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( 5 ) O ser humano: construindo relacionamentos O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Guimarães Rosaa Olá! Nesta unidade, analisaremos a construção dos relacio- namentos e os principais elementos que interferem nessas rela- ções; discutiremos importantes processos que estão presentes nelas, como a comunicação, a liderança, o poder, entre outros. Vimos, na unidade passada, como nos constituímos como sujeitos, indivíduos singulares e com modos diversos e complexos de ser e estar no mundo. Compreendemos tam- bém que as inúmeras possibilidades de ser de cada um são construídas na interação com o outro e com o mundo. Discutir sobre os relacionamentos e a importância das interações nos diferentes grupos nos remete ao poeta João Cabral de Melo Neto: Cláudia Vaz Torres 148 P si co lo gi a e co m po rt am en to Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. Fonte: MELO, João Cabral de Melo Neto. Tecendo a manhã. Disponível em: <http:// www.consciencia.net/2006/0117-melo-neto.html>. Acesso em: 26 jul.2012. Como escreve João Cabral, “um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos”, ou seja, pre- cisamos do outro, do coletivo, dos grupos, da participação na vida social, pois, a partir das relações vivenciadas no coletivo, singularizamos, produzimos significações, agimos, construí- mos múltiplas histórias e a nossa. O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 149 As interações humanas que são ações recíprocas e conscientes entre pessoas, tecem vidas, histórias e ma- nhãs, implicando transformações, modificações dos com- portamentos, significações e ressignificações dos atos in- dividuais e recíprocos de acordo com o tipo de contato, as expectativas e as respostas. A busca de identidades, as afirmações de um modo de ser, são movimentos constantes na sociedade humana, assim como o uso desta como referência de liberdade, felici- dade e cidadania nas relações interpessoais (SAWAIA, 2004). O medo do desconhecido (quem é o outro?), explica o autor, gera ansiedade, agressão e a busca de sinais identitários. Nas nossas relações, indagamos pela identidade do ou- tro, queremos saber a que grupo pertence, que ideais possui, quais as afinidades, o que repudia. Mas, para quê? O que se esconde nesta pergunta e nessa necessidade de saber qual a identidade do outro? Essa pergunta e a resposta são repletas de sentidos e constituem o passo inicial no modo como nos relacionaremos com essa pessoa que diz quem é, qual é a sua bandeira ou que etiqueta possui. A partir daí, estabelecem-se relações de poder, de conflito, de solidariedade, de admira- ção, de desconfiança, enfim, modos diversos de inclusão ou exclusão e, por conseguinte, estratégias de relacionamentos. Sawaia (2004) esclarece que a identidade é uma catego- ria política disciplinadora das relações entre as pessoas, gru- po e sociedade, usada para transformar o outro em estranho, igual, inimigo ou exótico. 150 P si co lo gi a e co m po rt am en to No estudo sobre as constituições das subjetividades, não podemos desdenhar a relevância dos diferentes grupos e entender a natureza das pressões e influência social que exercem para alcançar a uniformidade e os seus fins. Nes- se processo, é importante dar especial atenção ao potencial dos grupos virtuais que se encontram no ciberespaço, se aco- lhem, aprendem, se mobilizam e se expandem para divulgar as suas ideias. Sobre esse espaço que a internet produz, Sibi- lia (2008, p.27) explica: Ao longo da última década, a rede mundial de computadores tem dado à luz um amplo leque de práticas que po- deríamos denominar “confessionais”. Milhões de usuários de todo planeta - gente “comum”, precisamente como eu ou você - tem se apropriado das di- versas ferramentas disponíveis on-line, que não cessam de surgir e se expandir, e as utilizam para expor publicamente a sua intimidade. Gerou-se, assim, um verdadeiro festival de “vidas privadas”, que se oferecem despudoradamente aos olhares do mundo inteiro. As confissões diárias de você, eu e todos nós estão aí, em palavras e imagens, a disposição de quem quiser bisbilhotá-las; basta ape- nas um clique no mouse. E, de fato, tanto você como eu e todos nós costu- mamos dar esse clique. O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 151 Junto com essas instigantes novidades, vemos instigarem-se algumas premis- sas básicas da autoconstrução, da te- matização do eu e da sociabilidade mo- derna; e é justamente por isso que essas novas práticas resultam significativas [...]. A rede mundial de computadores se tornou um grande laboratório, um terreno propício para experimentar e criar novas subjetividades: em seus meandros nascem formas inovadoras de ser e estar no mundo, que por vezes parecem saudavelmente excêntricas e megalomaníacas, mas outras vezes (ou ao mesmo tempo) se atolam na peque- nez mais rasa que se pode imaginar. Como quer que seja, não há dúvidas de que esses reluzentes espaços da Web 2.0 são interessantes, nem que seja por- que se apresentam como cenários bem adequados para montar um espetáculo cada vez mais estridente: o show do eu. Depreendemos, com a autora, que há uma tendência na contemporaneidade a buscar a visibilidade, o exibicionis- mo e o reconhecimento pelo outro. Então, perguntamos: Como essa tendência repercute nas nossas relações? 