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OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA “A obesidade é um distúrbio do metabolismo energético que acarreta excessivo acúmulo de gordura corpórea, com graves repercussões orgânicas e psicossociais” (ESCRIVÃO, 2014). Ao longo das décadas houve uma mudança nos hábitos de vida das pessoas, como por exemplo a ingestão de maior quantidade de alimentos ultraprocessados e processados, com maior densidade calórica, o sedentarismo, a falta de tempo para o preparo das refeições, a realização de mais refeições fora de casa, etc, são fatores que elevam o risco do aparecimento da obesidade. Uma criança ou adolescente obesos, significa maior risco de um adulto obeso. O tratamento da obesidade é complexo, nós ainda carecemos de intervenções oportunas e adequadas, para auxiliar na diminuição dos índices de obesidade infantil e do adolescente. Na infância tardia e na adolescência, o organismo tem maior facilidade de realizar hiperplasia dos adipócitos, um fator de risco para o aparecimento da obesidade. TIPOS DE OBESIDADE: Obesidade endógena ou primária: decorrente de problemas hormonais, alteração do metabolismo tireoideano, hipotálamo-hipofisário, síndromes genéticas (Prader Willi) Obesidade exógena ou nutricional ou secundária: de etiologia multicausal, decorrente do balanço positivo de energia entre a ingestão e o gasto energético. (95% dos casos) FATORES ETIOLÓGICOS: Hereditariedade: probabilidade de uma criança tornar-se obesa quando os pais são obesos é de 80%. Quando um dos pais é obeso a probabilidade é de 40 a 50%. Ambiente: hábito alimentar da família, alimentação nos primeiros anos de vida, inatividade física, desnutrição materna (principalmente primeiro semestre de gestação), ambiente familiar adverso. O Gráfico 8 apresenta alguns dados sobre o comportamento alimentar de escolares do 9º ano. Mulheres que fizeram cirurgia bariátrica apresentam maior risco de na gestação promover restrição do crescimento intra-uterino e elevar o risco de futura obesidade infantil. (ABESO,2016) Os gráficos 10, 13 e 21 apresentam o aumento nos índices de obesidade infantil e na adolescência no Brasil. O atendimento nutricional direcionado à crianças e adolescentes, quanto mais dados presentes na avaliação nutricional, mais completa ela será. Uma das avaliações realizadas na consulta de nutrição é a Avaliação antropométrica: os dados antropométricos são de fácil aplicação e baixo custo. Com os dados de peso e estatura, calcula-se o IMC, o qual apresenta boa correlação com a quantidade de gordura corpórea. IMC/IDADE – Classificação de sobrepeso e obesidade Dobras cutâneas: estimam a porcentagem de gordura corporal, as mais utilizadas em crianças são a tricipital e a subescapular. Equações antropométricas para determinação do percentual de gordura corporal (8 a 18 anos) Pré-púberes: estágios 1 e 2 de Tanner Púberes: estágio 3 de Tanner Pós-púberes: estágios 4 e 5 de Tanner Pontos de corte: como critério de fator de risco para doença cardiovascular de acordo com os estudos, utilizam-se 25% para os meninos e 30% para as meninas, segundo Slaughter e cols (1988). Circunferência abdominal: É um dado importante para ser verificado no obeso, pois mede indiretamente os depósitos intrabdominais de gordura. Em crianças, os estudos vêm demonstrando que a circunferência aumentada está associada a alterações metabólicas (resistência insulínica – RI, dislipidemias, hipertensão arterial) e ao risco cardiovascular. Ponto de corte da circunferência abdominal de Freedman é o percentil 90. CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES BRANCOS NEGROS Idade MENINOS MENINAS anos P50 P90 P50 P90 Idade MENINOS MENINAS Anos P50 P90 P50 P90 5 52 59 51 57 5 52 56 52 56 6 54 