Buscar

O Significado do Curso Pré-Vestibular para Alunos Indecisos

Prévia do material em texto

GRAYCE GUGLIELMI BALOD 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SIGNIFICADO DO CURSO PRÉ-VESTIBULAR PARA O ALUNO 
INDECISO QUANTO A PROFISSÃO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Criciúma, 2004. 
GRAYCE GUGLIELMI BALOD 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O SIGNIFICADO DO CURSO PRÉ-VESTIBULAR PARA O ALUNO INDECISO 
QUANTO A PROFISSÃO. 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à 
Diretoria de Pós – Graduação da 
Universidade do Estado de 
Santa Catarina – UDESC, para 
obtenção do título de 
especialista em Orientação 
Profissional, sob orientação da 
professora Regina de Fátima 
Teixeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Criciúma, 2004. 
RESUMO 
 
Entrevistou-se seis jovens, com idades entre 17 e 25 anos, clientes do 
serviço de Orientação Profissional do Curso e Colégio Energia, sobre a experiência 
de estar cursando o pré-vestibular semi-intensivo, sem ter feito a escolha por uma 
profissão. Procurou-se conhecer os fatores explícitos e implícitos que interferem na 
opção pelo curso pré-vestibular semi-intensivo e os mecanismos e personagens que 
intervêm no processo de decisão por um curso pré-vestibular de curta duração, 
realizado nos meses que antecedem o vestibular, quando o aluno não escolheu sua 
profissão. 
A proposta metodológica da pesquisa é qualitativa, com entrevista 
individual e análise de conteúdo. Para conhecer a percepção da experiência da 
indecisão vocacional no período do cursinho pré-vestibular, a investigação partiu da 
experiência vivida pelos sujeitos, tomada como uma experiência pré-científica do 
mundo. 
Os resultados revelaram que os alunos matriculam-se no pré-vestibular 
semi-intensivo sem ter escolhido sua profissão, objetivando adquirir mais 
conhecimentos e aumentar suas chances de ingresso na universidade. São alunos 
advindos de escolas públicas que buscam ascensão social, realização pessoal e 
profissional e independência financeira através da obtenção do diploma universitário. 
Para estes alunos a decisão de cursar o ensino superior é definitiva e prioritária e 
antecede a escolha da profissão. O pré-vestibular semi-intensivo é considerado de 
fundamental importância no projeto de vida destes alunos porque os nivela em 
termos de acesso ao conhecimento exigido pelo vestibular com outros alunos, 
possíveis concorrentes, oriundos de escolas particulares. 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................4 
1.1 Tema.............................................................................................................5 
1.2 Problema.......................................................................................................5 
1.3 Problematização ...........................................................................................5 
1.4 Objetivos .......................................................................................................5 
1.4.1 Objetivo Geral ........................................................................................5 
1.4.2 Objetivos Específicos.............................................................................6 
1.5 Justificativa ...................................................................................................6 
1.6 Hipóteses ......................................................................................................8 
2. DESENVOLVIMENTO...........................................................................................10 
2.1 Revisão de literatura ...................................................................................10 
2.1.1 O Curso pré-vestibular.........................................................................10 
2.1.2 Escolha Profissional e o Trabalho........................................................14 
2.1.3 A Escolha Profissional e o Projeto de Vida do Aluno...........................19 
2.2 Metodologia ................................................................................................26 
2.3 Apresentação, análise e discussão dos resultados ....................................31 
2.3.1 Perfil do Jovem ....................................................................................32 
2.3.2 Auto – Conceito ...................................................................................33 
2.3.3 Estilo de Tomada de Decisão ..............................................................36 
2.3.4 Projeto de Vida ....................................................................................39 
2.3.5 Exploração de Alternativas ..................................................................41 
3. CONCLUSÕES .....................................................................................................47 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................49 
5. BIBLIOGRAFIA DE APOIO ...................................................................................50
4 
1. INTRODUÇÃO 
 
Esta pesquisa foi idealizada em um momento bastante especifico de 
minha vida profissional, quando procurava dar um novo significado as atividades que 
vinha desenvolvendo em sete anos como orientadora profissional. 
Dos muitos problemas com os quais me deparava diariamente, escolhi o 
que mais me intrigava para analisar sob outra ótica (do aluno) e contrastar com 
idéias e pensamentos que formulei ao longo dos anos de exercício profissional. 
Na resolução do problema específico do aluno que cursa um pré-
vestibular semi-intensivo sem saber para qual curso prestará vestibular, eu não 
sabia como ajudar. Por entender que cursar um pré-vestibular na situação acima 
descrita era uma ação destituída de sentido, acreditava na importância de formular 
questões que levassem o aluno a refletir sobre o assunto, para levá-lo a uma nova 
tomada de decisão; confirmar minhas idéias e pensamentos para que pudesse me 
posicionar diante dos dirigentes do cursinho e adquirir subsídios para redefinir 
minhas ações profissionais. 
Baseada nesses critérios e subsidiada por leituras e conversas informais 
com alunos em tal situação, formulei as questões que me nortearam no presente 
trabalho. 
 
 
 
 
 
5 
1.1 Tema 
 
Perfil do aluno de curso pré-vestibular semi-intensivo com dúvida quanto à 
escolha do curso para o qual prestará vestibular. 
 
1.2 Problema 
 
Caracterizar o aluno de curso pré-vestibular semi-intensivo com dúvida 
quanto à escolha do curso para o qual prestará vestibular. 
 
1.3 Problematização 
 
Quais são os motivos que levam o aluno a matricular-se no curso pré-
vestibular semi-intensivo, quando ele não sabe para qual curso prestará vestibular? 
 
1.4 Objetivos 
 
1.4.1 Objetivo Geral 
 
Quais são os motivos que levam o aluno a matricular-se no curso pré-
vestibular semi-intensivo, quando ele não sabe para qual curso prestará vestibular? 
 
6 
1.4.2 Objetivos Específicos 
 
Levantar dados sobre experiências em vestibulares anteriormente 
realizados. 
Descrever as características psicológicas dos alunos reprovados em 
vestibulares anteriormente realizados. 
Verificar a importância do curso universitário para a concretização do 
projeto de vida do aluno. 
 
1.5 Justificativa 
 
No exercício da função de Orientadora Profissional do Curso e Colégio 
Energia, da cidade de Criciúma (SC), percebo que estar matriculado num curso pré-
vestibular semi-intensivo, não significa necessariamente que o aluno já sabeo que 
vai fazer no vestibular. 
O curso pré-vestibular semi-intensivo caracteriza-se por ser de curta 
duração e oferecer ao aluno, de forma compacta, o conteúdo cobrado nos 
vestibulares. As aulas do pré-vestibular semi-intensivo vigente iniciaram dia 11 de 
agosto de 2003 e terminam dia 28 de novembro deste mesmo ano. O período de 
inscrição para a UFSC, por exemplo, foi de 8 a 29 de agosto. O aluno indeciso 
quanto ao curso, mas decidido quanto à universidade teve apenas 18 dias para 
refletir sobre sua escolha.O trabalho de orientação profissional passível de ser 
realizado, neste caso, é questionável, observando-se o grande número de alunos 
nestas condições e o curto período de tempo para realização do mesmo. 
7 
Baseada em observações e estudos de casos ao longo de sete anos 
trabalhando como orientadora profissional deste pré-vestibular, percebi que muitos 
alunos modificam a lógica da inscrição num curso pré-vestibular que, em função do 
curto período de tempo para refletir sobre a escolha profissional, deveria ser a 
seguinte: escolher seu curso, saber o número de candidatos por vaga e o número de 
acertos que fizeram o primeiro e o último colocado no vestibular anterior para, só 
então, traçar um plano de estudo, matricular-se e colocá-lo em prática. Esta lógica é 
justificada, também, pelo fato de serem cobradas no cursinho mensalidades que se 
equiparam, em alguns casos, a mensalidade de um curso universitário. 
No ensino médio deste mesmo colégio, não é muito diferente. Alunos que 
chegam de outros colégios, na maioria das vezes, não tiveram nenhum tipo de 
orientação profissional, alguns nem sequer pensaram na questão da escolha 
profissional. Este fato demonstra que nem todo o aluno que decide estudar num 
colégio pré-vestibular o faz, porque pretende passar no vestibular. Muitos alunos 
matriculam-se num colégio pré-vestibular por uma série de razões (insatisfação com 
o colégio anterior, influência de amigos e colegas, desejo de estudar no colégio dito 
“legal”) entre as quais, não está aquela considerada pelo colégio como a principal: 
passar no vestibular. 
Depoimentos de alunos inscritos no pré-vestibular que não tem sequer 
uma idéia da faculdade que cursarão, são cada vez mais freqüentes. Parece que o 
número de alunos nessa situação aumenta de forma proporcional ao trabalho de 
marketing feito para atrair o público de cursos pré-vestibular. 
Para alguns jovens que concluem o ensino médio, se não passarem no 
vestibular, o cursinho parece ser a única saída. Não sendo mais aluno do ensino 
médio e não sendo ainda aluno universitário, ele entende que para ser alguém 
8 
deverá ser aluno do cursinho. Ele se percebe e se reconhece como aluno. Esta é 
sua identidade. Se não estiver estudando, quem ele é? 
Na prática observou-se um número crescente de alunos que ali estão sem 
mesmo ter pensado em seus objetivos. Apenas estão. Existem outras alternativas. O 
cursinho pode ser uma boa opção para o aluno que, embora tenha obtido um bom 
número de acertos no vestibular, não acertou o necessário para sua aprovação. 
Depois desta experiência ele volta estuda um pouco mais e, via de regra, ele passa. 
Muitos alunos, porém, não pretendem voltar a fazer vestibular para o mesmo curso 
que tentaram e foram reprovados. E eles voltam para o pré-vestibular sem saber 
ainda o que farão. Eles apenas voltam, como se estivessem voltando aos seus 
lugares. 
Este trabalho pretende responder a seguinte questão: Do ponto de vista 
do aluno, é recomendável fazer o pré-vestibular semi-intensivo, sem ter claro o seu 
projeto profissional? 
 