152 P si co lo gi a e co m po rt am en to E quanto aos relacionamentos? Como os conflitos, as relações de poder, as comunicações, as expectativas do grupo interferem nos nossos relacionamentos? Em que medida o nosso comportamento reflete as ca- racterísticas do grupo a que pertencemos? Estamos tão habituados a viver em relação com as pes- soas que, poucas vezes, percebemos a tônica dos relaciona- mentos, o quanto influenciamos e somos influenciados em nossas ações, decisões, sentimentos e comportamentos (AL- BUQUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004). Nossa vida decorre num universo de relações interpes- soais, mas, ainda assim, é crescente a dificuldade no domínio dessas relações. Sabemos que não é possível ensinar relações interpessoais a alguém. Não há uma receita a ser seguida. O que é possível é analisar os princípios que fundamentam essas relações. De qualquer modo, é importante destacar que é amplo o campo de estudo das relações interpessoais. Nesse estudo das relações interpessoais, alguns con- ceitos da ciência psicológica contribuem muito, como os di- ferentes modos de subjetivação, as identidades, entre outros. A Psicologia Social, área da Psicologia que analisa a di- mensão subjetiva dos fenômenos sociais, é importante para a compreensão do quanto as pessoas são diferentes, do modo como as pessoas agem no mundo, as transformaçõesque rea- lizam, as suas relações sociais, etc. Entretanto, a Psicologia Social tem teorias que a caracte- rizam como um estudo científico da influência recíproca entre pessoas (interação social) e do processo cognitivo gerado por essa interação (pensamento social). O pensamento social são O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 153 processos cognitivos decorrentes da interação social. Desse modo, nesta análise, a interação humana e suas consequências cognitivas e comportamentais constituem o objeto de estudo da psicologia que, através de conceitos como percepção social, atitudes, papéis sociais, socialização, atração interpessoal, gru- po social, entre outros, (RODRIGUES, ASSMAR, JABLONSKI, 2009), analisa a interação social. E tem teorias que criticam a separação indivíduo e sociedade, pois esta não existe sem aquele. Para essa perspectiva, o indivíduo age sobre o mundo, transformando-o e transformando-se a si mesmo. São concei- tos estudados: a consciência, a atividade, a identidade, entre outros (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). A seguir, vamos analisar, brevemente, alguns concei- tos estudados pela Psicologia. (5.1) Percepção A percepção é um processo cognitivo, uma forma de conhecer e interpretar o mundo. É o ponto de encontro entre a cognição, ou seja, o processo de selecionar, organizar, inter- pretar informações, eventos, etc., e o que está presente na reali- dade. A percepção é uma interpretação singular da realidade. Durante a percepção, o conhecimento sobre a realidade com- bina-se com as nossas habilidades construtivas (antecipação, hipótese, amostragem, armazenamento e integração), a fisiolo- gia (sistema sensorial e nervoso) e as nossas experiências, que advêm do processo de construção subjetivo (DAVIDOFF, 2001). 154 P si co lo gi a e co m po rt am en to Diante de situações ambíguas, percebemos claramente o nosso esforço para interpretar o que vivenciamos. Conside- re, então, a cena do pintor holandês Maurits Escher: O que vê? Escher Relativity, 1953 Fonte: Banco de dados ThinkStock O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 155 Percebemos que as cenas mudam conforme as nossas direções perceptivas. Desse modo, compreendemos que o que o indivíduo percebe e como percebe são dados impor- tantes para a compreensão do comportamento humano, para a análise das suas relações, pois as pessoas são seus próprios referenciais na percepção dos outros. Ressaltamos, então, que a percepção é o ponto em que cognição e realidade se encon- tram – depende da pessoa e do ambiente. Como você entende a percepção? E as atitudes? O processo perceptivo é estruturante na relação da pessoa com o mundo. Como diz Campos (2002, p.1): “Vida psicológica é vida perceptiva, consequentemente, problemas psicológicos são questões, distorções perceptivas”. (5.2) Atitudes São estados mentais e representam crenças pessoais de uma natureza avaliativa que influenciam nossas reações com relação às pessoas e às coisas. As atitudes são compreendidas como tendo três componentes: a crença em si (componente cognitivo); sentimentos associados a ela (componente emo- cional) e ações resultantes (componente comportamental). Bock, Furtado e Teixeira (2008) explicam que, a partir 156 P si co lo gi a e co m po rt am en to da percepção do meio social e dos outros, o indivíduo or- ganiza as informações, relacionando-as aos afetos, e de- senvolve uma predisposição a agir em relação às pesso- as ou aos objetos do meio social. Essas informações, que predispõem o indivíduo para a ação, são as atitudes. As atitudes, analisam os autores, são desenvolvidas. “Nós não tomamos atitudes (comportamento, ação), nós desenvolve- mos atitudes (crenças, valores, opiniões) em relação aos ob- jetos do meio social” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 