio de uma classe. Poder como algo não homogêneo, fluido, estabelecido em redes, do micro ao macro, passando pelos indivíduos que ora se posicionam com poder ora são dominado por ele. Observamos na sociedade moderna, a partir da perspectiva de Foucault, o completo cerceamento da coletividade, em que a disciplina se torna um imperativo necessário para evitar que os indivíduos se associem e se solidarizem. “O controle da atividade também se torna ostensivo por meio da determinação de tarefas específicas a serem repetidas rotineiramente em determinado horário” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 91). É com a assustadora semelhança e comparação entre escola e presídio, desenvolvida em Vigiar e Punir, que Foucault nos deixa claro o funcionamento dessas disciplinas no ambiente escolar. Educação e a escola tornam-se aparelhos de adestramento e vigilância. Esta é a extensão e drasticidade de sua análise sociológica da educação. O filósofo alemão Jürgen Habermas, nascido em 1929, visto como herdeiro da tradição sociológica desenvolvida por seus pesquisadores fundadores Horkheimer e Adorno, focaliza inicialmente a formação das identidades nos indivíduos e considera que este é um processo não exclusivo do domínio pessoal, mas um processo social, “as identidades se formam nas relações sociais e dependem tanto da competência interativa do sujeito [...] como de sua capacidade reflexiva para decodificar como os atributos da própria identidade se relacionam com as identidades coletivas” (HABERMAS, 1983 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 102). E este processo de desenvolvimento da identidade pode ser pensado como um processo de aprendizagem e talvez uma saída não reprodutora da individualidade, para o não condicionamento social do mundo administrado e da razão instrumental. 150 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV O detalhamento desse desenvolvimento da identidade como aprendizagem começa a nos dar elementos para preencher o significado de ação comunicativa. Tal aprendizagem passa, necessariamente, segundo Habermas, por um conjunto de três competências: 1) linguística necessária para os processos de comunicação; 2) cognitiva que nos propicia a busca dos conhecimentos necessários para a vida em sociedade; e 3) competência para a interação que possibilita a ação, a convivência com o outro e, enfim, a participação na vida social (HABERMAS, 1983 apud PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 102). Ao avançarmos para os estudos culturais – sabemos que formam uma área interdisciplinar de pesquisa e também de intervenção política, surgida na Inglaterra nos anos 1960 a partir da criação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos na Universidade de Birmingham, formado inicialmente por pesquisadores como Raymond William, Richard Hoggart, Stuart Hall e Edward Thompson. Esse programa de pesquisa e orientação política desdobrou-se nos Estados Unidos junto à vertente de pensamento pós-colonial, principalmente influenciado pelo trabalho de Edward Said, em específico a partir da publicação do livro Orientalismo: o Oriente como Invenção do Ocidente em 1978, desenvolvendo uma perspectiva social ampla a partir da hipótese de que as diferentes culturas relacionam-se pelo poder e dominação, que deveriam, como ponto de partida, ter essa relação completamente questionada e desconstruída. Assim toda a ideia de oriente e cultura africana, por exemplo, ganham novo fôlego enquanto expressão legítima, abandonada a abordagem que as considera inferior quando comparada à cultura europeia. Desta maneira, ao questionarem a relação de poder e dominação, do ponto de vista cultural, abrem-se novos caminhos de estudos e também de intervenção política sobre a relação de dominação e exploração das camadas sociais, atravessando as organizações nacionais, já que, abandonando a posição de colonizador, as relações sociais entre os povos e imigrantes, por exemplo, não passam imediatamente a serem orientadas pela igualdade, pelo contrário, mesmo sem a relação formal de colonização a sociabilidade, ainda carrega seu peso e os temas nesse terreno multiplicam-se. E é justamente com a intenção de questionar e superar o “olhar colonizador” nas relações sociais que os estudos culturais e o pensamento