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GRAYCE GUGLIELMI BALOD O SIGNIFICADO DO CURSO PRÉ-VESTIBULAR PARA O ALUNO INDECISO QUANTO A PROFISSÃO. Criciúma, 2004. GRAYCE GUGLIELMI BALOD O SIGNIFICADO DO CURSO PRÉ-VESTIBULAR PARA O ALUNO INDECISO QUANTO A PROFISSÃO. Monografia apresentada à Diretoria de Pós – Graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, para obtenção do título de especialista em Orientação Profissional, sob orientação da professora Regina de Fátima Teixeira. Criciúma, 2004. RESUMO Entrevistou-se seis jovens, com idades entre 17 e 25 anos, clientes do serviço de Orientação Profissional do Curso e Colégio Energia, sobre a experiência de estar cursando o pré-vestibular semi-intensivo, sem ter feito a escolha por uma profissão. Procurou-se conhecer os fatores explícitos e implícitos que interferem na opção pelo curso pré-vestibular semi-intensivo e os mecanismos e personagens que intervêm no processo de decisão por um curso pré-vestibular de curta duração, realizado nos meses que antecedem o vestibular, quando o aluno não escolheu sua profissão. A proposta metodológica da pesquisa é qualitativa, com entrevista individual e análise de conteúdo. Para conhecer a percepção da experiência da indecisão vocacional no período do cursinho pré-vestibular, a investigação partiu da experiência vivida pelos sujeitos, tomada como uma experiência pré-científica do mundo. Os resultados revelaram que os alunos matriculam-se no pré-vestibular semi-intensivo sem ter escolhido sua profissão, objetivando adquirir mais conhecimentos e aumentar suas chances de ingresso na universidade. São alunos advindos de escolas públicas que buscam ascensão social, realização pessoal e profissional e independência financeira através da obtenção do diploma universitário. Para estes alunos a decisão de cursar o ensino superior é definitiva e prioritária e antecede a escolha da profissão. O pré-vestibular semi-intensivo é considerado de fundamental importância no projeto de vida destes alunos porque os nivela em termos de acesso ao conhecimento exigido pelo vestibular com outros alunos, possíveis concorrentes, oriundos de escolas particulares. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................4 1.1 Tema.............................................................................................................5 1.2 Problema.......................................................................................................5 1.3 Problematização ...........................................................................................5 1.4 Objetivos .......................................................................................................5 1.4.1 Objetivo Geral ........................................................................................5 1.4.2 Objetivos Específicos.............................................................................6 1.5 Justificativa ...................................................................................................6 1.6 Hipóteses ......................................................................................................8 2. DESENVOLVIMENTO...........................................................................................10 2.1 Revisão de literatura ...................................................................................10 2.1.1 O Curso pré-vestibular.........................................................................10 2.1.2 Escolha Profissional e o Trabalho........................................................14 2.1.3 A Escolha Profissional e o Projeto de Vida do Aluno...........................19 2.2 Metodologia ................................................................................................26 2.3 Apresentação, análise e discussão dos resultados ....................................31 2.3.1 Perfil do Jovem ....................................................................................32 2.3.2 Auto – Conceito ...................................................................................33 2.3.3 Estilo de Tomada de Decisão ..............................................................36 2.3.4 Projeto de Vida ....................................................................................39 2.3.5 Exploração de Alternativas ..................................................................41 3. CONCLUSÕES .....................................................................................................47 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................49 5. BIBLIOGRAFIA DE APOIO ...................................................................................50 4 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa foi idealizada em um momento bastante especifico de minha vida profissional, quando procurava dar um novo significado as atividades que vinha desenvolvendo em sete anos como orientadora profissional. Dos muitos problemas com os quais me deparava diariamente, escolhi o que mais me intrigava para analisar sob outra ótica (do aluno) e contrastar com idéias e pensamentos que formulei ao longo dos anos de exercício profissional. Na resolução do problema específico do aluno que cursa um pré- vestibular semi-intensivo sem saber para qual curso prestará vestibular, eu não sabia como ajudar. Por entender que cursar um pré-vestibular na situação acima descrita era uma ação destituída de sentido, acreditava na importância de formular questões que levassem o aluno a refletir sobre o assunto, para levá-lo a uma nova tomada de decisão; confirmar minhas idéias e pensamentos para que pudesse me posicionar diante dos dirigentes do cursinho e adquirir subsídios para redefinir minhas ações profissionais. Baseada nesses critérios e subsidiada por leituras e conversas informais com alunos em tal situação, formulei as questões que me nortearam no presente trabalho. 5 1.1 Tema Perfil do aluno de curso pré-vestibular semi-intensivo com dúvida quanto à escolha do curso para o qual prestará vestibular. 1.2 Problema Caracterizar o aluno de curso pré-vestibular semi-intensivo com dúvida quanto à escolha do curso para o qual prestará vestibular. 1.3 Problematização Quais são os motivos que levam o aluno a matricular-se no curso pré- vestibular semi-intensivo, quando ele não sabe para qual curso prestará vestibular? 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo Geral Quais são os motivos que levam o aluno a matricular-se no curso pré- vestibular semi-intensivo, quando ele não sabe para qual curso prestará vestibular? 6 1.4.2 Objetivos Específicos Levantar dados sobre experiências em vestibulares anteriormente realizados. Descrever as características psicológicas dos alunos reprovados em vestibulares anteriormente realizados. Verificar a importância do curso universitário para a concretização do projeto de vida do aluno. 1.5 Justificativa No exercício da função de Orientadora Profissional do Curso e Colégio Energia, da cidade de Criciúma (SC), percebo que estar matriculado num curso pré- vestibular semi-intensivo, não significa necessariamente que o aluno já sabeo que vai fazer no vestibular. O curso pré-vestibular semi-intensivo caracteriza-se por ser de curta duração e oferecer ao aluno, de forma compacta, o conteúdo cobrado nos vestibulares. As aulas do pré-vestibular semi-intensivo vigente iniciaram dia 11 de agosto de 2003 e terminam dia 28 de novembro deste mesmo ano. O período de inscrição para a UFSC, por exemplo, foi de 8 a 29 de agosto. O aluno indeciso quanto ao curso, mas decidido quanto à universidade teve apenas 18 dias para refletir sobre sua escolha.O trabalho de orientação profissional passível de ser realizado, neste caso, é questionável, observando-se o grande número de alunos nestas condições e o curto período de tempo para realização do mesmo. 7 Baseada em observações e estudos de casos ao longo de sete anos trabalhando como orientadora profissional deste pré-vestibular, percebi que muitos alunos modificam a lógica da inscrição num curso pré-vestibular que, em função do curto período de tempo para refletir sobre a escolha profissional, deveria ser a seguinte: escolher seu curso, saber o número de candidatos por vaga e o número de acertos que fizeram o primeiro e o último colocado no vestibular anterior para, só então, traçar um plano de estudo, matricular-se e colocá-lo em prática. Esta lógica é justificada, também, pelo fato de serem cobradas no cursinho mensalidades que se equiparam, em alguns casos, a mensalidade de um curso universitário. No ensino médio deste mesmo colégio, não é muito diferente. Alunos que chegam de outros colégios, na maioria das vezes, não tiveram nenhum tipo de orientação profissional, alguns nem sequer pensaram na questão da escolha profissional. Este fato demonstra que nem todo o aluno que decide estudar num colégio pré-vestibular o faz, porque pretende passar no vestibular. Muitos alunos matriculam-se num colégio pré-vestibular por uma série de razões (insatisfação com o colégio anterior, influência de amigos e colegas, desejo de estudar no colégio dito “legal”) entre as quais, não está aquela considerada pelo colégio como a principal: passar no vestibular. Depoimentos de alunos inscritos no pré-vestibular que não tem sequer uma idéia da faculdade que cursarão, são cada vez mais freqüentes. Parece que o número de alunos nessa situação aumenta de forma proporcional ao trabalho de marketing feito para atrair o público de cursos pré-vestibular. Para alguns jovens que concluem o ensino médio, se não passarem no vestibular, o cursinho parece ser a única saída. Não sendo mais aluno do ensino médio e não sendo ainda aluno universitário, ele entende que para ser alguém 8 deverá ser aluno do cursinho. Ele se percebe e se reconhece como aluno. Esta é sua identidade. Se não estiver estudando, quem ele é? Na prática observou-se um número crescente de alunos que ali estão sem mesmo ter pensado em seus objetivos. Apenas estão. Existem outras alternativas. O cursinho pode ser uma boa opção para o aluno que, embora tenha obtido um bom número de acertos no vestibular, não acertou o necessário para sua aprovação. Depois desta experiência ele volta estuda um pouco mais e, via de regra, ele passa. Muitos alunos, porém, não pretendem voltar a fazer vestibular para o mesmo curso que tentaram e foram reprovados. E eles voltam para o pré-vestibular sem saber ainda o que farão. Eles apenas voltam, como se estivessem voltando aos seus lugares. Este trabalho pretende responder a seguinte questão: Do ponto de vista do aluno, é recomendável fazer o pré-vestibular semi-intensivo, sem ter claro o seu projeto profissional? 