1.6 Hipóteses 
 
O aluno em dúvida quanto à profissão matricula-se no pré-vestibular semi-
intensivo persuadido por amigo (s) com o (s) qual (is) estudou no ensino médio. 
O aluno é influenciado pela propaganda do pré-vestibular veiculada nos 
mais diversos meios de comunicação. 
O aluno é levado ao pré-vestibular por ausência de um outro projeto de 
vida a curto prazo. 
O aluno é levado ao pré-vestibular pela falta de preparo e oportunidade 
para ingressar no mercado de trabalho. 
9 
O aluno opta pelo pré-vestibular contando com a ajuda do serviço de 
Orientação Profissional oferecido pelo mesmo, para escolher o curso para o qual 
prestará vestibular. 
10 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
2.1 Revisão de literatura 
2.1.1 O Curso pré-vestibular 
 
O curso pré-vestibular, o qual venho, através desta monografia, analisar 
criticamente sob a ótica do pré-vestibulando nele matriculado, fundamenta sua 
existência sobre a existência do atual processo seletivo de ingresso à Universidade: 
o vestibular. 
Segundo Bianchetti ( 1996, p. 23 ): “ não é de agora que a questão do 
vestibular está sob intensa discussão. Inúmeras instituições e órgãos, nesses 
últimos anos, anunciaram a decisão de modificar o seu processo [...]” 
A filosofia de um cursinho pré-vestibular é a de que este é um divisor de 
águas, um ponto de chegada, um definidor na vida do aluno. Sendo assim o 
cursinho leva o aluno a desejar ardentemente seu ingresso na universidade através 
de sua aprovação no vestibular. Leva-o também a responsabilizar-se por seu 
sucesso. Em nome desta responsabilidade, é comum alunos do pré-vestibular 
ingressarem numa maratona de 8 ou 10 horas diárias de estudo, além das 4 horas 
passadas em sala de aula no cursinho. Obviamente este esforço tem seu valor para 
o resultado do processo seletivo pelo qual o aluno passará, mas além da situação 
individual de cada aluno, é necessário uma observação atenta sobre a situação 
macro na qual está inserido. 
De acordo com Soares ( 2002, p.44 ): “ o jovem no momento da decisão 
de seu futuro, muitas vezes não tem claro como este acontecimento esta inserido 
11 
dentro de um espaço muito maior, da ideologia subjacente a qualquer sistema social 
e político existente.” 
A verdade é que freqüentar um bom curso pré-vestibular e estudar muito 
não são os únicos fatores que determinam a aprovação no vestibular. Existe uma 
série de fatores que interferem tanto na escolha da profissão quanto no desempenho 
do vestibulando. Os fatores sociais, que dizem respeito à divisão da sociedade em 
classes sociais, à busca da ascensão social por meio do estudo, à influência da 
sociedade e da família e aos efeitos da globalização na cultura e na família; fatores 
políticos, que referem-se a política governamental e seu posicionamento perante a 
educação; fatores econômicos, que referem-se ao mercado de trabalho, à 
globalização e à informatização das profissões, à falta de oportunidades, ao 
desemprego, à dificuldade de tornar-se empregável, à falta de planejamento 
econômico, à queda do poder aquisitivo da classe média e à todas as 
conseqüências do sistema capitalista neoliberal no qual vivemos; fatores 
educacionais, que compreendem os sistema de ensino brasileiro, a falta de 
investimento do poder publico na educação, a necessidade e os prejuízos do 
vestibular e a questão da universidade publica e privada de uma forma mais geral; 
fatores familiares que referem-se à busca da realização das expectativas familiares 
em detrimento dos interesses pessoais o que acaba influenciando na decisão e na 
fabricação dos diferentes papéis profissionais. 
 
Em perspectiva macro, na grande corrida de obstáculos que caracteriza o 
processo de alcançar uma vaga na universidade, o vestibular é apenas um 
dos degraus e, contrariando o olhar padrão ou a quase uniformidade de 
pensamento, não é o mais difícil de superar. A centralização do debate em 
torno do vestibular indica claramente que as mudanças pretendidas muito 
pouco serão eficientes no sentido de mexer no núcleo central do grande e, 
para a maioria, intransponívelgargalo que se interpõe entre os milhares de 
pretendentes e as diminutas vagas disponíveis na universidade 
(BIANCHETTI, 1996, p. 24). 
 
12 
No vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1996, 
inscreveram-se 21780 candidatos para 3168 vagas. Em termos de Brasil, os últimos 
dados de que o MEC dispõe, indicam que, no ano 1994, ofertaram-se 574.135 vagas 
para as quais se inscreveram 2.237.023 candidatos. (BIANCHETTI 1996, p. 25) 
Diante desses dados é impossível responsabilizar exclusivamente o aluno 
por seu fracasso na tentativa de ingressar na universidade, mesmo assim, em 
função desta idéia, o ensino em alguns graus e setores, como em torno do 
vestibular, foi transformado num grande e lucrativo negócio. Segundo Bianchetti 
(1996, p. 26):” [...] o vestibular se tornou uma máquina de fazer dinheiro [...].” 
Quando o aluno entende que seu ingresso na universidade depende 
exclusivamente de seu esforço, dedicação e empenho, busca o cursinho como um 
aliado nessa luta (às vezes, inglória) pela obtenção de uma vaga. Muitos alunos 
fazem investimentos altíssimos nos cursinhos, considerando-se sua situação 
financeira, sem sequer questionar seu direito à educação e ao ensino de qualidade 
público e gratuito. Pagam caro pela chance de ingressar na universidade e, quando 
não conseguem, assumem a total responsabilidade por seu fracasso. 
 
[...] o aluno não percebe que muito antes de ser excluído da universidade já o 
foi da sociedade. O crescimento vertiginoso do número de vagas nas 
universidades privadas, principalmente no turno noturno, a transformação 
das universidades federais em espaço privilegiado de poucos e já 
socialmente privilegiados, o surgimento e a ampliação, sem precedentes, do 
número de cursinhos pré-vestibulares (o mal necessário que certamente 
deverá modificar-se na mesma medida e velocidade em que 1º e 2º graus 
voltarem ou passarem a cumprir seu papel), o abandono do 2º grau e o 
regime de miséria a que está submetido o 1º grau, não deixam dúvidas de 
quanto o Estado Mínimo se transformou no Estado Máximo para os 
interesses privados (BIANCHETTI 1996, p. 26) 
 
A repercussão do vestibular sobre os indivíduos envolvidos neste 
processo é traumática, pois o mesmo é um instrumento que descarta mais do que 
seleciona e que, por outro lado, seleciona os já selecionados pela sociedade. 
Mesmo assim, ainda é a ‘porteira da Universidade’. É sem dúvida uma prática 
13 
socialmente injusta porque descarta inúmeros pretendentes ao ensino superior, o 
chamado efeito guilhotina (BIANCHETTI, 1996). 
 
O vestibular como filtro de acesso ao ensino superior foi legalmente 
implantado em 1911. Era uma espécie de exame que visava auferir o grau de 
conhecimento e maturidade dos candidatos. Desde aquela época até os dias 
atuais passou por muitas transformações, porém a característica básica 
dessas mudanças foi a crescente dificuldade de os alunos saírem do 
vestíbulo ou ultrapassarem o fosso que cerca a universidade. (BIANCHETTI, 
1996, p. 36) 
 
Os cursinhos oportunamente se instalaram no ‘vácuo’ com o qual os 
jovens se deparam ao concluir o Ensino Médio, por não estarem habilitados para 
uma profissão nem para enfrentar o vestibular. Segundo Bianchetti, ( 1996, p. 38 ): 
“ [...] os analistas educacionais se manifestam da forma mais virulenta possível em 
relação ao papel dos cursinhos. Pode-se afirmar, no entanto, que os cursinhos são 
um mal necessário.” 
Os alunos que recorrem ao cursinho pré-vestibular estão conscientes de 
suas defasagens em termos de conteúdos exigidos pelo vestibular. A situação 
destes alunos é lastimável, pois não estão preparados nem para ingressar no 
mercado de trabalho nem para prestar vestibular. 
“A escola, para o que ela está preparando? Para o vestibular? Até´poderia 
ser, se todos tivessem acesso à universidade, se não fossem somente 10% dos 
candidatos aprovados nas universidades públicas e gratuitas.” (SOARES, 2002, 
p.21). 
Observa-se a alienação do jovem e de seus pais por não terem a 
consciência do verdadeiro problema, que não é deles; é bem maior e mais complexo 
que as noites em claro estudando, ou a obrigação de enfrentar o melhor cursinho. 
Trata-se de toda uma estrutura social não organizada para receber os jovens aptos 
ao ensino superior. Os cursinhos são, na maioria, empresas especialistas na arte de 
fazer passar, atingindo uma grande população da classe média. Por se tratar de um 
14 
acontecimento muito significativo na vida dos jovens, na de seus familiares e 
também para sociedade, as pessoas envolvidas em geral encontram-se suscetíveis 
a fazer qualquer investimento pelo bem de seu filho. 
 
A corrida para o vestibular é, nos dias atuais, uma verdadeira maratona 
geradora de neurose e conflitos de toda espécie, num espetáculo que toma 
conta do país. O vestibular é a angústia do estudante e funciona como um 
centro de forças que ataca em todas as direções. Formou-se para manter o 
espetáculo do vestibular, uma gigantesca teia de cursinhos que, com 
interesses puramente comerciais, passaram a ser um agente de 
desmoralização do próprio ensino secundário (MONTEIRO, 1980: 77-8 apud 
SOARES, 2002, p. 69). 
 