pós-colonial desenvolvem suas ideias. Com a consideração dos estudos culturais e o pensamento pós-colonial, já apontávamos para uma mudança de diagnóstico na realidade educacional, já que inserida em uma organização mundial que sofre profundas 151 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação transformações na segundametade do século XX. Com a ordem capitalista atingindo escala mundial, o fim do período colonial, a forma mercadoria se generalizando, ou seja, todos os trabalhadores se reproduzem pela sua produção e venda, todos entendem e reproduzem a sociabilidade pelo consumo, a exploração do trabalho e as diferenças de classes atravessam as fronteiras nacionais etc. Por um lado temos a homogeneização da maneira como vivemos, das regras máximas sociais, nem mesmo Cuba nos oferece um contraponto neste início de século XXI; por outro lado nossa sociedade contemporânea é heterogênea culturalmente, diferentes grupos humanos se encontram, convivem e se chocam. Dentre tantas possibilidades, temos que lembrar que aquela que se aproxima da uma realidade escolar democrática ou que pelo menos tem esse valor como objetivo último tem que reunir as diferenças sem hierarquizá-las e sem reforçar as estruturas de poder. Apesar de sabermos que tais tipos se cruzam na sociedade, inclusive na escola devemos orientar as práticas educacionais para longe da exclusão, respeitando a diversidade e as diferenças, resolvendo os conflitos sem violência, nem mesmo simbólica. E na condição de analistas da educação, a consideração de todas essas formas de multiculturalismo nos distancia da ingenuidade e preparam o terreno para crítica social educacional e ainda para superação das relações de poder, apontando para um ambiente igualitário. Também avançamos para as especificidades de dois temas centrais da relação multicultural nos ambientes culturais e observamos como são estabelecidas as bases para um pensamento crítico e legitimamente democrático quando tratamos de diferenças de gênero e de raça. A questão de gênero não era considerada um tema importante na área educacional até meados dos anos de 1970. Até então, os estudiosos da área identificavam que as formas de socialização das mulheres no ambiente escolar às colocavam sistematicamente em posição de desvantagem sobre os homens. Entretanto, o feminismo vinha mostrando que as linhas do poder da sociedade estão estruturadas não apenas pelo capitalismo, mas também pelo patriarcado. E, de acordo com a perspectiva feminista, “há uma profunda desigualdade dividindo homens e mulheres, com os primeiros apropriando-se de uma parte gritadamente desproporcional dos recursos materiais e simbólicos da sociedade. Essa repartição desigual estende-se, obviamente, à educação e ao currículo” (SILVA, 1999, p. 91-92). E é justamente essa relação, da desigualdade social entre mulheres e homens – de gênero, e a educação que ressaltamos nesta seção. De uma maneira geral, seguindo a análise sociológica educacional centrada na classe – a análise de gênero concentrou-se inicialmente na questão de 152 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV acesso. E logo ficou evidente que o nível de educação das mulheres, em muitos países, sobretudo naqueles como o Brasil situados na periferia do capitalismo, era mais baixo quando comparado aos homens (SILVA, 1999). Dado o multiculturalismo de nossa sociedade contemporânea, em específico nosso contexto nacional, tornou-se imperativo darmos atenção aos problemas provocados pelas relações interétnicas e raciais na educação escolar brasileira. Sabemos que historicamente os privilégios e as estruturas de poder pendem para uma minoria branca e masculina; e no contexto brasileiro não é diferente, nosso passado escravista ainda ecoa em manifestações de preconceitos e os negros, infelizmente, continuam sofrendo com tal condição. No espaço escolar tais relações não são diferentes, já que “não basta a presença física dos negros na escola para se dizer que são respeitados” (PILETTI; PRAXEDES, 2010, p. 129). As questões de gênero e raça não podem deixar de serem tratadas de maneira crítica em análises de Sociologia da Educação. Seguindo a indicação de nossos autores educadores aqui privilegiados para essa revisão temática, Piletti e Praxedes (2010), já é