61 53 60 6 54 60 53 59 7 55 61 54 64 7 56 61 56 67 8 59 75 58 73 8 58 67 58 65 9 62 77 60 73 9 60 74 61 78 10 64 88 63 75 10 64 79 62 79 11 68 90 66 83 11 64 79 67 87 12 70 89 67 83 12 68 87 67 84 13 77 95 69 94 13 68 87 67 81 14 73 99 69 96 14 72 85 68 92 15 73 99 69 88 15 72 81 72 85 16 77 97 68 93 16 75 91 75 90 17 79 90 66 86 17 78 101 71 105 Fonte: Freedman et al, 1999 Avaliação alimentar: A mensuração da ingestão alimentar em indivíduos obesos é uma problemática, pois eles podem subestimar o registro das informações. Os principais inquéritos dietéticos utilizados: o Recordatório 24h, Dia Alimentar Habitual, Diário alimentar, QFCA (Questionário de Frequência de Consumo Alimentar) e os demais dados da anamnese alimentar como preferências, aversões alimentares, história dietética. Cálculo energético para crianças e adolescentes com excesso de peso (DRI): Meninos TEE= 114 – (50,9 x idade [a]) + PA x (19,5 x peso [kg]) + (1.161,4 x estatura [m]) Em que o PA é o coeficiente de atividade física: PA= 1,00 se PAL estimado em ≥ 1,0 < 1,4 (sedentário) PA= 1,12 se PAL estimado em ≥ 1,4 < 1,6 (pouco ativo) PA= 1,24 se PAL estimado em ≥ 1,6 < 1,9 (ativo) PA= 1,45 se PAL estimado em ≥ 1,9 < 2,5 (muito ativo) Meninas TEE= 389 – (41,2 x idade [a]) + PA x (15,0 x peso [kg]) + (701,6 x estatura [m]) Em que o PA é o coeficiente de atividade física: PA= 1,00 se PAL estimado em ≥ 1,0 < 1,4 (sedentário) PA= 1,18 se PAL estimado em ≥ 1,4 < 1,6 (pouco ativo) PA= 1,35 se PAL estimado em ≥ 1,6 < 1,9 (ativo) PA= 1,60 se PAL estimado em ≥ 1,9 < 2,5 (muito ativo) Consequências da obesidade: a marcha e a movimentação da criança ou adolescente obesos acabam sendo mais limitadas, dificultando a prática de atividade física, fator que agrava mais ainda a obesidade. É comum o aparecimento de estrias na pele (devido ao excesso de tecido adiposo subcutâneo), infecçõesfúngicas e/ou bacterianas nas regiões das dobras. A associação da obesidade com o hiperinsulinismo pode ocasionar acantose nigricans (escurecimento da pele, principalmente nas axilas, pescoço – ocorre devido à hiperestimulação dos melanócitos pelo aumento da insulina). A criança ou o adolescente podem apresentar também apnéia obstrutiva do sono (pausas respiratóriasdurante o sono, com múltiplos despertares) devido a restrição na expansividade da caixa torácica, provocada pelo avantajado panículo adiposo do tórax. A hipertensão arterial é uma consequência comum da obesidade, bem como a resistência aumentada à insulina, a dislipidemia e a Síndrome dos ovários policísticos (tem associação com a resistência à insulina aumentada) Acantose nigricans Ainda são consideradas consequências da obesidade: resistência insulínica, que pode levar ao diabetes tipo 2. EXAMES BIOQUÍMICOS: Fonte: :I Diretriz Brasileira sobre Prevenção de Aterosclerose em Crianças e Adolescentes,2005 Uma das consequências principais da obesidade é a SÍNDROME METABÓLICA. É uma associação entre obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia (aumento de TG, diminuição de HDL-c, aumento de LDL-c), resistência insulínica, DM2 recebe o nome de SÍNDROME METABÓLICA. A Síndrome Metabólica é o agrupamento de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Fonte: Diretriz SBD 2015-2016. (International Diabetes Federation) TRATAMENTO NUTRICIONAL DA OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Experiência da Accioly (2009) para aprimorar o conhecimento dos hábitos alimentares da criança e família e auxiliar no tratamento da obesidade ou síndrome metabólica: O Nutricionista solicitar à criança a confecção de um cartaz com todos os alimentos que mais gosta de comer; bem como pintar e identificar todos os nomes de uma lista de desenho de vegetais e frutas. O Nutricionista solicitar ao responsável