Outro fato interessante é o tipo de campanha publicitária divulgada pelos 
cursinhos. Estabelece-se uma competição entre os próprios cursinhos, cada um 
apresentando-se como o melhor, o mais seguro para a aprovação, fato que pode 
gerar medo e ansiedade em alguns jovens. Nunca é divulgado o percentual de 
alunos reprovados no vestibular, mascarando a realidade e iludindo os jovens e seus 
pais. Por outro lado, é questionável o fato de o cursinho apropriar-se da vitória de um 
aluno no vestibular, como se o mérito fosse do cursinho, quando em situação 
oposta, quando o aluno fracassa, a responsabilidade é sempre do aluno que não se 
preparou o suficiente. 
 
A real situação é que existe uma diferença muito grande entre a demanda e a 
oferta de vagas no ensino superior. Constata-se que o número de vagas nas 
universidades públicas tem se mantido o mesmo há muitos anos, embora a 
demanda tenha alcançado mais que o dobro. Portanto, a existência dos 
cursinhos se manterá enquanto houver uma demanda maior que a oferta de 
vagas. Sempre haverá espaço para a competição que esse fato provoca e 
que é muito bem aproveitada pelos dirigentes dos cursinhos. ( LUCCHIARI, 
1993, p. 137) 
 
2.1.2 Escolha Profissional e o Trabalho 
 
A escolha profissional é um processo que inevitavelmente remeterá os 
jovens à sua inserção em uma realidade multi-profissional e em um mercado de 
trabalho em constante transformação. Ao procurar atendimento de Orientação 
15 
Profissional, além da necessidade de auxilio na escolha de um curso, percebe-se a 
inquietação em definir uma profissão a ser seguida, ou seja, uma ocupação 
profissional. 
Na facilitação da escolha, na prática de Orientação Profissional, é 
fundamental, por um lado propiciar o acesso a informações essenciais a esta 
escolha, relativas às profissões, cursos, mercado, oportunidades e tendências de 
trabalho e, por outro, suscitar uma reflexão sobre o significado do trabalho para o 
sujeito em escolha. 
Muitos autores, ao conceituar trabalho, enfatizam o fato de que até os 
animais, a seu modo, o realizam, mas o trabalho animal, como o das formigas ou 
abelhas, é produto de comportamentos instintivos, enquanto o que caracteriza o 
trabalho humano é a adaptação a situações imprevistas e a fabricação de 
instrumentos, bem como o fato de ele ser consciente e proposital, na medida em que 
o resultado do processo existe previamente na imaginação do trabalhador. 
Se entendermos o trabalho a partir de um conceito amplo, que o 
considera como a ocupação com qualquer atividade voltadaa um fim específico, 
remunerada ou não, vinculada ou não ao mercado de trabalho, além de ser um meio 
de proporcionar a satisfação das necessidades, o trabalho também permite a busca 
da auto-realização. 
As perspectivas para o mundo do trabalho em que vivemos hoje podem 
ser vistas por dois ângulos. Por um lado, vê-se a possibilidade de uma real 
diminuição do tempo de trabalho, em função do avanço tecnológico que assumiria 
grande parte das tarefas operacionais, principalmente, proporcionando mais tempo 
livre a todos. Por outro lado, vê-se uma profunda modificação na concepção de 
trabalho que será capaz de gerar mudanças nas suas formas características, nos 
16 
modos de organização e na finalidade, resgatando o aspecto prazeroso e humano 
que o trabalho um dia teve, o que levaria a adoção de uma justa convivência do 
trabalho com as demais atividades que preenchem o tempo humano, buscando uma 
harmonia entre este e a realização pessoal. 
Segundo Bianchetti (1996, p. 37) “ [...] assim que o universitário supera 
angústia própria do vestibular, já passa a conviver com outra prova seletiva: a do 
mercado de trabalho tal como tem se apresentado.” 
Com o advento da informática, o mundo entrou num período de 
mudanças radicais e aceleradas, seja na criação ou na troca da informação e em 
vários outros aspectos que afetam diretamente toda a humanidade. Essas 
mudanças levaram a uma retomada de valores essenciais voltados à espiritualidade. 
A ciência, tecnologia, filosofia e demais ciências sociais e humanas, história, política, 
economia, neurologia e física buscam explicações para todas essas mudanças. 
Essas explicações terminam por explicar, também, as mudanças no mundo do 
trabalho. Passamos a conviver com o desemprego conjuntural e estrutural na 
economia formal, com o aumento de ofertas de trabalho na economia informal e com 
novas relações de trabalho (legislação flexível, franquias, terceirização e trabalho 
temporário). Em conseqüência de tudo isso, convivemos com incertezas, 
inseguranças, pressão e medo. O mundo de trabalho atual desafia o jovem a 
conhecer-se, conhecer as profissões, conhecer este mundo tal como ele se 
apresenta, focar sua escolha e auto-desenvolver-se. O perfil profissional exigido 
envolve alfabetização científico/tecnológico, que inclui competências, conhecimentos 
e habilidades e alfabetização comportamental, que inclui competências e atitudes. 
A qualificação exigida atualmente dos trabalhadores é um mero requisito 
ideológico utilizado contra os mesmos. 
17 
Na medida em que há uma vaga e muitos a disputando, aquele que tiver 
mais qualificação será aproveitado, embora seu nível de conhecimento não 
seja uma necessidade objetiva à função. E na medida em que a pessoa 
está concorrendo numa proporção exacerbada de competidores, ela abraça 
o trabalho sendo duplamente seu refém: primeiro, enquanto a única maneira 
de sobrevivência e, segundo, aproveitando as chances cada vez mais 
escassas dentro de uma competição cada vez mais desmedida. Os 
desempregados, enquanto vítimas de injunções econômicas e sociais, estão 
sendo tratados, julgados e se auto-julgam pelos critérios próprios do tempo 
em que os empregos eram abundantes. Assim, são julgados e se auto-
julgam pelas ações que caberiam a providências próprias, pessoais, quando 
a questão não é pessoal, mas conjuntural.(LISBOA, 2002) 
 
“Anualmente, um milhão e quinhentos mil jovens potencialmente 
ingressam no mercado de trabalho. Isso significa que em dez anos, quinze milhões 
de novos postos de trabalho deveriam estar disponíveis” (MATTOSO APUD 
LISBOA, 2002). 
“Em termos mundiais, de 4 bilhões de pessoas economicamente 
produtivas, temos um contingente de 1,2 bilhões de trabalhadores precarizados ou 
desempregados. Nossa sociedade desemprega e precariza um terço da força 
humana” (ANTUNES APUD LISBOA, 2002). 
 
No Brasil percebemos que três enganos são utilizados nos discursos 
conservadores, na tentativa de estimular a passividade das pessoas frente a 
esta situação: Primeiramente diz-se tratar de um problema internacional, o 
que é um engano já que no Japão, EUA e Europa observa-se uma grande 
recuperação econômica nos últimos anos. Depois a responsabilidade é 
atribuída essencialmente ao mercado de trabalho, isto é, a pessoa é 
responsável pelo desemprego, ela deve levar o sentimento de culpa e de 
vergonha de estar fora do mercado formal de trabalho. Na verdade, isto se 
deve à não priorização de políticas de emprego que nos faz assistir a um 
“jogo de cadeira”, significando que não tem havido um incremento no nível 
de educação do trabalhador, mas uma troca dos mais incompetentes 
educacionalmente pelos mais competentes. Ao contrário do que se prega, a 
sobre-oferta de trabalhadores está ligada às políticas econômicas adotadas 
e aos processos reestruturadores da Terceira Revolução Industrial. 
Finalmente a responsabilidade é atribuída aos avanços tecnológicos, 
principalmente da automação. Podemos constatar que as inovações 
tecnológicas vêm de muito tempo e já foi, em muitos momentos da história, 
mais impactante do que hoje. O arado, por exemplo, provocou na sociedade 
um impacto muito maior que o computador e a automação faz uma 
diferença, mas não justifica o desemprego (Mattoso apud Lisboa, 2002). 
 
18 
O Orientador Profissional diante da atual realidade do mundo de trabalho 
precisa questionar juntamente com o indivíduo que escolhe: Quem é esse indivíduo? 
Pode ele realmente escolher? O que ele escolhe? 
Segundo Lisboa 2002, o indivíduo que possui acesso a uma possibilidade 
de escolha é o jovem da região urbana, de classes média e alta, aluno de escola 
particular, com o objetivo de ingressar no mundo de trabalho de nível superior. 
Em função disso tudo, seria importante e bem aceita a Orientação 
Profissional para um curso profissionalizante no final do Ensino Fundamental. Os 
jovens definiriam se escolhem realizar um curso profissionalizante ou se vão 
diretamente para uma escola que prepara para o vestibular. Muitos jovens querem 
ou precisam começar a trabalhar cedo e seu momento de escolha é no final do 
primeiro ciclo de estudos. 
De acordo com a nova Lei de Diretrizes e Bases, Lisboa e Soares (2000, 
p. 26-7): “ é possível cursar o ensino médio propedêutico e fazer, um curso técnico 
profissionalizante, embora existam muitos que não estão ligados ao ensino médio e 
oferecem ao jovem uma oportunidade de profissionalização [...].” 
Para um bom trabalho de Orientação Profissional com esta clientela 
devem ser priorizados entre outros, os seguintes aspectos: 
Informação ocupacional/educacional, isto é, informar sobre as diferentes 
profissões de nível técnico e as diferentes escolas que oferecem a formação 
necessária; trabalhar a questão da escolha: o que é escolher, se é possível escolher 
com as numerosas limitações impostas pela sociedade, como construir um projeto 
de estudos em que seu sonho possa um dia ser realizado; informar sobre as 
modificações no mundo de trabalho e a valorização das profissões de ensino 
técnico, sendo essa uma deficiência muito grande no Brasil que, durante muito 
19 
tempo, não investiu recursos suficientes nessa área; trabalhar a questão do ingresso 
na faculdade, o que significa, as possibilidades de trabalho oferecidas, as verdades 
e mentiras sobre as reais possibilidades de emprego dos egressos das 
universidades. 
 