181). As atitudes são modificadas à medida que surgem novas informações, afetos ou situações. Sobre este conceito, leia as considerações de Glassman (2008), que esclarece que uma das teorias mais conhecidas da mudança de atitude é a teoria da dissonância cognitiva de- senvolvida por Leon Festinger, em 1957. Segundo Festinger, todos procuramos nos comportar de uma maneira auto- consistente. Ou seja, nossas ações de- vem se adequar às nossas palavras e às nossas atitudes. O que acontece, no entanto, se nossas ações não se ajustam às nossas crenças, ou se duas crenças estão em conflito? Festinger declarou que, quando há conflitos deste tipo, experimentamos uma tensão que ele chamou de dissonância cognitiva. Por exemplo, suponhamos que você odeie o burburinho da cidade de Nova York, mas tem bons amigos que vivem lá e que quer ver. Isso cria um conflito en- O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 157 tre sua atitude com relação à Nova York e sua atitude com relação a seus amigos, o que resulta em dissonância. A teoria de Festinger lida com a natureza desses con- flitos e com o modo como os resolvemos. [...] A teoria da dissonância tem gerado enorme quantidade de pesquisa na psico- logia social, em parte porque as questões que levanta são interessantes e, em parte, devido às aparentes fragilidades da teo- ria. (GLASSMAN, 2008, p. 218) As fragilidades da teoria ocorrem porque não há pos- sibilidade de prever, com precisão, o que acontece em uma determinada situação, tendemos a ignorar as informações ou situações que criam conflito e estão disseminadas as reações de dissonância na vida diária. A teoria de Festinger mostra a influência da cognição ao sinalizar que os processos internos, como as atitudes e a redução da dissonância, são importantes para a compreensão do comportamento social. Vamos continuar conhecendo outros conceitos estuda- dos pela Psicologia. (5.3) Aptidão Consiste no potencial para realização de tarefas e pode ser agrupada em três categorias: 158 P si co lo gi a e co m po rt am en to Cognitivas ou intelectuais Aptidão verbal, numérica, espacial, compreensão mecânica, criatividade literária e artística, velocidade de percepção, percepção de formas, etc. Físicas Coordenação motora, destreza manual, aptidão sensorial, etc. Interpessoais Capacidade de liderar, lidar com o outro, decidir, etc. (5.4) Inteligência Capacidade cognitiva ou intelectual que integra a glo- balidade humana nos seus aspectos afetivos, sociais e cog- nitivos. Há diversas definições e teorias sobre inteligência. A abordagem da psicologia diferencial, baseada na tradição positivista, define a inteligência como um composto de habi- lidades que poderiam ser medidas pelos testes psicológicos. A abordagem dinâmica define a inteligência como a produ- ção cognitiva e intelectual do homem. A inteligência passa a ser compreendida como capacidade cognitiva e intelectual O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 159 que integra a globalidade humana e não pode ser analisada isoladamente (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Uma outra corrente, de Howard Gardner, que estuda a inteligência, defende a existência das múltiplas inteligências, ou seja, que temos a capacidade lógico-matemática, capacidade linguística (aptidões medidas pelo QI), a capacidade musical, espacial, corporal-cinestésica, naturalista, existencial e a capa- cidade intrapessoal e interpessoal, todas inter-relacionadas. No final do século XX, os estudos sobre um tipo especí- fico de inteligência foi bastante debatido: a inteligência emocio- nal.A teoria da inteligência emocional, defendida por Daniel Goleman e Howard Gardner, explica que a inteligência emo- cional pode ser desenvolvida, proporcionando maior facilida- de para o indivíduo lidar com suas próprias emoções e com a dos outros. Fazem parte desse conjunto: autoconhecimento, autocontrole, empatia, habilidades interpessoais, etc. Voltare- mos a tratar da inteligência emocional nas próximas aulas. (5.5) Comunicação É um processo presente nas relações interpessoais em qualquer grupo, assim como a liderança e a motivação, mas, se for pouco cuidada, gera como consequência muitos confli- tos. Nesse processo, há o emissor e o receptor e, entre os dois, existem os ruídos e bloqueios que advêm de interpretações, respostas que, muitas vezes, atrapalham a comunicação. 160 P si co lo gi a e co m po rt am en to Vale lembrar que inúmeras são as formas de comunica- ção - fala, escritos, desenhos, corpo, códigos, entre outros - e muitos são os ruídos que interferem na comunicação e que derivam da falta de atenção, dos preconceitos, do negativis- mo, do uso impróprio da linguagem, da parcialidade e da au- sência de uma comunicação franca e aberta. Minicucci (2001) acrescenta que os bloqueios, as filtragens e os ruídos provo- cam ressentimentos nas reações interpessoais e podem durar muito tempo. As nossas necessidades e experiências tendem a colorir o que vemos e ouvimos, a dourar certas pessoas e ex- cluir o que não queremos saber, pois entram em conflito com as nossas velhas ideias. Sem contar que o efeito de uma emo- ção poderá distorcer a comunicação, ou seja, “[...] quando nos sentimos inseguros, aborrecidos ou receosos, o que