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Unidade II PERCEPÇÃO E REPRESENTAÇÃO Profa. Selma Rofino Criatividade nada mais é que dar forma a alguma coisa nova. Fayga Ostrower: criar é “a capacidade de compreender, de relacionar, ordenar, configurar, significar”. Criar seriam potencialidades que se convertem em necessidades inerentes ao ser humano, ele não cria apenas porque quer ou gosta, mas porque necessita ordenar e dar forma às suas percepções. É uma motivação latente de se orientar, avaliando as experiências vividas no sentido das formas. Percepção e criatividade Fonte: livro-texto A percepção é uma intuição adquirida de experiências cotidianas de nossa vida, como desejos, tristezas, medos e felicidade. A partir do momento em que expressamos nossas percepções no ato criativo, esse processo se torna consciente. Mesmo que a sua elaboração permaneça no subconscientes, os processos criativos teriam que se referir à consciência dos homens, pois só assim poderiam ser indagados a respeito dos possíveis significados que existem no ato criador. O poder da consciência seria, portanto, maior que aquele dado ao subconsciente, pois a percepção consciente nunca se desliga das atividades criadoras. Percepção e criatividade Percepção e criatividade Nossa consciência vive em transformação, formando-se em um processo dinâmico do homem em busca da sobrevivência e na execução de seus atos. Por essa transformação, alteramos também a natureza e as transformações de nós mesmos refletidas na natureza. O ser humano tem capacidade criativa e de percepção de si mesmo dentro do agir. Em nossa herança genética, a consciência e a sensibilidade são qualidades inatas do comportamento humano. O potencial de criação do homem é a mola propulsora da evolução. Ele afeta não só o mundo físico, mas também a própria condição humana e os contextos culturais. Percepção e criatividade A percepção consciente na ação humana é uma premissa básica da criação, pois, além de resolver situações imediatas, o homem é capaz de a elas se antecipar mentalmente. É a intencionalidade da ação humana, nos mobilizamos de modo latente diante de uma situação hipotética e propomos uma solução para um problema. Existem critérios elaborados pelo indivíduo por meio de alternativas e escolhas em toda a criação humana. Recolhemos informações que, a partir do nosso sistema nervoso, criam um processo de percepção das coisas visuais pela nossa estrutura interna, que independe totalmente do meio. O ser consciente-sensível-cultural O indivíduo que é movido pela intencionalidade constitui um ser consciente-sensível-cultural. É na relação entre esses três aspectos que se fundamenta o processo criativo do ser humano. Não é quando nem quem, mas somente a partir dessa interação que é possível alcançar o verdadeiro poder criativo do homem. Ostrower acredita na percepção consciente como prerrogativa do processo criador, cujo ápice se encontra na aliança entre saber, conhecer, pensar e imaginar; ordenando suas qualificações. O ser consciente-sensível-cultural Diferenciar essas qualificações é atributo do ser sensível e consciente, qualidades inatas que fazem parte da herança genética da humanidade. Na história da humanidade, a cultura assumiu as formas variáveis de convívio entre as pessoas que alteraram com uma velocidade feroz o desenvolvimento social dos homens. A herança genética se realiza sempre e unicamente dentro de formas culturais. O comportamento de cada ser humano, embora individualizado, molda-se pelos padrões culturais e históricos, do grupo em que ele, indivíduo, nasce e cresce. Ser sensível A criatividade se articula com a sensibilidade, que é a porta de entrada de nossas sensações. A condição de vida recebe e reconhece estímulos e reage a eles. Essa reação é a forma com a qual adentramos, com nossas sensações, em um mundo onde nos conectamos ao meio ambiente por meio de uma troca de energias. A maior parte dessa sensibilidade permanece no subconsciente. É aquela parte a qual pertencem as reações involuntárias. A outra parte é aquela que chega a nosso conhecimento em formato organizado, nossa percepção. Ser sensível A todo momento recolhemos informações e as decodificamos pelo nosso sistema nervoso. Esse é o processo de percepção das coisas visuais, a representação. Nossa estrutura interna dá condições de perceber as representações visuais, mas