A questão da desorientação em relação à escolha da profissão é apenas 
aparentemente uma questão individual. Por detrás dessa questão, encontra-
se um conjunto muito complexo de relações econômicas, sociais, políticas e 
culturais. Não é de estranhar, portanto, que, tentando lidar com essa 
questão de uma perspectiva marcadamente individual e psicológica,tratando-a como um aspecto isolado desse conjunto de relações, sem 
conhecê-los um pouco melhor, os indivíduos se sintam perdidos, 
desorientados e sem rumo. Enquanto a Orientação Profissional abordar 
essa questão de forma fragmentada, poucas contribuições têm a oferecer 
não só aos indivíduos que se sentem desorientados, mas à compreensão 
das relações de trabalho, tal como ocorrem na sociedade brasileira. 
(Ferretti, 1992, p.107). 
 
2.1.3 A Escolha Profissional e o Projeto de Vida do Aluno 
 
O aluno do pré-vestibular que ainda não fez sua escolha profissional 
precisa ser auxiliado na construção de um projeto de vida que inclua a opção por um 
curso universitário específico, pois até mesmo as horas diárias de estudo serão 
determinadas pela relação candidato por vaga e pelo desempenho dos candidatos 
no vestibular almejado. 
 
Quando as pessoas se vêem perdidas ou desorientadas frente à escolha da 
profissão, imediatamente tendem a achar que algo está errado com elas. É 
como se fossem portadoras, ainda que transitoriamente, de uma deficiência 
ou disfunção pessoal que as impedisse de realizar suas opções ou que, 
pelo menos, as dificultasse. A realização das opções se tornaria possível 
uma vez removida esta disfunção. Usualmente esta disfunção é identificada 
como desconhecimento de si próprio (no caso, de sua vocação); como 
desconhecimento das profissões existentes, do que é exigido, do mercado, 
de oportunidades, etc; com a incapacidade de obter informações ou de 
utilizar as disponíveis; com a dificuldade para decidir-se entre várias 
profissões igualmente atraentes; com a dificuldade para identificar 
profissões percebidas como adequadas a si, às expectativas da família ou 
outras pessoas e grupos significativos para o individuo; com a dificuldade 
para compatibilizar diferentes fatores que interferem na opção (por exemplo, 
as aspirações pessoais a as oportunidades socialmente oferecidas, as 
oportunidades profissionais e as condições econômicas, etc). (Ferretti, 
1992, p.107). 
20 
O psicólogo é procurado pelos indivíduos desorientados diante da escolha 
da profissão porque acreditam que precisam descobrir qual a sua vocação. Na 
maioria das vezes a ajuda que procuram é no sentido de desvendar o mistério: o 
que eu sei fazer melhor? 
“ [...] a origem da desorientação não pode ser simplesmente colocada nos 
indivíduos, é preciso compreender que as pessoas vivem em sociedade e que o 
trabalho é uma atividade social, ainda que seja realizado por indivíduos.” 
(FERRETTI, 1992, p. 11) 
A questão da escolha profissional, assim como as dificuldades 
encontradas para fazê-la, são situações criadas pela complexidade do processo de 
produção, pela divisão social e técnica do trabalho e pelo fato da capacidade de 
trabalho de cada um (sua força de trabalho) assumir características de uma 
mercadoria como qualquer outra. Não é uma questão, apenas, de descobrir o que 
cada indivíduo faz melhor ou do que lhe dá mais prazer em realizar. 
“[...] a desorientação sentida pelas pessoas quando se defrontam com o 
problema da escolha da profissão, cria dificuldades para o individuo, e produz 
também outras formas de desorientação pessoal, como insegurança e ansiedade 
[...]” (FERRETTI, 1992, p. 11-2) 
Durante a vida o ser humano precisa tomar uma série de decisões que 
terão um impacto amplo e duradouro em sua trajetória. As decisões que atingem as 
maiores dimensões na vida do individuo são, por exemplo, casamento, separação, 
escolha da profissão, mudança de emprego. Geralmente, a escolha da profissão é a 
primeira importante escolha de nossas vidas. É na adolescência, período de grandes 
mudanças, questionamentos e consolidação da identidade que esta escolha é 
cobrada deforma mais acentuada pela sociedade. 
21 
Segundo CARVALHO ( 1995, p. 47 ) “o adolescente é o cliente por 
excelência da orientação profissional, uma vez que é nessa fase que as escolhas 
ocupacionais começam a se definir. “ 
 
Adolescência vem da palavra latina adolescere, que significa crescer, 
desenvolver-se, tornar-se jovem e pode ser definida a partir diferentes 
critérios: cronológico, desenvolvimento físico, sociológico e psicológico. 
Unindo estes critérios, a adolescência é o período da vida humana que vai 
dos 11-12 anos aos 20 -21anos, compreendendo a etapa de vida entre 
puberdade e a idade viril, cobrindo a fase na qual a sociedade deixa de ver 
uma criança no jovem e passa a conferir a este um status de adulto e um 
período de reorganização da personalidade em virtude das mudanças 
biossociais. ( NETTO apud CARVALHO,1995, p.47) 
 
Caracteriza-se, conseqüentemente, esta fase por uma busca de 
afirmação pessoal, uma busca de identidade. Segundo DREVER apud CARVALHO, 
1995, p.50: “ [...] esta fase, no dicionário de psicologia, é a condição de ser ele 
mesmo, similar em tudo o que lhe diz respeito: é a característica de persistir 
essencialmente imodificável” . 
 Mas, contraditoriamente, a adolescência é uma fase de mudanças 
corporais, psicológicas e sociais. A resultante destes opostos é a presença da 
contradição na identidade do adolescente: é a necessidade de desenvolver um 
processo de particularização, tendo consciência de sua diferença em relação a outro 
ser humano, assim como de sua semelhança: é a necessidade de mudar, 
diferenciando-se de si mesmo, ao mesmo tempo que permanecendo idêntico a si 
mesmo. A adolescência não é a única época da vida onde são encontrados 
problemas de identidade, mas é aquela em que estes se fazem sentir mais 
declarados e mais fortes. Os jovens se perguntam quem são, questionam sua 
relação com os demais, com a sociedade que os rodeia e buscam o sentido da vida. 
 
O mundo adolescente deve ser considerado como uma verdadeira estrutura 
social cujos integrantes formam uma multidão ansiosa que oscila entre dois 
pólos: a instabilidade determinada por suas mudanças psicobiológicas e a 
insegurança que lhe oferece o ambiente social e a busca de um continente 
estável que confira solidez e garantia à sua cambaleante identidade. Esta 
22 
instabilidade emocional se encontra agravada pelos momentos de confusão, 
nos quais ressurgem as incertezas a respeito das diferenciações interno-
externo, adulto-infantil, bem-mal e masculino-feminino. (GRINBERG, apud 
CARVALHO, 1995, p. 51 ) 
 
Para Carvalho (1995, p.56 ) “ [...] o adolescente tem que se apossar do 
acervo cultural para garantia de eficiência adulta. [...] a adolescência renova os usos, 
os costumes, os interesses, por efeito dos quais a sociedade se transforma. “ 
A escolha da profissão é uma necessidade e segundo Lucchiari (1993, 
p.11) “é o momento em que o jovem está buscando conhecer-se melhor [...], mas ele 
acaba fazendo a escolha possível no momento [...] e sem informações suficientes 
sobre a profissão que está escolhendo.” 
A própria definição da identidade está intimamente ligada com a escolha 
da profissão. Ao escolher uma carreira, o jovem deseja resolver muitas de suas 
angústias e dúvidas em relação ao seu futuro, não somente no plano profissional. 
Por isso, a importância de auxiliá-lo na ampliação do conhecimento que tem de si 
mesmo e do mundo para que possa fazer escolhas mais conscientes, saudáveis, 
autênticas e bem fundamentadas e desenvolver competências exigidas pelo atual 
mundo de trabalho. ( TRACTEMBERG, 2003 ) 
 
Durante a adolescência, a segurança em relação à carreira reflete um maior 
engajamento na procura da identidade vocacional e uma consideração mais 
ativa de valores de trabalho. Um dos primeiros desenvolvimentos na 
adolescência é a exploração e formação da identidade vocacional. 
Dificuldades na escolha da carreira podem estar relacionadas com uma 
baixa clareza dos valores de trabalho e um componente para umaboa 
escolha de carreira pode ser explorar e escolher uma ocupação que 
coincida com seu mais importante valor de trabalho. Ou seja, uma boa 
decisão de carreira depende, em parte, da clareza de um valor de trabalho. 
Aqueles que expressam alta ou moderada certeza de carreira também 
expressam grandes preferências para humano-pessoal, poder-controle e 
dinheiro-segurança como valores de trabalho. A base é o adolescente ter 
um plano de carreira na mente e uma noção de como proceder este plano. 
23 
Este plano de carreira não precisa estar formado e escolhido, mas já serve 
de orientação. (SCHULENBERG et al, p.268-284) 
 