1.6 Hipóteses O aluno em dúvida quanto à profissão matricula-se no pré-vestibular semi- intensivo persuadido por amigo (s) com o (s) qual (is) estudou no ensino médio. O aluno é influenciado pela propaganda do pré-vestibular veiculada nos mais diversos meios de comunicação. O aluno é levado ao pré-vestibular por ausência de um outro projeto de vida a curto prazo. O aluno é levado ao pré-vestibular pela falta de preparo e oportunidade para ingressar no mercado de trabalho. 9 O aluno opta pelo pré-vestibular contando com a ajuda do serviço de Orientação Profissional oferecido pelo mesmo, para escolher o curso para o qual prestará vestibular. 10 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 Revisão de literatura 2.1.1 O Curso pré-vestibular O curso pré-vestibular, o qual venho, através desta monografia, analisar criticamente sob a ótica do pré-vestibulando nele matriculado, fundamenta sua existência sobre a existência do atual processo seletivo de ingresso à Universidade: o vestibular. Segundo Bianchetti ( 1996, p. 23 ): “ não é de agora que a questão do vestibular está sob intensa discussão. Inúmeras instituições e órgãos, nesses últimos anos, anunciaram a decisão de modificar o seu processo [...]” A filosofia de um cursinho pré-vestibular é a de que este é um divisor de águas, um ponto de chegada, um definidor na vida do aluno. Sendo assim o cursinho leva o aluno a desejar ardentemente seu ingresso na universidade através de sua aprovação no vestibular. Leva-o também a responsabilizar-se por seu sucesso. Em nome desta responsabilidade, é comum alunos do pré-vestibular ingressarem numa maratona de 8 ou 10 horas diárias de estudo, além das 4 horas passadas em sala de aula no cursinho. Obviamente este esforço tem seu valor para o resultado do processo seletivo pelo qual o aluno passará, mas além da situação individual de cada aluno, é necessário uma observação atenta sobre a situação macro na qual está inserido. De acordo com Soares ( 2002, p.44 ): “ o jovem no momento da decisão de seu futuro, muitas vezes não tem claro como este acontecimento esta inserido 11 dentro de um espaço muito maior, da ideologia subjacente a qualquer sistema social e político existente.” A verdade é que freqüentar um bom curso pré-vestibular e estudar muito não são os únicos fatores que determinam a aprovação no vestibular. Existe uma série de fatores que interferem tanto na escolha da profissão quanto no desempenho do vestibulando. Os fatores sociais, que dizem respeito à divisão da sociedade em classes sociais, à busca da ascensão social por meio do estudo, à influência da sociedade e da família e aos efeitos da globalização na cultura e na família; fatores políticos, que referem-se a política governamental e seu posicionamento perante a educação; fatores econômicos, que referem-se ao mercado de trabalho, à globalização e à informatização das profissões, à falta de oportunidades, ao desemprego, à dificuldade de tornar-se empregável, à falta de planejamento econômico, à queda do poder aquisitivo da classe média e à todas as conseqüências do sistema capitalista neoliberal no qual vivemos; fatores educacionais, que compreendem os sistema de ensino brasileiro, a falta de investimento do poder publico na educação, a necessidade e os prejuízos do vestibular e a questão da universidade publica e privada de uma forma mais geral; fatores familiares que referem-se à busca da realização das expectativas familiares em detrimento dos interesses pessoais o que acaba influenciando na decisão e na fabricação dos diferentes papéis profissionais. Em perspectiva macro, na grande corrida de obstáculos que caracteriza o processo de alcançar uma vaga na universidade, o vestibular é apenas um dos degraus e, contrariando o olhar padrão ou a quase uniformidade de pensamento, não é o mais difícil de superar. A centralização do debate em torno do vestibular indica claramente que as mudanças pretendidas muito pouco serão eficientes no sentido de mexer no núcleo central do grande e, para a maioria, intransponívelgargalo que se interpõe entre os milhares de pretendentes e as diminutas vagas disponíveis na universidade (BIANCHETTI, 1996, p. 24). 12 No vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1996, inscreveram-se 21780 candidatos para 3168 vagas. Em termos de Brasil, os últimos dados de que o MEC dispõe, indicam que, no ano 1994, ofertaram-se 574.135 vagas para as quais se inscreveram 2.237.023 candidatos. (BIANCHETTI 1996, p. 25) Diante desses dados é impossível responsabilizar exclusivamente o aluno por seu fracasso na tentativa de ingressar na universidade, mesmo assim, em função desta idéia, o ensino em alguns graus e setores, como em torno do vestibular, foi transformado num grande e lucrativo negócio. Segundo Bianchetti (1996, p. 26):” [...] o vestibular se tornou uma máquina de fazer dinheiro [...].” Quando o aluno entende que seu ingresso na universidade depende exclusivamente de seu esforço, dedicação e empenho, busca o cursinho como um aliado nessa luta (às vezes, inglória) pela obtenção de uma vaga. Muitos alunos fazem investimentos altíssimos nos cursinhos, considerando-se sua situação financeira, sem sequer questionar seu direito à educação e ao ensino de qualidade público e gratuito. Pagam caro pela chance de ingressar na universidade e, quando não conseguem, assumem a total responsabilidade por seu fracasso. [...] o aluno não percebe que muito antes de ser excluído da universidade já o foi da sociedade. O crescimento vertiginoso do número de vagas nas universidades privadas, principalmente no turno noturno, a transformação das universidades federais em espaço privilegiado de poucos e já socialmente privilegiados, o surgimento e a ampliação, sem precedentes, do número de cursinhos pré-vestibulares (o mal necessário que certamente deverá modificar-se na mesma medida e velocidade em que 1º e 2º graus voltarem ou passarem a cumprir seu papel), o abandono do 2º grau e o regime de miséria a que está submetido o 1º grau, não deixam dúvidas de quanto o Estado Mínimo se transformou no Estado Máximo para os interesses privados (BIANCHETTI 1996, p. 26) A repercussão do vestibular sobre os indivíduos envolvidos neste processo é traumática, pois o mesmo é um instrumento que descarta mais do que seleciona e que, por outro lado, seleciona os já selecionados pela sociedade. Mesmo assim, ainda é a ‘porteira da Universidade’. É sem dúvida uma prática 13 socialmente injusta porque descarta inúmeros pretendentes ao ensino superior, o chamado efeito guilhotina (BIANCHETTI, 1996). O vestibular como filtro de acesso ao ensino superior foi legalmente implantado em 1911. Era uma espécie de exame que visava auferir o grau de conhecimento e maturidade dos candidatos. Desde aquela época até os dias atuais passou por muitas transformações, porém a característica básica dessas mudanças foi a crescente dificuldade de os alunos saírem do vestíbulo ou ultrapassarem o fosso que cerca a universidade. (BIANCHETTI, 1996, p. 36) Os cursinhos oportunamente se instalaram no ‘vácuo’ com o qual os jovens se deparam ao concluir o Ensino Médio, por não estarem habilitados para uma profissão nem para enfrentar o vestibular. Segundo Bianchetti, ( 1996, p. 38 ): “ [...] os analistas educacionais se manifestam da forma mais virulenta possível em relação ao papel dos cursinhos. Pode-se afirmar, no entanto, que os cursinhos são um mal necessário.” Os alunos que recorrem ao cursinho pré-vestibular estão conscientes de suas defasagens em termos de conteúdos exigidos pelo vestibular. A situação destes alunos é lastimável, pois não estão preparados nem para ingressar no mercado de trabalho nem para prestar vestibular. “A escola, para o que ela está preparando? Para o vestibular? Até´poderia ser, se todos tivessem acesso à universidade, se não fossem somente 10% dos candidatos aprovados nas universidades públicas e gratuitas.” (SOARES, 2002, p.21). Observa-se a alienação do jovem e de seus pais por não terem a consciência do verdadeiro problema, que não é deles; é bem maior