ela é limitada e requer pouca energia, pois é automática, insinuando que não há necessidade de desenvolver nossos conhecimentos de ver e visualizar. A percepção é a elaboração mental das sensações, delimita o que somos capazes de sentir e compreender. Articula o mundo que nos atinge, que chegamos a conhecer e dentro do qual nós nos conhecemos. Ser sensível Articula o nosso ser dentro do não ser, cria uma barreira entre o que percebemos e o que não percebemos. Ao organizar esses dados sensíveis, o indivíduo estrutura seus níveis do consciente. Essa organização consciente faz com que o homem tenha compreensão com relação ao mundo e de si mesmo. A análise de uma imagem, por exemplo, talvez diga mais sobre a pessoa que a analisa do que sobre a imagem em si. Quando escolhemos uma ou outra forma estética, estamos expressando nossa personalidade. Existem conexões entre a arte que apreciamos e as bases de nossa personalidade. Ser cultural O homem surgiu na história como um ser cultural, suas ações são baseadas em uma cultura. Cultura: as formas materiais e espirituais com as quais os indivíduos de um grupo convivem (OSTROWER). Vários indícios apontam a hominização e um comportamento social do nosso ancestral, dentre eles a pedra lascada. Os hominídeos pré-humanos foram assim classificados pela realização de suas obras, pela capacidade de manufaturar suas ferramentas (e não somente por saber usá-las). Essa habilidade baseia-se no conhecimento da matéria-prima e em buscar eficiência no manuseio. Ser cultural Homo erectus pekinensis Outra característica do ser humano é manter sua cultura utilizando as memórias passadas por meio da tradição oral. O Homo erectus produzia instrumentos de pedras lascadas e o fogo, conhecimentos passando de geração em geração. Observou-se a similaridade técnica de se amarrar a pedra lascada a cabos, o surgimento do arco e flecha, e até do cachorro domesticado para a caça. Fonte: livro-texto Ser cultural O homem se deu conta de sua existência individual e se conscientizou de seu papel social. O modo de sentir e de pensar os fenômenos está vinculado ao contexto social do indivíduo. Os valores culturais constituem o clima mental para o seu agir. Criam as referências, discriminam propostas, pois, conquanto os objetivos possam ser pessoais, neles se elaboram possibilidades culturais. Reconstituição da fisionomia do Homo erectus Artefatos de pedra usados pelo Homo erectus Fonte: livro-texto Fonte: livro-texto Ser consciente Representando a individualidade subjetiva de cada um, a consciência representa a cultura do indivíduo. O ser consciente é aquele que percebe e interroga a si mesmo e é induzido a interpretar todos os fenômenos. O fator cultural vai além do natural, a natureza filtra no consciente os valores culturais. A influência subjetiva que a cultura exerce na conscientização do homem serve de norte aos seus interesses, aspirações, bem como necessidades de afirmação como ser social. Ser consciente A sensibilidade orienta o homem quando ele exerce suas considerações para definir metas: ela se vincula ao ser consciente para estabelecer uma intenção, uma ação e se estrutura culturalmente na busca de significados. Esse processo transforma a sensibilidade: “torna-se ela mesma faculdade criativa, pois incorpora um princípio configurador seletivo”. A cultura norteia o ser sensível e o ser consciente, estrutura a sensibilidade do indivíduo, guiando-o em suas ações e em sua imaginação. Ser consciente Nessa integração que se dão as potencialidades individuais com possibilidades culturais, a criatividade não seria então senão a própria sensibilidade. O criativo do homem se daria no nível do sensível. A sensibilidade é, inclusive, um fenômeno social, pois, ao se juntar intimamente com uma significativa ocupação social, converte-se em criatividade. Focando simultaneamente esse processo no âmbito entre o consciente, a cultura e a sensibilidade, todas as atividades adquirem a capacidade de se tornar um “criar”. Interatividade “Antigamente nem em sonho existiam tantas pontes sobre os rios, nem asfalto nas estradas. Mas hoje em dia tudo é muito diferente. Com o progresso, nossa gente nem sequer faz uma ideia. [...] Por tudo isso, eu lamento e confesso que a marcha do progresso é a minha grande dor.” (Adaptado de Nonô Basílio e Índio Vago. “Mágoa de Boiadeiro”) I. O texto provoca no