Os jovens preocupam-se e desejam realizar-se profissionalmente numa 
sociedade onde é visível a redução do trabalho e onde a imagem que os pais podem 
estar passando para seus filhos é de que o trabalho é sinônimo de cansaço e pouco 
rendimento e não como fonte de prazer e criatividade. Ao escolher o adolescente 
opta em deixar algumas coisas suas para traz e prioriza outras, mas esta convicção 
é fortalecida pelo seu auto-conhecimento adquirido principalmente a partir de suas 
experiências com a família. 
Uma carreira profissional não pode ser conflitante com características 
pessoais nem com a vida particular. Orientar para uma carreira profissional é a 
mesma coisa que orientar um planejamento de vida. Na verdade orienta-se para 
varias ‘carreiras’, no plural mesmo, porque envolve uma multiplicidade de papéis (de 
bons pais, bons maridos, bons cidadãos, etc) E que características devemos analisar 
e orientar e que sirvam de base a todas estas carreiras? Neste mundo em transição, 
o que predomina é a imprevisibilidade. Temas como tecnologia, produtividade, 
qualidade, preços, rapidez, inovação, flexibilidade, estão sempre presentes e 
pressionando a realidade. As características demandadas dos profissionais – para 
as suas carreiras – vão além de competências técnicas ou acadêmicas, apesar da 
importância destas. 
De acordo com os últimos dados do IBGE apenas cerca de 5% dos 
vestibulandos estão absolutamente certos da carreira escolhida no momento de se 
inscrever para as provas de vestibular. Dos cerca de 500.000 estudantes que 
ingressam nas faculdades a cada ano, 48% desistem do curso posteriormente. 
Chega a 85% o número de estudantes a abandonar o primeiro curso superior que 
24 
escolheu. Podemos supor que grande parte dessa evasão deve-se ao fato de que as 
escolhas não foram adequadas e geraram insatisfação. 
Reconhecidas às condições e o contexto geral no qual o individuo está 
inserido, podemos supor que o indivíduo saudável é aquele que tem condições de 
se auto-regular e também influir sobre os demais de forma reguladora, interativa e 
cooperativa. Uma pessoa em desenvolvimento contínuo será capaz de influenciar o 
seu próprio desenvolvimento e também do seu meio.O processo de orientação é um 
considerável fator de ajuda e tem por objetivo catalisar e aprimorar tal 
desenvolvimento. 
Os impactos positivos da orientação profissional baseiam-se na empatia 
do facilitador e na sua habilidade de participar das experiências vitais do orientando, 
ajudando-o a crer em seu potencial e a buscar a excelência na vida profissional. A 
Orientação Profissional é um processo de busca de excelência e de humanização e 
para que ocorra é decisivo que a energia social e o processo dinâmico oferecidos 
sejam adequados, construtivos e ricos de significado. 
Um comportamento facilitador por parte do orientador inclui estar atento 
aos aspectos do processo do individuo; considerar que não há escolhas certas ou 
erradas, o que existe são escolhas mais ou menos maduras e adequadas. O 
facilitador deve apresentar-se como um ser humano com atitudes e sentimentos, 
além de estimular habilidades, de sinalizar, comunicar e induzir abertura para o 
contato com novas experiências e opiniões. Deve, ainda, estar atento para corrigir 
percepções, pensamentos e afetos; estar atento aos aspectos construtivos e 
criativos da personalidade do orientando e ajudá-lo na avaliação de suas alternativas 
e perspectivas para o futuro. Considerando-se que o objetivo primeiro do trabalho de 
Orientação Profissional é a excelência e a plenitude de viver de cada um, não se 
25 
concebe que este não seja um ato de prazer e bem estar para todos os envolvidos. 
Apesar das características singulares, o indivíduo carrega de forma intensa a 
influência de seus relacionamentos e de suas circunstâncias, por isso, o orientador 
deve também proporcionar situações pessoais e grupais construtivas para que o 
indivíduo possa abrir-se a novas experiências e potencialidades. 
 Não podemos esquecer que os jovens orientandos têm potenciais que 
extrapolam em muito a nossa capacidade de ajudá-los. Se, como Orientadores 
Profissionais, somos necessários, é porque durante toda a vida das pessoas estas 
potencialidades vão sendo inibidas e sutilmente substituídas pela sensação de 
impotência e fracasso. Nosso trabalho é de resgate do humano, da altivez e da auto-
confiança, resgate da capacidade de projetar-se no futuro em busca de uma vida 
ocupacional mais plena e, finalmente, resgate da capacidade de escolher o que é 
melhor pra si. 
Enquanto existirem jovens que chegam ao 3º ano do ensino médio, ou 
pior, ao cursinho pré-vestibular, desconhecendo aspectos básicos de si mesmos e 
do mundo profissional, pensando que Engenharia de Alimentos e Nutrição são a 
mesma atividade, ou ainda, acreditando poder fazer Direito, Farmácia e 
Administração ao mesmo tempo, não poderemos esperar por decisões motivadoras, 
responsáveis e ajustadas. O papel do Orientador Profissional tem que ser 
necessariamente ativo e as propostas de intervenção devem sempre priorizar o 
conhecimento que a pessoa deve ter de si mesma e a informação profissional deste 
processo decisório. 
Quando a disponibilidade pessoal excede uma função de trabalho e 
abraça uma causa poderemos sempre acreditar que o ser humano pode ser feliz em 
sua vida ocupacional. 
26 
2.2 Metodologia 
 
Inicialmente realizou-se um levantamento de cadastros existentes, que 
diziam respeito aos alunos do curso pré-vestibular semi-intensivo, que requisitaram o 
serviço de Orientação Profissional. Havia três turmas de pré-vestibular semi- 
intensivo, uma no período vespertino e duas no período noturno, cada uma com 90 
alunos. Procuraram o serviço de Orientação Profissional 11 alunos do pré-vestibular 
vespertino e 16 alunos do pré-vestibular noturno. Dos 27 alunos cadastrados, 
apenas 10 não sabiam para qual curso prestariam vestibular quando se 
matricularam no cursinho. Os demais já haviam feito sua escolha, mas procuraram o 
serviço de Orientação Profissional para “confirmação” da mesma através de teste 
vocacional. Alguns alunos recorreram à psicóloga por outras razões, que não tinham 
a ver com indecisão vocacional. Dos 10 alunos cadastrados, 6 concordaram com a 
entrevista. 
Num segundo momento, agendou-se horários com os alunos que se 
disponibilizaram e fez-se uma entrevista dirigida. 
Optou-se pela pesquisa qualitativa, com entrevista individual, semi-
estruturada, para coleta de dados. A construção deste instrumento foi fundamentada 
nos seguintes aspectos: literatura, reflexões sobre as atividades desenvolvidas no 
Serviço de Orientação Profissional do Curso e Colégio Energia e entrevistas 
informais com adolescentes pré-vestibulandos. A aplicação do roteiro de entrevista 
teve uma duração média de 45 minutos. As entrevistas foram anotadas pela 
pesquisadora em tempo real. 
Na prática, as primeiras perguntas da entrevista iniciavam uma conversa 
informal que propiciava uma narrativa espontânea por parte do entrevistado. As 
intervençõesda pesquisadora respeitavam o encadeamento do discurso dos sujeitos 
27 
e ocorreram de modo específico em cada caso. A pesquisadora intervinha através 
da solicitação de esclarecimentos adicionais e através da pontuação de contrastes 
entre aspectos da narrativa. Este procedimento permitiu a manifestação de 
conteúdos experienciais não previstos inicialmente, mas que se mostraram 
relevantes na experiência dos sujeitos. 
As perguntas da entrevista abordaram o perfil, o autoconceito, o estilo de 
tomada de decisão e o projeto de vida dos sujeitos. Fez-se também a exploração 
das alternativas levantadas como hipóteses. 
Fez-se a apresentação da pesquisa da seguinte forma: “Esta é uma 
pesquisa sobre a opção de fazer um curso pré-vestibular sem saber para qual curso 
prestará vestibular. A entrevista será registrada neste caderno. Será mantido sigilo 
absoluto sobre o seu depoimento.Tem alguma coisa a mais que você gostaria de 
saber?” 
A seguir a entrevista dividida em tópicos ou categorias temáticas (o roteiro 
original está em anexo): 
 
A) Perfil do Jovem 
 
1. Idade 
2. Formação Escolar 
3. Estudou em escola pública ou particular? 
4. Defina seu histórico escolar do Ensino Médio. 
5. Ano de conclusão do Ensino Médio 
6. Prestou vestibular anteriormente? 
 6.1.Quando? 
28 
 6.2.Quantos? 
 6.3. Para qual (is) curso (s)? 
7. Como foi seu desempenho neste (s) vestibular (es)? 
8. Recebeu algum tipo de orientação profissional anteriormente? O que 
achou? 
9. O que fez no período entre seu último vestibular e o início do curso pré-
vestibular? 
10. Você trabalha? 
11.Qual é o seu trabalho? 
12. Quem paga suas despesas com o pré-vestibular? 
13.Quantas horas dedica ao estudo diariamente? 
 
 
B) Auto-conceito (características psicológicas) 
 
1.Defina seu histórico escolar do Ensino Médio 
2.Como foi seu desempenho nos vestibulares anteriores? 
3.Como se sentiu ao saber de sua reprovação no (s) vestibular (es) 
realizados? 
4.Sente-se mais preparado agora do que no período que antecedeu seu 
(s) outro (s) vestibular (es)? 
5.Como está se sentindo como aluno do cursinho na eminência de prestar 
vestibular? 
 
 
29 
C) Estilo de tomada de decisão 
 
1.Pretende fazer vestibular para este (s) mesmo (s) cursos? (Esta 
pergunta vem na seqüência da pergunta “ Prestou vestibular 
anteriormente?Quando? Quantos? Para qual (is)? Cursos?) 
2.Como ficou sabendo da existência do pré-vestibular? 
3.Por que escolheu este curso pré-vestibular especificamente? 
4.Como sua família viu a decisão de fazer o pré-vestibular? 
5.Tem amigos que estudaram com você no Ensino Médio fazendo o pré-
vestibular? 
 5.1. Em caso afirmativo, a decisão de fazer o pré-vestibular foi tomada 
em comum acordo com este (s) colega (s)? 
 
 
D) Projeto de vida 
 
1.Tem certeza que quer prestar vestibular e iniciar a faculdade neste 
momento de sua vida? Por que? 
2.Se não passar neste vestibular, quais são seus planos? 
3.O que estaria fazendo se não fizesse o curso pré-vestibular? 
4.Por qual curso optou? 
5.Para quais faculdades você se inscreveu? 
 