e mais complexo que as noites em claro estudando, ou a obrigação de enfrentar o melhor cursinho. Trata-se de toda uma estrutura social não organizada para receber os jovens aptos ao ensino superior. Os cursinhos são, na maioria, empresas especialistas na arte de fazer passar, atingindo uma grande população da classe média. Por se tratar de um 14 acontecimento muito significativo na vida dos jovens, na de seus familiares e também para sociedade, as pessoas envolvidas em geral encontram-se suscetíveis a fazer qualquer investimento pelo bem de seu filho. A corrida para o vestibular é, nos dias atuais, uma verdadeira maratona geradora de neurose e conflitos de toda espécie, num espetáculo que toma conta do país. O vestibular é a angústia do estudante e funciona como um centro de forças que ataca em todas as direções. Formou-se para manter o espetáculo do vestibular, uma gigantesca teia de cursinhos que, com interesses puramente comerciais, passaram a ser um agente de desmoralização do próprio ensino secundário (MONTEIRO, 1980: 77-8 apud SOARES, 2002, p. 69). Outro fato interessante é o tipo de campanha publicitária divulgada pelos cursinhos. Estabelece-se uma competição entre os próprios cursinhos, cada um apresentando-se como o melhor, o mais seguro para a aprovação, fato que pode gerar medo e ansiedade em alguns jovens. Nunca é divulgado o percentual de alunos reprovados no vestibular, mascarando a realidade e iludindo os jovens e seus pais. Por outro lado, é questionável o fato de o cursinho apropriar-se da vitória de um aluno no vestibular, como se o mérito fosse do cursinho, quando em situação oposta, quando o aluno fracassa, a responsabilidade é sempre do aluno que não se preparou o suficiente. A real situação é que existe uma diferença muito grande entre a demanda e a oferta de vagas no ensino superior. Constata-se que o número de vagas nas universidades públicas tem se mantido o mesmo há muitos anos, embora a demanda tenha alcançado mais que o dobro. Portanto, a existência dos cursinhos se manterá enquanto houver uma demanda maior que a oferta de vagas. Sempre haverá espaço para a competição que esse fato provoca e que é muito bem aproveitada pelos dirigentes dos cursinhos. ( LUCCHIARI, 1993, p. 137) 2.1.2 Escolha Profissional e o Trabalho A escolha profissional é um processo que inevitavelmente remeterá os jovens à sua inserção em uma realidade multi-profissional e em um mercado de trabalho em constante transformação. Ao procurar atendimento de Orientação 15 Profissional, além da necessidade de auxilio na escolha de um curso, percebe-se a inquietação em definir uma profissão a ser seguida, ou seja, uma ocupação profissional. Na facilitação da escolha, na prática de Orientação Profissional, é fundamental, por um lado propiciar o acesso a informações essenciais a esta escolha, relativas às profissões, cursos, mercado, oportunidades e tendências de trabalho e, por outro, suscitar uma reflexão sobre o significado do trabalho para o sujeito em escolha. Muitos autores, ao conceituar trabalho, enfatizam o fato de que até os animais, a seu modo, o realizam, mas o trabalho animal, como o das formigas ou abelhas, é produto de comportamentos instintivos, enquanto o que caracteriza o trabalho humano é a adaptação a situações imprevistas e a fabricação de instrumentos, bem como o fato de ele ser consciente e proposital, na medida em que o resultado do processo existe previamente na imaginação do trabalhador. Se entendermos o trabalho a partir de um conceito amplo, que o considera como a ocupação com qualquer atividade voltadaa um fim específico, remunerada ou não, vinculada ou não ao mercado de trabalho, além de ser um meio de proporcionar a satisfação das necessidades, o trabalho também permite a busca da auto-realização. As perspectivas para o mundo do trabalho em que vivemos hoje podem ser vistas por dois ângulos. Por um lado, vê-se a possibilidade de uma real diminuição do tempo de trabalho, em função do avanço tecnológico que assumiria grande parte das tarefas operacionais, principalmente, proporcionando mais tempo livre a todos. Por outro lado, vê-se uma profunda modificação na concepção de trabalho que será capaz de gerar mudanças nas suas formas características, nos 16 modos de organização e na finalidade, resgatando o aspecto prazeroso e humano que o trabalho um dia teve, o que levaria a adoção de uma justa convivência do trabalho com as demais atividades que preenchem o tempo humano, buscando uma harmonia entre este e a realização pessoal. Segundo Bianchetti (1996, p. 37) “ [...] assim que o universitário supera angústia própria do vestibular, já passa a conviver com outra prova seletiva: a do mercado de trabalho tal como tem se apresentado.” Com o advento da informática, o mundo entrou num período de mudanças radicais e aceleradas, seja na criação ou na troca da informação e em vários outros aspectos que afetam diretamente toda a humanidade. Essas mudanças levaram a uma retomada de valores essenciais voltados à espiritualidade. A ciência, tecnologia, filosofia e demais ciências sociais e humanas, história, política, economia, neurologia e física buscam explicações para todas essas mudanças. Essas explicações terminam por explicar, também, as mudanças no mundo do trabalho. Passamos a conviver com o desemprego conjuntural e estrutural na economia formal, com o aumento de ofertas de trabalho na economia informal e com novas relações de trabalho (legislação flexível, franquias, terceirização e trabalho temporário). Em conseqüência de tudo isso, convivemos com incertezas, inseguranças, pressão e medo. O mundo de trabalho atual desafia o jovem a conhecer-se, conhecer as profissões, conhecer este mundo tal como ele se apresenta, focar sua escolha e auto-desenvolver-se. O perfil profissional exigido envolve alfabetização científico/tecnológico, que inclui competências, conhecimentos e habilidades e alfabetização comportamental, que inclui competências e atitudes. A qualificação exigida atualmente dos trabalhadores é um mero requisito ideológico utilizado contra os mesmos. 17 Na medida em que há uma vaga e muitos a disputando, aquele que tiver mais qualificação será aproveitado, embora seu nível de conhecimento não seja uma necessidade objetiva à função. E na medida em que a pessoa está concorrendo numa proporção exacerbada de competidores, ela abraça o trabalho sendo duplamente seu refém: primeiro, enquanto a única maneira de sobrevivência e, segundo, aproveitando as chances cada vez mais escassas dentro de uma competição cada vez mais desmedida. Os desempregados, enquanto vítimas de injunções econômicas e sociais, estão sendo tratados, julgados e se auto-julgam pelos critérios próprios do tempo em que os empregos eram abundantes. Assim, são julgados e se auto- julgam pelas ações que caberiam a providências próprias, pessoais, quando a questão não é pessoal, mas conjuntural.(LISBOA, 2002) “Anualmente, um milhão e quinhentos mil jovens potencialmente ingressam no mercado de trabalho. Isso significa que em dez anos, quinze milhões de novos postos de trabalho deveriam estar disponíveis” (MATTOSO APUD LISBOA, 2002). “Em termos mundiais, de 4 bilhões de pessoas economicamente produtivas, temos um contingente de 1,2 bilhões de trabalhadores precarizados ou desempregados. Nossa sociedade desemprega e precariza um terço da força humana” (ANTUNES APUD LISBOA, 2002). No Brasil percebemos que três enganos são utilizados nos discursos conservadores, na tentativa de estimular a passividade das pessoas frente a esta situação: Primeiramente diz-se tratar de um problema internacional, o que é um engano já que no Japão, EUA e Europa observa-se uma grande recuperação econômica nos últimos anos. Depois a responsabilidade é atribuída essencialmente ao mercado de trabalho, isto é, a pessoa é responsável pelo desemprego, ela deve levar o sentimento de culpa e de vergonha de estar fora do mercado formal de trabalho. Na verdade, isto se deve à não priorização de políticas de emprego que nos faz assistir a um “jogo de cadeira”, significando que não tem havido um incremento no nível de educação do trabalhador, mas uma troca dos mais incompetentes educacionalmente pelos mais competentes. Ao contrário do que se prega, a sobre-oferta de trabalhadores está ligada às políticas econômicas adotadas e aos processos reestruturadores da Terceira Revolução Industrial. Finalmente a responsabilidade é atribuída aos avanços tecnológicos, principalmente da automação. Podemos constatar que as inovações tecnológicas vêm de muito tempo e já foi, em muitos momentos da história, mais impactante do que hoje. O arado, por exemplo, provocou na sociedade um impacto muito maior que o computador e a automação faz uma diferença, mas não justifica o desemprego (Mattoso apud Lisboa, 2002). 