leitor a percepção de que a vida rural é idílica e de melhor qualidade. II. O texto é apenas referencial fazendo um comparativo entre a vida rural e a urbana. Está correto o que se afirma somente em: a) Afirmativa I. b) Afirmativa II. c) Afirmativa I complementa a II. d) As duas alternativas estão corretas. e) As duas alternativas estão erradas. Memória e representação O desempenho da memória tem papel de destaque em nosso consciente, interliga o ontem e o amanhã, e é específico do ser humano. Certas memórias podem ser ignoradas, retidas, guardadas ou reformuladas; dependendo de suas intenções presentes e futuras. O homem se estrutura pelas lembranças que o orientam em seu dia a dia. As intenções se estruturam junto com a memória. São importantes para o “criar”. Nem sempre serão conscientes nem, necessariamente, precisam se equacionar com objetivos imediatos. Memória e representação Fazem-se conhecer, no curso das ações, como uma espécie de guia aceitando ou rejeitando certas opções e sugestões contidas no ambiente. Às vezes, descobrimos as nossas intenções só depois de realizada a ação. Evocar o passado projetando-o no futuro, a memória é como um instrumento desenvolvido pelo homem a fim de poder associar experiências vividas às futuras. O espaço mnemônico é capaz de criar sempre uma nova geografia ambiental multidirecional ou hipertextual. Um hipertexto, um conjunto de nós ligados por conexões. Memória e representação Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas em uma rede que estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Nessa rede, outros ilimitados nós se incorporarão ainda, pois a característica do poder da imaginação do homem é ilimitada – e nossa mente, hipertextual. Ao associar experiências e informações, o homem desenvolve uma interpretação simultânea de linguagens simbólicas. A consciência se amplia para as mais complexas formas de inteligência associativa. Memória e representação “Empreendendo seus voos através de espaços em crescente desdobramento pelos múltiplos e concomitante passados– presentes–futuros que se mobilizam em cada uma de nossas vivências.” (OSTROWER) Os procedimentos de memória se fundamentam na intensificação de certos argumentos e não em fatos isolados. A memória é uma reserva de dados interligados de conteúdos experimentais da vida conectados entre si, ordenando nossas ações futuras e vivências do passado. De fato, se não houvesse essa possibilidade de ordenação seria impossível funcionarmos mentalmente. Memória e representação Além de renovar um conteúdo anterior, cada instante relembrado constitui uma situação em si nova e específica. Segundo Pierre Levy, em seu estudo sobre a psicologia cognitiva, existem dois tipos de memória: a de curto e a de longo prazo. Enquanto a de curto prazo mobiliza a atenção e a repetição, a de longo prazo se utiliza de associações para reter uma nova informação, constrói uma representação dessa informação como estratégia de codificação para ativar a memória. Estratégia de codificação é a maneira pela qual a pessoa constrói uma representação do fato que deseja lembrar. Memória e representação Além da implicação emocional, o cérebro desenvolve um hipertexto como estratégia de memorizar fatos importantes. O estudo de Levy permite entender como sociedades primitivas sobrevivem e codificam seus conhecimentos. Sem técnicas de fixação, essas sociedades possuem a experiência da memória a longo prazo, que se desenvolve a partir de mnemotécnicas como dramatizações, personalizações e artifícios narrativos diversos. Utilizam as melhores estratégias de codificação que estão à sua disposição, exatamente como nós fazemos. Memória e representação Marshall McLuhan descreve as sociedades fundadas sobre a palavra oral como aquelas que se expressam a partir de sua experiência subjetiva do mundo, fator que aproxima os homens. A palavra oral permaneceria apenas na memória coletiva, os ouvintes tenderiam a se manter próximos, geralmente ligados por traços familiares, tribais ou de cidadania. Marshall McLuhan Fonte: livro-texto Memória e representação A riqueza de culturas, assim, poderia vir a ser resgatada somente pelo homem da cultura eletrônica. A perspectiva de aldeia global se concretizaria por meio das novas tecnologias da informação e comunicação, surgindo como o estopim que realmente romperia a uniformidade lógica da racionalidade