E) Exploração de alternativas 
 
30 
 
1. Por que se matriculou no cursinho se não sabia para qual curso 
prestaria vestibular? 
2.Como e quando você pensava que resolveria a questão da escolha por 
um curso universitário? 
3.O que achou do trabalho de orientação profissional oferecido por este 
curso pré-vestibular? 
 
F) Você gostaria de acrescentar alguma coisa ao que já conversamos? 
 
 A entrevista prosseguiu conforme a disponibilidade do sujeito em 
continuar seu depoimento sobre o tema da pesquisa. Por fim, a pesquisadora 
agradeceu a colaboração e encerrou a entrevista.
Os dados obtidos foram analisados através do método análise de 
conteúdo. A análise de conteúdo, segundo MORAES 1999, constitui uma 
metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar conteúdos, que ajuda a 
reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num 
nível que vai além de uma leitura comum. O processo de analise de conteúdo divide-
se em etapas, destacando-se a categorização, a descrição e a interpretação como 
etapas essenciais dessa metodologia de análise. Para análise, as respostas obtidas 
nesta pesquisa foram classificadas em seis categorias temáticas, sendo elas, Perfil 
do Jovem, Auto-Conceito, Estilo de Tomada de Decisão, Projeto de Vida e 
Exploração de Alternativas. 
 
 
 
31 
 
2.3 Apresentação, análise e discussão dos resultados 
 
O trecho a seguir é um recorte de um dos momentos de um depoimento: 
 __ Pesquisadora: “Defina seu histórico escolar do Ensino Médio”. 
 __ S3: “Huumm... Nunca fiquei em recuperação no final do ano. Minhas 
notas sempre foram na média ou acima da média. Fui uma boa aluna”. 
Tomando-se este trecho como uma descrição, pode-se identificar dois 
temas: perfil do jovem e manifestação espontânea de auto-conceito. Note-se que 
estas categorias temáticas estavam previstas no roteiro de entrevista, embora o 
tema auto-conceito não tenha sido abordado diretamente por intervenção da 
pesquisadora. Atendendo a solicitação da pesquisadora o sujeito definiu seu 
histórico escolar falando de suas notas, mas foi além e atribuiu a si mesmo o 
conceito de bom aluno. 
Os depoimentos obtidos através das entrevistas foram numerados e os 
sujeitos identificados por códigos S1, S2, S3, S4, S5, S6, de acordo com a ordem 
em que foram realizadas as entrevistas. 
Os procedimentos de análise foram orientados por três passos que 
constituem a Análise de Conteúdo: categorização, descrição e interpretação. As 
transcrições das entrevistas constituem a descrição da experiência de fazer o pré-
vestibular sem ter escolhido a profissão. O roteiro de tópicos (categorias temáticas) 
facilitou a recorrência de experiências similares nos depoimentos coletados. Porém, 
o aparecimento de temas ocorreu em diversos momentos do discurso, alheios a 
qualquer estímulo da pesquisadora. Sendo assim, os tópicos do roteiro apenas 
focalizaram a atenção dos sujeitos para aspectos já emergentes de suas narrativas, 
visando explorá-los mais detalhadamente. 
32 
 
2.3.1 Perfil do Jovem 
 
O tema Perfil do Jovem estava previsto no roteiro de entrevista e as 
perguntas relacionadas a ele tinham o objetivo de encontrar características que 
pudessem explicar porque faziam o pré-vestibular sem saber o que fazer no 
vestibular. 
Os jovens entrevistados tinham entre 17 e 25 anos, ensino médio 
concluído ou no ano de conclusão. Todos estudaram em escola pública pelo menos 
em um período de estudos. No histórico escolar do ensino médio, notas na média ou 
acima da média segundo suas definições, com exceção do S4 que atribuiu suas 
dificuldades no ensino médio à falta de estudo. 
 S4: “Sempre tive dificuldades em Física e Química. Agora que eu vejo 
que era falta de estudo”. 
Os sujeitos com o ensino médio concluído já haviam realizado vestibular 
anteriormente. Os sujeitos cursando o terceiro ano do ensino médio ainda não 
haviam prestado vestibular, nem a título de experiência, com exceção do S1. 
 S1: “Sim. (Já prestou vestibular.) Fiz em junho de 2003. Foi para 
Odontologia na Univali.” 
O desempenho no (s) vestibular (es) anterior (es) foi considerado ruim por 
todos os sujeitos entrevistados que o (s) realizaram. 
Apenas um dos jovens entrevistados recebeu orientação profissional 
anteriormente sendo que, para os demais, este foi o primeiro contato com uma 
Orientadora Profissional. O sujeito que recebera orientação profissional fez o terceiro 
ano do ensinomédio no Colégio Energia: 
33 
 
 S5: “A orientação profissional foi legal. Eu tinha queda por várias 
profissões, era uma coisa muito ampla. Ajudou porque foi delimitando. Se não fosse 
a orientação profissional do Colégio Energia teria sido muito pior pra escolher”. 
No período entre o vestibular e o cursinho os sujeitos trabalharam e/ou 
estudaram. 
Três sujeitos trabalham concomitantemente ao cursinho pré-vestibular, 
dois deles no próprio colégio, um como operador de copiadora e outro como fiscal de 
provas e de corredores. Os sujeitos que trabalham custeavam suas despesas com o 
pré-vestibular. Os pais dos sujeitos que não trabalham custeavam as despesas de 
seus filhos com o pré-vestibular. 
Os sujeitos afirmaram que estudam de 1h e 30min à 3:00h todos os dias, 
sem incluir o tempo de cursinho. 
 
2.3.2 Auto – Conceito 
 
O discurso dos sujeitos mais confiantes trouxe auto-descrições 
espontâneas que avaliavam seu desempenho no ensino médio e no vestibular. 
Estes sujeitos falaram com naturalidade sobre os sentimentos relativos ao fracasso 
no vestibular anterior e sobre os sentimentos atuais, advindos da proximidade do 
atual vestibular. 
Os entrevistados consideraram-se bons alunos no ensino médio. No 
entanto, questionados sobre o desempenho no vestibular mostraram-se insatisfeitos, 
não apenas com o resultado que se traduziu na reprovação, mas com o 
desempenho propriamente dito. 
 
34 
 
S1: “Eu fiquei mal quando vi o meu desempenho, achei que tinha ido 
melhor em algumas matérias. Eu fui mal nas matérias que tinha mais facilidade. 
Fiquei pior quando vi o desempenho do que quando soube que não tinha passado.” 
Ao saber da reprovação os entrevistados disseram que se sentiram mal, 
porém nos casos em que a expectativa da aprovação era menor a decepção 
também foi menor. 
S3: “Já esperava. Também não tinha tanta vontade de passar. Não foi 
uma grande decepção pra mim. Foi uma decepçãozinha...” 
Uma das entrevistadas que prestara mais de um vestibular relatou o 
seguinte: 
S5: “Como eu disse, no terceirão eu suportei. Mas, depois de me preparar 
durante um ano todo especialmente pra passar no vestibular, não passar!(refere-se 
ao vestibular realizado depois de um pré-vestibular extensivo com duração de um 
ano)... Ah, eu quase pirei!” 
Todos os entrevistados alegaram estar mais confiantes e seguros agora 
do que no período que antecedeu seu (s) outro (s) vestibular (es): 
S1: “Tô vendo que tem coisas que quando eu fiz vestibular eu nem sabia. 
To com uma noção dos conteúdos bem melhor do que a que eu tinha antes. O 
cursinho me ajudou tanto na parte de conteúdo quanto na animação pra fazer um 
vestibular.” 
S3: “Me sinto bem mais preparado. Mesmo sabendo que o vestibular que 
vou fazer agora é mais difícil.” 
S4: ”Acho que o cursinho está me ajudando, os professores explicam de 
forma clara, dão macetes que facilitam. Se eu já to com medo de não passar 
fazendo cursinho, imagina se não estivesse fazendo.” 
35 
 
Os entrevistados consideram-se ansiosos com a aproximação da data do 
vestibular. Alguns relatam sintomas físicos: 
S1: “Sinto muita dor de cabeça...Mas, não fico nervosa, porque sei que 
não é o fim do mundo. Mas, a minha mãe diz que essa dor de cabeça que tenho 
direto, só pode ser preocupação.” 
S2: “Meio nervosa, preocupada. Tenho medo de esquecer tudo, de ficar 
nervosa de não atinar coisa com coisa, de não conseguir resolve as questões...Ai! 
Nervosa! Ainda quero me preparar bem mais. O tempo que falta pro vestibular vai 
ser bom pra eu aprender bem mais...” 
S3: “Tô tranqüilo. Sei que tem bastante coisa ainda pra eu assimilar e a 
coisa vai apertar daqui pra frente... Mas eu to tranqüilo daquilo que eu quero.” 
A queixa deste entrevistado ao procurar o serviço de orientação 
profissional era nervosismo e insegurança. Pediu que eu lhe indicasse um livro, um 
método ou uma técnica que lhe diminuísse o nervosismo e lhe garantisse aprovação 
no vestibular. Não se passou muito tempo entre as sessões de orientação 
profissional e a entrevista para esta pesquisa, o que leva a supor que sua 
insegurança diminuiu ou que preferiu não falar da mesma com a pesquisadora. 
S4: “Ai... Ansiosa, nervosa, não consigo dormir direito. Estou preocupada 
em estudar e não consigo estudar direito. Tenho muito medo de não passar. Fico 
triste se não entendo alguma coisa. Gosto de resolver todos os exercícios da 
apostila e, às vezes, não dá.” 
S5: “Tô na expectativa. Me sinto preparada. No primeiro vestibular pra 
Ufsc fiz 71pontos. No segundo fiz 78. Dessa vez acho que vai dar!” 
Questionada sobre o que significava estar na expectativa, respondeu que 
era sentir-se ansiosa. 
36 
 
S6: “Tô bastante nervoso. Sinto muita ansiedade, fico pensando se vou 
passar ou não. Fácil eu sei que não vai ser. Mas o que eu tinha que estudar e me 
preparar, já me preparei. Às vezes vejo colegas que resolvem uma questão 
rapidamente e me comparo com eles. O que me preocupa é a competição, sei que 
tem uns caras melhores que eu, tenho medo de que meu esforço seja em vão.” 
Baseando-se nestas falas, constata-se que além do sofrimento típico 
gerado pela expectativa do vestibular, quando o auto-conceito do sujeito em relação 
ao seu desempenho é ruim, ele sofre ainda mais podendo, inclusive, somatizar esse 
sofrimento e apresentar sintomas físicos como dor de cabeça e insônia. 
 