ouvimos e vemos parece mais ameaçador do que quando nos sentimos seguros [...]” (MINICUCCI, 2007, p. 55). Leia o exemplo, a seguir, e reflita sobre o que ocorreu Capitão ao Sargento-ajudante: -Sargento! Dando-se amanhã um eclipse do Sol, determino que a companhia esteja formada, com uniforme de campanha, no Campo de exercício, onde darei explicações em torno do raro fenômeno que não acontece todos os dias. Se por acaso chover, nada se poderá ver e neste caso fica a companhia dentro do quartel. Sargento-ajudante ao Sargento de Dia: -Sargento, de ordem de meu capitão, amanhã haverá O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 161 um eclipse do sol, em uniforme de campanha. Toda a companhia terá de estar formada no campo de exercício - onde seu capitão dará as explicações necessárias, o que não acontece todos os dias. Se chover, o fenômeno será mesmo dentro do quartel! Sargento de Dia ao Cabo: Cabo, o nosso capitão fará amanhã um eclipse do sol no campo de exercício. Se chover, o que não acontece todos os dias, nada se poderá ver. Em uniforme de campanha o capitão dará a explicação necessária, dentro do quartel. Cabo aos Soldados: Soldados, amanhã para receber o eclipse que dará as explicações necessárias sobre o nosso capitão, o fenômeno será em uniforrne de exercício. Isto, se chover dentro do quartel, o que não acontece todos os dias. Fonte: http://www.sit.com.br/SeparataDIV0034.htm A comunicação é importante para que os proces- sos se desenvolvam adequadamente, é uma aliada na execução de tarefas. A comunicação, esclarece Robbins (2002), tem quatro funções básicas dentro de um grupo, a saber: 162 P si co lo gi a e co m po rt am en to na comunicação do capitão ao sargento, até alcançar o cabo: Comunicação Linear - O Eclipse Solar no Quartel Controle Motivação A comunicação estimula a motivação, através do esclareci- mento sobre as tarefas, as metas, a qualidade do desempenho e o que pode ser melhorado. Expressão emocional A comunicação favorece a expressão de sentimentos e posi- cionamentos frente aos mesmos. Informação A comunicação proporcio- na as informações que as pessoas precisam para analisar, avaliar e tomar decisões. É importante lembrar que existem barreiras que podem impedir a eficácia da comunicação, como a filtragem ou mani- pulação das informações pelo emissor; a percepção seletiva, ou seja, o receptor vê e escuta, de acordo com os seus interesses, as suas experiências e características pessoais; a sobrecarga de informações; a defesa diante de sentimentos de ameaça; o tipo de linguagem e o medo ou a ansiedade de falar, escrever, evi- tando a comunicação em situações necessárias. E os grupos sociais? Como você analisa? “O outro guarda um segredo: o segredo do que eu sou” (J. P. Sartre) Sabemos que o comportamento não reflete apenas o O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 163 nosso modo de ser e pensar, mas também a posição que o sujeito ocupa nos seus grupos de referência e as relações que estabelece. Você concorda com a expressão de Sartre? A imagem que você tem de você mesmo é o retrato do que os outros veem em você? Certamente que não! Concorda? Mesmo porque os outros não veem a mesma pessoa, porém acrescentam mui- to nessa construção de quem somos nós, nessa “viagem” de querer responder às inquietações, dúvidas e, às vezes, angús- tias sobre quem somos. Então, contam muito as imagens que os outros, que estão nos nossos grupos de referência (famí- lia, amigos, comunidades, trabalho), têm de nós. A partir daí, inauguram-se modos bem diversos de relações. Reflita: Por que, nos grupos, às vezes, é tão difícil um trabalho coletivo? Como trabalhar as relações interpessoais num grupo de pessoas que não se gostam, não confiam umas nas outras, não se respeitam, não cedem e não se retiram? Os grupos têm uma grande relevância na nossa vida, em todos os contextos, inclusive no mundo do trabalho, as- pecto que chamaremos mais atenção nesta aula. (5.6) Grupos: definição e classificação 164 P si co lo gi a e co m po rt am en to Um grupo é definido pela interdependência e intera- ção entre dois ou mais indivíduos que visam alcançar um determinado objetivo. Podem ser classificados como formais os grupos de uma organização que possuem atribuições, ta- refas e metas a serem alcançadas; e como informais os ca- racterizados pela reunião de pessoas com outros interesses, como contato social. Podem ser classificados como primários os voltados para relacionamentos interpessoais diretos, como a família; e secundários, os orientados para tarefas e metas, como os grupos de trabalho. Um outro modo de classificar os grupos é através da duração da existência. Assim, eles pode- rão ser temporários ou permanentes. Os motivos para a formação de um grupo são muitos, como a amizade, a segurança, o reconhecimento, o poder, a solução de problemas, entre outros. O grupo é o elemento que completa a dinâmica de construção social da realidade, reproduz, realiza, reformula as regras e promove os valores. São atributos básicos do gru- po: o status individual e do grupo, papéis, normas, coesão e pensamento grupal. O grupo é responsável pela produção dentro das organiza- ções e pela singularidade, afirmam Bock, Furtado e Teixeira (2001). No campo da psicologia do século XX, sobre