18 O Orientador Profissional diante da atual realidade do mundo de trabalho precisa questionar juntamente com o indivíduo que escolhe: Quem é esse indivíduo? Pode ele realmente escolher? O que ele escolhe? Segundo Lisboa 2002, o indivíduo que possui acesso a uma possibilidade de escolha é o jovem da região urbana, de classes média e alta, aluno de escola particular, com o objetivo de ingressar no mundo de trabalho de nível superior. Em função disso tudo, seria importante e bem aceita a Orientação Profissional para um curso profissionalizante no final do Ensino Fundamental. Os jovens definiriam se escolhem realizar um curso profissionalizante ou se vão diretamente para uma escola que prepara para o vestibular. Muitos jovens querem ou precisam começar a trabalhar cedo e seu momento de escolha é no final do primeiro ciclo de estudos. De acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases, Lisboa e Soares (2000, p. 26-7): “ é possível cursar o ensino médio propedêutico e fazer, um curso técnico profissionalizante, embora existam muitos que não estão ligados ao ensino médio e oferecem ao jovem uma oportunidade de profissionalização [...].” Para um bom trabalho de Orientação Profissional com esta clientela devem ser priorizados entre outros, os seguintes aspectos: Informação ocupacional/educacional, isto é, informar sobre as diferentes profissões de nível técnico e as diferentes escolas que oferecem a formação necessária; trabalhar a questão da escolha: o que é escolher, se é possível escolher com as numerosas limitações impostas pela sociedade, como construir um projeto de estudos em que seu sonho possa um dia ser realizado; informar sobre as modificações no mundo de trabalho e a valorização das profissões de ensino técnico, sendo essa uma deficiência muito grande no Brasil que, durante muito 19 tempo, não investiu recursos suficientes nessa área; trabalhar a questão do ingresso na faculdade, o que significa, as possibilidades de trabalho oferecidas, as verdades e mentiras sobre as reais possibilidades de emprego dos egressos das universidades. A questão da desorientação em relação à escolha da profissão é apenas aparentemente uma questão individual. Por detrás dessa questão, encontra- se um conjunto muito complexo de relações econômicas, sociais, políticas e culturais. Não é de estranhar, portanto, que, tentando lidar com essa questão de uma perspectiva marcadamente individual e psicológica,tratando-a como um aspecto isolado desse conjunto de relações, sem conhecê-los um pouco melhor, os indivíduos se sintam perdidos, desorientados e sem rumo. Enquanto a Orientação Profissional abordar essa questão de forma fragmentada, poucas contribuições têm a oferecer não só aos indivíduos que se sentem desorientados, mas à compreensão das relações de trabalho, tal como ocorrem na sociedade brasileira. (Ferretti, 1992, p.107). 2.1.3 A Escolha Profissional e o Projeto de Vida do Aluno O aluno do pré-vestibular que ainda não fez sua escolha profissional precisa ser auxiliado na construção de um projeto de vida que inclua a opção por um curso universitário específico, pois até mesmo as horas diárias de estudo serão determinadas pela relação candidato por vaga e pelo desempenho dos candidatos no vestibular almejado. Quando as pessoas se vêem perdidas ou desorientadas frente à escolha da profissão, imediatamente tendem a achar que algo está errado com elas. É como se fossem portadoras, ainda que transitoriamente, de uma deficiência ou disfunção pessoal que as impedisse de realizar suas opções ou que, pelo menos, as dificultasse. A realização das opções se tornaria possível uma vez removida esta disfunção. Usualmente esta disfunção é identificada como desconhecimento de si próprio (no caso, de sua vocação); como desconhecimento das profissões existentes, do que é exigido, do mercado, de oportunidades, etc; com a incapacidade de obter informações ou de utilizar as disponíveis; com a dificuldade para decidir-se entre várias profissões igualmente atraentes; com a dificuldade para identificar profissões percebidas como adequadas a si, às expectativas da família ou outras pessoas e grupos significativos para o individuo; com a dificuldade para compatibilizar diferentes fatores que interferem na opção (por exemplo, as aspirações pessoais a as oportunidades socialmente oferecidas, as oportunidades profissionais e as condições econômicas, etc). (Ferretti, 1992, p.107). 20 O psicólogo é procurado pelos indivíduos desorientados diante da escolha da profissão porque acreditam que precisam descobrir qual a sua vocação. Na maioria das vezes a ajuda que procuram é no sentido de desvendar o mistério: o que eu sei fazer melhor? “ [...] a origem da desorientação não pode ser simplesmente colocada nos indivíduos, é preciso compreender que as pessoas vivem em sociedade e que o trabalho é uma atividade social, ainda que seja realizado por indivíduos.” (FERRETTI, 1992, p. 11) A questão da escolha profissional, assim como as dificuldades encontradas para fazê-la, são situações criadas pela complexidade do processo de produção, pela divisão social e técnica do trabalho e pelo fato da capacidade de trabalho de cada um (sua força de trabalho) assumir características de uma mercadoria como qualquer outra. Não é uma questão, apenas, de descobrir o que cada indivíduo faz melhor ou do que lhe dá mais prazer em realizar. “[...] a desorientação sentida pelas pessoas quando se defrontam com o problema da escolha da profissão, cria dificuldades para o individuo, e produz também outras formas de desorientação pessoal, como insegurança e ansiedade [...]” (FERRETTI, 1992, p. 11-2) Durante a vida o ser humano precisa tomar uma série de decisões que terão um impacto amplo e duradouro em sua trajetória. As decisões que atingem as maiores dimensões na vida do individuo são, por exemplo, casamento, separação, escolha da profissão, mudança de emprego. Geralmente, a escolha da profissão é a primeira importante escolha de nossas vidas. É na adolescência, período de grandes mudanças, questionamentos e consolidação da identidade que esta escolha é cobrada deforma mais acentuada pela sociedade. 21 Segundo CARVALHO ( 1995, p. 47 ) “o adolescente é o cliente por excelência da orientação profissional, uma vez que é nessa fase que as escolhas ocupacionais começam a se definir. “ Adolescência vem da palavra latina adolescere, que significa crescer, desenvolver-se, tornar-se jovem e pode ser definida a partir diferentes critérios: cronológico, desenvolvimento físico, sociológico e psicológico. Unindo estes critérios, a adolescência é o período da vida humana que vai dos 11-12 anos aos 20 -21anos, compreendendo a etapa de vida entre puberdade e a idade viril, cobrindo a fase na qual a sociedade deixa de ver uma criança no jovem e passa a conferir a este um status de adulto e um período de reorganização da personalidade em virtude das mudanças biossociais. ( NETTO apud CARVALHO,1995, p.47) Caracteriza-se, conseqüentemente, esta fase por uma busca de afirmação pessoal, uma busca de identidade. Segundo DREVER apud CARVALHO, 1995, p.50: “ [...] esta fase, no dicionário de psicologia, é a condição de ser ele mesmo, similar em tudo o que lhe diz respeito: é a característica de persistir essencialmente imodificável” . Mas, contraditoriamente, a adolescência é uma fase de mudanças corporais, psicológicas e sociais. A resultante destes opostos é a presença da contradição na identidade do adolescente: é a necessidade de desenvolver um processo de particularização, tendo consciência de sua diferença em relação a outro ser humano, assim como de sua semelhança: é a necessidade de mudar, diferenciando-se de si mesmo, ao mesmo tempo que permanecendo idêntico a si mesmo. A adolescência não é a única época da vida onde são encontrados problemas de identidade, mas é aquela em que estes se fazem sentir mais declarados e mais fortes. Os jovens se perguntam quem são, questionam sua relação com os demais, com a sociedade que os rodeia e buscam o sentido da vida. O mundo adolescente deve ser considerado como uma verdadeira estrutura social cujos integrantes formam uma multidão ansiosa que oscila entre dois pólos: a instabilidade determinada por suas mudanças psicobiológicas e a insegurança que lhe oferece o ambiente social e a busca de um continente estável que confira solidez e garantia à sua cambaleante identidade. Esta 22 instabilidade emocional se encontra agravada pelos momentos de confusão, nos quais ressurgem as incertezas a respeito das diferenciações interno- externo, adulto-infantil, bem-mal e masculino-feminino. (GRINBERG, apud CARVALHO, 1995, p. 51 ) Para Carvalho (1995, p.56 ) “ [...] o adolescente tem que se apossar do acervo cultural para garantia de eficiência adulta. [...] a adolescência renova os usos, os costumes, os interesses, por efeito dos quais a sociedade se transforma. “ A escolha da profissão é uma necessidade e segundo Lucchiari (1993, p.11) “é o momento em que o jovem está buscando conhecer-se melhor [...], mas ele acaba fazendo a escolha possível no momento [...] e sem informações suficientes sobre a profissão que está escolhendo.” A própria definição da identidade está intimamente ligada com a escolha da profissão. Ao escolher uma carreira, o jovem deseja resolver muitas de suas angústias e dúvidas em relação ao seu futuro, não somente no plano profissional. Por isso, a importância de auxiliá-lo na ampliação do conhecimento que tem de si mesmo e do mundo para que possa fazer escolhas mais conscientes, saudáveis, autênticas e bem fundamentadas e desenvolver competências exigidas pelo atual mundo de trabalho. ( TRACTEMBERG, 2003 ) Durante a adolescência, a segurança em relação à carreira reflete um maior engajamento na procura da identidade vocacional e uma consideração mais ativa de valores de trabalho. Um dos primeiros desenvolvimentos na adolescência é a exploração e formação da identidade vocacional. Dificuldades na escolha da carreira podem estar relacionadas com uma baixa clareza dos valores de trabalho e um componente para umaboa escolha de carreira pode ser explorar e escolher uma ocupação que coincida com seu mais importante valor de trabalho. Ou seja, uma boa decisão de carreira depende, em parte, da clareza de um valor de trabalho. Aqueles que expressam alta ou moderada certeza de carreira também expressam grandes preferências para humano-pessoal, poder-controle e dinheiro-segurança como valores de trabalho. A base é o adolescente ter um plano de carreira na mente e uma noção de como proceder este plano. 