que para a próxima consulta ele traga 1 lista de compra de gêneros alimentícios mensal e semanal. O protocolo mínimo de atendimento deve contemplar: História Gestacional, condições clínicas atuais (dores, dispnéia, dificuldade para realização de atividade física), história socioeconômica, valores culturais da família, história familiar de doenças, percepção da família sobre o problema, atividade física diária. Estratégias de intervenção: “para crianças e adolescentes na fase púbere, ou seja, que apresentem potencial para crescer, preconizamos a manutenção do peso atual pelo período de seis meses a um ano.” (VITOLO, 2008) Justificativa: o incremento de estatura corrigirá o IMC, sem perda da massa magra nem diminuição do metabolismo basal. EDULCORANTES (ADOÇANTES) na infância e adolescência. Os estudos sobre a utilização de adoçantes na infância são inconclusivos. Não é indicada a utilização dos edulcorantes para crianças e adolescentes. (VITOLO, 2008; GANDOLFO, NERI, 2014) Estratégias de intervenções nutricionais (VITOLO, 2008): Primeiro passo: mudança conceitual: Correção de conceitos errôneos, Conceitos de calorias, Consulta com pais ou avós. Segundo passo: Restrição quantitativa Estabelecer tarefas que visem mudança de comportamento, baseando-se na anamnese detalhada dos hábitos alimentares. Exige cumplicidade. Diminuição gradual de ingestão de alimentos calóricos. As tarefas devem ser bem objetivas: Ex: Ingerir uma fruta como sobremesa, no lugar do doce; não repetir a refeição, não comer na frente da televisão, mastigar devagar, comer no horário estabelecido, etc. Comportamentos comuns às crianças com excesso de peso (Vitolo, 2008): Alimentam-se com voracidade, em frente a TV; comem escondidas; ingerem grandes quantidades de líquidos: sucos, chás, refrigerantes, achocolatados e não têm consciência de quanto comem. Terceiro passo: Mudanças qualitativas envolvendo a reeducação alimentar. CUIDADOS E AÇÕES COMPLEMENTARES: A adesão está vinculada ao relacionamento estreito dos profissionais com o paciente e sua família; Considerar as individualidades; O tratamento deve estar pautado nos pontos: Equipe multiprofissional; Estabelecimento de metas; Estímulo à prática de atividade física agradável; Diminuição do número de horas por dia em frente à TV, videogame, computador (máx. 2 horas/dia), não realizar refeições em frente à televisão. Evitar alimentos disponíveis em diferentes locais da casa; Evitar comprar guloseimas; Desmistificar a figura da DIETA e de alimentos “diet” e “ight”; Reforçar a importância da mudança gradual de hábitos alimentares; Construção participativa de um esquema alimentar; Oferta de opções de lanches; Valorizar conquistas, reconhecer esforços, sem cobranças, sem pressões. O tratamento é longo O insucesso é elevado Há muita desistência – necessário abordagem nova, sedutora; O Nutricionista deve trabalhar na prevenção da obesidade; Dinâmicas individuais e em grupo O governo, a indústria alimentícia, a comunidade e os meios de comunicação em massa devem realizar um trabalho em conjunto para modificar este quadro Modificar hábitos alimentares é um processo difícil, pois exige força de vontade, auto-estima em alta, desejo de melhorar. Intervenção gradativa e por etapas é mais eficaz, ou seja, estabelecer tarefas de acordo com a prioridade. EXEMPLOS DE ALGUMAS ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Crianças 4 a 5 anos: discussão sobre os vegetais com demonstração de alimentos in natura, exibição do filme os vegetais, atividade desenho dos vegetais para pintar, degustação de doce de abóbora com beterraba. Crianças 6 a 9 anos: discussão do Guia Alimentar para a população brasileira, atividade montagem de uma alimentação saudável com fotos de alimentos que serão colados em