esse assunto, destacamos os estudos de Kurt Lewin (1890-1947), professor ale- mão refugiado do nazismo nos Estados Unidos, que considerava que o comportamento humano deve ser visto em sua totalidade. Segundo esse pesquisador, o comportamento humano é função tanto das características da pessoa quanto do meio em que a pes- soa está inserida; por essa razão, deve ser levada em consideração a totalidade dos fatos coexistentes. No grupo, há uma interdepen- O se r h um an o: c on st ru in do re la ci onam en to s 165 dência entre as pessoas. Os processos que ocorrem no interior do grupo alteram a sua dinâmica e podem afetar, de modo singu- lar, cada um. Os estudos de Lewin tiveram grande importância para as pesquisas na área da motivação social e da dinâmica dos grupos, pois os conceitos de grupo e campo social embasam as teorias e técnicas de trabalho de grupo, explicam Bock, Furtado e Teixeira (2001). Sobre isso, eles acrescentam que, quando um gru- po se estabelece, os fenômenos grupais passam a atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo (o processo grupal). A coesão é condição necessária para a manutenção do grupo, atra- vés do cumprimento das regras que foram estabelecidas. Quando alguém começa a participar de um novo grupo, terá seu comporta- mento avaliado para verificação do grau de adesão. Os membros mais antigos já não sofrem esse tipo de avaliação e se, eventualmente, quebram alguma regra (que não seja muito importante), não são cobrados por isso. Ocorre que, no caso dos membros mais antigos, é conhecido o grau de aderência ao grupo e sabe-se que eles não jogam contra a manutenção do grupo. Esta certeza da fidelidade dos membros é o que chamamos de coesão grupal. Os grupos, de acordo com suas características, apresentam maior ou menor coesão grupal (BOCK; FURTA- DO; TEIXEIRA, 2001, p. 221). 166 P si co lo gi a e co m po rt am en to Depreendemos que um grupo tende a se dissolver se há um baixo grau de coesão grupal e que a coesão é um aspecto que influencia o relacionamento interpessoal e a produtividade. REFLITA: No ambiente organizacional, o que promovem os gru- pos muito coesos? Promovem mais sinergia e menos conflito? Um elevado nível de coesão grupal pode afetar o de- sempenho e a criatividade individual? A coesão diz respeito ao grau em que membros são atraídos entre si e motivados a permanecer como grupo, es- clarece Robbins (2002). A coesão está relacionada com a pro- dutividade do grupo e depende das normas de desempenho estabelecidas: Se essas normas forem de alto nível (por exemplo, excelência de resulta- dos, trabalho de qualidade, coopera- ção de indivíduos de fora do grupo), um grupo coeso será mais produtivo do que um grupo menos coeso. Se a coesão for grande, com normas de desempenho fracas, a produtividade será baixa. Se a coesão for pequena e as normas, de alto nível, a produti- vidade será mais alta, mas menor do que um grupo coeso com as mesmas normas. Quando tanto a coesão como as normas de desempenho são fracas, O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 167 a produtividade fica entre baixa e mo- derada (ROBBINS, 2002, p. 231). A atenção e o estímulo em relação à coesão do grupo são necessários e podem ser alcançados através de redução do tamanho do grupo, do aumento do tempo juntos, do pres- tígio social do grupo, entre outros. Silvia Lane (1984) revisou as teorias sobre os grupos e, ao tratar desse assunto, enfatiza o seu aspecto histórico e dialético. Os grupos existem em todas as instituições - famí- lia, escola, universidade, entre outras - e, na análise, é preciso estar atento ao tipo de inserção do grupo na instituição e a participação de cada membro. O grupo, para a autora, é uma experiência histórica que se constrói através das relações, das contradições sociais que expressam e da articulação entre as- pectos pessoais, características grupais, vivência subjetiva e a realidade objetiva. O grupo é uma estrutura social, um conjunto que não pode ser reduzido à soma dos seus membros através de rela- ções de interdependência. As relações de poder e as práticas compartilhadas promovem a construção das identidades. Veja o quadro Operários, de Tarsila do Amaral, disponível em http://www.tarsiladoamaral.com.br/index_frame.htm Observe a imagem e responda: as pessoas serão neces- sariamente um grupo? 168 P si co lo gi a e co m po rt am en to Albuquerque e Puente-Palacios (2004) esclarecem que, para lidar com pessoas, devemos compreender que o grupo é maior do que os indivíduos. Você concorda? Vamos analisar o que os autores explanam sobre essa questão: [...] o grupo é maior do que os indiví- duos, embora por eles seja constituído. Possuir uma visão global ou sistêmica é o caminho mais adequado para conseguir estabelecer padrões de comportamento desejáveis em uma organização. Com- preendendo que os grupos existem, que estabelecem normas de convivência e que essas normas podem ir a favor ou contra os objetivos organizacionais o adminis- trador pode estabelecer suas próprias re- gras comportamentais para interagir de maneira adequada com os diversos gru- pos e assim lograr seus objetivos. Embora possa parecer simples, geren- ciar o comportamento humano é uma tarefa complexa. Os membros da or- ganização reconhecem as diferenças