possível reunir uma série de estudos e pesquisas educacionais apontando que o racismo contra alunos considerados negros interfere diretamente no desempenho escolar. exercícios Questão 1. Veja a charge a seguir e analise o texto. Figura 43 153 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Texto [Foucault] dizia que suas pesquisas nasciam de problemas que o inquietavam na atualidade: evidências que poderiam ser destruídas se soubéssemos como foram produzidas historicamente. Por isso, fez da ontologia (o estudo do ser) uma reflexão em cujo cerne está o presente e, portanto, a investigação histórica. Através de estudos transdisciplinares (e não entre disciplinas), Foucault deu forma a uma crítica filosófica que recorreu sobretudo à pesquisa histórica para questionar as maneiras pelas quais certas verdades e seus efeitos práticos vieram a se formar e se estabelecer no presente. Foucault questionava assim os sistemas de exclusão criados pelo Ocidente quando do início da época moderna (na sua cronologia, desde fins do século XVIII): • o saber médico e psiquiátrico – a patologização e a medicalização como formas modernas de dominação sobre seres econômica e socialmente inconvenientes, os loucos; • o nascimento das ciências humanas e da filosofia moderna como saberes que atestam a invenção do conceito de homem, transformando o ser humano, ao mesmo tempo, em sujeito do conhecimento e objeto de saber: o grande dogma da modernidade filosófica; • a prisão e outras instituições de confinamento (tais como a escola, a fábrica, o quartel) não como um avanço nos sentimentos morais e humanitários, mas como mudança de estratégia do poder, que visa o disciplinamento e a docilização dos corpos; • a sexualidade como dispositivo histórico de objetivação (o indivíduo como objeto de saber e ponto de aplicação de disciplinas) e subjetivação (o modo segundo o qual o sujeito se reconhece enquanto tal) do corpo, através dos quais se implica uma verdade essencial do homem. Adaptado de: Lorenzatto (2014). Com base na charge, no texto e nos seus conhecimentos, assinale a alternativa correta em relação ao pensamento de Foucault: A) Toda forma de organização social nega aos indivíduos a felicidade e a concretização de suas metas pessoais. B) A vida em sociedade é necessária para que os indivíduos aprendam o que é certo e o que é errado. 154 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Unidade IV C) A religião e o governo são as formas mais eficazes do controle da violência humana. D) A sociedade constrói mecanismos de poder por meio dos quais é possível obter a disciplina e a conformidade dos corpos às regras estabelecidas. E) A prisão e a punição não devem ser aplicadas para aqueles que se desviam dos valores morais aceitos e compartilhados pela sociedade; a única solução para a correção de desvios é a exclusão dos elementos desviantes do grupo social. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: segundo Foucault, a organização social encarrega-se de criar interditos e esquemas de poder para conformar os indivíduos às regras estabelecidas pelo grupo social. No entanto, isso não significa dizer que a organização social tem como objetivo negar aos indivíduos a felicidade e a concretização de suas metas pessoais. B) Alternativa incorreta. Justificativa: segundo Foucault, a adoção de padrões de comportamentos é uma consequência da vida em sociedade, e não uma necessidade. C) Alternativa incorreta.Justificativa: a religião e o governo, entre outras formas de organização social, são responsáveis pela disseminação de interditos, não sendo, porém, mais ou menos eficazes do que outras. D) Alternativa correta. Justificativa: segundo Foucault, a organização social encarrega-se de criar interditos e esquemas de poder para conformar os indivíduos às regras estabelecidas pelo grupo social. E) Alternativa incorreta. Justificativa: Segundo Foucault, a organização social cria os conceitos de anormalidade e desvio com o objetivo de sujeitar os membros de um grupo às regras adotadas por esse grupo. A prisão e a punição são, portanto, estratégias utilizadas para forçar os membros do grupo a essas regras, funcionando como práticas que forçam a exclusão dos elementos desviantes. 