23 Este plano de carreira não precisa estar formado e escolhido, mas já serve de orientação. (SCHULENBERG et al, p.268-284) Os jovens preocupam-se e desejam realizar-se profissionalmente numa sociedade onde é visível a redução do trabalho e onde a imagem que os pais podem estar passando para seus filhos é de que o trabalho é sinônimo de cansaço e pouco rendimento e não como fonte de prazer e criatividade. Ao escolher o adolescente opta em deixar algumas coisas suas para traz e prioriza outras, mas esta convicção é fortalecida pelo seu auto-conhecimento adquirido principalmente a partir de suas experiências com a família. Uma carreira profissional não pode ser conflitante com características pessoais nem com a vida particular. Orientar para uma carreira profissional é a mesma coisa que orientar um planejamento de vida. Na verdade orienta-se para varias ‘carreiras’, no plural mesmo, porque envolve uma multiplicidade de papéis (de bons pais, bons maridos, bons cidadãos, etc) E que características devemos analisar e orientar e que sirvam de base a todas estas carreiras? Neste mundo em transição, o que predomina é a imprevisibilidade. Temas como tecnologia, produtividade, qualidade, preços, rapidez, inovação, flexibilidade, estão sempre presentes e pressionando a realidade. As características demandadas dos profissionais – para as suas carreiras – vão além de competências técnicas ou acadêmicas, apesar da importância destas. De acordo com os últimos dados do IBGE apenas cerca de 5% dos vestibulandos estão absolutamente certos da carreira escolhida no momento de se inscrever para as provas de vestibular. Dos cerca de 500.000 estudantes que ingressam nas faculdades a cada ano, 48% desistem do curso posteriormente. Chega a 85% o número de estudantes a abandonar o primeiro curso superior que 24 escolheu. Podemos supor que grande parte dessa evasão deve-se ao fato de que as escolhas não foram adequadas e geraram insatisfação. Reconhecidas às condições e o contexto geral no qual o individuo está inserido, podemos supor que o indivíduo saudável é aquele que tem condições de se auto-regular e também influir sobre os demais de forma reguladora, interativa e cooperativa. Uma pessoa em desenvolvimento contínuo será capaz de influenciar o seu próprio desenvolvimento e também do seu meio.O processo de orientação é um considerável fator de ajuda e tem por objetivo catalisar e aprimorar tal desenvolvimento. Os impactos positivos da orientação profissional baseiam-se na empatia do facilitador e na sua habilidade de participar das experiências vitais do orientando, ajudando-o a crer em seu potencial e a buscar a excelência na vida profissional. A Orientação Profissional é um processo de busca de excelência e de humanização e para que ocorra é decisivo que a energia social e o processo dinâmico oferecidos sejam adequados, construtivos e ricos de significado. Um comportamento facilitador por parte do orientador inclui estar atento aos aspectos do processo do individuo; considerar que não há escolhas certas ou erradas, o que existe são escolhas mais ou menos maduras e adequadas. O facilitador deve apresentar-se como um ser humano com atitudes e sentimentos, além de estimular habilidades, de sinalizar, comunicar e induzir abertura para o contato com novas experiências e opiniões. Deve, ainda, estar atento para corrigir percepções, pensamentos e afetos; estar atento aos aspectos construtivos e criativos da personalidade do orientando e ajudá-lo na avaliação de suas alternativas e perspectivas para o futuro. Considerando-se que o objetivo primeiro do trabalho de Orientação Profissional é a excelência e a plenitude de viver de cada um, não se 25 concebe que este não seja um ato de prazer e bem estar para todos os envolvidos. Apesar das características singulares, o indivíduo carrega de forma intensa a influência de seus relacionamentos e de suas circunstâncias, por isso, o orientador deve também proporcionar situações pessoais e grupais construtivas para que o indivíduo possa abrir-se a novas experiências e potencialidades. Não podemos esquecer que os jovens orientandos têm potenciais que extrapolam em muito a nossa capacidade de ajudá-los. Se, como Orientadores Profissionais, somos necessários, é porque durante toda a vida das pessoas estas potencialidades vão sendo inibidas e sutilmente substituídas pela sensação de impotência e fracasso. Nosso trabalho é de resgate do humano, da altivez e da auto- confiança, resgate da capacidade de projetar-se no futuro em busca de uma vida ocupacional mais plena e, finalmente, resgate da capacidade de escolher o que é melhor pra si. Enquanto existirem jovens que chegam ao 3º ano do ensino médio, ou pior, ao cursinho pré-vestibular, desconhecendo aspectos básicos de si mesmos e do mundo profissional, pensando que Engenharia de Alimentos e Nutrição são a mesma atividade, ou ainda, acreditando poder fazer Direito, Farmácia e Administração ao mesmo tempo, não poderemos esperar por decisões motivadoras, responsáveis e ajustadas. O papel do Orientador Profissional tem que ser necessariamente ativo e as propostas de intervenção devem sempre priorizar o conhecimento que a pessoa deve ter de si mesma e a informação profissional deste processo decisório. Quando a disponibilidade pessoal excede uma função de trabalho e abraça uma causa poderemos sempre acreditar que o ser humano pode ser feliz em sua vida ocupacional. 26 2.2 Metodologia Inicialmente realizou-se um levantamento de cadastros existentes, que diziam respeito aos alunos do curso pré-vestibular semi-intensivo, que requisitaram o serviço de Orientação Profissional. Havia três turmas de pré-vestibular semi- intensivo, uma no período vespertino e duas no período noturno, cada uma com 90 alunos. Procuraram o serviço de Orientação Profissional 11 alunos do pré-vestibular vespertino e 16 alunos do pré-vestibular noturno. Dos 27 alunos cadastrados, apenas 10 não sabiam para qual curso prestariam vestibular quando se matricularam no cursinho. Os demais já haviam feito sua escolha, mas procuraram o serviço de Orientação Profissional para “confirmação” da mesma através de teste vocacional. Alguns alunos recorreram à psicóloga por outras razões, que não tinham a ver com indecisão vocacional. Dos 10 alunos cadastrados, 6 concordaram com a entrevista. Num segundo momento, agendou-se horários com os alunos que se disponibilizaram e fez-se uma entrevista dirigida. Optou-se pela pesquisa qualitativa, com entrevista individual, semi- estruturada, para coleta de dados. A construção deste instrumento foi fundamentada nos seguintes aspectos: literatura, reflexões sobre as atividades desenvolvidas no Serviço de Orientação Profissional do Curso e Colégio Energia e entrevistas informais com adolescentes pré-vestibulandos. A aplicação do roteiro de entrevista teve uma duração média de 45 minutos. As entrevistas foram anotadas pela pesquisadora em tempo real. Na prática, as primeiras perguntas da entrevista iniciavam uma conversa informal que propiciava uma narrativa espontânea por parte do entrevistado. As intervençõesda pesquisadora respeitavam o encadeamento do discurso dos sujeitos 27 e ocorreram de modo específico em cada caso. A pesquisadora intervinha através da solicitação de esclarecimentos adicionais e através da pontuação de contrastes entre aspectos da narrativa. Este procedimento permitiu a manifestação de conteúdos experienciais não previstos inicialmente, mas que se mostraram relevantes na experiência dos sujeitos. As perguntas da entrevista abordaram o perfil, o autoconceito, o estilo de tomada de decisão e o projeto de vida dos sujeitos. Fez-se também a exploração das alternativas levantadas como hipóteses. Fez-se a apresentação da pesquisa da seguinte forma: “Esta é uma pesquisa sobre a opção de fazer um curso pré-vestibular sem saber para qual curso prestará vestibular. A entrevista será registrada neste caderno. Será mantido sigilo absoluto sobre o seu depoimento.Tem alguma coisa a mais que você gostaria de saber?” A seguir a entrevista dividida em tópicos ou categorias temáticas (o roteiro original está em anexo): A) Perfil do Jovem 1. Idade 2. Formação Escolar 3. Estudou em escola pública ou particular? 4. Defina seu histórico escolar do Ensino Médio. 5. Ano de conclusão do Ensino Médio 6. Prestou vestibular anteriormente? 6.1.Quando? 28 6.2.Quantos? 6.3. Para qual (is) curso (s)? 7. Como foi seu desempenho neste (s) vestibular (es)? 8. Recebeu algum tipo de orientação profissional anteriormente? O que achou? 9. O que fez no período entre seu último vestibular e o início do curso pré- vestibular? 10. Você trabalha? 11.Qual é o seu trabalho? 12. Quem paga suas despesas com o pré-vestibular? 