entre os comportamentos socialmente sustentados pelo seu grupo e as cobran- ças feitas pela organização. Nessas cir- cunstâncias, a comunicação constitui um elemento que favorece o adequado gerenciamento. Contudo, ela é benéfica O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 169 apenas à medida que as pessoas encar- regadas de gerenciar indivíduos conhe- cem os grupos aos quais pertencem e também as regras que, nesses grupos, norteiam o comportamento (ALBU- QUERQUE; PUENTE-PALACIOS, 2004, p. 360). à complexidade de comportamentos que existe em qualquer organização aponta para a necessidade da comu- nicação, do diálogo e do silêncio, que implica saber falar, sa- ber ouvir, comunicar-se face a face, não fingir que ouve, estar atento às expectativas, predileções e aos interesses do outro, saber distinguir o momento oportuno da mensagem ser en- viada, não gerar intrigas e procurar ser direto e simples (MI- NICUCCI, 2007). Desse modo, o diálogo é um princípio e não pode ser reduzido a uma estratégia nas relações. Além dos processos analisados, vamos refletir sobre a liderança. O líder, explicam Albuquerque e Puente-Palacios (2004), é um fenômeno grupal, funcional, ele sintetiza as aspi- rações do grupo e existe de modo contextualizado, ou seja, em determinada circunstância e lugar histórico. Exercer a lideran- ça significa estabelecer um processo interativo, estar centrado nos grupos, ser capaz de defender os interesses, correr riscos para cumprir metas e representar o poder instituído. Existem diferentes modos de ocupar as posições de liderança. Estas podem ocorrer de acordo com a oportuni- dade e por determinado tempo. Acrescentamos que nem sempre há valorização da cooperação, da competência e da interação nessas situações: 170 P si co lo gi a e co m po rt am en to As pessoas são o ingrediente essencial das organizações. Se as pessoas, no seu conjunto, não mudam, as instituições não mudarão. As pessoas com liderança são as que ditam o ritmo das mudanças. Existem líderes que inspiram confiança e incentivam a participação; outros só impõem diretrizes e conseguem obter adesões superficiais. Em organizações autoritárias, há muito pouca comuni- cação real. Existem muitas mensagens unidirecionais e feedback pouco confiá- vel. Muitos se limitam a obedecer e ofe- recer informações desejadas, esperadas, não as reais. Por ter tido educação deficiente, princi- palmente no aspecto emocional, encon- tramos muitas pessoas mal resolvidas, que guardam rancor e esperam o mo- mento de prejudicar alguém ou sabo- tar decisões tomadas. Elas conseguematrasar significativamente o processo de mudança organizacional. Muitas delas estão mais atentas às críticas do que à cooperação, à sabotagem do que à cola- boração. Funcionários mal resolvidos semeiam discórdia, divisão, mal-estar e pessimismo. Fomentam o ambiente de fofoca, de intrigas. Estabelecem redes O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 171 paralelas de informação, que corroem a confiança, geram incerteza e envene- nam umas pessoas contra as outras. Existem grupos de pessoas que não sa- botam diretamente, mas adotam uma postura passiva e indiferente quanto às mudanças. São aquelas que resistem silenciosamente. Aparentemente cola- boram, mas, sem um controle externo, pouco produzem. Infelizmente nossa edu- cação valoriza mais a obediência do que a autonomia; a competição do que a cola- boração, e isso se reproduz no ambiente profissional. (MORAN, 2007, s.p.) Compreendemos, dessa forma, que os grupos possuem as suas características, se organizam, se influenciam e ten- dem a se ajustar, porém, quanto mais coeso o grupo, maior será a resistência às mudanças no próprio grupo e mais poder ele exercerá sobre os demais. A discussão sobre liderança tem a contribuição dos es- tudos de Hersey e Blanchard (1986), que analisam que não existe um único estilo de liderança que é adequado a todas as situações. O que irá nortear o comportamento do líder com os liderados é a relação entre líder, liderados e a situação. Esse estudo sobre liderança situacional fundamenta-se na inter-re- lação entre a quantidade de orientação e direção que o líder oferece, estabelecendo objetivos, metas e definindo papéis; o apoio emocional dado pelo líder aos seus liderados - encora- 172 P si co lo gi a e co m po rt am en to jando, ouvindo, elogiando - e a maturidade dos subordinados no desempenho de uma tarefa. Sobre as relações de poder que existem, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) analisam que é um fenômeno comple- xo presente nas interações, que pode ser considerado como força impulsionadora, provocadora de mudanças ou manu- tenção de comportamentos de pessoas, grupos, organizações. Os elementos básicos do poder são os jogadores - pessoas pertencentes ou não à estrutura organizacional que tem a intenção de exercer influência nos resultados organizacionais - chamados influenciadores. Esses influenciadores usam meios e sistemas de influência - autoridade, ideologia, especialidade ou perícia e política - para controlar as de- cisões nas organizações (PAZ; MAR- TINS; NEIVA, 2004, p. 386). É necessário identificar as pessoas que exercem influ- ência, ou seja, que utilizam o tempo, a habilidade política e a competência na dinâmica das