155 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Fundamentos da sociologia da educação Questão 2. Analise as proposições a seguir e a relação sugerida entre elas. Proposição I – Segundo Foucault, uma das consequências da modernidade foi o aperfeiçoamento de mecanismos de controle e punição dos indivíduos. Porque Proposição II – Segundo Foucault, a sociedade foi ficando cada vez mais violenta desde o surgimento e a disseminação do capitalismo. Considerando as proposições anteriores: A) I é uma proposição verdadeira e II é uma proposição falsa. B) As duas proposições são verdadeiras, mas a II não justifica a I. C) As duas proposições são verdadeiras, e a II justifica a I. D) As duas proposições são falsas. E) A I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. Resolução desta questão na plataforma. 156 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 FiguRAs e ilusTRAções Figura 1 LIBRAS_120927_CURSODELIBRAS.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/ styles/medium/public/libras_120927_cursodelibras.jpg>. Acesso em: 1º ago. 2014. Figura 2 TECNOLOGIA-ALUNOS0058.JPG. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_ agenciabrasil/files/gallery_assist/24/gallery_assist736040/tecnologia-alunos0058.jpg>. Acesso em: 1º ago. 2014. Figura 3 PAULOFREIRE_CREATIVECOMMONS.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/ styles/medium/public/paulofreire_creativecommons.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2014. Figura 4 903714-SEM20TERRA_EDUCACAO_PAIM_MINISTERIO-1-8.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com. br/sites/default/files/903714-sem20terra_educacao_paim_ministerio-1-8.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2014. Figura 5 ESTUDANTES_-_MARCELLO_CASAL_JR_-_AGENCIA_BRASIL.JPG. Disponível em: <http://radios.ebc. com.br/sites/_radios/files/estudantes_-_marcello_casal_jr_-_agencia_brasil.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2014. Figura 6 EVASAOESCOLAR_090706_MARCELLOCASALJR.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/ default/files/styles/large/public/evasaoescolar_090706_marcellocasaljr.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2014. Figura 7 POBREZA_RUBENOSCAR_CC.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/ conteudo_ckeditor/public/pobreza_rubenoscar_cc.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2014. Figura 8 RANKINGIDHMGERAL_DC_0.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/ rankingidhmgeral_dc_0.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2014. 157 SO CI - R ev isã o: M ar cí lia - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 3/ 12 /1 4 Figura 9 HOLANDA, M. C.; GOSSON, A. M. P. M.; NOGUEIRA, C. A. G. Nota técnica nº 14: o índice de Gini como medida de concentração de renda. Fortaleza: Ipece, 2006. Disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br/ publicacoes/notas_tecnicas/NT_14.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2014. p. 3. Figura 11 NEGROS.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/negros.jpg>. Acesso em: 15 jul. 2014. Figura 12 IPEA. Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça. 4 ed. Brasília: Ipea, 2011. Disponível em: <http:// www.ipea.gov.br/retrato/pdf/revista.pdf>. Acesso em: 15 set. 2014. p. 34. Figura 13 ANALF1.JPG. Disponível em: <http://www.ufjf.br/ladem/files/2012/02/Analf1.jpg>. Acesso em: 28 nov. 2014. Figura 14 BOLDA_FAMILIA_EDUCACAO.JPG. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/sites/default/files/styles/ large/public/bolda_familia_educacao.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2014. Figura 15 ISAACNEWTON.JPG. 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Unidade II – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2005: Ciências Sociais. Questão 20. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2005/provas/CIENCIAS_ SOCIAIS.pdf>. Acesso em: 1º dez. 2014. Unidade II – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2005: Ciências Sociais. Questão 17. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2005/provas/CIENCIAS_ SOCIAIS.pdf>. Acesso em: 1º dez. 2014. Unidade III – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) 2011: Ciências Sociais. Questão 17. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2005/provas/CIENCIAS_ SOCIAIS.pdf>. 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