2.3.3 Estilo de Tomada de Decisão 
 
Todos os sujeitos entrevistados que já haviam feito vestibular 
anteriormente disseram que tentariam novamente para os mesmos cursos. Porém 
os que prestarão vestibular para mais de uma universidade escolheram diferentes 
cursos. 
Questionados sobre como ficaram sabendo da existência do pré-
vestibular responderam de diferentes maneiras, sendo importante relatar as 
respostas pela relevância das mesmas para a pesquisa: 
S1: “Meus colegas comentavam. Tem gente que não pode estudar em 
escola particular, mas quando decide fazer vestibular sabe que tem que se preparar, 
se não...” 
S2: “Meu namorado fez cursinho e me recomendava fazer também. Os 
meus colegas de classe também falavam sobre fazer cursinho”. 
37 
 
S3: “Fiz o cursinho Gabarito e vários professores do Energia davam aula 
lá. Eles falavam pra gente do Energia. Pelas propagandas a gente via que cursinho 
era bom.” 
S4: “Quando eu tava no terceirão uma equipe do Energia passou no meu 
colégio pra fazer divulgação do simulado externo. Eu fiz o simulado e conheci o 
colégio no dia do simulado. O pai também já tinha ouvido falar que o Energia era 
melhor que os outros. 
S5: “Porque eu já estudava no Energia. Até já via o terceirão como um 
pré-vestibular. Mas decidi fazer o extensivo porque sabia que seria diferente do 
terceirão, não teria aquelas provas todas, aquele dia a dia puxado do terceiro ano. 
Também fiquei porque já conhecia o colégio, os professores, o sistema do Energia. 
Nem pensei em fazer em outro lugar. Na cidade, o Energia é considerado o melhor 
pré-vestibular mesmo. 
S6: “Eu ouvia conversas no ônibus que levava alunos do CIS, SATC e do 
Colegião. Eles diziam que pra passar mesmo tinha que fazer o pré-vestibular. Meu 
primo trabalhava no colégio e falava que era importante fazer cursinho pra passar no 
vestibular.” 
Questionados porque a escolha deste pré-vestibular, especificamente, 
responderam: 
S1: “Sempre que pensava em cursinho pensava no Energia, já tinha em 
mente Energia. Acho que por causa do comerciais que passavam na TV. Meus 
primos também já tinham feito cursinho no Energia e falavam super bem daqui.” 
S2: “Eu via as propagandas na televisão... Parecia que os professores 
eram mais interessados.A propaganda me ajudou a decidir pelo Energia, mas eu 
vim mesmo pela propaganda que meu namorado fez...” 
38 
 
S3: “Por que já conhecia os professores e sabia que eram gente boa. 
Pela propaganda também... Dava pra ver que preparava melhor.” 
S4: “Meu pai que escolheu porque achou que era o melhor e até aceitou 
pagar mais caro pra eu estudar aqui. Tem cursinho que é mais barato...” 
S6: “Eu conhecia duas pessoas que faziam cursinho no Dimensão e uma 
pessoa que fazia no Universitário, e eu sabia que o material e os professores não 
era tão bons quanto os daqui. Os professores do Energia são os melhores, e eu 
consegui unir o útil ao agradável porque consegui um trabalho no Energia e ganhei 
uma bolsa pra fazer o cursinho.” 
A família dos entrevistados apoiou a decisão dos mesmos em fazer o pré-
vestibular, mas as respostas indicam que a motivação inicial partiu dos mesmos: 
S1: “A minha mãe sempre falou pra eu fazer cursinho no Energia porque 
meus primos já tinham feito. Ela só se preocupou um pouco com o excesso de 
estudos por causa do terceirão ser junto com o cursinho. Mas eu falei que 
agüentava. 
S2: “Minha mãe sempre me apoiou porque quer que eu passe pra 
Federal. Agora, o que ela mais quer é que minha irmã que tem 14 anos também 
tenha a oportunidade de se preparar, como eu estou tendo”. 
S3: “Minha mãe apoiou. Meu pai já faleceu. Só que nem minha mãe, nem 
minhas irmãs sabem que eu vou fazer vestibular pra Medicina. Não quero que ela 
fiquem esperando uma coisa que pode não dar certo. No começo minha mãe 
questionou se valeria a pena eu estudar, fazer vestibular, mas quando ela viu que 
era o que eu queria mesmo ela aceitou.” 
S4: “Foi o meu pai que me incentivou e a minha mãe apoiou”. 
39 
 
S5: “A minha mãe apoiou porque ela confia nas minhas decisões. E ela 
acredita que Deus me guia.” 
S6: “Minha mãe achou ótimo, diz que era o sonho dela ver o filho fazendo 
uma faculdade e vivendo bem. Meu pai não me apoiou, parece que pro pai tanto faz 
como tanto fez. Ele me diz que os cursos técnicos já eram suficientes. Mas eu não 
quero viver com a mão suja de graxa pro resto da vida. “ 
Os entrevistados responderam que não têm amigo(s) na sala de pré-
vestibular com o(s) qual (is) estudou anteriormente, fato que refuta a hipótese de que 
poderiam ter feito a matrícula no pré-vestibular influenciados ou persuadidos por 
amigos que estavam decididos a fazer o pré-vestibular. 
2.3.4 Projeto de Vida 
 
Todos os entrevistados responderam que desejam iniciar a faculdade 
neste momento de suas vidas, denotando não haver dúvidas quanto a esta questão 
em seus projetos de vida. A dúvida reside em qual seria a melhor faculdade. Na 
verdade fazer o cursinho pré-vestibular significa dar um primeiro passo em direção a 
faculdade, mesmo sem saber qual faculdade cursará. 
Os planos dos entrevistados no caso de não passarem no vestibular 
variam conforme a situação existencial do entrevistado, mas em um aspecto todos 
concordam; darão continuidade ao projeto de profissionalização e de busca da 
independência: 
S1: “Se não passar no vestibular faço outro cursinho e tento de novo. Se 
eu não passar vou fazer o extensivo e tentar vestibular pra UFSC no final do ano 
que vem”. 
40 
 
S2: “Vou tentar novamente. Se eu não passar de novo, aí eu vou 
trabalhar, fazer um curso técnico e me especializar em alguma coisa na área da 
saúde pra ter minha independência.” 
S3: “Vou tentar de novo!” 
S4: “...Tentaria novamente até passar. Mas não sei se faria outro 
cursinho. Isso é o pai que decide.” 
S5: “Sei que tenho potencial. Acredito que nesse ano vai dar certo. Estou 
mais preparada do que nos outros anos em relação aos conteúdos e também em 
segurança”. 
S6: “Enfrentar outro cursinho e passar da próxima vez. Não é porque 
perdi uma batalha que vou desistir da guerra.” 
Se não estivessem fazendo o curso pré-vestibular os entrevistados 
estariam estudando por conta própria e/ou trabalhando. Nenhum dos entrevistados 
que trabalhavam deixou de trabalhar para estudar. Os que trabalhavam conciliaram 
estudo e trabalho. 
Embora tenham feito a matrícula no pré-vestibular sem saber para qual 
curso prestariam vestibular e, tenham buscado o serviço de orientação profissional 
para auxiliá-los nessa tomada de decisão, no período em que as entrevistas foram 
realizadas todos já haviam feito sua escolha profissional, pois as inscrições para o 
vestibular de algumas faculdades iniciaram logo após o inicio das aulas do referido 
pré-vestibular. Os cursos escolhidos foram: 
S1: “Odontologia na UNIVALI, Jornalismo na UFSC, Medicina na UNESC 
e Administração na FASC”. 
S2: “Farmácia na UNISUL e UFSC”. 
S3: “Medicina na UNESC e na UDESC”. 
41 
 
S4: “Nutrição na UNESC e na UFSC”. 
S5: “Direito na UFSC e Medicina na URGS”. 
S6: “Matemática na UFSC”. 
Baseando-se nestas respostas, pode-se afirmar que S1 e S5 continuam 
indecisos quanto à profissão. É importante salientar que mesmo indecisos fizeram 
suas inscrições para os referidos vestibulares. 
 