prato gigante de cartolina; oficina culinária, gincana. Crianças 10 a 11 anos: discussão da pirâmide alimentar ou do Guia Alimentar para a população brasileira; atividade de pintura, desenho e colagem da pirâmide alimentar e degustação. Temas que podem interessar os ADOLESCENTES: Degustação de preparações nutritivas, Temas polêmicos: dietas da moda, distúrbios alimentares. Montagem de pratos saudáveis, com foco no auxílio do desempenho na prática de esportes. Informações Nutricionais: rotulagem Referências da aula: VITOLO, M.R. Nutrição da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008. ACCIOLY, E. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2. ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 2009. SILVA, A.P.A.da.; NASCIMENTO, A.G. do; ZAMBERLAN, P. Manual de Dietas e Condutas Nutricionais em Pediatria. Instituto da Criança – Hospital das Clínicas - São Paulo: Atheneu, 2014. ESCRIVÃO, M.A.M.S. Obesidade na Infância e na Adolescência. In: PALMA, D.; ESCRIVÃO, M.A.M.S.; OLIVEIRA, F.L.C. Nutrição Clínica na infância e adolescência. Barueri-SP: Manole, 2009. ABESO -Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de obesidade 2016 / ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. – 4.ed. - São Paulo, SP. SBD - Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016) / Adolfo Milech...[et. al.]; organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio - São Paulo: A.C. Farmacêutica, 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Obesidade na infância e adolescência -Manual de orientação, Departamento de Nutrologia, 2ª. Ed. SãoPaulo, 2012. ESTUDO DIRIGIDO 1) Descreva algumas maneiras de prevenção da obesidade infantil no Brasil. 2) Explique a obesidade endógena e exógena. 3) Se apenas o pai de uma criança é obeso, qual é a chance desta criança tornar-se obesa? 4) Analisando o Gráfico 8, aponte quais são os pontos sobre o comportamento do adolescente ao realizar as refeições que mais se destacam, contribuindo para aumentar o risco de obesidade nesta faixa etária. 5) Verifique nos Gráficos 10 e 13 quais foram as modificações no estado nutricional das crianças e adolescentes que ocorreram nas últimas décadas. 6) O Gráfico 21 trata-se da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada em 2015, qual é a porcentagem dos adolescentes que apresenta excesso de peso? 7) Ao verificar o IMC de uma criança de 7 anos, colocando seus dados no Gráfico de Crescimento de IMC/idade da OMS, nota-se um escore-z acima de + 3. Qual é a classificação desta criança? 8) Um adolescente, de 13 anos, de etnia negra, na fase pré-púbere, dobras cutâneas: 12 mm (triceps) e 15mm (subescapular), calcule a porcentagem de gordura corporal deste adolescente. Esta porcentagem está dentro dos parâmetros adequados? 9) Uma menina de 6 anos, apresentando 67 cm de circunferência abdominal, classifique-a considerando a tabela de Freedman e explique o que significa esta classificação encontrada. 10) Um menino de 5 anos, que apresenta sobrepeso, tem indicação para utilizar adoçantes? 11) Considerando as metas do tratamento para crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, divulgadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria, se temos uma criança de 9 anos, que apresenta IMC > 95, hipertensão arterial e dislipidemia. Qual é a conduta nutricional pertinente, segundo a indicação da Sociedade? 12) Quais são as vantagens da abordagem em grupo no tratamento da obesidade de crianças e adolescentes? 13) Quando o nutricionista planeja e implementa com crianças de uma escola a Oficina Culinária, promovendo degustação de preparações culinárias pertinentes na prevenção da obesidade. Quais são as vantagens da utilização desta estratégia?
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