13.Quantas horas dedica ao estudo diariamente? B) Auto-conceito (características psicológicas) 1.Defina seu histórico escolar do Ensino Médio 2.Como foi seu desempenho nos vestibulares anteriores? 3.Como se sentiu ao saber de sua reprovação no (s) vestibular (es) realizados? 4.Sente-se mais preparado agora do que no período que antecedeu seu (s) outro (s) vestibular (es)? 5.Como está se sentindo como aluno do cursinho na eminência de prestar vestibular? 29 C) Estilo de tomada de decisão 1.Pretende fazer vestibular para este (s) mesmo (s) cursos? (Esta pergunta vem na seqüência da pergunta “ Prestou vestibular anteriormente?Quando? Quantos? Para qual (is)? Cursos?) 2.Como ficou sabendo da existência do pré-vestibular? 3.Por que escolheu este curso pré-vestibular especificamente? 4.Como sua família viu a decisão de fazer o pré-vestibular? 5.Tem amigos que estudaram com você no Ensino Médio fazendo o pré- vestibular? 5.1. Em caso afirmativo, a decisão de fazer o pré-vestibular foi tomada em comum acordo com este (s) colega (s)? D) Projeto de vida 1.Tem certeza que quer prestar vestibular e iniciar a faculdade neste momento de sua vida? Por que? 2.Se não passar neste vestibular, quais são seus planos? 3.O que estaria fazendo se não fizesse o curso pré-vestibular? 4.Por qual curso optou? 5.Para quais faculdades você se inscreveu? E) Exploração de alternativas 30 1. Por que se matriculou no cursinho se não sabia para qual curso prestaria vestibular? 2.Como e quando você pensava que resolveria a questão da escolha por um curso universitário? 3.O que achou do trabalho de orientação profissional oferecido por este curso pré-vestibular? F) Você gostaria de acrescentar alguma coisa ao que já conversamos? A entrevista prosseguiu conforme a disponibilidade do sujeito em continuar seu depoimento sobre o tema da pesquisa. Por fim, a pesquisadora agradeceu a colaboração e encerrou a entrevista. Os dados obtidos foram analisados através do método análise de conteúdo. A análise de conteúdo, segundo MORAES 1999, constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar conteúdos, que ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum. O processo de analise de conteúdo divide- se em etapas, destacando-se a categorização, a descrição e a interpretação como etapas essenciais dessa metodologia de análise. Para análise, as respostas obtidas nesta pesquisa foram classificadas em seis categorias temáticas, sendo elas, Perfil do Jovem, Auto-Conceito, Estilo de Tomada de Decisão, Projeto de Vida e Exploração de Alternativas. 31 2.3 Apresentação, análise e discussão dos resultados O trecho a seguir é um recorte de um dos momentos de um depoimento: __ Pesquisadora: “Defina seu histórico escolar do Ensino Médio”. __ S3: “Huumm... Nunca fiquei em recuperação no final do ano. Minhas notas sempre foram na média ou acima da média. Fui uma boa aluna”. Tomando-se este trecho como uma descrição, pode-se identificar dois temas: perfil do jovem e manifestação espontânea de auto-conceito. Note-se que estas categorias temáticas estavam previstas no roteiro de entrevista, embora o tema auto-conceito não tenha sido abordado diretamente por intervenção da pesquisadora. Atendendo a solicitação da pesquisadora o sujeito definiu seu histórico escolar falando de suas notas, mas foi além e atribuiu a si mesmo o conceito de bom aluno. Os depoimentos obtidos através das entrevistas foram numerados e os sujeitos identificados por códigos S1, S2, S3, S4, S5, S6, de acordo com a ordem em que foram realizadas as entrevistas. Os procedimentos de análise foram orientados por três passos que constituem a Análise de Conteúdo: categorização, descrição e interpretação. As transcrições das entrevistas constituem a descrição da experiência de fazer o pré- vestibular sem ter escolhido a profissão. O roteiro de tópicos (categorias temáticas) facilitou a recorrência de experiências similares nos depoimentos coletados. Porém, o aparecimento de temas ocorreu em diversos momentos do discurso, alheios a qualquer estímulo da pesquisadora. Sendo assim, os tópicos do roteiro apenas focalizaram a atenção dos sujeitos para aspectos já emergentes de suas narrativas, visando explorá-los mais detalhadamente. 32 2.3.1 Perfil do Jovem O tema Perfil do Jovem estava previsto no roteiro de entrevista e as perguntas relacionadas a ele tinham o objetivo de encontrar características que pudessem explicar porque faziam o pré-vestibular sem saber o que fazer no vestibular. Os jovens entrevistados tinham entre 17 e 25 anos, ensino médio concluído ou no ano de conclusão. Todos estudaram em escola pública pelo menos em um período de estudos. No histórico escolar do ensino médio, notas na média ou acima da média segundo suas definições, com exceção do S4 que atribuiu suas dificuldades no ensino médio à falta de estudo. S4: “Sempre tive dificuldades em Física e Química. Agora que eu vejo que era falta de estudo”. Os sujeitos com o ensino médio concluído já haviam realizado vestibular anteriormente. Os sujeitos cursando o terceiro ano do ensino médio ainda não haviam prestado vestibular, nem a título de experiência, com exceção do S1. S1: “Sim. (Já prestou vestibular.) Fiz em junho de 2003. Foi para Odontologia na Univali.” O desempenho no (s) vestibular (es) anterior (es) foi considerado ruim por todos os sujeitos entrevistados que o (s) realizaram. Apenas um dos jovens entrevistados recebeu orientação profissional anteriormente sendo que, para os demais, este foi o primeiro contato com uma Orientadora Profissional. O sujeito que recebera orientação profissional fez o terceiro ano do ensinomédio no Colégio Energia: 33 S5: “A orientação profissional foi legal. Eu tinha queda por várias profissões, era uma coisa muito ampla. Ajudou porque foi delimitando. Se não fosse a orientação profissional do Colégio Energia teria sido muito pior pra escolher”. No período entre o vestibular e o cursinho os sujeitos trabalharam e/ou estudaram. Três sujeitos trabalham concomitantemente ao cursinho pré-vestibular, dois deles no próprio colégio, um como operador de copiadora e outro como fiscal de provas e de corredores. Os sujeitos que trabalham custeavam suas despesas com o pré-vestibular. Os pais dos sujeitos que não trabalham custeavam as despesas de seus filhos com o pré-vestibular. Os sujeitos afirmaram que estudam de 1h e 30min à 3:00h todos os dias, sem incluir o tempo de cursinho. 2.3.2 Auto – Conceito O discurso dos sujeitos mais confiantes trouxe auto-descrições espontâneas que avaliavam seu desempenho no ensino médio e no vestibular. Estes sujeitos falaram com naturalidade sobre os sentimentos relativos ao fracasso no vestibular anterior e sobre os sentimentos atuais, advindos da proximidade do atual vestibular. Os entrevistados consideraram-se bons alunos no ensino médio. No entanto, questionados sobre o desempenho no vestibular mostraram-se insatisfeitos, não apenas com o resultado que se traduziu na reprovação, mas com o desempenho propriamente dito. 34 S1: “Eu fiquei mal quando vi o meu desempenho, achei que tinha ido melhor em algumas matérias. Eu fui mal nas matérias que tinha mais facilidade. Fiquei pior quando vi o desempenho do que quando soube que não tinha passado.” Ao saber da reprovação os entrevistados disseram que se sentiram mal, porém nos casos em que a expectativa da aprovação era menor a decepção também foi menor. S3: “Já esperava. Também não tinha tanta vontade de passar. Não foi uma grande decepção pra mim. Foi uma decepçãozinha...” Uma das entrevistadas que prestara mais de um vestibular relatou o seguinte: S5: “Como eu disse, no terceirão eu suportei. Mas, depois de me preparar durante um ano todo especialmente pra passar no vestibular, não passar!(refere-se ao vestibular realizado depois de um pré-vestibular extensivo com duração de um ano)... Ah, eu quase pirei!” Todos os entrevistados alegaram estar mais confiantes e seguros agora do que no período que antecedeu seu (s) outro (s) vestibular (es): S1: “Tô vendo que tem coisas que quando eu fiz vestibular eu nem sabia. To com uma noção dos conteúdos bem melhor do que a que eu tinha antes. O cursinho me ajudou tanto na parte de conteúdo quanto na animação pra fazer um vestibular.” S3: “Me sinto bem mais preparado. Mesmo sabendo que o vestibular que vou fazer agora é mais difícil.” S4: ”Acho que o cursinho está me ajudando, os professores explicam de forma clara, dão macetes que facilitam. Se eu já to com medo de não passar fazendo cursinho, imagina se não estivesse fazendo.” 35 Os entrevistados consideram-se ansiosos com a aproximação da data do vestibular. Alguns relatam sintomas físicos: S1: “Sinto muita dor de cabeça...Mas, não fico nervosa, porque sei que não é o fim do mundo. Mas, a minha mãe diz que essa dor de cabeça que tenho direto, só pode ser preocupação.” S2: “Meio nervosa, preocupada. Tenho medo de esquecer tudo, de ficar nervosa de não atinar coisa com coisa, de não conseguir resolve as questões...Ai! Nervosa! Ainda quero me preparar bem mais. O tempo que falta pro vestibular vai ser bom pra eu aprender bem mais...” S3: “Tô tranqüilo. Sei que tem bastante coisa ainda pra eu assimilar e a coisa vai apertar daqui pra frente... Mas eu to tranqüilo daquilo que eu quero.” A queixa deste entrevistado ao procurar o serviço de orientação profissional era nervosismo e insegurança. Pediu que eu lhe indicasse um livro, um método ou uma técnica que lhe diminuísse o nervosismo e lhe garantisse aprovação no vestibular. Não se passou muito tempo entre as sessões de orientação profissional e a entrevista para esta pesquisa, o que leva a supor que sua insegurança diminuiu ou que preferiu não falar da mesma com a pesquisadora. S4: “Ai... Ansiosa, nervosa, não consigo dormir direito. Estou preocupada em estudar e não consigo estudar direito. Tenho muito medo de não passar. Fico triste se não entendo alguma coisa. Gosto de resolver todos os exercícios da apostila e, às vezes, não dá.” S5: “Tô na expectativa. Me sinto preparada. No primeiro vestibular pra Ufsc fiz 71pontos. No segundo fiz 78. Dessa vez acho que vai dar!” Questionada sobre o que significava estar na expectativa, respondeu que era sentir-se ansiosa. 