imposta pelo homem da cultura escrita. Essa retribalização surgiria como propagadora de aproximação social, permitindo a sinestesia entre os sentidos, sem se limitar às fronteiras de tempo e espaço. Surgiria como uma nova forma de comunicação social. Associações e formas simbólicas As associações provenientes de áreas profundas de nosso inconsciente ordenam o mundo de nosso poder imaginativo. Elas convergem com tamanha rapidez que são quase imperceptíveis para o consciente avaliar. As experiências vividas, com o sentimento e a emoção que existe na complexidade humana, são descontroladas à nossa percepção imediata. As associações nos veem com tanta insistência que talvez tendem para o difuso, estabelecem-se determinadas combinações, interligando-se ideias e sentimentos. Associações e formas simbólicas Por mais inesperadas, as constelações associativas condizem a um padrão de comportamento específico face a ocorrências que nos envolvam. Não há coincidência ao associar, mas coerência. As associações direcionam nossas percepções para um mundo fantástico, não no sentido ilusório, mas na busca de experimentos criativos, imaginativos e hipotéticos, dando amplitude ao nosso poder de imaginação. A partir dessa potencialização perceptiva, anseios e expectativas são também ampliados em nossa mente, influenciando nosso desejo de criar. Associações e formas simbólicas Nossa capacidade de expressar a percepção vem de formas simbólicas de comunicação, como a fala e as formas. A fala, o comportamento, a pintura, a escultura, a música e a dança representam um modo de ordenar. A partirdo momento em que se tomam aspectos de espaço e tempo, a mensagem adquire qualidade de formas simbólicas, como define Ostrower. Formas simbólicas são configurações de uma matéria física ou psíquica, em que se encontram articulados aspectos espaciais e temporais. Associações e formas simbólicas Perceber as formas simbólicas significa perceber circunstâncias dinâmicas do nosso ser, são movimentos interiores em que analisamos nossa percepção sobre nós mesmos. Essa avaliação de nossa experiência de vida é o modo de configurarmos essa percepção e tomarmos consciência dela. Essa movimentação é um processo afetivo, a força motriz para concretizar a expressão ordenada da forma simbólica, são as nossas formas psíquicas vinculadas ao ato criativo, junto as ordenações externas. Podemos falar com emoção ou sobre nossas emoções. Consequentemente, distanciamo-nos de nós mesmos e nos colocamos no lugar de outros. Interatividade “É preciso conhecer a produção artística visual contemporânea, valorizar nossa herança cultural e ter consciência da nossa participação, como fruidores da cultura do nosso tempo. Devemos conhecer tanto os meios tradicionais quanto as modernas tecnologias para escolher o mais apropriado meio de expressão.” (PIMENTEL, Lucia Gouvêa. “Tecnologias contemporâneas e o ensino da arte”. In: BARBOSA, A. M. [org.]. “Inquietações e mudanças no ensino da arte”. São Paulo: Cortez, 2002. p. 114.) Aponte a alternativa que indica corretamente a produção artística ressignificada pelos meios tecnológicos na arte contemporânea. a) Cinema, pintura, escultura e desenho. b) Fotografia, vídeo, gravura e pintura. c) Cinema, fotografia, digitalização e computação. d) Fotografia, gravura, design e pintura. e) Instalação, desenho, escultura e performance. O potencial criador e a tensão psíquica do ato Todo ato criativo consolida certas possibilidades, que se tornam reais e se excluem outras. Todo construir acaba se tornando um destruir, que se ordena, cria-se e o resto se exclui. É um processo dinâmico, pois a cada decisão (de ordenar as possibilidades) configura-se um processo de transformação, recriando o impulso e uma nova abertura de possibilidades. O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser sensível-cultural-consciente do homem e se faz presente nos múltiplos caminhos em que o homem procura captar e configurar as realidades da vida. O potencial criador e a tensão psíquica do ato Os caminhos podem se cristalizar e as vivências podem se integrar em formas de comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade como potência se refaz sempre. A produtividade do homem, em vez de se esgotar, liberando-se, amplia-se. A criatividade, como a entendemos, implica uma energia que se abastece de seu próprio poder criador. Essa