organizações para alcançar as necessidades que desejam que sejam atendidas, pois o poder que possuem é capaz de afetar os resultados nas organizações. O poder é um componente importante em qualquer grupo ou organização. A psicologia social e a psicologia orga- nizacional adotaram o poder como objeto de estudo, analisan- O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 173 do a dinâmica do poder nos níveis grupais e organizacionais. Muitos estudos contemplam a dimensão negativa do poder e o concebem como coerção, repressão, manipulação, dominação, etc. Os estudos da abordagem comportamental caracterizam o poder, descrevendo-o como imposição de vontade de uns sobre outros. Para a psicologia social, o poder está na tessitura das relações humanas, demarcando, delimi- tando territórios e produzindo sentidos e estratégias de en- frentamento e resistência. De acordo com Paz, Martins e Neiva (2004), a teoria do poder organizacional de Mintzberga2, caracterizada pelo enfoque sistêmico, contempla os níveis individual e coletivo, interno e externo, intra e entre grupos e caracteriza o poder organizacional com dinamicidade, fluidez e capacidade de afetar os resultados organizacionais. O poder organizacio- nal é refletido nas configurações de poder, que sinalizam aos grupos e membros quais são os comportamentos típicos das organizações e as formas de funcionamento: Autocracia O poder é centralizado no mais alto chefe da organização que define as metas. Nas organizações pequenas, esse tipo de configuração é comum. 2 A teoria de Mintzberg resultou de pesquisa em organizações na sociedade ocidental sobre o poder dentro e em torno das organizações. 174 P si co lo gi a e co m po rt am en to Instrumento O poder se encontra fora da organização, que serve de instrumento para o alcance dos objetivos propostos pelo influenciador ou grupo de influenciadores dominantes. A hierarquia é rígida e o poder flui de fora para dentro. Missionária O poder é a própria ideologia organizacional. A dinâmica da organização é centrada em uma missão que domina toda a atividade organizacional. Há um comprometimento afetivo. Meritocracia O poder é dos especialistas que, com base nas habilidades e no conhecimento, influenciam fortemente a organização. Sistema autônomo O poder é da coalizão interna, de pessoas que vivem o cotidiano das organizações. Os influenciadores são os próprios membros da organização que, para exercerem controle interno, usam de padrões burocráticos e trabalham com um sistema de metas. Arena política O poder fica dividido numa organização em crise em que os influenciadores perseguem seus objetivos individuais. Para os autores Paz, Martins e Neiva (2004), essas configurações de poder são as mais comuns, mas não são estanques, pois as organizações vivem processos de O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 175 transformação ou declínio. Reflita: O assédio sexual no local de trabalho é um aspecto importante para discussão, pois envolve poder e gênero. O assédio sexual é definido como ato de constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função (Art 216 A - Lei 10.224). E o assédio moral? O assédio moral, que diz respeito à exposição das tra- balhadoras e trabalhadores a situações humilhantes, cons- trangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho ou no exercício de suas funções, também envolve uma intensa discussão sobre as relações de poder. A questão do poder, da liderança e da comunicação são aspectos importantes na discussão sobre a teoria dos grupos. Muitos outros autores, como Pichon-Rivière (1998), analisa- ram a estrutura e o funcionamento dos grupos através do conceito de Grupos Operativos, baseado na teoria do vínculo. O Vínculo, estrutura psíquica complexa, de caráter social, um dos princípios organizadores do grupo operativo, é impor- tante para a compreensão do conceito, assim como a Tarefa, um outro princípio, que diz respeito ao modo pelo qual cada integrante do grupo interage a partir das suas necessidades. O grupo operativo configura-se como um modo de interven- ção, organização e resolução de problemas grupais. Através dessa teoria, é possível avaliar determinado grupo durante a realização de tarefas concretas, e identificar o campo de fan- tasias e simbolismos presentes nas relações interpessoais. 176 P si co lo gi a e co m po rt am en to Moscovici (1998) esclarece que o relacionamento inter- pessoal harmonioso proporciona um trabalho cooperativo, mas essas condições resultam das competências interpesso- aisque se expressam no interjogo entre sentimentos, intera- ções e atividades. As relações interpessoais e o clima de gru- po influenciam-se reciprocamente. Sentimentos de simpatia e atração nas organizações ensejam mais produtividade, ao passo que sentimentos de rejeição tendem a afetar as inte- rações, a comunicação e produzem queda na produtividade. Na teia de relacionamentos, não podemos deixar de tratar da dimensão ética que regula as relações e as ações, pois a ética é o conjunto de valores e a moral que conduzem a pessoa a tomar decisões. Vidal (1998), sobre esse assunto, esclarece que a ética nasce da pessoa e se refere à pessoa, pois somos pessoas quando estamos em relação, partilhando e exercendo uma escuta sensível do outro. Reflita: O que significa ética? Ela define um modo de comportar-se com o outro? É o mesmo que moral? E os valores morais? Qual é a sua importância neste estudo sobre as relações interpessoais? Para tratarmos desses termos, seus significados e re- lações, precisaríamos de mais uma aula, mas é importante enfatizar que ambas refletem o nosso momento histórico, não provêm da natureza, e sim da disposição humana para a sociabilidade e para valores como justiça, honradez, integri- dade, generosidade e tantos outros que dizem respeito a nós O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 177 mesmos e às relações que mantemos com os outros. Na contemporaneidade, há uma redescoberta da ética, esclarece Passos (2007), pois há exigências de valores éticos e morais em todas as instâncias sociais. No momento em que a nossa sociedade passa por uma crise de valores, identificada pelo senso comum como falta de decoro, de respeito pelo ou- tro, de limites e, também, pela dificuldade de internalizar as normas, leis e regras sociais, precisamos da ética, ciência que estuda o comportamento moral dos homens na sociedade, para compreender os valores que constituem a vida huma- na e que configuram os projetos de vida individuais ou co- letivos. Portanto, é importante identificar as bases morais da nossa sociedade hoje, as características das relações humanas e a repercussão desses aspectos nas dimensões subjetivas. Precisamos, então, encontrar meios para melhor convi- ver com as pessoas, quer seja na família, no trabalho, na co- munidade. Para isso, torna-se necessário interrogar sempre: Que valores estão orientando a minha vida e minha prática profissional? Qual é o meu projeto de vida? Quais são os compromissos que assumi com o outro, com a sociedade? A preocupação com a dimensão humana, com a cons- trução do projeto de vida compromissado com a sociedade significa preocupação com a dimensão ética, “pois se esta- belece o respeito no lugar do desrespeito, a confiança em vez da desconfiança, o companheirismo e a solidariedade e não a competição cega e desenfreada” (PASSOS, 2007, p.124). Ainda, como explica a autora: 178 P si co lo gi a e co m po rt am en to As pessoas são chamadas e incentiva- das a mostrarem suas preferências e suas competências, a reivindicarem e participarem, sem o receio de serem to- madas como impertinentes e criadoras de problemas. A ética assegura o res- peito à diferença e a inclusão de todos e não somente dos que pensam e agem dentro da mesma tendência (PASSOS, 2007, p.124). A submissão às coisas e às exigências do mundo, para dar conta das ânsias de consumo e aquisição de bens, poderá ser rompida através da redefinição constante do papel social e da interrogação sobre a razão de ter que se submeter, aceitar uma condição. Saber escolher e construir espaços individuais e coletivos, em que o respeito seja ponderado e em que possa- mos participar fraternalmente de equipes de pessoas, implica reconhecer-me no outro. Enfim, podemos nos sentir convocados a criar redes mais envolventes, a aprender a partilhar, a ser sensível ao outro... São caminhos e compromissos de cada um. Fiquemos, agora, com o poema de Olavo Bilac, que se- lecionamos para terminar a nossa aula: O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 179 “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ... Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.” Fonte: BILAC, Olavo. Ora (direis) ouvir estrelas. Disponível em: http://www.jornaldepoesia. jor.br/bilac2. Saudações afetuosas! SÍNTESE Nesta aula, analisamos a importância das relações in- terpessoais nos grupos sociais e os elementos que interferem nessas relações. Discutimos os processos presentes nelas, como a comunicação, a liderança, entre outros. QUESTÃO PARA REFLEXÃO Assista ao vídeo Indivíduo Coletivo, da série “Não é o que parece”, disponível em http://www.pol. org.br/publicacoes/video_play_dvd05.cfm, e reflita sobre o conteúdo estudado. Como podemos analisar a relação entre o individual e o coletivo? 180 P si co lo gi a e co m po rt am en to LEITURAS INDICADAS Para aprofundar os seus conhecimentos, leia o texto: CAMPOS, Vera Felicidade. A questão do ser, do si mesmo e do eu. Disponível em: <http://www.verafelicidade.com.br/ page13.html>. Acesso em: 01 ago.2012. SITES INDICADOS Assista aos vídeos e reflita sobre o conteúdo estudado: Mesa redonda on-line Diálogos com a Psicologia Organizacional e do Trabalho - Evolução, desafios e novos rumos. Assista ao debate disponível em: http://www.youtube.com/ watch?v=Aaw6GTT7jgc>. Acesso em: 15 ago.2012. Liderança: Profissão Impossível Como se constrói um líder? Ele é realmente necessário? Nem sempre foi assim. O que se espera, então? Qual o papel da liderança? E do liderado? Disponível em: <http://www.pol. org.br/publicacoes/video_play_dvd06.cfm>. Acesso em: 15 ago.2012. http://www.assediomoral.org/spip.php?article1 O se r h um an o: c on st ru in do re la ci on am en to s 181 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, F. J.; PUENTE-PALACIOS, K.E. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANNELI, J. C.; BORGES-ANDRADE, J.; BASTOS, A. V. B. Psicologia, orga- nizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. BOCK, A. 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