2.3.5 Exploração de Alternativas 
 
As respostas para a pergunta “Por que matriculou-se no cursinho se não 
sabia para qual curso prestaria vestibular”? foram as seguintes: 
S1: “Eu me matriculei no cursinho pensando que independente do que eu 
fosse fazer no vestibular eu queria estar preparada. Queria melhorar meu 
desempenho, aprender mais coisas, me preparar melhor... Então nem fiquei 
preocupada, eu sabia que ia dar um jeito de escolher um curso pra prestar 
vestibular...” 
S2: “Nem sei... Acho que pensava que na hora certa a decidir. Pensava 
não! Eu sabia que ia decidir... Uma das possibilidades era Medicina. Depois vi que 
não era pra mim. Medicina vai ficar pra depois, quando eu já tiver feito Farmácia.O 
que eu sabia mesmo é que seria alguma coisa ligada a área da saúde”. 
S3: “Não pensei nisso. Só pensava no passo que tava dando, de começar 
um cursinho. Deixei rolar”. 
S4: “Eu não me preocupava com isso. Não me importava com o curso que 
iria fazer eu só sabia que queria fazer e fiz”. 
42 
 
S5: “Qualquer curso que eu decidisse fazer daria o melhor de mim pra me 
preparar. Faço o cursinho pra melhorar, pra aprender mais do que já sei, 
independente do curso pro qual farei vestibular.” 
S6: “No segundo grau eu gostava de Matemática e já pensava em fazer 
faculdade de Matemática assim que tivesse uma chance. Quando me matriculei no 
cursinho, já tinha essa idéia na mente.” 
Os sujeitos consideraram valioso o trabalho de orientação profissional 
oferecido pelo pré-vestibular. Nenhum deles, no entanto, ao efetuar sua matrícula no 
pré-vestibular semi-intensivo, esperava resolver a questão da indecisão profissional 
através deste serviço. No ato da matrícula, é procedimento padrão questionar o 
aluno sobre o curso que escolheu para prestar vestibular. Para os que ainda não 
escolheram, comunica-se a existência de uma psicóloga no colégio com a função de 
Orientadora Profissional. Este fato fez a pesquisadora considerar que o aluno 
poderia responder a pergunta anterior dizendo que contava com o auxílio do Serviço 
de Orientação Profissional. Mas esta hipótese foi refutada como podemos observar 
através das respostas anteriores. 
A descrição dos depoimentos dos sujeitos em forma de categorias 
temáticas destacaram tipologias experiências do processo de opção pelo pré-
vestibular na condição de indeciso quanto à profissão. As categorias definiram uma 
estrutura de referencia abrangente para a descrição dos comportamentos relativos a 
opção pelo pré-vestibular A redução destas categorias em seus constituintes 
essenciais, ou seja, o que está sempre presente e inter-relacionatodas elas, aponta 
para o fato de que os sujeitos decidiram ingressar na universidade e ascender social 
e profissionalmente, independentemente da profissão a ser seguida. 
43 
 
 Os indivíduos são jovens entre 17 e 25 anos, com ensino médio 
completo ou cursando o ultimo ano.Todos estudaram em escola publica pelo menos 
em um período de suas vidas.Os indivíduos que trabalham custeiam suas despesas 
do pré-vestibular (S3, S5, S6).Os indivíduos que tem suas despesas custeadas 
pelos pais não trabalham e receberam incentivos e apoio para cursarem o pré-
vestibular. Este dado revela o desejo dos pais de realizarem seu projeto de vida 
através dos filhos (S1, S2, S4). 
Indivíduos advindos de escolas públicas, com um auto-conceito bom em 
relação ao desempenho no ensino médio expressam a necessidade de se preparar 
melhor, aprender mais, ter mais conhecimento. Caracterizam-se por uma atitude 
otimista de acreditar que conseguirão capacitar-se e conseguir num curto período de 
tempo (um semestre) colocarem-se em pé de igualdade com jovens em melhores 
condições que as suas de serem aprovados no vestibular.(S1, S2,S3,S4,S5,S6) 
 Observa-se a falta de uma orientação auto-perceptiva que produz 
dificuldades para expressar um projeto de vida amplo e abrangente, ficando restritos 
a busca de independência financeira através do curso superior. Por outro lado 
associam diretamente o pré-vestibular como etapa indispensável no caminho à 
universidade (S1,S2,S3,S4,S5,S6). 
Predomina a ausência da percepção do contexto sócio-econômico como 
gerador das dificuldades para ingressar na universidade. O individuo que admitiu ter 
tido dificuldades no ensino médio foi logo assumindo a responsabilidade por tal 
dificuldade, atribuindo a mesma a sua falta de estudo. Outro sujeito que cursou as 
quatro séries iniciais em escola pública e concluiu as demais séries do ensino 
fundamental e médio no supletivo atribuiu seu fracasso no vestibular anterior ao fato 
de não ter “levado a sério”. (S4 e S3). Os demais definem-se como alunos na (ou 
44 
 
acima da) média, porém despreparados para realizar o vestibular com êxito (S1, S2, 
S5, S6). 
Todos os indivíduos conversam com os pais a respeito de sua decisão por 
um curso pré-vestibular, recebendo incentivo, sugestão e apoio. Contudo mesmo 
levando em consideração as opiniões dos pais, não se mostram influenciáveis a 
eles. Mantêm uma postura autônoma na percepção e avaliação dos fatores que 
consideram relevantes a decisão de cursar o pré-vestibular. No entanto, a opinião de 
colegas de aula, namorado e parentes é altamente considerada. Da mesma forma 
as mensagens repassadas pelas propagandas veiculadas nos meios de 
comunicação influenciam na decisão de cursar este pré-vestibular especificamente 
(S1, S2, S3, S4, S5, S6). 
Os sujeitos elaboraram argumentos e critérios justificando sua opção pelo 
pré-vestibular na condição de indeciso quanto à profissão, tais como melhorar o 
desempenho, se preparar melhor, dar o primeiro passo em direção a universidade e 
adquirir mais conhecimentos (S1, S2, S3, S4, S5, S6 ). 
A redução definiu a opção dos sujeitos por um pré-vestibular na condição 
de indeciso quanto à profissão, como o primeiro passo em direção a universidade, 
anterior à reflexão sobre o projeto de vida. Na opção pelo pré-vestibular na condição 
acima descrita, ocorre a queima de uma das etapas do processo reflexivo inerente a 
escolha profissional. Deste modo, embora os sujeitos tenham a consciência da 
necessidade da reflexão sobre a escolha profissional, adiam a solução desse 
problema, ou seja, diante da dificuldade em fazer sua escolha optam pelo pré-
vestibular como alternativa para acelerar sua decisão de cursar uma faculdade. 
Na decisão pelo pré-vestibular, os sujeitos focalizam o si mesmo e o 
ambiente na busca de informações relevantes. Deste modo, possibilitam a 
45 
 
elaboração de auto-conceitos vocacionais, conhecimento de informações relevantes 
e a transformação de um auto-conceito vocacional em uma preferência vocacional. 
A autonomia para tomar decisões não exclui a aceitação de orientações e 
conselhos advindos dos pais, parentes, colegas, namorado e das propagandas 
veiculadas nos meios de comunicação. 
A interpretação das experiências de alunos cursando o pré-vestibular 
semi-intensivo em dúvida quanto à profissão, confirma um volume significativo de 
pesquisas e teorias sobre a influência da sociedade e da família sobre os 
adolescentes (LUCCHIARI, 1993; FERRETTI, 1992; SOARES, 2002; BIANCHETTI, 
1996; CARVALHO, 1995). De acordo com estes estudos, os adolescentes em 
processo de tomada de decisão recebem influência da família, sociedade e dos 
meios de comunicação em massa. 
Colegas, namorado (a), parentes, professores, marketing influenciam o 
jovem na decisão de cursar um pré-vestibular. Como sugerido pela literatura 
(SOARES, 2002), fatores políticos, econômicos, sociais, educacionais, familiares e 
psicológicos entre tantos outros, determinam a escolha dos indivíduos. 
No presente estudo, o conjunto dos depoimentos confirmou a tendência 
(BIANCHETTI, 1996) dos jovens advindos de escola pública buscarem os cursinhos 
pelo tipo de exigências que a Universidade faz e pelo fato de primeiros e segundos 
graus das escolas da rede pública de ensino não estarem desempenhando seus 
verdadeiros papéis. Confirmando o que nos apresenta BIANCHETTI, 1996 a pouca 
atenção destinada ao ensino médio reflete-se diretamente na dificuldade dos jovens 
em obter sucesso no processo de seleção e ingresso na universidade. O mesmo se 
pode dizer do ensino fundamental, pois o mesmo continua sendo prioridade apenas 
46 
 
como justificativa para que os poucos recursos investidos nos outros graus de 
ensino ( especialmente o ensino superior ) se tornem cada vez menores. 
Conforme sugerido pela literatura (LUCCHIARI, 1993 e SOARES, 2002), 
e comprovado pelo presente trabalho, a orientação profissional auxilia o sujeito a 
pensar sobre suas possibilidades e os conscientiza dos fatores que interferem na 
escolha da profissão. 
Em relação às hipóteses levantadas neste trabalho, duas delas foram 
refutadas. O aluno não matricula-se no pré-vestibular semi-intensivo persuadido por 
amigo (s) com o (s) qual (is) estudou no Ensino Médio e o aluno não opta pelo pré-
vestibular contando com a ajuda do serviço de Orientação Profissional oferecido pelo 
mesmo para escolher o curso para o qual prestará vestibular. 
As hipóteses corroboradas são a de que o aluno é influenciado pela 
propaganda do pré-vestibular veiculada nos mais diversos meios de comunicação; o 
aluno é levado ao pré-vestibular por ausência de um outro projeto de vida à curto 
prazo e pela falta de preparo e oportunidade para ingressar no mercado de trabalho. 
47 
 
3. CONCLUSÕES 
 
Esta pesquisa revelou que os alunos matriculam-se no pré-vestibular 
semi-intensivo sem ter escolhido sua profissão objetivando preparar-se, em termos 
de conteúdo para o ingresso na universidade. Estes alunos advêm de escolas 
públicas e buscam independência financeira, ascensão social e realização pessoal e 
profissional através da obtenção do diploma universitário. A decisão de cursar o 
ensino superior é definitiva e prioritária, a despeito da questão da escolha da 
profissão. O pré-vestibular semi-intensivo é considerado de fundamental importância 
no projeto de vida do aluno, por que os nivela em termos de conhecimento exigido 
pelo vestibular com outros alunos, possíveis concorrentes oriundos de escolas 
particulares e com maior acesso a tais conhecimentos. 
A necessidade de obtenção de conhecimentos é percebida por estes 
alunos quando os mesmos observam seu desempenho

Continue navegando