36 S6: “Tô bastante nervoso. Sinto muita ansiedade, fico pensando se vou passar ou não. Fácil eu sei que não vai ser. Mas o que eu tinha que estudar e me preparar, já me preparei. Às vezes vejo colegas que resolvem uma questão rapidamente e me comparo com eles. O que me preocupa é a competição, sei que tem uns caras melhores que eu, tenho medo de que meu esforço seja em vão.” Baseando-se nestas falas, constata-se que além do sofrimento típico gerado pela expectativa do vestibular, quando o auto-conceito do sujeito em relação ao seu desempenho é ruim, ele sofre ainda mais podendo, inclusive, somatizar esse sofrimento e apresentar sintomas físicos como dor de cabeça e insônia. 2.3.3 Estilo de Tomada de Decisão Todos os sujeitos entrevistados que já haviam feito vestibular anteriormente disseram que tentariam novamente para os mesmos cursos. Porém os que prestarão vestibular para mais de uma universidade escolheram diferentes cursos. Questionados sobre como ficaram sabendo da existência do pré- vestibular responderam de diferentes maneiras, sendo importante relatar as respostas pela relevância das mesmas para a pesquisa: S1: “Meus colegas comentavam. Tem gente que não pode estudar em escola particular, mas quando decide fazer vestibular sabe que tem que se preparar, se não...” S2: “Meu namorado fez cursinho e me recomendava fazer também. Os meus colegas de classe também falavam sobre fazer cursinho”. 37 S3: “Fiz o cursinho Gabarito e vários professores do Energia davam aula lá. Eles falavam pra gente do Energia. Pelas propagandas a gente via que cursinho era bom.” S4: “Quando eu tava no terceirão uma equipe do Energia passou no meu colégio pra fazer divulgação do simulado externo. Eu fiz o simulado e conheci o colégio no dia do simulado. O pai também já tinha ouvido falar que o Energia era melhor que os outros. S5: “Porque eu já estudava no Energia. Até já via o terceirão como um pré-vestibular. Mas decidi fazer o extensivo porque sabia que seria diferente do terceirão, não teria aquelas provas todas, aquele dia a dia puxado do terceiro ano. Também fiquei porque já conhecia o colégio, os professores, o sistema do Energia. Nem pensei em fazer em outro lugar. Na cidade, o Energia é considerado o melhor pré-vestibular mesmo. S6: “Eu ouvia conversas no ônibus que levava alunos do CIS, SATC e do Colegião. Eles diziam que pra passar mesmo tinha que fazer o pré-vestibular. Meu primo trabalhava no colégio e falava que era importante fazer cursinho pra passar no vestibular.” Questionados porque a escolha deste pré-vestibular, especificamente, responderam: S1: “Sempre que pensava em cursinho pensava no Energia, já tinha em mente Energia. Acho que por causa do comerciais que passavam na TV. Meus primos também já tinham feito cursinho no Energia e falavam super bem daqui.” S2: “Eu via as propagandas na televisão... Parecia que os professores eram mais interessados.A propaganda me ajudou a decidir pelo Energia, mas eu vim mesmo pela propaganda que meu namorado fez...” 38 S3: “Por que já conhecia os professores e sabia que eram gente boa. Pela propaganda também... Dava pra ver que preparava melhor.” S4: “Meu pai que escolheu porque achou que era o melhor e até aceitou pagar mais caro pra eu estudar aqui. Tem cursinho que é mais barato...” S6: “Eu conhecia duas pessoas que faziam cursinho no Dimensão e uma pessoa que fazia no Universitário, e eu sabia que o material e os professores não era tão bons quanto os daqui. Os professores do Energia são os melhores, e eu consegui unir o útil ao agradável porque consegui um trabalho no Energia e ganhei uma bolsa pra fazer o cursinho.” A família dos entrevistados apoiou a decisão dos mesmos em fazer o pré- vestibular, mas as respostas indicam que a motivação inicial partiu dos mesmos: S1: “A minha mãe sempre falou pra eu fazer cursinho no Energia porque meus primos já tinham feito. Ela só se preocupou um pouco com o excesso de estudos por causa do terceirão ser junto com o cursinho. Mas eu falei que agüentava. S2: “Minha mãe sempre me apoiou porque quer que eu passe pra Federal. Agora, o que ela mais quer é que minha irmã que tem 14 anos também tenha a oportunidade de se preparar, como eu estou tendo”. S3: “Minha mãe apoiou. Meu pai já faleceu. Só que nem minha mãe, nem minhas irmãs sabem que eu vou fazer vestibular pra Medicina. Não quero que ela fiquem esperando uma coisa que pode não dar certo. No começo minha mãe questionou se valeria a pena eu estudar, fazer vestibular, mas quando ela viu que era o que eu queria mesmo ela aceitou.” S4: “Foi o meu pai que me incentivou e a minha mãe apoiou”. 39 S5: “A minha mãe apoiou porque ela confia nas minhas decisões. E ela acredita que Deus me guia.” S6: “Minha mãe achou ótimo, diz que era o sonho dela ver o filho fazendo uma faculdade e vivendo bem. Meu pai não me apoiou, parece que pro pai tanto faz como tanto fez. Ele me diz que os cursos técnicos já eram suficientes. Mas eu não quero viver com a mão suja de graxa pro resto da vida. “ Os entrevistados responderam que não têm amigo(s) na sala de pré- vestibular com o(s) qual (is) estudou anteriormente, fato que refuta a hipótese de que poderiam ter feito a matrícula no pré-vestibular influenciados ou persuadidos por amigos que estavam decididos a fazer o pré-vestibular. 2.3.4 Projeto de Vida Todos os entrevistados responderam que desejam iniciar a faculdade neste momento de suas vidas, denotando não haver dúvidas quanto a esta questão em seus projetos de vida. A dúvida reside em qual seria a melhor faculdade. Na verdade fazer o cursinho pré-vestibular significa dar um primeiro passo em direção a faculdade, mesmo sem saber qual faculdade cursará. Os planos dos entrevistados no caso de não passarem no vestibular variam conforme a situação existencial do entrevistado, mas em um aspecto todos concordam; darão continuidade ao projeto de profissionalização e de busca da independência: S1: “Se não passar no vestibular faço outro cursinho e tento de novo. Se eu não passar vou fazer o extensivo e tentar vestibular pra UFSC no final do ano que vem”. 40 S2: “Vou tentar novamente. Se eu não passar de novo, aí eu vou trabalhar, fazer um curso técnico e me especializar em alguma coisa na área da saúde pra ter minha independência.” S3: “Vou tentar de novo!” S4: “...Tentaria novamente até passar. Mas não sei se faria outro cursinho. Isso é o pai que decide.” S5: “Sei que tenho potencial. Acredito que nesse ano vai dar certo. Estou mais preparada do que nos outros anos em relação aos conteúdos e também em segurança”. S6: “Enfrentar outro cursinho e passar da próxima vez. Não é porque perdi uma batalha que vou desistir da guerra.” Se não estivessem fazendo o curso pré-vestibular os entrevistados estariam estudando por conta própria e/ou trabalhando. Nenhum dos entrevistados que trabalhavam deixou de trabalhar para estudar. Os que trabalhavam conciliaram estudo e trabalho. Embora tenham feito a matrícula no pré-vestibular sem saber para qual curso prestariam vestibular e, tenham buscado o serviço de orientação profissional para auxiliá-los nessa tomada de decisão, no período em que as entrevistas foram realizadas todos já haviam feito sua escolha profissional, pois as inscrições para o vestibular de algumas faculdades iniciaram logo após o inicio das aulas do referido pré-vestibular. Os cursos escolhidos foram: S1: “Odontologia na UNIVALI, Jornalismo na UFSC, Medicina na UNESC e Administração na FASC”. S2: “Farmácia na UNISUL e UFSC”. S3: “Medicina na UNESC e na UDESC”. 41 S4: “Nutrição na UNESC e na UFSC”. S5: “Direito na UFSC e Medicina na URGS”. S6: “Matemática na UFSC”. Baseando-se nestas respostas, pode-se afirmar que S1 e S5 continuam indecisos quanto à profissão. É importante salientar que mesmo indecisos fizeram suas inscrições para os referidos vestibulares. 2.3.5 Exploração de Alternativas As respostas para a pergunta “Por que matriculou-se no cursinho se não sabia para qual curso prestaria vestibular”? foram as seguintes: S1: “Eu me matriculei no cursinho pensando que independente do que eu fosse fazer no vestibular eu queria estar preparada. Queria melhorar meu desempenho, aprender mais coisas, me preparar melhor... Então nem fiquei preocupada, eu sabia que ia dar um jeito de escolher um curso pra prestar vestibular...” S2: “Nem sei... Acho que pensava que na hora certa a decidir. Pensava não! Eu sabia que ia decidir... Uma das possibilidades era Medicina. Depois vi que não era pra mim. Medicina vai ficar pra depois, quando eu já tiver feito Farmácia.O que eu sabia mesmo é que seria alguma coisa ligada a área da saúde”. S3: “Não pensei nisso. Só pensava no passo que tava dando, de começar um cursinho. Deixei rolar”. S4: “Eu não me preocupava com isso. Não me importava com o curso que iria fazer eu só sabia que queria fazer e fiz”. 