força gera uma tensão, que chamaremos de “tensão psíquica”, tendo em vista a percepção consciente da criatividade ser um fenômeno psicológico. O potencial criador e a tensão psíquica do ato Cada processo criativo motiva um estado de tensão, levando em conta que o ato de criar – ou seja, de ordenar e interpretar – parte de uma motivação interna do homem. A tensão psíquica pode e deve ser elaborada. Assim, nos processos criativos, o essencial será poder se concentrar e poder manter a tensão psíquica, não simplesmente descarregá-la. Criar significa poder sempre recuperar a tensão, renová-la em níveis que sejam suficientes para garantir a vitalidade tanto da própria ação, como dos fenômenos configurados. A potência que se descarrega é menos valiosa do que a gratificação do ato criador ao indivíduo. O potencial criador e a tensão psíquica do ato Ela se renova a cada produtividade, como uma recompensa vital em criar uma nova realidade. Essa realidade emana do mais complexo estado de consciência e no cerne de uma busca de realização de crescimento interior. A tensão psíquica pode ser avaliada, portanto, como conflito emocional do homem: “não há crescimento sem conflito – conflito é condição de crescimento” (OSTROWER), mas ela não é regra nem causa do ato criador. Alguns indivíduos se organizam quase que exclusivamente a partir da tensão psíquica pela inclinação divergente de sua existência afetiva, e o conflito torna-se determinante do ato de criar, bloqueando sua potencialidade. O potencial criador e a tensão psíquica do ato O conflito pode ser capaz de impedir sua capacidade de criar e talvez até mesmo a de viver. Esse problema foi observado em muitos escritores e artistas famosos, cujo conflito emocional foi determinante na criação de suas obras. Podemos citar, dentre outros, Proust, Van Gogh, Gauguin, Munch e Kafka. Van Gogh – “Os girassóis” Fonte: livro-texto O potencial criador e a tensão psíquica do ato O conflito não pode ser o mensageiro do ato de criar. Ele deve indicar ocasionalmente o assunto ou conteúdo da obra ou mesmo influenciar a preferência de métodos e formas, mesmo que inconscientemente. O quanto existe de elaboração visível na obra artística nos indica exatamente a medida de controle que o artista ainda pode exercer sobre seu conflito. Fonte: livro-texto O potencial criador e a tensão psíquica do ato As relações, as habilidades e os interesses pessoais do indivíduo são as configurações mais importantes que cada um sente em si para determinar em que limites e campos pode caminhar no desenvolvimento de seu potencial criador. E essa proposta da busca da potencialidade existe dentro de nossa própria motivação! Percepção e complexidade no fenômeno fotográfico O pensamento complexo, responsável por religar os saberes dispersos, pela construção de novas aprendizagens e pela quebra de paradigmas, promove as inter-relações das partes entre si e delas com a totalidade, simultaneamente. O entendimento do pensamento complexo propõe a superação da fragmentação dos saberes. A imagem fotográfica possibilita conhecer os fenômenos que permitem compreender as estruturas do real. É preciso vivenciar experiências que construam e desconstruam o imaginário, modificando o comportamento e as relações com o meio. Percepção e complexidade no fenômeno fotográfico Seria importante um estudo que privilegiasse a complexidade do real pela fotografia do ponto de vista estético-educacional, na medida em que se almeja refletir sobre o paradigma vigente, apontando para um campo imagético que revele e esconda a natureza complexa do que é tecido em conjunto. A percepção é imprescindível para que se possa reconhecer os componentes do processo fotográfico e suas vertentes. Componentes que constituem o processo fotográfico Kossoy analisa o registro fotográfico como um processo que tem sua origem em um determinado período histórico. A análise desse processo deve ser feita a partir dos elementos constitutivos para a realização da fotografia: o assunto, o fotógrafo e a tecnologia; as coordenadas de situação: espaço e tempo; e o produto final: a fotografia. Assim, definidos: os elementos constitutivos: assunto; fotógrafo; tecnologia. Componentes que constituem o processo fotográfico As coordenadas de situação: espaço; tempo. O produto final: fotografia. Esses componentes são interligados e unos em sua coerência. A individualidade