42 S5: “Qualquer curso que eu decidisse fazer daria o melhor de mim pra me preparar. Faço o cursinho pra melhorar, pra aprender mais do que já sei, independente do curso pro qual farei vestibular.” S6: “No segundo grau eu gostava de Matemática e já pensava em fazer faculdade de Matemática assim que tivesse uma chance. Quando me matriculei no cursinho, já tinha essa idéia na mente.” Os sujeitos consideraram valioso o trabalho de orientação profissional oferecido pelo pré-vestibular. Nenhum deles, no entanto, ao efetuar sua matrícula no pré-vestibular semi-intensivo, esperava resolver a questão da indecisão profissional através deste serviço. No ato da matrícula, é procedimento padrão questionar o aluno sobre o curso que escolheu para prestar vestibular. Para os que ainda não escolheram, comunica-se a existência de uma psicóloga no colégio com a função de Orientadora Profissional. Este fato fez a pesquisadora considerar que o aluno poderia responder a pergunta anterior dizendo que contava com o auxílio do Serviço de Orientação Profissional. Mas esta hipótese foi refutada como podemos observar através das respostas anteriores. A descrição dos depoimentos dos sujeitos em forma de categorias temáticas destacaram tipologias experiências do processo de opção pelo pré- vestibular na condição de indeciso quanto à profissão. As categorias definiram uma estrutura de referencia abrangente para a descrição dos comportamentos relativos a opção pelo pré-vestibular A redução destas categorias em seus constituintes essenciais, ou seja, o que está sempre presente e inter-relacionatodas elas, aponta para o fato de que os sujeitos decidiram ingressar na universidade e ascender social e profissionalmente, independentemente da profissão a ser seguida. 43 Os indivíduos são jovens entre 17 e 25 anos, com ensino médio completo ou cursando o ultimo ano.Todos estudaram em escola publica pelo menos em um período de suas vidas.Os indivíduos que trabalham custeiam suas despesas do pré-vestibular (S3, S5, S6).Os indivíduos que tem suas despesas custeadas pelos pais não trabalham e receberam incentivos e apoio para cursarem o pré- vestibular. Este dado revela o desejo dos pais de realizarem seu projeto de vida através dos filhos (S1, S2, S4). Indivíduos advindos de escolas públicas, com um auto-conceito bom em relação ao desempenho no ensino médio expressam a necessidade de se preparar melhor, aprender mais, ter mais conhecimento. Caracterizam-se por uma atitude otimista de acreditar que conseguirão capacitar-se e conseguir num curto período de tempo (um semestre) colocarem-se em pé de igualdade com jovens em melhores condições que as suas de serem aprovados no vestibular.(S1, S2,S3,S4,S5,S6) Observa-se a falta de uma orientação auto-perceptiva que produz dificuldades para expressar um projeto de vida amplo e abrangente, ficando restritos a busca de independência financeira através do curso superior. Por outro lado associam diretamente o pré-vestibular como etapa indispensável no caminho à universidade (S1,S2,S3,S4,S5,S6). Predomina a ausência da percepção do contexto sócio-econômico como gerador das dificuldades para ingressar na universidade. O individuo que admitiu ter tido dificuldades no ensino médio foi logo assumindo a responsabilidade por tal dificuldade, atribuindo a mesma a sua falta de estudo. Outro sujeito que cursou as quatro séries iniciais em escola pública e concluiu as demais séries do ensino fundamental e médio no supletivo atribuiu seu fracasso no vestibular anterior ao fato de não ter “levado a sério”. (S4 e S3). Os demais definem-se como alunos na (ou 44 acima da) média, porém despreparados para realizar o vestibular com êxito (S1, S2, S5, S6). Todos os indivíduos conversam com os pais a respeito de sua decisão por um curso pré-vestibular, recebendo incentivo, sugestão e apoio. Contudo mesmo levando em consideração as opiniões dos pais, não se mostram influenciáveis a eles. Mantêm uma postura autônoma na percepção e avaliação dos fatores que consideram relevantes a decisão de cursar o pré-vestibular. No entanto, a opinião de colegas de aula, namorado e parentes é altamente considerada. Da mesma forma as mensagens repassadas pelas propagandas veiculadas nos meios de comunicação influenciam na decisão de cursar este pré-vestibular especificamente (S1, S2, S3, S4, S5, S6). Os sujeitos elaboraram argumentos e critérios justificando sua opção pelo pré-vestibular na condição de indeciso quanto à profissão, tais como melhorar o desempenho, se preparar melhor, dar o primeiro passo em direção a universidade e adquirir mais conhecimentos (S1, S2, S3, S4, S5, S6 ). A redução definiu a opção dos sujeitos por um pré-vestibular na condição de indeciso quanto à profissão, como o primeiro passo em direção a universidade, anterior à reflexão sobre o projeto de vida. Na opção pelo pré-vestibular na condição acima descrita, ocorre a queima de uma das etapas do processo reflexivo inerente a escolha profissional. Deste modo, embora os sujeitos tenham a consciência da necessidade da reflexão sobre a escolha profissional, adiam a solução desse problema, ou seja, diante da dificuldade em fazer sua escolha optam pelo pré- vestibular como alternativa para acelerar sua decisão de cursar uma faculdade. Na decisão pelo pré-vestibular, os sujeitos focalizam o si mesmo e o ambiente na busca de informações relevantes. Deste modo, possibilitam a 45 elaboração de auto-conceitos vocacionais, conhecimento de informações relevantes e a transformação de um auto-conceito vocacional em uma preferência vocacional. A autonomia para tomar decisões não exclui a aceitação de orientações e conselhos advindos dos pais, parentes, colegas, namorado e das propagandas veiculadas nos meios de comunicação. A interpretação das experiências de alunos cursando o pré-vestibular semi-intensivo em dúvida quanto à profissão, confirma um volume significativo de pesquisas e teorias sobre a influência da sociedade e da família sobre os adolescentes (LUCCHIARI, 1993; FERRETTI, 1992; SOARES, 2002; BIANCHETTI, 1996; CARVALHO, 1995). De acordo com estes estudos, os adolescentes em processo de tomada de decisão recebem influência da família, sociedade e dos meios de comunicação em massa. Colegas, namorado (a), parentes, professores, marketing influenciam o jovem na decisão de cursar um pré-vestibular. Como sugerido pela literatura (SOARES, 2002), fatores políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e psicológicos entre tantos outros, determinam a escolha dos indivíduos. No presente estudo, o conjunto dos depoimentos confirmou a tendência (BIANCHETTI, 1996) dos jovens advindos de escola pública buscarem os cursinhos pelo tipo de exigências que a Universidade faz e pelo fato de primeiros e segundos graus das escolas da rede pública de ensino não estarem desempenhando seus verdadeiros papéis. Confirmando o que nos apresenta BIANCHETTI, 1996 a pouca atenção destinada ao ensino médio reflete-se diretamente na dificuldade dos jovens em obter sucesso no processo de seleção e ingresso na universidade. O mesmo se pode dizer do ensino fundamental, pois o mesmo continua sendo prioridade apenas 46 como justificativa para que os poucos recursos investidos nos outros graus de ensino ( especialmente o ensino superior ) se tornem cada vez menores. Conforme sugerido pela literatura (LUCCHIARI, 1993 e SOARES, 2002), e comprovado pelo presente trabalho, a orientação profissional auxilia o sujeito a pensar sobre suas possibilidades e os conscientiza dos fatores que interferem na escolha da profissão. Em relação às hipóteses levantadas neste trabalho, duas delas foram refutadas. O aluno não matricula-se no pré-vestibular semi-intensivo persuadido por amigo (s) com o (s) qual (is) estudou no Ensino Médio e o aluno não opta pelo pré- vestibular contando com a ajuda do serviço de Orientação Profissional oferecido pelo mesmo para escolher o curso para o qual prestará vestibular. As hipóteses corroboradas são a de que o aluno é influenciado pela propaganda do pré-vestibular veiculada nos mais diversos meios de comunicação; o aluno é levado ao pré-vestibular por ausência de um outro projeto de vida à curto prazo e pela falta de preparo e oportunidade para ingressar no mercado de trabalho. 47 3. CONCLUSÕES Esta pesquisa revelou que os alunos matriculam-se no pré-vestibular semi-intensivo sem ter escolhido sua profissão objetivando preparar-se, em termos de conteúdo para o ingresso na universidade. Estes alunos advêm de escolas públicas e buscam independência financeira, ascensão social e realização pessoal e profissional através da obtenção do diploma universitário. A decisão de cursar o ensino superior é definitiva e prioritária, a despeito da questão da escolha da profissão. O pré-vestibular semi-intensivo é considerado de fundamental importância no projeto de vida do aluno, por que os nivela em termos de conhecimento exigido pelo vestibular com outros alunos, possíveis concorrentes oriundos de escolas particulares e com maior acesso a tais conhecimentos. A necessidade de obtenção de conhecimentos é percebida por estes alunos quando os mesmos observam seu desempenho
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