do fenômeno é resultante do sujeito/fotógrafo e sua ação, por sua vez, decorrente de um determinado tempo/espaço e das tecnologias de sua época. Componentes que constituem o processo fotográfico A seguir, trazemos a análise de uma imagem: Basílicado Sagrado Coração de Montmartre, Paris (2010), 16 de outubro de 2010, às 12h34min, Nan Huminhick Fonte: livro-texto Componentes que constituem o processo fotográfico Interpretar a imagem pelas coordenadas de situação tempo/ espaço possibilita desacelerar o olhar a fim de perceber, em cada detalhe, o poder narrativo de uma realidade passada, que revela informações e transmite emoções, alimentando a existência humana. Esse exercício de interpretação possibilita também a contradição de desfocar o olhar do outro para se deixar conhecer, acionando mecanismos que vão além de emoções, desejos, técnica ou recomposição. Interatividade Analise os aspectos formais e informais das imagens e assinale a alternativa correta. a) Possuem a centralidade perceptível e são estáticas. b) Estão divididas em cinco planos e expressam agonia. c) Apresentam ausência de profundidade e provocam vertigem. d) Têm a mesma materialidade e evidenciam força. e) Apresentam equilíbrio compositivo e manifestam leveza. Fonte: livro-texto A natureza complexa da fotografia A complexidade do processo fotográfico busca a análise dos aspectos que configuram o todo. Como agente e personagem do processo, o autor do registro fotográfico faz parte dessa teia de influências, desenvolvendo infinitos fatores que servirão como alicerces para reflexões interpretativas e para estudos iconográficos. A iconologia, ao absorver mecanismos técnicos que condicionam a interpretação (fotometria, foco, tecnologia etc.), abre espaço para a criação de novas soluções, alicerces para novas reflexões interpretativas, influenciadas pelos contextos sociais do interpretador. A natureza complexa da fotografia O pensamento complexo cria uma trama comum e que enreda um tecido infindável de significados e sujeitos. O ato fotográfico deriva de uma ação que tece em conjunto fatores fragmentados de sua produção. A construção da interpretação da imagem oferece múltiplas interpretações ao desalinhar esse tecido. Buscar na iconologia o desafio de decifrar os diversos “elos perdidos da cadeia de fatos” da imagem fotográfica, ultrapassando o plano iconográfico. Decifrar o enigma da natureza complexa da fotografia é o ponto de chegada da desmontagem do signo fotográfico. A natureza complexa da fotografia Esse desafio só é possível quando se compreende a importância da imaginação e dos sentimentos que operam juntos na tarefa de reconstruir a face ausente da imagem, situando-se no nível iconológico, como se fosse o iconográfico carregado de sentidos. Essa interpretação é uma viagem na trajetória histórica do registro fotográfico, constituída de três estágios: 1. a intenção; 2. o registro; 3. os caminhos. A natureza complexa da fotografia “As vicissitudes por que passou, as mãos que a dedicaram, os olhos que a viram, as emoções que despertou, os porta-retratos que a emolduraram, os álbuns que a guardaram, os porões e sótãos que a enterraram, as mãos que a salvaram.” (KOSSOY) Morin explica que o ato de se observar não congela sua condição de sujeito por tornar-se objeto, mas desdobra-se em dois: aquele que observa e o que é observado. Foi a partir daí que o indivíduo tomou consciência de si, objetivando-se no seu “duplo”, pois o espírito humano pode se autoexaminar, praticar a introspecção, a autoanálise e o diálogo consigo mesmo. Real e imaginário na percepção imagética A relação dual subjetiva e objetiva do ser humano projeta-se a partir da confusão gerada entre o real e o imaginário. Para conceber a distinção e também a unidade complexa e a complementaridade, Morin propõe a quebra de paradigmas. A imagem é a “placa-giratória” entre o real e o imaginário e concebe sua realidade paradoxal de imagem-reflexo: o “duplo”. “A riqueza da fotografia reside, de fato, no que nela não existe, mas que nela é projetado e fixado por nós.” (MORIN) Kossoy analisa a imagem fotográfica como um motor que aciona nossa imaginação para dentro de um mundo de representação do indivíduo. Real e imaginário na percepção imagética É o confronto entre a realidade que se vê – por nossos filtros culturais – e a segunda realidade que se imagina. Denominamos “tensão perpétua” esse conflito constante entre o visível e o invisível, que domina o espírito do receptor quando ele constrói realidades e ficções diante da fotografia por determinação de suas imagens mentais. “A fantasia mental desloca o real em conformidade com a visão de mundo do autor da representação e do observador que a interpreta segundo seu repertório cultural particular.” (KOSSOY) Na imagem, o homem projeta seu duplo, reflexo que se manifesta a partir da confusão entre o real e o imaginário, como um esboço fantástico de seu superego e de seu próprio ego. A objetivação diante da imagem O mito de Narciso representa o estado de alucinação porque, ao querer ver em sua imagem um caráter puramente objetivo, o sujeito é absorvido por sua subjetividade no ato de objetivação. O mesmo acontece com a imagem projetada na fotografia, como o nosso duplo, que, muitas vezes, não reconhecemos. É a partir dessa comunhão entre o real e o imaginário que o reflexo do homem se manifesta, como uma ausência que passa a possuí-lo. A fotografia registra o subjetivo das pessoas. É por meio dela que o homem pode se olhar, se amar e se retratar. A objetivação diante da imagem Essa objetivação é a capacidade do sujeito de se ver como objeto, o ego, sem anular sua condição de sujeito, o eu, identidade humana, pois implica o desenvolvimento da capacidade de auto-observação, de autoconhecimento e de autocrítica. É isso que lhe permite ser capaz de dialogar consigo mesmo e confrontar os desejos e as realidades que o mundo lhe oferece. A sabedoria do espírito é justamente praticar a compreensão de si e do outro, que definem o pensar solidário, canais fundamentais para o convívio em harmonia entre os homens. Punctum e studium de uma imagem Punctum e studium são conceitos elaborados por Roland Barthes (1989). O punctum tem caráter subjetivo, é o detalhe pungente que afeta e seduz, varia de pessoa para pessoa. Ele não precisa necessariamente ser um detalhe, pode ser uma situação ou uma expressão. Chama de studium (palavra latina que significa estudo), o todo da fotografia, o interesse geral presente nos elementos visíveis. Um interesse guiado pela consciência, tendo de pano de fundo o contexto cultural e técnico da imagem. A objetivação diante da imagem Segundo esses elementos, uma imagem pode despertar o interesse de uma pessoa sem ter um punctum. Nesse caso, o studium pode agradar ou desagradar o observador/espectador, sem que o tenha atingido de uma forma especial. Cada fotografia traz em si inúmeras particularidades, tanto nos aspectos de punctum e studium, como na interpretação e na leitura de aspectos culturais e técnicos. A objetivação diante da imagem Podemos chamar de dualidade norteadora de uma imagem a análise do punctum e do studium a um só tempo. Ambos estão presentes em uma mesma imagem. São os elementos estruturais, chamados aqui de objetivos e subjetivos de uma imagem (punctum, o subjetivo, e o studium, o objetivo de uma foto). Para Barthes, a escolha do punctum é totalmente subjetiva. O observador/autor faz uma leitura da imagem, na qual o punctum vai de um lugar a outro da cena. Já no studium, a intenção do fotógrafo é fatalmente reconhecida, é um contrato cultural entre o criador e o consumidor. A objetivação diante da imagem Baudrillard refere-se ao punctum comoa instantaneidade contrária à simultaneidade do tempo real. “O que não pode falar, é preciso calar – mas pode-se calar com imagens”. Para Baudrillard, a fotografia que resiste aos aspectos significativos e interpretativos impõe-se como a imagem mais pura e real, pois a realidade não depende de análise ou de nossa observação. Baudrillard analisa a imagem, como simulação de si própria, tornando-se hiper-realidade e aceitando “todo tipo de interpretação porque ela não faz mais sentido, porque ela não quer mais ser interpretada”. A objetivação diante da imagem Pensador polêmico, vai contra a linha que costumamos ter quando analisamos imagens, mas é um autor interessante e reconhecido, por isso devemos nos ater a suas colocações. Para finalizar, vamos analisar a presença do punctum e do studium em algumas imagens. James van der Zee, “Retrato de Família” (1926). Fotografia Felix Nadar, “Savorgnan de Brazza” (1882). Fotografia Fonte: livro-texto Fonte: livro-texto A objetivação diante da imagem
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